Page 1
Uso e ocupação das áreas de ocorrência de Neossolo Quartzarênico em
Primavera do Leste – MT
Rodrigo Tsuyoshi Takata – [email protected] ¹
Ana Helena da Silva - [email protected] ¹
Lisley Regina Poletto – [email protected] ¹
¹ - Graduandos do 5º semestre em Geografia Bacharelado na Universidade Federal de Mato
Grosso-UFMT
1 - INTRODUÇÃO
As questões pedológicas como o uso e manejo, acompanham toda evolução humana, que
ainda hoje é cotada como uma das características mais marcante na evolução humana,
quando há uma apropriação do espaço, passa-se a adestrar os animais, cultivar o solo, e
formar pequenos aglomerados. Temos então o inicio das civilizações remotas, que
entenderam a importância do conhecimento do solo para a sua melhor gestão,
conhecimento cada dia mais valorizado principalmente em termos econômicos, posto a
necessidade de produção em escala global, com tecnologia de ponta, onde há uma redução
nos custos e maximização dos lucros.
Se atentarmos para o fato de que as atividades humanas se dão sobre esse estratificador
de ambientes, talvez possamos compreender a dimensão da problemática, da classe de
solos dos Neossolos Quartzarênicos devido as suas particularidades, quanto ao seu uso e
susceptibilidade, demandando algumas precauções. O trabalho em si, tem como objetivo
fazer a descrição do uso e ocupação das áreas de Neossolo Quartzarênico no município
através da abordagem geossistêmica.
O município de Primavera do Leste – MT se encontra em franco desenvolvimento, e tem
a seu favor algumas características físicas como clima mais ameno e está situada em
condições topográficas favoráveis no Planalto dos Guimarães que permite o manejo
mecanizado do solo e a sua correção por meio da adubação química, sendo uma das
unidades de relevo típicas das categorias dos Latossolos, com boa aptidão para as lavouras
Page 2
mecanizadas e a pecuária, e é nessas condições topográficas que se concentra quase que
exclusivamente a base econômica do município. Já nas superfícies de rampas predominam
os Neossolos Quartzarênicos com limitações ao uso agrícola, de acordo com as
proposições apresentadas nos relatórios da Secretaria de Estado de Planejamento e
Coordenação Geral de Mato Grosso (SEPLAN, 2007 P.111).
1.2 ÁREA DE ESTUDO
O município situa-se entre as coordenadas 15° 33´32” latitude sul e 54° 17´46”
longitude oeste (Figura 1), localizado a 230 km da capital Cuiabá e abrange uma área de
5.472 km², pertencendo a mesorregião Sudoeste Mato-grossense e a microrregião de
Primavera do Leste, tendo como municípios limítrofes Paranatinga, Santo Antônio do
Leste, Poxoréu, Dom Aquino, Campo Verde, Planalto da Serra e Nova Brasilândia.
Um município relativamente novo, com apenas 26 anos de emancipação, porém
em franco desenvolvimento. Primavera do Leste inicialmente servia de passagem para os
tropeiros que levavam o gado para os setores mais ao norte/nordeste do Estado necessitou
da ajuda dos colonos para ter o mínimo de infraestrutura para a fixação humana na região.
Primavera do Leste apresenta algumas particularidades quanto aos aspectos
físicos, principalmente no setor Nordeste e Centro-Norte.
No que se remete a geomorfologia o município está situado na Borda Setentrional
da morfoestrutura da Bacia do Paraná, na unidade morfoescultural do Planalto dos
Guimarães, abrangendo a maior área do município, destacando formas de relevo plano e
suave ondulado, atuando como divisor de água das bacias Platina e Tocantins.
No setor Nordeste, situa-se na unidade morfoescultural do Planalto dos
Alcantilados, bem como uma pequena área inserida na morfoestrutura do Cinturão
Orogênico Paraguai-Araguaia, sob a unidade morfoescultural da Depressão Interplanáltica
de Paranatinga e no extremo sul a Depressão Interplanáltica de Rondonópolis.
Quanto à litoestratigrafia, baseado nas informações dos documentos editados pela
SEPLAN (2007 e 2011). A unidade litoestratigráfica que abrange a maior área do
município é da Era Cenozoica no período terciário com as superfícies paleogênicas
Page 3
peneplanizadas com latossolização, paleossolos argilosos e argilo-arenosos
microagregados de cor vermelho-escuro, podendo apresentar na base crosta ferruginosa.
Outra unidade litoestratigráfica pertence à Era Mesozoica, período Cretáceo com
a Formação Marília constituída por arenitos de granulometria variada, paraconglomerados
e arenitos argilosos, calcíferos em diferentes horizontes e, subordinadamente níveis de
siltitos e argilitos, com os aluviões ao longo dos cursos dos rios.
