UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DANIELA DE OLIVEIRA FRANCISCO CONCEPÇÕES DE PROFESSORES DE ENSINO SUPERIOR DE UM CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS SOBRE A IMPORTÂNCIA, O USO E A FUNÇÃO DAS AULAS PRÁTICAS DE LABORATÓRIO. São Paulo 2015
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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
DANIELA DE OLIVEIRA FRANCISCO
CONCEPÇÕES DE PROFESSORES DE ENSINO SUPERIOR DE UM CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS SOBRE A IMPORTÂNCIA, O USO E A FUNÇÃO DAS
AULAS PRÁTICAS DE LABORATÓRIO.
São Paulo 2015
DANIELA DE OLIVEIRA FRANCISCO
CONCEPÇÕES DE PROFESSORES DE ENSINO SUPERIOR DE UM CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS SOBRE A IMPORTÂNCIA, O USO E A FUNÇÃO DAS AULAS
PRÁTICAS DE LABORATÓRIO.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como parte dos requisitos exigidos para obtenção do grau de Licenciada no curso de Ciências Biológicas
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Magda Medhat
Pechliye
São Paulo 2015
DANIELA DE OLIVEIRA FRANCISCO
CONCEPÇÕES DE PROFESSORES DE ENSINO SUPERIOR DE UM CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS SOBRE A IMPORTÂNCIA, O USO E A FUNÇÃO DAS AULAS
PRÁTICAS DE LABORATÓRIO.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como parte dos requisitos exigidos para obtenção do grau de Licenciada no curso de Ciências Biológicas
Aprovado em
BANCA EXAMINADORA
Prof.ª Dr.ª Magda Medhat Pechliye – Orientadora Universidade Presbiteriana Mackenzie
Prof. Dr. Fernando Santiago dos Santos Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo –São Roque
Prof. Dr. Adriano Monteiro de Castro Universidade Presbiteriana Mackenzie
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer à Universidade Presbiteriana Mackenzie, por me proporcionar
a oportunidade de ter uma aprendizagem incrível a partir de um ensino de qualidade e
de diversas experiências vividas e a todos os professores que fizeram parte da minha
formação e contribuíram compartilhando sua sabedoria e companheirismo nessa
jornada. Em especial agradeço para minha orientadora Prof. Dra. Magda Medhat
Pechliye, por nunca deixar de batalhar por todos os seus orientandos e alunos e
sempre se preocupar em realizar seu trabalho da melhor maneira possível, com muita
dedicação, proporcionando um ensino crítico e diferenciado a fim de garantir a uma
excelente formação para nós e também por me fazer refletir em cada aula, desde o
início da graduação, me fazendo evoluir como pessoa e nunca me deixar desamparada,
cumprindo fielmente com suas responsabilidades de orientadora durante toda a
trajetória da realização desse trabalho.
Quero agradecer também todos os professores que aceitaram participar desse
trabalho, porque mesmo sendo difícil se expor em uma entrevista que será usada em
uma publicação, ainda sim demonstraram confiança e desejo de colaboração com
nossa pesquisa. Muito obrigada.
Também aos membros da banca, que doaram um pouco de seu tempo para
prestigiar nossa pesquisa e fazer considerações.
Agradeço a toda a minha família, que sempre me apoiou, me incentivou, me
compreendeu e nunca falhou quando eu precisei, especialmente minha mãe Jacira,
meu pai Rui e meu irmão Vitor, que todos os dias participam de todas as minhas lutas
juntos comigo e fizeram todo o possível para colaborar com o meu sucesso. Quero
agradecer também meus pequenos irmãos, Pedro Henrique e Ana Lúcia, que
trouxeram muita luz e amor a todos.
Agradeço ao meu namorado, Lucas, por estar comigo em cada momento, desde o
início da faculdade, por me acompanhar em cada luta, em cada derrota e em cada
vitória. Sem sua amizade, seus conselhos, seu carinho e amor eu definitivamente não
conseguiria chegar aonde cheguei. Você não faz ideia do quão importante é para mim.
Obrigada de verdade.
Agradeço aos meus amigos de infância e aos amigos da faculdade por todo apoio e
sustentação que me deram em todos os momentos difíceis, sempre tornando meus dias
mais alegres e mais leves, me fazendo sorrir, mesmo nos piores momentos.
Por fim, agradeço a todas as pessoas, que direta ou indiretamente me ajudaram
nessa jornada, porque sozinha eu não conseguiria alcançar meus objetivos.
Sem a curiosidade que me move, que me inquieta, que me insere na busca, não aprendo nem ensino. (Paulo Freire)
RESUMO
Vivemos hoje um período de predominância de um ensino tradicional e as mudanças
para um ensino interacionista, ainda que estejam em andamento, são conturbadas. No
ensino de Ciências, especificamente, muitos docentes acreditam que a melhoria ou
solução dos problemas pode se dar a partir da implementação de aulas práticas de
laboratórios, porém os estudos demonstram resultados questionáveis acerca da
efetividade dessas aulas. Isso porque apesar dos benefícios que elas podem
proporcionar, apenas usá-las não é suficiente para garantir a efetividade do ensino e da
aprendizagem. Além disso, por trás das atividades propostas das aulas de laboratórios,
estão as visões dos professores sobre o que é Ciência. Dessa forma, o objetivo desse
trabalho foi analisar as concepções dos professores universitários de um curso de
Ciências Biológicas sobre o uso e a função que atribuem às aulas práticas laboratoriais
e a importância dessas para a formação dos graduandos. Ao todo foram entrevistados
sete professores. Os resultados mostraram que parece haver pouca visibilidade sobre o
uso de laboratórios no ensino superior e que embora não exista uma divisão dicotômica
entre ensino-aprendizagem tradicional e interacionista, os professores entrevistados
não demonstram serem interacionistas. Além disso, a maioria tem a concepção de que
as aulas de laboratório servem para comprovar teorias dadas. Assim, é fundamental
colocar em evidência a necessidade de reconhecer que o ensino das aulas laboratoriais
dos cursos de ensino superior é tão problemático quanto o da educação escolar básica
e garantir uma maior preocupação com a formação de docentes na área da Ciência, por
meio de oportunidades dadas aos estudantes em cursos de graduação e aos
professores em cursos de formação continuada para que possam tomar consciência e
discutir suas concepções de Ciência, as relações que estabelecem entre teoria e
prática e como podem trabalhar suas dificuldades em ambientes laboratoriais.
Desde criança eu me interessava em ter aulas práticas, em especial as de
laboratórios. Mas ainda que no colégio que estudei tivesse um grande laboratório para
o ensino de Ciências, durante minha formação escolar tive pouco contato com ele
devido à quase inexistência de aulas laboratoriais. No Ensino Médio o uso do
laboratório simplesmente não existiu, mas a minha curiosidade e vontade de utilizá-lo
continuou.
Apenas na faculdade tive oportunidades de trabalhar em laboratórios, e pensei que
então finalmente poderia vivenciar experimentos, “comprovar teorias” e “leis científicas”,
utilizando microscópios e tubos de ensaio, como uma verdadeira cientista. Porém, logo
no início do curso entrei em conflito com a visão que eu tinha do que é Ciência e as
imagens dos cientistas. Além disso, conforme se deu o andamento da graduação com
aulas práticas e também devido a realizações de estágios da Licenciatura, pude
perceber muitas semelhanças entre o uso de laboratórios em escolas com o uso da
Universidade, inclusive, os estudantes de ambos os lugares mostravam ter dificuldades
de aprendizagem, ainda que tivessem aulas práticas laboratoriais e não ficassem
limitados à aula teórica.
Várias perguntas vieram à minha mente desde então e assim, surgiu o desejo de
investigar a importância do laboratório para o processo de ensino-aprendizagem.
Inicialmente a ideia era realizar o estudo em um colégio da Cidade de São Paulo.
Porém, minha orientadora, a professora Doutora Magda Medhat Pechliye sugeriu
aplicar o estudo com os professores da graduação do curso de Ciências Biológicas da
própria Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Num primeiro momento isso me deixou receosa, tendo em vista que deveria analisar
as concepções dos professores que fizeram parte da minha formação acadêmica e
contribuíram para construir quem eu sou hoje, ou seja, não eram simples
desconhecidos. Mas logo me animei e aceitei a proposta de trabalhar com essa
temática durante a realização do meu Trabalho de Conclusão de Curso, principalmente
porque nessas concepções está o reflexo de como esses docentes concebem a Ciência
e o conhecimento científico, e isso passará a refletir nos seus alunos, muitos deles
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futuros professores que continuaram levando as mesmas concepções para os novos
estudantes.
Na pesquisa que realizei não consegui encontrar estudos sobre a importância do
laboratório que tenham sido feitos com professores de graduação e em Universidades,
a maioria dizia respeito à estudos escolares, em geral de Ensino Fundamental II. É
provável que se fosse realizada uma busca mais aprofundada tais trabalhos poderiam
ser encontrados, mesmo que fossem estrangeiros. Mas como o tempo para realização
do Trabalho de Conclusão de Curso era restrito não foi possível demandar mais tempo
para a pesquisa. Ainda assim, os resultados que encontrei me fizeram querer inovar no
trabalho e realizar um estudo diferenciado, embora um colégio e uma Universidade
possam ser mais semelhantes do que se imagina.
A sociedade, ao longo do tempo, assumiu como necessário o uso de laboratórios
para o estudo científico, mas a maneira como os laboratórios são usados interfere
significativamente na aprendizagem que o aluno terá. As atividades tradicionais que
visam apenas a comprovação de teorias e leis são as mais comuns de serem
observadas e embora já tenham se mostrado ineficientes em diversos estudos, ainda
sim são predominantes em vários lugares. Isso nos faz pensar em quais as razões para
que uma abordagem tradicional, que mesmo tendo se mostrado falha nos dias de hoje,
ainda seja a mais difundida no ensino.
É muito simples criticar tal método de organização de aulas práticas de laboratório,
mas promover uma mudança é difícil, na verdade é um processo lento que exige
paciência, pois não basta estabelecer como o professor deve agir e como deve ensinar
seus alunos, para então ordenar que ele faça de tal maneira. É preciso olhar além, ou
seja, descobrir as visões de cada educador acerca do tema, que são capazes de
influenciar nas suas práticas docentes. Tendo isso em vista, o objetivo desse trabalho
foi analisar as concepções dos professores universitários de um curso de Ciências
Biológicas sobre o uso e a função que atribuem às aulas práticas laboratoriais e a
importância dessas para a formação dos graduandos.
Para a realização desse estudo, optamos por entrevistas semiestruturadas. Dessa
maneira, os professores entrevistados já no momento da entrevista poderão refletir
sobre o processo de ensino-aprendizagem das aulas que ministram, assim como após
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o acesso à versão final do artigo.
Como eu já estava formada no Bacharelado em Ciências Biológicas e já havia
realizado um Trabalho de Conclusão de Curso em formato de monografia, minha
orientadora sugeriu que eu realizasse esse trabalho na forma de um artigo científico
para ser publicado. Aceitei a ideia prontamente, por mais que soubesse do desafio e da
responsabilidade dessa proposta, porque é uma experiência nova e diferente que ao
longo graduação não pude vivenciar. Assim, escolhemos a Revista Brasileira de
Pesquisa em Educação em Ciências. Tendo isso em vista, o trabalho aqui presente não
seguiu as normas da ABNT e sim as normas e diretrizes dadas pela própria revista.
O artigo apresenta a seguinte estrutura: Introdução, que contextualiza o tema a ser
abordado; Procedimentos Metodológicos, que relatam como se deu a coleta de dados e
como será feita a análise; Resultados e Discussão, ou seja, a apresentação dos dados
obtidos e a análise dos mesmos com base na literatura estudada e Considerações
Finais, que são as conclusões acerca do estudo. As entrevistas foram transcritas na
íntegra e colocadas como apêndices desse Trabalho de Conclusão de Curso, mas não
no artigo, que tem um espaço limitado pela própria revista. As falas da entrevistadora
estão em negrito para diferir das falas dos professores entrevistados. Informações como
nome, disciplina ministrada, tempo que ministra as aulas, experimentos específicos etc.
sobre os entrevistados não foram divulgadas, assim como as imagens dos mesmos.
Essas informações serão ocultadas como xxxx para preservar o anonimato da
identidade dos participantes.
Em apêndice se encontram também as Cartas de informação dadas professores e à
Instituição com seus respectivos Termos de consentimento Livre e Esclarecido, que
permitiram a realização do trabalho.
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2. ARTIGO.
Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências Vol. XX, Nº X, XXXX
Concepções de professores de ensino superior de um curso de Ciências Biológicas sobre a importância, o uso e a função das aulas práticas de
laboratório
Conceptions of College professors of a Biological Sciences course about the importance, use and function of practical laboratory classes
Resumo
Vivemos hoje um período de predominância de um ensino tradicional e as mudanças para um ensino interacionista, ainda que estejam em andamento, são conturbadas. No ensino de Ciências, especificamente, muitos docentes acreditam que a melhoria ou solução dos problemas pode se dar a partir da implementação de aulas práticas de laboratórios, porém os estudos demonstram resultados questionáveis acerca da efetividade dessas aulas. Isso porque apesar dos benefícios que elas podem proporcionar, apenas usá-las não é suficiente para garantir a efetividade do ensino e da aprendizagem. Além disso, por trás das atividades propostas das aulas de laboratórios, estão as visões dos professores sobre o que é Ciência. Dessa forma, o objetivo desse trabalho foi analisar as concepções dos professores universitários de um curso de Ciências Biológicas sobre o uso e a função que atribuem às aulas práticas laboratoriais e a importância dessas para a formação dos graduandos. Ao todo foram entrevistados sete professores. Os resultados mostraram que parece haver pouca visibilidade sobre o uso de laboratórios no ensino superior e que embora não exista uma divisão dicotômica entre ensino-aprendizagem tradicional e interacionista, os professores entrevistados não são interacionistas. Além disso, a maioria tem a concepção de que as aulas de laboratório servem para comprovar teorias dadas. Assim, é fundamental colocar em evidência a necessidade de reconhecer que o ensino das aulas laboratoriais dos cursos de ensino superior é tão problemático quanto o da educação escolar básica e garantir uma maior preocupação com a formação de docentes na área da Ciência, por meio de oportunidades dadas aos estudantes em cursos de graduação e aos professores em cursos de formação continuada para que possam tomar consciência e discutir suas concepções de Ciência, as relações que estabelecem entre teoria e prática e como podem trabalhar suas dificuldades em ambientes laboratoriais.
Today we live a time of predomiance of a traditional education and the changes to a interactionist education, though they are still in development, are foggy. In Science eduction, specifically, many teachers believe that the improvement, or solution to the problems, can be given by the implementation of practical laboratory classes, however studies show questionable results about its effectiveness. That’s because, despite the benefits it can provide, just using them is not enough to guarantee the effectiveness of the education or the learning. Furthermore, behind the proposal activities, of the lab classes, are the teachers points of view about what is Science. In this way, the objective of this paper was to analize the Biological Science professor’s conception about the use and function they assign to the practical lab classes and its importance to the students graduation. Seven professors were interviewed at all. The results show that it seems to have little visibility about the use of laboratories in College and, although there isn’t a dichotomic division between traditional education and interactionist, the interviewed teachers are not interactionist. Besides, most of them have the conception that the purpose of the lab classes is to prove given theories. So, it is fundamental to highlight the need to recognize that the laboratory class teaching in college, is as problematic as in the primary education and guarantee a bigger concern with teacher’s formation in Science, through opportunities given to the students in graduation courses and to the teachers through continuing education so that they can become aware e discuss their conceptions of Science, the relations set between theory and practice and how they can work their difficulties in laboratorial environments.
Segundo Borges (2002), o ato de ensinar, não somente conteúdos científicos, é problemático e complexo e a qualidade do ensino de Ciências, tanto das escolas, quanto das universidades, tem sido colocada como uma questão central em debates durante várias décadas. Carvalho (2004) relata que no ensino científico, os conceitos de ensino e aprendizagem sofreram modificações a partir do século XX, revelando a necessidade de procurar consistência entre ambos para que espelhem o trabalho em sala de aula, de forma a superar o pensamento ingênuo acerca de como se deve ensinar, que em geral assume como suficiente conhecer um pouco sobre o conteúdo e manter os alunos olhando para o docente, supondo que estão aprendendo.
As mudanças para uma aprendizagem interacionista estão em andamento, mas exigem novas propostas educacionais, que entram em choque com os pressupostos do ensino tradicional (POZO; ECHEVERRÍA, 2001). Porém há muita resistência a essas mudanças, tendo em vista que o ensino baseado em pressupostos interacionistas exige novas práticas docentes e introduz um novo ambiente de ensino-aprendizagem com novas dificuldades a serem enfrentadas pelo professor (CARVALHO, 2004). Assim, Gaspar (2009) afirma que essa abordagem tradicional
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ainda predomina no ensino de Ciências, mesmo que, de acordo com Borges (2002), seja apontada como pouco eficaz desde as escolas primárias até os cursos de graduação.
De acordo com Borges (2002), são vários os motivos que fazem com que o ensino tradicional seja apontado como ineficiente. Carvalho (2004) destaca, por exemplo, os problemas vinculados às metodologias de ensinos tradicionais, que partem do pressuposto de que o aluno é uma tabula-rasa na medida em que não sabe nada do que é ensinado, e também o papel do professor que em geral não é assumido como criador de um ambiente propício para que os alunos possam refletir sobre suas concepções e reformulá-las por meio de uma construção coletiva. Borges (2002) afirma que na opinião de muitos docentes, um dos problemas para ensinar Ciências se dá devido à ausência de aulas práticas. Nesse contexto, muitos professores associam a melhoria do ensino à realização de aulas práticas de laboratórios. Porém, de acordo com Barberá e Valdés (1996), ainda que o trabalho prático de laboratório para o ensino científico tenha sido considerado como importante, os estudos recentes mostram que nem sempre resulta em um elemento tão valioso para a aprendizagem, inclusive, a maioria dos trabalhos que estudaram a efetividade dos trabalhos práticos em Ciências não se mostraram conclusivos, tornando-se alvo de muitas controvérsias. Para entender isso é preciso primeiro pensar como se deu o surgimento do laboratório que conhecemos hoje.
De acordo com Giani (2010), o termo laboratório está relacionado a um lugar específico, que ao longo do tempo recebeu diferentes funções, por exemplo, como o local em que a verdade da criação divina seria revelada. No século XIX, durante o período de Industrialização, a imagem que se difundiu do ambiente laboratorial foi a de um espaço que deveria conter materiais e equipamentos para o desenvolvimento científico dos alunos. Aos poucos, as Universidades foram incorporando os laboratórios, embora a concepção de laboratório não tenha surgido associada à elas. Há mais de um século o ambiente laboratorial tem sido considerado necessário para a educação científica (HOFSTEIN; LUNETTA, 2003), sendo que Marandino, Selles e Ferreira (2009), colocam o século XX como o marco em que as atividades práticas de experimentação passaram a ser incorporadas na formação dos alunos. Já os programas de iniciação científica e outras práticas que visavam a introdução dos alunos em procedimentos em pesquisas, passaram a fazer parte da formação dos graduandos, somente nas últimas décadas.
É comum associar o uso dos laboratórios à realização de experimentos, porém segundo os autores Andrade e Massabni (2011) e Hodson (1988) há vários tipos de atividades práticas, além da experimentação. Para Hodson (1988), nem todo trabalho prático é exercido em laboratório e nem todo trabalho de laboratório inclui experimentos. Borges (2002) aprofunda essa ideia relatando que as atividades práticas não são somente aquelas que ocorrem dentro de um local com equipamentos específicos para a realização de tarefas experimentais, mas também podem ser desenvolvidas em sala de aula, sem a necessidade de instrumentos especiais. Portanto, segundo Giani (2010), Andrade e Massabni (2011), atividades práticas envolvem qualquer atividade que o aluno seja ativo no processo de aprendizagem.
Hofstein e Lunetta (2003) e Pereira (2010) relatam que ao longo do tempo os educadores da área de Ciências alegaram a existência de grandes benefícios para o processo de ensino-aprendizagem a partir de atividades realizadas no ambiente laboratorial. Entre eles, Souza, Dias e Schwantes (2013) destacam que as aulas práticas de laboratórios podem ser uma ótima forma
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de aproximar a teoria e a prática e promover a integração de diversos conhecimentos. Já Valadares (2006) afirma que as atividades experimentais podem proporcionar uma série de capacidades a serem desenvolvidas nos alunos, como capacidades aquisitivas, organizacionais, criativas e manipulativas. Porém, de acordo com Pereira (2010), apenas a realização de atividades práticas não é suficiente para garantir a eficácia do ensino. O autor afirma que todo o ambiente criado durante as aulas práticas deve ser propício para que a aprendizagem seja eficaz. Um dos motivos para o fracasso desse tipo de atividade é que elas não asseguram, sozinhas, o estabelecimento das relações entre teoria e prática.
Para que o uso dos laboratórios seja eficaz é necessário analisar como o professor desenvolve e elabora as atividades (SOUZA; DIAS; SCHWANTES, 2013). Nesse sentido, o que normalmente tem ocorrido é uma abordagem de aulas teóricas e práticas separadamente, resultando numa visão deformada que os estudantes têm sobre o que é Ciência, já que na realidade dos cientistas essas formas de trabalho estão muito mais relacionadas umas com as outras (AZEVEDO, 2004), pois não existem trabalhos práticos independentes de teorias, já que elas conduzem como os experimentos devem ser conduzidos e ditam as hipóteses, ou seja, a simples observação dos dados não é capaz de fornecer dados confiáveis, a partir dos quais se fazem generalizações para chegar às teorias (HODSON, 1988). Além disso, contrastando com a ideia de que o ensino pode ser melhorado a partir da implementação de atividades práticas de laboratórios com os alunos, segundo a teoria sociocultural de Vigotski, não há diferença entre a atividade teórica ou prática, pois a aprendizagem não resulta da atividade em si, mas sim das interações sociais que elas podem desencadear. Assim, ambas devem promover a interação social e permitir o ensino de um conteúdo, tornando as explicações mais eficientes. Mas sugere-se que as atividades práticas apresentam vantagens, como a inclusão de diversos fatores que podem ser objetos de questionamento, enriquecerem ainda mais as interações sociais e garantirem o maior envolvimento dos alunos (GASPAR, 2009).
Nesse sentido, para a aprendizagem ser eficiente é fundamental que os conceitos sejam trabalhados dentro de uma interação social assimétrica, em um processo que o professor, sendo o parceiro mais capaz, ajuda seus alunos a serem levados a ter a mesma compreensão do conteúdo que ele (GASPAR, 2009). Então, é de fundamental importância que as atividades práticas proporcionem oportunidades de interação entre os próprios alunos e com o professor, para uma aprendizagem colaborativa. Porém, estudos revelam que pouca atenção é dada a esse processo de colaboração garantido pelos trabalhos em grupos nas aulas de laboratório (HOFSTEIN; LUNETTA, 2003). Geralmente, quando a atividade prática é realizada dentro de um ensino tradicional é vista apenas como mais um item que o professor dispõe para ensinar um conteúdo, tendo os mesmos objetivos de uma aula teórica, ou seja, é apenas mais uma maneira de expor a matéria e complementar o ensino teórico (GASPAR, 2009).
Muitos dos educadores dessa abordagem tradicional acreditam que o método científico pode ser ensinado transformando-o em um conjunto de regras e de instruções verbais que devem ser transmitidas aos estudantes (DELVAL, 1998). A partir dessa visão do método científico como uma receita infalível, caracterizada por uma sequência de passos para atingir o resultado final (MOREIRA; OSTERMANN, 1993), nas aulas práticas são implementados roteiros rígidos que conduzem os alunos do início ao fim das atividades fazendo com que eles alcancem resultados previamente estabelecidos (GASPAR, 2009), cujo o objetivo, em geral, é comprovar ou testar
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leis científicas, verificando conteúdos dados teoricamente (BORGES, 2002). Muitas vezes, caso o resultado seja inesperado, ele passa a ser considerado um erro e os estudantes deverão aceitar a teoria dada, mesmo que a evidência encontrada não esteja de acordo (HODSON, 1988), diferente do que acontece na abordagem interacionista, cujo princípio reconhece que não se deve ignorar os possíveis resultados inesperados, mas sim utilizá-los para que sejam transformados em situações de aprendizagem (CARVALHO et al., 1998).
Na abordagem interacionista de ensino-aprendizagem, segundo Coll e Solé (2006), os alunos devem se tornar construtores ativos capazes de reorganizarem e enriquecerem o próprio conhecimento que já possuem. Esses autores relatam que uma das maneiras dos estudantes atingirem essa construção é a partir da participação ativa dos mesmos durante o processo de aprendizagem, utilizando suas concepções prévias, pois de acordo com Hodson (1988) e Carvalho et al. (1998), a aprendizagem se dá a partir da reorganização dessas concepções e não a partir do conhecimento correto diretamente. Para que essa reorganização ocorra, Azevedo (2004) aponta a necessidade de situações problematizadoras nas aulas laboratoriais que façam com que as atividades passem a ser investigativas. Essas situações problematizadoras são capazes de levar os alunos a questionarem e consequentemente resolverem o problema proposto, permitindo a introdução de conteúdos para que eles consigam formular seus conhecimentos.
Por trás dessas abordagens, estão as visões dos professores sobre a natureza da Ciência e do conhecimento científico, que influenciam como ele conduzirá a aula e consequentemente a imagem de Ciência que será apresentada ao aluno (PRAIA; CACHAPUZ, 1994). De acordo com Arruda e Laburú (1998), na abordagem tradicional, geralmente tem se percebido uma visão empirista-indutivista da Ciência, cuja função dos trabalhos é apenas comprovar teorias, assim pode-se chamá-las de verdadeiras e transformá-las em leis. Essa visão concebe que as teorias científicas estão escondidas na natureza e podem ser descobertas por meio de observações, para chegar à uma verdade científica. A consequência desse modelo é o que Morin (2008) relata como uma zona cega da Ciência, na medida em que a considera como um reflexo fiel da realidade. Porém, o autor alerta que a Ciência não reflete o real, mas sim o transforma em teorias passíveis de sofrerem mudanças ou ainda de serem refutadas. Isso condiz com a ideia de uma abordagem interacionista, que de acordo com Valadares (2006), admite a existência de um conhecimento cientifico dinâmico, que está em constante modificação, abandonando a ideia de um conhecimento científico estático e de uma verdade absoluta.
