UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIENCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE ODONTOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA LORENA DE SOUZA ARAÚJO Avaliação da atividade anti-inflamatória e antioxidante da Olmesartana em modelo experimental de mucosite oral NATAL-RN 2017
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIENCIAS DA SAÚDE
DEPARTAMENTO DE ODONTOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA
LORENA DE SOUZA ARAÚJO
Avaliação da atividade anti-inflamatória e antioxidante da Olmesartana em modelo
experimental de mucosite oral
NATAL-RN
2017
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LORENA DE SOUZA ARAÚJO
Avaliação da atividade anti-inflamatória e antioxidante da Olmesartana em modelo
experimental de mucosite oral
Dissertação de Mestrado apresentado
ao Programa de Pós-Graduação em Saúde
Coletiva, como parte dos requisitos necessários
à obtenção do título de Mestre em Saúde
Coletiva.
Área de Concentração: Odontologia
Orientadora: Profª Dr.ª Aurigena Antunes
de Araújo.
NATAL-RN
2017
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Lorena de Souza Araújo
AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIINFLAMATÓRIA E ANTIOXIDANTE DA
OLMESARTANA EM MODELO EXPERIMENTAL DE MUCOSITE ORAL
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de Pós Graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do título de Mestre em Saúde Coletiva.
Aprovada em: ____/____/______
Banca Examinadora
Prof. Dr.ª Aurigena Antunes de Araujo Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
Orientadora
Profª Dr.ª Renata Ferreira de Carvalho Leitão Universidade Federal do Ceará (UFC)
Membro Externo
Profª Dr.ª Ruthineia Diogenes Alves Uchoa Lins Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
Membro Interno
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Araújo, Lorena de Souza. Avaliação da atividade anti-inflamatória e antioxidante daOlmesartana em modelo experimental de mucosite oral / Lorena deSouza Araújo. - 2017. 59 f.: il.
Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) - UniversidadeFederal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências da Saúde,Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, Natal, 2017. Orientador: Aurigena Antunes de Araújo.
1. Mucosite oral - Dissertação. 2. Olmesartana Medoxomila -Dissertação. 3. Inflamação - Dissertação. I. Araújo, AurigenaAntunes de. II. Título.
RN/UF/BSO BLACK D17
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRNSistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Alberto Moreira Campos - -Departamento deOdontologia
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Dedico este trabalho à minha família, amigos e mestres.
4 AGRADECIMENTOS
A Deus, por todas as bênçãos derramadas em minha vida, por me amparar em todos os momentos, pelo amor incondicional e por colocar tantas pessoas maravilhosas em meu caminho.
Aos meus amados pais por me ensinarem os princípios que formaram o meu caráter, pelo apoio e incentivo em cada passo dado. Em especial, minha mãe, Luiza Maria, pelo amparo de toda uma vida.
Ao meu melhor amigo e noivo, Victor Hugo, com amor, admiração e gratidão por sua compreensão, carinho, presençaa e incansável apoio ao longo do período de elaboração deste trabalho.
A minha orientadora, Aurigena Antunes de Araújo, que nos anos de convivência, muito me ensinou, contribuindo para meu crescimento científico e intelectual. Acreditou no meu trabalho e me incentivou, desde o princípio. A sua paixão pela pesquisa e pela docência, certamente, foi uma motivação para meu ingresso e perseverança no curso de mestrado.
A todos os colaboradores e envolvidos na Base de Pesquisa de Farmacologia, em especial o professor Dr. Raimundo de Araújo, a professora Drª. Caroline Addison, os colegas pós-graduandos, Maisie, Susana, Cristiane, Hugo, Roseane, Thais e Vinícius, por conhecimentos compartilhados e disponibilidade.
A dona Neida, por me auxiliar e dedicar tanto esforço, conhecimento e tempo para realização dessa pesquisa.
A Laura, Luiz, Roberto, Matheus por auxilio, dedicação e disponibilidade em ajudar.
Aos técnicos em laboratório, Flávio, César, Carla e Lourdinha pelo apoio, esforço e dedicação durante todo o desenvolvimento da pesquisa.
Aos membros das bancas, de qualificação e defesa, por aceitarem o convite e se dedicarem para a construção de um trabalho melhor.
A todos que, direta ou indiretamente, participaram da minha formação.
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“Um pouco de ciência nos afasta de Deus. Muito, nos aproxima.”
(Louis Pasteur)
6 RESUMO
A Mucosite Oral (MO) é uma das principais complicações envolvidas no tratamento do câncer, em especial, da região de cabeça e pescoço. Trata-se de uma inflamação que afeta a mucosa da cavidade oral e se caracteriza clinicamente pelo surgimento de lesões eritematosas, ulceradas e dolorosas, o que pode ocasionar, em casos mais graves, interrupção do tratamento quimioterápico. O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito da Olmesartana (Olme), um antagonista do receptor AT1 da angiotensina II (Ang II), na mucosite oral. Foi realizado um ensaio pré-clínico, in vivo, randomizado, cego, com utilização de grupos controles. 42 hamsters Golden Siriam foram divididos em 6 grupos: Controle, Trauma Mecânico, 5-FU, Olme 1mg/kg, Olme 5mg/kg e Olme 10mg/kg. Nos grupos doentes a MO foi induzida nos dois primeiros dias do experimento com um quimioterápico, o 5-fluorouracil (5-FU, 60 mg/kg dia 1 e 40 mg/kg dia 2). Os animais foram pré-tratados com Olme oral (1, 5, ou 10 mg/kg) ou veículo (controles) 30 min antes da injeção de 5-FU e diariamente até o décimo dia. As amostras de mucosa da bochecha foram submetidas a análise macroscópica, histopatológica, análise de atividade enzimática bioquímica e imunohistoquímica. Reações em cadeia de polimerase de transcriptase reversa (RT-PCRs) foram utilizadas para quantificar a expressão de NF-κB, p65, PI3K e MKP1. Os níveis de óxido nítrico sintase induzível (iNOS) e quinase regulada extracelularmente (ERK) foram analisados com Western Blot. O tratamento com 10 mg/kg de Olme reduziu os níveis de ulceração, mieloperoxidase (MPO) e malonaldeído (MDA), inflamação celular, edema e hemorragia (todos p <0,05). O tratamento com Olme de 10 mg/kg também reduziu os níveis do fator de necrose tumoral (TNF)-α, interleucina (IL)-1β, aumentando a expressão PI3K e diminuindo a expressão de NFKB, p65, MKP1 e diminuindo os níveis de iNOS e ERK1/2. A utilização da Olme na dose de 10 mg/kg reduziu o dano e a inflamação da mucosa associados com a MO induzido por 5-FU.
