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Ortodontia & Estética
TRATAMENTO ORTODÔNTICO COM BRAQUETES AUTOLIGADOS
Coordenação de conteúdo:
Alexander Macedo
Colaboração na matéria:
Hugo J. Trevisi
Jurandir Antonio Barbosa
Karyna Valle-Corotti
Liliana Avila Maltagliati
A tendência em se fazer o tra-
tamento ortodôntico com um menor
número de manutenções, ou seja, ter pe-
ríodos mais longos entre uma consulta e
outra, em média, a cada 45 ou 50 dias,
é uma realidade em países da Europa
e nos Estados Unidos. A diminuição
do tempo de cadeira gera benefícios
tanto ao ortodontista, que otimiza o
seu tempo clínico, quanto ao paciente,
que se sente mais confortável com um
menor número de consultas.
No Brasil, as manutenções ainda
ocorrem a cada 15 ou 21 dias, uma
constatação que aos poucos começa a
mudar. Isso é possível com o advento
dos braquetes autoligados, tecnologia
CADA VEZ MAIS UTILIZADOS NA CLÍNICA ORTODÔNTICA, OS BRAQUETES AUTOLIGADOS BENEFICIAM TANTO O TRATAMENTO DOS PACIENTES QUANTO O TRABALHO DOS ORTODONTISTAS.
que não necessita dos tradicionais
alastics, permitindo a manutenção da
força transmitida pelo fio ao dente. Além
disso, possibilitam a manutenção de
uma boa higiene.
Estudos recentes demonstram que
a utilização de braquetes autoligados
proporciona uma redução significativa do
atrito quando comparado aos braquetes
convencionais. Isso facilita a mecânica de
deslizamento, utilizada para fechamento
de espaços, principalmente em casos de
extrações dentárias. Outro benefício é um
maior controle de rotação.
Segundo o idealizador da Técnica
Ortodôntica Versátil - MBT, juntamente
com McLaughlin e Bennet, e do apa-
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relho autoligado SmartClip, Hugo J.
Trevisi, especialista em Ortodontia e
coordenador do curso de Especialização
em Ortodontia da APCD - Regional de
Presidente Prudente, o atrito é gerado
quando dois corpos entram em contato
e deslizam um sobre o outro. “A equação
clássica do atrito é o produto da força
normal entre dois corpos e o coeficiente
de atrito. Na execução das biomecâ-
nicas ortodônticas ocorrem três tipos
diferentes de atrito: clássico, binding
e notching . Dos atritos mencionados,
o mais preocupante na biomecânica
ortodôntica é o clássico”, informa.
O atrito clássico é provocado pelas
amarras elásticas e metálicas utilizadas
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nos aparelhos convencionais a fim de
manter o arco instalado na canaleta do
braquete. “Os aparelhos autoligados
apresentam níveis muito baixos de atrito
clássico, pois não utilizam amarras. A
não necessidade de utilizar amarras
reduz significativamente o atrito. Tal
redução possibilita diminuir os níveis de
força aplicados durante a execução da
biomecânica, permitindo aos braquetes
expressarem sua prescrição na totali-
dade, exercendo movimentos dentários
mais biocompatíveis. O atrito clássico,
na técnica do aparelho ligado é o fator
que mais consome força das biomecâni-
cas ortodônticas”, explica Trevisi.
As vantagens na utilização dos bra-
quetes autoligados também são ressalta-
das por Jurandir A. Barbosa, mestre em
Ortodontia pela USP-Bauru e coordena-
dor geral dos cursos de Especialização
e Mestrado em Ortodontia pela Técnica
Straight-Wire da SLMandic-Campinas:
“eles proporcionam redução no tempo
de atendimento ao paciente, redução
no tempo de tratamento, intervalos
maiores entre as visitas, distribuição
uniforme da força/atrito e são mais
higiênicos”, destaca.
De acordo com Karyna Valle-Co-
rotti, mestre e doutora em Ortodontia
pela FOB-USP e professora associada
do curso de Mestrado em Ortodontia
da Unicid, o menor atrito ocorre princi-
palmente com fios de menor calibre, no
qual ocorre menor contato entre o fio e
a canaleta. “Essa vantagem é ainda mais
evidente nos braquetes com sistema de
fechamento passivo”, afirma.
Para Liliana Ávila Maltagliati, mes-
tre e doutora pela FOB-USP e coordena-
dora do curso de Especialização em Orto-
dontia da ABCD-SP, o grande diferencial
é realmente o atrito. “Entretanto, este
diferencial traz muitos outros benefícios
em conseqüência, como por exemplo, a
menor resistência à movimentação com
a redução do atrito que possibilita a
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Figuras 7 e 8
A Figura 7 mostra, em visão lateral, a possibilidade de introduzir os fios redondos .016” e .014” de nitinol, em
uma única sessão, no braquete Autoligado SmartClip™. A Figura 8 mostra, em visão oclusal, a introdução dos
fios redondos .016” e .014”, finalizando o alinhamento e o nivelamento do tratamento ortodôntico.