Embora existam outras abordagens e que não se possa dividir os professores em completamente interacionistas ou tradicionais, tendo em vista as informações apresentadas, é evidente a necessidade de analisar as concepções que os professores têm sobre a importância das aulas práticas de laboratórios, visto que são uma ferramenta obrigatória de ensino nos cursos de Ciências Biológicas. Além disso, nessas concepções estarão expressas, mesmo que indiretamente, suas visões sobre o que é a Ciência, que farão com que as atividades práticas sejam conduzidas de diferentes maneiras. Consequentemente, dependendo de como se organiza o trabalho prático laboratorial, o aprendizado dos estudantes será diferenciado, assim como visão que eles passarão a refletir da Ciência. Assim, o presente estudo tem sua importância justificada na medida em que pode auxiliar a reflexão de docentes sobre o processo de ensino-aprendizagem proporcionado em suas aulas laboratoriais e sobre qual a imagem de
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Ciência essas aulas estão refletindo, tendo em vista que estarão formando novos professores, que passarão a refleti-la da mesma maneira. Portanto, o objetivo desse trabalho foi analisar as concepções dos professores universitários de um curso de Ciências Biológicas sobre o uso e a função que atribuem às aulas práticas laboratoriais e a importância dessas para a formação dos graduandos.
Procedimentos Metodológicos
A realização desse estudo se deu por meio de entrevistas com docentes de um curso de graduação em Ciências Biológicas de uma Universidade particular da cidade de São Paulo. No caso, foram realizadas sete entrevistas e o único requisito para que os professores pudessem participar do trabalho foi a necessidade de trabalharem com aulas práticas laboratoriais. Os professores foram denominados de professor piloto, professor 2, professor 3, professor 4, professor 5, professor 6 e professor 7. A permissão para a realização do estudo foi concebida pela Comissão Interna de Ética em Pesquisa com o número do processo CIEP nº L003/04/15.
Coleta de dados
Para realizar a coleta de dados foi adotada a entrevista semiestruturada, que segundo Pádua (2008), é vantajosa na medida em que o pesquisador deve utilizar uma sequência de perguntas previamente elaboradas, mas que permitem que o entrevistado fale livremente sobre assuntos que surgem ao longo do processo, sem precisarem ficar necessariamente restrito ao roteiro elaborado ou a um único tema. Cada uma foi gravada com a permissão do entrevistado e transcrita na íntegra para posterior análise.
Inicialmente foi realizada uma entrevista piloto com um professor. Após a análise dessa entrevista, se tornou evidente que outras questões deveriam ser acrescentadas, pois a primeira versão não contemplava toda complexidade do tema a ser abordado. Para as entrevistas posteriores o roteiro com as questões feitas para orientação do entrevistador foi complementado com novas perguntas e encontra-se a seguir, sendo que estão destacadas as questões feitas desde a entrevista Piloto.
1. Onde você se formou? Desde o início pensava em dar aula na faculdade? 2. Escolha uma aula prática que você gosta de dar e descreva-a brevemente. Por que você
gosta dessa aula? 3. O que é atividade prática? É diferente de experimentação? 4. Quais as contribuições que as aulas práticas permitem para a aprendizagem dos alunos? 5. Qual a importância do laboratório para a aprendizagem dos graduandos? 6. Quais as funções das aulas de laboratório? (apenas em casos em que a questão cinco não
tenha sido suficiente). 7. Você utiliza um roteiro em suas aulas de laboratório? Se sim, como você caracteriza esse
roteiro? 8. Os alunos realizam atividades de laboratório em grupos ou individualmente? Qual a
importância dos grupos? 9. Qual o papel do aluno dentro das atividades de laboratório?
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10. Você busca conhecer o que os alunos pensam sobre o conteúdo antes das aulas de laboratório?
11. Quando o resultado de um experimento não é o esperado o que você faz? 12. Quais são as dificuldades de trabalhar com aulas práticas nos laboratórios? 13. Você acredita que os alunos conseguem estabelecer uma relação entre as aulas práticas e
teóricas? Que benefícios a aula prática poderia trazer para a teórica? 14. O experimento prático comprova a teoria dada? Por quê?
Análise dos dados obtidos.
Os dados coletados serão analisados durante a Discussão, que está dividida nos seguintes temas: conceitos de aula prática e experimentação; o uso de roteiros nas aulas; resultados inesperados dos experimentos; aulas em grupos ou individuais; a importância das aulas de laboratório; as concepções de Ciência; a relação entre aulas práticas e teóricas; as dificuldades dos professores. Na Discussão serão trazidos os trechos literais de interesse das entrevistas realizadas para que possam ser analisados. Esses trechos se encontram destacados em relação ao restante do texto e embora tenham sido transcritos na íntegra, algumas informações, como menções à disciplina, aulas, experimentos específicos etc., serão ocultadas para preservar o anonimato da identidade dos participantes. Informações ocultas serão colocadas como xxxx. A entrevista do professor Piloto não será usada durante a discussão, pois sua função foi servir de base para formular o roteiro completo da entrevista com os demais professores.
Resultados e Discussão
Retomando o objetivo desse trabalho de analisar as concepções dos professores universitários de um curso de Ciências Biológicas sobre o uso e a função que atribuem às aulas práticas laboratoriais e a importância dessas para a formação dos graduandos, é fundamental ter em mente o que os docentes entrevistados pensam acerca das atividades práticas que são desenvolvidas com os alunos dentro do laboratório como ambiente de aprendizagem. Andrade e Massabni (2011) relatam que existe a ausência de um consenso sobre o significado dos termos atividade prática e experimentação, pois na literatura ambos diferem muito entre os autores. A partir dessa pesquisa, foi possível perceber algumas semelhanças entre esses conceitos definidos pelos os professores. O professor 4 coloca que:
“É diferente sim, na atividade prática, nas aulas práticas eu já sei o que vai acontecer, eu já tenho...é como se fosse um experimento controlado, eu já sei os resultados esperados tal...tudo bem que vez ou outra responde um pouco diferente, mas é uma coisa mais controlada, enquanto que na experimentação a gente não sabe o que vai acontecer...”
Já o professor 3 diz que:
“É então, eu acho que né...atividade prática é uma atividade que não tem assim uma necessidade de precisão né...então a gente vai dar uma atividade prática e não... não tem condições de ficar repetindo experimentos, por exemplo né... então não tem necessidade de uma precisão...agora uma parte experimental pra uma publicação então ele teria que ter mais
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tempo, repetição do experimento.”
Enquanto que para o professor 5:
“...a atividade prática, ela é conduzida, eles não experimentam né...porquê? Porque eu tenho muitos alunos no laboratório, eles têm diferentes formações, diferentes níveis, então é uma experiência que eles seguem um roteiro pré-determinado.”
A relação entre essas três respostas é que em todas há a ideia de que as atividades práticas diferem da área da pesquisa acadêmica e, portanto, não podem ser chamadas de experimentações. No caso, para os educadores 4 e 5, a diferença é que a atividade prática é controlada e para o educador 3 não há precisão dos resultados, como seria no caso de uma pesquisa acadêmica.
Assim, aparentemente as aulas práticas não são desenvolvidas numa tentativa de assemelharem-se aos trabalhos científicos acadêmicos. O problema disso é que, segundo Azevedo (2004), um trabalho científico de caráter acadêmico exige que o pesquisador realize uma investigação científica, contemplando todos os elementos desse processo, como elaborar as hipóteses e a montagem experimental, refletir, discutir, explicar e relatar o objeto de estudo. Então, na tentativa dos docentes tornarem a aula prática diferente da área da pesquisa acadêmica, pode ser que, de acordo com Andrade e Massabni (2011), as atividades práticas fiquem limitadas à observação, medição, descrição e outras atividades mecânicas e pré-programadas sobre os fenômenos ou objetos estudados, sem ter a participação efetiva do aluno em cada etapa do processo.
Talvez, devido a essa visão de atividades práticas precisarem ser diferentes das experimentações em pesquisas científicas, seja possível explicar o uso de roteiros que os professores elaboram para seus alunos, como foi comentado na fala do educador 5 colocada acima, pois em uma pesquisa não há um roteiro pré-definido, pode ser que existam protocolos, mas o pesquisador é o tomador de decisões para elaborar e pensar como conduzirá aquele experimento, diferente do que acontece em aulas laboratoriais cuja a atividade está programada. No caso, todos os professores entrevistados disseram que usam um roteiro para seguir suas aulas práticas laboratoriais.
O problema é que em muitos trabalhos de laboratório os alunos não estão envolvidos na geração das hipóteses e no planejamento experimental, principalmente devido à falta de tempo alegada por muitos professores ou devido à insegurança que eles possuem dos alunos usarem estratégias experimentais consideradas inapropriadas. Então geralmente os professores fazem todo o projeto experimental antes da aula e cabe aos estudantes seguirem as instruções (HODSON, 1986). Pode-se ilustrar tais ideias a partir das falas do professor 3:
“...o roteiro é uma...uma maneira de...de...de eu ir mais... de uma forma assim mais didática né...e apesar de ser muito xxxx dando aula vai sempre ser interessante você ter um roteiro, quando sai a campo com os alunos tem que ter um roteiro né...e pra...pra...pra você ter um caminho assim mais seguro né...pra mostrar aquilo que interessa né...”
“...minhas apostilas de aula prática né... significa esses roteiros né, então sempre eles tem um encaminhamento através dessas né...dessas aulas apostiladas né, então ele segue todo...tem
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lá o material que ele usa né, o objetivo da aula....então tudo encaminhado pra ele fazer a aula da melhor maneira possível...”
Parece que quando o professor coloca que o uso do roteiro leva a caminhos mais seguros, esse docente demonstra a necessidade de garantia de que os alunos consigam chegar a uma resposta sem serem desvirtuados para outros caminhos. Nesse caso, de acordo com Azevedo (2004), os alunos são encarregados de seguirem os roteiros dados que determinam toda a montagem experimental, pois como o professor 3 relatou, em suas apostilas há tudo encaminhado para o andamento da aula. Pode ser que nesse processo o aluno não saia de uma postura passiva para se tornar ativo e elaborar hipóteses, fazer o desenho experimental, analisar os dados, discutir ideias etc. Então, ainda que conceitos e procedimentos possam ser aprendidos nessas aulas, é necessário refletir como tais atividades promovem a problematização dos objetos ou fenômenos a serem estudados, pois parece que os alunos não participam em nenhum momento da decisão de como será conduzida a atividade, apenas se limitam à seguirem as ordens dos roteiros. Segundo Borges (2002), o fato do estudante realizar a atividade planejada pelo docente de maneira adequada não pode garantir que ele tenha aprendido o que o professor esperava. Isso porque, de acordo com Hofstein e Lunetta (2003), muitos estudantes apenas seguem os roteiros em atividades de laboratório, coletando e registrando dados, mas sem uma noção clara dos propósitos e procedimentos dessas “investigações”. Essa é uma das principais críticas feitas às aulas de laboratórios em um modelo tradicional, pois muitas delas não se tornam relevantes do ponto de vista dos estudantes, já que o problema e o procedimento estão previamente determinados e a maior parte da aula é consumida pela montagem de equipamentos, coleta de dados, cálculos etc. (BORGES, 2002).
Alguns professores foram questionados sobre as limitações que esses roteiros poderiam ocasionar para as atividades dos alunos. O docente 5 colocou que:
“... sem o roteiro eles investigariam mais né, mas eu...eu não acredito que um aluno do xxxx semestre tenha condições de fazer isso na disciplina de xxxx pelo que eu tenho encontrado.”
“...não conseguiriam avaliar o que seria nocivo, o que poderia acontecer e tal...”
Sua justificativa para o uso dos roteiros é que ministra uma disciplina em um dos semestres iniciais que pode apresentar situações potencialmente perigosas para seus estudantes. Ainda assim, esse docente toma consciência das limitações que os roteiros trazem e afirma que em semestres mais avançados a situação seria diferente:
“Eles...eles...ah...escolhem um assunto dentro da matéria, que eles querem pesquisar né...aí eles vão buscar, claro que passa pela correção nossa, então isso não sou só eu que faço, tem outros professores que seguem isso. Então passa por uma pré-avaliação e tal...e aí vai corrigindo, corrigindo, a gente vai dando dicas, dicas, dicas...até que se estabelecem e ele faz.”
Aparentemente, nesse caso os alunos ficam livres para montar seu experimento e o roteiro que utilizarão, mas o professor trabalha continuamente com eles na construção da atividade. Assim, todo o trabalho é dado em conjunto e participação das duas partes, dentro de uma interação assimétrica, no qual o professor deve orientar os estudantes e levá-los a ter a mesma compreensão do conteúdo que ele tem (GASPAR, 2009). Parece que nesse caso há uma aproximação com uma atividade de laboratório aberta, na qual o professor continua instruindo
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o aluno durante cada etapa, por exemplo, quando há falta de consenso, clareza ou há indecisão, pois ele afirma que vai dando dicas para que o aluno construa o roteiro, porém o próprio estudante é o tomador das decisões de como será conduzida a atividade (BORGES, 2002).
