UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS – UFAM INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA – INPA PALINOLOGIA DO NEÓGENO DA AMAZÔNIA SUL OCIDENTAL, BRASIL. SILANE APARECIDA FERREIRA DA SILVA Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Biologia Tropical e Recursos Naturais do convênio INPA/UFAM, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em CIÊNCIAS BIOLÓGICAS, área de concentração em BOTÂNICA. MANAUS - AM 2004
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS – UFAM … · amostras das subsuperfície estudadas. Essas informações corroboram com a datação relativa estabelecida por meio de registros
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O presente trabalho apresenta os principais eventos paleoambientais ocorridos no Intervalo do Mioceno Médio/Superior e Superior. O material de estudo foi sedimentos de amostra de testemunho do Estado do Amazonas e amostras de superfície coletadas em sítios fossilíferos no estado do Acre.
Palavras-chave: Paleoambiente, palinomorfos, Neógeno, Amazônia sul ocidental.
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À minha família pelo apoio,
incentivo e constante presença
apesar da distância, Dedico.
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AGRADECIMENTOS
Ao CNPq pelo financiamento do projeto PNOPG “Implantação do núcleo de Paleontologia
na Amazônia sul ocidental” Proc. N° 551531-01/2.
A CAPES pela bolsa de estudo concedida.
Ao INPA, principalmente a Prof. Dra. Maria Lúcia Absy pela orientação e por não ter
medido esforços para concretização deste trabalho.
A Dra. Vera Maria Fonseca de Almeida e Val, chefe da divisão dos cursos de Pós-
Graduação, Beatriz Nascimento e Elci Batista pelo apoio na concessão e implementação da
bolsa de estudos.
A Universidade Federal de Rondônia- UNIR, pela minha inclusão no quadro de professora
credenciada voluntária desta instituição.
Ä Prof. Dra. Maria Tereza Piedade, chefe da divisão do Curdo de Pós-Graduação em
botânica, e Helcineide Andrade pela ajuda em materiais essenciais para a conclusão dessa
dissertação.
Ao Sr. Raimundo Gato e Dr. Fernando Burgos, representantes do CPRM e DNPM, pela
liberação das amostras pertencentes ao “Projeto Carvão no Alto Solimões” .
Ao Prof. Dr. Rodolfo Dino e Dra. Luzia Antonioli pela valiosa ajuda na identificação de
alguns palinomorfos.
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Ao Professor e Amigo Dr. Mario Alberto Cozzuol pela paciência em explicar e discutir a
complicada história ambiental amazônica.
Às Profs. Dra. Norma da Costa Cruz e Dra. Carina Hoorn, pelos dados valiosos dos
trabalhos pioneiros sobre palinologia Neógeno da Amazônia que muito contribuíram na
realização deste trabalho.
À Jean Caminha pelo constante companheirismo, força e amor doados ao longo desses 6
anos e também pelos conhecimentos compartilhados em informática, na ajuda na confecção
de escalas, Programa Tília e paciência em tentar me ensinar.
À Otilene dos Anjos Santos que, sem dúvida, foi a irmã que Deus colocou no meu caminho.
À Cleonice de Oliveira Moura pela ajuda nas medições dos grãos.
À Dona Maria Gilda Spener, bibliotecária do CPRM, pela ajuda na obtenção da literatura.
À Dr. Mário Sérgio/ CPRM pelas figuras de localização da Formação Solimões.
Ao Dr. Mitsuro Arai e a Fátima Praxedes e pelas sugestões sobre a palinologia do Neógeno
da Amazônia.
À Turma de Pós-Graduação de Botânica de 2002, em especial à Christinny Giselly
Bacelar e Mary Anne Gama e ao agregado Alexadre Coletto pela força e constante
presença.
A Dra. Monika Barth, Dra. Márcia Barros e Eduardo/ UFRJ pelos ensinamentos do
misterioso programa TILIA.
À Dra. Marlene Freitas da Silva/Universidade Estadual do Amazonas que identificou as
sementes provenientes das amostras de sedimentos aflorantes do Acre.
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Ao Prof. Dr. Arnaldo Carneiro Filho, pela ajuda na obtenção do material bibliográfico.
À Elizete Holanda, a homenageada com o Barranco da Elizete, pela colaboração no envio
das fotos e das lâminas.
À Rose Martins e Diana Fernandes do setor de importação do INPA pela competência em
agilizar a burocrática compra de reagentes controladas pelo exército e Polícia Federal.
À Jorge Luiz Santos e Rosalva do Laboratório Geológico de processamento de amostras da
UERJ pela ajuda e atenção despendida no processamento das amostras.
À Equipe de Paleontologia da Universidade Federal do Acre- UFAC que nos acompanhou
na saída de campo.
Aos Drs. Edgardo Latrubesse e Carlos Eduardo Toledo, geólogos que revisaram o texto
relacionado sobre a Formação Solimões.
