UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE ECONOMIA RICARDO CRISTIAN DE OLIVEIRA CABRAL A CRISE DA DÍVIDA SOBERANA EUROPEIA NATAL/RN 2014
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
DEPARTAMENTO DE ECONOMIA
RICARDO CRISTIAN DE OLIVEIRA CABRAL
A CRISE DA DÍVIDA SOBERANA EUROPEIA
NATAL/RN
2014
RICARDO CRISTIAN DE OLIVEIRA CABRAL
A CRISE DA DÍVIDA SOBERANA EUROPEIA
Orientador: Prof. Dr. Zivanilson Teixeira e Silva
NATAL/RN
2014
Monografia de Graduação
apresentada ao Departamento de
Economia da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte, para obtenção
do título de Bacharel em Ciências
Econômicas.
Catalogação da Publicação na Fonte.
UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA
Cabral, Ricardo Cristian de Oliveira. A crise da dívida soberana europeia / Ricardo Cristian de Oliveira Cabral. -
Natal, RN, 2014. 55 f. Orientador: Prof. Dr. Zivanilson Teixeira e Silva. Monografia (Graduação em Economia) - Universidade Federal do Rio Grande do
Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Departamento de Economia. Curso de Graduação em Ciências Econômicas.
1. Economia - Monografia. 2. Crise econômica europeia - Monografia. 3. Divida
financeira - Monografia. 4. Banco Central Europeu - Monografia. I. Silva, Zivanilson Teixeira e. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. RN/BS/CCSA CDU 338.124.4
RICARDO CRISTIAN DE OLIVEIRA CABRAL
A CRISE DA DÍVIDA SOBERANA EUROPEIA
Aprovado em: ____________________
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________
Prof.
Orientador: Dr. Zivanilson Teixeira e Silva
DEPEC UFRN
____________________________________________
Prof.ª
Examinadora: Ma. Maria da Luz Gois Campos
DEPEC UFRN
Monografia de Graduação
apresentada ao Departamento de
Economia da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte, para obtenção
do título de Bacharel em Ciências
Econômicas.
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho ao Deus, criador dos céus e da terra, ao Deus Abraão, de
Isaque e de Jacó. Que habita nesta humilde morada, que me consola e me justifica
que me deu a alegria da salvação eterna. Todos os dias o Senhor tem me dado
forças, me ajudando a caminhar por veredas retas e a crescer debaixo de sua
proteção.
AGRACIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus pela beleza da vida e por tudo que ele coloca nos
meus caminhos, por todos os desafios e por este trabalho. Nestes últimos dias pude
ver a sua mão sobre mim.
Agradeço a minha esposa Meire, que está todos os dias ao meu lado. Com palavras
de ânimo ou não ela é parte de mim. Estar ao seu lado já é um grande presente de
Deus. Agradeço pela força que ela me tem dado, por ter persistido em muitas noites
para eu não ir dormir cedo e ficar estudando.
Agradeço aos meus pais por todo esforço que fizeram para pagar parte de meus
estudos e pela fé que tiveram e ainda tem em mim.
Agradeço ao meu grande orientador ao prof. Dr. Zivanilson Teixeira e Silva. Nunca
conheci um homem tão insaciável no estudo da Ciência Econômica. O ato de
apenas conversar com ele me dá motivação para estudar mais e aprofundar os
meus conhecimentos. Agradeço também a sua paciência e atenção.
Agradeço aos meus amigos, em especial a João Batista, que me deu muitas ideias
durante a elaboração deste trabalho, emprestou livros e me motivou.
Agradeço aos meus colegar de trabalho, aos meus supervisores e gerentes que
conheci nos Correios, me mostraram que a vida não é fácil como eu achava, aprendi
com isso que sou mais forte do que eu pensava ser.
Não posso deixar de agradecer a minha psicóloga Martina Galvão, que me
acompanhou durante dias bem difíceis na minha vida. Só Deus sabe o quanto eu
precisava apenas falar contigo e te ouvir.
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
BCE: Banco Central Europeu
BCN: Bancos Centrais Nacionais
CEE: Comunidade Econômica Europeia
CEEA: Comunidade Europeia de Energia Atômica
EDP: Procedimento dos Déficits Excessivos
FMI: Fundo Monetário Internacional;
HIF: Hipótese da Instabilidade Financeira
JAI: Justiça e Assuntos Internos
PESC: Política Externa e de Segurança Comum
PIIGS: Termo pejorativo usado para representar o conjunto dos países composto por
Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha;
SEBC: Sistema Europeu de Bancos Centrais
UME: União Monetária Europeia;
UE: União Europeia;
Troika: denominação dada ao conjunto formado pela UE, BCE e pelo FMI;
TUE: Tratado da União Europeia
RESUMO
As crises econômicas são reais e características do sistema capitalista. Esse projeto
trata de um estudo de caso, trazendo a tona uma discussão a respeito da crise da
“Dívida Soberana Europeia” em meados de 2009 a 2013, com suas principais
causas e efeitos. Um fator marcante foi a sua propagação mundial e sua relação
direta com a crise norte-americana, onde muitos autores afirmam tratar da mesma
crise. Assim, observando a história da União Europeia, os seus tratados e a criação
do euro, a “bolha do euro”, a inter-relação da crise norte-americana com a europeia,
o processo de globalização das finanças, a investida dos agentes privados, as
intervenções governamentais e a atmosfera de desconfiança dos agentes, revelou
uma Europa fragilizada e a nações como Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha e Itália,
o elo fraco. A abordagem de modelos teóricos de cunho histórico, apresentando
algumas patologias presentes nas crises financeiras, e a se intensificação na análise
da Hipótese da Instabilidade Financeira, foram alicerces teóricos fundamentais para
elaboração deste trabalho. Conquanto, não menos importante, os diversos autores
adeptos de escolas keynesianas, marxistas, austríacas, entre outras, com sua
produção científica a respeito da crise europeia contribuíram de maneira
fundamental. A metodologia usada foi do tipo qualitativa, de pesquisa exploratória
em estudo de caso. Os resultados obtidos deram validade aos modelos teóricos
empregados em consonância com os fatos históricos, os fenômenos incidentes e
com os gráficos, que forneciam uma representação visual da realidade do PIB, da
taxa de desemprego e do grau de endividamento de alguns países, durante o
período de análise.
PALAVRAS-CHAVE: Crise Financeira; Dívida Soberana; Euro; Banco Central
Europeu.
ABSTRACT
Economic crises are real and characteristics of the capitalist system. This project is a
case study, bringing out a discussion about the crisis of the "European Sovereign
Debt" in mid 2009 to 2013, with its main causes and effects. A striking factor was its
global spread and its direct relationship with the US crisis, where many authors state
treat the same attack. So, looking at the history of the European Union, its treaties
and the creation of the euro, "the euro bubble", the interrelationship of the US crisis
with European, the process of globalization of finance, the onslaught of private
agents, government interventions and the atmosphere of distrust of agents, showed
a weakened Europe and the nations like Greece, Ireland, Portugal, Spain and Italy,
the weak link. The approach of theoretical models of historical nature, with some
pathologies present in financial crises, and to intensify the analysis of Financial
Instability Hypothesis, were fundamental theoretical foundation for this study.
Although, not least, the various authors supporters of Keynesian schools, Marxist,
Austrian, among others, with its scientific production about the European crisis was a
key contributor. The methodology used was the qualitative type of exploratory
research in case study. The results gave validity to the theoretical models used in
line with the historical facts, incidents and phenomena with the graphics, which
provided a visual representation of the reality of GDP, the unemployment rate and
the degree of indebtedness of some countries during the period analysis.
KEY WORDS: Financial crisis; Sovereign Debt; Euro; European Central Bank.
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Taxa de crescimento real do PIB – 2009.................................................39
Gráfico 2 - Taxa de crescimento real do PIB - 2011.................................................40
Gráfico 3 - Taxa de crescimento real do PIB - 2013.................................................41
Gráfico 4 – Taxa de Desemprego – Média de 3 anos...............................................42
Gráfico 5 – Dívida pública bruta (conceito EDP) - % do PIB - 2009..........................43
Gráfico 6 – Dívida pública bruta (conceito EDP) - % do PIB - 2013..........................44
Gráfico 7 – PIB a preços correntes de 2009 e 2011..............................................
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO......................................................................................................12
2. A UNIÃO EUROPEIA...........................................................................................15
2.1. Breve Histórico...............................................................................................15
2.2. O Euro e o Banco Central Europeu................................................................18
3. REFERÊNCIAL TEÓRICO...................................................................................22
3.1. Manias, Bolhas e Pânicos..............................................................................23
3.2. O Legado Minsky............................................................................................25
3.2.1. Hipótese da Instabilidade Financeira....................................................26
3.2.2. O Momento Minsky...............................................................................29
4. ESTADO EM CRISE.............................................................................................31
4.1. Dos Estados Unidos para Resto do Mundo...................................................31
4.2. Europa em Pânico..........................................................................................33
4.3. Estado de Crise e Intervenção.......................................................................39
4.4. Os Gráficos da Crise......................................................................................41
5. A CRISE SOB UM NOVO OLHAR.......................................................................48
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................51
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................52
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1. INTRODUÇÃO
O sistema capitalista possui uma estrutura de constantes inovações, onde as
crises são personagens predominantemente participantes na história do capitalismo
global. Observando o desenvolvimento do capitalismo global e o seu consequente
processo de mundialização em nas suas diversas faces e formas levaram as crises
há uma repercussão de amplitude mundial, pois os mesmos estão hoje interligados.
A fragilidade de uma nação influente financeiramente pode revelar o quão
frágeis são os mercados, principalmente os seus bancos. Por isso, como iremos
observar, como mais uma das inovações do sistema capitalista, os governos criaram
amortecedores para possíveis crises e na maioria das vezes, tomam medidas
sempre que o mercado sinaliza uma possível crise. A questão é saber se as
medidas adotaram surtiram efeitos positivos sobre a economia ou não. Os riscos de
uma nação cair em uma espiral depressiva são reais, assim como a sua repercursão
para o mundo.
Com a crise da Dívida Soberana em 2009, que atingiu toda a economia
europeia, em um cenário de recente eclosão da Crise das Hipotecas Subprime
norte-americana em 2007. Seus efeitos ainda repercutiram choques negativos nas
economias de todo o mundo, aumentaram o nível de desconfiança dos agentes em
todo o mercado financeiro. Esses fatos históricos levou o mundo a pensar mais uma
vez sobre os reais catastróficos efeitos de uma crise sistêmica.