Porém, ainda que haja um roteiro pré-definido, não se pode afirmar que as aulas dos professores entrevistados não contribuam para a reflexão e aprendizagem dos alunos e não resultem em investigações, para isso existe a necessidade de estudos mais detalhados de observação da prática docente, pois ainda que Gaspar (2009) tenha relatado que a aula prática roteirizada pode deixar as atividades dos alunos limitadas, assim como a reflexão dos mesmos sobre a atividade, Borges (2002) relata que o trabalho de laboratório pode ser organizado de diversas maneiras, e que todas podem ser úteis dependendo do objetivo proposto pelo professor, inclusive o uso de roteiros, que podem ser totalmente abertos ou fechados. Então, segundo Andrade e Massabni (2011), sabendo que as atividades práticas pressupõem participação dos alunos em uma situação de ensino-aprendizagem que requerem análise e reflexão do que se está estudando, muitos educadores acabam tentando criar tarefas que integrem questões, leituras, debates, que não constituem a atividade prática em si, mas a complementam para conseguir alcançar essas situações reflexivas descritas.
De fato, os educadores entrevistados relataram que utilizam esses métodos em suas aulas, a partir da implementação de questões e relatórios para os alunos realizarem após ou durante as aulas:
Professor 2: “É. Hum...Então geralmente quando tem experimento eles fazem em grupo, na hora de responder os questionamentos, então assim, meu roteiro...junto com aquilo muitas vezes vão algumas perguntas pra serem respondidas pra gerar reflexão mesmo...e eu ter um feedback também pra poder acompanhar de uma forma escrita...”
Professor 4: “...eu percebo que no final quando eu faço as perguntas, tem perguntas relacionadas do que eles viram, que acabaram de ver na prática e na teórica...”
Professor 5: “E eu acho que também com o questionário, as perguntas que a gente coloca, depois ele acaba refletindo sobre o que ele fez, o que aconteceu ou não...”
Professor 6: “...em xxxx tem um experimento que vira e mexe dá errado...”
“...eu falo pra eles, querem me apresentar dez possibilidades, no relatório, eles têm que entregar o relatório, eu falo, pode me apresentar, eu quero saber o que vocês conseguiram pensar...”
Os docentes também foram questionados sobre os resultados inesperados de suas atividades. Todos os professores relataram eles são muito úteis para investigações do porque “não deu certo” e geram discussões ricas na sala:
Professor 2: “...adoro quando da “errado”... né, entre aspas aí. É muito bacana, porque gera...eles as vezes ficam bravos, porque não era aquilo que eles esperavam, enfim...e é muito legal, é muito mais, acho que produtivo o dar errado, não acontecer o que...o que se esperava, por questão de uma série de hipóteses, uma série de discussões, eu acho muito legal...”
Professor 4:
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“...ah a gente fica pensando, não pode sair sem... do nada...alguma explicação tem pra aquilo, mesmo na aula por exemplo, que a gente faz xxxx, alguns alunos se comportam diferente, o xxxx deles, porque será? Aí a gente tenta fazer uma pequena investigação...a gente conversa um pouquinho pra justificar aquele resultado que não era de acordo com o padrão, mas resultado é resultado né...eu falo pra eles que não existe resultado certo ou errado.”
Nesse caso, parece que o docente 4 demonstra que não há preocupação para sempre obter resultados iguais ao que se esperava, e portanto, serem considerados certos, pois o que importa é ter o resultado para ser analisado, independentemente de ser ou não o que se espera. Aparentemente, de acordo com Hodson (1988), isso contribui para um ensino científico real, pois uma característica natural da Ciência é ter de conviver com resultados anômalos. Até porque, de acordo com Moreira e Ostermann (1993) o conhecimento científico é baseado em modelos e teorias inventados e que podem estar incorretos ou parcialmente corretos. Então, por isso não faz sentido determinar os resultados como certos ou errados.
Já o professor 3, apesar de demonstrar que acha interessantes as discussões que os resultados inesperados podem proporcionar, ele mesmo já avisa que isso pode acontecer:
“...mas eu já aviso os alunos que isso vai acontecer...o que na maioria dos casos os experimentos não dão sempre certo...né...e que eu acho isso interessante pras discussões. Quando um experimento dá sempre certo você...você não tem o que discutir...deu certinho e aí? Ok e vai pra frente né. Quando não dá certo que você começa a fazer as perguntas...porque será que não deu certo? O que que faltou? O que que foi em excesso?”
“Já alerto...pra não haver decepção e digo que é importante né...o...o...o mais importante é você discutir aquilo que aconteceu, o que que não deu certo..”
O problema disso é que, aparentemente, a aula se torna pré-determinada e sem surpresas, pois até mesmo os resultados que não seriam esperados já estão roteirizados. Assim, não há novidades, tudo já foi anteriormente previsto (GASPAR, 2009). Possivelmente dessa forma, muitos dos benefícios proporcionados pelo trabalho laboratorial podem ser perdidos, pois esse deveria ser um local para desenvolver atitudes e estimular o interesse, aproveitamento e motivação dos estudantes para aprender Ciências (HOFSTEIN; LUNETTA, 2003). Mas se até mesmo aquilo que não é esperado está determinado, então o aproveitamento de todas essas qualidades que podem ser proporcionadas pelas aulas laboratoriais podem diminuir ou inclusive deixar de existir.
Em relação à questão dos alunos trabalharem em grupos ou individualmente, os professores relataram uma série de benefícios que as atividades em grupos podem trazer, entre eles, o educador 2 disse que:
“É sensacional! Porque aquilo gera um...um...uma confusão de...de...de debate de ideias, eu acho sensacional...”
“...acho que a discussão é muito bacana pra conseguir gerar né novos pensamentos, novas ideias...”
Já o 6 relatou que:
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“...a maioria das minhas atividades são em grupos porque eu acredito muito que essa troca, ela é muito vantajosa né...o que um não sabe explica pro outro.”
E o professor 4 colocou que:
“...então, acho que é o momento que eles tem de aprenderem a socializar em grupo tal...a ouvir a opinião dos outros, a trabalhar junto com o outro...e mesmo de perguntar as coisas, as vezes um colega responde de uma maneira diferente do professor e ele acaba entendendo mais tal....”
O professor 2 parece considerar importante o debate e discussão entre os membros dos grupos, pois colocam suas ideias e geram novas questões. O docente 6 coloca a importância de um tentar ajudar o outro e o 4 considera relevante a socialização, aprender a ouvir o colega etc. De fato, essas atividades cooperativas são necessárias, pois permitem com que os alunos aprendam a considerar as ideias dos outros e a se expressarem. Além disso, possibilitam a tomada de consciência das diferentes hipóteses sobre um mesmo fenômeno. Nesse processo os alunos reorganizam suas ideias e constroem seus conhecimentos. Assim, num ensino interacionista não se deve ignorar a importância da interação entre professor e aluno, mas a interação entre os alunos não pode e nem deve ser desprezada ou colocada de segundo plano, como ocorre num ensino tradicional (CARVALHO et al., 1998). Nesse aspecto, aparentemente as aulas dos docentes se aproximam de um ensino interacionista. Porém, ainda de acordo com essa autora, não basta colocar os alunos uns do lado dos outros para que eles interajam de modo que consigam superar o egocentrismo de cada um e cooperarem. Assim é possível explicar a fala do professor 2 sobre a falha das atividades em grupos nas suas aulas:
“Alguns eu já...de...de...ã...vai de não terem feito alguma coisa, pergunta...ah porque era tímido, o outro foi fazer na frente e ai ele não foi...ele sabe? ele não teve a coragem, a inciativa de ir lá e “então deixa eu fazer agora”...hoje...então as vezes os grupos acabam se boicotando nessa...”
“...não são grupos...eles agem numa coisa meio ditatorial. Sou eu que faço, sou eu que mexo...”
Pode-se dizer o mesmo da fala dos professores 3, 5 e do 6, respectivamente:
“...então você tem que tomar cuidado também porque né em grupo tem gente que só fica olhando, não quer participar de nada né...”
“Claro, tem grupos que o aluno sempre encosta, a gente vai até lá e tem que dar o seu cutucão etc., mas eu acho que uma das habilidades que hoje se espera de qualquer profissional é que saiba trabalhar em equipe. ”
“...a gente percebe que os grupos, tem sempre um outro grupo que tem um ou dois encostados, isso também é perceptível...”
Já o professor 7 relatou que:
“...o trabalho em grupo parece uma atividade fácil né, parece uma atividade do cotidiano, mas trabalhar em grupo não é pra qualquer um, não é fácil né...você conseguir conciliar
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vontades, estilos de trabalhar, estilos de pensar, formas de ver uma mesma atividade, as vezes você vê de um jeito, as vezes você vê de outro e fulano vê de outro...”
O docente 7 comentou a problemática das atividades em equipes e as falas dos outros educadores demonstraram preocupação de que os grupos sejam significativos, mas evidenciam que realizar as atividades práticas vai muito além de simplesmente de separar os alunos em grupos, porque é preciso fazer com que cada integrante da equipe participe efetivamente na construção de sua aprendizagem. É fundamental que as atividades em grupos sejam muito bem planejadas, pois isso influenciará a natureza da interação. Partindo de uma situação problema, os alunos precisam criar hipóteses, e ter condições para discuti-las dentro do grupo. Além disso, o professor deve sempre facilitar o intercâmbio entre os grupos (CARVALHO et al., 1998).
Pode ser que os problemas relatados pelos docentes nas atividades em conjunto ocorram devido ao modo como o professor admite que o trabalho em grupo deva ser realizado, por exemplo, na fala do professor 7:
“....então eles treinam o trabalho em equipe, a autonomia, a responsabilidade, porque eles dividem as tarefas...o clima é outro, a oportunidade do docente, do aluno...uma proximidade se multiplica.”
Apesar de considerar os grupos muito importantes, parece que nesse caso o docente acredita que trabalhar em equipe é dividir tarefas, sendo que cada um deve ficar responsável com uma parte do trabalho. Na verdade dentro do grupo os alunos devem cooperar uns com os outros em cada etapa da tarefa proposta, caso contrário, eles ficarão trabalhando em atividades diferentes, separadamente. Nesse caso não haverá os momentos para refletirem, se comunicarem, argumentarem e se expressarem, fundamentais para a reorganização de suas ideias (CARVALHO et al., 1998). Ou ainda, pode ser que a forma com que as atividades sejam propostas não estimulem a participação de todos os estudantes, pois segundo Azevedo (2004), para que os alunos realizem uma investigação científica e saiam de uma postura passiva para uma postura ativa, é preciso que o professor proponha um problema em relação ao conteúdo para que as atividades criadas a partir dele sejam capazes de despertar os interesses dos alunos e estimulem a participação deles. Assim, mais uma vez o uso dos roteiros fechados torna-se questionável, pois eles são dados como receitas a se seguirem, e não como uma situação problemática que o aluno deve tentar resolver. Além disso, ainda segundo essa autora, uma atividade investigativa demanda uma mudança não só da atitude do aluno, que de passivo deve se tornar ativo, mas também do educador, que muito mais que saber o conteúdo a ser ensinado, deve ser questionador, argumentador, conduzir perguntas e propor desafios aos estudantes para estimular o trabalho dos mesmos. Ou seja, não deve se limitar a ser um expositor, mas sim um orientador do processo de ensino.
Nesse sentido, destacam-se as falas do professor 6 e 7:
Professor 6: “...eu entendo que no momento que eu dou a chance deles vivenciarem aquela prática eu espero dele uma certa autonomia, então eu não quero estar ali a todo momento ditando o que fazer…eu explico no início da aula o que que vai acontecer e deixar com que os alunos façam, e na medida da necessidade eles chamam e você vai lá e ajuda”
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“No início da aula expõe o todo, o que a gente vai fazer, porque que a gente vai fazer, como que a gente vai fazer, eu dou a eles o tempo de fazer, de tentar fazer aquilo se for possível sozinhos, eu acho que é o ideal”.
Professor 7: “São pontos que me preocupam, agora se vai conseguir fazer ou não é a responsabilidade dentro de cada grupo. Ah mas com quem que eles tiram dúvidas? Comigo. Só que pra ter dúvidas, eles tem que fazer, então se eles não me perguntam, eu não respondo e ai eles perdem também uma chance de um diálogo com o professor.”
O educador 6 diz que o intuito é deixar os alunos construírem sua autonomia e realizarem as atividades sozinhos, e ele só interage com eles à medida que eles apresentam alguma dúvida. Já o 7, de maneira semelhante, relata que também interage com os alunos quando eles questionam algo. Assim, aparentemente os professores não estão presentes em cada etapa do trabalho proposto questionando os alunos sobre as atividades e não apresentam as características acima descritas por Azevedo (2004). Diferente do que é proposto na atitude dos professores 2:
Professor 2: “Se eu escuto eu vou lá, falo também, mesmo que não me chame, passo lá, dou um palpite ou espero...”
“...se eu posso dar mais uma cutucada ali né...”
Nesse caso, parece que esse docente demonstra uma preocupação em estar presente nas discussões dos grupos, para poder gerar situações de conflitos nos alunos, pois comenta que fica atento aos debates nos grupos e entra para debater junto. Essas situações de conflitos cognitivos serão fundamentais para que os alunos percebam incoerências de seus próprios pensamentos e superem seus erros, resultando em uma aprendizagem significativa (CARVALHO et al., 1998). De acordo com Gaspar (2009), aparentemente esse professor, diferente do 6 e do 7, atua como um mediador durante todo o trabalho, pois como é o conhecedor da atividade proposta e do que se espera dela, pode orientá-la a partir da conversa e de discussões com os alunos, questionando-os e compartilhando as perguntas e respostas que surgirem, além de propor, segundo Carvalho et al. (1998), diversas situações problemáticas que despertem o interesse dos estudantes e façam com que eles se envolvam intelectualmente com o trabalho.
