UNIVERSIDADE POTIGUAR - UNP PRÓ-REITORIA ACADÊMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO – PPGA MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO MARCIA SUELY DA CUNHA ROCHA BARBOSA COMPORTAMENTO EMPREENDEDOR E A REDEFINIÇÃO DO PERFIL PROFISSIONAL DO FARMACÊUTICO NO NOVO MERCADO NATAL/RN 2016
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UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo
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UNIVERSIDADE POTIGUAR - UNP
PRÓ-REITORIA ACADÊMICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO – PPGA
MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO
MARCIA SUELY DA CUNHA ROCHA BARBOSA
COMPORTAMENTO EMPREENDEDOR E A REDEFINIÇÃO DO PERFIL PROFISSIONAL DO FARMACÊUTICO NO NOVO MERCADO
NATAL/RN
2016
MARCIA SUELY DA CUNHA ROCHA BARBOSA
COMPORTAMENTO EMPREENDEDOR E A REDEFINIÇÃO DO PERFIL PROFISSIONAL DO FARMACÊUTICO NO NOVO MERCADO
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Administração, da Universidade Potiguar, como requisito para obtenção do título de Mestre em Administração na Área de Concentração Gestão Estratégica de Negócios.
ORIENTADORA: Profª. Drª. Nilda Maria
de Clodoaldo P. Guerra Leone.
CO-ORIENTADOR: Prof. Dr. Manoel
Pereira da Rocha Neto.
NATAL/RN 2016
Barbosa, Marcia Suely da Cunha Rocha
Comportamento empreendedor e a redefinição do farmacêutico no novo mercado / Marcia Suely da Cunha Rocha Barbosa. – Natal, 2016.
124f. Orientadora: Nilda Maria de Clodoaldo P. Guerra Leone. Co-orientador: Manoel Pereira da Rocha Neto. Dissertação (Mestrado em Administração). – Universidade Potiguar
Pró-Reitoria Acadêmica – Núcleo de Pós-Graduação. Bibliografia: f. 107 – 113 1. Característica do Comportamento Empreendedor – Dissertação 2. Modelo McClelland. 3. Farmácias. I. Título.
MARCIA SUELY DA CUNHA ROCHA BARBOSA
COMPORTAMENTO EMPREENDEDOR E A REDEFINIÇÃO DO PERFIL PROFISSIONAL DO FARMACÊUTICO NO NOVO MERCADO
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Administração, da Universidade Potiguar, como requisito para obtenção do título de Mestre em Administração na Área de Concentração Gestão Estratégica de Negócios.
Aprovada em: ___ /___ /________.
BANCA EXAMINADORA
_________________________________ .
Profª. Drª. Nilda Maria de Clodoaldo P. Guerra Leone
Orientadora
_________________________________ .
Prof. Dr. Manoel Pereira da Rocha Neto - UnP
Co-orientador
_________________________________ .
Prof. Dr. Eduardo Pereira de Azevedo - UFRN
Membro Examinador Externo
Dedico esse trabalho a minha mãe (in
memorian), a quem prometi cuidar de
mim, exatamente com o amor que ela
cuidava; ao meu pai, meu eterno porto
seguro; ao meu amado filho, fonte de
minha motivação; e ao meu marido, que,
nos momentos difíceis de indecisão e
insegurança, me incentivou, teve
paciência e trouxe normalidade e alegria
ao meu dia a dia.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus pelo privilégio que Ele me dar de sonhar e realizar
meus planos; por Ele cuidar de mim e da minha família; e por Ele permitir que eu
chegasse até aqui pelo seu amor, graça e misericórdia. Agradeço a Ele por ter me
dado condições de lutar e alcançar os objetivos pretendidos.
Aos meus pais e família, que tanto amo, pelo apoio incondicional que sempre
me deu para chegar onde cheguei.
À Genner Barbosa, por sempre torcer, puxar minha orelha, quando estive
desfocada, motivar, quando estive desanimada, e por fazer parte da minha vida em
todos os momentos.
À minha orientadora, Profª. Nilda Leone, pelo apoio necessário, pela
disposição e por não medir esforços para sempre me ajudar quando precisei.
Ao meu co-orientador Profª. Manoel Pereira, pelos conselhos importantes e
por ter me ajudado a crescer em conhecimento e como pessoa.
Aos meus professores, por terem guiado, sem dúvidas, muitos dos meus
passos.
Aos meus nobres colegas, pelos estudos, confraternizações, pela união em
sala. Foram muitas risadas, refeições, desabafos e aprendizados, nunca esquecerei
os bons momentos que estive com vocês.
Por fim, agradeço a todos que participaram direta ou indiretamente dessa
conquista. Agradeço a todas as pessoas que me ajudaram a vencer. Umas com
palavras, outras com tolerância, isso me fez encontrar a direção certa.
“O sábio toma a fé e a inteligência para a
sua segurança na vida; esta é a melhor
das riquezas” (Buda, no Dhammapada).
RESUMO
A presente pesquisa tem como objetivo analisar Características Comportamentais
Empreendedoras (CCEs), manifestações das necessidades motivacionais,
presentes nos profissionais farmacêuticos e avaliar se estes atendem às
expectativas do novo mercado ou se suas competências precisam ser redefinidas. O
empreendedorismo é a base fundamental para o desenvolvimento de um país,
gerando mais renda, empregos, avanço tecnológico, inovações e melhorias em
serviços e produtos. Na Era do Conhecimento, as organizações devem manter seus
funcionários, satisfeitos e motivados, pois eles são seu bem mais valioso para
alcançar o sucesso. Através de estudo em diversos países com diferentes culturas e
civilizações, McClelland (1961) afirma que empreendedores de sucesso possuem
características comportamentais distintas e, logo, empreendedorismo tem a ver com
os aspectos de atitudes do indivíduo empreendedor, como criatividade e intuição.
Essa pesquisa é um estudo de campo descritivo com abordagem quantitativa,
envolvendo um universo de 55 farmacêuticos do setor varejista de farmácia da
cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo
McClelland (1972). Um questionário com questões fechadas, cuja primeira parte
está relacionada ao perfil sociodemográfico dos entrevistados e das empresas onde
trabalham; e a segunda parte, às CCEs. Para análise dos resultados, foi utilizada a
“Escala Likert”, que corresponde a pontuação de 01 a 05, desde “Nunca” até
“Sempre”. Os resultados obtidos indicaram que os farmacêuticos possuem todas as
CCEs. Na análise por categoria de gênero foi encontrada diferença estatísticamente
significativa em apenas uma CCE, a busca de informação, menor nas mulheres.
Recomenda-se aprofundamento do estudo no tema por categoria de gênero e por
comparação com grau de satisfação pessoal como recompensa para as ações
empreendedoras do farmacêutico no setor.
PALAVRAS-CHAVE: Características de Comportamento Empreendedor. Modelo
McClelland. Farmacêuticos.
ABSTRACT
The research aims to analyze Enterprising Behavioral Characteristics (EBC),
manifestations of motivational needs presented among pharmacists, and assess
whether these professionals meet the expectations of the new market or whether
their skills need to be redefined. Entrepreneurship is the fundamental pillar for the
development of a country, generating more income, jobs, technological advances,
innovations and improvement in services and products. In the Knowledge Age, the
organizations need to satisfy and motivate your employees, once they cooperate with
their knowledge, talents and skills providing dynamism and productivity that the
company needs to succeed. Through study in different countries with different
cultures and civilizations, McClelland (1961) argues that successful entrepreneurs
have different behavioral characteristics and, therefore, entrepreneurship has to do
with aspects of the enterprising individual attitudes such as creativity and intuition.
This work is a descriptive field study with quantitative approach, involving 55
pharmaceutical from retail sector from Natal/RN. The data collection instrument is
based on the model of McClelland (1972), a questionnaire with 65 objective
questions, the first part is related to the socio-demographic profile of the respondents
and the companies they work; and second part is related to the EBC. In order to
analyze the results it was used the “Likert Scale” which corresponds to the score
from 0 to 5, from “never” to “always”. In the analysis by gender category was found
statistically significant difference in one CCE. It is recommended to study the
deepening in the theme category by gender and by comparison with degree of
personal satisfaction as a reward for entrepreneurial activities in the pharmaceutical
Quadro 1 Divergências quanto a definição dos Serviços Farmacêuticos no âmbito das farmácias ............................................................. 23
Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo corporativo................................................................................... 33
Quadro 3 Princípios da inovação................................................................. 36
Quadro 4 Influências e manifestações comportamentais das necessidades motivacionais sobre um indivíduo....................................................................................... 39
Quadro 5 Relação entre atividades comportamentais do capital intelectual e do empreendedor.................................................... 40
Quadro 6 Evolução no estudo sobre as características comportamentais empreendedoras.......................................................................... 42
Quadro 7 Classificação dos empreendedores quanto aos estágios do processo empreendedor.............................................................. 45
Quadro 8 Dimensões das competências para gestão empreendedora............................................................................ 48
Quadro 9 Propensão e potencial de estudantes de farmácia para empreender.................................................................................. 51
Quadro 10 As CCEs traduzidas para o ramo farmacêutico........................... 53
Quadro 11 Aprimoramento de algumas competências farmacêuticas.......... 57
Quadro 12 Fluxograma para abertura de farmácia........................................ 59
Quadro 13 Publicações de estudos sobre perfil empreendedor de farmacêuticos............................................................................... 66
Quadro 14 Resultados referenciados de perfil empreendedor de farmacêuticos gerentes de uma mesma empresa....................... 67
Quadro 15 Resultados referenciados de perfil empreendedor de farmacêuticos responsáveis técnicos......................................... 67
Quadro 16 Resultados referenciados de perfil empreendedor de farmacêuticos gerentes de empresas distintas........................... 70
Quadro 17 Perfil sociodemográfico de empreendedores iniciais no Brasil. 71
Quadro 18 Fatores organizacionais internos de pequenas empresas que estimulam comportamento empreendedor................................ 72
Quadro 19 Limitações para o desenvolvimento empreendedor em pequenas empresas.................................................................. 73
Quadro 20 Diferenças entre os gêneros no empreendedorismo................. 74
Quadro 21 Classificação da pontuação das CCEs........................................ 80
Quadro 22 Variáveis analíticas e suas respectivas representações no instrumento de pesquisa..............................................................
81
Quadro 23 Categorias de análise e respectivos objetivos............................. 83
Quadro 24 Porte da empresa de acordo com número de funcionários........ 86
Tabela 2 Perfil do comportamento empreendedor...................................... 88
Tabela 3 Necessidades motivacionais de acordo com variáveis sociodemográficas....................................................................... 90
Tabela 4 Perfil sociodemográfico por cargos.............................................. 91
Tabela 5 Médias e desvios padrão das CCEs por cargo............................ 93
Tabela 6 Perfil sociodemográfico por porte da empresa............................ 95
Tabela 7 Médias e desvios padrão das CCEs por porte da empresa........ 97
Tabela 8 Perfil sociodemográfico por gênero............................................. 98
Tabela 9 Médias e desvios padrão das CCEs por gênero......................... 99
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Cadeia de suprimentos da área farmacêutica............................. 63
LISTA DE SIGLAS
ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária
ANPAD Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em
Administração
CCE(s) Característica(s) do Comportamento Empreendedor
CFF Conselho Federal de Farmácia
COMFAR Comissão de Farmácia
CRF Conselho Regional de Farmácia
ENANPAD Encontro da Assaociação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa
em Administração
EGEPE Encontro de Estudos sobre Empreendedorismo e Gestão de
Pequenas Empresas.
GEM Global Entrepreneurship Monitor
IES Instituição de Ensino Superior
IMS Instructinonal Management Systems
IMS Health Companhia de Estudos Farmacêuticos
MPT Ministério Público do Trabalho
MS Ministério da Saúde
OMS Organização Mundial de Saúde
OPAS Organização Pan Americana de Saúde
PIB Produto Interno Bruto
PNB Produto Nacional Bruto
RDC Resolução da Diretoria Colegiada
RT Responsável Técnico
SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SINFARN Sindicato dos Farmacêuticos do Rio Grande do Norte
ANEXO A – QUESTIONÁRIO DE PESQUISA ........................................................ 112
ANEXO B – AVALIAÇÃO DO QUESTIONÁRIO ..................................................... 118
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1 INTRODUÇÃO
1.1 HISTÓRIA DA FARMÁCIA
No Brasil colônia, até o início do século XX, os medicamentos e outros
produtos farmacêuticos eram comprados nas boticas, denominação dada às
farmácias da época. Os boticários da época, hoje chamados de farmacêuticos,
manipulavam e produziam medicamentos de acordo com a Farmacopeia Brasileira1
e a prescrição dos médicos.
Segundo registros históricos da profissão no Brasil, na época predita, o
boticário e o padre eram as pessoas mais importantes da sociedade (SANTOS,
2003). Por ser sua a função de elaborar um produto capaz de acelerar o processo
de cura e por ser o profissional mais próximo e acessível à população, ele era a
própria encarnação da saúde, em um país cujos rincões sequer conheciam a figura
do médico.
Após a Primeira Guerra Mundial, a produção dos medicamentos passou a ser
em larga escala, efeito da Revolução Industrial, cuja cadeia produtiva nas indústrias
farmacêuticas, segundo Palmeira Filho e Pan (2003), tem como primeira etapa a
pesquisa e desenvolvimento para obtenção de um fármaco ativo seguro e eficaz,
para só então haver a produção do farmoquímico, sendo esta a segunda etapa da
linha de produção. Com a obtenção do princípio ativo a indústria realiza a terceira
etapa na produção do produto final, a fabricação em grande escala do medicamento.
A quarta etapa à cargo da indústria consiste na divulgação e comercialização do
medicamento.
As boticas tornaram-se obsoletas diante da cadeia produtiva das grandes
multinacionais da indústria farmacêutica. Enquanto nas primeiras, os clientes tinham
que aguardar o boticário manipular a fórmula magistral2, o que poderia levar horas, e
suas formulações estavam estagnadas às farmacopeias existentes e não
atualizadas. Nas indústrias, além da forte dinâmica centrada em pesquisa e
desenvolvimento, produção industrial e comercialização com altos investimentos e
1 Livro que ensina a compor e a preparar medicamentos; coleção de receitas de medicamentos
básicos e gerais. 2 Medicamento manipulado pelo farmacêutico e prescrito pelo médico, no qual se especifica os
componentes pelo nome químico, define a sua concentração e estabelece qual a forma apropriada e quantidade necessária.
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estratégia de competição focada na diferenciação de produtos, a segmentação das
etapas de produção do medicamento proporciona grandes avanços tecnológicos
destes produtos, desde evolução de formas farmacêuticas e ações terapêuticas, a
pesquisas de alta complexidade com consequente superioridade na sua eficácia.
Já neste período, a farmácia não era reconhecida como um direito do
farmacêutico. Sucumbida aos interesses econômicos a legislação brasileira permitia
que a instalação de uma farmácia fosse livre e pudesse ser aberta em qualquer
localidade, independente do número de farmácias existentes e da população a ser
atendida. Os critérios de abertura eram meramente comerciais e na maioria das
vezes os farmacêuticos só eram convocados para atender as exigências legais
(ZUBIOLI, 1992).
Rapidamente, as boticas deram lugar às farmácias, como as conhecemos
hoje, pontos de vendas das indústrias farmacêuticas. E os boticários, antes
proprietários do estabelecimento, passaram a ser chamados de farmacêuticos,
assumiram apenas a responsabilidade técnica do estabelecimento e sua atividade
passou a ser prioritariamente dispensar os medicamentos industrializados
(SANTOS, 2003).
Durante quase cinco décadas, o farmacêutico brasileiro teve que buscar
outras áreas de atuação, que também o inseriram no mercado de trabalho, a
exemplo de serviços voltados para as análises clínicas e de alimentos. Assim, houve
um certo distanciamento do profissional de sua função maior, que é a dispensação
individualizada do medicamento (ROCHA, 2006).
Enquanto os farmacêuticos distanciavam-se de sua atividade original, o
segmento da indústria farmacêutica continuou em franca ascensão. No plano
internacional, ela caracterizou-se como sendo uma das mais dinâmicas, seja pelo
volume de vendas, estimativa de 406 bilhões de dólares em 2002, seja pelo
desempenho em termos de lucro, seja pelo montante de recursos que destina à
geração de novos produtos, cerca de 15% do faturamento global (BARROS, 2004).
O Brasil, especificamente, representa o oitavo maior mercado do mundo em
faturamento, e isso é apenas 2% da fatia de mercado mundial. Na verdade, o predito
segmento, no Brasil, é quase que totalmente dependente de importações, etapas 3 e
4 da cadeia produtiva da indústria farmacêutica, segundo Palmeira Filho e Pan
(2003), como consequência há maior investimento no setor varejista do país do que
no industrial.
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Dentre as atividades econômicas desenvolvidas no Brasil, numa visão geral
sobre todos os ramos, o setor de varejo é a escolha mais popular entre os
empreendedores, porém, vem diminuindo em número de negócios devido ao
surgimento de grandes cadeias de farmácias. Essas redes varejistas, com a
vantagem de sua escala de compras, quando entram num bairro ou cidade,
oferecem mais escolha e melhores preços atraindo os clientes, desbancando as
micro e pequenas empresas e, consequentemente, provocando o encerramento de
suas atividades (DEGEN, 2009).
Ao afunilar a análise para o setor do varejo farmacêutico no país, o instituto
IMS3 Health, que audita o mercado farmacêutico mundial, destaca o aumento da
renda dos consumidores, a ampliação do acesso a planos privados de saúde e o
envelhecimento da população como fatores que devem fazer esse mercado mais do
que dobrar em cinco anos. Após crescimento de 19% em 2011, movimentando R$
38 bilhões em vendas, essa parte do mercado deve atingir R$ 87 bilhões em 2017
(DCI-SP, 2014).
Estes fatores também são responsáveis pelo aumento do nível de exigência
dos consumidores, que esperam dos produtos mais qualidade e eficiência com o
menor custo e das empresas mais conforto, praticidade e o melhor atendimento,
provocando, com isso, mudanças no aspecto das farmácias, como de organizações
pequenas e tradicionais para grandes redes.
As farmácias organizaram-se em redes; melhoraram seu aspecto visual e sua
logística; passando a operar 24 horas, realizar gestão de estoques, dispor de
softwares avançados, operar com depósitos racionalizados, por vezes
automatizados, oferecer entregas diárias, trabalhar com produtos com código de
barras para facilitar o controle de estoque (MACHLINE; AMARAL JÚNIOR, 1998).
O maior pilar das redes farmacêuticas é o just in time4, termo inglês que
significa literalmente “na hora certa” ou “momento certo”, um sistema de
administração da produção que determina que nada deve ser produzido,
transportado ou comprado antes da hora certa.
3 O IMS é a empresa que referencia os dados de vendas da indústria farmacêutica mundial,
notadamente para o varejo (venda em farmácias). Todos os anos, a empresa realiza as previsões para os anos seguintes, apontando áreas de maior interesse para investimento em diversos países ao longo do globo. 4 Adaptado ao varejo com a retirada da etapa de produção.
19
Além da não obtenção do autêntico Just in time, subexistem outros
problemas, apontados por Machline e Amaral Júnior (1998), como a dificuldade de
prever a demanda, por exemplo, devido a limitação da capacidade dos bancos de
dados para registrar dados relativos a 5.000 apresentações em 100 lojas, o
entrosamento precário entre os setores de vendas e compras na empresa, a
frequência e rapidez ainda insuficientes de reposição dos produtos das distribuidoras
ou depósitos próprios para as lojas e a existência de numerosos medicamentos de
baixo giro.
Os exemplos preditos da dinâmica comercial são as dificuldades vivenciadas
pela maioria dos farmacêuticos atuantes no setor. E que pressupõe-se serem os
motivos das altas expectativas dos empreendedores proprietários para com o
farmacêutico, único profissional especializado para área, que incluem o
comportamento empreendedor deste profissional para que favoreça a organização
com avanço, crescimento e rentabilidade.
O bom profissional deve incorporar competências, ou aperfeiçoar as que já
possuem, de acordo com a sua vivência no ambiente de trabalho. Assim, percebe-se
que há uma troca entre a organização e as pessoas, em que os dois lados têm
participação efetiva no processo de crescimento profissional, gerando benefícios
para ambos, pois a melhor capacitação dos profissionais pode se traduzir num
melhor desempenho de seu trabalho, aumentando a produtividade (HEKIS et al.,
2014).
Por isso os órgãos relacionados aos profissionais farmacêuticos, bem como
universidades e empresas devem em identificar as características comportamentais
empreendedoras desses profissionais para mantê-los bem inseridos no setor
varejista de farmácia por merecimento e não por mera determinação legal.
1.1.1 Ambiente competitivo e novas competências para o trabalhador
A Revolução Industrial não teria sido possível sem o comércio internacional.
Mudanças iniciais, como a troca do mercantilismo pelo comércio livre,
desenvolvimento de novas tecnologias de transporte e o declínio constante de seus
valores ao longo do século, são exemplos do efeito da globalização que permitiu
muitos países escaparem da instabilidade gerada pelo crescimento da população
mais rápido do que o da produção.
20
No final dos anos de 1990, o ambiente empresarial apresentou maiores
exigências nos preços e na qualidade dos produtos, competitividade na produção,
colocação no mercado de bens e serviços que atendessem as necessidades
humanas, proporcionando qualidade de vida com o mínimo de impacto ambiental e
de uso de recursos naturais. Isto é, as organizações enfrentaram rupturas de vários
modelos e padrões, até então inflexíveis, na gestão e nos valores sociais, causados
por rápido avanço tecnológico.
No declarado ambiente competitivo, no qual predominavam incertezas, as
sobreviventes eram aquelas organizações capazes de aprender, gerar e
compartilhar conhecimento necessário para promover transformação contínua, não
mais apenas esporádica. Com isso impulsionou a criação de um novo conjunto de
valores, atitudes e aptidões.