Oral Mucositis (MO) is one of the main complications involved in the treatment of cancer, especially in the head and neck region. It is an inflammation that affects the mucosa of the oral cavity is clinically characterized by erythematous, ulcerated and painful lesions, Which can lead, in more severe cases, to an interruption of chemotherapy treatment. The aim of this study was to evaluate the effect of Olmesartan (Olme), an angiotensin II (Ang II) receptor antagonist, on oral mucositis. A pre-clinical trial was performed, in vivo, randomized, blind, with use of control groups. 42 Golden Siriam hamsters were divided into 6 groups: Control, Mechanical Trauma, 5-FU, Olme 1mg/kg, Olme 5mg/kg and Olme 10mg/kg. In the diseased groups MO was induced on the first two days of the experiment with a chemotherapeutic, 5-fluorouracil (5-FU, 60 mg / kg day 1 and 40 mg / kg day 2). Animals were pretreated with oral Olme (1, 5, or 10 mg/kg) or vehicle (control) 30 min before 5-FU injection and daily until day 10. Cheek pouch samples were subjected to histopathologic analysis, protein/immunology analysis, and immunoistochemistry. Reverse transcriptase polymerase chain reactions (RT-PCRs) were used to quantitate expression of NF- κBp65, PI3K, and MKP1. Inducible nitric oxide synthase (iNOS) and extracellular regulated kinase (ERK)1/2 levels were analysed with immunoblots. Treatment with 10 mg/kg Olme reduced ulceration, myeloperoxidase (MPO) and malonaldehyde (MDA) levels, cellular inflammation, edema, and hemorrhage (p<0.05). The 10 mg/kg Olme treatment also reduced tumour necrosis factor (TNF)-α, interleukin (IL)-1β, increasing expression PI3K, and decreasing expression of NFKBp65, MKP1, and decreasing iNOS and ERK1/2 levels. Olme at a dose of 10 mg/kg prevented the mucosal damage and inflammation associated with 5-FU– induced OM.
Keywords:Oralmucositis;Olmesartan;inflammation.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Figura 1. A sequência biológica da mucosite pode ser dividida em cinco fases:
iniciação, geração mensagem, amplificação e sinalização, ulceração, cicatrização.
Adaptado de Sonis (2004) …………………………………………………………….…………19
Figura 2. Estrutura química da molécula de 5-fluorouracil. Adaptado Grem (2001) …..…22
Figura 3. O papel dos macrófagos no processo inflamatório e seus fenótipos. Na fase inicial
do reparo da ferida, após a exposição a citocinas pró-inflamatórias, interferons (IFNs),
PAMPs ou DAMPs, monócitos infiltrantes e macrófagos residentes são ativados e,
principalmente, adquirem um fenótipo pró-inflamatório M1. Eles realizam a fagocitose de
micróbios, eliminam detritos celulares e produzem mediadores pró-inflamatórios. Mais
tarde, durante o processo de cicatrização, a IL4, a IL-10, os Glucocorticóides e as
Prostaglandinas (PGs) induzem os macrófagos a transitar para um fenótipo M2 reparador.
Os macrófagos também removem os neutrófilos nas feridas por fagocitose, um elemento
central para induzir a mudança do fenótipo M1-M2 dos macrófagos. Adaptado de LANDEN
et al., (2016)..……………………………………................…………………………………….24
Figura 4. Estrutura química da Olmesartana. Adaptado de Mire et. al. (2005).…………..27
Figura 5. Desenvolvimento do modelo experimental ………………………………………..31
Figura 6. Aspectos macroscópicos da mucosa de hamsters, após 10 dias de experimento:
A Mucosite Oral (MO) é uma inflamação que afeta a mucosa da cavidade oral e se
caracteriza clinicamente pelo surgimento de lesões eritematosas, ulceradas e dolorosas
(MERAW; REEVE, 1998). Alguns fatores etiológicos podem estar associados à mucosite,
como traumas físicos na mucosa, deficiências nutricionais e, principalmente, tratamentos
quimio e radioterápicos(KÖSTLER et al., 2006; SPIJKERVET et al., 1989)
A patogênese da MO, induzida por químio e radioterapia, envolve as fases de
iniciação, caracterizada pelo dano ao DNA celular; a fase de resposta ao dano primário,
com a ativação de fatores de transcrição como o fator nuclear kB (NF-kB); a amplificação
do sinal com a ativação de citocinas pró-inflamatórias, como TNF-α e IL-1β; Culminando na
fase de ulceração da mucosa e, posteriormente, cicatrização (SONIS et al., 2004).
Atualmente, o tratamento da MO visa aliviar a sintomatologia dolorosa, característica
da mucosite, e acelerar o processo de cicatrização. Dessa forma, tem sido descrito na
literatura a utilização da crioterapia (LILLEBY et al., 2006), laserterapia de baixa potência
(BENSADOUN et al., 1999) e diferentes formas de tratamento farmacológico (BARASCH
et al., 2006; EPSTEIN; SCHUBERT, 1999).
Dentre os fármacos utilizados para o tratamento da mucosite estão aqueles que
atuam sobre vias de sinalização conhecidas e relacionadas com a doença, incluindo
bloqueadores mTOR (SLOMOVITZ et al., 2015), agonista de receptor gama ativado por
proliferador de peroxissoma (MANGONI et al., 2017), fator de crescimento do endotélio
vascular de alta afinidade A (todas as isoformas) e ligandos B, fator de crescimento
placentário (COLEMAN et al., 2011) e o palifermin, um derivado recombinante do fator de
crescimento de queratinócitos humanos. O palifermin é o primeiro agente bioativo aprovado
pela Food and Drug Administration (FDA), dos Estados Unidos da América, para a
prevenção da MO (VADHAN-RAJ et al., 2013).