Porém, ainda que todos os professores acreditem que as aulas em grupos são benéficas, apenas os educadores 5 e 7, assim que foram questionados sobre a importância dos laboratórios, citaram de imediato as vantagens de interações que tais aulas práticas podem proporcionar, já os outros comentaram apenas quando foram questionados especificamente sobre o assunto. Nesse contexto, todos os docentes, destacaram diversos outros argumentos, que fazem com que as aulas de laboratórios sejam fundamentais. Entre os argumentos usados, os docentes 3, 4, 5 e 7 relataram a importância de tornar teoria menos abstrata:
Professor 3: “Bastante utilidades, porque em aula prática você fala, o que né...o que acontece o que que é e você mostra...né, então não é como na teoria né, que o aluno ainda fica imaginando, mas não sabe exatamente né...aquele ver o material, ele sente o que a gente tá falando né e vê...”
Professor 4: “Ah eu acho essencial, acho que ilustra muito o que você viu na teoria...Porque muitas vezes a coisa fica um pouco abstrata na teoria né ou até cansativo né.”
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Professor 5: “Então, porque na aula prática, vamos supor, é o concreto, é aquilo que eles tão vendo né é uma escala laboratorial, eles veem acontecer, é uma escala que eles podem manusear. Já quando eu dou uma aula teórica, principalmente de xxxx, é uma escala xxxx entende? É muito mais abstrato...”
Professor 7: “...atividade prática pra mim é oportunidade que eu tenho e os alunos também de vivenciar uma...de visitar os xxxx e as xxxx saindo um pouco daquela coisa da aula padrão. Desenho, ou exposição ou slides, são coisas sem dimensão. Você não tem volume né, então quando você vai pra aula prática…melhor ainda pra entender o contexto daquelas xxxx...”
Todos os docentes colocam a importância de diminuir a abstração da teoria e o professor 7 ainda destaca a contextualização do conhecimento estudado. De fato, Borges (2002) relata que não se pode descartar a importância dos laboratórios para o ensino de Ciências, ao promover a contextualização do conhecimento científico, não o deixando reduzido a um sistema de definições, leis e fórmulas abstratas. Mas o autor destaca a necessidade de estar atento a como o laboratório será organizado, para que proporcione aprendizagens significativas, visando tornar o conhecimento científico mais acessível e motivador aos estudantes.
Portanto, é de fundamental importância que os professores tomem conhecimento das funções investigativas que as atividades práticas são capazes de proporcionar, para que as aulas não se tornem simplesmente mais uma maneira diferente de expor o conteúdo. Porém, para que essas funções investigativas sejam contempladas nessas aulas de laboratórios é preciso refletir sobre quais as funções que os docentes atribuem à elas, pois muitas vezes são entendidas como formas de exemplificação, ilustração ou comprovação do conteúdo (ANDRADE; MASSABNI, 2011). Ou seja, podemos dizer que ter a noção da importância da aula prática laboratorial não é o suficiente para que a aprendizagem seja efetiva, é preciso ter em mente o que se pretende com a realização das aulas práticas. Nesse sentido, como pode ser constatados nas falas destacadas anteriormente, parece que os docentes 3 e 4 visam diminuir a abstração teórica a partir da ilustração ou comprovação das teorias, pois o professor 3 diz que o aluno consegue ver, não fica apenas imaginando como ocorre em aula teórica. Já o docente 4 disse que a aula prática ilustra a teoria. Nesse contexto, das 7 entrevistas realizadas, 3 docentes disseram que a prática comprova a teoria, o educador 7 ficou em dúvida em relação a isso, mas ao final relatou que pode comprovar, e os outros 3 disseram que esse não é o objetivo:
Professor 3: “...que trabalha né...com o material real...e a gente faz isso né...em aula né...que traz ne parte do xxxx e estuda né...e que mostra...então...eu acho que é bem...bem...bem...acho que bem assim...é...faz muito bem pro aluno sentir essa parte...ele acredita mais naquilo que você tá falando”
“Então num...pode as vezes num...num da certinho né...mas ele mostra que aquele é o caminho né...que tá...se não deu certinho tá próximo daquilo lá né...eu acho ..”
“...chegaria na teoria né, na parte prática, pra entender melhor a teoria.”
Professor 4: “Ah tem experimento que dá pra você comprovar sim...dá pra você ver...”
“...e na aula prática é um momento de você ver que aquilo funciona...que aquilo é real, entendeu? Por exemplo, xxxx...então...aquilo que eu falo é ilustrado pros alunos, então eles
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veem que é real o negócio, podem por a mão na prática e ver que não é só blá, blá, blá do professor...”
“...então eu acho que é uma forma interessante de fixar a matéria, do aluno conseguir ver que o que a gente tá falando não é só blá, blá, blá...que é real...que acontece.”
Professor 5: “Então tem dois tipos, na mesma...não é sempre assim né, as vezes o experimento tá lá não pra comprovar, mas pra fornecer subsídios pra que eles possam começar a elaborar uma explicação do que acontece, mas alguns experimentos comprovam...”
Ou seja, apesar de relatarem a importância de diminuir a abstração da teoria, perece que, segundo os docentes 3 e 4, quando estão em aula teórica, os alunos apresentam dificuldades para compreender os conceitos, mas com a aula prática o aluno consegue ver que aquilo é verdadeiro e realmente ocorre e passa a acreditar naquelas informações e entende-las melhor. Assim, parece que a aula é feita com o intuito de dar confiabilidade para o que o professor fala. Aparentemente, os argumentos usados para justificar a necessidade e importância de aulas práticas de laboratórios pelos educadores 3, 4 e 5 estão apoiados numa concepção empirista-indutivista de Ciência que é a visão tradicional sobre o conhecimento científico (ARRUDA; LABURÚ, 1998), pois é nessa concepção que se admite ser possível a partir dos fatos observados na prática obter as teorias (MOREIRA; OSTERMANN, 1993). Essa concepção predomina nas aulas de laboratório, assim, os alunos devem observar, coletar dados, construir tabelas, induzir e verificar os conhecimentos teóricos (MOREIRA; OSTERMANN, 1993).
Tal visão tradicional do professor 4 está presente também quando ele diz que a aula de laboratório é uma forma de fixar a matéria que foi dada, ou seja, nessa visão se acredita que os conteúdos devem ser memorizados, sendo que de acordo com Azevedo (2004), o importante é que os professores consigam que seus alunos construam o conhecimento científico e não façam com que eles apenas tenham lembranças de conceitos prontos devido à memorização dos mesmos. Assim, de acordo com Borges (2002), a introdução de atividades práticas não é capaz de resolver as dificuldades de aprendizagens dos estudantes, enquanto continuarmos a tratar o conhecimento científico como fatos a serem decorados. Além disso, quando questionado sobre a possibilidade de realizar aulas sem roteiros, esse professor demonstrou estar ligado de uma maneira tradicional à apresentação do método científico como uma sequência de passos que permitem comprovar uma determinada teoria, ou seja, para que o fenômeno seja atingido é preciso seguir a rigor essas etapas:
Professor 4: “...não sei se teria como fazer sem os passos, porque são kits né... como que você vai utilizar um kit sem os passos? Ai é mais difícil acho...”
“...porque eles têm que colocar 5 ml de não sei o que lá, 10 ml de não sei o que lá então sem um roteiro nessa que tem que ficar quantificando xxxx, que essa é uma aula que eles vão ver, o xxxx né...tem vários xxxx e ai eles vão quantificar pra ver se tem xxxx...um roteiro para a parte experimental eu acho que contribuiria deles conseguirem fazer um experimento...”
A ideia de um método científico não é errada, de fato ele existe, os pesquisadores observam, formulam hipóteses, experimentam, medem, formulam teorias etc. Porém, a atividade científica não é uma receita infalível como muitos professores ensinam (MOREIRA; OSTERMANN, 1993). Quando o método científico é colocado dessa maneira, caracterizado por
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uma sequência de passos para atingir o resultado final, revela uma visão veiculada a uma maneira de atingir descobertas, ou seja, de chegar ao conhecimento científico. Essa imagem é difundida inclusive na mídia, de forma a garantir credibilidade ao assunto tratado (MOREIRA; OSTERMANN, 1993; ARRUDA; LABURÚ, 1998). Esse pareceu ser o caso do educador 4, pois ele acredita que para que os alunos consigam realizar o experimento, eles precisam ter necessariamente cada etapa determinando o que deve ser feito. O problema de apresentar o método científico dessa maneira é que pode-se gerar nos estudantes várias visões errôneas sobre o trabalho científico (MOREIRA; OSTERMANN, 1993), por exemplo, segundo Praia e Cachapuz (1994) essa concepção tradicional, empirista-indutivista do conhecimento científico, coloca a observação como a etapa mais importante do método científico. Assim, segundo Borges (2002), nessa concepção acredita-se que os dados obtidos pelas observações e experimentos são puros, objetivos, confiáveis e independentes de qualquer ideia teórica do indivíduo que está observando, portanto, de acordo com Praia e Cachapuz (1994), supostamente, se a observação meticulosa de um fenômeno for seguida, os conceitos serão naturalmente aprendidos. Porém, quando essa visão é difundida durante as aulas pode-se gerar grandes consequências na própria relação que os alunos enxergam entre a teoria e a prática e na visão que desenvolvem do que é Ciência.
No que diz respeito a esse estabelecimento de relações entre teorias e práticas, os professores por meio de relatórios, exercícios etc., dizem que os alunos demonstram ter conseguido relacioná-las:
Professor 4: “Ah conseguem...conseguem sim, eu percebo que no final quando eu faço as perguntas, tem perguntas relacionadas do que eles viram, que acabaram de ver na prática e na teórica, conseguem sim...”
“...então eu chamo a teoria pra prática no comecinho do experimento...não chego lá “hoje é o experimento tal”, não...o experimento é porque a gente viu uma aula assim, assado, então a gente vai ver isso agora na prática...faço uma introduçãozinha nem que seja pequena, mas eu introduzo o assunto...”
Professor 5: “Ah eu acredito que sim.” “É, porque assim...eles tem no final do experimento, eles tem questionários pra responder né e de tanto em tanto eu paro os experimentos e a gente fica só nessa discussão de questionários né. E eu percebo que o aprendizado pra eles é mais fácil nas aulas práticas do que nos exercícios teóricos.”
Professor 2: “...dentro desse roteiro que tem as perguntas...essa, eles me devolvem esse roteiro...eles escrevem no final o que aconteceu enfim...ou então o relatório final onde eles têm que pensar se é um experimento a longo prazo, eles têm que fazer um relatório...é um indicativo de que OK...”
É possível que os alunos realmente tenham conseguido estabelecer relação entre as duas modalidades de aulas, mas não se pode garantir que por meio desses exercícios realizados que essa relação tenha sido adequadamente construída, pois como já foi dito, partindo-se dessa visão empirista-indutivista, pode-se formar nos alunos visões errôneas a relação entre teoria e prática. Uma dessas visões é a de que o método científico se inicia na observação, o que é incorreto, tendo em vista que toda observação é precedida de teorias, ou seja, ao realizarmos
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uma observação temos conceitos e princípios que direcionam tal observação, o que significa dizer que elas são influenciadas por conhecimentos prévios. Assim, o conhecimento científico deve crescer e evoluir fundamentalmente por reformulação dessas concepções prévias dos estudantes (MOREIRA; OSTERMANN, 1993).
Porém, foi possível constatar que todos os professores entrevistados não buscam conhecer o conhecimento prévio de seus alunos e utilizá-los para construir o conhecimento dos mesmos. Alguns disseram que tentam fazer essa busca durante a aula, enquanto explicam o conteúdo:
Professor 2: “Formal não...não faço. Mas conforme a gente vai conversando eu tento extrair o que eles já têm...de conhecimento prévio, mas não faço...”
Professor 3: “É...eu costumo perguntar durante né a explicação...eu...eu faço as perguntas né... vocês lembram disso? Vocês viram isso? Né...Sabe o que significa isso? Você tem ideia do que nos estamos mostrando? Né e tal... eu costumo fazer isso durante a explicação...”
Professor 5: “Então, assim, no começo do semestre eu faço mais ou menos o que a gente chama de uma avaliação diagnóstica, mas logo no começo...não é assim, aula a aula....”
Professor 7: “Não. Não...muitas vezes é...quando eu começo xxxx novo eu pergunto algumas coisas, pergunto pra provocar, mas é pra provocar, pra entender um pouco como é a linha de raciocínio.”
Então, como não há busca de conhecimentos prévios pelos docentes, pode ser que os alunos encarem o método científico a partir de observações neutras, pois as pré-concepções que possuem não são utilizadas para guiá-los. De fato, a observação é um importante procedimento científico, mas o método científico não se inicia nela, ela não é neutra, sem teorias (MOREIRA; OSTERMANN, 1993). Ao enfatizar as observações, acaba-se por avaliar de maneira errada a relação entre teoria, experimentos e observações. As teorias são vistas como passíveis de serem validadas por observações diretas resultando numa impressão exagerada sobre a importância dos resultados experimentais (HODSON, 1988).
Assim, ainda que os estudantes tenham conseguido responder corretamente os exercícios, aparentemente não é feita uma investigação aprofundada de como a relação entre teoria e prática foi estabelecida. Será que os alunos entendem a prática um meio de descobrir teorias, consideradas por eles “escondidas” na natureza ou será que eles entendem que a própria teoria conduz a prática? Hodson (1988) destaca a necessidade de que os professores encorajem seus alunos a tratar a teoria e a prática como tendo um relacionamento interativo e de interdependência, pois os experimentos auxiliam a construção de teorias, mas as teorias determinam quais tipos de experimentos podem e devem ser conduzidos.
