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V GELC UEFS 2013

Jan 28, 2023

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MESA 02

Prof. Ms.Silvania Cápua Carvalho UEFS

Feira de Santana12 DEZ 2013

O TEMPO E ESPAÇO: A MODERNIDADE LÍQUIDA DE BAUMAN

NAS TEIAS FICCIONAIS DE MIA COUTO.

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O TEMPO E ESPAÇO: A MODERNIDADE LÍQUIDA DE BAUMAN NAS TEIAS FICCIONAIS DE MIA COUTO.

Busca-se estabelecer um diálogo entre os conceitos de tempo e espaço na Modernidade Líquida de Zygmund Bauman e a escrita da literatura de língua portuguesa de matriz africana de Mia Couto no romance O outro pé da sereia. Concebendo uma articulação entre as teias da sociologia e a ecocrítica da Literatura Africana cujos temas centrais da modernidade como história do tempo.

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O TEMPO E ESPAÇO: A MODERNIDADE LÍQUIDA DE BAUMAN NAS TEIAS FICCIONAIS DE MIA COUTO.

Os entrelaces da modernidade de Bauman (2001) que contribui para um olhar sob os conceitos de tempo e espaço, lugares fágicos, não lugares e espaços vazios. E a segunda, a do moçambicano, com destaque para a sua literatura de finalidade ecocrítica como forma de denuncia da realidade de seu país através de sua narrativa espiralada percorrendo espaços da savana africana.

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A análise literária propõe comprovar a função sedutora da leveza do ser mítico e a deusa das águas como figura da sereia, que preserva a ancestralidade da cultura de Moçambique. Este artigo tem com base os recortes teóricos da sociologia de Bauman (2001), Marinho (2004), Queiroz (2007), Walter (2009). Ao escrever esse romance, o escritor não faz um registro de um determinado tempo na história de seu país ou aspectos da uma sociedade. Sua escrita vai muito além disto, o romance é também um questionamento, é pergunta crítica e ao mesmo tempo proporciona ao leitor uma grande dimensão de reflexão.

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O TEMPO E ESPAÇO: A MODERNIDADE LÍQUIDA DE BAUMAN NAS TEIAS FICCIONAIS DE MIA COUTO.

Na contemporaneidade, a produção de romances históricos é considerada uma ligação do autor com a necessidade de reavaliar o passado, para se conhecer melhor o presente. O resgate da santa e o deslocamento da personagem na narrativa em busca de um território seguro para a imagem é o percurso de manter a religiosidade cristã presente nas terras africanas, porém, a cada momento; o que emerge de sua travessia na narrativa são os cenários, eventos históricos, símbolos e rituais nacionais por ela esquecidos no apagamento da sua memória ancestral.

Palavras-chave: Tempo. Espaço. Cultura. Ancestralidade

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O TEMPO E ESPAÇO: A MODERNIDADE LÍQUIDA DE BAUMAN NAS TEIAS FICCIONAIS DE MIA COUTO.

A ancestralidade representa os valores culturais que recebemos dos antepassados e está presente na narrativa no resgate do valor do mito das águas, através da metáfora da deusa das águas como força motriz geradora dos seres na Terra. Assim, a Mama-África seria a terra dos ancestrais de todos os outros povos que habitam o planeta. O princípio germinante da água e sua potencialidade são os veículos que dão fluidez à narrativa.

A viagem é a chave de leitura da narrativa espiralada, pois acontece nos dois momentos da narrativa no presente e no passado com o desenrolar dos fatos no romance, que apresenta um percurso da personagem protagonista Mwadia Malunga. A Santa Nossa Senhora da Ajuda percorre as terras da savana nas mãos de Mwadia; esta, por sua vez, se tornará o que sugere o título que foi conferido ao romance: o outro pé da sereia. Esse percurso retrata a cultura de seu povo, fazendo um resgate da ancestralidade que, através da recuperação da memória individual da personagem, vai contribuir para o resgate da memória coletiva dos sujeitos do Moçambique pós-colonial.

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O TEMPO E ESPAÇO: A MODERNIDADE LÍQUIDA DE BAUMAN NAS TEIAS FICCIONAIS DE MIA COUTO.

O resgate da santa e o deslocamento da personagem na narrativa em busca de um território seguro para a imagem é o percurso de manter a religiosidade cristã presente nas terras africanas, porém, a cada momento; o que emerge de sua travessia na narrativa são os cenários, eventos históricos, símbolos e rituais nacionais por ela esquecidos no apagamento da sua memória ancestral.

As teias culturais que refém estas semelhanças entre Couto (2006),Bauman (2001), é o encontro de estranhos que neste artigo são:

“Como a aranha cujo mundo inteiro está enfeixado na teia que ela tece a partir de seu próprio abdome, o único apoio com que estranhos que se encontram podem contar deverá se tecido do fio fino e solta de seua aparência, palavras e gestos” (BAUMAN, 2001, p. 111).

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Na narrativa o encontro entre a personagem Mwadia e os outros personagens da Vila de Antigamente nos remente a modernidade líquida de Bauman:

“ no momento de encontro não há espaço para tentativa e erro, nem aprendizado a partir dos erros ou expectativas de outra oportunidade”

( BAUMAN, 2001, p.111).

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A literatura revisita o passado que pode ser conhecido através do que foi textualizado. Marinho (2004) aponta que:

“[…] o passado pode ter variadas interpretações, mas não pode ser modificado, a verdade é que a explicação que dele for dada esta sempre condicionada pela construção ficcional da cultura de uma determinada época, tornando-se história interpretada”

(MARINHO, 2004, p. 353).