Logo, os aspectos comportamentais e o domínio de novas competências
eram características muito mais importantes que o conhecimento técnico. Exigindo
mais conhecimento em negócio, gerencial e social do que, propriamente, o
conhecimento técnico (DUTRA, 1996).
Os requisitos da nova economia que influenciaram as mudanças nos
aspectos comportamentais e nas competências foram: agilidade; senso de
urgência; flexibilidade; trabalho em equipe; compartilhamento de ideias e
Com a constante necessidade de renovação, as habilidades deixaram de ser
manuais e passaram a ser intelectuais. Logo, o Capital Intelectual, que consiste no
conhecimento, na informação, experiência e habilidades dos funcionários, tornou-se
a mais segura vantagem competitiva (CARBONE et al., 2009).
Atualmente, o conhecimento, visto como uma habilidade, de conhecer, é um
dos principais fatores, junto com educação, desenvolvimento científico e tecnológico,
de superação de desigualdades, agregação de valor, criação de emprego qualificado
e propagação do bem estar (TAKAHASHI, 2000).
Segundo Carbone et al. (2009), na Era do Conhecimento, o Capital Intelectual
é o bem de maior valor para a organização, ele é intangível e está relacionado aos
estudos do conhecimento no ambiente organizacional.
O Capital Intelectual é composto pelo Capital Interno (a estrutura, cultura e
espírito da organização e as pessoas), Capital Externo (clientes, fornecedores,
21
imagem e marcas da organização) e Capital Humano (talento e competência de
seus funcionários).
Apesar de o Capital Humano ser apenas uma parte integrante do Capital
Intelectual, as organizações que buscam o sucesso nos dias atuais investem em
seus funcionários, mantendo-os satisfeitos e motivados, pois sem eles a
organização não passaria de uma estrutura física sem propulsão.
Durante toda Era Industrial, as pessoas eram vistas como meros recursos das
organizações, fornecedoras de mão de obra. Agora como fornecedores de
conhecimento possuem uma gestão personalizada atuada pela organização para
seu contínuo desenvolvimento e valorização, além de novas competências com
atividades cada vez menos físicas e mais mentais e estarem inseridos em uma
equipe compartilhando de um objetivo comum o sucesso da empresa com garantias
para concretizar seus interesses pessoais.
A avaliação de um funcionário é uma análise importante sempre prevista nas
funções dos gestores e, pela organização ter sua administração participativa,
também realizada por outras pessoas (funcionários ou clientes). Quando o resultado
dessa avaliação é bom, significa que o funcionário é um membro fundamental para
sua equipe, e um bem valorizado para organização.
1.1.2 Divergências sobre a definição das competências farmacêuticas
Os funcionários são essenciais para adicionar valor a uma organização, pois
enquanto um capital físico se deprecia, o conhecimento se valoriza cada vez mais.
Não só fazem parte da organização, eles agem e decidem em seu nome, possuem
conhecimento, capacidade, habilidades e talento, isto é, possuem competências que
proporcionam o dinamismo necessário à organização.
Embora as competências farmacêuticas relacionadas à produção e
disponibilização de medicamentos tenham sido mantidas inalteradas, a partir da
industrialização da produção, bem como da incorporação de novas tecnologias no
setor, mudança na demanda por novos serviços nos sistemas de saúde e alteração
no índice de morbimortalidade (impacto das doenças e das mortes que incorrem em
uma sociedade), os propósitos da profissão evoluíram, incorporando novos
conhecimentos, tecnologias e redefinições de suas competências (CFF, 2013).
22
No encarte sobre o exercício farmacêutico na farmácia comunitária
encontram-se as seguintes menções: “a Organização Mundial de Saúde (OMS), em
1997, definiu o perfil do farmacêutico no documento The role of the pharmacist in the
health care system (“Papel do farmacêutico no sistema de atenção à saúde”) e
apontou sete qualidades que o farmacêutico deve ter: ser prestador de serviços
farmacêuticos em uma equipe de saúde, ser capaz de tomar decisões, ser
comunicador, líder, gerente e educador, e manter-se atualizado, permanentemente.”
E que, para o CFF e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, ANVISA, “são
atribuições somente competências técnicas” (COMFAR, 2008).
Em contrapartida, o CFF apresentou, em relatório, ações por ele realizadas
ao longo dos anos que mostraram sua sintonia com a mencionada necessidade de
transformação, enfatizando o componente “serviço” como mais importante
ampliação das atividades farmacêuticas. O serviço farmacêutico é por ele
denominado “Assistência Farmacêutica”. Destacou também ser membro de um
grupo de trabalho instituído pelo Ministério da Saúde com finalidade de propor
diretrizes e estratégias para a qualificação da Assistência Farmacêutica no Sistema
Único de Saúde, SUS (CFF, 2013).
A despeito de esforços de diferentes entidades para efetivar os serviços
clínicos farmacêuticos, o CFF afirmou, no mesmo relatório mencionado
anteriormente, que não houve uniformização dos conceitos relacionados aos
serviços, provavelmente devido a traduções inapropriadas ou adaptações de termos
de língua estrangeira.
Tais divergências nas publicações sobre conceito de serviços farmacêuticos,
em documentos oficiais de diferentes órgãos envolvidos com o tema (Quadro 1),
provocaram impactos negativos, como dificuldade no conhecimento do impacto real
dos efeitos dos serviços prestados e impossibilidade para comparar os resultados
obtidos de diversos estudos relacionados ao tema.
23
Quadro 1 – Divergências quanto à definição dos serviços farmacêuticos no âmbito das farmácias.
CFF MS Órgãos
Regulamentadores
Resolução 357 (CFF, 2001) - dispensação -automedicação responsável - acompanhamento de paciente - aplicação de brincos e injetáveis - realização de pequenos curativos, nebulização - verificação de temperatura, pressão, parâmetros bioquímicos e fisiológicos
Portaria 3.916, 1998 (Política Nacional de Medicamentos) e Resolução do Conselho Nacional de Saúde 338, 2004 - busca por resultados concretos para melhoria da qualidade de vida da população - excluem da concepção de Assistência Farmacêutica: dispensação, acompanhamento e avaliação do uso de medicamentos
Lei nº 5.991 (BRASIL, 1973) - dispensação, como sinônimo de distribuição, entrega ou venda, de medicamentos por qualquer estabelecimento, mesmo não relacionados à saúde - faculta à farmácia a aplicação de injetáveis sob prescrição médica
Resolução 467, 2007 - dispensação de produtos manipulados independente de prescrição
Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (livro), 2002 - não usam denominação “serviços farmacêuticos” - dispensação - rastreamento, acompanhamento e orientação - avaliar resultados e, se necessário, suspender dispensação do medicamento.
Diretrizes para Estruturação de Farmácias no SUS (BRASIL, 2009) - técnico-ger.: programação, solicit., armazen. e descarte de medic. - técnico-assist.: dispensação, orient. e acomp., educ. em saúde
RDC da ANVISA 44, 2009 - dispensação - aplicação de brincos - atenção farmacêutica: atendimento domiciliar, administração de medicamentos, verificação de parâmetros bioquímicos e fisiológicos, indicação de medicamentos isentos de prescrição
Resolução 546, 2011 - dispensação de fitoterápicos isentos de prescrição por indicação do farmacêutico
Caderno 25 da Atenção Básica, 2010 - dispensação - acompanhamento - educação em saúde
Resolução 499, 2008 - acompanhar, identificar, prevenir e solucionar problemas na terapêutica farmacológica - realizar educação em saúde - aplicação de brincos e injet. - fazer peq. curativos, nebuliz. - verificar temp., pressão, parâmetros bioq. e fisiológicos
Núcleo de Apoio à Saúde da Família, 2010 - dispensação - acompanhamento e orientação - visitas domiciliares
Resolução 505, 2009 (revoga Res. 499, 2008) - exclui: verificação de parâmetros bioquímicos e fisiológicos (colesterol e triglicérides)
FONTE: CFF (2013).
O CFF realizou a primeira oficina sobre serviços farmacêuticos em farmácias
comunitárias, cujo principal foco foi uniformizar esses conceitos no país, acreditando
que com isso contribuirá com a formação, padronização dos processos de trabalho e
24
desenvolvimento de competências para atender a esse novo modelo de prática
profissional, bem como para o reconhecimento social da importância do trabalho do
farmacêutico (CFF, 2013).
Na referida oficina, para sistematização das apresentações dos grupos foram
utilizados três temas: reflexão sobre o modelo ideal de farmácia comunitária,
identificação dos serviços farmacêuticos necessários para atender às necessidades
da saúde do indivíduo, família e comunidade e proposição estratégica para alcançar
o modelo de farmácia ideal.
O resultado da oficina proporcionou diagnóstico e indicou necessidade da
descrição dos processos de trabalho para cada serviço, das competências e dos
requisitos para prestá-los com qualidade. Isto evidencia a característica exploratória
da presente consulta no que diz respeito ao uso da análise das CCEs para concluir
se há necessidade ou não da redefinição das competências dos farmacêuticos e
confirma sua importância em contribuir com estudo do tema.
1.2 PROBLEMA DE PESQUISA
O Brasil necessita de um modelo de prática farmacêutica que seja aplicável à
realidade, e que contribua, sobretudo, para transformá-la. Uma prática para cumprir
esse papel precisar estar ancorada em um processo educativo que, além de
contemplar as dimensões do conhecimento (“saber”) e das habilidades (“saber fazer”
e “mostrar como se faz”), também esteja preocupada em reduzir a lacuna existente
entre essas duas dimensões e o “fazer/agir” (FRADE, 2006).
Pereira, Gomes Filho e Alves (2012) pesquisaram a relação entre o perfil
empreendedor e gestão de conhecimento necessário ao farmacêutico (habilidades e
competências), concluíram que pode-se entender por habilidades o “saber fazer
algo” e por competências, o “resultado desse saber”.
Os autores identificaram em documentos direcionados especificamente ao
profissional farmacêutico habilidades relacionadas ao empreendedorismo, como:
conhecimento técnico; relacionamento interpessoal; busca de informações e
conhecimentos; planejamento e organização; observação dos objetos que serão
necessários para o funcionamento de uma farmácia; orientação por metas e
objetivos; avaliação do desempenho das atividades; a capacitação do pessoal; e a
satisfação dos usuários.
25
Além dessas habilidades os autores também relacionaram como necessárias
ao farmacêutico as seguintes características de comportamento empreendedor: a
busca de oportunidade e iniciativa, comprometimento, persistência, correr riscos
calculados, exigência de qualidade e eficiência.
Segundo Degen (2009), o crescimento do preparo e a autoconfiança do
candidato a empreendedor se dá com o acúmulo de conhecimento, com o domínio
de tarefas complexas, com o desenvolvimento de sua capacidade gerencial, com o
domínio da complexidade do negócio que quer desenvolver e, principalmente, com a
experiência adquirida.
Um empreendedor precisa ter habilidades fundamentais como produzir,
administrar, empreender e integrar e a necessidade de “saber fazer” essas tarefas
básicas do negócio é, na maioria dos casos, uma das barreiras que muitos
aspirantes a empreendedor não conseguem transpor (DEGEN, 2009).
Em 2008, Blessa afirmou que muitas farmácias cujos proprietários não são
farmacêuticos comumente são bem sucedidas, enquanto a maioria dos
farmacêuticos proprietários de suas próprias farmácias não consegue manter-se no
mercado. E que o motivo disso poderia estar indicado nas inúmeras queixas dos
farmacêuticos em obter de suas universidades muito conhecimento técnico (por
exemplo, sobre farmacologia, propriedades, doses, efeitos colaterais, conservação,
como fabricar, como aplicar, como indicar), porém, pouco conhecimento em negócio,
gerencial e administrativo, como expor os produtos, estruturar uma loja, atender aos
clientes, enfim, como abrir um negócio próprio e vender.
Apesar dos efeitos da globalização, o empreendedorismo ainda é
compreendido como um fenômeno regional, isto é, o impulso à atividade
empreendedora apresenta uma relação direta com a cultura, as políticas
governamentais e a situação econômica. E um fator agravador, para a situação
mencionada na obra de Blessa (2008), foi que, entre o período de 2005 e 2007, as
ações de apoio ao empreendedorismo foram insuficientes, não tendo sido
percebidas políticas e programas nacionais nesse sentido, de modo que o apoio
governamental foi inexistente ou ineficaz (GUEDES, 2009).
Já Pereira, Gomes Filho e Alves (2012), mediante pesquisa bibliográfica na
área de farmácia sobre a relação entre as habilidades, competências e a gestão do
conhecimento, sugerem que o farmacêutico pode ser empreendedor na sua área,
como dono ou sócio de farmácia.
26
Para essa exploração, a importância em saber se as competências do
profissional farmacêutico precisam ou não ser redefinidas foi além da capacidade
em criar uma nova empresa e de manter-se competitivo no mercado. Teve por
perspectiva atingir a complexa problemática: a “crise de identidade profissional” do
farmacêutico, definida pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e a
Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2002, como principal responsável pela
sua desvalorização profissional e social, por sua pouca inserção na equipe
multiprofissional de saúde e por não tornar o farmacêutico o profissional de saúde
referência nas farmácias.
A pesquisa comandada por McClelland (1961) durou 3 anos e foi realizado
em 34 países. Ele procurou em diferentes civilizações, com diferentes culturas, as
causas que justificassem o desempenho econômico das mesmas. A partir do
exploração realizada pelo predito autor obteve inúmeras conclusões, dentre elas é
que “não existe diferença de conhecimento significativa entre os empreendedores de
sucesso e os que fracassam”. Porém, ficou nítido para o autor que “o grupo bem
sucedido possui características comportamentais distintas” (GUEDES, 2009).
No panorama de que as características do comportamento empreendedor
possa ser uma variável que estabeleça um novo patamar para a valorização do
profissional farmacêutico, capaz de gerar resultados positivos para melhoria da
qualidade de vida e maior inserção deste profissional na equipe multidisciplinar de
saúde é que essa investigação principiou a busca através da seguinte indagação:
quais características do comportamento empreendedor estão presentes no
profissional do farmacêutico?
1.3 OBJETIVOS
1.3.1 Geral
27
Identificar as características do comportamento empreendedor presentes no
perfil profissional do farmacêutico no novo mercado.
1.3.2 Específicos
Caracterizar o perfil dos farmacêuticos entrevistados através das
variáveis sociodemográficas;
Comparar o comportamento empreendedor entre cargos (proprietário,
gerente e responsável técnico);
Comparar a visão empreendedora dos farmacêuticos de acordo com o
porte da empresa onde atuam;
Comparar o comportamento empreendedor de acordo com o gênero.
1.4 JUSTIFICATIVA
O Brasil é o quarto mercado de consumo de medicamentos no mundo e o
país com maior número de farmácias do mundo, segundo o instituto IMS Health,
com uma proporção de 3,34 farmácias para cada 10 mil habitantes, cuja quota
recomendada pela OMS é de uma farmácia para cada 8 a 10 mil habitantes.
O setor farmacêutico tem uma significativa relevância no comércio varejista
nacional e a mais recente pesquisa realizada pela Global Entrepreneurship Monitor,
em 2015, apresentou taxa de 39,3% de empreendedorismo no país, o maior índice
dos últimos 14 anos. Porém, não se encontra um número significativo de trabalhos
publicados nos últimos anos que relacionem o perfil farmacêutico no setor de varejo
ao empreendedorismo, ainda mais escassos os com abordagem na escola
comportamentalista. Daí a maior relevância para a escolha do tema.
As definições para empreendedor são das mais variadas. Em sua maioria
envolvem: estar sempre atento às oportunidades e saber identificá-las, assumir
riscos inerentes ao seu projeto e trabalhar para a transformação dessas
oportunidades em resultados, por meio da coordenação dos recursos disponíveis,
criando novas empresas, produtos, serviços ou processos (GUEDES, 2009).
Como ser empreendedor não está, necessariamente, ligado à criação de um
novo negócio, pode-se tratar de pessoas que trabalham, com vínculo empregatício,
em organizações e realizam alguma inovação, seja num produto ou num processo.
28
Além disso, iniciar a vida profissional como funcionário em uma organização
possibilita a aquisição de conhecimento, experiência e recursos úteis para o
desenvolvimento de seu próprio negócio.
O bom profissional deve incorporar competências, ou aperfeiçoar as que já
possue, de acordo com a sua vivência no ambiente de trabalho. Assim, percebe-se
que há uma troca entre a organização e as pessoas, onde os dois lados têm
participação efetiva no processo de crescimento profissional, gerando benefícios
para ambos, pois a melhor capacitação dos profissionais pode se traduzir num
melhor desempenho de seu trabalho, aumentando a produtividade (HEKIS et al.,
2014).
A avaliação de um funcionário é uma análise importante sempre prevista nas
funções dos gestores e, pela organização ter sua administração participativa,
também realizada por outras pessoas (funcionários ou clientes). Quando o resultado
dessa avaliação é bom, significa que o funcionário é um membro fundamental para
sua equipe, e um bem valorizado para organização.
1.5 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO
Os elementos textuais estão estruturados da seguinte forma: No primeiro
capítulo, a introdução é composta pela contextualização do tema com a história da
farmácia, sua mudança após a globalização e as divergências para chegar às
definições das competências dos farmacêuticos no setor varejista farmacêutico,
além da problemática, dos objetivos geral e específicos e por fim a justificativa.
No segundo capítulo, aborda-se o referencial teórico que está dividido entre
os temas “empreendedorismo/empreendedor”, englobando conceitos, abordagens,
bem como a tradução de ambos os temas ao ramo farmacêutico, com propensão e
potencial farmacêutico para empreender, as características necessárias e as
barreiras enfrentadas.
A metodologia utilizada está descrita no terceiro capítulo, com tipologia,
universo e amostra, os procedimentos e instrumentos de coleta de dados, as
variáveis analíticas, o tratamento dos dados e a caracterização do campo de
pesquisa.
29
Por fim, as questões contextualizadas são tratadas no quarto capítulo, com a
apresentação e análise dos resultados, iniciado com um subtópico para a
caracterização da amostra estudada e sua relação com perfil sociodemográfico,
seguido com três outros subtópicos para a análise descritiva e comparativa dos
extratos (categorias de cargo, porte e gênero). Este alinhamento destina-se a
compartilhar uma visão estratégica global do setor e diminuir esta visão nos níveis
supracitados para permitir guiar a participação de cada subcategoria e colocá-los
aproximados o máximo possível com o embasado para todo setor.
Nesse sentido, através das conclusões, compartilhada a visão estratégica do
setor e divulgada através das camadas há a contribuição para a implantação
coordenada das competências no ramo, bem como o direcionamento da energia e
comprometimento dos indivíduos em torno de um projeto comum.
30
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Este capítulo discorre sobre aspectos relevantes para um melhor
entendimento do tema central do trabalho, através do conhecimento da evolução e
formação do conceito de empreendedorismo/empreendedor ao longo do tempo, e
em especial após a Revolução Industrial até os dias atuais, além de uma elucidação
sobre quais teóricos já discutiram o tema e um breve histórico sobre as barreiras
limitantes que alimentam a problemática.
Com este objetivo, essa pesquisa busca contextualizar as principais correntes
de pensamentos com o momento histórico em que alguns dos principais estudiosos,
envolvidos com a aludida temática, publicaram seus trabalhos e com isso
contribuíram para o desenvolvimento e a evolução teórica dos conceitos de
empreendedorismo/empreendedor.
O estudo de McClelland (1961) está em destaque como precursor da escola
comportamentalista. O referido autor foi um dos primeiros a relacionar o
empreendedorismo à necessidade de realização, o que iniciou seu trabalho da
identificação das características do comportamento empreendedor em vários países,
com diferentes civilizações e culturas. O referido autor conseguiu como resultado
identificar que os empreendedores de sucesso dessas diferentes culturas
apresentavam um mesmo elemento psicológico, o “impulso de melhorar” ou
“motivação da realização”.
A partir desse estudo, McClelland (1972) descreve as dez características
comportamentais que precisam estar presentes num indivíduo empreendedor de
sucesso, definidas como busca de oportunidade e iniciativa, persistência,
comprometimento, exigência de qualidade e eficiência, correr riscos calculados,
estabelecimento de metas, busca de informações, planejamento e monitoramento
sistemático, persuasão e rede de contatos e independência e autoconfiança. Seu
modelo de pesquisa ainda é bastante contemporâneo e utilizado até hoje como
instrumento de trabalho, inclusive por esse constructo.
31
2.1 EMPREENDEDORISMO
2.1.1 Conceitos
O conceito de empreendedorismo foi popularizado no mundo pelo economista
Joseph Schumpeter, em 1942, com lançamento do livro “Capitalismo, Socialismo e
Democracia”, que contem a teoria da “Destruição Criativa” como tema base, e
descreve o processo de inovação numa economia de mercado em que novos
produtos destroem empresas velhas e antigos modelos de negócio.
Em 1970, Peter Drucker introduziu a esse conceito a ideia da necessidade de
arriscar em algum negócio para montar uma organização (DRUCKER, 1986).
Em seguida veio a corrente comportamentalista, sustentada por McClelland
(1972), em que o empreendedorismo tinha a ver com os aspectos de atitudes, como
criatividade e intuição, ou seja, o conceito de empreendedorismo passou a ser
relacionado ao empreendedor, na figura do indivíduo.
A partir daí, ao longo dos anos, a definição de empreendedorismo teve
significados distintos para inúmeros autores que aprofundaram o seu conhecimento,
através do estudo do mesmo. Porém, não existe um consenso sobre o significado
que o termo assume.
A evolução desse conceito chegou a uma das definições mais aceitas
atualmente, proposta por Hisrich e Brush (1985, p.18 apud FONSECA, 2010):
Empreendedorismo é um processo de criar algo diferente e com valor, dedicando o tempo e o esforço necessários, assumindo os riscos financeiros, psicológicos e sociais correspondentes e recebendo as consequentes recompensas da satisfação econômica e pessoal.