Em outra perspectiva, diferente da visão empirista-indutivista de Ciências, os professores 6 e 2 colocam que o objetivo de suas atividades não é a comprovação das teorias:
Professor 6: “Eu vejo a prática mais como de fato tentar simular uma situação do profissional seja de uma coisa bem simples, que eu posso simplesmente mostrar que o que tava na teoria tá contrária, a teoria não se aplica. Então eu acho que na pra...o que eu vejo como aula prática é a capacidade do aluno aplicar a informação, interpretar os dados, se for uma aula de
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obtenção de dados analisar aqueles dados, e se ele tiver que chegar em conclusões diferentes do que era estabelecido que seja mas o meu objetivo principal não é comprovar nada.”
Professor 2: “Não acho nem que o objetivo...muitas vezes não é comprovar a teoria dada...não acho...Eu acho que ela...hum não...é, pra mim não é, não é comprovação. Eu acho que é despertar a curiosidade, é entender que você, que você tem formas diferentes de enxergar as coisas, dentro do método científico, enfim, que é a nossa praia aqui...o que eu quero tentar é a extrapolação, não a comprovação...”
O docente 6 relata que em certos casos pode justamente mostrar que a teoria não se aplica a determinada atividade feita em sala, evidenciando que seu objetivo não é comprová-la. Já o professor 2 coloca a importância do ambiente laboratorial estimular a criatividade dos estudantes, e isso segundo Azevedo (2004) ocorre quando as atividades propostas são investigativas, promovendo uma série de benefícios, como não somente atingir o ensino de conteúdos conceituais, mas também o de habilidades cognitivas e atitudes, como é o caso da curiosidade, do interesse, da satisfação, responsabilidade etc. Além disso, mostrou um afastamento da visão tradicional de ensino de Ciência, pois destacou um novo enfoque não comentado por outros educadores sobre a importância das aulas de laboratórios e colocou um ponto crucial dessa visão tradicional do ensino científico em xeque: a neutralidade da ciência. Porque relatou que há diferentes maneiras de enxergar o que é feito dentro do método científico. Segundo Morin (2008), isso é fundamental, tendo em vista que o conhecimento científico não é o reflexo das leis da natureza. As teorias científicas surgem de espíritos humanos que estão inseridos em uma cultura, portanto também estão enraizadas socialmente. A produção dos conhecimentos científicos é uma atividade humana e deve considerar todas as implicações que isso possa ter, como a permanente interação entre o pensar, sentir e fazer. A pesquisa científica é conduzida por pessoas normais, que são passíveis de errar e acertar (MOREIRA, OSTERMANN, 1993). Portanto, a Ciência não é neutra e ao admitir isso, o educador parece discordar da visão de um ensino a partir de um método infalível dado como uma sequência de passos que permite obter o conhecimento provado através de observações neutras, comprovação experimental de uma determinada teoria e generalização das conclusões.
Então, sabendo que os pressupostos epistemológicos do professor refletem em suas atividades didáticas, no planejamento de suas aulas, assim como na imagem de Ciências aprendida pelo aluno (ARRUDA, LABURÚ, 1998), torna-se evidente a necessidade de planejar um curso de formação dos professores, seja continuada ou inicial, onde os aspectos epistemológicos sejam trabalhados, para que os professores ou futuros professores possam discutir suas práticas e tomarem consciência das concepções que possuem por trás de suas estratégias de ensino (PRAIA; CACHAPUZ, 1994).
Por fim, não se pode desprezar a fala de alguns professores sobre as dificuldades que enfrentam nos laboratórios, por exemplo:
Professor 2: “... as vezes uma sala muito grande dificulta, você quer ter um atendimento mais individualizado enfim, grupos menores pra que todos possam fazer todas as etapas do que você tá propondo na prática.”
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Professor 3: “...primeiro que a gente não tem material pra todo mundo, pra atender todo mundo...não tem material né, vidraria...não tem material biológico suficiente pra atender assim individualmente...”
Professor 5: “Olha eu tenho dificuldade quando o aluno nunca trabalhou em laboratório, ai eu tomo um cuidado maior com ele, porque ai eu tenho eu ensinar ele a xxxx, eu tenho eu ficar bem atenta pra ele não cometer alguma coisa que possa causar algum prejuízo físico pra ele.”
Não se pode ignorar que os educadores tentam fazer o melhor trabalho dentro das imposições colocadas, então eles devem lidar com um grande número de alunos em sala, dificultando o atendimento individualizado e entre outros elementos que complicam o trabalho de docentes e estudantes. Elementos esses, que muitas vezes não estão na mão dos educadores para serem resolvidos. Assim, em um país em que grande parte dos estudantes nunca teve oportunidade de entrar em um laboratório, pode parecer sem sentido questionar a validade das aulas práticas que estão sendo dadas (BORGES, 2002), mas a discussão sobre o valor das atividades práticas e das formas de implementá-las são fundamentais, para começar a expor a necessidade de que nos cursos de graduação tais atividades sejam valorizadas e permitam que o graduando tenha preparo para desenvolvê-las. Da mesma maneira, os cursos de formação continuada devem propiciar apoio aos docentes, auxiliando-os a trabalhar com aulas laboratoriais reais, considerando todas as dificuldades inerentes do processo (ANDRADE; MASSABNI, 2011).
Considerações Finais
Retomando o objetivo desse trabalho, de analisar as concepções dos professores universitários de um curso de Ciências Biológicas sobre o uso e a função que atribuem às aulas práticas laboratoriais e a importância dessas para a formação dos graduandos, foi possível supor que o tema a ser abordado, sobre as aulas práticas de laboratório no ensino superior, não possui muita visibilidade nos estudos sobre educação, pois durante a realização do trabalho a grande dificuldade obtida foi a de que não foram encontrados na literatura muitos referenciais específicos para os cursos de graduação, mas sim para a educação escolar básica. Assim, parece existir uma maior preocupação com a efetividade das aulas laboratoriais das escolas, mas não há a mesma investigação para os cursos de formação de biólogos. De acordo com os resultados desse trabalho foi possível constatar que os professores de ensino superior da Universidade em questão consideram fundamentais os benefícios que podem ser proporcionados na educação pelas aulas práticas de laboratórios, porém em relação ao uso delas, ainda que não exista a categorização dicotômica entre um processo de ensino-aprendizagem completamente interacionista ou tradicional, os docentes entrevistados não demonstram ser interacionistas e realizam aulas roteirizadas, sem busca de conhecimentos prévios etc. Além disso, a maioria deles considerou que essas aulas têm a função de comprovar as teorias dadas anteriormente. Então, ao que tudo indica, é possível apontar a necessidade de reconhecer que o ensino das aulas laboratoriais de cursos superiores é tão problemático quanto o da educação escolar básica e garantir uma maior preocupação com a formação dos docentes da área da Ciência, para que eles possam ter oportunidades de tomar consciência e discutir quais as suas concepções de Ciência, como estabelecem a relação entre teoria e prática e como podem trabalhar as suas
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dificuldades nesse ambiente laboratorial. Ou seja, diferente do que parece ser a realidade atual, é preciso que os cursos de graduação abram espaço e oportunidade para os estudantes aprenderem a trabalhar com aulas de laboratórios, e não assumirem que a função dessas aulas é a comprovação de conteúdos. Da mesma forma, os cursos de formação continuada devem abrir espaço para essa temática, de forma que os professores de ensino superior de hoje também tenham a oportunidade de rever suas práticas e concepções.
Agradecimentos
NÃO DEVEM SER APRESENTADOS AGRADECIMENTOS NESTA FASE PARA EVITAR IDENTIFICAÇÃO DOS AUTORES. PODEM SER INCLUÍDOS NA REVISÃO FINAL.
Referências
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AZEVEDO, M. C. P. S. Ensino por investigação: Problematizando as atividades em sala de aula. In: CARVALHO, A. M. P.; AZEVEDO, M. C. P. S.; NASCIMENTO, V. B.; CAPPECHI, M. C. M.; VANNUCHI, A. I.; CASTRO, R. S.; PIETROCOLA, M.; VIANNA, D. M.; ARAÚJO, R. S. Ensino de Ciências: Unindo a pesquisa e a prática. São Paulo, Pioneira Thomson Learning, 2004, p. 19-32.
BARBERÁ, O.; VALDÉS, P. El Trabajo Práctivo en la enseñanza de las Ciencias: Una revisión. Enseñanza de Las Ciencias, v. 14, n. 3, p. 365-379, 1996. Disponível em: <http://www.raco.cat/index.php/ensenanza/article/viewFile/21466/93439%3For>. Acesso em: 16 jun. 2015.
BORGES, A. T. Novos rumos para o laboratório escolar de Ciências. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 19, n. 3, p. 291-313, 2002. Disponível em:< https://periodicos.ufsc.br/index.php/fisica/article/viewFile/6607/6099>. Acesso em: 17 jun. 2015.
CARVALHO, A. M. P. Critérios estruturantes para o ensino de Ciências. In: CARVALHO, A. M. P.; AZEVEDO, M. C. P. S.; NASCIMENTO, V. B.; CAPPECHI, M. C. M.; VANNUCHI, A. I.; CASTRO, R. S.; PIETROCOLA, M.; VIANNA, D. M.; ARAÚJO, R. S. Ensino de Ciências: Unindo a pesquisa e a prática. São Paulo, Pioneira Thomson Learning, 2004, p. 19-32.
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APÊNDICE 1 CARTA DE INFORMAÇÃO À INSTITUIÇÃO Esta pesquisa tem como intuito analisar as concepções dos professores de ensino superior do curso de Ciências Biológicas sobre a importância das aulas práticas laboratoriais. Para tanto, realizaremos uma entrevista com os professores universitários participantes. Para tal solicitamos a autorização desta instituição para o encaminhamento de participantes, e para a realização dos procedimentos previstos. O contato interpessoal e a realização dos procedimentos oferecem riscos físicos e/ou psicológicos mínimos aos participantes e à instituição. As pessoas não serão obrigadas a participar da pesquisa, podendo desistir a qualquer momento. Em eventual situação de desconforto, os participantes poderão cessar sua colaboração sem consequências negativas para si ou para a instituição. Todos os assuntos abordados serão utilizados sem a identificação dos colaboradores e instituições envolvidas. Quaisquer dúvidas que existirem agora ou a qualquer momento poderão ser esclarecidas, bastando entrar em contato pelo telefone abaixo mencionado. Ressaltamos que se trata de pesquisa com finalidade acadêmica, referida à Trabalho de Conclusão de Curso, que os resultados da mesma serão divulgados em um trabalho acadêmico, obedecendo ao sigilo, sendo alterados quaisquer dados que possibilitem a identificação de participantes, instituições ou locais que permitam identificação. De acordo com estes termos, favor assinar abaixo. Uma cópia deste documento ficará com a instituição e outra com o(s) pesquisador(es). Obrigado. ............................................................. ..................................................... nome e assinatura do pesquisador nome e assinatura do orientador Instituição Instituição Telefone Telefone TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Pelo presente instrumento que atende às exigências legais, o(a) senhor (a) ____________________________________, representante da instituição, após a leitura da Carta de Informação à Instituição, ciente dos procedimentos propostos, não restando quaisquer dúvidas a respeito do lido e do explicado, firma seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO de concordância quanto à realização da pesquisa. Fica claro que a instituição, através de seu representante legal, pode, a qualquer momento, retirar seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO e deixar de participar do estudo alvo da pesquisa e fica ciente que todo trabalho realizado torna-se informação confidencial, guardada por força do sigilo profissional. São Paulo,....... de ..............................de.................. _________________________________________ Assinatura do representante da instituição
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APÊNDICE 2 CARTA DE INFORMAÇÃO AO SUJEITO Esta pesquisa tem como intuito analisar as concepções dos professores de ensino superior do curso de Ciências Biológicas sobre a importância das aulas práticas laboratoriais. Para tanto, realizaremos uma entrevista com os professores universitários participantes. Para tal solicitamos sua autorização para a realização dos procedimentos previstos. O contato interpessoal e a realização dos procedimentos oferecem riscos físicos e/ou psicológicos mínimos aos participantes. As pessoas não serão obrigadas a participar da pesquisa, podendo desistir a qualquer momento. Em eventual situação de desconforto, os participantes poderão cessar sua colaboração sem conseqüências negativas. Todos os assuntos abordados serão utilizados sem a identificação dos participantes e instituições envolvidas. Quaisquer dúvidas que existirem agora ou a qualquer momento poderão ser esclarecidas, bastando entrar em contato pelo telefone abaixo mencionado. Ressaltamos que se trata de pesquisa com finalidade acadêmica, referida ao Trabalho de Conclusão de Curso, que os resultados da mesma serão divulgados em um trabalho acadêmico obedecendo ao sigilo, sendo alterados quaisquer dados que possibilitem a identificação de participantes, instituições ou locais que permitam identificação. De acordo com estes termos, favor assinar abaixo. Uma cópia deste documento ficará com o participante da pesquisa e outra com o(s) pesquisador(es). Obrigado. ....................................................... ...................................................... nome e assinatura do pesquisador nome e assinatura do orientador Universidade Presbiteriana Mackenzie Universidade Presbiteriana Mackenzie Telefone Telefone TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Pelo presente instrumento que atende às exigências legais, o(a) senhor (a) ____________________________________, representante da instituição, após a leitura da Carta de Informação à Instituição, ciente dos procedimentos propostos, não restando quaisquer dúvidas a respeito do lido e do explicado, firma seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO de concordância quanto à realização da pesquisa. Fica claro que a instituição, através de seu representante legal, pode, a qualquer momento, retirar seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO e deixar de participar do estudo alvo da pesquisa e fica ciente que todo trabalho realizado torna-se informação confidencial, guardada por força do sigilo profissional. São Paulo,....... de ..............................de.................. _________________________________________ Assinatura do sujeito
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APÊNDICE 3 ENTREVISTAS PROFESSOR PILOTO Aonde você se formou?