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ÍNDICE
ÍNDICE DE TABELAS E QUADROS ............................................................................ 10
ÍNDICE DE FIGURAS ..................................................................................................... 10
VI. CONCLUSÕES..................................................................................................... 78
VII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 79
VIII. PRANCHAS.......................................................................................................... 92
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ÍNDICE DE TABELAS E QUADROS
TABELA 1: Coordenadas das localidades de coleta do material de superfície...............28 TABELA 2: Afinidades botânicas e ecológicas dos principais tipos .............................47 QUADRO 1: Quadro comparativo do zoneamento palinoestratigráfico do Neógeno, estabelecido para o Norte da América do Sul..................................................................35
ÍNDICE DE FIGURAS
FIGURA 1: Mapa de localização da Formação Solimões em território brasileiro ...........17 FIGURA 2: Carta estratigráfica das Bacias do Acre e Solimões, mostrando o posicionamento cronoestratigráfico .............................................................................................................20 FIGURA 3: Mapa de Isópacas da Formação Solimões na região do Alto Solimões ........23 FIGURA 4: Localização das áreas de coleta......................................................................26 FIGURA 5: Diagrama polínico das amostras do poço 1AS-32-AM..................................39 FIGURA 6: Diagrama polínico da localidade de Murici....................................................41 FIGURA 7: Sementes coletadas in situ na localidade de Patos..........................................42 FIGURA 8: Correlação entre as amostras do poço e afloramentos ...................................43 FIGURA 9: Modelo Paleoambiental...................................................................................46
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RESUMO
Foram analisadas 14 amostras de sedimentos de testemunhos, distribuídas em
aproximadamente 132m de profundidade, do poço de sondagem 1AS-32-AM cedidas pela
CPRM e DNPM proveniente da região do Alto Solimões e oito amostras de afloramentos
coletadas em algumas localidades fossilíferas ao longo do Rio Acre na fronteira Brasil/Peru.
Foram estudados, descritos e ilustrados 50 esporos e 52 tipos grãos de pólen. A abundância do
marcador bioestratigráfico Grimsdalea magnaclavata em todo o intervalo estudado e na
localidade de Murici e Crassoretitriletes vanraadshoovenii a partir de 71m de profundidade
permitiram datar os sedimentos como pertencentes ao intervalo Mioceno Médio/Superior. A
presença de Echitricolporites spinosus a 25m de profundidade em sedimentos coletados no
Amazonas e nas localidades fossilíferas de Patos e Barranco da Elizete ao longo do Rio Acre
evidenciaram idade do Mioceno Superior para a região do Acre e para a parte superior de
amostras das subsuperfície estudadas. Essas informações corroboram com a datação relativa
estabelecida por meio de registros de idade de mamíferos da Argentina (SALMA), método
atualmente usado para datação dos fósseis coletados na Amazônia. Os dados palinológicos
mostraram que o paleoambiente amazônico durante o Mioceno Médio/Superior e Mioceno
Superior foi definido por regiões pantanosas e alagadiças evidenciadas pela grande quantidade
de esporos de pteridófitas e por áreas cobertas por vegetação arbórea e arbustiva representadas
por grãos de pólen de angiospermas. Nas amostras estudadas não houve indicativo de savanas
ou ambientes costeiros representados pela associação Rhizophora e Acrostichum.
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SUMMARY
Fourteen sediment samples from cores distributed at approximately 132 m deep in
well 1AS-32-AM provided by CPRM and DNPM from the Upper Solimões region and eight
outcrop samples collected from some fossil rich localities along the Acre River in the
Brazil/Peru border were analised. Fifty spores and fifty-two pollen types were studied and
illustrated. The abundance of the biostratigraphic marker Grimsdalea magnaclavata
throughout the studied period as well as at the site in Murici and of Crassoretitriletes
vanraadshoovenii from 71m deep downwards allowed dating the sediments as belonging to
the Middle/Late Miocene period. The presence of Echitricolporites spinosus upwards from
25m deep within sediments collected in Amazonas State and fossil rich sites of Patos and
Barranco da Elizete along the Acre River suggested a Late Miocene age of the Acre region
and of the upper part of the studied well samples. These occurrences agree with the relative
dating established through correlation of the South American Land Mammals Age sequence
from Argentina (SALMA), which is the method being presently used for dating fossils
bearing strata in Brazilian Amazônia. The palynological data showed that the Amazonian
paleoenvironment during the Middle/Late Miocene and Late Miocene was characterized by
flooded swampy regions confirmed by the great amount of fern spores and by areas covered
by arboreal and shrubby vegetation represented by Angiosperm pollen. There was no
indication of savannah or coastal environments represented by Rhizophora and Acrostichum
association in the studied samples.
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I. INTRODUÇÃO
É indiscutível a diversidade de plantas e animais que ocorre na Amazônia evidenciada
nos diferentes ambientes encontrados nessa região e nas variações abióticas que existem na
maior floresta tropical do mundo. Esse cenário também pode ser observado em trabalhos
relativos aos paleoambientes amazônicos, tais como: influência marinha, mudanças drásticas
na temperatura e padrões de pluviosidade, isolamento de regiões seja por deslocamento de
terras ou existência de barreiras físicas. Essas características peculiares fazem da região
amazônica alvo de especulações quanto à origem e manutenção de sua biodiversidade.
Além da atual riqueza biótica, a Amazônia possui um imenso registro fossilífero pouco
explorado e discutido, provavelmente devido à extensa área que abriga essa floresta.