O empreendedorismo se configura quando a ideia de inovação é concebida, é
viável e se constitui em uma competência essencial. E esta inovação oferece
condições de exclusividade para a empresa por um período significativo, isto é, ela
não será copiada com facilidade, e, portanto, uma competência essencial que se
constitui em seu diferencial (CÂMARA; ANDALÉCIO, 2012).
Apesar de muitas pesquisas associarem o significado de empreendedorismo
à criação de um novo negócio ou um negócio próprio, isto não é um sinônimo.
Qualquer pessoa que disponha de recursos pode iniciar uma empresa com a
32
finalidade de ser produtiva e obter lucros, mas somente as pessoas que são
movidas por um potencial realizador são reconhecidas por trazer inovações que
impulsionam a economia por meio dessa atividade, são chamadas de empreendedor
(GUEDES, 2009).
Ao abrirem novos negócios, os empreendedores geram mais empregos e
aumentam a competitividade no mercado, provocando em outras empresas o ímpeto
de criar algo com maior valor. Além disso, os investimentos em novas tecnologias
provocam aumento no Produto Interno Bruto (PIB), logo, pode-se concluir que
quanto maiores os níveis de empreendedorismo num país, maior será seu
crescimento econômico (PAIS, 2014).
Desse modo, o empreendedorismo é a base para um país se desenvolver,
proporcionando oportunidades de trabalho e facilitando o progresso tecnológico,
inovações e melhorias nos produtos e serviços (CÂMARA; ANDALÉCIO, 2012).
2.1.2 Diferentes abordagens
Como o empreendedorismo foi um tema de interesse por diversas áreas e
ciências, como Economia, Sociologia, Psicologia, Antropologia, Administração entre
outros, esses estudos resultaram em diferentes formas de definir e organizar os
consceitos contidos no empreendedorismo. Vários autores tentaram organizar os
constructos em escolas, sendo as mais divulgadas a Escola Econômica, Escola
Sociológica e Escola Comportamentalista (GUEDES, 2009).
Entretanto, essa exploração utiliza a orientação dada por Leite (2012), que
subdividiu tais teorias em três perspectivas distintas, a Econômica, a Psicológica e a
de Gestão, com intuito de contextualizar o modelo McClelland (1972) dentre as
demais teorias mais relevantes ao tema.
a) Na perspectiva econômica:
Schumpeter (1950), um dos primeiros teóricos a criticar os pressupostos
neoclássicos, ao introduzir o conceito de empreendedor e da ação para análise do
desenvolvimento econômico, foi o primeiro economista a teorizar os ciclos
econômicos e o desenvolvimento tecnológico.
33
Mentor da Escola Econômica, Schumpeter (1950) associa o empreendedor à
capacidade de inovação. Ressalta a ação empreendedora como um processo,
sustentada nas relações sociais e institucionais, e não centrada no indivíduo
(CAMARGO; CUNHA; BULGACOV, 2008).
Para o autor supradito, o empreendedor é mais conhecido como aquele que
cria novos negócios, mas que também pode inovar dentro de negócios já existentes;
ou seja, é possível ser empreendedor dentro de empresas já constituídas, e, neste
caso, o termo que se aplica é o empreendedorismo corporativo (DORNELAS, 2005).
(Quadro 2).
Quadro 2 – Interpretações e variações para o termo empreendedorismo corporativo.
TERMOS
INTERPRETAÇÕES
Empreendimento
Corporativo
Novo negócio, criado pela empresa de forma isolada do resto da organização.
Intra-
empreendedorismo
Acontece quando atitudes individuais são valorizadas pela organização, não necessariamente por meios formais
Empreendedorismo Organizacional
Ocorre quando a empresa consegue se adaptar continuamente a
mudanças ambientais. Evidências mostram aumento da sobrevida da empresa quando há alinhamento entre pontos comuns dos objetivos
organizacionais e das aspirações pessoais dos funcionários.
Alianças Corporativas
Desenvolvimento da capacidade inovadora a partir do relacionamento
estreito com pequenos negócios em setores afins.
FONTE: Hashimoto (2006).
Segundo Schumpeter (1950), a “crise” representa uma oportunidade a ser
aproveitada por empreendedores. A instabilidade econômica de um país como o
Brasil e as constantes “crises”, consequência da falta de uma política econômica
consistente, são aceleladores do processo de destruição construtiva proposto por
Schumpeter (1950), no qual produtos e serviços mais caros e menos eficientes dão
lugar a produtos mais adaptados a novas situações econômicas e a concorrência
interna e internacional, isto é, por produtos mais baratos e mais eficientes (DEGEN,
2009).
34
Isso explicaria porque o Brasil, em 2013, atingiu o nível mais elevado de
empreendedores por oportunidade dos últimos 12 anos, conforme último relatório
executivo do GEM (Global Entrepreneurship Monitor), com 71% dos
empreendedores em estágios iniciais (e 28% por necessidade), o país está à frente
dos cinco em desenvolvimento, pertenecentes ao também chamado grupo dos
BRIC’S, em que a proporção de empreendedores por oportunidades chegou a 61%
na Índia, 65% na Rússia, 66% na China e 70% na África do Sul (GEM, 2014).
Na visão de Schumpeter (1950), o empreendedorismo é o ato de realizar
novas combinações de recursos já existentes, isto é, consiste em fazer inovações e
não invenções. Ele exemplifica cinco maneiras pelas quais as inovações podem
ocorrer, como a introdução de um novo produto, um novo método de produção, um
novo mercado, uma nova fonte de matéria prima e uma nova organização ou
indústria.
Porém, ele submete o empreendedor, “agente do desenvolvimento”, à lógica
da economia de mercado com base no autoiteresse e desvinculado de mecanismos
que garantam resultados coletivos, em que denominador comum da motivação é a
moeda, gerando críticas, como a de Polanyi (2000, p.77):
Em vez de a economia estar embutida nas relações sociais, são as relações sociais que estão embutidas no sistema econômico. A importância vital do fator econômico para a existência da sociedade antecede qualquer outro resultado.
Não são ações de um empreendedor gerenciar, administrar e investir, da
forma em que o indivíduo toma decisões de rotina, faz o negócio crescer de forma
contínua, utiliza tecnologias e rotinas já existentes para lançar um novo negócio ou
investe sem causar pertubação do equilíbrio previamente existente na trajetória do
desenvolvimento (CAMARGO; CUNHA; BULGACOV, 2008).
Logo, um indivíduo é empreendedor no momento que está empreendendo,
alterando para sempre o estado do equilíbrio econômico, mas, quando para de fazê-
lo, volta a ser um mero administrador.
35
b) Na perspectiva de gestão:
Drucker (1986) foi inovador ao abordar o termo empreendedorismo a partir da
capacidade de aproveitar as oportunidades e criar as mudanças (CÂMARA;
ANDALÉCIO, 2012).
Segundo autor exposto, a emergência de novas ideias e de oportunidades
para novos negócios possibilitam o surgimento de empreendedores, pois estes
indivíduos não se contentam em melhorar ou modificar o que já existe, eles criam
valores novos e diferentes, e satisfações novas e diferentes, transformando um
“material” em um “recurso” ou combinar recursos existentes em uma nova e mais
produtiva configuração. E é a mudança o que sempre proporciona a oportunidade
para o novo e o diferente.
De acordo com Drucker (1986, P.45), “A inovação sistemática, portanto,
consiste na busca deliberada e organizada de mudanças, e na análise sistemática
de oportunidades que tais mudanças podem oferecer para a inovação econômica e
social”. A inovação sistemática é, então, resultado da análise, sistema e trabalho
árduo e é tudo que pode ser discutido e apresentado (Quadro 3) como a prática da
inovação (DRUCKER, 1986).
Drucker (1986) chama esta inovação sistemática de “monitoramento das sete
fontes para uma oportunidade inovadora”. As sete fontes estão relacionadas a
fatores internos e externos às organizações e funcionam como indicadores de
mudanças.
Então, os empreendedores devem monitorar mudanças dentro da empresa,
como o sucesso ou o fracasso inesperado, entre a realidade como ela é e como
deveria ser (incongruência), inovação baseada na necessidade do processo e
mudanças não previstas na estrutura do setor comercial ou no mercado. E monitorar
as mudanças ambientais, como mudanças populacionais (demográficas), mudanças
em percepção, disposição e significado e surgimento de um novo conhecimento.
Numa perspectiva de gestão do empreendedorismo, não se pode ser um
empreendedor bem-sucedido se não sabe administrar o negócio e, ao tentar
administrar sem ter um mínimo de espírito empreendedor, corre-se o risco de virar
um burocrata (LEITE, 2012).
Enfatiza ainda que o termo “empreendedorismo” não é exclusivo para se
referir a abertura de um novo negócio, mas também, para grandes empresas já
36
existentes que podem desenvolver o empreendedorismo como forma de alavancar
as inovações tecnológicas de seus produtos ou serviços.
Quadro 3 – Princípios da inovação.
“FAÇA”
“NÃO FAÇA”
CONDIÇÕES
Inovação deliberada e
sistemática começa com a análise de oportunidade.
Não tentar ser engenhoso, as inovações serão manipuladas por seres humanos normais.
Inovação é trabalho e requer conhecimento.
Inovação é perceptual, sair
para olhar, perguntar e escutar.
No início, não diversifique, não se disperse.
Para ter êxito, inovadores têm que usar seus pontos fortes.
Inovações eficazes começam pequenas, fazer uma coisa
específica.
Não tente inovar para o futuro, inove agora.
Inovação é um efeito na economia e sociedade,
mudança no comportamento das pessoas ou no processo, por isso precisa estar junto, concentrada e guiada pelo
mercado.
Inovação bem sucedida visa a
liderança, não precisa ser grande, mas terá que ser inovadora desde o início.
FONTE: Elaborado com base em Drucker (1986).
Inspirador para a maioria das teorias administrativas que o sucederam,
Drucker (1986) defende que, em uma sociedade empreendedora, o indivíduo deve
ter como oportunidade de inovação a necessidade por aprendizado e reaprendizado
continuados. A suposição é de que o que os indivíduos aprendem por volta de seus
vinte e um anos de idade ficará obsoleto de cinco a dez anos mais tarde e terá que
ser renovado ou substituído por novo aprendizado, novas habilidades, novo
conhecimento.
c) Na perspectiva comportamental:
Um dos primeiros a ter uma abordagem comportamental, também chamada
behaviorista, relacionada ao tema do empreendedorismo foi McClelland (1961). Com
tendências conservadoras, seus estudos centram no indivíduo, por entender que as
necessidades estão nesse importante personagem da organização, diferente das
37
outras Psicologias preocupadas com conteúdos sociais e de grupo, o que ajudou a
economia a romper a concepção vigente de racionalismo ilimitado.
A concepção de “agente autônomo e único responsável por seu sucesso ou
fracasso” é uma perspectiva de adaptação social, em uma sociedade que exalta as
pessoas bem sucessididas e censura as que fracassam (CAMARGO; CUNHA;
BULGACOV, 2008).
De acordo com Camargo, Cunha e Bulgacov (2008), apesar de McClelland
(1961) considerar em suas pesquisas questões ideológicas, como níveis de
educação, valores e cultura, bem como um indivíduo inserido numa cultura, é falsa a
impressão de que seu estudo foge da psicologia individual, pois sugere que
questões econômicas complexas estão reduzidas às necessidades de realização
dos indivíduos.
Em seus estudos iniciais McClelland (1961) buscou explicações para a
existência de civilizações que funcionam melhor do que outras. Encontrou em
culturas o ensino de que lutar é uma ação infrutífera, pois cabe apenas ao destino o
resultado do êxito ou fracasso, em outras o ensino de que o indivíduo pode controlar
ou influenciar o resultado de sua vida.
Mas McClelland (1961) conseguiu encontrar na literatura e isolar na existência
de civilizações grandiosas um importante elemento: a presença de heróis.
Importante porque as gerações seguintes tomariam esses heróis como exemplos e
tenderiam a imitar seus comportamentos. De acordo com predito autor, o povo
treinado sob esta influência desenvolvia grande necessidade de realização e
associava essa necessidade aos heróis, empreendedores.
O estudo de Filion (1999) relaciona algumas críticas a teoria de McClelland
(1961): autores como Durande e Shea (1974), Hundall (1971), Scharage (1965),
Singh (1970), Singh, N. e Singh, K. (1972) pesquisaram sobre a necessidade de
realização e não encontraram conexão desta com o sucesso de empreendedores;
Gasse (1982) notou que McClelland (1961) restringiu sua pesquisa a certos setores
de atividade econômica, limitando sua análise pois é fato que a necessidade de
realização é expressa de acordo com os valores predominantes em uma dada
sociedade; Gasse (1982) também observou corretamente que a teoria de
McClelland (1961) sobre a necessidade de realização é inadequada, uma vez que
não identifica as estruturas sociais que determinam as escolhas de cada indivíduo;
Kennedy (1988), Rosemberg e Birdzell (1986), e Toynbee (1976) demonstraram a
38
existência de grande variedade de fatores que explicam o desenvolvimento das
sociedades, o que recae sobre a teoria de McClelland (1961) uma ideia de
simplicidade por usar apenas dois fatores: a necessidade de realização e a
necessecidade de poder.
No entanto, McClelland realmente mostrou que o ser humano é um produto social. É razoável pensar que os seres humanos tendem a reproduzir os seus próprios modelos. Sabe-se que, em muitos casos, a existência de um modelo tem papel fundamental na decisão de fundar um negócio. Muitos autores têm mostrado que as pessoas apresentam mais chances de tornarem-se empreendedores se houver um modelo na família ou no seu meio (FILION, 1999, p.9).
Segundo Filion (1999), McClelland (1961) não definia empreendedores como
nos dias atuais, mas como alguém que exercia controle sobre uma produção que
não era só para o seu consumo pessoal. De acordo com Roncoletta (2011), só mais
tarde, McClelland (1972) indicou que o empreendedor possuía necessidades
próprias para ter sucesso, reconhecimento e desejo de poder e de controle, isto é,
necessidade de poder.
McClelland (1972) constatou ainda em seus estudos um terceiro fator: a
necessidade de afiliação. Um empreendedor dificilmente consegue ter sucesso
agindo de forma isolada, sem uma boa equipe para contribuir, por meio de interação
e colaboração, e atuar em conjunto com a necessidade de realização para
impulsionar a empresa ao alcance de seus objetivos (LEITE, 2012).
Com esses três fatores McClelland (1972) constrói a Teoria Motivacional que
busca explicar a motivação do indivíduo em seu trabalho a partir da satisfação de
suas necessidades, desenvolvidas pelo indivíduo através de suas experiências de
vida e de interações com outros indivíduos e ambientes.
Na concepção de McClelland (1972), a necessidade de realização é o que faz
o empreendedor se mover em busca de seus objetivos. O empreendedor poderá,
em alguns momentos de sua “vida empreendedora”, transitar pelas necessidades de
poder e afiliação, mas, segundo Fonseca (2010), é na necessidade de realização
que McClelland (1972) acredita estar o sucesso, individual ou organizacional, e o
desenvolvimento econômico.
Na visão de Leite (2012), a necessidade de realização a atenção dirigida pelo
indivíduo a suas tarefas, focadas em atingir seus objetivos e ser eficaz naquilo que
se propõe fazer, a necessidade de poder é a de dominar ou influenciar outras
39
pessoas, e a necessidade de afiliação é a procura para construir fortes amizades,
resultando em bons relacionamentos interpessoais. No quadro 4 estão as
manifestações comportamentais contemporâneas definidas por Leite (2012) e
relacionadas as influências das necessidades motivacionais sobre os indivíduos,
apontadas por McClelland (1972).
Quadro 4 – Influências e manifestações comportamentais das necessidades motivacionais sobre um indivíduo.
NECESSIDADE INFLUÊNCIA SOBRE INDIVÍDUO
(MCCLELLAND, 1972)
MANIFESTAÇÕES
COMPORTAMENTAIS (LEITE, 2012)
Realização
Leva o empreendedor a agir conforme padrões de excelência, buscando
sempre o melhor e com grande desejo de sucesso.
Extrema independência e
autoconfiança, fixação de altos padrões de realização e visão voltada
à centralização das atividades.
Poder
Fazer as tarefas quando e como se quer, liderando a equipe em prol de um objetivo, procurando influenciar,
persuadir e argumentar.
Choques interpessoais, por
autoridade e por controle percebidos e ênfase nos símbolos status e ganho
de status pessoal.
Afiliação
Coloca-se o bem estar do todo a frente
do individual, preocupando-se mais com o elemento humano do que com
as tarefas e a produção.
Desejo de estar próximo a outras pessoas e alegra-se em relacionar-se
com outros indivíduos.
FONTE: Elaborado a partir de McClelland (1972); Leite (2012).
Com base na critividade e no intuitivo, McClelland (1972) traça o perfil do
empreendedor e cria um modelo com dez caractarísticas de comportamento
empreendedor, distribuidas nas três necessidades motivacionais. Na necessidade
de realização, McClelland (1972) descreve cinco características, a busca de
oportunidade e iniciativa (BOI), persistência (PER), comprometimento (COM),
exigência de qualidade e eficiência (EQE), correr riscos calculados (CRC). Na
necessidade de poder, aborda três comportamentos, o estabelecimento de metas
(EDM), busca de informações (BDI), planejamento e monitoramento sistemático
(PMS). E na necessidade de afiliação, relata duas manifestações, a persuasão e
rede de contatos (PRC) e independência e autoconfiança (IEA).
40
Quadro 5 – Relação entre atividades comportamentais do capital intelectual e do empreendedor.
Carbone et al. (2009)
McClelland (1972)
Busca por inovação e criatividade.
Busca de oportunidade e iniciativa (BOI):
Realiza antes de ser solicitado ou forçado pelas circunstâncias; age para expandir negócio a novas áreas, produtos ou serviços; aproveita
oportunidades para iniciar negócio.
Sintonia com o ritmo e a natureza das
mudanças ambientais.
Persistência (PER):
Age diante de um obstáculo significativo; age persistentemente ou muda de estratégia para enfrentar um desafio ou superar um obstáculo; assume responsabilidade pessoal pelo desempenho, necessária ao atendimento
de metas e objetivos.
Agilidade, flexibilidade, dinamismo e pró-
atividade.
Correr riscos calculados (CRC):
Avalia alternativas e calcula riscos deliberadamente; age para reduzir os riscos ou controlar os resultados; coloca-se em situações que implicam
desafios ou riscos moderados.
Compromisso com a qualidade e a
excelência dos serviços.
Exigência de qualidade, eficiência e eficácia (EQE):
Encontra a melhor, mais rápida ou mais econômica forma de realizar; age para satisfazer ou exceder padrões de excelência; desenvolve ou utiliza
procedimentos para assegurar finalização de um trabalho no tempo certo e dentro dos padrões de qualidade.
Necessidade de atender usuários
(internos e externos) e, se possível, encantá-los.
Comprometimento (COM):
Faz sacrifício ou despende esforço p/completar uma tarefa; colabora com
empregados ou se coloca no lugar deles, se necessário, p/terminar um
trabalho; mantém clientes satisfeitos; tem boa vontade a longo prazo, acima do lucro a curto prazo.
Uma nova visão do homem, do trabalho e
da empresa.
Busca de Informações (BDI):
Dedica-se a obter informações de clientes, fornecedores e concorrentes; investiga como fabricar um produto ou fornecer um serviço; consulta
especialista para obter asses. Téc. ou comercial.
Organização voltada para processos e não
funcionários com funções isoladas e
especializadas.
Estabelecimento de metas (EDM):
Estabelece metas e objetivos que são desafiantes e possuem significado pessoal; define metas de longo prazo, claras e específicas; estabelece
objetivos de curto prazo mensuráveis.
Visão voltada para o futuro e o destino da
empresa e das pessoas.
Planejamento e Monitoramento Sistemático (PMS):
Dividi tarefas de grande porte em peq. c/prazos definidos; revisa seus
planos, levando em conta os resultados e as mudanças circunstanciais;
mantém registros financ. p/tomada de decisões.
Criação de condições para administração
participativa e baseada em equipes.
Persuasão e redes de contatos (PRC):
Usa estratégias p/ persuadir; usa pessoas-chave como agentes p/atingir
obj.; age p/desenv. e manter relações comerciais.
Compromisso com a qualidade e excelência
de seus serviços.
Independência e autoconfiança (IEA):
Busca autonomia em relação às normas e controles de outros; mantém seu ponto de vista, mesmo diante da oposição ou de resultados
desanimadores; expressa confiança na sua própria capacidade de complementar uma tarefa difícil ou um desafio.
FONTE: Elaborado com base em Carbone et al. (2009); Leite (2012).
41
Na Era do Conhecimento, o conhecimento de um indivíduo é o bem mais
valioso das organizações, chamado de capital intelectual, tornando o estudo sobre o
comportamento desse personagem das incorporações algo primordial. O termo
“capital intelectual” pode ser dito como “intangível”, no sentido literal, porque
“conhecimento” não pode ser tocado, é impalpável. No sentido figurado, quer dizer
“que não apresenta características suficientes para ser percebido ou entendido; que
tende a enganar a percepção ou o entendimento” (BUENO, 2007).
Esse constructo correlaciona os componentes do Capital Intelectual,
apresentado por Carbone et al. (2009), às Características Comportamentais
Empreendedoras propostas por McClelland (1972), interpretadas por Leite (2012)
(Quadro 5), com intuito de apontar a semelhança entre as definições utilizadas por
estudos aludidos e, com isso, evidenciar o avanço alcançado pelos estudos
realizados por McClelland (1972). Para a presente busca, McClelland (1972) foi um
revolucionário ao possibilitar com seu modelo a “mensuração do intangível”, por isso
beneficia até hoje trabalhos relacionados ao tema.