No setor Nordeste, há uma área de confluência da Era Paleozoica período
Devoniano, do grupo Paraná com a Formação Aquidauana constituída por arenitos com
níveis conglomeráticos e intercalações de siltitos e argilitos e, subordinadamente
diamictitos e Paleozóica, apresentando morros residuais. Nesse mesmo setor o município
ainda apresenta outra unidade geológica do período Superior, o grupo Cuiabá (filitos
diversos, metassiltitos, ardósias, metarenitos, metagrauvacas ácidas e básicas, mármores e
calcítos e dolomitos, com presença notável de veios de quartzo) SEPLAN (2011).
Quanto às variedades de solos, conforme a EMBRAPA (1999), SEPLAN (2007 e
2011) o município apresenta superfícies de ocorrência de Latossolo Vermelho-Escuro, os
Latossolos Vermelho/Amarelo com textura argilosa favorecendo a cultura da soja, milho,
arroz, sorgo e a pecuária, e os Neossolos Quartzarênicos Distróficos.
Em linhas gerais a área que integra o município corresponde ao divisor de três
importantes bacias hidrográficas. A bacia do Araguaia-Tocantins, Amazônica e a do Prata.
A última banha três outros países: Paraguai, Uruguai e a Argentina, e contém o aquífero
Guarani, a maior reserva subterrânea de água doce da América do Sul e uma das maiores
do mundo, ressaltando a importância hídrica do mesmo no âmbito estadual, nacional e
internacional. O principal curso d´água dentro do município é o do Alto Rio das Mortes,
que tem direção leste e drena a maior parte da unidade morfoestrutural da Chapada.
Em relação à vegetação, está sob a região agroecológica de savana e campos do
Médio Araguaia. O Cerrado destaca-se principalmente pela sua fisionomia e extensão. Sua
estrutura é composta por um estrato superior, com pequenas árvores e arbustos e um
estrato inferior, coberto por gramíneas apresentando manchas de matas nas cabeceiras dos
rios que correspondem às matas de galerias ou ciliares localizadas próximas aos cursos
d´água que drenam essa região SEPLAN (2007 e 2011).
Page 4
Quanto às condições climáticas o referido município apresenta condições de clima
do tipo tropical quente e sub-úmido, com precipitação média anual de 1.750 mm com
intensidade máxima em dezembro, janeiro e fevereiro, apresentando temperatura média
anual é de 22º C (FERREIRA, 2001).
Figura 1 – Mapa de localização do município de Primavera do Leste. Fonte: Secretaria de
Estado de Planejamento e Coordenação Geral – SEPLAN (2004)
2 - METODOLOGIA
Page 5
O trabalho teve como base a abordagem geossistêmica, para que houvesse a percepção das
correlações dos componentes físicos/bióticos e das ações antrópicas que atuam na
diversificação do uso do solo.
Com base nessa abordagem, evidenciam-se as características referentes à interação dos
aspectos sociais, econômicos e ambientais possibilitando o entendimento dos diferentes
modos de uso e ocupação do solo apresentados pelo município.
Levantamento dos aspectos físicos como geologia, clima, vegetação, pedologia, tendo
como suporte o campo onde se confirmam as informações levantadas.
3 - RESULTADOS E DISCUSSÕES
O município de Primavera do Leste é um, entre vários outros que tiveram a sua
origem vinculada ao processo de colonização dos “espaços vazios” no interior do país nas
décadas de 70 e 80. Integrante da unidade geomorfológica do Planalto dos Guimarães, um
dos espaços destinados à produção primária do Estado, tem sofrido processo de mudanças
de base técnica ocasionando o reordenamento do espaço produtivo com a instalação de
complexos industriais e a modernização da agricultura.
No contexto geossistêmico, associamos o cenário físico ao modo em que se dá a
distribuição das atividades econômicas realizada no município. No setor Centro-Norte há
ocorrência dos Latossolos Vermelho–Amarelo Podzólico profundo ou muito profundo,
bem drenado e não hidromórfico, com teores de ferro inferiores a 11%, muito utilizado
com pastagens plantadas e na agricultura extensiva. Ainda nesse setor encontra-se uma
mancha considerável de Neossolos Quatzarênicos (figura 2), que se caracterizam por
serem minerais arenosos, bem a fortemente drenados, pouco intemperizados, são solos
Page 6
pobres essencialmente quartzosos, mineral esse resistente ao intemperismo que apenas se
fragmenta, sendo encontrado nas frações mais grosseiras no solo.
Figura 2 - Afloramentos do material de origem dos Neossolos Quartzarênicos no setor
nordeste do município de Primavera do Leste – MT. Fonte: TAKATA, Rodrigo. 2014.
Localização: a margem direita da MT-130 sentido a cidade de Paranatinga /MT.
Os Neossolos Quartzarênicos predominam em todo setor Nordeste (Figura 3) onde
podemos encontrar uma pequena mancha de Latossolos Vermelho-Escuro, de Cambissolos
que são solos não hidromórficos, com horizonte pouco evoluído e dos solos Orgânicos que
também aparecem próximos ao leito dos rios e são solos escuros, formados
majoritariamente por materiais orgânicos em grau variado de decomposição (VIEIRA,
1988; MORREIRA, 2003; FUNDAÇÃO MATO GROSSO, 2004; CORREIA, 2004;
EMBRAPA, 2004 e 2010; SEPLAN, 2007 e LEPSC H, 2010).