Os trabalhos paleontológicos e geológicos realizados na região são escassos e muitas
vezes são utilizados apenas alguns parâmetros e com base nesses parâmetros se levantam
hipóteses gerais para explicar um ecossistema complexo com mosaicos de habitats. Por essa
razão, o presente trabalho abrange estudos multidisciplinares que integram dados faunísticos,
florísticos e geológicos. Esses estudos permitirão um melhor conhecimento do ambiente
amazônico durante o final do Terciário, período que, de acordo com alguns autores, iniciou a
biodiversidade amazônica ou até mesmo suportou uma diversidade maior que a atual (Morner
et al., 2001; Van der Hammen, 2001).
Os sedimentos estudados no presente trabalho, pertencentes à Formação Solimões,
datam do período correspondente ao final do Terciário e foram depositados a partir do
soerguimento andino que determinou o início de um novo cenário para a floresta amazônica
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por causar mudanças nos cursos das drenagens dos rios e padrões de chuva. A Formação
Solimões também é conhecida pela riqueza fossilífera de fauna e flora, sendo que estes dados
integrados dariam forte evidência sobre a história evolutiva da Amazônia a cerca de 20
milhões de anos antes do presente.
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II. OBJETIVOS
2.1. Objetivo Geral
Esta pesquisa tem como objetivo principal elaborar uma escala padrão da seqüência
estratigráfica que permita integrar os dados paleoecológicos obtidos da ocorrência de fauna e
flora em algumas áreas da Amazônia sul ocidental contribuindo para a história geológica e
ambiental dessa região durante o final do Terciário.
2.2. Objetivos específicos
- Definir biozonas baseadas em análises palinológicas dos sedimentos do Mioceno
Superior da Amazônia sul ocidental.
- Elaborar uma escala padrão que permita posicionar estratigraficamente as associações
fossilíferas encontradas em sítios de superfície.
- Integrar as pesquisas ambientais e da biota nessas localidades.
- Indicar por meio da análise palinológica a vegetação, condições paleoambientais e
inferências paleoclimáticas ocorridos durante o Neógeno na Amazônia.
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III. FORMAÇÃO SOLIMÕES
3.1. Localização
Situada na Amazônia sul ocidental, a Formação Solimões ocupa uma extensão de
aproximadamente 1.000.000 de Km2 (Santos, 1976) e distribui-se pelas Bacias do Solimões e
Acre. Prolonga-se pelas Bacias do Amazonas e Caquetá-Putumayo na Colômbia e Bacias de
Pastaza e Ucayali no Peru (Schobbenhaus et al., 1984; Valderrama & Marmos, 2000). Em
território brasileiro abrange toda área a oeste do Arco de Iquitos, a leste os domínios do Rio
Solimões, ao norte o Rio Japurá e, finalmente, o Rio Purus ao sul (Santos & Silva, 1976; Maia
et al., 1977). Os limites exatos da Formação ainda são desconhecidos dado a falta de
trabalhos de campo e grandes extensões de áreas existentes o que impossibilita o
conhecimento dos limites da unidade. O mapa com a localização estimada da Formação
Solimões, em território brasileiro, encontra-se na figura 1.
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Figura 1: Mapa de localização da Formação Solimões em território brasileiro. Extraído da Geologia tectônica e recursos minerais do Brasil, CPRM. 2001
3.2. Características Geológicas
Geologia histórica- As primeiras pesquisas geológicas na unidade iniciaram com
trabalhos desenvolvidos por Chandless (1866) e Orton (1870) que descreveram seqüências
litológicas fossilíferas presentes na região limítrofe entre o Brasil e Peru. No entanto, somente
no século XX, a denominação Série Solimões foi sugerida por Moraes Rego (1930) para essa
unidade, termo ignorado durante algumas décadas por pesquisadores que utilizaram várias
outras denominações para a seqüência (Caputo et al., 1972). Caputo et al., (1971) observaram
as semelhanças litológicas regionais e revalidaram o termo criado por Moraes Rego (1930)
como Formação Solimões para designar o pacote sedimentar que ocorre na porção ocidental
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da Amazônia brasileira, que cobre também, territórios do Peru e Colômbia. O termo
Formação Solimões é amplamente usado no Brasil mas recebe outras denominações em
países vizinhos como Pebas no Peru e Terciário amazônico na Colômbia (Hoorn, 1993). Na
década de 70, pesquisas abrangentes desenvolvidas pelo Radambrasil (1976) e Projeto Carvão
no Alto Solimões (1977) forneceram informações mais detalhadas sobre a geologia e
geomorfologia da área em questão.
Litologia- Os sedimentos aflorantes da Formação Solimões podem ser divididos
em duas fácies: a primeira de alta energia que é constituída por argilitos, argilitos sílticos e
arenosos, siltitos argilosos e níveis arenosos de granulometria fina a média; de cor variando de
vermelho amarronzado a marrom e estratificação cruzada. A outra depositada em ambiente
de baixa energia composta por sedimentos de cor verde a verde-acinzentado e estratificação
planar ou massiva (Maia et al., 1977; Latrubesse et al., 1997).