Outras características comportamentais empreendedoras encontradas com
maior frequência nas obras de autores que seguiram as perspectivas
comportamentais propostas por McClelland (1972) são inovação, liderança, riscos
2.3.1 Propensão e Potencial para o farmacêutico empreender
As universidades são as instituições responsáveis por estimular o processo
de aprendizagem que conduzirá o estudante a tornar-se um empreendedor. E, de
acordo com McClelland (1973), o perfil de realização deve ser relatado não apenas
na entrada do aluno na instituição educacional, mas em vários pontos ao longo da
escolaridade, como forma de orientar a faculdade quanto a ter programas
educacionais que promovam crescimento em determinadas áreas de baixo
desempenho e aos alunos como um feedback sobre crescimento desejado e
características do realizado.
Partindo dessa premissa, para o presente constructo são válidos estudos
sobre a propensão e potencial ao empreendedorismo com estudantes, mesmo que o
público alvo do presente trabalho sejam farmacêuticos inseridos no mercado de
trabalho. Pressupondo encontrar diferença no resultado do perfil profissional dos
farmacêuticos ao comparar variáveis temporais como “tempo de formação” e “tempo
de atuação no ramo”, o presente constructo toma o resultado dos personagens
“estudantes” encontrados na literatura como o “marco zero” da análise de
desenvolvimento do perfil empreendedor na classe farmacêutica.
Através da pesquisa de Santos e Cruz (2010), pode-se ter uma ideia como os
estudantes de farmácia de diferentes países estão sendo influenciados pelas
instituições de ensino (Quadro 9). Além disso, Santos e Cruz (2010) detalham duas
pesquisas com o mesmo objetivo de analisar a propensão e potencial para
empreender, porém realizadas com profissionais já atuantes na área de farmácia.
Primeiramente, apresenta a pesquisa de Inegbenebor (2007), Nigéria, que afirma
que os farmacêuticos com maior escore de lócus de controle interno são mais
propensos a assumir uma carreira empreendedora e possuem mais disposição para
inovar. E em seguida o estudo de Broen et al. (2007), EUA, que mostra
farmacêuticos com atitudes favoráveis ao empreendedorismo, porém, com baixo
nível de interesse em abrir negócio próprio.
51
Quadro 9 – Propensão e potencial de estudantes de farmácia para empreender.
DATA
LOCAL AUTOR PROPENSÃO E POTENCIAL
2003 África do
sul Louw et al.
Características mais fortes nos estudantes com propensão e potencial para empreender são de ir contra normas impostas, autoconfiança e saber lidar com erros (variáveis significativas
com o sexo, raça e idade).
2004 EUA Hermansen-Kobulnicky,
Moss
Afirmam que medir a orientação empreendedora pode ajudar na identificação de alunos inclinados ao empreendedorismo e
encorajados a empreender.
2006 Inglaterra Seston et al.
Apesar da área farmacêutica ser dominada pelas mulheres, verifica-se maioria dos homens na exploração de negócios.
2007 Nova
Zelândia Capstick, Beresford
Identificaram que um dos motivos para estudantes escolherem a carreira farmacêutico é um fator extrínseco, a possibilidade
de possuir uma farmácia e trabalhar por conta própria.
2007 Nova
Zelândia
Capstick, Green,
Beresford
Intenções de empreender mantêm-se altas entre os
estudantes de farmácia, durante todo o curso, com destaque ao gênero masculino.
2008 Portugal Teixeira
A propensão a correr riscos foi o potencial empreendedor
determinante. Já liderança, criatividade e inovação apresentaram baixos níveis nos estudantes de farmácia em
relação aos outros cursos.
2010 Brasil Santos, Cruz
Estudantes de farmácia apresentam grande potencial
empreendedor, com maior influência para empreender por pais empreendedores do que os não empreendedores.
Resultados que divergiram da literatura investigada foram que não há predominância dos homens nas atividades
empresariais farmacêuticas, a escolha pelo curso de farmácia não apresenta origem de pais empreendedores e desejo em abrir negócio próprio no futuro como fatores influenciadores.
FONTE: Santos e Cruz (2010).
Com a possibilidade de comparar resultados obtidos sobre o perfil
empreendedor de farmacêuticos enquanto estudantes de farmácia com os
farmacêuticos atuante pode-se analisar o desempenho das organizações em
desenvolver o potencial empreendedor em seus membros. Logo, a presente
pesquisa torna-se um dispositivo para ajudar aos farmacêuticos e organizações a
redesenhar o processo ensino-aprendizagem acordado a obter objetivos.
52
2.3.2 Características comportamentais empreendedoras necessárias no ramo
de farmácias
Pereira, Gomes Filho e Alves (2012), Sarturi, Gomes Filho e Moreira (2013),
bem como dos órgãos reguladores do setor farmacêutico (subtítulo 1.1.2) partilham
da mesma concepção de que “conhecimento do ramo”, numa visão geral, apresenta
alguns conhecimentos a respeito do negócio, como conhecer a composição do
medicamento, indicação, cuidados necessários, condições de armazenamento,
prazo de validade, características macroscópicas para identificar possíveis
alterações ou degradações, garantindo a revenda do produto. Fica claro que esta
concepção não se distancia muito da definição de “conhecimento técnico”.
Divergindo, então, da definição optada pelo presente constructo, em que
“conhecimento no ramo” abrange informações nos níveis estratégico, gerencial e
operacional da organização, o presente trabalho apresenta no quadro 10 as dez
características comportamentais referenciadas no modelo McClelland (1972)
traduzidas ao ramo farmacêutico, adaptado com informações dos trabalhos Pereira,
Gomes Filho e Alves (2012) e Sarturi, Gomes Filho, Moreira (2013), porém sem os
dados sobre “conhecimento do ramo”.
Sobre habilidades gerenciais necessárias ao farmacêutico, Sarturi, Gomes
Filho e Moreira (2013) afirmam que não são diferentes daquelas exigidas em
qualquer outro setor e que a competência, no caso, baseada somente em
conhecimentos técnicos, é um componente de destaque para garantir uma boa
administração dos negócios.
Já Pereira, Gomes Filho e Alves (2012) identificam práticas de ações
gerenciais em hospitais e indústrias farmacêuticas. Nos hospitais, são tipicamente
práticas da gestão de conhecimento, como grupos de aprendizagem, times de
qualidade, treinamentos e educação continuada, monitoramento de mercado e
aprendizagem com o ambiente externo, marketing interno, pesquisas internas para
aprendizado com o cliente, programas de incentivos e benefícios. E nas indústrias,
pesquisa, desenvolvimento e investimento em profissionais especializados para
manter fluxo contínuo de lançamento de novos produtos e melhoramento da eficácia
dos medicamentos já existentes, marketing e comercialização através de promoções
de vendas e rede de relacionamentos com distribuidores e prescritores (médicos,
veterinários, dentistas).
53
Quadro 10 – As CCEs traduzidas para o ramo farmacêutico.
CCEs
CARACTERÍSTICAS EMPREENDEDORAS NO RAMO FARMACÊUTICO
RE
AL
IZA
ÇÃ
O
BOI
Significa buscar novas tendências, quanto à existência de novos medicamentos e ofertar os mesmos ao consumidor final, através de
relacionamento c/fornecedores e c/os médicos que fornecem as receitas.
PER
O ramo farmacêutico é um dos setores c/mais regras governamentais, que causam dificuldades para inovar e regulam ganhos. Portanto exige do empreendedor persistência diante de dificuldades, reavaliando planos e estando em constante adaptação às normas.
COM
As farmácias podem contratar empresas que fornecem informações e disponibilizar nos terminais de computador para facilitar o trabalho o acesso a informações, equipe coesa, apta para inovar. Nesse ramo, quando não se possui conhecimento sobre gestão, está chamando para si a responsabilidade por sucessos ou fracassos no empreendimento criado.
EQE
Procura minimizar os custos, estar atento ao mercado, aos prazos e qualidade de entrega, procurar sempre surpreender seus clientes. Muitas drogarias disponibilizam entrega em domicilio com o intuito de prestar atendimento de qualidade e fidelizar o cliente.
CRC
Estar habilitado a abrir a uma nova farmácia, minimizando o risco, o profissional pode fazer isso de três formas: especialização em gestão, ter um sócio formado na área de gestão ou contratar um administrador.
PO
DE
R
EDM
]Estabelece e acompanha indicadores de resultados para seu negócio, com visão à longo prazo e conhecimento em investimentos. São abrangidos procedimentos periódicos de autoinspeções do desempenho das atividades, a capacitação do pessoal e a satisfação do consumidor, cujos resultados são registrados, orientando programas de treinamento.
BDI
As unidades farmacêuticas devem dispor de efetiva assist. farmacêutica,
além de instrumentos p/obter informações técnicas, como livros, manuais,
revistas téc. e acesso à banco de dados de medicamentos.
PMS
Conhecer os aspectos legais
5 e os objetos
6 que serão necessários para o
funcionamento de uma farmácia. Deve agir por etapas, cumprir seu plano de negócio, conhecer variáveis externas do mercado, buscar informações
financeiras do passado p/orientar o futuro.
AF
ILIA
ÇÃ
O PRC
Desenvolver rede de contatos, no caso, fornecedores e clientes. Ao farmacêutico cabe o zelo pelo perfeito acolhimento e adequada abordagem, aplicando as técnicas e procedimentos.
IEA -
FONTE: Elaborado a partir de Pereira, Gomes Filho e Alves (2012); Sarturi, Gomes Filho e Moreira (2013).
5 Registros na Junta Comercial, Receita Federal, Secretaria da Fazenda, Prefeitura Municipal, INSS,
Ministério da Saúde, Conselho Regional de Farmácia, Conselho Federal de Farmácia e alvarás na Vigilância Sanitária Municipal e Agência Nacional de Vigilância Sanitária, além da definição do Farmacêutico Responsável Técnico e Farmacêutico Técnico Auxiliar. 6 Material de expediente, definição de pessoal, serviços de terceiros, infraestrutura (energia elétrica,
telefone, internet, despesas jurídicas, com gráficas e outras).
54
Vale ainda ressaltar que as pesquisas de Pereira, Gomes Filho e Alves (2012)
e Sarturi, Gomes Filho e Moreira (2013) não apontam nos manuais e documentos
oficiais farmacêuticos a característica comportamental empreendedora
“independência e autoconfiança”. Diante da caracterização deste comportamento
como buscar autonomia em relação às normas e controles de outros, manter seu
ponto de vista, mesmo diante da oposição ou de resultados desanimadores e
expressar confiança na sua própria capacidade de complementar uma tarefa difícil
ou um desafio, a presente pesquisa adota para esse trabalho o “Ato de Prescrição
Farmacêutica” como interpretação da “independência e autoconfiança no ramo
farmacêutico”. Ato preconizado pelo CFF como incremento dos serviços de
assistência farmacêutica.
Essa tradução das CCEs no ramo farmacêutico garante a ligação entre o
tema pesquisado, comportamento empreendedor, e as competências dos
farmacêuticos para o novo mercado. Isto é, ao analisar o perfil empreendedor do
profissional farmacêutico, junto a possibilita de convergir os resultados obtidos para
competências do farmacêutico, há uma releitura sobre o perfil desse profissional
para o novo mercado, especificando o estudo para o ramo estudado.
2.3.3 Barreiras para o desenvolvimento empreendedor
Segundo Pereira, Gomes Filho e Alves (2010), o empreendedor no ramo
farmacêutico realiza tarefas importantes e com alto grau de responsabilidade, pois
está ligado diretamente com a saúde dos clientes, por isto o empreendedor deve
desenvolver muito bem todas as habilidades necessárias para gerar competências
nessa área, especialmente a habilidade do conhecimento técnico.
a) Visão do CFF: farmácia como um ponto de saúde
Existem premissas de lucratividade nas organizações que chocam- se com as
leis e diretrizes sobre os serviços farmacêuticos, que aponta como problemática
para o âmbito da saúde o foco administrativo das organizações do segmento
tratado. Dentre essas premissas, há a dissociação entre os interesses econômicos e
os interesses da saúde coletiva, com predomínio dos primeiros, resultando na
caracterização da farmácia como estabelecimento comercial e do medicamento
55
como um bem de consumo, desvinculados do processo de atenção à saúde
(OPAS/OMS, 2002). Outra é a prática profissional desconectada das políticas de
saúde e de medicamentos, com priorização das atividades administrativas em
detrimento da educação em saúde e da orientação sobre o uso de medicamentos
(OPAS/OMS, 2002).
Autores como Santos (2003) e Zubioli (1992), que também foram presidentes
do CFF, são portadores da visão que as farmácias são essencialmente pontos de
saúde, e que o medicamento é um bem social valioso e necessário na manutenção,
proteção e recuperação da saúde. Em suas publicações eles afirmam que o
esquema empresarial que rege a produção e comercialização distorce a utilização
desses produtos.
Uma mudança recente na legislação brasileira revigora a busca por um
modelo de competências para o farmacêutico atuante nesse setor. O artigo 3º da Lei
nº 13.021, publicada em 08 de Agosto de 2014, mudou o conceito de farmácia que
deixou de ser um mero estabelecimento comercial e passou a ser uma unidade de
prestação de assistência farmacêutica e à saúde, além de orientação sanitária
individual e coletiva (BRASIL, 2014a).
As aludidas publicações e inúmeras outras concretizam a falta de sincronia
dos órgãos reguladores do setor farmacêutico (conselhos e vigilância sanitária) e
demais órgãos relacionados ao setor no que diz respeito às competências do
farmacêutico, sendo para aqueles um perfil estritamente técnico.
Desde 1973, de acordo com a Lei n⁰ 5.991, a legislação brasileira exigia de
forma explícita a presença de um farmacêutico responsável em todas as farmácias
(BRASIL, 1973).
O artigo 6º da Lei nº 13.021, publicada em 08 de Agosto de 2014, reiterou a
obrigatoriedade da presença permanente de farmacêutico nas farmácias de
qualquer natureza. Porém, no mesmo dia de sua publicação a Presidência da
República lança a Medida Provisória nº 653, que permitiu uma diferente
interpretação para a permanência do farmacêutico em tempo integral nas farmácias.
As farmácias sob regime do supersimples terão como exigência mínima a presença
de um técnico sem nível superior, reacendendo assim o antigo embate entre
gestores de farmácia e a classe farmacêutica sobre a substituição desses
profissionais por técnicos de nível médio (BRASIL, 2014b).
dezembro de 2014, levantou questionamentos em sua interpretação quanto a
possibilidade de dispensar o profissional de nível superior em drogarias
enquadradas no Estatuto da Micro e Pequena Empresa e em seu lugar haver a
contratação de um técnico de farmácia, com o único objetivo em reduzir custos
destinados a pagamentos salariais.
Altera a Lei nº 13.021/14 para permitir que no interesse público,
caracterizado pela necessidade da existência de farmácia ou drogaria e na falta de farmacêutico, o órgão sanitário de fiscalização local licencie estabelecimentos que se caracterizem como microempresa sob a responsabilidade técnica de prático de farmácia, oficial de farmácia ou outro, igualmente inscrito no Conselho Regional de Farmácia.
As divergências entre órgãos governamentais e representantes da classe
farmacêutica, conselhos e sindicatos, quanto ao que devem ser as competências do
profissional farmacêutico, estão tratadas nesse constructo em tópico próprio,
anteriormente. Porém, diante dos recentes fatos acima mencionados tem-se que o
Estado continua a enxergar as farmácias como pontos comerciais, e não ponto de
saúde como preconizam entidades diretamente relacionadas ao sistema de saúde.
A realidade é que o Sistema Único de Saúde do Brasil (SUS) não recebe
integralmente os percentuais dos financiamentos predeterminados desde a sua
fundação, enquanto o sistema público atende 80% da população consumindo 45%
dos gastos com saúde no país, o sistema privado atende a minoria de 20% da
população gastando o restante dos custos totais do país em saúde, 55%. E Com a
falta de recursos não há como reequipar unidades de saúde, pagar bons salários
aos profissionais para obter a aderência destes de forma permanente, melhorar as
condições então precárias de trabalho, reajustar tabelas dos serviços terceirizados
por clínicas e hospitais, tornando o SUS inviável.
Em contrapartida, para resolver aquilo que o governo não resolve, a
população apela para as farmácias que são, ou deveriam ser, pontos de saúde e
porque o medicamento é o terceiro item mais importante no orçamento das famílias
brasileiras. Diante desse imenso mercado, a saúde torna-se um grande negócio
para as indústrias farmacêuticas e o poder financeiro dessas organizações precisam
ser regulados, para que a população, também carente de educação básica, seja
57
respeitada independentemente de sua classe social ou condição fianceira
(BLESSA, 2008).
Por isso, o tratamento do governo para com as farmácias como ponto
comercial, uma vez que movimentam milhões em faturamento e a visão das
entidades envolvidas com a saúde da população das farmácias como ponto de
saúde, em prol do bem estar geral da população. Para a presente pesquisa esse
distanciamento no tratamento das organizações farmacêuticas é crucial para
direcionar a redefinição do perfil profissional farmacêutico, tornando esse
profissional o elo entre as duas culturas organizacionais (financeira e assistencial)
dentro da mesma entidade, a farmácia.
Quadro 11 – Aprimoramento de algumas competências farmacêuticas.
COMPETÊNCIA ATUAL APRIMORAMENTO
Controlar prazo de validade dos
produtos As universidades ensinam a regra do
“primeiro que entra é o primeiro que sai”, que explora apenas compromisso da
equipe para com o padrão de organização implantado.
Gerenciamento de espaço Otimiza a relação dos produtos com as prateleiras.
Colocar o produto certo, da maneira certa e na quantidade correta permite criação e visualização de seções, adição de produtos e prateleiras, análise de
desempenho, sugestão de melhor alocação de espaço.
Controlar entrada e saída das
mercadorias Registrar de acordo com leis
regulamentadoras a saída e entrada dos medicamentos e evitar que seu estoque
zere, fique abaixo do mínimo da demanda ou exceda demais a demanda,
aumentando riscos de perda por validade expirada.
Gestão do sortimento de produtos Estudar as necessidades do consumidor, a
rotatividade dos produtos e estoque, margem de lucro, espaço disponível e o mix pretendido de
produtos (análise do público-alvo).
Organizar e armazenar produtos de
acordo com normas regulamentadoras Produtos controlados em armário com
chave longe do alcance de pessoas não autorizadas a sua dispensação. Produtos sob prescrição médica atrás do balcão de
atendimento. Medicamentos livres de prescrição, produtos de higiene pessoal,
perfumaria e cosméticos na área de autoatendimento, devidamente sinalizados.
Gestão por categoria Categorias de destino (sinalizam a posição na loja
para o consumidor), rotina (itens de produtos que os consumidores encontram regularmente na loja), conveniência (itens geralmente comprados por impulso, que não são típicos para o ramo de atividade da loja) e sazonalidade (produtos
procurados apenas em períodos específicos do ano) impulsionam as vendas, garantem fidelização do
cliente e permite maior sucesso à farmácia.
FONTE: Elaborado a partir do banco de dados da Pesquisa (2016); Blessa (2008).
58
Blessa (2008) aponta alguns aprimoramentos nas competências
farmacêuticas voltadas para atividades estratégicas, gerenciais e administrativas de
interesse da empresa sem esquecer o respeito pelo consumidor, que sempre foi, e
sempre será, o grande fortificador de marcas e o maior alavancador de negócios
(quadro 11).
De acordo com Blessa (2008), a união dos conceitos, pregados no quadro 11,
para aprimoramento de algumas competências farmacêuticas traz benefícios para
todos os elos da cadeia: o cliente fica satisfeito por ter suas necessidades atendidas,
a organização por ter aumento de rentabilidade e fidelização de seus clientes, a
indústria farmacêutica por ter crescimento sustentável de faturamento, o que permite
a continuidade de seus investimentos em pesquisa de novos produtos e
melhoramento da eficácia e eficiência dos já existentes, o sistema de saúde por ter
seus atendimentos supridos por uma organização que não cobrara custos pelos
serviços, mas dá retorno financeiro ao Estado através dos impostos retidos
circulação das mercadorias, desafogando a superlotação das unidades de triagem e
o pesado custo assistencial à população, e o farmacêutico, por ser o profissional que
presta a assistência que o paciente precisa, garantindo o bem estar geral da
população, preconizado pelos órgãos de saúde.
O farmacêutico precisa estar bem preparado não apenas para orientar
pacientes que se dirigem à farmácia para adquirir medicamentos, mas para prestar
informações gerais de saúde que o ajudarão a prevenir doenças, a estimular a visita
regular aos médicos para detecção precoce de possíveis enfermidades, a motivar a
continuidade de tratamentos com medicamentos de uso contínuo, bem como evitar
possíveis usos incorretos (dose, intervalo, esquecimento, suspensão) e interações
medicamentosas dos medicamentos comprados na loja ou que os pacientes já
possuem em suas residências. Isso mostra o enorme campo de atuação e
importância do farmacêutico dentro da farmácia e como é improvável a alusão de
que o dinamismo de suas atividades não exige a redefinição de suas competências,
bem como seu perfil profissional, de tempos em tempos.
b) Limitações legais
Pela natureza dos produtos que fabrica, o setor farmacêutico é o ramo
industrial mais regulado, sobre ele incidindo instrumentos legislativos diversificados,
59
complexos e com tendência crescente a serem harmonizados por blocos de países,
com consequentes respostas reestruturadoras por parte dos fabricantes (BARROS,
2004). Por exemplo, em países desenvolvidos os medicamentos tarjados, isto é com
venda sob prescrição médica, só são dispensados por farmacêuticos e com
apresentação da prescrição médica para registro, em contrapartida nos países
subdesenvolvidos, grupo que o Brasil está inserido, esses mesmos produtos podem
ser dispensados por farmacêuticos ou balconistas e com ou sem apresentação da
prescrição médica, exceto os medicamentos com regime de controle especial.
Antes mesmo de existir, a farmácia enfrenta uma longa fila de processos
burocráticos para conseguir licenças e alvarás para seu funcionamento debilitando o
processo de abertura em tempo e recursos (quadro 12).