Neste projeto “veremos de perto” a crise econômica e financeira que
acometeu a Europa a partir 2009. Afetando a União Europeia e agravando ainda
mais nos países participantes da Zona do Euro. Tendo em vista estudar o real
endividamento soberano de diversas nações do bloco.
Há necessidade desta análise por se tratar de um cenário singular, nunca
antes acometido pela história das catástrofes econômicas. Mesmo sabendo que as
crises econômicas que acometeram muitas nações do globo terrestre podem
apresentar algumas particularidades. Uma das proezas do capitalismo é de sempre
inovar a sua estrutura e sempre criar novos cenários para interagir com os
mercados. Assim os cenários e fenômenos transcorridos dentro de uma determinada
economia capitalista nunca serão os mesmos e as crises também não serão as
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mesmas, embora todas apresentem algumas patologias observáveis como
prenúncio.
Este presente trabalho tem como justificativa: o estudo de uma recente
recessão mundial, onde até os dias atuais, durante o momento que escrevo este
trabalho, muitos países ainda sofrem suas consequências; o interesse do autor pelo
o assunto; estimular a discussão da temática, alimentando um ambiente de difusão
do conhecimentos; e por fim, de levar os leitores há uma compreensão mais perfeita
do cotidiano econômico europeu e das crises internacionais.
Quanto a metodologia deste projeto trata-se de uma revisão da literatura. É
uma pesquisa qualitativa com uma concepção filosófica construtivista social e
histórica, que segundo Creswell (2010) é um concepção que busca entender o
mundo em que vivemos e trabalhamos, com sentido de extrair sentido dos
significados ou interpretar os fenômenos no mundo.
O seu foco será no estudo de caso, sobre a crise na UE, seguindo uma
abordagem histórica, quanto ao acontecimento de fenômenos particulares dentro da
economia e usufruindo das teorias voltadas a estes fenômenos em particular, tendo
como principais os escritos Kindleberger e Aliber (2014), Hyman Minsky (2010),
Krugman (2012) e Bargus (2012).
“..., a teoria não é uma instância acessória ou subordinada relativamente ao
registro dos dados. Também não é uma simples elaboração que vem
coroar, no fim do processo, os resultados da investigação. Pelo contrário, é
um meio de produção dos factos científicos. Não é possível separá-la dos
dados nem subordiná-la a eles sem alterar as etapas e princípios
elementares de uma investigação científica.” (CASTELLS e IPOLA, p.33,
1973)
A revisão literária foi feita por intermédio de textos de livros, artigos,
monografias, periódicos, reportagens entre outros. Onde muitos foram encontrados
na internet. Sua coleta consiste na busca de textos de autores que estudaram sobre
o fenômeno em particular e tenham certa capacidade explicativa sustentável,
propiciando respostas plausíveis aos objetivos geral e específicos, e as hipóteses do
mesmo.
14
O objetivo principal é descrever os principais motivos e efeitos da crise em
meados de 2009 até 2013. Conquanto, para alcançar o objetivo geral, é necessário
cumprir objetivos específicos: (i) conhecer a história da formação da União Europeia,
do Banco Central Europeu e do euro, (ii) conhecer as patologias de uma crise
descritas Kindleberger e Aliber (2014) e a Hipótese da Instabilidade Financeira de
Minsky (2010), (iii) descrever o colapso europeu, (iv) identificar e confrontar a crise
com o teoria observada.
A hipótese principal deste estudo é classificar como verdadeira ou falsa se a
crise norte-americana, que iniciou em 2007 tem consequência direta com o colapso
catastrófico na União Europeia em 2009 ou se advém de outro fenômeno em
particular.
No intuito de testar as hipóteses e alcançar tantos os objetivos específicos
quando o objetivo geral, o presente trabalho está dividido em sete partes. A primeira
delas é esta breve introdução. O Capítulo 2 discorre sobre a formação da União
Europeia, do Banco Central Europeu e da adesão do euro, fundamentais para o
entendimento da dinâmica da UE. O capítulo 3 os modelos teóricos de Kindleberger
e Aliber (2014) e de Hyman Minsky (2010), constituindo a base de sustentação da
pesquisa. No capitulo 4, sendo o mais complexo e rico em informações é abordado
os mecanismos de transmissão da crise norte-americana para o resto do mundo, a
crise europeia, as medidas adotadas para combater a crise na UE e os gráficos da
crise. No capítulo 5, de forma breve, foram confrontados o referencial teórico,
abordado no capitulo 3, com a crise europeia, demonstrando o seu poder explicativo.
Por fim, teremos no capítulo 7 as considerações finais e os resultados esperados.
15
2. A UNIÃO EUROPEIA
Ao se analisar a União Europeia (UE), há uma excêntrica história de
integração entre países. A UE forma hoje o maior bloco integração regional entre
Estados, não apenas no número de membros, mas também pelo escopo abrangido
desse processo de integração. Sua constituição se deu a partir de tratados firmados
em diversos momentos históricos, que tem a finalidade de alcançar um processo
avançado de integração econômica e monetária. Conquanto para alguns teóricos, à
formação do bloco esteve no epicentro da Guerra Fria. Entretanto, não é de
interesse deste trabalho dissertar sobre as conspirações políticas em torno da UE.
A UE distinguiu-se das outras organizações, pois os seus 28 Estados
membros se abdicaram em parte de sua respectiva soberania em prol da instituição,
cedendo à instituição poderes próprios e independentes que possibilita atuar e
promulgar atos equivalentes aos nacionais. Seus principais protagonistas hoje são:
os Estados membros, o Conselho Europeu, o Conselho da União Europeia, o
Eurogrupo, a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Parlamento
Europeu.
2.1 BREVE HISTÓRICO
Após a Segunda Guerra Mundial, em um período de construção de um novo
mundo, uma proposta de unificação é visivelmente capaz de gerar boas relações
interestatais e assim evitar novas guerras. Os diversos tratados levaram essa
proposta adiante e são os alicerces da União.
O Nobel em economia, Paul Krugman (2012), falou a respeito da
constituição da União Europeia o caracterizando como um experimento nobre, que
se empenhou em reformar pela integração econômica de um continente dilacerado
pela guerra. Ainda disse mais, a respeito do primeiro tratado.
“Ao estabelecer o livre-comércio nas transações com carvão e aço – ou
seja, ao eliminar todas as tarifas e todas as restrições às entregas
transfronteiriças, de modo que as siderúrgicas pudessem comprar carvão
do produtor mais próximo, mesmo que estivesse do outro lado da fronteira -,
16
o pacto gerou ganho econômico. Mas também criou condições para que as
siderúrgicas francesas confiassem no carvão alemão e vice-versa, para que
quaisquer hostilidades futuras entre os países fossem extremamente
destrutivas e, assim se esperava inimagináveis.” (Krugman, 2012, p 154)
Dentre os sete principais tratados, o primeiro deles foi o Tratado de Paris em
1951, com a participação da Alemanha, Bélgica, França, Itália, Luxemburgo e dos
países baixos, onde fora criada a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, sendo
estas matérias-primas estratégicas para uma indústria europeia em reconstrução. A
novidade deste tratado foi à fundação de uma agência de administração, que
poderia aprovar regulamentos, formando assim, a primeira organização com
características supranacionais.
Estes mesmos seis países, em 1957 subscreveram outros dois acordos, os
Tratados de Roma, estabelecendo a Comunidade Europeia de Energia Atômica
(CEEA) e a Comunidade Econômica Europeia (CEE). Já em 1986, o Ato Único deu
mais força para a construção da União Europeia com foco na criação de um
mercado único, que foi completado em 1º de janeiro de 1993, revisando os tratados
de Roma. Desta vez, subscrito por mais países, como o Reino Unido, a Irlanda,
Portugal, Dinamarca, Grécia e Itália. Alteraram também algumas regras relacionadas
a instituições das Comunidades Europeias, ampliação de poderes nos setores do
desenvolvimento, entre outras transformações que possibilitaram o fortalecimento da
integração em termos políticos e também caminhando a uma União Econômica e
Monetária.
O Tratado de Maastricht, conhecido também como o Tratado da União
Europeia (TUE), assinado em 1992 e em vigor a partir de 1º de novembro de 1993,
criou a União Europeia, onde o termo União representou o avanço deste projeto
histórico de integração. Cria assim, uma união entre países com sua estrutura
fundamentada em três pilares. O primeiro pilar, o da Comunidade Europeia,
substituindo à antiga CEE, diz respeito aos domínios em que os Estados-Membros
exercem conjuntamente sua soberania através de instituições comunitárias; o
segundo pilar instaura a Política Externa e de Segurança Comum (PESC), que prevê
que os Estados possam exercer ações comuns em matéria de política externa; e por
fim, o terceiro pilar engloba a Justiça e Assuntos Internos (JAI), é um processo de
igualdade intragovernamental que procura levar uma ação conjunta entre as nações
17
da UE, com o interesse de proporcionar aos cidadãos um espaço de liberdade,
segurança e justiça.
O avanço no Tratado de Maastricht, desperta o fato de que, a integração na
União Europeia não engloba apenas o universo de uma união econômica e
monetária, mas também de uma união política. Como observado anteriormente nos
três pilares do Tratado, ou em transformações mais acentuadas, como na
subscrição de protocolos sociais, na instituição de uma cidadania paralela dentro
dos Estados-membros, ou na validação paralela dos diplomas dos Estados-
membros.
O Tratado de Amsterdã em 1997, o de Nice em 2001 e o de Lisboa em
2007, focaram na criação e reformulação das leis e instituições para uma nova
configuração política e econômica, onde o maior objetivo é de desenvolver e adaptar
à União um sistema correspondente com a adesão de novos Estados-membros e
levar a um novo processo evolutivo da União Europeia. O último dos sete principais
tratados, o Tratado de Lisboa, traz mudanças como o reforço do Parlamento
Europeu, a carta dos direitos fundamentais, criação de cargos de presidente
permanente do Conselho Europeu, uma personalidade jurídica, entre outras
mudanças, onde a finalidade é não só adequar, mas progredir neste processo de
integração regional.