Uma das classes de medicamentos que tem chamado atenção pelos seus efeitos
pleiotrópicos antiinflamatórios são os Bloqueadores da Angiotensina II (Ang II). Sabe-se
que além de suas ações regulatórias cardiovasculares, a aldosterona-renina-angiotensina
também tem efeitos sobre o processo inflamatório (GUERRA et al., 2015, 2016; LIU et al.,
2015). A Ang II medeia as suas ações fisiológicas através dos receptores de Ang II tipo I
(AT1R) e tipo 2 (AT2R) (MONTEZANO et al., 2014). A ativação de Ang II na sinalização do
receptor AT1 envolve mediadores do processo inflamatório e tem demonstrado um
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aumento na ativação do NF-κB, o estresse oxidativo e a produção de citocinas inflamatórias
(MYKHIN et al., 2005; URSO; CAIMI, 2011).
A Olmesartana é um tipo de bloqueador dos receptores da angiotensina que atua
bloqueando o tipo 1 dos receptores da angiotensina II (AT1R). Verificou-se estes
bloqueadores têm atividade antioxidante e anti-inflamatória (ARAÚJO et al., 2013;
GUERRA et al., 2016). Contudo, os efeitos do antagonista do receptor AT1R olmesartan
(Olme) no processo inflamatório e na cicatrização da mucosite oral, ainda não foram
investigadas em estudos clínicos e pré-clinicos, in vivo. Assim este estudo se propõe a
investigar os efeitos de Olmesartana sobre o processo inflamatório e a cicatrização de
feridas em um modelo experimental de mucosite oral, identificando vias de sinalização
relacionadas ao antagonismo do AT1-R.
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2. REVISÃO DA LITERATURA
2.1. Mucosite Oral
A mucosite oral acomete, de forma grave, cerca de 30% a 40% dos pacientes com
câncer no mundo todo, em decorrência da radioterapia e/ou quimioterapia. Entretanto,
quando se refere ao tratamentos de neoplasias de cabeça e pescoço e pacientes que serão
submetidos ao transplante de medula, a incidência é elevada para mais de 60 (SONIS et
al., 2004). Trotti e colaboradores (TROTTI et al., 2003), em uma revisão sistemática,
apresentaram a mucosite como um frequente, e grave, efeito colateral do tratamento do
câncer, passível de ocasionar a hospitalização dos doentes, devido à necessidade de
nutrição enteral ou parenteral, e/ou interrupção do tratamento radio e quimioterápico.
As implicações clínicas da mucosite estão associadas ao caráter doloroso, que
muitas vezes impossibilita os indivíduos de se alimentarem, podendo causar desnutrição,
bem como pode direcionar um ajuste de dose do quimioterápico e, consequentemente,
comprometer a eficácia do tratamento do câncer (KÖSTLER et al., 2006). O trato
gastrointestinal é severamente afetado pela toxicidade dos agentes terapêuticos anti-
neoplásicos em função de suas características morfológicas e com alta frequência de
renovação celular, sendo afetado clinicamente após 48 horas da exposição a quimioterapia.
A mucosa oral apresenta um epitélio escamoso estratificado, desenvolvendo a MO após
cerca de uma semana após a primeira exposição aos quimioterápicos. Um agravante da
mucosite oral é o atrito constante de alimentos, dentes e língua (MERAW; REEVE, 1998).
Por sua vez, há também danos indiretos que podem ser ocasionados devido à
imunosupressão e ao aumento do risco de infecções bacterianas e fúngicas (SONIS; FEY,
2002).
A caracterização das fases da doença, desenvolvida por Sonis (SONIS et al., 2004),
está representada na figura 1, na qual pode-se observar também uma diferença quanto à
iniciação provocada pelas terapias utilizadas contra o câncer. Sabe-se que a quimioterapia
tem efeito sistêmico, enquanto a radioterapia tende a ser limitada a uma determinada
região. Os regimes de administração das terapias também são diferentes. Enquanto a
quimioterapia pode ser administrada em um curto período de tempo, a radioterapia
normalmente é aplicada em um protocolo de semanas, com doses menores por um período
de tempo prolongado. A diferença no protocolo resulta em mucosite com características
mais agudas quando resultante da toxicidade quimioterápica, enquanto a de origem
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radioterápica é mais crônica. Entretanto, apesar do tempo das fases serem diferentes, a
sequencia se mantém.
Sonis et al (SONIS et al., 2004) caracterizaram a patogênese da mucosite induzida
pela radiação e pela quimioterapia, em 05 fases: 1) Fase de Iniciação: A radioterapia e a
quimioterapia induzem a ruptura da cadeia de DNA e causam lesão imediata das células
basais. Ao mesmo tempo que numa cascata de eventos complementares, o produto do
estresse oxidativo também se apresenta como iniciador; 2) Fase da resposta de dano
primário: fatores de transcrição são ativados. O fator nuclear-kB (NF-kB) parece ser o mais
relevante, o mesmo é ativado por radiação e quimioterapia e pode regular positivamente
genes que levam à produção de um grupo de citocinas inflamatórias, incluindo o fator de
necrose tumoral α (TNF-α) e a interleucina 1β (IL-1β); 3) Fase de amplificação do sinal: O
TNF-α ativa a via de ceramida e caspases levando a lesão no tecido e ativa as vias de
transcrição mediadas através de NF-kB. Num circuito de retroalimentação, estes processos
resultam na produção adicional de citocinas inflamatórias e também ativam
metaloproteinases de matriz levando a injúria tecidual direta; 4) Fase de Ulceração: os
danos anteriores resultam em ulceração, alteração mais significativa no hospedeiro após
radioterapia e quimioterapia. Devido à imunossupressão dos pacientes, a mucosa ulcerada
permite a invasão de microorganismos da boca para a circulação sistêmica, causando
septicemia; 5) Fase de cicatrização: sinalização para a renovação da proliferação e
Figura 1. A sequência biológica da mucosite pode ser dividida em cinco fases: iniciação, geração mensagem, amplificação e sinalização, ulceração, cicatrização. Fonte: Adaptado de Sonis (2004)
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diferenciação das células epiteliais. A microbiota oral é também restabelecida. No entanto,
alterações epiteliais secundárias à radioterapia e à quimioterapia permanecem (BISWAL,
2008; SONIS et al., 2004).
A Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica a MO de acordo com a gravidade:
na mucosite grau I observa-se apenas a mucosa esbranquiçada ou eritematosa,
especialmente a jugal; o grau II é caracterizado pelo aparecimento de pequenas úlceras
dolorosas; no caso de úlceras que ocupem regiões maiores e refletem na dificuldade de
alimentação, tem-se o grau III; já no grau IV a doença chegou no estágio em que há
necessidade de internação, devido ao comprometimento de toda a mucosa e à
impossibilidade do paciente de se alimentar por via oral. O diagnostico é realizado pelo
exame clínico oral, associado à sintomatologia e ao estado nutricional do paciente (PICO;
AVILA-GARAVITO; NACCACHE, 1998).
Embora sejam conhecidas as implicações clínicas envolvidas na progressão da
doença, não há, atualmente, uma forma de tratamento completamente eficaz. O tratamento
utilizado está voltado não para conter a progressão da doença, mas para alívio da
sintomatologia dolorosa, seja com fármacos locais (EPSTEIN; SCHUBERT, 1999),
sistêmicos (BARASCH et al., 2006) ou com outras terapias, como o laser de baixa
intensidade (BENSADOUN et al., 1999).
O palifermin, fator de crescimento de queratinócitos recombinante 1 (rHuKGF-1), é
o primeiro agente bioativo aprovado pela Food and Drug Administration (FDA), agência
norte-americana, para a prevenção da MO (VADHAN-RAJ et al., 2013), porém já foi
mostrado que o mesmo tem potencial de causar eventos adversos resultantes da sua ação
farmacológica na pele e epitélio oral, como erupção cutânea, prurido, eritema, parestesia,
alterações na boca e língua e alteração do paladar (SPIELBERGER et al., 2004). Além dos
possíveis efeitos colaterais, uma preocupação importante sobre o KGF é a presença do
seu receptor em células malignas (OELMANN et al., 2004), trazendo a possibilidade do
KGF exógeno estimular células tumorais. Tal possibilidade é altamente indesejada, em
especial, em pacientes já em tratamento do câncer. Assim, ainda existe a necessidade de
se buscar terapias com o objetivo de prevenir e tratar a mucosite oral.
Os anti-inflamatórios não-esteroides (AINEs) são conhecidos há bastante tempo e
continuam sendo uma das classes de fármacos mais prescritas em todo mundo. Apesar da
eficácia no tratamento da inflamação, da dor e do edema, sabe-se que essa classe de
fármacos causa significativos efeitos adversos (RANDALL; SELITTO, 1957). Um importante
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componente do mecanismo de ação dos AINEs é a inibição da enzima ciclo-oxigenase
(COX), podendo ser inibidores seletivos da COX-2 ou não seletivos, convencionais (LAINE,
2003).
A principal causa dos efeitos adversos dessa classe de fármacos ocorre em função
da ampla variedade de papeis desempenhados pelas prostaglandinas (PGs) no organismo.
As PGs são produto da ação enzimática da COX sobre o ácido araquidônico (AA). O AA é
um produto resultante da degradação de fosfolípidios, que ocorre por ação da enzima
fosfolipase A2 (presente nos leucócitos e plaquetas), ativada por citocinas pró-
inflamatórias, como a IL-1 (ONG et al., 2010). A inibição, seletiva ou não, da COX, resulta
na redução de prostaglandinas, as quais estão envolvidas em diversos mecanismos, como:
inflamação, coagulação sanguínea, metabolismo ósseo, cicatrização de feridas, função
renal, resposta imune, entre outros (LAINE, 2003).
Portanto, diante das complicações relacionadas aos AINEs e necessidade da busca
de formas de prevenção e tratamento da doença, além do alívio da sintomatologia, os
pesquisadores voltam sua atenção para a síntese de novas substâncias com atividades
antiinflamatórias ou a realização de pesquisas para a avaliação de substâncias já
conhecidas utilizadas comumente para o tratamento de outras patologias.
2.2. 5-fluorouracil
A instalação do processo de estresse oxidativo ocorre a partir de um desequilíbrio
entre compostos oxidantes e antioxidantes, resultante de um excesso de radicais livres, em
relação a atividade dos antioxidantes. Tal elevação na quantidade de radicais livres
promove dano às células e tecidos (HALLIWELL; WHITEMAN, 2004).
Agentes quimioterápicos, durante o tratamento do câncer, induzem o estresse
oxidativo. Tal estresse causa danos diretos às células, tecidos e vasos sanguíneos, além
de estimular fatores de transcrição, em especial, o NF-κB, que regula a expressão de genes
pró-inflamatórios (SONIS; FEY, 2002).