Resposta completa removida para preservar a identidade do indivíduo.
E você desde o começo tinha ideia de dar aula na faculdade?
Não
Não? Como que aconteceu?
Bom eu me formei no último... acho que no último ano eu comecei a me interessar com
algumas disciplinas, principalmente xxxx que tinha aulas práticas e aí eu comecei a
verificar o que eu poderia fazer depois da graduação.
Uhum.
Conversei com alguns professores da área, de xxxx então. Aí no último ano decidi fazer
o mestrado já.
Hum...
Aí depois fiz o mestrado em xxxx e ai dentro do mestrado é que comecei a...não sei se
seria o despertar do interesse em lecionar, mas na verdade quando você é pesquisador
automaticamente você passa também a ser professor.
Aí surgiu a oportunidade...?
Aí surgiu a oportunidade...
E você aceitou.
Eu fui indo por esse caminho de pesquisa e ensino porque no Brasil você não tem
muito... são raros os casos de só pesquisador.
Sim. Tá...e em relação as suas aulas práticas, você usa um roteiro ...para seguir
as aulas?
Hmm...algumas sim, outras não.
Como por exemplo?
Algumas que tem um roteiro que eles tem que passar por todas essas etapas pra
chegar num produto final, numa conclusão final, aí essa tenho que ter um roteiro de
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passo a passo, principalmente passo a passo em aulas práticas de xxxx, nas aulas de
xxxx...
Sim.
...então tem um passo a passo. Agora tem outras que não, que eu simplesmente dou
um problema. Falo o tipo de material e pra eles pensarem numa pergunta e como que
eles vão tentar responder essa pergunta com o que eles têm dentro da aula prática,
focando bem a ideia de como eles montam um projeto para responder a pergunta em
xxxx.
Mas nesse caso, por exemplo, quando...como você sabe quando tem que usar um
roteiro e não usar um roteiro?
Ah...basicamente é pela natureza do... do... do que a gente tá trabalhando né.
Uhum.
Então é...porque tem aulas práticas que se não tem roteiro eles não conseguem
executar porque eles precisam fazer toda aquela etapa e tal.
Sim.
Um passo a passo pra conseguir chegar e depois ter o resultado pra poder discutir.
Sim. Entendi
Então tem algumas que eu não tenho o roteiro que é basicamente pra eles só...é isso
que a gente tem que fazer e tentem executar, pensar pra...pra fazer aquilo lá. Então eu
não tenho... eu não uso muito os roteiros.
Uhum.
Eu deixo eles livres, inclusive na sala de xxxx eu falo também ó “tem que fazer isso”,
como que a gente vai fazer?
Pra eles batalharem pra conseguirem chegar naquele resultado.
Sim. E geralmente eles conseguem alcançar?
Conseguem, conseguem. A gente vai dando uma ajuda e tal, mas geralmente eles
conseguem sim.
Tá. Entendi. Deixa eu ver... Pra você qual a importância do
laboratório...assim...para a aprendizagem dos alunos? O que ele proporciona?
Então é importante porque eles...eles tem mais uma vivência daquilo que eles podem
enfrentar na atividade prática, na atividade profissional.
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Hm.
Então tanto num mestrado, num doutorado e tudo de pesquisa e...pra uma assimilação
do conteúdo, mas de uma forma contextualizada...que você consegue apresentar um
problema e eles tentam resolver dentro daquele contexto usando tudo que eles
aprendem nas aulas teóricas e na questão de discutir os resultados do porque deu e
porque não deu certo.
Uhum. E no geral...
Aí eles tem que pegar conceito teórico pra poder enfim aplicar numa resposta daquilo,
do processo que eles encontraram.
E no geral você acha que eles conseguem estabelecer uma relação entre a prática
e a teoria, que eles viram?
Conseguem, talvez eles não tenham uma noção clara que eles conseguem, mas acho
que sim.
Hm.
Você vê algumas... principalmente em relatórios que é nosso feedback digamos assim.
E nos relatórios eles conseguem entender isso e fica claro aonde que eles poderiam ter
melhorado, principalmente essas mais abertas assim, que justamente pra eles
pensarem e depois que eles tenham os resultados, tenham toda a informação eles
falam: “Ah, putz, devia ter feito isso”
Uhum.
Eles pensam no que erraram, pra tentar corrigir e isso é o interessante, é isso que se
espera de eles tentarem corrigir essas falhas.
Por isso eu não dou essa parte de você tem que fazer isso, isso e isso pra chegar
nesse resultado.
Certinho...Uhum
Porque as vezes na prática, batalhando que eles conseguem fazer mais essa
simulação do que seguir um roteiro.
Entendi. Então pra você o benefício que a aula prática poderia trazer pra teórica,
seria o que exatamente?
É a contextualização do conteúdo.
Contextualizar...
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Não sei se entraria a questão de saída de campos também. Então com saída de campo
a gente enxerga os problemas, enxerga os padrões na natureza e tal. E na aula teórica
a gente traz de novo...lembra que a gente viu aquilo lá, das aulas práticas mesmo.
Lembra que a gente comparou xxxx tal com xxxx? Então a gente pega aquela
informação da prática e traz de novo pra teórica.
Leva pra teórica...
Tá..Hm Deixa eu ver... e quais as contribuições únicas das aulas práticas? Que só
as aulas práticas podem proporcionar? Agora não relacionando com uma teoria.
Ah...é o aprender fazer, é botar a mão na massa e executar aquilo que a aula prática
propõe. Então na teórica eles não conseguem ter essa execução de uma tarefa.
Será que...
Na aula prática a gente consegue...”ó vocês tem que fazer isso”.
Uhum
Então essa atividade mais prática, técnica às vezes... só na aula prática consegue.
Mas você diz em relação a experimentação?
É, em relação à experimentação.
E na teórica será que não teria algum jeito de fazer uma experimentação também?
Hm...ah...é bem mais difícil, a gente consegue ou a gente tenta com alguns jogos,
simulações, mas ainda acho que não é tão direto como por exemplo como uma aula
prática ou mesmo uma saída de campo...É muito mais direto essa...essa vivência.
Mas porque, mas na teórica eles não conseguiriam vivenciar, porque? Só por
não... estar lá fazendo mesmo?
Ah...eu acho que sim porque tem coisas, por exemplo, vamos fazer
xxxx...experimentação de xxxx, na teórica você não tem como –sim- executar, xxxx -
uhum-, pensar, tantas xxxx e tal. Então não tem como na teórica você conseguir
trabalhar isso, então na teórica, por exemplo, você faz experimentos que demoram 2, 3,
4 semanas -uhum-, então na teórica você não tem todo esse tempo pra, pra aguardar e
ficar num ponto só, numa tarefa só.
Tá Hmm e quando o resultado de um experimento não é o esperado que você faz?
Geralmente não da o esperado quando eu deixo em aberto, então pra eles montarem.
Sem um roteiro?
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Sem o roteiro. Então na verdade não é que não da certo, as vezes não consegue o
resultado esperado, mas deu certo porque eles aprenderam (uhum) o que que fizeram
errado ou então alguma coisa nesse sentido ou então todo o processo de construção
do experimento foi pensado tudo direitinho e as vezes, vai num exemplo de xxxx que a
gente coloca pra xxxx, as vezes não xxxx como a gente espera, mas isso é só um
detalhe porque eles tem que pensar o porque que não deu certo. Se foi questão de
xxxx, foi questão de xxxx. De regra enfim...aí eles voltam a ter o problema de pensar,
então na verdade o meu objetivo que é fazer eles pensarem é atingido.
Sim.
Então não tem assim... quando não dá certo.
Mas você tenta fazer eles refletirem quando o resultado não era o que eles
esperavam?
Sim, sim.
Você fala pra eles procederem de alguma maneira?
Não, eu só...eu falo pra eles pensarem porque que deu errado ou não deu como era o
esperado justamente isso, é assim que eles fizeram. As vezes xxxx, você encontra
respostas de alguma coisa que não é a esperado.
E geralmente eles conseguem chegar a uma conclusão?
Ahh...conseguem (uhum), mas uma grande parte assim é que eles enxergam então
uma falha assim na metodologia, de experimentação...então a gente deveria ter feito
mais xxxx, mais xxxx, é... então tem um pequeno lado assim de tentar justificar um
pouquinho mais pela metodologia e não pelo processo xxxx e biológico.
Então você geralmente justifica por alguma coisa na preparação?
É, eles vão muito mais pra preparação, do desenho experimental, que na verdade o
objetivo das aulas é mais esse-sim- de como é que eles vão tirar as informações da
xxxx pra conseguir analisar (uhum). É....mas é...alguns... alguns trabalhos mostram que
eles pensam...inclusive eles na discussão dos relatórios eles falam: ”ah pode ser que foi
um excesso de xxxx, enfim...” uma resposta né, eles conseguem argumentar.
Alguma hipótese né?
É, eles levantam algumas hipóteses, não são todos os grupos, mas alguns conseguem.
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E será que teria alguma maneira de todos os grupos chegarem a elaborar uma
nova hipótese? ...Não só alguns.
É...não sei, é esperado que todos né conseguissem isso (risos). Uma...uma certa
dificuldade é justamente da minha parte de não conseguir retornar os relatórios
corrigidos a tempo (risos de ambos).
Entendi.
Mais a minha falha né de...pra quem não conseguiu, eu deveria pegar, conseguir
corrigir o relatório...
Entrevista interrompida por uma terceira pessoa.
... Conseguir corrigir o relatório, de tentar forçar eles um pouquinho de tentar chegar
numa hipótese biológica, do porque deu certo e porque não deu certo.
Ou será que mesmo uma discussão em aula...Na aula mesmo...
É ai na...na...é isso que eu faço as vezes, na discussão do semestre, pegar os
relatórios e discutir o que aconteceu. Porque às vezes não consigo da um retorno
imediato, mas no final do semestre avalio todos os relatórios e tudo mais e a gente
discute
Ta.
Ah então como que a gente faz, como que foi feito. E ai nesse momento a gente tem
esse feedback de tentar buscar hipótese biológica mesmo.
Tá.
E pra você quais são as dificuldades de trabalhar com aulas práticas? ....No
laboratório no caso?
Pra mim...em relação com os alunos ou..?
As dificuldades que você encontra...
Ahh...a dificuldade é um pouco de...ah não sei se tenho muita dificuldade assim, porque
os técnicos aqui dão uma mão espetacular. Então é mais alguma coisa nova. Ah essa
aula não tô gostando então eu vou mudar.
Uhum.
E ai você pensa como que vai mudar, como vai estruturar a aula prática. E ai depois
que ela tá meio que estabelecida, que você já sabe o que...que você vai fazer...é não
tem muita dificuldade.
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Ah.
Ah em aula mesmo...
Teórica?
Não, na aula prática (ah na prática mesmo)...também não tem muita dificuldade assim.
Quando eu vou pras aulas práticas em xxxx seria bom se tivesse alguém também -
uhum- um monitor. Provavelmente eu peça pro semestre que vem se eu não perder o
prazo.
(risos)
Entendi
Pra ajudar, porque muitas vezes os alunos tem dificuldades, de trabalhar com xxxx,
xxxx e aí...um aluno com algumas características de xxxx e tal que seja bom.. ele pode
dar uma grande ajuda.
E na hora de se relacionar com os alunos na prática.... não tem grandes
dificuldades?
É... na sala de xxxx tem um pouco de dificuldades que é a competição com xxxx. –
(risos) é verdade, uhum-. Então eles ficam enquanto tô preparando alguma coisa
ficam xxxx, começam a ver o xxxx, ai tem que voltar chamar, “pessoal, vamos mexer,
não sei o que”.
E as vezes você pisca e eles já mudaram de xxxx e ai abre o que tem que fazer e vai
pra outra coisa, ver xxxx, ver não sei o que e fica aquela coisa, um monte de coisa ao
mesmo tempo, manter o foco nas aulas práticas –sim-, é difícil. Essa é uma dificuldade
sim.
E na preparação dos experimentos não tem assim...grande dificuldade, se os
alunos tem alguma curiosidade, assim... que você precisa esclarecer?
Não...hum...nessas aulas geralmente dou um tempo pra eles pensarem como vão
executar, vão desenvolver o projeto e tal e é, depois quando vai pra, pra execução pra
montar um experimento geralmente tem algumas duvidas, mas são duvidas pontuais
muito...muitas vezes não da pra todo mundo trabalhar ao mesmo tempo, então vem
sempre alguém que fala assim: ”ah professor..” que pergunta algumas coisas de
curiosidade e tal...
Entendi. Tá. E pra você um experimento prático comprova a teoria que foi dada?
45
Sim. Comprova.
Comprova, mas porque?