Enfim, talvez não se imaginasse o quão longe esses tratados pudessem
chegar. Resumidamente, observa-se que a edificação da União Europeia, no seu
processo histórico, político e econômico, visa à criação de um sistema avançado de
integração, diferente de qualquer outro no mundo, onde o mesmo no decorrer de
novas conferências e posteriormente com novos tratados tentará consolidar um nível
mais elevado. Conquanto, mesmos estes avanços e as diversas diretrizes que
regem tal sistema, a procura por uma harmonização orçamentária, os choques
passados e os de 60 anos de experiência, não foram suficientes para impedir uma
crise neste grupo de integração entre países. As diversas reuniões, planejamentos
conjuntos e ajustamentos preventivos, em meio a uma realidade de limitação
racional e de exatidão imprevisível dos mercados, não foram suficientemente
capazes de isentar a UE de um estado de crise.
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2.2 O EURO E O BANCO CENTRAL EUROPEU
O Bundesbank, o antigo Banco Central Alemão, formulou uma estrutura de
um Banco Central independente com a missão principal de manter a instabilidade
dos preços. Como nada é por acaso, essa rigidez do Bundesbank, foi formada a
partir dos anseios da nação alemã, que sofreu históricas crises inflacionárias,
principalmente devido às duas Grandes Guerras. Conhecido como um banco anti-
inflacionista, as outras nações da zona do euro acreditavam, que o exemplo do
Bundesbank e a força do marco alemão trariam ao euro certa estabilidade de preços
para as muitas nações inflacionistas, influenciando diretamente o BCE.
Segundo Bargus (2012), no que diz respeito aos ganhos de competitividade
dentro do bloco europeu, a nação alemã, mesmo tendo de se abster do marco
alemão, uma moeda forte e controlada pelas políticas do conhecido Bundesbank, a
introdução do euro, era defendida por políticos, bancos e indústrias com fortes
conexões políticas, principalmente no setor exportador, em primeiro lugar para se
livrar das políticas monetárias rígidas de um banco independente e nacional. Assim,
uma nova moeda e um novo banco, para as classes dominantes implicariam em
mais poder. Deste modo, os políticos europeus poderiam se esconder atrás do BCE
o influenciando, e o responsabilizando pelas consequências geradas por altos
gastos e endividamentos.
Em 2002 o Euro passa a ser a moeda oficial do bloco, segundo dados do
Banco Central Europeu (BCE). A União Monetária Europeia (UME) em 2014, conta
com 18 países participantes, que são: Alemanha, Áustria, Bélgica, Chipre,
Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estônia, Finlândia, França, Grécia, Irlanda, Itália,
Letônia, Luxemburgo, Malta, Países Baixos e Portugal. Os seguintes Estados-
membros da União Europeia, que não aderiram a UME, continuam com seus
Bancos Centrais próprios, que são: Bulgária, Croácia, Dinamarca, Hungria, Lituânia,
Polônia, Reino Unido, República Checa, Romênia e Suécia.
A criação do euro chamou a atenção de muitos pesquisados, quanto aos
seus reais benefícios e seus malefícios. O que faz uma nação abdicar da soberania,
quanto ao seu sistema monetário, à força de sua moeda? Para esta pergunta, a UE
afirma que sua principal criação é para reduzir os custos de transação, facilitando o
19
comércio, o turismo e o crescimento econômico da Europa. Alegando também, que
a dimensão e a força da zona do euro protegem-na dos choques econômicos
externos, como a subida inesperada do preço do petróleo ou a perturbação dos
mercados cambiais.
A UE, também afirma que o euro entrega aos cidadãos da União um símbolo
tangível da sua identidade europeia, da força de sua integração. Para reforçar essa
identidade surge a necessidade de se criar uma organização monetária
supranacional, o BCE, que se deu pela criação de uma rede com os Bancos
Centrais Nacionais (BCN), transformando-os num Sistema Europeu de Bancos
Centrais (SEBC), em um subconjunto denominado de Eurossistema. Sendo assim,
todo o sistema é organizado a partir do BCE.
Para Bargus (2012) a criação de uma moeda única era vista como o primeiro
e essencial passo rumo à criação de um estado europeu, colocando o euro como
uma tentativa de partes socialistas em criar um Estado Central. Além de alegar que
não é necessária a presença do euro para que haja uma Europa economicamente
integrada. Cita como exemplo, países como o Reino Unido e a Suécia, que não
utilizam o euro, mas usufruem das liberdades econômicas do bloco.
Segundo Gary (2010), devemos lembrar que antes da União Monetária
Europeia, as questões monetárias eram resolvidas por bancos centrais de suas
respectivas nações. Bancos centrais representados por governos centrais. O euro é
um experimento novo, em que apenas um banco central, o BCE opera atualmente
para os 18 países membros.
Os Estados-membros da UME não controlam sua política monetária, é o
Banco Central Europeu que as coordena. Para os Estados-membros ficam a
responsabilidade particular de administrar, às vezes, até de maneira compensatória,
na sua política fiscal. Porém a independência do BCE é questionável, para Bargus
(2012), os presidentes de bancos centrais são nomeados por políticos e seus
mandatos estão sujeitos a mudanças implementadas pelo Congresso. Assim, o
mesmo teria a função de exercer a estabilidade dos preços e atender as decisões
econômicas do Conselho da União Europeia.
20
É interessante sabermos, que os reais objetivos hierárquicos do BCE,
conforme suas próprias diretrizes é garantir a estabilidade de preços em primeiro
lugar e depois, em segundo lugar velar pela estabilidade do sistema financeiro. A
própria introdução do Banco Central Europeu e do euro gera uma pressão política e
fiscal das nações. Se as nações necessitarem financiamento público obtido através
de medidas inflacionárias, políticas monetárias devem ser atendidas por meio de
acordo comum entre as partes que compõe o BCE, e esse processo pode ser
vagaroso. Quanto a sua implementação, pode gerar contraposições políticas.
O BCE exerce total controle da esfera monetária, tendo poder para criar
dinheiro e afetar ou moldar, de acordo com seus interesses o destino da UE.
Lembramos que a criação de mais moeda pode gerar aumento de preços e afetar o
fluxo de bens e serviços, assim como a escassez de moeda geral o efeito inverso.
Além do mais não podemos esquecer que o mesmo, em suas políticas pode afetar
diretamente a determinação das taxas de juros.
Scheller (2004) afirma que o BCE é uma instituição independente. Sendo a
sua independência o corolário do seu objetivo primordial de manutenção da
estabilidade de preços e da sua competência exclusiva em matéria política de
monetária. Quanto ao euro, deve estar protegido contra todos os tipos de influência
que possam ser adversos à concretização do seu objetivo primordial, que é a
estabilidade de preços.
Um fato interessante a se destacar, quando se fala em um Banco Central
Independente é que, via de regra, sua constituição deve ser de analistas criteriosos
e compromissados em controlar níveis baixos de inflação. Porém, segundo Crocco e
Jayme Jr. (2003), aceitando o fato de que uma política monetária pode afetar
permanentemente o nível de atividade econômica é necessária adotar também a
hipótese de que deve haver uma coordenação entre a política fiscal e monetária,
pois uma não coordenação de políticas pode gerar conflitos e serem altamente
prejudiciais ao desenvolvimento de uma nação.
Krugman (2012), ao falar do euro, destacou que uma moeda envolve custos
reais que pode ser evitados com a adoção de uma moeda comum gerando ganhos
de eficiência no compartilhamento: os custos das empresas declinam, e o
21
planejamento da empresa tende a melhorar. Porém, destacou que há vantagens
significativas em se ter a própria moeda, das quais cita a exemplo, que a sua
desvalorização pode facilitar o processo de ajuste de uma nação a choques
econômicos.
Como fato, não hipotético, o Krugman (2012) cita o surto habitacional
espanhol financiado pelas enormes entradas de capital da Alemanha, que ateou a
inflação e empurrou para cima os salários da Espanha em comparação com os da
Alemanha. Porém com a recessão a Espanha hoje precisa reorientar sua economia
de volta a indústria, mas nessa altura as empresas da Espanha perderam ganhos de
competitividade, pois os seus salários são muito altos com relação aos da
Alemanha. Se tivesse uma moeda própria poderia reajustar essa diferença nos
salários entre os países, através do cambio, mas como aderem à mesma moeda a
solução é tentar conscientizar os trabalhadores a receberem menos.
22
3 REFERÊNCIAL TEÓRICO
Dentro das Ciências Econômicas há um universo de linhas ou escolas de
pensamento, onde cada qual, busca a sua maneira de explicar um determinado
fenômeno sem perder a sustentabilidade de seus fundamentos teóricos. Caso
contrário, dever-se-á buscar nossos fundamentos para sustentar a sua linha de
pensamento em particular, aderir a uma nova escola já existente, ou fundar um novo
ponto de vista, uma nova escola. Podemos assim afirmar que as Ciências
Econômicas é uma ciência em constante evolução e de diferentes pontos de vista,
que fornece, em alguns casos, várias explicações para um mesmo fenômeno.
As escolas, ou as linhas de pensamento, construídas foram fundamentadas
em anos de evolução do pensamento econômico e algumas delas moldadas por
interesses políticos. São as diversas maneiras, que os cientistas econômicos
encontraram para estudar e observar a realidade dos fenômenos sociais. Tentando
de maneira mais próxima, segundo a sua ótica particular explicar a realidade. Usar a
teoria, que é abstrata, é o início de uma análise séria, não como o seu fim.
Podemos até citar diversos autores, cada qual complementou a formação do
pensamento econômico com suas teorias e observações de extrema importância,
como: François Quesnay, Adam Smith, David Ricardo, Thomas Malthus, Jean-
Baptiste Say, Stuart Mill, Karl Marx, Vilfredo Pareto, Léon Walras, Alfred Marshall,
Artur Pigou, John Maynard Keynes, Sraffa, Milton Friedman, Bill Phillips, Paul
Krugman, entre outros que merecem ser citados por suas contribuições para a
Ciência Econômica.
Na análise proposta para este trabalho, não iremos usar todos estes autores
e suas teorias, iremos velejar por uma corrente teórica que seja adequada para
explicar os fenômenos econômicos propostos, não como limites científicos, mas
como lentes que servem para aguçar e ampliar a visão. Revelando assim, os
detalhes de suma importância e os fundamentos para uma análise sustentável e
eficaz.
Como estamos falando em crise, faremos nossa análise com auxílio de dois
grandes estudiosos das catástrofe econômicas, Kindleberger e Aliber (2014), que
seguem um caminho direcionado ao método de Hyman Minsky e suas teorias, outro
23
grande teórico das crises, por não dizer um profeta dos tempos modernos. Usam
método de análise histórico e descrevem algumas particularidades destes
fenômenos, que são importantes quando se quer estudar qualquer crise.