Figura 1
O atrito é gerado quando dois corpos
entram em contato e deslizam um sobre
o outro. A equação clássica do atrito é
o produto da força normal entre dois
corpos e o coeficiente de atrito.
Figura 2
A figura mostra o posicionamento
individual de cada dente, a oclusão
obtida no final do tratamento
ortodôntico com o uso do Aparelho
Autoligado SmartClip™ com níveis
muito baixo de atrito clássico.
Figura 3
A figura mostra, em vista lateral, o
braquete Autoligado SmartClip™ passivo com o fio retangular .019” x
.025”. Observe que o clipe não exerce
pressão dobre o arco ortodôntico.
Figuras 4, 5 e 6
Final de tratamento ortodôntico, com extração de pré-molares utilizando Aparelho Autoligado SmartClip™
com o arco retangular .019” x .025” Braided instalado. Observe a linha média centralizada,
trespasse vertical e horizontal ideal, boa relação de caninos e boa relação de molares.
Imagens cedidas pelo professor Hugo J. Trevisi.
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aplicação de forças mais suaves, o que,
por sua vez, reduz os efeitos colaterais
de mecânica e aumenta a velocidade de
movimentação. São várias as vantagens
que partem da menor força necessária
para movimentação”, assinala.
TIPOS DE BRAQUETESOs braquetes autoligados são
indicados para todos os casos de más-
oclusões, principalmente naqueles de
grande apinhamento que necessitam
de exodontia de pré-molares e retração
inicial de caninos. “Esta fase é executa-
da com fios de menor calibre quando o
braquete autoligado apresenta níveis de
atrito desprezíveis”, esclarece Karyna.
A tecnologia é utilizada em 90%
dos tratamentos ortodônticos na clínica
de Trevisi, sem restrição de idade do pa-
ciente. Jurandir informa ainda ter casos
montados com braquetes convencionais,
mas a tendência do último ano para
frente é colocar 100% de braquetes au-
toligados. Já Liliana diz ter atualmente
50% dos pacientes sendo tratados com
braquetes autoligados, “mas todos os
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Figura 13
Sorriso final.
Figura 1
Frontal inicial.
Figura 2
Lateral direita inicial.
Figura 3
Lateral esquerda inicial.
Figura 4Oclusão inferior inicial.
Figura 5Oclusão superior inicial.
Figura 6 Frontal final.
Figura 7
Lateral direita final.
Figura 8
Lateral esquerda final.
Figura 9
Oclusão inferior final.
Figura 10
Oclusão superior final.
Figura 11
Perfil final.
Figura 12
Frente final.
Imagens cedidas pela professora doutora Liliana Ávila Maltagliati.
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novos que inicio procuro utilizá-los.
Somente quando o paciente faz ques-
tão de outra alternativa, como técnica
lingual ou invisalign, deixo de utilizar
os autoligados”, declara.
Quanto à classificação, existem
dois tipos de braquetes autoligados:
ativo e passivo. O ativo é aquele em que
o sistema de fechamento da canaleta
exerce pressão no fio ortodôntico; já o
passivo é quando o fio na canaleta do
braquete não recebe pressão ativa do sis-
tema de fixação, a menos que seja para
impedir que haja rotações. Com isto, o
fio trabalha livremente na canaleta.
“Eu trabalho com o Sistema de
Braquetes Autoligados SmartClip,
que incorpora a filosofia de tratamen-
to MBT - versatilidade, braquetes de
aletas duplas, braquetes de tamanho
médio, prescrição de braquetes e uso de
forças leves -, sendo classificado como
sistema passivo de braquetes, ou seja, o
fio trabalha livremente na canaleta com
pressão reduzida no arco ortodôntico”,
frisa Trevisi.
Convém destacar que a principal
diferença entre os modelos de braquetes
autoligados é a forma como travam o
braquete, como formam a quarta parede
da canaleta que é a vestibular. Alguns
modelos, descreve Liliana, fecham a
canaleta invadindo parte dela em uma ra-
nhura localizada em uma das paredes da
canaleta, tornando-a mais estreita e, com
isso, participando mais da manutenção
do fio dentro da canaleta, atuando passi-
vamente nos fios mais finos e ativamente
nos fios mais calibrosos. Outros fecham
a canaleta com deslize das travas, trans-
formando todos os braquetes em tubos
de molar, atuando passivamente tanto em
fios finos quanto mais calibrosos.
“Minha preferência é pelos passi-
vos, pois são os que comprovadamente
produzem o menor atrito (1, 2, 3, 4, 5) em
qualquer calibre de fio e este é o grande
diferencial destes braquetes como já
mencionado. A questão de assegurar o
encaixe do fio também é mantido nestes
braquetes, pois como têm travas rígidas,
se o fio não estiver totalmente inserido
no slot , a trava simplesmente não fecha
e, com relação ao torque, uma vez as-
segurado o encaixe total, o torque será
lido como em braquete convencional”,
assegura Liliana.