Nos sedimentos pertencentes à Formação Solimões são freqüentemente encontrados
restos vegetais e intercalações de linhito, argilas carbonosas e calcáreos (Maia et al., 1977). O
contato inferior da unidade é discordante e encontra-se uma seqüência areno-argilosa de
ambiente oxidante (Formação Ramon) e alguns autores consideram que o contato superior
está recoberto por um sequência arenosa apoiada sobre uma discordância erosiva de possível
idade pleistocênica denominada Formação Içá (Caputo et al., 1971; Maia et al., 1977;
Valderrama & Marmos, 2000), que pode ser interpretada como uma unidade de terraço
Quaternário (Latrubesse, com. pes.). A figura 2 representa a carta estratigráfica da Bacia do
Acre e Solimões.
Cronologia- Pesquisas pioneiras com informações cronológicas da unidade datam
erroneamente a sedimentação da Formação Solimões, tais como os trabalhos mencionados em
seguida: Caputo et al., (1971) consideraram por meio de dados geológicos como sendo de
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idade do Paleoceno a Pleistoceno. Esta idéia foi contestada por Barros et al., (1977) que
admitiu idade Plio-Pleistoceno e caracterizou esta Formação pela presença de argilitos
vermelhos. Discussões ainda maiores vieram após os trabalhos publicados por Campbell &
Frailey (1984) e Kronberg et al, (1991) que utilizaram datações absolutas de sedimentos e
lenho de duvidosa procedência e afirmaram que a deposição ocorreu durante Pleistoceno
Latrubesse et al. 1997 por meio de estudos geológicos e palinoestratigráficos indicaram idade
do Neógeno para a sedimentação da Formação Solimões.
Recentemente, Campbell et al., (2001) confirmam essa informação apartir de
resultados de magnetoestratigrafia e isótopos de Ar da Formação Madre Dios no Peru,
encontrando idades absolutas de 9,01±0,28 Ma e 3,12 ± 0,02 Ma.
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Figura 2: Carta estratigráfica das Bacias do Solimões (à esquerda) e do Acre (à direita) mostrando o posicionamento estratigráfico da Formação Solimões. Extraído do CD-Rom: Geologia tectônica e recursos minerais. CPRM, 2001.
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Ambiente de deposição- Os sedimentos clásticos pertencentes à Formação
Solimões foram depositados em conexão com a orogenia Andina durante o Neógeno em um
ciclo flúvio e flúvio-lacustre com episódios de incursões marinhas durante o Mioceno Inferior
e Médio devido ao aumento global do nível dos oceanos (Haq et al., 1987; Hoorn 1993;
Valderrama & Marmos, 2000). A abundância e a preservação dos fósseis encontrados
indicam um ambiente redutor de baixa energia, evidenciados por abundantes níveis
carbonosos e sedimentos finos. A ocorrência de veios de gipsita e material carbonático nesta
unidade, indica a presença de clima tropical, depositados em ambiente continental
(Radambrasil, 1976; Hoorn, 1993; Monsh, 1998).
Espessura- Dados de sondagem demonstram que o espessamento da Formação
Solimões se dá no sentido ocidental (Cunha & Appi, 1990) mais precisamente, no sentido
Oeste e Sul, sendo que o espessamento de aproximadamente 2200 m na Bacia do Acre é
maior do que as camadas encontradas na Bacia do Solimões que apresenta cerca de 800 m. de
espessura (Cunha & Appi, 1990; Geologia tectônica e recursos minerais. CPRM, 2001). A
figura 3 apresenta o mapa de isópacas indicando a espessura da Formação Solimões na região
do Alto Solimões.
3.3. Características Paleontológicas
O pacote sedimentar da Formação Solimões é conhecido por apresentar abundante
conteúdo fossilífero como observado na literatura (Paula-Couto, 1956; Maia et al., 1977;
Vonhof et al., 1998; Rancy, 2000; Carvalho et al., 2002). As primeiras coletas
paleontológicas nessa área foram iniciadas no século XIX por Chandless (1866) no chamado
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Rio Aquiri, hoje conhecido como Rio Acre e os achados foram identificados e datados por
Agassiz (1868) apud Rancy (2000) como pertencentes ao Cretáceo Superior.
A falta de estudos geológicos integrados às pesquisas paleontológicas tem estimulado
discussões quanto ao estabelecimento da idade de fósseis encontrados, fato que retardou os
estudos paleoambientais na Amazônia por algumas décadas. Atualmente, a idade dos
vertebrados fósseis do Neógeno coletados na Formação Solimões é estimada por datação
relativa por meio de correlações com idade de mamíferos da Argentina. Tendo em vista o
curto Biocron desses animais, este método constitui a ferramenta mais importante de datação
relativa (Pascual, 1965 apud Latrubesse, 1992). A utilização de datação relativa ocorre devido
a ausência de rochas Terciárias potencialmente datáveis na região.
Abaixo serão destacadas as principais descobertas na área em questão:
Fauna - A associação fossilífera encontrada na Formação Solimões é composta
por peixes, répteis, aves, mamíferos e moluscos. Os dados quanto hábito de alimentação e
porte dos animais permitem inferir paleoambiente amazônico durante o Neógeno.