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O uso de documentos reais como a carta de D. Gonçalo da Silveira aos Irmãos da Companhia que estavam na Índia torna mais real a descrição dos acontecimentos na narrativa. Isto pode ser observado na epígrafe que inicia o capítulo três. Na carta de D. Gonçalo ele expressa sua opinião:

[...] Dizem-me que pode muito o demóniocom seus enganos naquellas partes

E que não só leva aos miseráveis Cafres ao Inferno,senão que por todos os caminhos se mostra cruel

contra os que elles tratam a causa de Deos,E que procura enganallos com seus embustes e maldades.

Carta de D. Gonçalo da Silveira aos Irmãos daCompanhia que estavam na Índia (COUTO, 2006, p.50).

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A memória e o tempo são ferramentas que Mia Couto manipula ao longo de sua narrativa.

O tempo é de longa duração uma das temporalidades exploradas por Braudel, e os seus detalhes são tecidos nas águas da memória que navega pelos mares e rios do continente africano

“[...] Capítulo dois: PEGADAS NO RIO, SOMBRAS NO TEMPO. Moçambique, Dezembro de 2002” (idem, p.29).

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O TEMPO E ESPAÇO: A MODERNIDADE LÍQUIDA DE BAUMAN NAS TEIAS FICCIONAIS DE MIA COUTO.

Queiroz (2007) utiliza em seu trabalho de análise a construção da valorização da cultura de nossos ancestrais, resgate da matriz africana, de nações como Moçambique e outras pós-colônias. Não somente no contexto interamericano, mas também outros países europeus, o termo “inscritura” é usado para tratar a relação entre a oralidade, a escrita, a performance e a memória.

O mapeamento das poéticas da africanidade nas Américas na encruzilhada de saberes de toda sabedoria africana, se constitui em expressão de singularidades através das apropriações das artes contidas nas arqueologias de sentidos que as narrativas míticas de Mia Couto podem proporcionar ao leitor em relação a um novo paradigma da simbologia do mundo africano contemporâneo.

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O TEMPO E ESPAÇO: A MODERNIDADE LÍQUIDA DE BAUMAN NAS TEIAS FICCIONAIS DE MIA COUTO.

“[...] a ficção é considerada uma epistemologia experimental que permite ao leitor ultrapassar limites existentes, explorar outros mundos e imaginar outras identidades”.

“[...] a literatura constrói pontes entre tempos, lugares e culturas e participa em transformação cultural”

(WALTER, 2009, p. 28).

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O TEMPO E ESPAÇO: A MODERNIDADE LÍQUIDA DE BAUMAN NAS TEIAS FICCIONAIS DE MIA COUTO.

A modernidade é a impossibilidade de permanecer fixo. Ser moderno significa estar em movimento.

Não se resolve necessariamente estar em movimento – como não se resolve ser moderno. É colocado em movimento ao se ser lançado na espécie de mundo dilacerado entre a beleza da visão. (BAUMAN, p. 92)

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O TEMPO E ESPAÇO: A MODERNIDADE LÍQUIDA DE BAUMAN NAS TEIAS FICCIONAIS DE MIA COUTO.

Personagens fictícios, por exemplo, o padre Manuel Fernandes e o escravo Nimi Nsundi, que se misturam com personagens reais dos fatos históricos do continente da África austral, constituem uma releitura crítica dos objetivos e fatos decorrentes da influência naquela comunidade da expedição lusitana.

A chave de leitura para encontrar semelhanças entre a escrita miacoutiana, do romance acima mencionado, e o sociólogo Zygmunt Bauman, é o encontro de estranhos. O colonizador D. Gonçalo da Silveira encontra a nação Moçambicana e sua gente e mistérios, no futuro a camponesa Mwadia ao encontrar a santa retoma o contato com os estranhos colonizadores. A missão de Bauman nos auxiliar a repensar os conceitos e esquemas cognitivos usados para descrever a experiência individual humana e sua história conjunta.

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Tomando como referencial teórico MARANDOLA Jr (2010) num diálogo com o romance O outro pé da sereia de Mia Couto fazendo uma interface da geografia humanística e a literatura tecemos considerações a respeito do espaço de luta étnica e de poder que na narrativa assume um papel fundamental é o porão da nau de D. Gonçalo, as relações sociais estabelecidas no embate da convivência de escravos e de colonizadores.

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O contato com os estranhos. Que nos remete a Bauman(2001):

a modernidade é a impossibilidade de permanecer fixo. Ser moderno significa estar em movimento. Não se resolve necessariamente estar em movimento – como não se resolve ser moderno. É colocado em movimento ao se ser lançado na espécie de mundo dilacerado entre a beleza da visão. (BAUMAN, p. 92)

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A modernidade é dinâmica e de natureza leve, líquida e fluída e infinitamente mais dinâmica, acrescentando para seus leitores profundas mudanças em todos os paradigmas e filtros culturais que são nossos instrumentos para um olhar mais cuidadoso da nossa realidade. Para Bauman (2001): “O encontro de estranhos é um evento sem passado. Frequentemente é também um evento sem futuro (o esperado é não tenha futuro), uma história para “não ser continuada”, uma oportunidade única a ser consumada enquanto dure e no ato, sem adiamento e sem deixar questões inacabadas para outra ocasião” ( BAUMAN, 2001,p.111).

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MESA 02

Prof. Ms.Silvania Cápua Carvalho UEFS

obrigado !

Feira de Santana12 DEZ 2013

O TEMPO E ESPAÇO: A MODERNIDADE LÍQUIDA DE BAUMAN

NAS TEIAS FICCIONAIS DE MIA COUTO.