Jurandir lembra, ainda, que a esco-
lha dos braquetes está na dependência
do diagnóstico e planejamento do caso.
“Não devemos utilizar um único braquete
para todos os casos, pois nem sempre
queremos atrito zero em todos os dentes.
A definição dos tipos de ancoragem ne-
cessária para cada caso nos leva a definir
qual a melhor estratégia mecânica e,
também, qual o braquete mais indicado
para aquele caso. Desta forma, às vezes
utilizamos braquetes autoligados passivo,
outras vezes braquetes autoligados ativo,
e às vezes utilizamos amarração mesmo
com braquete autoligado, para criar atrito,
quando necessitamos dele”, adverte.
SEQÜÊNCIA DE FIOSPelo diagnóstico também é possível
definir o tipo de ligação e a seqüência de
fios; além disso, os braquetes autoligados
também utilizam fios metálicos. Con-
forme Liliana, ela inicia o nivelamento
com fios termoativados de baixo calibre,
.013”, ou .014” que asseguram a menor
força possível, já que o sistema com
baixa fricção permite essa possibilidade.
“Deixo em posição até que a maioria do
alinhamento tenha sido realizado. Depois
passo para um retangular também termo-
ativado e só depois inicio com os fios de
aço inoxidável”, especifica.
Na verdade, a seqüência de fios
para os aparelhos autoligados passivos
é diferente em comparação aos apare-
lhos ligados, de acordo com Trevisi.
“Recomenda-se utilizar fios retangu-
lares finos de nitinol na fase final de
alinhamento”, ensina.
A seqüência de arcos recomendada
para ser utilizada nas fases de alinha-
mento, nivelamento, fechamento de
espaço, detalhes e acabamento são:
• Alinhamento
Arco .014” Nitinol Clássico ou .014”
Nitinol Supereslástico
Arco .016” Nitinol Clássico ou .016”
Nitinol Supereslástico
Arco .017” x .025” Nitinol Clássico ou
.017” x .025” Nitinol Superelástico
• Nivelamento
Arco .019” x .025” Nitinol clássico ou
.019” x .025” Nitinol Superelástico
• Fechamento de espaço
Arco .019” x .025” Aço Inoxidável
• Detalhes e acabamento
Arco .019” x .025” Braided
“Uma boa opção para efetuar o ali-
nhamento e o nivelamento é a utilização
do fio redondo .014” nitinol juntamente
com o fio redondo .016” em uma só
sessão. O aparelho SmartClip permite
a utilização de dois fios possibilitando
uma correção do alinhamento e o nive-
lamento com eficiência e mais rápido”,
garante Trevisi.
Realidade na Ortodontia atual, os
braquetes autoligados apresentam resul-
tados excelentes com boa estabilidade.
“Verificamos que o crescimento desta
técnica está em função dos grandes be-
nefícios que proporcionam ao paciente e
ao profissional”, completa Trevisi.
Os braquetes autoligados já estão
no mercado há muito tempo e também
os conceitos de atrito entre braquete/
fio/armarração. “Várias são as pes-
quisas que comprovam o maior atrito
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entre amarração com alastik e metálica.
Portanto, a utilização destes braquetes,
no mínimo, elimina este atrito das
amarrações, o que em muitos casos
são benéficos. Temos de tomar cuidado
para não colocarmos os braquetes au-
toligados como elementos superiores
e definidores do tipo de tratamento. O
diagnóstico, planejamento com respeito
biológico devem ser priorizados”, lem-
bra Jurandir.
Para Liliana, a terapia ortodôntica
com braquetes autoligados será o futuro
da Ortodontia, “pois nunca estivemos
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Imagens cedidas pelo professor Jurandir A. Barbosa.
tão próximos do ideal de otimização da
movimentação dentária com forças mais
fisiológicas e reduzidas, protegendo os
tecidos periodontais da iatrogenia das
forças pesadas. A associação do ideal da
Ortodontia com a tecnologia na produção
dos materiais ortodônticos”, conclui.
• Biomecânica de tratamento ortodôntico com baixo nível
de força.
• Proporcionam melhor desempenho da biomecânica de
deslizamento.
• Melhor gerenciamento no procedimento clínico.
VANTAGENS DOS BRAQUETES AUTOLIGADOS Para o ortodontista, a utilização de aparelhos autoligados é extremamente benéfica na clínica diária. Veja por que:
• Diminuição do tempo de tratamento ortodôntico.
• Tratamento ortodôntico diferenciado.
• Diminuição do tempo do paciente na cadeira.
• Melhor saúde periodontal.
• Proporcionam bons resultados de finalização.
Final.
Foto inicial e após quatro meses
de mecânica com braquete
autoligado Inovation.
Vista lateral com mecânica versátil. Final - Dezoito meses de tratamento.
Caso clínico com braquete autoligado
Damon II, vista lateral e trespasse.
Vistas laterais direita e esquerda. Vistas laterais direita e esquerda
com aparelho completo.
Finalização. Caso clínico com braqueteautoligado Speed - Inicial.
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