De uma forma geral, esses agentes interferem no DNA celular e seus precursores,
inibindo a síntese de proteínas ou causando danos irreversíveis ao material genético. Rang
- Desparafinização: 2 banhos em xilol, à temperatura ambiente (10 minutos cada);
- Hidratação em cadeia descendente de etanóis:
Álcool etílico absoluto I (5 minutos);
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Álcool etílico absoluto II (5 minutos); Álcool etílico absoluto III (5 minutos); Álcool etílico 95°GL (5 minutos); Álcool etílico 80°GL (5 minutos); - Lavagem em água destilada; - Coloração pelos métodos HE ou Tricrômio de Mallory;
O detalhamento do processamento imunohistoquíco está descrito a seguir:
Amostras submetidas a cortes com 4 μm de espessura; Transferência para lâminas silanizadas; Desparafinização: 2 banhos em xilol à temperatura ambiente (10 minutos cada); Re-hidratação em cadeia descendente de etanóis: Álcool etílico absoluto I (5 minutos); Álcool etílico absoluto II (5 minutos); Álcool etílico absoluto III (5 minutos); Álcool etílico 95°GL (5 minutos); Álcool etílico 80°GL (5 minutos); Passagens rápidas em água destilada (2 trocas); Recuperação antigênica (Proteinase K); Lavagem com PBS; Passagens rápidas em água destilada (2 trocas); Duas incubações dos cortes em solução de peróxido de hidrogênio 3% (10 volumes), em
proporção de 1/1, para o bloqueio da peroxidase endógena tecidual (10 minutos cada);
Lavagem em água corrente (10 minutos); Passagens rápidas em água destilada (2 trocas); Aplicação da proteína block por 10 minutos (BSA 0,05% em PBS); Passagens rápidas em água destilada (2 trocas); Dupla lavagem com PBS; Aplicação do anticorpo primário específico e incubação (overnight); Remoção do excesso do anticorpo primário com a pipeta com PBS; Aplicação do anticorpo secundário kit DAKO LAB (LSAB+System-HRP); Dupla lavagem com PBS; Strepto-avidina HRP (30 minutos); Dupla lavagem com PBS; Incubação com DAB (10 minutos); Lavagem com água destilada; Contracoloração com hematoxilina de Mayer, à temperatura ambiente (5 minutos); Lavagem com água corrente;
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Desidratação em cadeia ascendente de etanóis: Álcool etílico 80°GL (2 minutos); Álcool etílico 95°GL (2 minutos); Álcool etílico absoluto I (5 minutos); Álcool etílico absoluto II (5 minutos); Álcool etílico absoluto III (5 minutos); Passagens rápidas em xilol (3 trocas); Montagem das lâminas em resina Permount®
4.7.4. Dosagem de Mieloperoxidase (MPO)
A extensão do acúmulo de neutrófilos em amostras da mucosa oral foi medida
através da dosagem de MPO. Amostras de tecido recolhidas no dia do sacríficio dos
animais foram armazenadas a -80ºC até sua utilização. As amostras foram
homogeneizadas e centrifugadas, a atividade MPO foi avaliada de acordo com o método
de Kaplow descrito na literatura (BRADLEY; CHRISTENSEN; ROTHSTEIN, 1982).
As amostras de tecido foram homogeneizadas em tampão de brometo de hexadecil-
metil-amônio (HTAB), mantendo a proporção de 50mg de tecido para, 1mL de HTAB. Em
seguida, o homogenato foi submetido à ação do sonhador por 5 minutos e realizados dois
ciclos de congelamento/descongelamento. Então, centrifugaram-se as amostras a
5.000rpm, a 4ºC, por 20 minutos. Terminada a centrifugação, 0,1ml do sobrenadante de
cada amostra foi removido, montado em uma placa de 96 poços, e a este foi adicionado
2ml da solução de o-dianisidina, tampão fosfato de sódio, peróxido de hidrogênio e água
destilada. Esta mistura foi colocada em um espectrofotômetro a fim de medir a absorbância
a 450nm nos tempos 0, 30 segundos, 78 segundos e 5 minutos. Considerando que uma
unidade de MPO equivale a uma mudança na absorbância de 1,13x10-2 nm. Com os tempos
acima descritos, foi feita uma curva e foi escolhido o tempo de 1 minuto como o mais
representativo do evento.
4.7.5. Dosagem de Malonaldeído (MDA)
O malonaldeído (MDA) é um produto final resultante da peroxidação lipídica, foi
utilizado, neste estudo, para quantificar o aumento de radicais livres presentes na mucosa
(MAYNE, 2003). O conteúdo de MDA foi medido como descrito, em detalhe anteriormente
(SIDDIQUE; ARA; AFZAL, 2012). Resumidamente, as amostras (4 por grupo) foram
suspensas em tampão Trisma (1:5, p/v),cortadas com tesoura, durante 15 seg, em cima de
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uma placa que estava acondicionada com gelo. A suspensão resultante foi homogeneizada
durante 2 min e depois centrifugada a 2500xg, a 4°C, durante 10 min. Combinou-se 300 μl
de sobrenadante de cada amostra com 750 μl de reagente cromogénico [10,3 mM 1-metil
fenilindole em acetonitrilo + 225 μl HCL (37%)] em tubos Eppendorff, sob uma cobertura. A
mistura foi deixada incubando num banho de água morna (45°C) durante 40 min,
centrifugada a 2500×g durante 5 min a 4°C e depois alíquotas de 300 μL de cada tubo
foram lidas por espectrofotometria UV/visível (Bioplus 2000, São Paulo, Brasil) a 586 nm.
Os resultados foram lidos por interpolação em relação a uma curva padrão e são expressos
como nmol/g de tecido.
4.7.6. Dosagem de Glutationa (GSH)
O conteúdo de GSH foi medido como descrito anteriormente na literatura (HU, 1994).
As amostras de da mucosa foram homogeneizadas (4 / grupo) e armazenadas em ácido
etilenodiamina-tetra-acético 0,02 M a -80°C em 0,25 mL de solução a 5%, depois foi
adicionado 320 mL de água destilada e 80 mL de ácido tricloroacético a 50%. As amostras
foram centrifugadas a 3000 x g durante 15 min a 4 ° C. O sobrenadante (400 μL) foi
combinado com 800 μL de tampão Tris 0,4 M (pH 8,9) e 20 μL de ácido ditiobis-2-
nitrobenzóico 0,01 M). A absorbância foi medida a 420 nm, e os resultados são relatados
como unidade de GSH/g de tecido.
4.7.7. Dosagem das concentrações teciduais de IL-1β e TNF-α (ELISA)
Foi realizada a coleta de amostras de mucosa oral (4 por grupo) e armazenamento
a -80C° para depois serem analisadas. Posteriormente essas amostras foram
homogeneizadas e processadas, como descrito, em pormenor, na literatura (SAFIEH-
GARABEDIAN et al., 1995).
Resumidamente, determinou-se interleucina (IL) -1β (intervalo de detecção, 62,5-
4000 pg/mL, limite mínimo de detecção: 12,5 ng/mL) e fator de necrose tumoral (TNF)-α
(gama de detecção, 62,5-4000 pg/mL; Limite mínimo de detecção: 50 ng/ml) usando kits
comerciais de ensaio imunoenzimático (R & D Systems, Minneapolis, MN).