Lembrando que este trabalho é referente à história da crise da divina
soberana na União Europeia e suas particularidades com as teorias de Minsky.
Principalmente nos países como Portugal, Grécia, Irlanda, Itália e Espanha.
3.1 MANIAS, BOLHAS E PÂNICOS
Existem algumas características em particular, que surgem nos mercados
em situações de quebra. Algumas patologias são importantes de se entender e
conceituar, antes de analisar a crise da dívida soberana europeia. Segundo
Blanchard (2011), o termo “crise” na economia refere-se a um longo período de
crescimento baixo ou nulo, mais prolongado que uma recessão típica, porem menos
prolongados que uma depressão.
As “manias” são reações do mercado associadas à euforia econômica, onde
muitos teóricos associam à racionalidade limitada, a “irracionalidade” dos agentes ou
da psicologia das massas. O próprio Kinbleberger e Aliber (2014) associa a perda de
conexão com a realidade, ou até histeria em massa. Durante a mania, por exemplo,
as empresas tornam-se mais otimistas, os gastos e os investimentos aumentam
porque o crédito é abundante.
“Durante a mania, os aumentos nos preços dos imóveis das ações ou em
uma ou diversas mercadorias contribuem para elevações no consumo e
gastos com investimentos que, por sua vez levam à aceleração do
crescimento econômico...” (Kindleberger e Aliber, 2014, p.26)
Há uma atmosfera de confiança nos mercados, e riscos baixos e de boas
possibilidades de lucro. O investidor se torna mais confiante e mais atuante, ao
ponto até de fazer empréstimos, sobre empréstimos, com o intuito de maximizar na
lucratividade de seus investimentos.
24
“As manias estão associadas a uma robusta expansão econômica, mas
somente poucas expansões estão associadas às manias.” (Kindleberger e
Aliber. 2014, p. 29)
Uma das características das manias é o fato das empresas pegarem
emprestado o quanto quiserem, como se o dinheiro parecesse grátis, devido a
expectativa otimista do mercado financeiro. Levando as empresas a uma farra de
consumo e investimento. Como consequência, talvez de uma política
governamental, alguns investidores que estavam financiando os seus investimentos
com dinheiro emprestado se torna vendedor, tendo que vender seus bens e ativos.
Os juros sobre os empréstimos se tornam maiores que a receita dos seus ganhos
sobre os ativos. Neste ponto, os preços baixam drasticamente, abaixo do seu valor
de compras e acima dos empréstimos. Há pressa nas vendas e forte declínio no
valor dos ativos e prováveis quebras e pânicos.
Esse intervalo, em que os investidores correm para vender seus ativos é
conhecido como o “pânico”. Onde há uma redução nos níveis de confiança do
mercado sobre determinado ativo, devido ao declínio de seu valor e há corrida para
vender tais ativos. Ocorre uma corrida de liquidez, que pode levar muitos bancos a
falência e gerar uma crise de solvência nos mercados.
O termo “Bolha” é genérico para o aumento do preço dos ativos na fase
“mania” do ciclo. A bolha é o prenúncio de uma crise, é um crescimento no
endividamento, um crescimento que não pode ser sustentando. Quando estoura, os
preços caem drasticamente, afetando diversas instituições e levando até algumas a
falência, senão forem resgatadas. Porém, não pode ser explicada pela mudança nos
fundamentos econômicos. Mas está associada com a euforia econômica e o
aumento nos gastos pessoais, num futuro aparentemente brilhante.
A fragilidade financeira consequente da economia capitalista pode sujeitar
qualquer mercado a crises econômicas, do qual algumas das patologias
apresentadas logo acima como as manias, as bolhas e pânicos, entre outros, podem
caracterizar o estado depressão dentro do sistema financeiro. A natureza do choque,
o objeto de especulação, a forma de expansão crédito, a engenhosidade dos
golpistas e a natureza do incidente que causa revulsão, são características
25
marcantes dentro das crises históricas, que segundo Kindleberger e Aliber (2014) o
mundo parece ainda não ter aprendido com as crises do passado.
3.4 O LEGADO MINSKY
Ao se revelar como criado de Minsky devido as suas contribuições teóricas,
Krugman (2012) o descreve como uma figura marginalizada por outros estudiosos
até sua morte em 1996. Os motivos se expressam na sua heterodoxia (um forte
posicionamento pós-keynesiano) e na literatura em particular um pouco obscura,
sendo de difícil entendimento, mas cheia de “pérolas preciosas” pelo caminho.
“Seus livros não são, para dizer o mínimo, amigo dos leitores; pepitas de
ideias brilhantes se dispersam, rarefeitas em hectares de prosa turva e de
álgebra obscura.” (Krugman, p. 38, 2012)
Segundo Cassidy (2011) e Krugman (2012), Minsky lecionava na
Universidade de Washington em St. Louis, porém era visto como um profeta um
tanto radical e muitas das suas profecias quando conferidas, se concluíram. Quando
eclodiu a crise norte-americana em junho de 2007, e logo mais a situação se
agravou em 2008, muitos economistas buscavam a solução não em novas teorias,
mas nos escritos de Hyman Minsky.
“Em resposta, economistas, membros da mídia especializada e
elaboradores de políticas econômicas decidiram que é hora de buscar
teorias alternativas à atual ortodoxia que ajudem a compreender como
funcionam e porque oscilam tanto as economias capitalistas modernas.
Talvez o mais feliz resultado desta busca tenha sido a redescoberta de
Hyman P. Minsky.” (CONCEIÇÃO, p.1 e 2, 2009)
Ele propôs que o livre mercado era inerentemente instável. As ações
irresponsáveis dos agentes deixam os mercados sujeitos a periódicos “estouros”, e
alguns podem mergulhar toda a economia a profundas recessões. Sua análise
demonstra importante consciência das várias fontes de falhas de mercado. Sujeita o
capitalismo a um sistema não linear propenso à incoerência endógena.
Para Minsky (2010), uma das falhas de mercado, está atrelada ao
funcionamento dos bancos e as inovações financeiras. Podemos observar que um
26
banqueiro sempre está tentando encontrar novos fundos, para tomar emprestado na
busca por lucros crescentes, resultando em constantes inovações financeiras.
Conquanto a constante busca por alavancagem dos bancos e pelas firmas diminui
as margens de segurança e então aumenta a potencial instabilidade. Uma elevação
da margem bancária é um consequente aumento dos riscos. Assim, o papel dos
bancos seja na geração, seja na intermediação da fragilidade financeira é crucial.
Segundo Minsky (2010) a Hipótese da Instabilidade Financeira (HIF) está
fundamentada num contexto onde o comportamento da economia é o resultado de
uma combinação do comportamento dos mercados, onde sua estabilidade é uma
meta inatingível e passageira. Sendo a estabilidade desestabilizadora.
“Embora Minsky não a definisse como tal, a hipótese da instabilidade
financeira é uma teoria de irracionalidade racional, em que as ações
individualmente racionais de bancos e outras empresas financeiras servem
para desestabilizar todo o sistema.” (CASSIDY, p. 215, 2011)
3.4.1 HIPÓTESE DA INSTABILIDADE FINANCEIRA
Segundo Minsky (1992), a HIF possui tanto aspectos empíricos como
teóricos. Os aspectos empíricos podem ser facilmente observados ao longo do
tempo (história) nas economias capitalistas, onde em certos momentos a economia
parece fugir do controle, devido às inflações e deflações de débitos que geram
reações no sistema que em resposta ampliam o movimento deflagrador – inflação
alimenta inflação e deflação de débitos alimenta deflação de débitos. Estes
episódios podem ser observados em algumas crises históricas.
“Estes episódios históricos são evidências que corroboram o fato da
economia nem sempre estar em conformidade com os preceitos
clássicos de Smith e Walras que sugeriram que a economia pode ser
mais bem compreendida como um sistema que está constantemente
buscando e sustentando o equilíbrio.” (MINSKY, p.12, 1992)
Os aspectos teóricos são desprovidos de uma interpretação da obra “Teoria
Geral” de Keynes. Com o intuito de posicionar a obra de Keynes no tempo histórico.
Onde o argumento teórico de Minsky da HIF inicia focada na economia de
27
acumulação capitalista que se move ao longo do tempo real, uma economia
acompanhada por relações de troca de dinheiro presente por dinheiro futuro, que por
via de regra deve ser acrescido por lucros.
Tal estrutura no mercado financeiro resulta num processo onde o
investimento é financiado por obrigações financeiras, compromissos em datas
específicas ou conforme condições estipuladas. Sendo assim, o passivo no balanço
determina a serie temporal dos pagamentos previamente acordados, Minsky (2010).
Este é o elo de ligação da teoria com os bancos (ou outras instituições financeiras),
que tem um papel crucial ligando o passado, o presente e o futuro, nas relações de
produção, marcando a economia capitalista não só pelas relações de bens de capital
e da força de trabalho, mas também pelas relações financeiras essenciais para o
financiamento do investimento.
“As relações financeiras mais importantes são as que conectam a criação e
a propriedade dos bens de capital com a estrutura das relações financeiras
e mudanças nesta estrutura.” (MINSKY, p. 18, 1992)
Minsky (2010) relata que a velocidade dos fluxos de dinheiro da economia é
uma resposta das expectativas futuras de lucros. Tais expectativas de lucros nos
negócios determinam o fluxo de financiamento para as empresas como o preço de
mercado dos contratos existentes e o consequente resultado na realização dos
lucros determina ou não o cumprimento destes contratos. Observamos assim que as
expectativas de lucros dependem do nível de investimento no futuro, e os lucros
realizados são determinados pelo investimento corrente.
“As visões correntes sobre o financiamento expressam as opiniões que
banqueiros e empresários tem sobre a incerteza que devem enfrentar.
Essas visões correntes refletem o passado e, em particular, o passado
recente, e como a experiência é transformada em expectativas. Uma
história de sucesso tenderá a diminuir a margem de segurança que
banqueiros e empresários requerem e então tenderá a ser associada com
maior investimento; uma história de fracasso fará o oposto.” (MINSKY, p.
264, 2010)
Os bancos são instituições que buscam inovar constantemente, inovações
aumentam os lucros, inovar nos ativos que adquirem e nas divisas que
28
comercializam. Assim a HIF incorpora o impacto da dívida sobre o comportamento
do sistema e da maneira pela qual a dívida é liquidada, Minsky (1992).