Peixes e Répteis - A associação de peixes e répteis indica um sistema de lagos
interconectados maiores que os atuais e com ampla disponibilidade de oferta trófica devido a
presença de formas em média um pouco maiores em tamanho do que as atuais. A ocorrência
de certos grupos, como Crocodylidae e Gavialidae indicam temperaturas ligeiramente mais
altas que as atuais nas mesmas áreas (Pereira & Bocquentin, 1989). Por outro lado, Monsh
(1998) afirma que a presença de grupos de peixes de ambientes de água doce e salobras
indicandoincursões marinha marginal na Amazônia durante o Mioceno.
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Figura 3: Mapa de isópacas da Formação Solimões na região do Alto Solimões indicando que o espessamento é maior na direção oeste-sul. Extraído de Maia et al., 1977.
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Mamíferos - As formas indicadoras de ambientes de floresta estão representadas por
roedores (especialmente das famílias Erethizontidae e Echimyidae), primatas Cebidae e
preguiças como Xenartra e Pilosa (Rancy, 2000). A existência de ambientes abertos é
evidenciada pela presença de mamíferos terrestres como gliptodontes e tatus pampaterinos
(Xenartra, Glyptodontidae e Pampatheriidae), notougulados da família Toxodontidae,
roedores Dinomyidae, Neoepiblemidae e Caviidae, litopternos da família Macraucheniidae. A
presença de Proboscidea Gomphotheriidae (Amahuacatherium peruvium,) sugere ambientes
abertos com dependência de vegetação arbórea (Campbell et al., 2000). Grupos de hábitos
aquáticos ou semi-aquáticos, como capivaras (família Hydrochoeridae), cetáceos odontocetos
(família Iniidae) e peixes-bois (família Trichechidae) indicam ambientes flúvio-lacustres.
Moluscos: A assembléia encontrada por Nuttall (1990), Vonhof et al., (1998) e
Wesselingh et al., (2001) sugerem a deposição em ambiente lacustre para a unidade.
Flora - Os registros vegetais na região foram demonstrados por estudos palinológicos
realizados no Alto Rio Solimões em amostras de sedimentos de vários poços coletados pelo
projeto Carvão no Alto Solimões que estabeleceu três zonas palinológicas, correspondendo ao
Mioceno, Mioceno/Plioceno e Plioceno (Cruz, 1984). Apesar da pesquisa realizada por Cruz
(1984) ter sido bastante abrangente não foi encontrada a relação entre a localidade, nível e
espécies encontradas nas amostras.
Estudos de cunho bioestratigráficos e paleoambientais desenvolvidos por Hoorn
(1993) em sedimentos do referido projeto permitiram o estabelecimento de cinco zonas
palinológicas que dataram Mioceno Inferior (zona Verrutricolporites e zona Retitricolpites),
2001). Como indicadores de ambientes continentais aquáticos e terrestres foram estabelecidos
grupos:
- Elementos continentais: presença de fragmentos quitinosos de conchostráceos, grãos
de pólen, esporos de pteridófitas, briófitas.
- Elementos aquáticos: cistos de algas, Chomotriletes minor, Azolla sp., M. grandiosus.
- Elementos costeiros: associação de Rhizophora (Zonocostites ramonae) e Acrostichum
(D. adriennis).
Os palinomorfos encontrados foram enquadrados em biozonas definida por Lorente
(1986) e Hoorn (1993) para definir a idade dos sedimentos analisados.
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V. RESULTADOS E DISCUSSÕES
5.1. Zoneamento palinoestratigráfico
O conteúdo fossilífero contido nos sedimentos pode caracterizar camadas geológicas pela
presença de certas espécies-guias ou associações que têm ampla distribuição geográfica e
período curto de existência. Esse princípio básico rege o conceito de unidades
bioestratigráficas ou biozonas que possuem diversas aplicações como na datação de camadas,
correlação estratigráfica, estudos paleoecológicos e determinação de áreas com
potencialidades petrolíferas. Em função da abundância, dispersão e características resistentes
que favorecem a preservação, os palinomorfos constituem um excelente instrumento para o
estabelecimento de biozonas em uma região.
Pesquisas palinológicas de cunho bioestratigráfico na região setentrional da América do
Sul no Terciário foram realizadas por: Germeraad et al. (1968) que estudaram sedimentos
terciários Caribenhos, Wijmstra (1971) pesquisou o Terciário Inferior no Suriname e Guiana
Francesa, Regali et al. (1974) em todo território brasileiro, Lorente (1986) na Venezuela
analisou o Mioceno e Plioceno, Muller et al. (1987) com material de todo Terciário em
regiões distintas ao norte da América do Sul, Cruz (1984) e Hoorn (1993) ao norte do Estado
do Amazonas. A tabela 1 apresenta as diferenças entre o zoneamento palinoestratigráfico
durante o Neógeno definido pelos autores acima citados, com exceção de Wijmstra (1971)
que não o Neógeno.
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O zoneamento determinado por Hoorn (1993) é atualmente usado na Formação Solimões,
sendo este o mais completo registro da palinoflora durante o Mioceno Inferior, Médio e
transição para o Superior na Amazônia.
A associação encontrada em amostras de testemunho e afloramentos na Amazônia sul
ocidental aqui apresentada se enquadram no zoneamento estabelecido por Hoorn (1993) como
pertencentes a Zona Grimsdalea (Lorente, 1986) e a Zona Asteraceae (Lorente, 1986; Muller
et al., 1987; Hoorn, 1993).