As placas de microtitulação foram revestidas com anticorpos de captura anti IL-1β e
TNF-α durante a noite, a 4°C e incubadas, durante 16 h, depois disso, foram lavadas três
vezes com tampão de lavagem (0,05% de Tween® 20 em PBS, pH 7,2-7,4); realizou-se o
bloqueio por adição de 300 mL de regente (1% de BSA em PBS, pH 7,2-7,4), durante 1
hora; Foram lavadas três vezes com tampão de lavagem, depois foram adicionadas
37
amostras e padrões, e incubadas, durante 2 h, à temperatura ambiente. As placas foram
lavadas três vezes com tampão de lavagem em seguida, adicionou-se 100 ul do anticorpo
de detecção, diluído, em cada poço, durante 2 h, foram lavadas três vezes com tampão de
lavagem, adicionou-se 100 ul da diluição de trabalho de estreptavidina-HRP (1: 5000), em
cada poço, durante 20 minutos, à temperatura ambiente. Realizaram-se as ultimas três
lavagens, com tampão de lavagem e adicionou-se 100 ul de solução de substrato a cada
poço, durante 20 minutos; reação enzimática foi parada com H2SO4 e as medições foram
realizadas com a(CHOMCZYNSKI; SACCHI, 2006)bsorbância a 490 nm. Os valores
resultantes são expressos em pg/mL.
4.7.8. Avaliação da Expressão Gênica por RT-PCR (PCR em tempo real)
A análise por RT-PCR foi realizada com o iniciador de SYBR Green Master Mix. As
amostras de RNA total foram extraídas dos tecidos da mucosa jugal com o reagente Trizol
(Life Technologies, CA) (CHOMCZYNSKI; SACCHI, 2006) e depois isoladas e purificadas
com um Sistema de Isolamento de RNA SV (Promega Corporation, EUA). A concentração
de RNA foi determinada medindo a densidade óptica a um comprimento de onda de 260
nm (OD260), com uma unidade de densidade equivalente a 40 μg/ml de RNA. O cDNA foi
produzido a partir do RNA isolado (5 μg) numa mistura reacional contendo 4 μL de tampão
de reação 5x, 2 μl de dNTP (10 mM), 20 unidades de inibidor de RNase, 200 unidades de
transcriptase reversa de mieloblastose aviária e 0,5 μg de Primer oligo Dt (High-capacity
cDNA Rverse Transcription Kit, Foster City, CA) num volume total de 20 μl. Deixou-se
prosseguir a reação a 42°C durante 60 min e depois extinguiu-se por aquecimento a 70°C
durante 10 min.
A expressão gênica foi avaliada por amplificação por PCR com os pares de
iniciadores (Tabela 1) em placas num termociclador Step-One-Plus (Applied Biosystems,
EUA) de acordo com as instruções do fabricante. Para cada 1×PCR Master Mix, foram
adicionados 2,5 μl de cDNA num volume final de 20 μl. As condições de PCR foram as
seguintes: 95°C durante 5 min, quarenta ciclos de 30s a 95°C, 30s a 52-60°C (alvo) e 60s
a 72°C. A quantidade relativa comparada ao grupo controle (grupo sem ligação + solução
salina) foi calculada pelo método Ct comparativo, em que Ct é o número do ciclo no qual o
nível de fluorescência excede primeiro o limiar. Os valores de Ct reportados foram obtidos
subtraindo os valores de Ct detectados para o gene alvo daquele detectado para um gene
de referência, nomeado, GADPH. A especificidade dos produtos de PCR obtidos foi
confirmada com curvas de melting.
38
4.7.9. Análise de imunomarcação de proteínas (Western-blot)
Os segmentos de tecido da mucosa jugal foram homogeneizados em tampão de lise
4.7.10. Quantificação de leucócitos, análise bioquímica e análise de bacteremia
Para a contagem de leucócitos, amostras de 20 μl de sangue total foram combinadas
com 380 μl de solução de Turk. As contagens totais de leucócitos por mm3 foram
determinadas por procedimentos convencionais de microscopia manual de luz (DE SOUZA;
FERREIRA, 1985).
O soro foi obtido por centrifugação de sangue total sem anticoagulantes a 2.500 rpm
durante 15 min. Os níveis séricos de alanina amino transferase (ALT), aspartato amino
transferase (AST), creatinina e ureia foram determinados com kits de diagnóstico
padronizados (LABTEST®) e espectrofotometria.
Para análise de bacteremia, amostras de 10 μl de sangue total foram diluídas dez
vezes em meio de infusão. O crescimento bacteriano foi analisado após 24h e 48h a 37°C
por análise visual da turvação do meio de cultura, em que a presença de turvação indicou
positividade para a bacteremia.
4.8. ANÁLISE ESTATÍSTICA
Os dados de ensaio enzimático e citocinas foram médias obtidas a partir de
experiências realizadas em triplicatas. Os dados são apresentados como médias de grupo
± erros padrão ou como medianas com intervalos, conforme apropriado. A análise de
variância (ANOVA) seguida pelo teste de Bonferroni foi utilizada para comparar os valores
médios entre os grupos. O teste de Kruskal-Wallis seguido pelo teste de Dunn foi usado
para comparar medianas. As análises estatísticas foram realizadas no software Prism 5.0
(GraphPad, La Jolla, CA). Um valor p <0,05 indicou uma diferença estatisticamente
significativa.
40
5. RESULTADOS
5.1. Efeitos do tratamento com Olmesartana (Olme) nas lesões mucosas e morfologia do tecido.
A mucosa oral (MO) dos animais do grupo 5-FU, não tratados, apresentou lesões
evidenciadas macroscopicamente eritema grave, hiperemia, áreas hemorrágicas e
ulceração extensa (Figura 6C), com media de escore macroscópico 5 (4,5-5) (Tabela 2). O
estudo histopatológico da morfologia do tecido mostrou intenso ingurgitamento vascular e
vasodilatação, acentuada presença de infiltrado inflamatório, predominantemente
neutrofílico, edema e ulceração extensa com formação de abscessos (Fig. 7C, G, K) com
mediana de escore da análise morfológica 4 (4-4) (Tabela 2).
Figura 6. Aspectos macroscópicos da mucosa de hamsters, após 10 dias de experimento: controle (A), Trauma Mecânico (B); 5-FU (C); Olme 1 mg/kg (D), Olme 5 mg/kg (E) e Olme 10 mg/kg (F).