Hyman Minsky identifica três relações de renda-débito, que expressa à
relação fluxo de caixa e pagamento da dívida de uma empresa. Silva (2013)
denominou essas três relações de “O Tripé do Financiamento”, as chamadas
finanças hedge, especulativas e Ponzi.
As unidades de finanças Hedge ou “confiáveis”, são capazes de cumprir as
obrigações contratuais do pagamento com seus fluxos de caixa, como os juros e as
parcelas da dívida. As unidades de finanças especulativas são unidades que
conseguem cumprir seus compromissos contratuais básicos, mas não consegue
cumprir o principal da dívida, pagando apenas os juros da dívida. Portanto, para
liquidar o montante pendente é necessário emitir novas dívidas para cumprir os
compromissos, a conhecida situação de “rolagem da dívida”.
As finanças Ponzi, em homenagem há um dos maiores trapaceiros da
história Charles Ponzi (1882 – 1947), em seus fluxos de caixa é caracterizada pela
incapacidade para cumprir os compromissos de amortização da dívida e do
pagamento dos juros. Essas unidades podem vender seus ativos ou pedir
empréstimos.
“Pegar empréstimo para pagar juros ou venda de ativos para pagar juros e
mesmo para pagar os dividendos sobre ações ordinárias reduz o patrimônio
de uma unidade, aumentando o passivo e o comprometimento prévio de
rendimentos futuros. Uma unidade com finanças Ponzi reduz a margem de
segurança que oferece aos titulares de suas dívidas.” (MINSKY, p. 16,
1992)
Assim, segundo o autor o financiamento hedge quando predominante na
economia pode ser um sistema que tende a manter o equilíbrio. Em contraposição,
quanto maior o peso das finanças especulativas e Ponzi, maior a probabilidade da
economia ser um sistema amplificador de desvios. A mistura das finanças hedge,
especulativas e Ponzi, é o maior determinante da instabilidade no sistema.
A HIF tem regimes de financiamentos que tornam a economia estável e
regimes que a tornam instável. O teorema acrescenta que nas economias
29
capitalistas, a confiança dos agentes e os períodos de prosperidade prolongada
devido às finanças hedge, tendem a se mover para uma estrutura dominada pelas
unidades de finanças especulativas e Ponzi. Sendo a instabilidade financeira
diretamente ligada à economia dos fluxos de caixa derivado da renda, dos balanços
ou do portfólio.
“A grande ideia de Minsky foi concentrar-se na alavancagem – no acúmulo
de dívidas em relação aos ativos financeiros ou à renda. Períodos de
estabilidade econômica, argumentava ele, acarretam alavancagem
crescente, pois todos se tornam complacentes em relação ao risco de os
tomadores não serem capazes de pagar os empréstimos. Mas esse
aumento da alavancagem acaba gerando instabilidade econômica. Com
efeito, prepara o terreno para crises financeiras e econômicas.”
(KRUGMAN, p. 39, 2012)
A formulação de Minsky define que as ondas de otimismo produzem mais
crescimento no otimismo dos investidores, empresas e financiadores bancários.
Geram expectativas confiantes de fluxo constante de prosperidade e aumento nos
lucros. Tal cenário induz os investidores a comprar ações mais arriscadas, aos
bancos fazem empréstimos mais ousados, que são rapidamente absorvidos pelo
mercado. Neste ponto, o aumento do otimismo pode evoluir em uma mania, gerar
bolhas, choques e crises.
3.4.2 O MOMENTO MINSKY
“O “momento Minsky” se refere à dinâmica depressiva retro-alimentadora
em que aqueles carentes de liquidez para cumprir suas obrigações de
dívida se veem obrigados a vender seus ativos por valores cada vez
menores e aqueles com liquidez em excesso se recusam a adquirir os
ativos ofertados enquanto persistir a tendência deflacionária.”
(CONCEIÇÃO, p. 6, 2009)
Em homenagem ao grande teórico das crises, Hyman P. Minsky é que
surgiu o termo “Momento Minsky”. Refletindo uma situação do mercado, onde
geralmente há o estouro de uma bolha, no momento da mania para o pânico. Da alta
confiança das massas, para o estouro da manada. Todos querem vender seus
ativos financeiros, que a cada momento estão se desvalorizando. Uma corrida por
30
liquidez imediata, onde há uma desconfiança geral nos mercados e os que tem
liquidez em excesso se recusam a adquirir ativos enquanto houver a deflação dos
mesmos.
31
5 ESTADO EM CRISE
5.1 DOS ESTADOS UNIDOS PARA O RESTO DO MUNDO
Segundo Blanchard (2011) a crise norte-americana se propagou para o resto
do mundo por intermédio de três canais. O primeiro foi a diminuições das
exportações, com a queda do produto e da renda as exportações diminuíram
acentuadamente. Sob altos níveis de incerteza no mercado norte-americano e em
seguida no mercado mundial, os agentes simplesmente decidiram esperar antes de
começar um novo investimento.
O segundo canal de propagação da crise norte-americana se estendeu
através dos fluxos de capital, os investidores dos Estados Unidos se tornaram
relutantes em manter ativos de valor incerto e os bancos pararam de conceder
empréstimos. Conquanto essas decisões se estenderam não apenas nos ativos
domésticos, mas também sobre os estrangeiros. E como consequência:
“Os banqueiros e investidores não só deixaram de realizar mais
empréstimos e investimentos como também solicitaram alguns dos seus
fundos de volta. O resultado foi um intenso aumento nas taxas de juros
pagas pelos devedores nos países emergentes” (BLANCHARD, p. 545,
2011)
O terceiro canal de propagação descrito por Blanchard (2011) está
diretamente relacionado à diminuição da confiança. Com intensificação da crise o
restante do mundo se preocupava com uma nova Grande Depressão. Embora tenha
sido nos Estados Unidos a confiança diminuiu e acarretou a diminuição na demanda
e na produção.
“Acostumado a seguir as tendências econômicas ditadas pelos EUA, o resto
do mundo adotou a receita e criou-se um sistema financeiro global
extremamente interligado, interdependente e pouquíssimo regulado.”
(CONCEIÇÃO, p. 5, 2009)
Durante a crise norte-americana outro fator mais direto trouxe pânicos na
Europa, muito antes da Crise do Endividamento Soberano em 2009. O Northern
Rock tinha incorporado em suas carteiras títulos de hipotecas Subprime de vários
bancos alemães.
32
“Los títulos respaldados por hipotecas de alto riesgo habían atraído
numerosos compradores fuera dos Estados Unidos. Varios bancos
alemanes que habían incorporado esos títulos e sus carteras necesitaron
intervención de lós entes intervención de lós entes regulatórios, y em el
Reino Unido se dasató um pânico bancario entre lós depositantes de
Northern Rock.”(DODD, p.5, 2007)
O Nothern Rock é um banco britânico fundado em 1950 pela fusão de dois
outros bancos britânicos, um banco que deste a sua existência tem adquirido várias
empresas menores de construção. Contudo, em fevereiro 2008 empresa foi
nacionalizada, com seus ativos repassados para o Governo Britânico depois de sua
queda durante a crise das Hipotecas Subprime iniciada em 2007.
A quebra do Northern Rock não é a prova que a crise chegou ao continente
europeu. Segundo Farmer (2010), a crise de 2007 começou com a quebra do
Northern Rock, na sua incapacidade de saldar seus débitos em agosto de 2007.
Logo após este fato, o sistema financeiro global sofreu um colapso que não tinha
visto desde 1930. Assim, para Farmer (2010), a crise norte-americana, de
repercussão mundial, começou na Europa.
“Antes de tudo, a moeda única coroou o espaço financeiro integrado, que é
aberto ao resto do mundo – notadamente ao espaço do dólar. Os bancos
universais europeus tornaram-se bancos globais que intervêm no mundo
inteiro. Eles participaram ativamente na expansão da dívida americana e
dos ativos tóxicos nos Estados do mundo. Eles se encontraram em uma
situação de fragilidade comparável aos bancos americanos quando a crise
estourou em 2007.” (AGLIETA, p.21, 2013)
Aglieta (2013), professor de Ciências Econômicas na Universidade de Paris
Quest Nanterre. Deixa claro em sua colocação que os bancos europeus tiveram
papel preponderante na crise americana, que na verdade tinha amplitude sobre a
economia mundial. Com o surgimento do euro e as inovações financeiras, os bancos
europeus que passaram a ter uma influencia ainda maior sobre todo o mundo.
Ajudaram na expansão da dívida americana e na distribuição dos títulos subprime ao
mundo.
33
5.2 EUROPA EM PÂNICO
Durante a crise americana de 2007 e 2009, onde muitas nações tiveram que
readaptar suas economias a uma nova realidade existente, a um novo mercado. A
crise norte-americana expôs a alguns países a necessidade de fazer importantes
alterações em suas políticas. Para diminuir os impactos da crise os governos
europeus realizaram programas de estímulo à economia e amplos programas de
socorro ao setor financeiro. Tentava-se evitar perdas de empregos e diminuir os
efeitos negativos da crise norte-americana, que abalou todo o mundo, que segundo
Corsi (2012) a zona do euro, mesmo assim, se tornou um segundo estágio da crise
norte-americana, a crise em novo cenário.
“A zona do euro, o epicentro da segunda fase da crise...”
(CORSI, p. 35, 2012)
Concordando com Corsi(2012), para Aglieta (2013) a tendência depressiva
da crise norte americana operou no setor privado mundial de maneira substancial. A
mesma atingiu o coração do sistema financeiro, os bancos de forma sistêmica,
afetando toda a economia e de uma maneira ou de outra todos os agentes. Levou
ao aumento do endividamento maciço do setor privado, principalmente das famílias
e das instituições financeiras em um grande número de países europeus. Afirmando
que a crise norte-americana e a crise europeia são uma mesma crise.
Para ajudar o setor privado os estados foram obrigados a intervir, gastando
para evitar uma crise mais violenta na Europa. Assim, nas palavras de Aglieta
(2013), a lição de 1929 foi compreendida e sem a ação dos governos o processo de
desendividamento seria produzido catastróficas falências em cadeia no setor
privado.
Porém antes da crise norte-americana afetar a Europa ela encontrou
algumas economias já fragilizadas por um fenômeno que Krugman (2012)
denominou de “a bolha do euro”. Tal fragilidade foi sendo construída no decorrer dos
últimos anos que antecederam a partir da adesão do euro.