A base da biozona Grimsdalea é definida pelo primeiro aparecimento de G.
magnaclavata. Nesta biozona de idade Mioceno Médio/Superior, há também o primeiro
aparecimento de Retitricolporites lorentae e Bombacacidites bellus e abundância de
Crassoretitriletes vanraadshoovenii, Deltoidospora adriennis, Magnastriatites grandiosus e
Zonocostites ramonae na base do intervalo (Hoorn, 1993). O topo da zona de Grimsdalea é
definido pela primeira ocorrência de Echitricolporites spinosus, Fenestrites spinosus ou F.
longispinosus (Lorente, 1986).
A base da zona de Echitricolporites spinosus é definida pelo primeiro aparecimento
da espécie que dá o nome da zona, Compositae e Avicennia tipo. Nesta zona há presença de
Grimsdalea magnaclavata, Psilaperiporites minimus, Cyatheacidites annulatus e
Bombacacidites ciriloensis (Muller et al., 1987).
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Quadro 1: Quadro comparativo do zoneamento palinocroestratigráfico do Neógeno estabelecido, para o norte da América do Sul.
Autor Idade
Germeraad et al., 1968 Regali et al.., 1974
Cruz, 1984
Muller et al., 1987 Lorente, 1986 Hoorn, 1993 Silva, 2004
P L I O
Echitricolpites mcneillyi
B E. mcneillyi
E. spinosus
Fenestrites longispinosus
A-B
Asteraceae
E. spinosus
Superior Echitricolporites spinosus
Grimsdalea
Grimsdalea
Grimsdalea
Médio
Pachidermites diederixii
C.vanraadshoovenii Crassoretitriletes
Crassoretitriletes
Psiladiporites Psiladiporites/ Crototricolpites
G. magnaclavata
Verrutricolporites Retitricolpites
M.vanderhamenii
P.minimus
E.maristellae/ P. minimus
M I O C E N O
Inferior
J.saemrogiformis
E. muelleri
A
V.rotundiporus E.barbeitoensis
Verrutricolporites/ Cicatricosisporites
Verrutricolporites
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5.2. Descrição da associação estudada
5.2.1 Amostras de testemunhos
As amostras analisadas do poço 1AS-32-AM apresentaram predominância de Grimsdalea
magnaclavata em todo o intervalo, seguido pela abundância de Crassoretitriletes
vanraadshoovenii a partir de 71m de profundidade. Mais detalhadamente são descritos os
tipos polínicos encontrados em cada nível:
-132m: A primeira amostra estudada apresentou predominância de Crassoretitriletes
vanraadshoovenii (41,20%), seguido por Perisyncolpites pokornyi (12,80%), Grimsdalea
magnaclavata (9%), Mauritidiites franciscoi (8,20%), Deltoidospora adriennis (7,50%) e
Magnastriatites grandiosus (5,20%).
-126m: Nesse intervalo observa-se a predominância de C. vanraadshoovenii (14%),
Psilatriletes sp. (11%), D. adriennis (10,50%), Grimsdalea magnaclavata (9,50%) e P.
pokornyi (8,50%).
-120m: O intervalo apresenta uma grande similaridade entre as amostras sendo que, C.
vanraadshoovenii com 22,10% continua sendo o mais freqüente elemento da amostra, seguido
por G. magnaclavata (17%), P. pokornyi (10%), D. adriennis (7,61%) e M. franciscoi
(6,2%).R. lorentae, B. bellus e M. howardii têm o primeiro aparecimento neste nível.
-115m: A associação encontrada nesta amostra é composta principalmente por: C.
vanraadshoovenii (60%), G. magnaclavata (14%), D. adriennis (10,5%) e P. pokornyi (7,7%)
e M. franciscoi (1,33%).
-106m: Este nível é dominado por esporos de pteridófitas. A assembléia é formada pela
predominância de M. grandiosus (33,40%), Cicatricosisporites sp. 3 (19%),
Cicatricosisporites sp. 4 (13%), C. vanraadshoovenii (7,50%), Azolla sp. (6,70%) e G.
37
magnaclavata (2,70%). Como pode ser observado na figura 5, nesse período houve uma
diminuição drástica na freqüência de Grimsdalea magnaclavata a favor de elementos
aquáticos, evidenciando a preferência de G. magnaclavata, provável palmeira (Germeraad et
al., 1968) por ambientes secos.
-100m: A partir desse nível temos o crescente aparecimento de G. magnaclavata (35%)
sendo este o mais freqüente componente deste intervalo seguido pela abundância de C.
vanraadshoovenii (19,3%), P. pokornyi (10%) e M. grandiosus (8,70%) .
-92m e 71m: Cerca de 60% da assembléia é constituída por G. magnaclavata,
acompanhada pela presença de C. vanraadshoovenii (11%) e M.grandiosus (9%).
-59m: Neste nível predomina ainda G. magnaclavata (40,20%), P. pokornyi (13,60%) e
D. adriennis (10%). Observa-se um decréscimo de C. vanraadshoovenii para 1,50%.
Observa-se a na base do intervalo abundância de C. vanraadshoovenii que vai diminuindo a
favor de Grimsdalea magnaclavata até o topo da coluna.