Quadro 12 – Fluxograma para abertura de uma farmácia.
LOCAL CONTRATOS/ CERTIFICADOS/
LICENÇAS/ ALVARÁS TEMPO ESTIMADO
Ponto comercial (área mínima 32m
2)
Contrato de locação Não é relevante para esse
fluxograma, pois até ser assinado o contrato de locação não há gastos.
Contador
Contrato social Cadastro no sistema integrado de gestão da administração tributária
Abertura dos livros fiscais (empregados, ponto e ocorrências)
Sem prazo para término, contrato definido pelo tempo de vida ativa da
farmácia.
Junta Comercial Cadastro nacional de pessoa jurídica
Inscrição estadual 1 a 4 meses
Empresa privada de centralização de
serviços dos bancos Certificado Digital 3 dias
Arquiteto
Planta baixa do prédio Memorial descritivo
Orçamento para construção ou reforma se houver financiamento
15 dias a 1 mês
Conselho Regional de Engenharia e
Arquitetura
Anotação de responsável técnico (arquiteto)
5 a 15 dias
Bombeiros Licença de “habite-se” 3 dias
Empresa privada de automação comercial
Lacre de equipamentos fiscais 15 dias
Secretaria Municipal de Meio Ambiente e
Urbanismo Alvará de funcionamento 1 a 4 meses
Vigilância sanitária municipal
Análise de projeto Alvará sanitário
1 a 2 meses
Conselho Regional de Farmácia (CRF)
Certidão de regularidade da empresa Certidão de habilitação profissional
(farmacêutico e farmacêutico auxiliar) 4 dias
Agência Nacional de Vigilância Sanitária
Licença de medicamentos sob regimento de controle especial
1 mês
FONTE: Pesquisa (2016).
60
Ressalta-se que durante todo o processo de abertura, que pode variar entre 4
à 6 meses, se não houver outros impedimentos pontuais, além dos gastos com os
próprios documentos legais (certificados, licenças e alvarás), há gastos com contrato
de aluguel, água e luz do ponto comercial, honorários do contador, contrato com
arquiteto e pelo menos um mês de pagamento salarial do farmacêutico e
farmacêutico auxiliar, uma vez que só é liberado o alvará de funcionamento com a
apresentação da certidão de regularidade da empresa vinculada a habilitação
profissional.
Além das dificuldades para abrir a empresa, a farmácia sofre o efeito das
ações das rígidas regulamentações ao longo de toda sua vida ativa, como, por
exemplo, fixação dos preços de venda ao consumidor final, controle das margens de
lucro das empresas, intervenção governamental bastante intensa para incentivar a
prescrição de genéricos (grupo com menor margem de lucro), limitações sobre as
atividades de marketing, normatizações sobre as condições de segurança e eficácia
dos medicamentos, além de normas educativas para os profissionais de saúde.
Partindo para as limitações legais enfrentadas especificamente pelo
profissional farmacêutico, aborda-se o alcance atual da assistência farmacêutica.
São inegáveis os avanços alcançados no empenho em prevenir as reações
adversas ou para chegar-se ao uso mais adequado dos medicamentos realizados
pelo farmacêutico nas farmácias. No entanto, o dispêndio realizado pelas indústrias
de medicamentos em atividades promocionais amplas e cada vez mais sofisticadas,
associado à ausência de informações independentes que subsidiem a prática de
prescritores e consumidores, certamente continua contribuindo fortemente para o
uso irracional dos produtos medicamentosos (BARROS, 2004).
O médico, evidentemente, representa um agente muito importante para essa
dinâmica, uma vez que detém o poder de prescrever o medicamento que será usado
por seu paciente. Porém, é no balcão da farmácia que se realiza o momento da
efetiva compra do produto. E o farmacêutico é o profissional legalmente habilitado
para, no ato da dispensação, orientar o paciente e, atendendo seus interesses,
efetuar a substituição do medicamento prescrito, de acordo com a Resolução
349/2000 (CFF, 2000). Tornando esse personagem um grande alvo para o assédio
dos laboratórios farmacêuticos nas vendas de seus produtos nos pontos de venda.
Segundo Fiuza e Lisboa (2001), existe um problema de risco moral a ser
atacado. O risco moral é apontado como fator preponderante do crescimento dos
61
gastos com medicamentos, e as políticas que têm sido aplicadas pautam-se por
transferir ao médico, ou a um grupo de médicos, responsabilidades em atender a
restrições orçamentárias dos pacientes, por exemplo.
A mesma transferência de responsabilidade ética poderia ser creditada ao
farmacêutico no ponto final de venda ao consumidor, afinal o setor regulamentador
não pode afirmar que os médicos são mais éticos do que os farmacêuticos.
Além das limitações as atividades assistências, o farmacêutico enfrenta
controle sobre seus ganhos e recompensas. Amparados por convenções coletivas
de trabalho, os balconistas e caixas de farmácias podem receber vantagens de
natureza econômica e é de conhecimento geral que as vantagens mencionadas são
materializadas em comissões, bonificações, gratificações e outros auxílios de forma
proporcional as suas vendas, bem como a existência de metas mensuradas em
quantidades e/ou valor total de vendas mensais de produtos como perfumaria,
cosméticos, produtos de higiene pessoal e, inclusive, medicamentos.
Porém, o Código de Ética Farmacêutico enfatiza que todas as ações da
farmácia são de responsabilidade do farmacêutico e que a formação de toda a
equipe de saúde que acompanha o farmacêutico deverá ser formada e capacitada a
trabalhar com saúde e não com vendas (MENDES et al., 2008). O que gera um
conflito entre visão do Conselho Federal de Farmácia que as farmácias são pontos
de saúde e o interesse financeiro das indústrias e empresas nas mesmas como
pontos de venda.
A fim de evitar que os farmacêuticos fossem manipulados pelas grandes
indústrias a perseguirem interesses em ganhos pessoais, invés de se dedicar
incondicionalmente ao bem estar e saúde da população, no Rio Grande do Norte,
como em tantos outros Estados brasileiros, foram implantadas nas convenções
trabalhistas desses profissionais, junto à cláusula de atribuições, informações sobre
desvios de função. Com isso eles ficam impedidos de realizarem vendas e obterem
ganhos com atendimentos aos clientes nos balcões de farmácia.
Em 2011, o Ministério Público do Trabalho do RN (MPT-RN) investigou
denúncia e constatou, dentre outras atribuições, que os farmacêuticos realizavam
vendas, eram caixas, integravam o grupo de funcionários que tinham que cumprir
metas de vendas e recebiam comissões por elas (SINFARN, 2011).
A Procuradora do MPT-RN da época, sob o entendimento de que tais práticas
representam desvios de função e que isto tem claros reflexos no atendimento à
62
população, pois o farmacêutico, ao invés de atuar como orientador do consumidor
de produtos farmacêuticos passaria a assumir a função de promotor de consumo,
aumentando a prática da “empurroterapia”, com o objetivo de aumentar o
recebimento de comissão pela venda de produtos farmacêuticos, recomendou ao
Sindicato dos Farmacêuticos do Estado do RN (SINFARN) a inclusão de uma
cláusula, na Convenção Coletiva de Trabalho dos farmacêuticos do setor, sobre
desvios de função para ajuste de conduta (BRASIL, 2011).
Apesar de continuarem com o adicional de gerência (40% sobre o piso
salarial) em suas convenções, o que caracteriza a realização de uma atividade
administrativa e não de responsabilidade técnica, os farmacêuticos não têm a
recompensa financeira nem por suas vendas, por suas orientações ou por seus
serviços (aplicação de injetáveis, verificação de pressão e glicemia, outros).
Contudo, o constructo encontra na literatura um personagem com
competências idênticas a do farmacêutico e com igual responsabilidade em lidar
com medicamentos e saúde dos indivíduos, mas que não é submetido a tão rígida
regulamentação, são os propagandistas de medicamentos.
Antes do esclarecimento sobre a inserção desse personagem, o presente
trabalho apresenta a cadeia de suprimentos dos medicamentos, que se estende
desde os fornecedores de matérias primas (fármacos) até o consumidor final,
passando pelos fabricantes (laboratórios), que entregam medicamentos diretamente
às redes ou, indiretamente, por meio de distribuidores (Figura 1). O segmento
institucional (hospitais, centros de saúde, secretarias públicas estaduais e
municipais de saúde), área de atuação dos propagandistas, ao lado das farmácias,
constitui importante mercado comercial de medicamentos (MACHLINE; AMARAL
JÚNIOR, 1998).
De acordo Hekis et al. (2014), os propagandistas de medicamentos têm suas
atividades caracterizadas como propaganda, marketing e venda. Em sua conclusão,
os autores mencionados denotam a grande importância que os profissionais
propagandistas possuem para o alcance dos resultados das indústrias
farmacêuticas, que realizam grandes investimentos em pesquisa, desenvolvimento,
marketing. Nesse sentido, as indústrias acreditam na necessidade de aumentar os
investimentos em treinamento e capacitação de seus propagandistas, que segundo
Reis (2010) são temas indispensáveis para as visitas de propaganda aos médicos
os conhecimentos técnicos em anatomia, fisiologia, patologia e farmacologia.
63
O objetivo das indústrias com a capacitação de seus propagandistas está
mais direcionado para torná-los cada vez mais capacitados e alinhados com as
novas realidades do mercado e com os objetivos organizacionais, e em especial o
aumento dos seus lucros e da sua participação no mercado do que com a
informação propriamente dita aos médicos sobre os benefícios, reações e interações
dos medicamentos para o bem estar geral de seus pacientes.
Figura 1 – Cadeia de suprimentos da área farmacêutica
FONTE: Machline e Amaral Júnior (1998).
Comparando farmacêuticos e propagandistas, o produto é o mesmo, o
medicamento, o público alvo é o mesmo, o consumidor, ainda que alcançados
indiretamente pelos propagandistas os pacientes dos médicos são consumidores
finais do medicamento, o conhecimento técnico necessário é o mesmo, não é a toa
que a maioria dos propagandistas contratados pelas indústrias mais conceituadas
são graduados em farmácia. Então, uma vez que o marketing dos propagandistas
sobre os médicos influência na escolha do medicamento prescrito ao consumidor
final que irá apenas receber das mãos dos farmacêuticos, deveria haver restrições
sobre os ganhos e recompensas dos propagandistas para que os mesmos não
deixem seus interesses pessoais passem informações superlativas à realidade do
produto.
64
Sabe-se que as inúmeras regulamentações existentes sobre a farmácia e o
farmacêutico estão focadas em garantir o acesso da população geral aos
medicamentos de forma segura, racional e com bom custo-benefício. Porém, é fato
que rigidez intensa também leva ao engessamento diante de mudanças, ficando as
adaptações atreladas as liberações legais. Dificultando não apenas a abertura de
novas empresas, mas a sobrevivência das existentes e a permanência de seus
profissionais.
2.4 ESTUDOS RELACIONADOS AO TEMA
Falcone e Osborne (2005), afirmam que o caráter enigmático da pesquisa em
empreendedorismo se deve ao tema pesquisado ter se caracterizado como
multidisciplinar, multinacional, extenso e de difícil compreensão. Já para Antonioli
(2007), a heterogeneidade da definição do empreendedorismo gera como ponto
positivo a abertura nas possibilidades de pesquisa.
Por outro lado, diversos autores americanos afirmam que nas últimas cinco
décadas houve muita pesquisa e produção acadêmica na área, mas os resultados e
avanços obtidos ainda não foram capazes de identificar o perfil psicológico e
comportamental do empreendedor (NASSIF; SILVA et al., 2010).
O trabalho bibliométrico de Brancher, Oliveira e Roncon (2012), quanto às
referências bibliográficas dos estudos sobre empreendedorismo no Brasil,
analisados pelos autores, constata um equilíbrio em número de publicações
nacionais e internacionais utilizadas como base teórica.
O empreendedorismo no Brasil, como área de pesquisa é recente. O primeiro
encontro de profissionais a tratar especificamente sobre o tema do
empreendedorismo no Brasil, o Encontro sobre Empreendedorismo e Gestão de
Pequenas Empresas (EGEPE), só foi realizado em 2000 (NASSIF; SILVA et al.,
2010). Esse pode ser um dos motivos para maior procura por referenciais teóricos
internacionais. Outro motivo para esta constatação pode ser resultado da baixa
qualidade das publicações nacionais, que não são referenciadas como principais
nos trabalhos analisados. Dentre os autores internacionais mais citados, nos artigos
expostos, estão Louis Jacques Fillion (França), David C. McClelland (EUA) e
Schumpeter (República Tcheca).
65
O estudo bibliométrico de Brancher, Oliveira e Roncon (2012), que analisa
artigos publicados no ENGEPE e no Encontro da Associação Nacional de Pós-
Graduação e Pesquisa em Administração (EnANPAD) com temática
“Comportamento Empreendedor”, no período de 2004 e 2008, enfatizam que não há
publicações com o mesmo assunto no EnANPAD, no período 2009 a 2012. E dentre
os assuntos usados para corelacionar a descrita temática, “Característica do
Comportamento Empreendedor” apresenta superioridade esmagadora quando
comparado a outros assuntos encontrados.
Na revisão bibliográfica realizada por Antonioli (2007) há o mapeamento de
diversos trabalhos, publicados no período de 2000 a 2006, que analisam
especificamente as CCEs e que, no geral, grande parte averigua a frequência da
incidência de CCEs apresentadas na literatura, sem a preocupação de descobrir se
o que está descrito na teoria reflete a realidade pesquisada. Constata também uma
prevalência de uso do questionário de McClelland (1972) que atribui a disseminação
por organismos oficiais, como o SEBRAE, e em função do interesse no mecanismo
de correção contido no instrumento.
Fonseca (2010) atualiza o mapeamento de Antonioli (2007), adaptando-o com
trabalhos que utilizaram em suas pesquisas o modelo McClelland (1972), publicados
no período de 2003 a 2009.
Em ambos os mapeamentos supracitados, os autores identificam trabalhos
que utilizam como instrumento o modelo McClelland (1972), mas o presente
constructo não identifica nesses estudos que abordagem particular ao perfil
intraempreendedor, nem muito menos um estudo voltado para mensurar
características comportamentais empreendedoras no ramo farmacêutico.
Ao relacionar trabalhos que utilizaram o modelo McClelland (1972) para
estudar o perfil empreendedor de farmacêuticos, essa consulta pretende estabelecer
um paralelo com os resultados e conclusões, atualizando e gerando um parâmetro
sobre o método utilizado.
Com foco em criar um banco de dados próprio e direcionado ao tema
“Características do Comportamento Empreendedor no Ramo Farmacêutico”, essa
consulta compõe esse capítulo com uso de três pesquisas realizadas que abordam a
mesma temática e também utilizam como ferramenta de pesquisa o questionário do
modelo McClelland (1972) (Quadro 13). Vale ressalvar que o presente constructo
66
não localizou publicações que utilizassem qualquer outro instrumento de pesquisa
comportamental direcionada ao ramo farmacêutico.
Quadro 13 – Publicações de estudos sobre perfil empreendedor de farmacêuticos.
ANO
Revista/
IES7
AUTOR TÍTULO INSTRUMENTO
2010 FNH Fonseca
Empreendedorismo e
intraempreendedorismo: estudo de caso sobre o perfil McClelland em uma empresa
varejista farmacêutica
McClelland (1972)
2012 ANEGEPE Câmara; Andalécio
Características empreendedoras: um estudo de caso com farmacêuticos
utilizando o modelo McClelland
McClelland (1972)
2013 CONVIBRA
Sarturi; Gomes Filho;
Moreira
Empreendedorismo em farmácias: o perfil dos profissionais da cidade de Guarapuava
– PR
McClelland (1972)
adaptado ao programa
EMPRETEC8
(SEBRAE, 2001)
FONTE: Pesquisa (2016).
O trabalho de Fonseca (2010) procura desenvolver uma reflexão sobre a
existência de organizações com atuação empreendedora que sabem aproveitar e
valorizar pessoas com características comportamentais e sobre perfis específicos
que se colocam como empreendedores, tendo por objetivo avaliar a interação do
empreendedorismo com o intraempreendedorismo, através da análise das escolhas
dos gestores a partir dos valores do empreendedor proprietário.
Fonseca (2010) adapta um questionário a partir do modelo de McClelland
(1972) e o aplica ao corpo gerencial (47 respondentes) e ao empreendedor
proprietário de uma organização farmacêutica. O quadro de gestores é bastante
amplo quanto à hierarquia e não possui homogeneidade quanto ao nível de
escolaridade e graduação, porém farmacêuticos gerentes (FG) representam 13% do
quadro funcional de gestores e os dados coletados sobre estes demonstram forte
7 Instituição de Ensino Superior.
8 Programa de capacitação para desenvolvimento das características de comportamento
empreendedor e identificação de novas oportunidades de negócio, com metodologia da Organização das Nações Unidas (ONU), realizado no Brasil exclusivamente pelo SEBRAE.
67
contingência com os exibidos na média geral da amostra de Fonseca (2010), logo,
seu estudo individualizado não traria novas percepções e avaliações.
O perfil da amostra de FG apresenta maioria no gênero feminino e, apesar da
comparação entre perfil FG e com o do empreendedor proprietário haver
alinhamento em apenas seis das dez características, Fonseca (2010) afirma que o
grupo FG possui manifestação comportamental empreendedora nas dez CCEs
propostas no modelo McClelland (1972).
A presente pesquisa opta por apresentar as pontuações encontradas por
Fonseca (2010) distribuídas em classificação própria para facilitar na comparação
com seus próprios resultados (quadro 14).
Quadro 14 – Resultados referenciados do perfil empreendedor de farmacêuticos gerentes de uma mesma empresa.
AUSENTE FRACA MODERADA FORTE
ALINHAMENTO
com empreendedor
proprietário
-
PER (17) EQE (17) CRC (16)
EDM (16) BDI (17) PMS (16)
PRC (15) IEA (17)
BOI (19) COM (20)
-
Diferenças
significativas
FG
EP
COM (20) EQE (17) CRC (16) PMS (16)
COM (23) EQE (23) CRC (20) PMS (20)
FONTE: Elaborado com base em Fonseca (2010).
Fonseca (2010) atribui o forte alinhamento entre as seis CCEs dos gestores
(inclusive FG) e o empreendedor proprietário aos mecanismos de seleção e
capacitação desenvolvidos pela organização. E, a partir da exposta constatação, o
autor discorre que há orientação empreendedora dentro da organização, bem como
esforço do empreendedor proprietário para criar mecanismos de seleção e
68
capacitação desenvolvidos pela empresa, conforme quesitos orientados pelo
empreendedor proprietário.
As disparidades entre o alinhamento de perfil dos FG e o empreendedor
proprietário foram encontradas em quatro CCEs, o “Comprometimento”, “Exigência
de Qualidade e Eficiência”, “Correr Riscos Calculados” e “Planejamento e
Monitoramento Sistemático”. Mas Fonseca (2010) ressalta que após realização de
programa de capacitação houve incremento significativo no faturamento e
consequente abertura de novas lojas, além disso, as melhorias gerenciais diminuiu a
rotatividade dos funcionários.
O constructo de Câmara e Andalécio (2012) discute quais características
empreendedoras estão presentes em um grupo de farmacêuticos sob a perspectiva
do modelo McClelland (1972), motivado pela constatação de que a maioria dos
farmacêuticos funcionários opta por abrir negócio próprio, resultando, geralmente,
em microempresas, pequenas empresas ou empresas de médio porte. Desenvolve,
então, uma reflexão sobre a realidade social dos profissionais inseridos nesse
contexto.
De acordo com o perfil sociodemográfico no trabalho de Câmara e Andalécio
(2012), os farmacêuticos pesquisados (32 respondentes) têm faixa etária média de
29 anos e predominância no gênero feminino, 72% são farmacêuticos responsáveis
técnicos (FRT) e o restante, farmacêuticos proprietários (FP) de seus próprios
negócios, e a atividade comercial predominante das empresas é de drogaria. Na
separação por grupos FRT e FP, as médias identificadas nas variáveis idade e
gênero e as médias dos resultados das CCEs são muito próximas às encontradas
na amostra total, variando apenas em um ponto, no máximo.
Câmara e Andalécio (2012) apontam em seus resultados ausência de
comportamento empreendedor nos profissionais farmacêuticos em duas CCEs,
“Persuasão” e “Exigência de Qualidade e Eficiência” e sugerem o direcionamento de
programas de treinamento e capacitação e, principalmente, mudanças
comportamentais voltadas para o desenvolvimento específico destas características
empreendedoras (quadro 15).
Já na comparação entre os grupos FRT e FP, a CCE “Busca de Oportunidade
e Iniciativa” (BOI) foi a única diferença significativa encontrada. E, como o primeiro é
maioria esmagadora na amostra da pesquisa de Câmara e Andalécio, os resultados
69
do grupo FRT são tomados pelo presente constructo como base referencial para
análise de seus resultados.
Quadro 15 – Resultados referenciados do perfil empreendedor de farmacêutico responsável técnico.
AUSENTE FRACA MODERADA FORTE
ALINHAMENTO
com farmacêutico proprietário
PER (14) EQE (11)
CRC (17)
EDM (16) BDI (16) PMS (16)
PRC (17) IEA (17)
BOI (20) COM (20)
-
Diferença
significativa
FRT
FP
BOI (20)
BOI (18)
FONTE: Elaborado a partir de Câmara; Andalécio (2012).
A pesquisa de Sarturi, Gomes Filho e Moreira (2013) tem por objetivo relatar o
perfil empreendedor de gestores de farmácias (51 respondentes), a maioria
farmacêuticos (71%), além de comparar os resultados encontrados no perfil de
gestores ao de estudantes de farmácia, com e sem experiência profissional no ramo
farmacêutico. A amostra total possui faixa etária média de 35 anos, predominância
no gênero feminino e formação superior no curso de farmácia.