Page 7
Figura 3 – Mapa das classes solos do município de Primavera do Leste – MT
Fonte: SEPLAN-MT, 2007 Escala 1:450 000 Elaboração: SIQUEIRA, V. J. 2013
Uma das técnicas de produção adotada para que o solo seja produtivo são os sistemas
silvipastoris, uma das formas dos sistemas agroflorestais (SAF's), nas quais se interagem
animais, plantas forrageiras e árvores na mesma área, ao mesmo tempo. Tais sistemas
concebem uma forma de uso do solo, cujas atividades silviculturais e pecuárias são
combinadas a fim de provocar produção de forma complementar através da agregação dos
seus componentes (GARCIA & COUTO, 1997). No município de Primavera do Leste, os
SAF’s são utilizados como forma de diminuição dos impactos ambientais negativos,
inerentes aos sistemas convencionais de criação de gado, por favorecerem a restauração
ecológica de pastagens degradadas, diversificando a produção das propriedades rurais,
gerando lucros e produtos adicionais, ajudando a depender menos de insumos externos,
permitindo e intensificando o uso sustentável do solo, além de outros benefícios (FRANKE
& FURTADO, 2001). A proteção do solo contra erosão provocada pela água ou pelo
vento; a recuperação de nutrientes abaixo do sistema radicular das culturas ou das
forrageiras; a melhoria das condições físicas, químicas e biológicas do solo e do
microclima local, trazendo conforto principalmente aos animais, são alguns dos efeitos
positivos fornecidos pelas árvores (FRANKE & FURTADO, 2001). (Figura 4)
Page 8
Figura 4- Sistema Silvipastoril adotado em áreas de Neossolos Quartzarênico
Fonte: TAKATA, Rodrigo. 2014. Localização: a margem esquerda da MT-130 sentido a cidade de Paranatinga /MT.
Diante do que foi exposto, o município possui ainda uma localização estratégica
no entroncamento das malhas viárias da BR-070 e MT-130, facilitadoras do escoamento da
produção bem como de conexão com a capital do estado e outros centros regionais e
nacionais. Todo esse crescimento econômico é reflexo das características físicas que
favorecem a dinâmica do comércio local.
Referências Bibliográficas
CASTRO, I. E. ; GOMES, P. C. da C. ; CORRÊA, R. L.; Geografia: conceitos e temas.
10ª Ed. Rio de Janeiro; Bertrand Brasil, 2007.
Page 9
CHRISTOFOLETTI, Antonio. Geomorfologia. São Paulo, Edgard Blücher, 2ª edição,
1980.
CORREIA, J. R. et al.; Solos e suas relações com o uso e manejo in: Editado por Djalma
Martinhão Gomes de Souza e Edson Lobato. Cerrado: Correção do solo e adubação. 2ª
Edição. Distrito Federal. 2004.
EMBRAPA - Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema Brasileiro de Classificação
de Solos. Brasília-DF: Embrapa Solos. 1999.
FERREIRA, J. C. V. Mato Grosso e seus municípios. Ed. Governo do Estado de Mato
Grosso, 2001.
LEPSCH, Igor F. Formação e conservação dos solos. 2ª Ed. São Paulo. Oficina de
Textos, 2010.
MOREIRA, Mauricio Alves. Fundamentos do sensoriamento remoto e metodologias de
aplicação. 2. Ed. – Viçosa: UFV, 2003.
NOVO, E. M. L. de M. Ambientes Fluviais. In: FLORENZANO, T. G. Geomorfologia
conceitos e tecnologias atuais (orgs). São Paulo: Oficina de Textos, 2008. Cap. 8, p. 219-
246.
NETTO, A. L. C. Hidrologia de encosta na interface com a geomorfologia. In: GUERRA,
A. J. T. e CUNHA, S. B. da. Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. 6ª
ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005. 93-144.
PIAIA, Ivane Inêz. Geografia de Mato Grosso. Cuiabá-MT. EdUNIC, 1999.
RADAMBRASIL. Levantamento dos Recursos Naturais. Ministério das Minas e
Energia. Secretária Geral. Projeto RADAMBRASIL. Folha SD 21 Cuiabá, Rio de Janeiro
448p, 1982.
RESENDE, Mauro; CURI, Nilton; REZENDE, Sérvulo Batista de. Pedologia: base para
distinção de ambientes. 5ª Ed. Rev. Lavras: UFLA, 2007 – MG. 322 p.
Page 10
ROSS, J. L. S. Geomorfologia: ambiente e planejamento. 7ª Edição. São Paulo:
Contexto, 2003.
SEPLAN. Secretaria de Estado de Planejamento e Coordenação Geral. Mato Grosso Solos
e Paisagens. Cuiabá – MT. 2007
_________Secretaria de Estado de Planejamento e Coordenação Geral e Secretaria de
Estado de Meio Ambiente. Atlas de Mato Grosso: abordagem socioeconômico-
ecológica. Cuiabá/MT, 2011.