- 48 m: Este nível há predominância de G. magnaclavata (23,40%), P. pokornyi (20%), D.
adriennis (12%) e Grimsdalea sp. 1 (10,7%). Não se observa a presença de C.
vanraadshoovenii.
- 25m: Nessa amostras há predominância de G. magnaclavata (28,30%), D. adriennis
(18,30%), E. maristellae e M. grandiosus (6,3%), P. pokornyi e V. usmensis (3,3%).
Encontram-se também, E. spinosus (1%), C. annemariae, P. tibui e P. tertiaria. Um fato
importante é o não aparecimento de C. vanraadshoovenii que como Grimsdalea é um
marcador bioestratigráfico. O primeiro aparecimento de E. spinosus permite definir este
intervalo como pertencente ao Mioceno Superior de acordo com Lorente, 1986 e Muller et al.
(1987).
38
- 17m: O elemento mais freqüente é D. adriennis (22%), P. pokornyi (19%) e G.
magnaclavata (10,8%).
-12,10m: Na última amostra estudada observou-se a predominância de G. magnaclavata
(19,7%), P. pokornyi (15%) e D. adriennis (12%).
A figura 5 apresenta o diagrama de pólen com marcadores bioestratigráficos da sessão
estudada.
39
Figura 5: Diagrama polínico dos principais constituintes da associação encontrada no poço 1AS-32-AM. As linhas representam os limites entre Mioceno Médio Superior e Mioceno Superior
40
5.2.2. Amostras de superfície
Das oito localidades estudadas em apenas uma foi possível contar 300 palinomorfos, as
outras se mostraram com poucos palinomorfos ou algumas onde não foram encontrados
palinomorfos, como descrito abaixo:
A amostra retirada da localidade de Murici foi a única a apresentar os 300 tipos de
palinomorfos. Destacam-se a predominância de G. magnaclavata (27,50%), D. adriennis
Monoporopollenites annulatus (7%) e P. pokornyi (6,42%).
A presença de G. magnaclavata somado a ausência de C. vanraadshoovenii representa um
indício da correlação do sedimento da localidade de Murici à parte superior (até 48m) do poço
1AS-32-AM, indicando a idade do Mioceno Médio Superior. O diagrama polínico da
localidade de Murici está representado na figura 6.
Nas localidades de Cavalcante, Cachoeira da Gracinha, Patos, barranco da Elizete, os
poucos tipos encontrados estão ilustrados nas pranchas I, II, III e VI. Em nenhuma amostra
dessas localidades foi encontrado Grimsdalea magnaclavata. Por outro lado, o material
proveniente de Patos apresentou abundância de esporos e, nessa mesma localidade foram
coletadas sementes “in situ” de Myrtaceae e Euphorbiaceae, Piranhea, sendo esta última
típica de ambiente tipo várzea. As sementes estão ilustradas na Figura 7.
No sítio fossilífero de Patos e no barranco da Elizete houve presença e abundância de E.
spinosus o que define estes sedimentos como pertencente ao Mioceno Superior (Lorente,
1986; Muller et al., 1987).
As amostras obtidas nas localidades de São Geraldo, Ipiranga e São Lourenço não
continham palinomorfos. A ausência de palinomorfos na maioria das amostras de afloramento
41
Figura 6: Diagrama polínico dos principais constituintes da associação encontrada na amostra de afloramento de Murici.
42
impossibilitou a correlação temporal ou ambiental das localidades estudadas através da
análise multivariada.
Figura 7: Sementes coletadas na localidade de Patos. A) Myrtaceae B) Euphorbiaceae, Piranhea. Identificação: Dra. Marlene Freitas e Ilustração Felipe Moraes (DESENHO/INPA).
5.3. Correlação entre os sedimentos analisados
Por meio da presença de Grimsdalea magnaclavata, E. spinosus e ausência de C.
vanraadshoovenii tentou-se estabelecer uma possível correlação bioestratigráfica entre a
associação encontrada no poço 1AS-32-AM e afloramentos de Murici, Patos e Elizete. A
Figura 8 mostra correlação entre as amostras.
A B
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Figura 8: Correlação estratigráfica entre amostras do poço e afloramento.
A ausência de G. magnaclavata em Patos e no Barranco da Elizete não permite inferir
a localização estimada destes sedimentos. Germeraad et al. (1968) afirmam que Grimsdalea
aparece até a zona de Alnipollenites verus, ou seja, até o limite Terciário/Quaternário.
Entretanto, a presença de E. spinosus indica idade Mioceno Superior para essas localidades.
Em relação a C. vanraadshoovenii há desaparecimento deste tipo na base da zona de
E. spinosus (Germeraad et al. 1968). Como pode ser observado no diagrama da Figura 5 o
desaparecimento de C. vanraadshoovenii ocorre antes do primeiro aparecimento de E.
spinosus. Neste intervalo correlacionam-se os sedimentos coletados em Murici como
pertencentes ao Mioceno Médio Superior / Superior devido a presença de G. magnaclavata.