41
Figura 7. Aspectos microscópicos tecidual da mucosa de hamsters, após 10 dias de experimento:. Grupo controle (A, E, I); Trauma Mecânico (B, F, J); 5-FU (C, G, K); Olme 1 mg/kg (D), Olme 5 mg/kg
(H) e Olme 10 mg/kg (L).
Tabela 2. Escores, por grupos, das análises macroscópica e microscópica
Comparado com o grupo 5-FU, o grupo Olme 10mg/kg apresentou, na análise
macroscópica, lesões menos graves, com eritema discreto, mas sem úlceras (Figura 6F)
escore 2 (tabela 2) p<0,05. Histopatologicamente, em comparação com o grupo 5-FU, o
grupo Olme10mg/kg reduziu o infiltrado inflamatório, edema e hemorragia (Figura 7L),
escore 2 (tabela 2). Os grupos Olme1 (Figura 6D) e Olme5 (Figura 6E) apresentaram,
macroscopicamente, presença eritema, hiperemia, áreas hemorrágicas e ulceração
extensa, bem como, histopatologicamente observou-se a presença de infiltrado
inflamatório, com prevalência de neutrófilos, edema, úlceras e abscessos (Fig. 7D e 7H,
respectivamente).
5.2. Estresse oxidativo
Como mostrado na Figura 8A, os níveis de malonaldeído (MDA), um indicador de
peroxidação lipídica, foram diminuídos nas amostras de tecido do grupo controle e Olme10
mg/kg em relação ao grupo 5-FU (p <0,01 e p <0,05, respectivamente). Enquanto os níveis
de glutationa (GSH) no grupo Normal e no grupo Olme 10mg/kg foram aumentados em
relação ao grupo 5-FU (p <0,05) (figura 8B). Observa-se também marcação de SOD menos
intensa nas amostras do grupo Olme10mg/kg quando em comparação com o grupo 5-FU,
p <0,01 (figura 10).
Tabela 4. Contagem de leucócitos e análise de bacteremia.
Figura 8. Níveis de MDA (A) e GSH (B) dosados em fragmentos de mucosa de hamsters, após 10 dias de experimento: nos grupos controle, trauma mecânico, 5-FU, Olme 1mg/kg, Olme 5mg/kg e Olme 10mg/kg.
(*p <0.05, **p < 0.01, ***p<0.001).
A B
43
5.3. Expressão de enzimas, proteínas e genes envolvidos na inflamação e na formação de tecido de granulação
Aumentos na atividade de mieloperoxidase (MPO) no modelo de MO induzida, foram
revertidos com Olme 10 mg/kg em comparação com o grupo 5-FU (p <0,05) (figura 9A). Os
níveis de IL-1β e TNF-α no grupo 5-FU foram aumentados em relação aos níveis
observados para o grupo controle (p <0,05 e p <0,001, respectivamente, Figura 9B e 9C).
Estes aumentos foram compensadas de forma significativa com Olme 10 mg/kg no caso de
TNF-α (p <0,01) e com Olme 5 mg/kg e Olme 10 mg/kg Olme para IL-1β, (p <0,05), Figura
9.
Figura 9. Níveis de MPO (A), IL-1β (B) e TNF-α (C) dosados em fragmentos de mucosa de hamsters, após 10 dias de experimento: nos grupos controle, trauma mecânico, 5-FU, Olme 1mg/kg, Olme 5mg/kg e
Olme 10mg/kg. (*p <0.05, **p < 0.01, ***p<0.001)
B
A
C
44
Figura 10. Fotomicrografias do tecido da mucosa mostrando a imunomarcação para FGF, TGF-β, MMP-2 e SOD. Grupo controle (A, B, C, D), 5-FU (E, F, G, H) e Olme10 mg/kg (I, J, K, L). As imagens são mostradas em uma ampliação de 40 ×. Bar = 100 μm. (* P <0,05; *** p <0,001, teste de Kruskal-
Wallis seguido do teste de Dunn)
45
Os efeitos do tratamento com Olme sobre as alterações induzidas por MO nos
marcadores IHC foram evidentes com Olme 10 mg/kg (Figura 10). O tratamento com Olme
10 mg/kg resultou em FGF, TGF-β e MMP-2 mais intensos em relação ao grupo controle,
p <0,05.
A análise da expressão relativa do genes por RT-PCR, observou-se que os grupos
controle e Olme 10mg/kg apresentaram uma menor expressão de NFKBp65 em relação ao
5-FU (p <0,001 e p <0,05, respectivamente, figura 11). Controle e Olme 10 mg/kg
aumentaram a expressão de expressão de RNAm de PI3K (p <0,05 e p <0,001,
respectivamente), em relação aos níveis observados no grupo 5-FU. Os grupos controle e
Olme 10mg/kg reduziram a expressão de MKP1 em relação à de 5-FU (p <0,001, figura
11).
Figura 11. Análise RT-PCR em tempo real da expressão gênica. Efeitos de Olme sobre NF-kB p65, Pi3K e MKP1 expressão de mRNA .(*** p <0,001* p <0,05) (N = 4 animais por grupo; Análise
duplicada, teste ANOVA seguido de Bonferrone).
46
A análise dos níveis de expressão de proteína de ERK2 e iNOS mostrou que os
níveis no grupo Olme 10 mg/kg foram significativamente menores (p<0,05, para ambos),
em relação ao grupo 5-FU, como consta na figura 12.
Figura 12. Immunoblotting. iNOS, ERK 1/2. As bandas foram visualizadas com um sistema ECL (BioRad). O sinal de quimioluminiscência foi detectado com um sistema ChemiDocTM XRS (BioRad)
e quantificado densitométricamente no software ImageJ (NIH, Bethesda, MD). (* P <0,05)
47
5.4. Efeitos sistêmicos da Olmesartana
Níveis de enzimas hepáticas (ALT e AST) e marcadores de função renal (ureia e
creatinina) não diferiram significativamente entre os grupos (Tabela 3). Os animais do grupo
5-FU (25000 + 11174 mm3), tinham níveis de leucócitos significativamente aumentados em
comparação com o grupo Normal (p <0,001, Tabela 4), o que não foi observado nos grupos
Olme.