Ah porque, todo...todo conceito teórico ele veio de uma execução prática, então nossas
práticas visam concordar com o que a gente vê em teoria. Então tem esse
paralelo...tudo em ecologia por exemplo. Todos os conceitos de xxxx vieram de
pesquisas práticas -uhum- então funciona bastante. Esse paralelo é muito direto.
Então quando você da uma teoria em aula, você pode levar ela pra prática e fazer
um experimento, alguma coisa e dizer “ ah, isso evidencia o que a gente viu na
teórica?”
Uhum. Isso. Perfeito.
Sim?
É, por exemplo, xxxx? A gente sabe como é na teoria. Como a gente faz pra provar que
existe a xxxx?
Sim.
Então eles montam e tal, aí encontram resultado. E aí concorda com a teoria.
Mas e ai nesse caso, retomando uma das questões anteriores...se deu o que não
era esperado...você tinha falado que não era um erro, mas então o que é...se
deveria comprovar a teoria?
Então, porque em xxxx, você pode ter muitas respostas... do padrão que você encontra,
então as vezes olha ai e fala. Porque não deu o esperado?
E ai ele tentam buscar outras informações. Então um era xxxx, outro era xxxx... tinha os
xxxx que poderiam aumentar o xxxx de uma das xxxx.. enfim...eles justificam com
outras características das xxxx, pra que as vezes não seja evidenciado uma xxxx...
Mas a justificativa ainda chega a ser em torno da teoria que seria trabalhada?
Sim.
Então mesmo que...
Quando você tem a resposta pela hipótese biológica sim. –Tá- Continua sendo através
da teoria .
Então mesmo que não tenha dado o que queria, eles vão justificar em torno do
que ja tinha sido visto?
Sim.
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Então ta bom, acho que era isso mesmo professor.
PROFESSOR 2
Aonde você se formou?
Resposta completa removida para preservar a identidade do indivíduo.
Aham
Você quer o ano? Em xxxx eu me formei.
Ok. E Você pensava desde o início em dar aula na faculdade?
Não, nunca imaginei. - Não?- Nunca me imaginei dando aula. Eu queria trabalhar com
xxxx, só...e acabei... h..quando ainda tava na graduação... e tava procurando alguma
coisa pra fazer e...tava fazendo xxxx também. –Aham- E apareceu, fui procurar...dava
aula particular já –Hum-...Pra alunos individualmente- Uhum-...numa escola. E aí me
interessei e falei “olha isso é interessante mesmo, não é só teoria que é legal né-
Uhum-...a prática da docência é legal. E fui, aí comecei a dar aula no Ensino Médio...
Você teve oportunidade...?
É, mas nunca me imaginei no ensino superior. Quando entrei na facul pra ser bióloga
não me imaginava professora- Uhum...é -...pronto.
Ah entendi (risos)
Nunca me imaginei como professora.
Tudo bem. Se você pudesse escolher uma aula prática que você gosta muito de
dar –Hum- e pudesse descrever ela brevemente, qual seria?
Hum...Eu gosto de várias...Escolher uma...
(Risos) Se quiser escolher mais de uma...
Deixa eu pensar...tem várias...Tem que ser no laboratório? Aula prática do laboratório?
É...não, não necessariamente...se você achar que...
Escolher uma...acho que eu gosto muito...pra não ser injusta com minhas aulas
práticas...
Risos
Eu gosto de aula prática que traga coisas novas assim...
Aham.
47
...que não tá esperando muito pra ver...
Como por exemplo??
As de xxxx eu gosto bastante...
Uhum.
Quando a gente trabalha com novos xxxx...-Aham-... então já não descobre que aquilo
traz informações...-Sim- Eu acho que isso é bacana, gosto das aulas de xxxx, onde a
gente tem o experimento, então pra acompanhar...Não é uma aula né...-Uhum-... então
na verdade elas acabam desencadeando outras, mas eu gosto, nessa aula que o aluno
tem que botar a mão na massa – aham - e ai ele vai pegando informações do que tá
acontecendo, enfim...no experimento né, ou numa coleta de dados dele e ai ele vai
montando né...na cabeça dele–sim-, explicações pro que tá acontecendo, hipóteses,
enfim..
Sim. E você tem a descrição de alguma assim... que você goste...
Uma descrição de uma...?
É...se você quiser falar alguma que você gosta muito...
Não consigo separar uma...
(Risos) - Se você quiser pode falar um pouco mais de uma, rapidinho...
Resposta completa removida para preservar a identidade do indivíduo.
Então você gosta, acho que pela surpresa que traz ao aluno?
Exatamente! E esse incomodozinho...de falar “poxa” –aham- “não era pra ter
acontecido aquilo? – sim- O que que aconteceu?” A gente tinha predação né, tinha né..
a xxxx é muito baixa...então o resultado é outro –uhum- ...do que eles imaginavam que
ia acontecer –sim- então é legal, eu gosto...
Então ta...E pra você o que é atividade prática mesmo? É diferente de
experimentação?
Hum...Nem toda atividade prática é experimentação...eu acho. –uhum- não precisa ser
um experimento. A prática muitas vezes a gente coloca o que a gente discutiu na teoria
né...os conceitos pra que eles possam aplicar isso em problemas – uhum - que são
fornecidos na aula prática. Então Ok, também não precisa ser um experimento...não
acredito muito...
Sim. Então no caso saídas a campo também seriam?
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Pra mim...eu conto como aula prática...
Sim.
É aplicação do conhecimento ali...
Uhum. Ta bom...Pra você quais as contribuições que as aulas práticas podem
permitir para a aprendizagem dos alunos?
Muitas (risos). É...Ela permite trazer um pouco mais pro real. –Uhum- Né..pra
conseguir aplicar em coisas do cotidiano, do dia a dia... nem que seja do dia a dia da
biologia né... –Uhum- Enfim...eu acho que facilita, facilita você...ãh...Uma
aprendizagem mais significativa. – Hum- De às vezes você entendeu o que o professor
falou ou você leu também...e você achou que OK, e na hora que você vai aplicar
aquilo...talvez aquele conceito não ficou tão claro...então acho que pra...pro professor é
muito bacana, é uma forma da gente conseguir detectar algumas falhas nesse processo
de ensino e aprendizagem...então acho que ela é muito significativa.
Que falhas poderia detectar?
Uma f...Então eu...ã...algum conceito que não ficou claro –uhum- Sim... Na hora de
você aplicar isso numa situação problemas...as vezes...-sim- ou é...o aluno interpretou
de outra forma, não ficou claro o que o professor falou, ã... ou a hora que ele pesquisou.
Então ele se depara com outra coisa ainda, com outro problema –uhum-, que ele não
tinha imaginado que cabia naquele contexto.. –uhum- então acho muito representativa,
acho que é aula prática é bem importante.
Mas essas contribuições que você citou, você acha que numa teórica não seria
possível? Só com a teórica...
Com a teórica? Eu acho que até...desde que essa prática...desde que essa teórica
tenha né um lado mais prático – uhum-...enfim...de exercício né...de poder pensar um
pouco mais...Acho que a prática é mais libertadora, vai- uhum-A teórica, ela já traz uma
carga de né...de vamos falar sobre o conteúdo né...já fica uma coisa assim...ah...eu
acho que a prática, ela...ela...ela ..você divide aquela turma...você leva eles pra outro
lugar...eu acho que tudo isso influencia...
Mas a teórica também não poderia ser libertadora?
Deveria ser – deveria...- deveria ser, mas acho que você tendo essa chance de ter uma
aula né...onde você pode trabalhar mais esse conteúdo em termos...ah...ia falar em
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termos mais duros assim.. –hum- né, mas trabalhar os conceitos enfim...essa aplicação
na prática, acho que faz muita diferença- tá-...Acho que a teórica pode até ser, desde
que você tenha duas e você transforma essa teórica em aula prática.
Uhum. Entendi..
Né...mas acho que sair de lá...podia ser num jardim. Não precisa ser num laboratório...
É (risos) Entendi.
Mas acho que ela traz uma outra visão, um outro momento de pensar – uhum-...uma
outra disposição do aluno...do professor, de tudo...acho que é uma outra atmosfera.
Não importa onde seja, não precisa ser no laboratório...
(risos) entendi. Ãh... Pra você quais são as funções da aula de laboratório?
Exatamente, acho que é verificar né...se o processo de ensino-aprendizagem funcionou
-uhum- enfim, mas se ele tá correspondendo às expectativas...eu acho que a
função...ela é...até de o aluno refletir um pouco...mais sobre a aplicabilidade dos
conceitos que tratou na aula teórica...
Geralmente você acha que eles refletem?
Eu gostaria muito que todos sim, eu acho que alguns refletem sim...
É?
É...
Mas como...porque você acha isso?
Eu acho que sim, porque surgem muitos mais questionamentos...né...eu acho que as
dúvidas aparecem com mais frequência...- uhum- Então eu acho que tem que
refletir...pra você ter dúvida né –sim-...não é só decoreba ali. Tive que interiorizar...e a
hora que eu fui opa...aplicar isso. Opa, eu perdi ali ou enfim...-entendi- surgiram
outras...outros questionamentos...até pode...ã...o aluno ter entendido, Ok. Fazer sentido
pra ele –uhum- mas o novo problema aquilo...muitas vezes não é obvio...aplicabilidade
do conceito – sim-...acho que a prática serve pra isso também...
Ta bom. Nas suas aulas. Você usa um roteiro?
Uso um roteiro.
E como você caracteriza esse roteiro?
Como assim?
Por exemplo...você passa um roteiro escrito...
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Ah ta, OK! Faço um roteiro escrito –uhum- que a gente fala um pouco do
roteiro...né...do que vai acontecer, só acho importante saber o que vai acontecer do
começo até o fim –uhum-. Não precisa ter as respostas do que vai acontecer, mas eles
tem que saber... como se fosse um protocolo vai...
Do que eles fariam?
É...pra poder se organizar né...na vida a gente tem que se organizar... (risos) e isso
aqui é uma forma da gente ganhar experiências pras outras áreas também, da nossa
vida...Então saber que as coisas tem começo, meio e fim...né... que você tem um tempo
pra fazer as coisas. Na vida profissional a gente também tem isso. Então...ah...a gente
trabalha dessa forma e eles vão seguindo o roteiro, qualquer dúvida né...a gente tá a
disposição.
Mas...você acha que daria pra ter uma aula sem o roteiro...?
Da pra ter uma aula sem roteiro.
Você pode dar um exemplo?
Da pra ter, as minhas aulas tem roteiro (risos)...mas da...ah...a saída a campo tem um
roteiro, mas muitas vezes acontece um imprevisto e a gente sai do roteiro, no próprio
laboratório acontece o experimento, enfim...o que a gente tá fazendo, vai pra um outro
lado e a gente sai do roteiro. A própria aula teórica sai do roteiro né – uhum-
dependendo da pergunta do aluno...sai do roteiro...é um esqueleto...não vou te falar
que a gente é engessado no roteiro, mas eu acho importante...o roteiro acho que serve
pra.. ah...pro professor planejar direitinho seus objetivos né – uhum- o que ele quer, pra
ele também não fugir...né da alma dali, daquela aula...então eu acho que ele facilita o
processo...eu acho que ele facilita...
Mas você acha que teria como dar uma aula sem nada prévio, por exemplo, nem
dar um roteiro nem pra começar? Começar a aula...
Eu também sem nada prévio? Eu nem saber o que vou fazer na aula?
É..não, você sim..
Então tem um roteiro...
Mas...
Posso não dar nada escrito, mas tem um roteiro...-Sim-...Eu vou influenciar a
dinâmica ...
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Então você acha que teria algum jeito de deixar eles livres pra investigar alguma
coisa, sem falar “olha é isso que você tem que fazer” ?
Sem dúvida nenhuma, mas no final das contas, a gente sabe que a gente...se eu já
tenho um roteiro pré-concebido né – ta-...enfim com objetivos né...claros do que eu
quero atingir em aula – uhum- posso não fa...posso não dar escrito mas não acredito
no poder de falar Ok – ah - vamos ver o que vai acontecer. -Entendi– Não
acredito...muitas vezes a aula sai do que a gente ia falar – aham – a gente não
consegue terminar o que quer fazer porque surgiram outras questões...apareceu um
elemento novo né...e que surgiu dúvidas e curiosidades e a gente vai pra esse lado,
mas eu não consigo – ah tudo bem (risos)- me ver – tudo bem - despida de objetivos
em uma aula assim..
Não, tudo bem...Mas a ausência de um roteiro seria sempre estar sem objetivos?
Se eu não tiver um roteiro, interno meu, acho que sim...
É...não, tudo bem...Ãh...Nas suas aulas, os alunos fazem atividades em grupo ou
individualmente?
Os dois.
Quando é melhor cada momento?
Nas aulas práticas?
É.
É. Hum...Então geralmente quando tem experimento eles fazem em grupo, na hora de
responder os questionamentos, então assim, meu roteiro...junto com aquilo muitas
vezes vão algumas perguntas pra serem respondidas pra gerar reflexão mesmo...e eu
ter um feedback também pra poder acompanhar de uma forma escrita...E aí nas
respostas eu peço que elas sejam individuais, eles trabalham em grupos, discutem –
uhum- acho que a discussão é muito bacana pra conseguir gerar né novos
pensamentos, novas ideias, mas na hora de escrever eu gosto que cada um ...
Cada um tenha a sua... ?
É...monte a sua, até porque isso é importante, acho que é um treino, de...de...deixar as