44
5.4. Idade estabelecida
A associação palinoflorística das amostras de testemunho e superfície de Murici mostrou
ser constituída em sua maior parte por Grimsdalea magnaclavata. Na porção superior da
coluna estratigráfica estudada (12-48m) não houve o aparecimento de C. vanraadshoovenii,
fato que ocorreu também em sedimentos coletados no Acre, sendo portanto, estes sedimentos
correlacionados na porção superior da coluna. A presença do marcador bioetratigráfico
Grimsdalea magnaclavata define o sedimento como ao intervalo do Mioceno Médio a
Superior.
O primeiro aparecimento de Echitricolpites spinosus no nível de 25m define o topo da
Zona de Grimsdalea e base da Zona Asteraceae (Interval Zone sensu Lorente, 1986) definida
por Lorente (1986) e Muller et al. (1987) como pertencente ao Mioceno Superior. Não foram
encontrados E. spinosus, Fenestrites spinosus ou Alnipollenites verus nos sedimentos
coletados em Murici, a primeira localidade a ser coletada amostras. Esta localidade está na
jusante sendo que todas as outras localidades rio acima são mais contemporâneas que Murici.
Fato que pode ser constatado pela presença de E. spinosus nas localidades de Patos e
Barranco da Elizete. Sendo assim, esse dado suporta a idade estabelecida para os
macrofósseis coletados no Rio Acre como sendo do Mioceno Superior (Latrubesse, 1992;
Latrubesse et al., 1997).
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5.5. Interpretação paleoambiental
5.5.1. Vegetação
Durante o Mioceno Médio Superior/ Superior pode-se inferir que a vegetação
predominante é constituída por elementos aluviais composta por palmeiras, pteridófitas e
gramíneas (tabela 2). A vegetação está representada principalmente pelos seguintes tipos: 1)
florestas representadas por palmeiras: Mauritia, Grimsdalea (?), Cicatricosisporites sp., M.
vanderhammenii, Proxapertitites tertiaria, R. lorentae e Cyatheaceae (Wijnistra, 1996), 2)
pântanos representados por Crassoretitriletes sp., Compositae, Onagraceae, gramíneas,
Bombacaceae- Bombacacidites baculatus (Wijnistra, 1996) e 3) elementos aquáticos como
Azolla sp., Magnastriatites grandiosus, D.adriennis e Chomotriletes minor (Hoorn, 1993;
Germeraad et al., 1968; Collinson, 2002).
Hoorn (1993) estabeleceu um modelo paleoambiental para o noroeste da Amazônia,
sendo que no intervalo aqui pesquisado não se observou abundância de elementos costeiros
representados pela associação Rhizophora (Zonocostites ramonae) e Acrostichum
(Deltoidospora adriennis). No entanto, na Figura 5 pode ser observada abundância de
Deltoidospora adriennis em todo o intervalo e que de acordo com Collinson (2002) significa
ambiente de lagos e pântanos de água doce.
O modelo estabelecido por Hoorn (1993) consiste em três tipos vegetacionais: 1) planície
costeira composta por Rhizophora e Acrostichum; 2) Vegetação típica de planície aluvial
representada por palmeiras e gramíneas e 3) vegetação de floresta (Figura 9). Nesse estudo
não foram encontrados indicadores de ambiente marinho como microforaminíferos e
dinoflagelados contrariando estudos realizados por Rasanen et al. (1995) que por meio de
interpretação de estruturas sedimentares afirmam a presença de um seaway que cobriu parte
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da Amazônia durante o Terciário. No Acre, a associação permite inferir ambiente úmido a
alagadiço devido a abundância de esporos de pteridófitas.
Figura 9: Modelo paleoambiental (modificado de Hoorn, 1993).
5.5.2. Clima
Hoorn (1994) e Monsh (1998) sugerem que o clima na Amazônia durante o Mioceno
Médio/Superior foi quente e úmido, fato justificado pela presença de gramíneas aquáticas,
palmeiras, indicadores de ambientes alagadiços e presença de crocodilianos .
Durante o Mioceno Superior houve esfriamento global como definido por Kennett
(1982) por meio de registros paleoceanográficos. No entanto, o clima predominante na
Amazônia durante o Mioceno Superior permanece tropical úmido como pode ser observado
pelos principais taxa encontrados e listados na tabela 2, representados principalmente por
elementos florestais e de ambientes pantanosos. A diminuição de G. magnaclavata e aumento
em elementos aquáticos e dependentes de umidade durante este período evidencia um
aumento da umidade para a região.
No intervalo estudado, não foi encontrado palinomorfos que indicassem vegetação
aberta tipo savana como Byrsonima, Didymopanax e Curatella e com grandes quantidades de
gramíneas como registrados em estudos do Pleistoceno (Absy & Van der Hammen, 1976).
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Tabela 2: Afinidades botânicas e ecológicas dos principais tipos.
Grupo Taxa Afinidade Vegetação Clima Referência Outros Azolla Salviniaceae Aquática
Cyathidites Cyatheaceae Arbórea Tropical e subtropical Antonioli, 2001 Cicatricosisporites Schizaeaceae Herbácea Tropical e subtropical Antonioli, 2001 Chomotriletes Schizaeaceae Herbácea Tropical e subtropical Antonioli, 2001 Crassoretitriletes Schizaeaceae Pantanosa ou
costeira Hoorn, 1993
Deltoidospora Cyatheaceae/ Gleicheniaceae
Ambiente aquático. Tropical e subtropical Antonioli, 2001 Collinson, 2002