Krugman (2012) relata que com a chegada do euro, com a criação da Zona
do Euro, países que antes eram vistos como arriscados de se investir, com a
34
chegada do euro a dívida espanhola, a italiana e a grega passaram a serem vistas
como tão seguras quanto às alemãs. Daí surge uma redução dos custos de
empréstimos no sul da Europa, levando a enormes bolhas.
Houve um crescimento e bolhas imobiliárias na Zona do Euro, porém seguia
uma mecânica diferente da bolha dos Estados Unidos. Houve menos financiamentos
sofisticados e mais empréstimos diretos pelos bancos convencionais. Os bancos
locais não tinham sustentabilidade suficiente para todos os empréstimos que estava
concedendo, tendo que recorrerem ao mercado de atacado, contraindo empréstimos
do “núcleo” europeu, principalmente na Alemanha, que não passou por este tipo de
crescimento ou formação de bolhas imobiliárias.
“Portanto, ocorreram fluxos de capital em grande escala do
núcleo da Europa para a periferia florescente.”(Krugman p.
160, 2012)
Krugman (2012) apresenta uma estrutura que se tornou fragilizada na Zona
do euro devido aos países do sul atraírem enormes entradas de dinheiro e
incorrendo a imensos déficits comerciais. O resultado dos 10 anos seguintes a
criação do euro, por exemplo um aumento nos salários em certa de 35% no sul da
Europa, em comparação com os 9% de aumento nos salários da Alemanha. Assim,
os desequilíbrios comerciais, alimentaram a perda dos ganhos de competitividade
nos produtos industrializados do sul da Europa.
O setor exportador alemão se beneficiou de sobre maneira com o euro, pois
os outros países não poderiam mais desvalorizar suas moedas para dar
competitividade ao setor exportador. Sendo o euro mais fraco do que seria o marco
alemão os produtos da Alemanha ganharam competitividade, inclusive com os
países de fora da zona do euro.
O fato é que a iminente crise norte-americana levou a economia da Zona do
Euro, já fragilizada em sua estrutura a sofrerem forte tensão em seus orçamentos.
Provocada pela redução das exportações e importações americanas, a redução dos
investimentos internacionais e a diminuição da confiança dos agentes em todo o
mundo. Assim a Europa sofre com uma diminuição da receita, do produto e do
emprego, há aumento dos gastos com auxílio-desemprego, a necessidade dos
35
governos promoverem dispendiosas ações de socorro aos bancos, assegurando não
apenas os depósitos de seus clientes, mas também o cumprimento das dívidas que
seus bancos haviam acumulado com outros países credores.
Segundo Bargus (2012), uma das formas de se ampliar o poder de ação de
uma nação, é aumentando os impostos, utilizando-se de inflação ou aumentando a
dívida governamental, com a emissão de títulos soberanos. Porém os impostos são
impopulares, no caso do euro as nações não poderiam inflacionar por particular
decisão e o endividamento governamental é uma maneira fácil, não tão impopular
quando os impostos. E foi uma das ações tomadas pelos países da União Europeia
e em outras nações do mundo.
Devido ao choque, nações periféricas da zona do euro entraram em uma
crise de endividamento soberano, sendo necessária uma boa intervenção quanto à
realização de reformas fiscais na UE. Em primeira instância, a Grécia não conseguiu
realizar suas reformas e sentiu forte abalo em consonância com seu crescimento
fraco.
Ao passo que reduz o crescimento, reduz também as receitas fiscais e
surgem déficits orçamentários insustentáveis. No caso da Grécia, seu endividamento
ultrapassou em muitos pontos percentuais PIB do país, sendo necessário, que o
recém-empossado primeiro-ministro Giorgos Papandreoum, anunciar a incapacidade
de pagar as suas dívidas, na verdade de rolar suas dívidas. Seu apelo em dezembro
de 2009 levou com que as agências financeiras de classificação de risco baixassem
ainda mais a classificação de Grécia.
Este fato altera o comportamento dos investidores e produz uma reação
imediata quanto as suas decisões. A crise de confiança faz com alguns investidores
fujam em busca de mercados mais seguros ou interajam de forma mais agressiva.
Uma reação significativa dos investidores foi a de exigirem uma rentabilidade maior
sobre os títulos gregos, devido aos riscos de calote, o que elevou a corrida
especulativa desleal, elevando ainda mais os encargos da dívida.
Um governo tem muitas razões para aumentar seus gastos e de emitir títulos
públicos como agentes financiadores de sua dívida, onde há uma futura promessa
de pagamento acrescida de juros. Muitos governos, para fazer o refinanciamento
36
das suas dívidas emitem novos títulos e assim sucessivamente. Conquanto, bancos
centrais intervém comprando títulos de seus próprios governos, para assegurar uma
boa taxa de juros para os títulos, pode também ganhar os lucros sobre os juros dos
títulos, que são repassados para o governo e melhorar a credibilidade do sistema
financeiro destas nações frente ao seu endividamento.
No caso da zona do euro, o fator que se atribuiu a elevação do risco destes
títulos, era hipótese de que BCE e outras instituições governamentais, não iriam
intervir na compra de títulos da dívida grega. Como a especulação é parte do
mercado financeiro, e complexa é a política europeia, poderia gerar reações por
parte de outras nações pelo crescente endividamento grego. Como por exemplo, se
em algum momento a Alemanha, ou outras nações iriam exigir que o BCE a decisão
de não financiar os crescentes déficits e endividamento da Grécia. A desconfiança
do mercado refletiu até a hipótese de que a UE não iria socorrer a Grécia por meio
de empréstimos governamentais diretos, por apenas não ser uma opção
economicamente viável.
Surgimento da crise na Europa levou Krugman (2012) a denominar de “O
Grande Delírio da Europa” a crença em que a crise europeia foi provocada
basicamente pela irresponsabilidade fiscal. Embora isto tenha ocorrido na Grécia e
podemos dizer que também em Portugal, contudo não foi o real motivo de outros
países entrarem em crise, e como veremos nos gráficos da sessão 5.4 outros países
também foram afetados pelo choque norte-americano. Se fosse apenas o problema
do déficit grego, a crise não teria assumido tal proporção, pois a economia grega é
pequena, gerando apenas 3% do PIB combinado dos países do euro.
Havia países como a Irlanda com superávit orçamentário e baixo
endividamento em 2006. A Espanha também gerava superávit orçamentário,
obtendo poder para amortizar suas dívidas e cumprir os seus contratos. Já a Itália
tinha alto endividamento herdado das décadas de 70 e 80, mas estava reduzindo
aos poucos e com firmeza a relação dívida/PIB. Um dos problemas estava na
estrutura financeira fragilizada da UE e principalmente dos países aderiram ao euro.
O maior problema do endividamento soberano, além dos juros é a ilusão
momentânea de riqueza, os cidadãos ficam mais ricos, os governos ficam mais
37
gêneros, há mais investimentos, há uma sensação de segurança orçamentária e
financeira dentro da nação. É como financiar um padrão de vida superior ao
existente e com consequências, que são os juros. No entanto, a sensação de bem-
estar presente não gerou o crescimento econômico esperado, nem pagou as
dívidas.
Uma vez que há uma sinalização de crise no mercado os investidores
passam a considerar o investimento mais arriscado, começam a exigir um retorno
maior, um mecanismo compensatório pelo risco. Em Bargus (2012) a crise de
confiança se propagou a outros países da zona do euro com características
econômicas e similares, e nessa demanda por maiores rendimentos, devido ao
universo dos riscos crescentes, países como Portugal, Irlanda, Itália, Espanha e
Grécia, o tiveram como agente complementar no grau de endividamento dos seus
governos. Nesta corrida especulativa, a solução para os bancos, os principais
compradores de títulos soberanos, juntos aos bancos centrais, e afetados no
mercado financeiro é serem resgatados pelos seus governos.
Os bancos privados compram títulos de dívidas dos governos em primeiro
lugar, porque são obrigados por regulamentação a manter certo percentual de seus
fundos aplicados em “Ativos Líquidos de Alta Qualidade”. Em segundo lugar, eles
adquirem estes títulos, como colateral, para operações de empréstimo junto ao BCE,
usando-os como garantia. Este é outro fator de desconfiança dos mercados, pois até
quando os governantes das outras nações e a direção do BCE permitiriam que os
títulos da dívida, comprados por bancos privados e usados como colateral para
novos empréstimos, seriam aceitos? Até quando será que o BCE estivera dando
ordens para ligar a impressora do euro para quitar esses títulos podres junto aos
bancos privados?
A crise Europeia foi causada pelo alto endividamento primordial dos países
em 2009, como Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha (conhecidos
pejorativamente como os PIIGS), Contijo (2013). Levando a suas economias a uma
incapacidade de gerar crescimento econômico o suficiente para honrar seus
compromissos firmados de curto e de longo prazo, onde é observado um risco real
de inadimplência dentro e fora das fronteiras, que demarcam a zona do euro. O que
conduz um incremente de custos no refinanciamento dessas dívidas.
38
Uma observação importante a se fazer, é que o endividamento desses
países (dos PIIGS), não se deu durante ou após a crise norte-americana em 2008.
Uma nação pode endividar-se de maneira demasiada no caminhar da história em
harmonia com as decisões econômicas e financeiras, ou mesmo como modo de
sobrevivência atuante, como modo sobrevivência no mercado internacional. Assim,
como observado por Krugman (2012) alguns desses países já estavam formando
bolhas do euro, desde antes a crise norte-americana. A crise fiscal destes países é
subproduto das bolhas e do desalinhamento dos custos.
O estopim da crise europeia se dá devido ao elevado grau de
endividamento, em uma atmosfera de pressão política e econômica, representada
pela União Europeia, pelo FMI e pelo Banco Central Europeu, além uma crise de
confiança no mercado financeiro e aos efeitos da propagação mundial da crise
norte-americana.
A questão da política monetária deve ser abordada, pois cada país tem
características diferentes e necessitam de políticas monetárias particulares,
principalmente em um caos financeiro. O fato do BCE tentar administrar igualmente
essa política para 18 nações, mesmo sob o consentimento dos seus melhores
técnicos, acaba por consequentemente não atender as necessidades especificas
das partes, dentro da zona no euro. Não haveria mais um banco central nacional
para administrar a emissão de moeda à medida que aumentam os déficits públicos.