Apenas a característica de “Busca de Informação” não recebe tratamento
estatístico pelos autores, mas é analisada a parte com aprofundamento sobre o
direcionamento da informação escolhida pelos gestores para aperfeiçoamento. A
maioria dos gestores (96%) tem curso de especialização, porém, o aperfeiçoamento
escolhido não foi em empreendedorismo, a grande maioria foi na área técnica de
farmácia. Em contrapartida, Sarturi, Gomes Filho e Moreira (2013) afirmam que essa
escolha de especialização é o motivo pelo qual os farmacêuticos gerentes
apresentam fortes pontuações em conhecimento no ramo, “Persistência” (PER),
“Comprometimento” (COM) e “Exigência de Qualidade e Eficiência” (EQE) (quadro
16).
Sobre a comparação entre o perfil de farmacêutico gerente (FG) e o perfil de
estudante de farmácia (EF) Sarturi, Gomes Fillho e Moreira (2013) obtêm resultado
70
alinhado no “Planejamento e Monitoramento sistemático” (PMS) e na ausência de
quatro características comportamentais empreendedoras, “Correr Risco Calculado”,
“Estabelecimento de Metas”, “Persuasão e Rede de Contatos” e “Independência e
Auto confiança”. A ausência dessas características, segundo supracitados autores, é
atribuída a falta de treinamento, isto é, os farmacêuticos gerentes estão
acomodados no conhecimento adquirido apenas por experiência. A disparidade mais
intrigante está em “Comprometimento”, ausente apenas em estudantes de farmácia
sem experiência profissional (Quadro 16).
Quadro 16 – Resultados referenciados de perfil empreendedor de farmacêuticos gerentes de empresas distintas.
AUSENTE
FRACA MODERADA FORTE
ALINHAMENTO com estudantes
de farmácia
CRC (11) EDM (11)
PRC (14) IEA (14)
- PMS (19)
BOI (22) PER (22) COM (23) EQE (27)
Diferenças
significativas
FG
EF
COM (23)
COM (14)
FONTE: Elaborado a partir de Sarturi; Gomes Filho; Moreira (2013).
Outros trabalhos relacionados contribuem na construção desse trabalho
embora não possuam pesquisa direcionada para o setor farmacêutico, mas, no
âmbito do empreendedorismo, corroboram com outras vertentes desse estudo.
A pesquisa de Guedes (2009), muito citada nos três trabalhos anteriormente
relacionados no referencial teórico (quadro 13), tem como principal objetivo
investigar como o comportamento empreendedor desenvolve a carreira de um
indivíduo, além de levantar reflexões sobre a necessidade de desenvolver as
habilidades individuais em gestão de pessoas, necessidade de visão de
oportunidades e necessidade de realizar inovações.
Os dados coletados por Guedes (2009) sobre o perfil sociodemográfico do
empreendedor no Brasil são bastante válidos para a presente pesquisa, uma vez
71
que os estudos escolhidos para referencial teórico não abordam outras variáveis
além de gênero e idade (quadro 17).
Quadro 17 – Perfil sociodemográfico dos empreendedores iniciais no Brasil.
CARACTERÍSITCAS INDIVIDUAIS
PREDOMINÂNCIA
Gênero
Feminino (52%)
Idade
18 a 24 anos (19%)
Local de Formação Acadêmica
Curso formal de 4 anos (25%)
Ano de Conclusão de Graduação
-
Tempo de atuação no ramo
Sem experiências anteriores (52%)
Cargo de Atuação na empresa
Autônomos, vínculo por prestação se serviços ou terceirização (33%)
Atividade da empresa
Alimentos e roupas no varejo (54%)
Porte da empresa
-
FONTE: Elaborado a partir de Guedes (2009).
Guedes (2009) atribui a alta taxa desemprego na faixa etária juvenil como a
causa de aumento de jovens empreendedores por necessidade, além do aumento
do nível de escolaridade. E o aumento representativo de mulheres empreendedoras
se dá pela decorrência de aumento das mulheres no mercado de trabalho, a
superação no nível de escolaridade em relação aos homens e assimilação gradativa
da função de provedora da renda familiar.
O trabalho de Roncoletta (2011) analisa se os fatores organizacionais internos
de pequenas empresas estimulam comportamentos empreendedores de gestores e
funcionários para o desenvolvimento de uma cultura intraempreendedora,
propiciando melhor compreensão de que os funcionários são capazes de
desenvolver de forma proativa o comportamento empreendedor e estão mais
abertos a desafios quando inseridos num ambiente empreendedor. Para que isso
72
ocorra de forma positiva é necessário haver um ambiente organizacional com
cooperação, trabalho em equipe, incentivo e aberto para realização das atividades
de forma inovadora e desafiadora (quadro 18).
Quadro 18 – Fatores organizacionais internos de pequenas empresas que estimulam comportamento empreendedor.
FATOR DESCRIÇÃO GRAU DE
IMPORTÂNCIA
Suporte Administrativo
Está relacionado ao apoio que pode assumir muitas formas, o qual inclui o patrocínio de ideias, promoção de recursos ou expertise necessária para a atividade empreendedora dentro
da empresa.
41% CONCORDAM
Recompensas
A empresa deve oferecer um sistema eficiente de
recompensas que estimule a atividade empreendedora com ênfase na responsabilidade individual e baseada em
resultados.
60% CONCORDAM
Descrição de Trabalho
Refere-se à tomada de riscos,a qual indica a disposição dos gerentes de médio porte de arriscar e mostrar tolerância com
possíveis falhas.
37% CONCORDAM
Disponibilidade de Tempo
Funcionários devem perceber a disponibilidade de recursos para atividades inovadoras. Isso encoraja comportamentos
para experimentação e tomada de riscos.
36% CONCORDAM
Situações organizacionais
A estrutura fornece os mecanismos administrativos pelos
quais as ideias são avaliadas, escolhidas e implementadas.
60% CONCORDAM
Aspecto interno de
Comunicação
Refere-se a tudo que é divulgado, comunicado e disseminado entre os funcionários da empresa.
55% CONCORDAM
Aspecto interno de Processo
Decisório
Voltado para o longo prazo, para que as pessoas percebem
que os gestores têm visão de futuro.
Aspecto interno de Incentivos e
Motivações
Um plano de incentivos ao compartilhamento de ideias entre
os funcionários e a empresa.
Aspecto interno de Liderança
Todos os funcionários devem ser treinados para serem
lideres e para assumirem as funções de seus superiores imediatos, quando a necessidade surgir.
Aspecto interno de Equipe
Senso de comunidade, cooperação total entre todos,
formação de equipes multifuncionais para realizar vários projetos.
FONTE: Elaborado a partir de Roncoletta (2011).
Roncoletta (2011) afirma que o comportamento empreendedor é o que leva o
funcionário a agir com autonomia, trabalhar com liberdade e ser capaz de assumir
riscos e, conforme McClelland (1972) alcançar realização pessoal. E que os fatores
internos das organizações precisam estar alinhados a expectativa de resultado de
73
desempenho dos funcionários. Exemplos de fatores internos que propiciam
resultados positivos são: premiação por ideias inovadoras ou planos de metas, que
tragam benefícios para a organização e também para os funcionários, reconhecer o
Vale para o presente trabalho destacar assertivas do instrumento de pesquisa
de Roncoletta (2011) com maior pontuação negativa, de acordo com resultados dos
330 questionários respondidos por funcionários de 31 empresas de pequeno porte.
Quadro 19 – Limitações para o desenvolvimento empreendedor em pequenas empresas.
FATOR
DIFICULDADES ENFRENTADAS POR FUNCIONÁRIOS DE PEQUENAS EMPRESAS
Suporte Administrativo
Os funcionários que fazem os projetos não recebem permissão para tomada de
decisão sem justificativas e procedimentos de aprovação, não recebem promoção após desenvolvimento de ideias inovadoras, não recebem
recompensas adicionais por ideias e esforços inovadores bem sucedidos além da compensação tradicional, não são encorajados a correr riscos calculados
com suas ideias, não recebem tempo livre para desenvolver alguma boa ideia que teve e a empresa não apoia projetos pequenos e experimentais que podem
não obter sucesso.
Recompensas
Os funcionários não recebem recompensas proporcionais ao seu desempenho, nem reconhecimento especial por parte do gestor.
Descrição de Trabalho
Apesar de seus erros não resultarem em severas críticas e punições, não
possuem autonomia nas atividades que realizam, suas decisões devem ser checadas por alguém.
Disponibilidade de Tempo
Não sentem com frequência que estão com tempo restrito para trabalhar e que
a carga de trabalho os impediram de investir tempo no desenvolvimento de novas ideias.
Situações organizacionais
Não existem regras e procedimentos descritos para realização das principais tarefas e não seguem a risca processos e práticas operacionais padrão para
realizar principais tarefas.
Aspecto interno de
Comunicação A empresa não divulga e dissemina suas decisões para todos os funcionários.
Aspecto interno de Processo
Decisório -
Aspecto interno de Incentivos e
Motivações -
Aspecto interno de Liderança
Não são treinados para substituírem seus superiores imediatos, caso haja
necessidade.
Aspecto interno de Equipe
Não são formadas equipes multifuncionais para trabalhar com desenvolvimento
de novos projetos.
FONTE: Elaborado a partir de Roncoletta (2011).
74
A mudança do comportamento empreendedor dos funcionários e gestores
não é fácil, pois depende da disponibilidade das pessoas, orientações estratégicas e
recursos, porém é um impulsionador de competitividade que poderá ser o fator
crucial para sobrevivência da organização.
Pais (2014) investiga diferenças entre os gêneros no empreendedorismo,
levando em consideração a existência de características e atitudes díspares para
cada gênero, fruto do contexto empresarial, social e cultural em que se inserem.
Através dessas diferenças típicas de cada gênero, o autor direciona a pesquisa para
a importância em realçar as mais evidentes no universo do empreendedorismo
(quadro 20).
Quadro 20 – Diferenças entre os gêneros no empreendedorismo.
ANÁLISE FEMININO MASCULINO
Motivação para se tornar empreendedor
Por oportunidade. Vontade de arriscar e querer mudar de
vida.
Por necessidade. Convite de
um amigo, familiares empreendedores ou falta de
emprego.
Motivos que levam a empreender
Conhecer e gostar da área do negócio ou por estarem
desempregadas.
Evitar desemprego ou por estar
na fase da vida ideal para arriscar, ter próprio negócio.
Características pessoais que ajudam sua carreira de
empreendedor
Persistência, dedicação e positividade.
Espírito aventureiro, facilidade
em resolver dificuldades, gostar de aprender, e eficiência.
Características pessoais que prejudicam sua carreira de
empreendedor
Emotividade e alta confiança
nas pessoas, desde fornecedores, funcionários e
clientes.
Falta de experiência.
Forma como a sociedade olha para os empreendedores
Com positividade, geram novos empregos, produtos e serviços.
Com positividade, geram novos empregos, produtos e serviços.
Dificuldades que enfrentam no
início da carreira empreendedora
Falta de financiamento e de clientes, medo de falhar, muita
burocracia.
Falta de tempo, de experiência e dificuldades monetárias.
Pessoas que ajudaram o
empreendedor na fase inicial Familiares. Familiares.
Relação com seus primeiros
funcionários Boa relação e alta confiança. Boa e informal relação.
Processo empreendedor Sente diferença no tratamento
recebido.
Sente que as mulheres têm a
vida facilitada, porém são discriminadas no mundo dos
negócios.
FONTE: Elaborado a partir de Pais (2014).
75
A pesquisa de Pais (2014) contribui para alteração na visão organizacional no
que cabe à liderança das mulheres e permitir maios igualdade dentro das
organizações. Também auxilia na firmação cultural de passar mesma confiança para
sociedade entre empreendedorismo feminino e masculino.
76
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A diversidade de abordagens e de metodologias distintas, utilizadas por áreas
e ciências com interesses específicos, dificultam as pesquisas de campo do
empreendedorismo, por não haver um consenso sobre o conceito do alegado tema.
A base de dados fomentada por Nassif et al. (2010), composta por todos os
artigos publicados nos dois maiores e mais relevantes eventos científicos do país, na
área de empreendedorismo, EGEPE e EnANPAD, aponta forte predominância de
estudos publicados com abordagens funcionalista ou interpretacionista9 (94,8%),
além da maioria também possuir perfil metodológico descritivo, teórico empírico e
qualitativo, o que tende a ser uma limitação para o avanço nos estudos sobre o
tema, pois pode gerar um risco dos trabalhos permanecerem apenas testando e
verificando teorias já existentes sem que se crie nada de novo.
As abordagens escolhidas pelos trabalhos analisados por Nassif et al. (2010),
levantam questionamentos importantes se é a própria essência da área que leva os
pesquisadores a esse tipo de abordagem escolhida e, principalmente, se é possível
fazer novas teorias a partir de refinamentos ou reduções mais detalhadas das
teorias antigas e não as substituir.
Diante da necessidade de equilibrar as abordagens para avançar e abrir
perspectivas de consolidar uma base teórica, que seja passível de generalização,
essa apuração opta pela mesma temática predominante no banco de dados de
Nassif et al. (2010), que aborda conceito, comportamento, atitude, perfil e
competências do empreendedor, porém, com o diferencial em ser um estudo
quantitativo, pois tem como aspiração buscar a padronização ou generalização das
competências do perfil profissional farmacêutico.
3.1 TIPO DE PESQUISA
Para a classificação da pesquisa, toma-se como base a taxionomia
apresentada por Vergara (2014), que qualifica em relação a dois critérios: quanto
aos fins e quanto aos meios.
9 Referidos autores utilizam a classificação de Burrell e Morgan (1979) para categorizar os artigos
analisados de acordo com a base epistemológica. Significam, respectivamente, “procura fornecer explicações sobre o status quo, ordem social, consenso, integração social, satisfação de necessidades”; “e ênfase na natureza essencialmente espiritual do mundo social”.
77
A abordagem dessa pesquisa quanto aos fins é descritiva e exploratória.
Descritiva porque expõe características de determinada população, definindo sua
natureza e estabelecendo correlações com variáveis. Exploratória por haver pouco
conhecimento acumulado e sistematizado sobre empreendedorismo dentro do setor
farmacêutico. Quanto aos meios, a investigação é de campo, realizada à distância
por vias telefone, e-mail e redes sociais, como facebook e Whatsapp.
3.2 UNIVERSO E AMOSTRA
A delimitação do universo e amostra dessa pesquisa segue taxionomia de
Vergara (2014). O universo da pesquisa de campo é composto apenas por
profissionais farmacêuticos, que atuem no comércio varejista de farmácia na cidade
do Natal, cujos cargos podem ser de proprietário, responsável técnico ou gerente.
A composição da amostra segue o critério dos entrevistados serem
graduados em farmácia e atuarem em organizações do tipo “drogaria” ou “farmácia
de manipulação”. Além do critério de acessibilidade para seleção dos entrevistados,
que não tem como base procedimento estatístico, mas alcança os elementos pela
facilidade de acesso a eles.
3.3 OPERACIONALIZAÇÃO DA COLETA DE DADOS
Para obter as informações sobre as características do comportamento
empreendedor (CCEs) presente nos farmacêuticos a presente consulta aplica
questionário adaptado a partir do modelo proposto por McClelland (1972) e
disponibilizado por Fonseca (2010) e realiza observação conforme Vergara (2014),
de forma simples, isto é, e sem interação com o respondente.
No planejamento inicial, coleta desses dados é feito de forma presencial,
porém, após visita a pontos de vendas das três maiores redes do Estado (Globo,
Pague Menos e Farmafórmula), surge a necessidade de haver consentimento prévio
da administração das empresas.
No segundo plano traçado, a presente pesquisa entrou em contato com
supervisores dos farmacêuticos de cada rede de farmácia para solicitar autorização.
Dentre as redes contatadas estão Globo, Pague Menos, Paiva, Irmã Dulce,
Farmaciaria (antiga Amadeus), Santa Fé, Farmafórmula e Companhia da Fórmula.
78
Supervisores da Pague Menos e Companhia da Fórmula conseguem autorizações,
mas optam por não divulgarem os contatos pessoais dos farmacêuticos funcionários
e assumem a responsabilidade de encaminhar o questionário por mala direta e
enviar respostas recebidas ao e-mail da presente pesquisa. Destes contatos,
obteve-se dois questionários respondidos da Pague Menos e cinco da Companhia
da Fórmula.
Os supervisores das demais empresas não autorizam o emprego do
questionário de forma presencial ou por mala direta da empresa por não receberem
resposta da administração, porém, ressaltam que a pesquisa não está vetada e
outro caminho de contato com seus funcionários pode ser utilizado.
O presente constructo opta por acessar os farmacêuticos através de redes
sociais como plano complementar para obter dados. O grupo “Farmacêuticos do RN”
(grupo fechado do Facebook) permite contato inicial com 770 farmacêuticos
membros através de curta mensagem contendo o objetivo principal da pesquisa e
ressaltando-se a restrição do público-alvo (farmacêuticos atuantes em farmácias e
drogarias na cidade de Natal). Destes contatos, seis farmacêuticos não atuantes em
farmácia se prontificam a encaminhar o questionário para contatos pessoais que se
encaixavam ao público-alvo, que resulta em dois questionários respondidos. E sete
farmacêuticos atuantes em farmácias, que optam por seguir contato através de outra
rede social que consideram mais dinâmica para o pretendido repasse de informação
(Whatsapp). Estes passam os contatos dos colegas de trabalho a presente consulta,
que por sua vez aplica questionário após receber confirmação de aceitação para
participar da pesquisa e consequente envio do e-mail pessoal de contato. A
pesquisa aplica 223 questionários através dos contatos de Whatsapp, introduzidos
com curta mensagem expondo o objetivo geral da pesquisa, ressaltando o público-
alvo e fornecendo e-mail para retorno das respostas. Destes 223 contatados, 102
informam e-mail para envio do questionário e apenas 30 respondem, dentre os
quais há representantes das redes Saúde, Santa Fé, Farmafórmula, Globo,
Carrefour, Hiper Bom Preço, Farmácia do Trabalhador, Irmã Dulce, Farmaciaria,
entre outros.
Para obtenção de dados de farmacêuticos proprietários, a presente pesquisa
entra em contato com o Conselho Regional de Farmácia e o Sindicato de Farmácia.
Os quais, através de seus representantes, informam sobre a impossibilidade de
repassar contatos pessoais devido ao sigilo que garantem aos associados e optam
79
por encaminhar o questionário através de mala direta. Destes contatos, a pesquisa
obtem oito questionários respondidos por farmacêuticos proprietários. Totalizando
assim em 55 questionários respondidos.
3.3.1 Instrumento de coleta de dados
A segunda parte do instrumento dessa busca por aprofundamento no tema
declarado é composta pelas assertivas do modelo McClelland (1972),
disponibilizadas por Fonseca (2010), bem como os cálculos para somatória e
correção dos dados apurados.
O Modelo McClelland (1972) é amplamente disseminado no Brasil através de
organizações envolvidas com empreendedorismo, como o SEBRAE, e por
programas de treinamento empreendedor, como o EMPRETEC. Validado pela
Fundação Nacional de Qualidade, esse instrumento é aplicado no prêmio MPE
Brasil, sendo uma importante base para pesquisas comportamentais.
O questionário comportamental é composto 55 afirmativas, que buscam
identificar as dez CCEs descritas no modelo McClelland como busca de
oportunidade e iniciativa (BOI), persistência (PER), comprometimento (COM),
exigência de qualidade e eficiência (EQE), correr riscos calculados (CRC),
estabelecimento de metas (EDM), busca de informações(BDI), planejamento e
monitoramento sistemático (PMS), persuasão e rede de contatos (PRC), e
independência e autoconfiança (IEA).
As respostas as afirmativas aludidas respeitam uma escala de pontuação de
1 a 5 pontos, sendo 1 a menor pontuação e 5 a pontuação máxima. A escala social
utilizada nesse trabalho é a Escala de Likert, que fornece um grau crescente de
discordância a concordância com as afirmativas, em que 1 = nunca, 2 = raras vezes,
3 = algumas vezes, 4 = usualmente e 5 = sempre.
Nesse mecanismo de pesquisa existe um fator de correção, também
desenvolvido por McClelland (1972), que evita que o entrevistado pratique a
supervalorização ou manipulação das respostas para evitar resultado de “pouco
empreendedor”. Este fator serve como controle para pontuação final e é um grande
diferencial diante de outros instrumentos desenvolvidos ao longo dos anos.
80
O modelo McClelland (1972) possibilita estabelecer uma comparação entre o
perfil empreendedor e o desempenho do indivíduo, uma vez que a classificação
numérica das CCEs quantifica a análise.
O valor de cada CCEs é dado pela somatória de quatro itens e diminuição de
um item que tem efeito negativo à característica, exceto na característica EQE que o
valor é dado pela somatória dos cinco itens relacionados a cada característica,
predefinidos na “Folha de Avaliação do Questionário”.
A pontuação limítrofe para o indivíduo possuir ou não cada CCEs do modelo
McClelland (1972) é de 15 pontos. As CCEs que não atingem a pontuação mínima
de 15 pontos, não entram no perfil do empreendedor e, por essa pesquisa,
interpretadas como características que precisam ser aprendidas por meio de
treinamentos ao empreendedor (quadro 21).
Quadro 21 – Classificação da pontuação das CCEs.
AUSENTE
FRACA MODERADA FORTE
≤ 14 15 - 17 18 - 20
≥ 21
FONTE: Pesquisa (2016).
A CCE com pontuação entre 15 e 17 pontos é diagnosticada pela presente
investigação como fraca e alvo de sugestão para direcionamento de programas de
treinamento, curso e capacitação, bem como para mudança comportamental, a fim
de desenvolver característica empreendedora. Já a que pontuar entre 18 e 20 é
tratada pelo presente trabalho como manifestação empreendedora moderada e
portanto satisfatória, devendo apenas ser mantida.