Os resultados de análise de bacteremia de cada grupo estão descritos na Tabela 4.
Enquanto no grupo controle apenas uma amostra exibe bacteriemia, os grupos 5-FU, Olme
1mg/kg, Olme 5mg/kg e Olme 10mg/kg apresentaram bacteriemia (+) em praticamente
mostraram previamente que o antagonismo do receptor AT1 com telmisartan, inibe a
ativação de NF-κB induzida por TNFα em células B. Neste estudo, o antagonismo do
receptor AT1 com Olme 10mg/kg reduziu significativamente a expressão genética relativa
de NFKBp65, contudo, apenas doses as duas doses mais elevadas reduziram os níveis da
citocina inflamatória IL-1β e apenas a dose mais elevada reduziu os níveis de TNF-α. A
maior concentração de Olme 10 mg/kg também proporcionou benefícios morfológicos
discretos, incluindo vasodilatação e re-epitelização, infiltração inflamatória discreta com
prevalência mononuclear, prevenção de áreas hemorrágicas, edema, ulcerações e
abscessos.
Observou-se redução da expressão gênica da fosfatase-1 da proteína quinase
ativada por mitógeno (MKP1) no grupo Olme 10mg/kg, provavelmente resultante da
diminuição do estresse oxidativo celular, tendo em vista que sua ativação se dá por meio
desse estresse (CHANG et al., 2015). A MKP1 desencadeia a ativação da via de quinase
regulada extracelularmente (ERK), esta via constitui uma cascata de eventos de ativação
enzimática por meio de fosforilações resultando na ativação da ERK 1/2 e seus substratos,
essencial para a proliferação e diferenciação celular (MANSOUR et al., 1994), que
desempenha um papel importante na regulação da expressão da citocina pro-inflamatória
IL-1β (WANG et al., 2004). Acreditamos que os níveis reduzidos de IL-1β observados com
o tratamento com Olme estão relacionados à regulação negativa de ERK1/2, sugerindo que
50
a dose de Olme 10mg/kg também deve regular negativamente a proteína quinase ativada
por mitógeno MAPK/ERK.
O fator de estimulação de colónias de granulócitos (GM-CSF), que pode ser regulado
positivamente por ERK2, estimula a proliferação e diferenciação de progenitores de
neutrófilos (CHANG et al., 2015). Assim, a atividade reduzida de ERK2 pode ter contribuído
para a redução da extensão de neutrófilos (atividade MPO) observada no nosso grupo
Olme10 mg/kg. O equilíbrio da expressão dos fatores TGF-β e FGF-2 envolvidos na
formação de tecido de granulação essencial para a cicatrização de feridas (PAKYARI et al.,
2013) percebido no grupo Olme 10mg/kg, em relação aos grupos controle e 5-FU, são
consistentes com a fase final de formação de tecido de granulação, associada ao equilíbrio
na marcação de metaloproteinase-2 (MMP2), que participa da degradação da matriz
provisória. Acredita-se que o aumento da imunomarcação no grupo 5-FU deve-se a super-
estimulação desses fatores pela exacerbação do processo inflamatório.
Ao mesmo tempo, o grupo Olme 10mg/kg também apresentou expressão
aumentada de Pi3K, bem caracterizada pelo seu papel na sobrevivência celular e pode
representar um mecanismo compensatório em relação as vias do NF-kB e MAPK, com
objetivo de limitar os eventos pró-apoptóticos e pró-inflamatórios em resposta ao estímulo
séptico (LIU et al., 2009). A expressão aumentada de PI3K, representa uma tentativa do
organismo de conter o processo inflamatório instalado, desencadeado pela toxicidade
direta e indireta causada pelo agente antineoplásico, tal aumento é benéfico quando se
trata da redução dos efeitos colaterais da terapia, em especial a mucosite, porém a literatura
tem demonstrado que a ativação da via Pi3K pode apresentar-se como um mecanismo de
resistência ao tratamento (DUBROVSKA et al., 2009; HSIEH et al., 2012; LIU et al., 2009).
Na fase de proliferação da cicatrização, a matriz de ferida provisória formada durante
a hemostase é substituída por tecido de granulação, que consiste em fibroblastos,
granulócitos, macrófagos e vasos sanguíneos em complexo com colágeno. Os fibroblastos,
que migram principalmente da derme próxima para a ferida, em resposta a citocinas e
fatores de crescimento (por exemplo TGF-β e FGF) produzidos por plaquetas e macrófagos
em tecidos danificados, desempenham um papel central na granulação de tecidos. Uma
vez na matriz da ferida provisória, proliferam os fibroblastos que sustentam a organização
do tecido (LANDÉN; LI; STÅHLE, 2016).
Foi possível notar, baseado nas análises bioquímicas que não houveram alterações
hepáticas e de função renal, indicando a boa tolerabilidade dos fármacos em função da
51
ausência de toxicidade para com esses órgãos, fato já presente na literatura (WANG et al.,
2012). A relevância maior desse dado se deve, em especial, devido à associação com o
quimioterápico, 5-fluorouracil. Outro dado obtido das análises bioquímicas foi o aumento
significativo da contagem de leucócitos no grupo 5-FU, o que não foi observado nos grupos
Olme, levando a crer que a atenuação da resposta inflamatória também reduziu a
leucocitose. Enquanto a análise de bacteremia apontou bacteremia positiva, indicando
presença sepse em todos os grupos, a exceção do grupo controle, devido à
imunossupressão causada pela terapia antineoplásica e presença de ulceração na
cavidade oral, servindo como acesso fácil para as infecções (MCCARTHY et al., 1998).
52
7. CONCLUSÃO
Em conclusão, a utilização de Olmesartana em uma dose de 10 mg/kg previniu o
aumento dos marcadores inflamatórios e do estresse oxidativo. Consequentemente,
observou-se que a Olmesartana pode minimizar o estresse oxidativo e a resposta
inflamatória do organismo, o que tende a ser um avanço em se tratando da mucosite oral.
Faz-se necessário continuar as pesquisas para determinar se pacientes hipertensos
com câncer poderão se beneficiar do efeito anti-inflamatório e antioxidante mediado pela
Olmesartana.
53
8. REFERÊNCIAS
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