O método inflacionário de financiar déficits passa a ser um mecanismo coletivo e de
consentimento supranacional.
“... especialmente políticos e autoridades da Alemanha, mas também da
cúpula do Banco Central Europeu e líderes de opinião nos mercados
financeiros e nas instituições bancárias – estão profundamente
comprometidos com o Grande de Delírio, e as evidências, por mais
convincentes, não os demoverão de suas crenças. Em consequência, o
problema de se lidar com a crise geralmente é exposto em termos morais:
os países estão em dificuldade porque pecaram, e devem redimir-se pelo
sofrimento.” (Krugman, p. 164, 2012)
39
5.3 ESTADO DE CRISE E INTERVENÇÃO
Como já observado na seção anterior a Europa declinou em uma grave
crise, e a questão é, que medidas foram tomadas para resgatar esses países e
melhorar as condições econômicas e financeiras dessas nações? Como a Grécia
que revelou uma incapacidade de saldar seus débitos, sairá da crise, surgirá um
emprestador de última instância?
Temos que entender que a Europa não é um agregado, é um conjunto de
países com orçamentos próprios, com uma integração fiscal muito pequena. Há
mercados de trabalho próprios, devido a pouca mobilidade da mão de obra,
Krugman (2012).
Os tempos de gastos e bonança, como no caso da Espanha, são fatores
determinantes de sua crise. Porém, como não tinham uma moeda própria não
poderiam inflacionar para sanar alguns dos efeitos da crise, ou reverter a
sobrevalorização dos seus salários, que gerou perda com competitividade de seus
produtos com outras nações, como a Alemanha. Muitos países tiverem que
retroceder suas economias, alinhando seus custos com a deflação. Como nos caso
de Irlanda, com altos índices de desemprego e de redução nos salários. Este país
promove uma desvalorização interna muito lenta.
Segundo Krugman (2012) uma mudança dos países participantes da Zona
do euro para as suas antigas moedas envolveria custos muito sérios, como de
imediato uma corrida aos bancos, os custos de se ajustar as dívidas e contratos
denominados em euro, e por fim representaria uma derrota de décadas de políticas
de integração, que buscavam um processo a cada tratado mais avançado e amplo
de unidade e democracia.
Conquanto medidas fossem tomadas, em fevereiro de 2010 adota um novo
plano econômico, onde ao mesmo tempo em que a Comissão Europeia a coloca sob
vigilância, em busca de assegurar uma correta aplicação do direito europeu.
Medidas estas que se resumem a medidas de austeridade fiscal. Da mesma força
em março do mesmo ano, Portugal anunciam seus programas de austeridade em
busca de reduzir seus déficits.
40
Em 23 de Abril a Grécia pede ajuda internacional e como retorno recebe um
apoio do FMI e da UE de 110 milhões de euros. Já em Maio o FMI e a UE adota um
plano de resgate de 750 milhões de euros, para países em crise, se necessário.
Apenas 2 meses depois, agora em Maio de 2010, Portugal adota novas
medidas de austeridade e a Espanha também entra nessa. No mesmo ano a UE
adota um plano de ação para apoiar e principalmente disciplinar um orçamento
comum entre os países membros.
Em 23 de Março de 2011 Jose Sócrates, primeiro-ministro de Portugal, pede
demissão, após uma sequência de rejeição de medidas de austeridade para um
novo pacote, pelo parlamento. Recebendo em 5 de Maio um auxílio de 78 milhões
de euros conjugados por um vasto conjunto de medidas de austeridade pela “troika”,
após seu pedido de ajuda internacional de 6 Abril.
Enfim o que podemos observar no resto da história é que houveram outras
iniciativas e intervenções governamentais, porém se resumem a predominância das
medidas de auxílio com programas cada vez mais rígidos de austeridade e pacotes
milionários, mas insuficientes para retomar a aceleração do PIB, ou que ao menos
proporcione uma capacidade produtiva ativa e capaz restaurar a competitividades
destas nações. Muitos pacotes de auxílio tinham como obrigações mais medidas de
austeridade.
Nas medidas de austeridade, em primeiro lugar podemos apresentar os
cortes nos gastos públicos e o aumento dos impostos, que afetam diretamente a
econômica, o congelamento nos salários, e assim gera aumento da taxa de
desemprego devido aos baixos investimentos privados, não mais subsidiados pelo
governo e atraídos por baixos impostos. E sendo assim, o status de bem estar social
teve de ser alterado afetando negativamente os agentes que o compõem.
41
5.4 OS GRÁFICOS DA CRISE
Nesta sessão estaremos analisando alguns dados sobre a União Europeia.
Na verdade, a teoria e os fatos históricos têm muito a dizer, conquanto a análise
gráfica, formada através de dados dentro do período da crise, é capaz de revelar
certos fenômenos importantes.
O primeiro conjunto de gráficos que aqui serão apresentados serão os
gráficos da taxa de crescimento do PIB, que é uma medida da taxa de atividade
econômica, definido com o valor dos bens e serviços produzidos, menos o valor dos
bens e serviços utilizados na sua criação.
Em síntese a análise da taxa de crescimento PIB em termos de volume, o
PIB a preços correntes são valorizados a preços do ano anterior ao informado e as
variações de volume. Assim, os movimentos de preços não iram inflar a taxa de
crescimento.
Gráfico 1 - Taxa de crescimento real do PIB - 2009
Fonte: European Comission / Eurostat (2014)
Neste gráfico alimentado por dados do PIB de 2009, na primeira coluna
incluísse os 28 países participantes da União Europeia e na segundo os países
42
participantes da Zona do Euro, as demais colunas são as da Alemanha, Estônia,
Islândia, Grécia, Espanha, Itália, Chipre, Áustria, Portugal, Eslovênia, Estados
Unidos e Reino Unido, percebemos um déficit de crescimento muito grande na
Estônia e na Eslováquia, mesmo que os seus PIBs sejam bem inferiores com
relação à Alemanha, e influenciem pouco na média geral, revela um o
aprofundamento da crise também nesses países. O estopim da crise em 2009 revela
o estado de crise não apenas na Europa, mas a continuidade da mesma nos
Estados Unidos e no Reino Unido, que não aderiu ao euro. Sendo todos estes
afetados pela depressão mundial e apresentando taxas negativas de crescimento do
PIB.
Gráfico 2 - Taxa de crescimento real do PIB - 2011
Fonte: European Comission / Eurostat (2014)
Observamos aqui no gráfico 2, alimentada com dados de 2011, uma breve
recuperação de grande parte dos países da União Europeia e dos participantes da
Zona do Euro. Uma grande mudança na situação da Estônia podendo atingir em
média seus 8,7 pontos percentuais de aumento do PIB, a Alemanha apresenta um
crescimento acima de 4 pontos percentuais, podemos observar o baixo crescimento
43
do PIB dos demais países. A situação de Portugal reverteu muito pouco em seu
quadro de agravamento. A situação da Grécia que apresentava um crescimento do
PIB negativo de 3.1 pontos percentuais para sete pontos percentuais negativos.
Essas mudanças foram os resultados das políticas na compra de títulos de
dívidas de alguns destes países por parte do Banco Central Europeu, pacotes
bilionários de empréstimos e das medidas de austeridade exigidas pela troika (FMI,
UE e BCE) para algumas dessas nações. Conquanto não revela a suficiência
dessas medidas para sanar de maneira saudável a crise dentro da zona do euro, ou
para reverter o quadro do decrescimento do PIB da Grécia.
Gráfico 3 - Taxa de crescimento real do PIB - 2013
Fonte: European Comission / Eurostat (2014)
No gráfico 3 podemos observar que durante o ano de 2013 houve um agravamento
devido ao baixo percentual do PIB médio das nações da UE e o crescimento
negativo na média dos PIB das nações participantes da Zona do Euro. Conquanto,
inicialmente podemos observar que os Estados Unidos e a Reino Unido obtiveram
um baixo crescimento do seu PIB, representando certa lentidão na reversão do seu
44
quadro de crise. Com relação a Chipre, sem interesse de aprofundar nas reais
consequências, podemos observar que houve um choque em sua economia que
levou a um decréscimo de seu PIB em 5.4 pontos percentuais. Assim também,
podemos observar que a UE apresentava uma fragilidade no seu sistema e que as
medidas da troika surtiram certo efeito em 2011, mas não levaram a economia para
uma recuperação. A pequena recuperação do PIB de alguns países em 2011 foi
revertida em 2013.
O gráfico 4 apresentado logo abaixo, é a descrição visual da taxa de desemprego,
entre pessoas de 15 a 74 anos que estão sem trabalho na semana de referência da
pesquisa feita em 2013, que estão saindo ativamente a procura de emprego nas
últimas 4 semanas e que estão disponíveis para começar a trabalhar nas próximas
duas. A informação visual deste gráfico é uma média aritmética do ano de 2013,
2012 e 2011.
Gráfico 4 – Taxa de Desemprego em percentual – Média de 3 anos
Fonte: European Comission / Eurostat (2014)
45
O gráfico 4 expressa os altos índices de desemprego nos países como
Espanha, Grécia, Portugal, Irlanda e Itália, onde todos apresentam uma taxa de
desemprego acima de 10 pontos percentuais. A Espanha e a Grécia está em uma
situação lastimável de desemprego apresentando índices acima de 22.5 pontos
percentuais. É aproximadamente um quarto da população economicamente ativa
desempregada durante os anos de 2011, 2012 e 2013. Demonstrando mais uma vez
que os cidadãos destes países tem sido os principais afetados pela crise.
Os dois próximos gráficos 5 e.6, que iremos observar, fornece por definição
uma visão completa da dívida pública, pois está consolida em seus diversos setores,
num conceito de formulação conhecido por Procedimento dos Déficits Excessivos
(PDE) ou EDP na União Econômica e Monetária (UEM). Os déficits da dívida são
iguais à soma do passivo no final do ano de todas as unidades classificadas no setor
da administração público. Os dados são expressos em percentual do PIB.
Gráfico 5 – Dívida pública bruta (conceito EDP) - % do PIB - 2009
Fonte: European Comission / Eurostat (2014)
46
O gráfico 5, como resultado apurado da dívida no ano de 2009 em
percentuais do PIB de cada pais expressa o sua pouca capacidade de pagamento
destas nações e também podemos observar o grau de endividamento destes países,
com relação ao PIB, grande maioria deles são participantes da Zona do Euro, uma
exceção clara é o Reino Unido que embora não tenha aderido ao euro também tem
um alto endividamento. Conquanto, o se Reino Unido tem um endividamento de 67
pontos percentuais a Grécia se revela uma economia em situação alarmante
atingindo quase os 130 pontos percentuais de endividamento com relação ao seu
PIB.