Caso a somatória dos itens exceda 20 pontos, é aplicado o “Fator de
Correção” relacionado a pontuação atingida, como descrito na “Folha para Corrigir
Pontuação”. O método de cálculo do valor de cada CCEs pode ser visualizado no
Anexo B. Contudo, os resultados que ultrapassam 20 pontos, mesmo após uso do
fator de correção, são vistos como fortes CCEs e devem ser exploradas pelo
empreendedor para busca pelo sucesso.
Através dessas evidências coletadas, a pesquisa identifica quais CCEs
podem diferenciar grupos de empreendedores por categorias como cargos, porte da
empresa e gênero com maiores chances de sucesso.
81
A pesquisa foi realizada no período de setembro de 2015 a fevereiro de 2016.
O questionário foi enviado via e-mail com texto de abertura contendo explicação
sobre o correto preenchimento dos itens, após contato prévio com entrevistado por
redes sociais e telefonemas.
O referido instrumento atinge os objetivos da pesquisa e mostra-se adequado
a mesma, uma vez que possibilita a identificação o perfil sociodemográfico dos
farmacêuticos atuantes no setor varejista de farmácias e analise quantitativa das
características do comportamento empreendedor do entrevistado.
3.4 TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS
3.4.1 Variáveis analíticas
As variáveis são elementos pré definidos e extraídos da população, utilizadas
para estimar propriedades dela. O presente trabalho associa as variáveis
sociodemográficas à incidência de características de comportamento empreendedor,
segundo McClelland (1972).
Quadro 22 – Variáveis analíticas e suas respectivas representações no instrumento de pesquisa.
Variáveis de caracterização da empresa
Parte I, Questões:
1.Tipo de empresa; 2. Enquadramento tributário; 3. Data de fundação; 4. Número de funcionários
Variáveis de caracterização do pesquisado
Parte I, Questões:
5. Gênero; 6. Idade; 7. Graduação em Farmácia; 8. Ano de Conclusão da Graduação em Farmácia; 9. Tempo de trabalho no comércio varejista de farmácia; 10. Sua atuação na empresa
Variáveis de caracterização do comportamento
empreendedor
Parte II, Questões:
1, 12, 23, 34 e 45. Busca de oportun./Iniciativa;
2, 13, 24, 35 e 46. Persistência; 3, 14, 25, 36 e 47. Comprometimento;
4, 15, 26, 37 e 48. Exig. de Qual./Eficiência;
5, 16, 27, 38 e 49. Correr Riscos Calculados; 6, 17, 28, 39 e 50. Estabelecimento de metas; 7, 18, 29, 40 e 51. Busca de informações;
8, 19, 30, 41 e 52. Planej./Monit. Sistemático;
9, 20, 31, 42 e 53. Persuasão/Rede de Contatos;
10, 21, 32, 43 e 54. Independ./Autoconfiança.
FONTE: Pesquisa (2016).
82
As variáveis sociodemográficas são inicialmente analisadas como informação
principal para traçar o perfil sociodemográfico dos entrevistados e posteriormente
como controle na análise da relação com as outras variáveis, as características
empreendedoras (Quadro 22).
Os critérios para escolha das variáveis são a exatidão de suas medidas, a
capacidade de diferenciar grupos com características relevantes de comportamento
empreendedor e a possibilidade de testar as hipóteses dessas diferenças.
3.4.2 Tratamento dos dados
Como tratamento dos dados, a presente pesquisa utiliza a Análise Descritiva,
definida por Spiegel (1993, p.2) como “uma parte da estatística que procura somente
descrever e analisar um certo grupo, sem tirar quaisquer conclusões ou inferências
sobre um grupo maior”.
Utilizando-se da análise descritiva, para resumir toda a série de uma variável
a um valor representativo, essa apuração usa a “média aritmética” como medida de
posição, ou localização, que é a soma das observações dividida pelo número delas
(MORETTIN; BUSSAB, 2010).
A vantagem desta medida para esse constructo é que pode-se multiplicá-la
pelo número de profissionais farmacêuticos atuantes no setor pesquisado,
registrados no Conselho Regional de Farmácia do Rio Grande do Norte, e obter o
total de empreendedores com determinado perfil em todo Estado.
Porém, uma única medida de localização esconde toda a informação sobre a
variabilidade do conjunto observado (MORETTIN; BUSSAB, 2010).
Além disso, a “média” tem valor mais alto do que outras medidas de posição,
porque elementos com valores altos elevam a “média”, mesmo que sejam pouco
elementos. Esta é uma desvantagem da “média” para descrever o centro de uma
distribuição, quando existem valores muito altos em relação aos demais (VIEIRA,
2009).
Para comparar conjuntos diferentes de valores, esse trabalho opta também
por calcular uma medida de dispersão em torno da “média”, chamada “desvio
padrão”, que indica o grau de afastamento de um conjunto de números em relação à
sua média (DOWNING; CLARK, 2006).
83
Com o resultado do tratamento dos dados, essa pesquisa realiza,
primeiramente, uma análise univariada e depois uma bivariada. A univariada permite
a análise de cada variável separadamente, e bivariada, análise de duas variáveis
que podem ou não ter relação causa/efeito estabelecida entre elas.
A análise univariada permite traçar o perfil da amostra total e de suas
fragmentações. As comparações da análise bivariada visam atender aos objetivos
específicos, em que as informações sobre características comportamentais
empreendedoras dos farmacêuticos, segmentados por cargos, porte de empresa e
gênero, além comparar o alinhamento dos perfis encontrados.
Apura-se a relação com a análise univariada e bivariada através da
distribuição de frequência das respostas das partes I e II constituintes no
questionário, detalhadas no quadro 23.
Quadro 23 – Categorias de análise e respectivos objetivos.
OBJETIVOS DA PESQUISA
QUESTÕES NO INSTRUMENTO
TÉCNICA ESTATÍSTICA
Objetivo Geral
Identificar as características do comportamento empreendedor presentes nos profissionais
farmacêuticos.
Parte II Questões 1 a 55
Estatística Descritiva, univariada.
Objetivo Específico I
Caracterizar o perfil do profissional farmacêutico através das variáveis sociodemográficas;
Parte I Questões 5 a 10.
Estatística Descritiva, univariada.
Objetivo Específico II
Comparar o comportamento empreendedor entre farmacêuticos proprietários e não
proprietários.
Parte I
Questões 10 Parte II
Questões 1 a 55
Estatística Descritiva, bivariada ou comparativa.
Objetivo Específico III Comparar a visão empreendedora de acordo
com a empresa (pequeno e médio porte);
Parte I
Questão 1 e 4 Parte II
Questões 1 a 55
Estatística Descritiva, bivariada ou comparativa.
Objetivo Específico IV Comparar o comportamento empreendedor
entre farmacêuticos de acordo com o gênero.
Parte I
Questão 5 Parte II
Questões 1 a 55
Estatística descritiva, bivariada ou comparativa.
FONTE: Pesquisa (2016).
84
A análise se fundamenta em uma interpretação minuciosa da amostra total e
das categorias, baseada no material produzido pelas entrevistas e na literatura
conhecida e adotada para o estudo do tema, a fim de dar coerência aos objetivos
propostos por essa pesquisa.
85
4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
Nesse capítulo são apresentados os resultados da pesquisa, que foram
divididos em duas etapas. Primeiramente, uma análise univariada da amostra total,
para identificar o perfil sociodemográfico e o perfil empreendedor, e correlacionar
ambos. Após fracionar a amostra em três categorias, por cargo, por porte da
empresa e por gênero, realiza análise bivariada, comparativa, entre estas
diversidades e as CCEs, uma a uma.
Os conceitos a seguir são utilizados por esse constructo com finalidade de
padronizar e organizar a análise dos resultados.
O conceito técnico para a palavra “Farmácia”10 é um estabelecimento de
manipulação de fórmulas magistrais e oficinais, de comércio de drogas,
medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos, compreendendo o de
dispensação e o de atendimento privativo de unidade hospitalar ou de qualquer
outra equivalente de assistência médica; e “Drogaria” é um estabelecimento de
dispensação e comércio de drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos e
correlatos em suas embalagens originais (BRASIL, 1973).
Para a classificação do porte da empresa, micro e pequena empresa, o
critério utilizado é o da organização de Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas (SEBRAE, 2013), quanto ao número de funcionários, no
comércio e serviços, em que até 9 funcionários trata-se de uma microempresa; de
10 a 49 funcionários, pequena empresa; de 50 a 99 funcionários, empresa de porte
médio; e acima de 100 funcionários, grande empresa (quadro 24).
Quadro 24 – Porte da empresa de acordo com número de funcionários.
MICRO
PEQUENA MÉDIA GRANDE
≤ 9 10 - 49 50 - 99
≥ 100
FONTE: Pesquisa (2016).
10
A pesquisa utiliza o conceito “Farmácia” para referenciar as organizações do comércio varejista de farmácia, unificando neste conceito as denominações farmácia de dispensação, de manipulação, comercial e comunitária.
86
4.1 RESULTADOS DO PERFIL PROFISSIONAL DOS FARMACÊUTICOS
4.1.1 Perfil do comportamento empreendedor
Para avaliar a percepção dos farmacêuticos sobre as características
empreendedoras manifestadas por seu comportamento no ambiente de trabalho, o
presente constructo expõem os resultados das médias encontradas em cada CCE
da amostra total (tabela 1). Para a análise comparativa com dados encontrados na
literatura (quadros 14, 15 e 16), o presente constructo opta por elaborar a média
esperada a partir dos três trabalhos referenciados em seu estudo teórico, a fim de
obter dados baseados numa amostra mais diversificada.
Tabela 1 – Perfil do comportamento empreendedor dos farmacêuticos.
NECESSIDADE MOTIVACIONAL
CARACTERÍSTICAS EMPREENDEDORAS
MÉDIA ESPERADA
MÉDIA DESVIO- PADRÃO
Realização
BOI 20 20 1,81
PER 18 17 1,83
COM 21 20 2,71
EQE 18 24 2,43
CRC 15 17 2,64
Poder
EDM 14 16 2,01
BDI 16 17 2,03
PMS 17 16 2,22
Afiliação PRC 15 16 1,76
IEA 16 16 2,28
FONTE: Elaborada a partir de dados da Pesquisa (2016); Fonseca (2010); Câmara; Andalécio (2012); Sarturi; Gomes Filho; Moreira (2013).
Com a análise univariada das médias coletadas pela presente pesquisa
imediatamente conclui que os farmacêuticos possuem comportamento
empreendedor em todas as características propostas no modelo McClelland (1972),
pois superam a pontuação limítrofe para presença ou ausência de manifestações
comportamentais empreendedoras.
Constata-se também pontuação forte Exigência de Qualidade e Eficiência
(24), pontuações moderadas nos itens de Busca de Oportunidade e Iniciativa (20),
Comprometimento (20) e menores pontuações, fracas mas não ausentes, nas
87
características Persistência, Correr Risco Calculado e Busca de Informação (17),
Estabelecimento de Metas, Planejamento e Monitoramento Sistemático, Persuasão
e Rede de Contatos e Independência e Autoconfiança (16).
Quando comparados os dados coletados com os trabalhos anteriormente
referenciados, e de forma isolada, observa-se grande avança na classe farmacêutica
no que diz respeito a não mais apresentar ausência de comportamento
empreendedor em PER e EQE (CÂMARA; ANDALÉCIO, 2012), bem como em CRC,
EDM, PRC e IEA (SARTURI; GOMES FILHO; MOREIRA, 2013). Porém, com base
na média esperada, a presente consulta mostra superação de resultado apenas em
Estabelecimento de Metas, pois ultrapassa a linha limítrofe com distanciamento
significativo de dois pontos da média esperada.
A média esperada manteve-se em sete das dez características
comportamentais analisadas. Contudo, apresenta diferença significativa em
Exigência de Qualidade e Eficiência, Correr Risco Calculado e Estabelecimento de
Metas, superando a média esperada em todas.
4.1.2 Perfil sociodemográfico
Quanto a traçar o perfil sociodemográfico dos farmacêuticos entrevistados,
realiza-se análise descritiva univariada das questões denotadas na primeira parte do
questionário sobre as características individuais dos farmacêuticos entrevistados,
consolidadas na Tabela 2.
Nos três trabalhos anteriormente referenciados, de Fonseca (2010), Câmara e
Andalécio (2012) e Sarturi, Gomes Filho e Moreira (2013), observa-se a
predominância do gênero feminino na área farmacêutica, mas apenas Câmara e
Andalécio (2012) utilizam outras variáveis semelhantes as usadas pelo presente
constructo, como faixa etária, nível de formação, cargo assumido e tipo de atividade
comercial da organização. Por isso os dados sociodemográficos apresentados por
Câmara e Andalécio (2012) servem para o propósito da presente pesquisa como
“característica esperada” (tabela 2).
Como resultado das características individuais tem-se 62% dos entrevistados
são gênero feminino e 38% do masculino; 51% têm entre 21-28 anos de idade, 40%
entre 29-36 anos e 9% têm mais de 37 anos, sendo a idade média dos entrevistados
de 30 anos.
88
Tabela 2 – Perfil sociodemográfico.
VARIÁVEIS
CARACTERÍSTICA ESPERADA
PREDOMINÂNCIA
Gênero
Feminino Feminino (62%)
Idade
Média 29 anos 21 a 28 anos (51%)
Local de Formação Acadêmica
- UFRN (71%)
Ano de Conclusão de
Graduação
- Após 2010 (56%)
Tempo de atuação no ramo
-
Com até 5 anos de atuação no ramo (64%)
Cargo de Atuação na empresa
Responsável Técnico não Gerente
Responsável Técnico não Gerente (85%)
Atividade da empresa
Drogarias Drogarias (87%)
Porte da empresa
- Grande (53%)
FONTE: Elaborada a partir de dados da Pesquisa (2016); Câmara; Andalécio (2012).
Por tratar-se de um grupo de farmacêuticos todos têm curso superior
completo, sendo 71% dos entrevistados formados pela universidade federal (UFRN),
20% pela Universidade Potiguar (UnP), universidade particular, e apenas 9% por
outras universidades.
Quanto ao período desde a formatura, numa escala de a cada 6 anos, em que
o primeiro período da escala é até 2003, há representatividade de 11%, o segundo
período abrange 2004 a 2010 e ocupa 33% dessa fração, e o último período
analisado engloba todos os demais anos, acima e igual a 2011, com a maioria de
participação na amostra, 56%.
Sobre o vínculo com a empresa, 15% dos farmacêuticos são proprietários e
85% responsáveis técnicos, destes 30% exercem atividade adicional de gerência.
As empresas analisadas estão distribuídas em farmácias de dispensação
(drogarias), com maioria significativa de 87%, e farmácias de manipulação
(magistrais), com 13% de representação.
89
Segundo a classificação por porte, as organizações de grande porte
representam 53% da amostra total, 31% de microempresas, 11% de pequenas
empresas e apenas 5% empresas de médio porte.
4.1.3 Necessidades motivacionais de acordo com variáveis
sociodemográficas
A presente consulta faz uma análise exploratória ao relacionar as médias das
necessidades motivacionais de realização, poder e afiliação às variáveis
sociodemográficas. Observa-se que com a segmentação das variáveis
sociodemográficas há grande similaridade entre as frações dessas variáveis, quando
apresentam pontos inferiores a 15 pontos, como pelas médias decrescentes
seguirem mesma ordem, Realização, Poder e Afiliação (Tabela 3).
Curiosamente, e vale ressaltar, como mostra a Tabela 3, as maiores notas
atingidas pelas necessidades motivacionais de Realização e Poder pertencem a
variável “Local de Formação” (subgrupo “Outras universidades”), com respectivos
pontos de 21 e 18. Já a maior média por necessidade motivacional de Afiliação está
empatada pelas variáveis de “Idade” (subgrupo “Acima de 37 anos”) e de “Período
de Formação” (subgrupo “período até 2003”), ambas com médias iguais a 18 pontos.
Sugere-se para futuros trabalhos analisar os motivos de haver diferenças
significativas entre os ensinamentos dados por universidades sobre as necessidades
de realização, poder e afiliação, disparidades evidenciadas nos itens: “Local de
formação” e “período de formação do curso de graduação”.
90
Tabela 3 – Necessidades motivacionais de acordo com variáveis sociodemográficas
CCE N MÉDIA DESVIO
PADRÃO
REALIZAÇÃO
Idade (Anos)
21 - 28 anos 28 20 2,75
29 - 36 anos 22 19 3,37
37 - 43 anos 5 19 3,04
Faculdade
UFRN 39 19 2,81
UnP 11 20 4,02
Outras 5 21 2,62
Formação (Período)
1998 – 2003 31 20 2,83
2004 – 2010 18 19 3,30
2010 – 2016 6 19 3,31
Tempo de Atuação no Ramo (Anos)
1 - 5 anos 35 20 2,79
6 - 10 anos 13 19 3,38
Acima de 11 anos 7 19 3,42
PODER
Idade (Anos)
21 - 28 anos 28 16 0,64
29 - 36 anos 22 16 0,84
37 - 43 anos 5 16 0,70
Faculdade
UFRN 39 16 0,38
UnP 11 16 1,64
Outras 5 18 0,23
Formação (Período)
1998 – 2003 31 16 0,76
2004 – 2010 18 16 0,59
2011 – 2016 6 16 0,25
Tempo de Atuação no Ramo (Anos)
1 - 5 anos 35 16 0,74
6 - 10 anos 13 16 0,76
Acima de 11 anos 7 16 1,07
AFILIAÇÃO
Idade (Anos)
21 - 28 anos 28 16 0,10
29 - 36 anos 22 16 0,39
37 - 43 anos 5 18 0,57
Faculdade
UFRN 39 16 0,02
UnP 11 16 0,84
Outras 5 16 0,00
Formação (Período)
1998 – 2003 31 16 0,02
2004 – 2010 18 16 0,35
2011 – 2016 6 18 0,47
Tempo de Atuação no Ramo (Anos)
1 - 5 anos 35 16 0,08
6 - 10 anos 13 17 0,27
Acima de 11 anos 7 16 0,30
FONTE: Pesquisa (2016).
4.2 RESULTADOS POR CATEGORIA DE CARGO
Os estudos relacionados estratificam a amostra de acordo com o cargo, com
objetivos variados, como comparar as CCEs farmacêuticos empreendedores, isto é,
proprietários de sua própria farmácia, com intraempreendedores, gestores ou
estudantes.
A representação de farmacêutico funcionário responsável técnico (FRT),
reconhecido por essa apuração como intraempreendedor, apresenta expressiva
91
superioridade na amostra total, por isso seu perfil sociodemográfico é igual ao da
amostra total. Logo, essa apuração opta fazer do FRT o grupo alvo para
comparação com os demais cargos, farmacêutico gerente (FG) e farmacêutico
proprietário (FP), dos quais se esperam maiores médias por estarem exercendo
atividades diretas de administração.
O perfil sociodemográfico do FRT apresenta faixa etária média de 28 anos,
predominância no cargo por mulheres, formadas a menos de 5 anos, pela UFRN e
com pouco tempo de atuação no ramo, menos de 5 anos. As grandes empresas
detém a maior concentração de FRT (Tabela 4).
Tabela 4 – Perfil sociodemográfico por cargos.
CARACTERÍSITCAS INDIVIDUAIS
FP FG FRT
Gênero
MASC (63%)
FEM (64%)
FEM (67%)
Idade
29 – 36 anos
(75%)
29 – 36 anos (50%)
21 – 28 anos (64%)
Local de Formação Acadêmica
UnP e UFRN
(50%)
UFRN (57%)
UFRN (82%)
Ano de Conclusão de Graduação 2004 – 2010
(63%)
2004 – 2010 e
Após 2010 (43%)
Após 2010 (67%)
Tempo de atuação no ramo
Menos de 5 anos
e 6 – 10 anos (38%)
Menos de 5 anos (50%)
Menos de 5 anos (76%)
Porte da empresa
MICRO (88%)
GRANDE (64%)
GRANDE (61%)
FONTE: Pesquisa (2016).
O grupo FG assemelham-se ao FRT por ter maioria de mulheres no cargo e
por estas estarem empregadas predominantemente em grandes empresas. Porém,
a pesquisa aponta que as empresas preferem pessoas mais velhas e formadas há
mais tempo para delegar a gerência de suas organizações (Tabela 4), o que é
92
esperado, pois pressupõe que com mais tempo de experiência o indivíduo possua
mais conhecimento no ramo e com mais idade espera-se maior maturidade e
responsabilidade para o qual o cargo exige. Destaca-se a parcela significativa de
homens como empreendedores de seu próprio negócio, no caso desse constructo,
uma microempresa.
Segundo Pais (2014), é enorme foco nas pessoas e não nas tarefas que
tornam as mulheres líderes mais eficientes, paralelamente gerentes com maior
aptidão para o cargo. E que existem estereótipos que podem conduzir os indivíduos
a criar negócios que se identificam com seu gênero, além de haver dificuldades
impostas pelo meio de forma distinta para cada gênero, como dificuldades para as
mulheres conseguirem financiamentos, bem como diferenças nos pensamentos
vivenciados no início da carreira empreendedora, para mulheres o medo de não
conseguir e a queixa de que existe muita burocracia, e para os homens a obstinação
para fazer tudo para ter sucesso e tentar se manter constantemente motivado.
4.2.1 Alinhamento entre farmacêuticos proprietários, gerentes e responsáveis
técnicos
A tabela 5 contém a análise comparativa entre os três grupos da categoria por
cargo. esse trabalho apresenta os resultados das pontuações das CCEs muito
próximos daqueles encontrados no resultado geral, tanto por não apresentarem
pontuações inferiores a 15 pontos, quanto por apresentarem pontuações médias
com mesma ordem crescente nas Necessidades Motivacionais, sendo a mais baixa
em Afiliação, seguida de Poder e de Realização.