Gráfico 6 – Dívida pública bruta (conceito EDP) - % do PIB - 2013
Fonte: European Comission / Eurostat (2014)
O que podemos observar na análise do gráfico 6 é o agravamento da dívida
na Grécia e nos demais países. Revelando, mais uma vez que as medidas de
austeridade, entre outras ações do Banco Central Europeu, da Comissão Europeia e
do FMI não surtiram efeito para redução da dívida destes países, pelo contrário a
dívida dos mesmos aumentou, houve apenas um refinanciamento de tais dívidas.
47
Por fim, observaremos o gráfico do PIB dos anos de 2009 e 2011 de
algumas nações. O calculo do PIB tem por objetivo principal mensurar a atividade
econômica de uma região, quando maior o PIB maior será a atividade econômica e
as riquezas produzidas em uma determinada região.
Gráfico 7 – PIB a preços correntes de 2009 e 2011
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Eurostat (2014)
Observar o gráfico do PIB e os dados da tabela em milhões de euro enfatiza
as diferenças de atividade econômica de algumas nações. Neste gráfico, as
mesmas não foram escolhidas por acaso. Podemos observar o quão pequenas são
as atividades produtivas de nações como Chipre, Irlanda, Portugal e Grécia, frente a
Alemanha, França, Reino Unido ou ao grupo de 28 países participantes de UE.
Segundo Krugman (2012), o endividamento da Grécia visto como alarmente
não chega a ser tão alto como se comparado a capacidade de pagamento da
nações como a Alemanha, Reino Unido ou ao todo conjunto de países da UE. O
mesmo descreve que se os pacotes de auxílio fossem mais generosos a crise não
teria sido tão prejudicial aos PIIGS e não estaria durando tanto tempo.
UE 28 Países
Alemanha
França Reino Unido
Itália Espanha Grécia Portugal Irlanda Chipre
2009 11815748 2374200 1885763 1590858 1519695 1046894 231081 168529 162284 16853
2011 12711918 2609900 2001398 1770910 1580410 1046327 208532 171126 162600 17979
0
2000000
4000000
6000000
8000000
10000000
12000000
14000000
PIB
em
Milh
õe
s
48
6 A CRISE SOB UM NOVO OLHAR
O novo olhar da crise é a breve análise do modelo teórico proposto para este
trabalho em confronto com os fatos. Podemos observar assim, que a crise da Dívida
Soberana, com seu estopim em 2009, apresentou patologias descritas por
Kindeberger e Aliber (2014), como a formação de manias, bolhas e pânicos.
As bolhas foram desprovidas das manias nos tempos de bonança, descritas
por Krugman (2012), como na formação de bolhas imobiliárias da Espanha, da
financeira da Irlanda, também a bolha da dívida pública na Grécia. Resultados de
uma mania, uma atividade ligada à racionalidade limitada na idealização das
massas, de que a longo prazo o mercado não irá entrar em crise, pelo contrário os
lucros só tendem a aumentar. Houve um aumento das expectativas do mercado e da
confiança dos agentes. Fazendo com que os mesmos viessem a adquirir novos
empréstimos, como por exemplo, em bancos dos alemães. Essa confiança
aumentou os salários e o preço das mercadorias da Espanha com relação a alguns
países da Zona do Euro.
O endividamento soberano de países como a Grécia e Portugal é deflagrada
como um resultado da má política fiscal e da má administração pública destes
países, pode ser mais um momento caracterizado por uma mania, pois estavam
associadas assim como na Espanha por uma busca na melhoria do bem estar social
do país, porém iludidos pela perspectiva de que o PIB do país, nos fluxos de caixa
do governo seriam capazes de amortizar seu endividamento. Uma mania, uma
euforia econômica construída durante anos, formando uma bolha de endividamento
público. Estando as manias associadas à robusta expansão econômica como ouve
nesses países.
Chega um ponto em que essas bolhas como o prenúncio de uma crise,
chegaram a ponto de estourarem, devido a choques na economia da Zona do Euro.
Choques estes que atingiram a Europa e o resto do mundo. Os encadeamentos do
mercado financeiro e suas crescentes inovações estão em todo o mundo,
globalização financeira. Havia grande fragilidade no sistema e quando exposto aos
efeitos da crise norte-americana trouxe a força necessária para trazer o colapso
financeiro para a Europa.
49
Assim a natureza do choque e a forma de expansão do crédito, a fragilidade
do sistema, as inovações financeiras, gerou o incidente da crise, que conforme
Kindleberger e Aliber (2014) são patologias presentes em algumas crises. Afirmando
mais uma vez que o mundo parece não ter aprendido com as crises do passado.
Porém pelo fato do mundo não ter aprendido com as crises do passado, não
podemos declarar que o mercado e seus agentes sejam irracionais. Há uma
motivação racional nas relações de troca e de busca de lucratividade, porém esses
agentes possuem uma limitação racional.
“O conceito de racionalidade limitada implica que, na tomada de decisão, a
razão pode ser limitada pela impossibilidade de obtenção de toda a
informação necessária, pela capacidade cognitiva do agente, pelos recursos
disponíveis, entre outros. O poder da razão pode ser reduzido, também em
função da otimização do processo, admitindo-se que um ser não
perfeitamente racional (mas não irracional) não necessariamente maximiza
a utilização de seus recursos no processo de tomada de decisão. Da
mesma maneira com que o processo de seleção natural não é
necessariamente a sobrevivência do mais apto, mas simplesmente daquele
ser que pode minimamente garantir sua sobrevivência e reprodução, a
racionalidade também pode estar presente quando o agente se contenta em
buscar soluções de suficiência e não maximização.” (ROCHA; p. 24, 2011)
Tendo em vista o conceito de racionalidade limitada, podemos observar
conforme Minsky (2010), que os agentes que compõe essa estrutura capitalista
participam de uma estrutura que apresentará ciclos de quebras e pânicos. Essa
limitação racional leva todo o sistema de encontro com a HIF, onde a estabilidade do
sistema é meta inatingível e passageira.
Assim podemos observar que a UE, na economia de mercado financeiro,
tem seu investimento financiado por obrigações financeiras, seja público ou privado.
A queda da taxa de crescimento dos PIIGS, o aumento no número de desempregos
e o aumento no grau de endividamento público, foram resultados da falta de
investimentos ou da crença, público e privado, pois não havia expectativas futuras
de lucros. Sendo essenciais, segundo Minsky (2010) as expectativas de confiança
de fluxos constantes de prosperidade como fator gerador de lucro. Dinheiro
produzindo mais dinheiro.
50
Observamos também, conforme as relações de renda-débito, descritas por
Minsky (1992), e grau de endividamento dos países e o nível de desconfiança nos
mercados como um fenômeno que durante a formação das bolhas do euro, as
unidades de finanças Hedge, com o tempo foram se formando em finanças Ponzi, a
tal ponto que o primeiro ministro da Grécia afirmou não ter mais condições de
amortizar suas dívidas, nem de pagar os juros das mesmas.
Durante a Crise da Dívida Soberana a Hipótese da Instabilidade Financeira
de Hyman Minsky se reafirma tanto teoricamente quanto empiricamente em mais um
momento histórico. Explicando a fragilidade do sistema e características particulares
que o levam a culminar em quebras. Sendo a estabilidade desestabilizadora, devido
à dinâmica funcional do sistema capitalista. Para Minsky (2010) a mistura das
finanças hedge, especulativas e Ponzi, é o maior determinante da instabilidade no
sistema.
.
51
7 CONSIDERAÇOES FINAIS
Sintetizando, a crise norte-americana teve consequências direta com a crise
da Divida Soberana Europeia. Primeiramente havia grande fragilidade na estrutura
da UE, formada pela bolhas do euro e por uma política monetária comum para os
países da UME, comandada pelo BCE. Onde facilmente os primeiros choques da
crise das Hipotecas Subprime de 2008, as quebras e o alto endividamento das
nações surgiu na tentavam se proteger dos efeitos da crise.
A incerteza tomou o mercado, primeiro devido da sistêmica crise norte-
americana, ao endividamento do setor privado em todo o mundo, as baixas
expectativas de lucro dos agentes que alimentaram um movimento de retração e
aumento do endividamento soberano nas economias europeias, por fim as baixas
expectativas exigiram bônus mais altos para os compradores de dívidas dos PIIGS,
sujeitando-os a ataques especulativos, o que alavancou ainda mais o estado de
crise.
Nem a Inglaterra, que não aderiu ao euro pôde escapar dos altos
endividamentos públicos e decrescimento do seu PIB no início da crise. Os gráficos
verificados apenas formalizaram a real consciência da crise na Zona do Euro, e que
os Estados Unidos ainda estavam sofrendo com baixo crescimento, altos índices de
desemprego e alto endividamento.
Assim, conclui-se que as patologias da crise descritas por Kindleberger e
Aliber (2014), em sua análise histórica das crises, apareceram como sintomas
também da crise da Dívida Soberana. Mostrando a sustentabilidade de tais
fenômenos descritos como convencionais das crises. A HIF de Minsky mais uma vez
foi verificada e comprovou-se também sustentável descrevendo fatos que culminam
uma crise e a aceitação de um sistema que gera constantemente momentos de
instabilidades como uma característica típica do sistema capitalista. Como
contribuições para a ciência vemos que os escritos de Kindlenberger e Aliber (2014),
assim como os de Minsky (2010, 1993, 1992) são significativos quando se quer
estudar qualquer crise.
Fica também a sugestão, para estudos futuros de se fazer uma analise
história e minuciosa nas economias de Chipre e Estônia, que embora sejam
economias pequenas, parecem ter alta flexibilidade de suas variáveis.
Os altos endividamentos e a má administração pública, realmente podem
aumentar a fragilidade de uma nação ou bloco integrado, como a UE, deixado-as
mais susceptíveis a crises financeiras. Assim deixo para sugestão de análise
também a economia brasileira que hoje tem um endividamento público na casa dos
3 trilhões e que durante o mês de setembro foram gastos cerca de 27 bilhões, não
sei se devido às eleições, mas deixo este último comentário como nova uma
hipótese a ser testada.
52
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