De um modo geral, os três grupos apresentam semelhanças nos resultados,
no que se refere a análise isolada de cada CCE. Dentro dessa similaridade, além de
todos os cargos apresentarem médias significativamente altas na característica
EQE, sendo FRT e FG com 24 pontos e FP, com 25 pontos, eles possuem forte
alinhamento nas características de BOI (20) e de BDI (17).
As diferenças mais pontuais dos grupos estão na característica PMS e EDM.
Sendo a distinção com a EDM manifestada na análise isolada do grupo FG, em que
apresenta pontuação limítrofe (15). Já a disparidade na PMS é estatisticamente
significativa entre os grupos FP (15) e FG (17), na análise comparativa.
93
Tabela 5 – Médias e desvios padrão das CCEs por cargo.
CCE
N MÉDIA Desvio-Padrão
BOI
FP 8 20 1,28
FG 14 20 1,89
FRT 33 20 2,14
PER
FP 8 16 1,98
FG 14 17 1,54
FRT 33 17 2,05
COM
FP 8 20 2,30
FG 14 20 2,26
FRT 33 19 3,27
EQE
FP 8 25 2,43
FG 14 24 2,82
FRT 33 24 2,45
CRC
FP 8 16 1,39
FG 14 16 2,94
FRT 33 17 2,83
EDM
FP 8 16 1,41
FG 14 15 2,48
FRT 33 16 2,05
BDI
FP 8 17 1,98
FG 14 17 2,38
FRT 33 17 2,09
PMS
FP 8 15 2,56
FG 14 17 1,86
FRT 33 16 2,45
PRC
FP 8 16 1,36
FG 14 17 1,55
FRT 33 16 2,13
IEA
FP 8 17 1,69
FG 14 17 1,72
FRT 33 16 2,87
FONTE: Pesquisa (2016).
Vale ressaltar que as duas pontuações limítrofes, anteriormente expostas, são
as únicas contidas na tabela 5, as demais estão acima do patamar.
Em comparação com o trabalho de Fonseca (2010), há a semelhança no
alinhamento entre FRT e FP de duas características (BOI e BDI). Uma diferença
entre essa pesquisa e a de Fonseca (2010) que se destaca é o fato da característica
EDM ser a única a estar no limite (15) e acometer apenas FG, na presente consulta.
Enquanto na pesquisa de Fonseca (2010) está exposta como a terceira CCEs mais
forte. Dado relevante e extrema importância para avaliação de um bom gerente,
principalmente na área farmacêutica, que por lidar com a saúde das pessoas é
essencial à precisão na realização de suas tarefas.
94
Nessa consulta, quando comparadas as médias das CCEs dos
empreendedores (FP) e dos intraempreendedores (FG e FRT), não há escore médio
diferente entre ambos. Logo, não há relevância para análise de uma subcategoria.
A pesquisa leva em consideração a superioridade quantitativa do grupo FRT
em relação à somatória dos demais grupos, FP e FG.
Na análise de Câmara e Andalécio (2012), o foco é o grupo FRT e este
denota muitas disparidades com o FRT da presente apuração. No que se refere a
alinhamento, a primeira mostra uma diferença significativa entre FRT e FP na
característica BOI, enquanto na segunda consulta esta é uma CCEs fortemente
alinhada entre FRT, FG e FP.
Outra importante distinção entre os dois constructos é que o de Câmara e
Andalécio (2012) expõem ausência de duas CCEs no cargo FRT, a EQE e a PER, e
vale ressaltar que a primeira característica citada tem a mais alta média, no presente
trabalho.
Espera-se que farmacêuticos proprietários sejam empreendedores. Porém, o
estudo de Sarturi, Gomes Filho e Moreira (2013) traz resultados alarmantes ao expor
ausência de quatro CCEs no grupo, CRC, EDM, IEA e PRC. Apesar destas
características terem médias baixas, na presente apuração, estão todas no patamar
(16 a 17), logo comportamentos empreendedores presentes no grupo FP.
Em contrapartida, a única característica alinhada entre FP e estudantes na
pesquisa de Sarturi, Gomes Filho e Moreira (2013), a PMS, a presente investigação
informa que esta está no limítrofe para sua ausência no perfil empreendedor desse
grupo.
4.3 RESULTADOS POR CATEGORIA DE PORTE
O intuito em analisar uma amostra por categoria de porte da empresa está em
conhecer a força de sua influência sobre o desenvolvimento de comportamentos
empreendedores. As organizações podem influenciar nos resultados obtidos por
seus funcionários através dos critérios de seleção da equipe e profissionais
especializados, bem como por treinamentos e aprimoramentos proporcionados na
área de empreendedorismo.
Diante da tabela 6, tem-se o grupo das Grandes empresas (GRANDE) o com
maior representatividade, por isso suas características sociodemográficas são
95
iguais, com maioria de farmacêuticas mulheres, com faixa etária média de 30 anos,
formadas pela UFRN há menos de 5 anos, com pouco tempo de atuação na área,
menos que 5 anos, e que ocupam em sua maioria cargos de FRT.
TABELA 6 – Perfil sociodemográfico por porte da empresa.
CARACTERÍSITCAS
INDIVIDUAIS
MICRO PEQUENA MÉDIO GRANDE
Gênero FEM (65%)
MASC (67%)
FEM (67%)
FEM (66%)
Idade 21 – 28 anos e 29 – 36 anos
(47%)
21 – 28 anos (50%)
21 – 28 anos (100%)
21 – 28 anos (48%)
Local de Formação Acadêmica
UFRN (53%)
UFRN (67%)
UFRN (100%)
UFRN (79%)
Ano de Conclusão de Graduação
Após 2010 (59%)
Após 2010 (50%)
Após 2010 (100%)
Após 2010 (54%)
Tempo de atuação no ramo
Menos de 5 anos (59%)
Menos de 5 anos (83%)
Menos de 5 anos
(100%)
Menos de 5 anos (59%)
Cargo FRT
(47%) FRT
(50%) FRT
(67%) FRT
(69%)
FONTE: Pesquisa (2016).
Com esta igualdade de dados, esse constructo opta pelo grupo GRANDE
como grupo alvo para comparação com os demais, farmacêuticos que atuam em
micro empresas (MICRO), em pequenas empresas (PEQUENA) e em empresas de
porte médio (MÉDIO).
Com essa comparação, no que se refere ao perfil sociodemográfico, as
semelhanças são muitas entre os grupos alegados. Na verdade, a única diferença é
a predominância de homens atuantes nas PEQUENAS.
A quantidade de novos empreendimentos é cada vez maior e a fração do
Produto Nacional Bruto (PNB) atribuído ao setor de pequenos negócios vem
crescendo em todos os países ano após ano.
Em estudo realizado pelo Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequenas
Empresas, SEBRAE, foi constatado que o número de microempresas, no período
entre 2009 e 2012, teve crescimento de 25,2%; no mesmo período, as empresas de
pequeno porte totalizaram uma elevação de 43,1%, superando a taxa de
crescimento de grandes empresas e empresas de porte médio, de 31,2% (SEBRAE,
2014).
96
E de acordo com pesquisa realizada pelo instituto IMS Distribution Studies, as
farmácias gerenciadas pelas grandes redes detêm 61% do volume total de
faturamento do mercado em quatro anos, apesar de não superarem em pontos de
vendas as microempresas e pequenas empresas.
A amostra dessa pesquisa foge da representação predominante nas
estatísticas nacionais, em microempresas e pequenas empresas. Através desse
trabalho, a constatação de que a maioria das empresas é composta por
microempresas e empresas de grande porte levanta a reflexão para futuras análises
sobre o motivo da alteração dessa proporção. Se houve muitos fechamentos de
pequenas farmácias nos últimos anos, se houve mudança no ambiente Estadual
e/ou nacional que provocasse alegada alteração, ou se é uma característica pontual
do Estado do Rio Grande do Norte?
A pesquisa leva em consideração a escassa quantidade de pontos de vendas
classificados como de pequeno e de médio porte. Prioriza por fazer apenas a análise
comparativa entre os grupos MICRO e GRANDE.
4.3.1 Organizações desenvolvedoras de comportamento empreendedor
Na análise individual, ambos mostram semelhança entre eles, bem como com
a categoria analisada anteriormente nesse constructo, no que se refere a não haver
pontuações inferiores a 15 pontos, ausência de comportamento empreendedor, e na
ordem crescente da média das Necessidades Motivacionais. Porém, vale ressaltar
que há um maior distanciamento entre Realização (20) e Poder (16), passando, este
último, ao mesmo patamar de Afiliação (16).
A tabela 7 apresenta semelhanças a Tabela 5, como as maiores pontuações,
tanto no grupo GRANDE quanto no MICRO, continuarem presentes na característica
EQE, respectivamente 24 e 25 pontos. E que os grupos dessa categoria mostrarem
forte alinhamento nas mesmas duas características mencionadas na Tabela 5, BOI
(20) e BDI (17). Adicionalmente, essa categoria apresenta força para mais um
alinhamento, na característica PRC (16).
97
Tabela 7 – Médias e desvios padrão das CCEs por porte da empresa.
CCE N MÉDIA DESVIO PADRÃO
BOI GRANDE 29 20 1,97
MICRO 17 20 1,52
PER GRANDE 29 17 1,57
MICRO 17 18 2,24
COM GRANDE 29 19 2,81
MICRO 17 20 2,83
EQE GRANDE 29 24 2,16
MICRO 17 25 2,95
CRC GRANDE 29 17 2,98
MICRO 17 16 2,26
EDM GRANDE 29 15 2,19
MICRO 17 16 1,49
BDI GRANDE 29 17 2,15
MICRO 17 17 1,91
PMS GRANDE 29 16 1,90
MICRO 17 15 2,32
PRC GRANDE 29 16 1,21
MICRO 17 16 2,23
IAC GRANDE 29 16 2,49
MICRO 17 17 2,03
FONTE: Pesquisa (2016).
Além disso, as mesmas duas características, identificadas anteriormente na
categoria por cargo como limítrofes para presença de comportamento
empreendedor, apresentam mesmo comportamento na categoria por porte. Sendo
no grupo GRANDE limítrofe na EDM e no MICRO, na PMS.
Apesar desses dois grupos da categoria de porte não apresentar diferenças
significativas em suas médias, têm dispersão em muitos conjuntos de CCEs. Essa
dispersão pode ser visualizada nas características BOI, PER, EDM e PRC, o que
implica num afastamento dos valores dos dados de suas médias (desvio padrão
superior a 1,90) ou grande proximidade (valor de desvio padrão inferior a 1,51).
De acordo com Roncoletta (2011) existe fatores organizacionais internos nas
microempresas que estimulam comportamentos empreendedores de gestores e
funcionários para o desenvolvimento de uma cultura intraempreendedora.
De fato, são problemas enfrentados organizações no ramo farmacêutico de
um modo geral, o encolhimento das margens de lucro e a necessidade de diminuir
custos, bem como manter e aumentar a participação de mercado, sendo
proporcionalmente mais pesados, com difíceis soluções, para as microempresas.
98
4.4 RESULTADOS POR CATEGORIA DE GÊNERO
Segundo a literatura utilizada pelo presente constructo, cada gênero referido
possui característica e atitudes díspares, fruto do contexto empresarial, social e
cultural em que se inserem.
Tabela 8 – Perfil sociodemográfico por gênero.
CARACTERÍSITCAS INDIVIDUAIS FEM MASC
Cargo FRT
(65%) FRT
(52%)
Idade 21 – 28 anos e
(50%)
21 – 28 anos e 29 – 36 anos
(48%)
Local de Formação Acadêmica UFRN (76%)
UFRN (67%)
Ano de Conclusão de Graduação Após 2010
(53%) Após 2010
(62%)
Tempo de atuação no ramo Menos de 5 anos
(59%) Menos de 5 anos
(71%)
Porte da Empresa GRANDE
(56%) GRANDE
(48%)
FONTE: Pesquisa (2016).
Segundo Pais (2014), homens empreendem mais, isto é abrem suas próprias
empresas e, atualmente, tem-se um aumento no número de mulheres em funções
de elevada responsabilidade, como é o casa da gerência das farmácias.
No que diz respeito ao perfil sociodemográfico na categoria por gênero da
presente consulta, ambos os gêneros apresentam iguais variáveis, o que condize
com os resultados da amostra total. Tanto homens como mulheres atuam de forma
predominante como responsáveis técnicos em farmácias de grande porte, e são
formados pela UFRN há menos de cinco anos, com pouco tempo de atuação no
mercado farmacêutico, também inferior a cinco anos (Tabela 8).
4.4.1 Semelhanças e disparidades entre os gêneros
A separação por gênero não distancia os resultados já relatados na amostra
geral, no que diz respeito a não haver pontuação inferior a 15 pontos em qualquer
CCEs, isto é, os gêneros apresentam todas as dez manifestações comportamentais
proposta por McClelland (1972), além de se repetir a ordem crescente das médias
das Necessidades Motivacionais, sendo a de Afiliação (16) a menor, e idêntica às
99
categorias anteriormente mencionadas, também, seguida por Poder (17) e depois,
com maior distanciamento, por Realização (20).
Apesar das grandes semelhanças com a amostra total, ao separar os gêneros
constate-se significativas distinções das demais partições já analisadas, como
demonstra a Tabela 9. Primeiramente, essa categoria foi a que apresentou mais
CCEs com alinhamentos fortes, a BOI (20), a PER (17), a COM (20) e PMS (16). E a
característica EQE (24) que além de estar fortemente alinhada também apresenta
maior pontuação, como acontece nas categorias cargo e porte, assim como na
amostra total.
Uma diferença estatística significativa aparece somente nessa categoria, na
BDI, feminino (16) e masculino (18). Vale ressaltar que as características
mencionadas apresentam forte alinhamento entre os grupos das categorias cargo e
porte, bem como com a amostra total.
A outra distinção que essa categoria mostra, frente às demais, é que há
redução das manifestações de características na linha limite. Nessa exposta
situação, apenas a EDM (15) apresenta pontuação limítrofe no grupo masculino.
Tabela 9 – Médias e desvios padrão das CCEs por gênero.
CCE N MÉDIA DESVIO
PADRÃO
BOI FEM 34 20 1,96
MASC 21 20 1,52
PER FEM 34 17 1,79
MASC 21 17 1,93
COM FEM 34 20 2,42
MASC 21 20 3,16
EQE FEM 34 24 2,44
MASC 21 24 2,48
CRC FEM 34 16 2,70
MASC 21 17 2,59
EDM FEM 34 16 1,88
MASC 21 15 2,19
BDI FEM 34 16 1,64
MASC 21 18 2,42
PMS FEM 34 16 2,02
MASC 21 16 2,56
PRC FEM 34 17 1,60
MASC 21 16 1,90
IAC FEM 34 16 2,14
MASC 21 17 2,51
FONTE: Pesquisa (2016).
100
Na análise comparativa das demais CCEs não há diferenças nos escores
médios. Essa consulta leva em consideração que na amostra total há um número
significativamente superior de mulheres (62%).
Os resultados nessa apuração corroboram com as conclusões de Pais (2014),
em que o gênero feminino apresenta características pessoais muito emocionais e o
fato de confiarem demais nas pessoas como pontos negativos, e pontos para o
sucesso como persistência, dedicação e positividade.
Com os homens, de acordo com Pais (2014), há diferença quanto ao espírito
aventureiro, o gosto para aprender novas coisas e a frontalidade com a verdade e
eficiência, apesar de afirmarem em sua maioria ter pouca experiência.
101
CONCLUSÕES
Resultados obtidos a partir de uma amostra com 55 farmacêuticos, escolhidos
de forma aleatória e entrevistados de acordo com a acessibilidade. O e modelo
teórico está consolidado pela literatura desde 1970 e ainda detém relevância para
estudo do comportamento empreendedor.
A pesquisa propicia a percepção de uma sutil mudança no perfil
empreendedor dos farmacêuticos ao comprovar quantitativamente a presença de
todas as características comportamentais de empreendedores nos entrevistados,
distanciando-se significativamente dos resultados encontrados na literatura, que por
sua vez apresentam ausência de comportamento empreendedor em algumas
características analisadas.
As altas médias encontradas nas características relacionadas a necessidade
de realização, tanto na amostra total como nas categorias por porte, cargo e gênero,
remete a capacidade acentuada do profissional farmacêutico em empreender,
procurando por tarefas desafiadoras para manter uma contínua melhora de
desempenho. Além disso, vale destacar uma importante característica
comportamental para o ramo farmacêutico, a “Exigência de Qualidade e Eficiência”,
pois esta é a principal responsável por garantir a segurança da vida dos
consumidores no ato de prescrição e dispensação farmacêutica. No presente
trabalho, essa característica não apenas supera as médias encontradas na
literatura, como representa uma das mais fortes pontuações entre as dez
características analisadas.
Pontuações moderadas nas características envolvidas com a “necessidade de
poder” podem indicar um perfil profissional com desejo de ter influência e controle
sobre outras pessoas e atingir cargos de liderança, mas correndo baixos riscos. E,
em contrapartida, as médias fracas em manifestações de desejo de estar próximo a
outras pessoas, isto é, “necessidade de afiliação”, expõem um profissional com
capacidade de trabalhar em equipe pouco desenvolvida e com maior foco em tarefas
e produtos, centralizando esforços.
O perfil sociodemográfico dos farmacêuticos apresenta predominância no
gênero feminino, faixa etária entre 21 e 28 anos, graduados na UFRN, com menos
de 6 anos de formação, menos de 5 anos de atuação no setor, responsáveis
técnicos em drogarias de grande porte, sem adicional de gerente.
102
A presença de forte alinhamento entre os cargos de farmacêutico proprietário
e farmacêutico gerente sugere a mesma exposição de atividades empreendedoras
para ambos, bem como pressupor que foram submetidos a níveis de capacitação
idênticos. Apenas a disparidade na característica comportamental de planejamento e
monitoramento sistemático mostra a necessidade do grupo farmacêutico proprietário
estar melhor preparado do que os farmacêuticos gerentes. Isso sugere para
avaliações futuros a investigação sobre a forma de comunicação e delegação de
tomada de decisões fornecidas pelas organizações aos seus gestores.
Como não há ocorrência de diferenças significativas entre os grupos da
categoria porte da empresa, pressupõe-se que tanto as microempresas como as
grandes empresas prestam mesmo nível de treinamento, capacitação e cursos para
desenvolvimento empreendedor de seus funcionários.
Apesar de haver na literatura muitos dados sobre as diferenças enfrentadas
por homens e mulheres no intraempreendedorismo, as características
comportamentais desses dois grupos da categoria gênero apresentam grandes
semelhanças. A única diferença detectada está na característica de busca de
informação, menor nas mulheres do que nos homens. Essa diferença pode ser
perfeitamente explicada pela literatura, uma vez que os homens gostam mais de
aprender coisas novas e sentem que a falta de experiência é um grande limitador
para que empreendam, enquanto as mulheres sentem-se capazes de realizar as
tarefas, tendo apenas medo de não atingir o melhor resultado. Por isso apresentam-
se em maior número nos cargos de gerência da presente pesquisa. Porém, devido
aos homens se sentirem mais aventureiros e prontos para arriscar, o presente
trabalho apresenta dominância do gênero masculino nos cargos de proprietários.
De maneira geral, é possível verificar que cada característica comportamental
analisada possui uma contribuição intrínseca relevante para valorização do
farmacêutico no setor varejista de farmácia. Por exemplo, a excelência em:
encontrar maneiras de fazer coisas de um jeito melhor, mais rápido ou mais
econômico; agir de maneira a fazer coisas que satisfaçam ou excedam as
expectativas; desenvolver ou utilizar procedimentos para assegurar que o trabalho
seja terminado a tempo, ou que atenda aos padrões de qualidade previamente
combinados são comportamentos que abrem perspectivas para que os
farmacêuticos se relacionem melhor com seus gestores e, por consequência,
aumentem sua produtividade obtendo ganhos para si e para empresa.
103
Dessa forma conclui-se que as farmácias precisam ficar atentas ao ambiente
de trabalho, analisar as atitudes e comportamentos dos farmacêuticos, como fatores
impulsionadores de competitividade. Essa pesquisa não tem um fim em si mesma,
mas seus resultados impulsionaram contribuições relevantes, sobre tudo, para
valorização do profissional farmacêutico.
A pesquisa apresentou algumas limitações. Vários farmacêuticos mostraram-
se interessados na pesquisa, mas não aderiram ao preenchimento e envio do
questionário. Isso acarretou um baixo retorno do instrumento, se comparado com a
quantidade de questionários enviados para os contatos individuais e para
distribuição auxiliada por supervisores em grandes empresas.
Os resultados obtidos serão úteis à classe farmacêutica do ramo varejista de
farmácia para identificar as características que precisarão ser desenvolvidas, além
das mudanças comportamentais que precisarão favorecer. E com isso direcionar o
CRF, órgão responsável por identificar as necessidades de seus associados e
mantê-los atualizados e preparados para atuação no novo mercado, para escolha de
temas para cursos, treinamentos e formações específicas para aprendizagem e
mudança comportamental.
Como sugestões para futuras pesquisas, acredita-se que o aprofundamento
na análise das características comportamentais empreendedoras em amostras
estratificadas por gênero poderiam propiciar novos conhecimentos setorizados.
Também, abre-se a perspectiva de separar grupos de farmacêuticos e seus
supervisores diretos para que se analisem diferentes visões sobre comportamento
empreendedor. O fato de existir esse avanço nos resultados, juntamente com a
informação de que ainda existem disparidades significativas entre subgrupos de
variáveis sociodemográficas relacionadas ao local de formação, sugere para futuras
investigações as modificações realizadas na capacitação profissional dos
farmacêuticos realizadas pelas universidades nos últimos 6 anos. Além disso,
acredita-se que o aprofundamento na análise sobre como as CCEs estão sendo
exploradas nas atribuições dos farmacêuticos nas farmácias poderia revelar outros
ganhos para consolidação do conhecimento.
104
REFERÊNCIAS
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