CAPIacuteTULO IV ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila na liacutengua de sinais
sociolinguiacutesticos de Labov (2008 [1972]) na concepccedilatildeo de que seu texto
sinais algumas possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas Traz
explicaccedilotildees da liacutengua de sinais pelo surdo indiacutecios de variaccedilatildeo e
mudanccedila linguiacutestica apresenta variaccedilotildees linguiacutesticas na liacutengua de sinais
42 ndash A liacutengua de sinais pelo surdo indiacutecios de variaccedilatildeo e mudanccedila
comunicaccedilatildeo Ao verificar o acesso dos surdos agrave comunicaccedilatildeo e agrave
Queremos apresentar algumas variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas a
50 ldquoEacute uma liacutengua natural eacute atraveacutes dela que os surdos tecircm acesso ao mundo em que vivem No
entanto ela natildeo eacute uma liacutengua que o surdo aprende sozinho Ele pode desenvolver uma liacutengua
102
histoacuteria de Santa Catarina Entatildeo queremos perceber se haacute diferenccedilas
durante sua trajetoacuteria entre a variaccedilatildeo linguiacutestica daquela eacutepoca (1950)
ateacute a atualidade se aconteceram mudanccedilas por influecircncia da
transformaccedilatildeo tecnoloacutegica da sociedade Acreditamos que com o passar
do tempo ocorrem mudanccedilas na liacutengua de sinais histoacuterica e
culturalmente na comunidade surda
As liacutenguas de sinais como todas as liacutenguas satildeo dinacircmicas Em
contato com grupos surdos na comunidade modificam-se ao longo do
tempo como qualquer outra liacutengua A mudanccedila pode ser percebida em
diferentes regiotildees onde o surdo busca a informaccedilatildeo utilizando a liacutengua
de sinais que vem de outro lugar com algumas diferenccedilas entre palavras
e seu significado entre sinais
Quando as pessoas surdas evoluem culturalmente a liacutengua de
sinais se transforma Com o passar do tempo a ldquoLIBRASrdquo tambeacutem se
modifica Na interaccedilatildeo do indiviacuteduo surdo na comunidade surda e na
sociedade essas relaccedilotildees de contato fazem com que se criem novos
sinais pois aparecem palavras novas e outros sinais sofrem adaptaccedilotildees
ocorrem mudanccedilas na configuraccedilatildeo de matildeos no ponto de articulaccedilatildeo
no movimento na orientaccedilatildeodirecional na expressatildeo facial e corporal
Essas adaptaccedilotildees satildeo criadas pela necessidade no contato e na situaccedilatildeo
de uso A comunidade surda como qualquer outra vem evoluindo e se
transformando firmando uma identidade surda
Como jaacute ressaltamos a origem da liacutengua de sinais no Brasil eacute
europeacuteia Sua maior influecircncia foi no Rio de Janeiro no Instituto
Nacional de Educaccedilatildeo de Surdos ndash INESRJ onde se expandiu para os
demais estados brasileiros Recebeu influecircncia tambeacutem do Francecircs do
Portuguecircs (Portugal) e dos Estados Unidos O Instituto pesquisou a
influecircncia cultural dos surdos e as influecircncias sofridas quanto a
LIBRAS Assim como na Liacutengua Portuguesa acontecem modificaccedilotildees
na escrita e na fala com o tempo na liacutengua de sinais tambeacutem ocorrem
transformaccedilotildees quanto agrave configuraccedilatildeo de matildeos A liacutengua de sinais
evolui com mudanccedila constante em cada regiatildeo e a comunicaccedilatildeo do
surdo acompanha e qualifica mais a liacutengua de sinais A LIBRAS sofre
modificaccedilotildees com o tempo e tambeacutem como na liacutengua falada apresenta
palavras ou expressotildees proacuteprias do lugar onde acontece a comunicaccedilatildeo
Sendo assim o surdo natildeo tem o contato com a LIBRAS longe da
sociedade ou na zona rural nesse caso pode se apropriar de sinais
proacuteprios para a comunicaccedilatildeo ex Francisco buscava os surdos nas
regiotildees de Santa Catarina pois o contato com a LIBRAS eacute importante
para a sua identidade cultural
103
Realmente pode-se considerar que essas diferentes
palavras se dividem em seu uso em uma escala de faixas
etaacuterias os jovens diriam banheiro seus pais wc e seus
avoacutes reservados por exemplo Pode-se entatildeo imaginar
que eles se dividam segundo o sexo dos falantes os
homens dizendo mais banheiro e wc e as mulheres
toalete e reservado (CALVET 2002 p 103)
A LIBRAS eacute uma liacutengua porque possui estrutura gramatical
proacutepria eacute essencial para o surdo o contato em relaccedilatildeo ao outro como
em qualquer outra liacutengua que tem diferenccedilas gramaticais Utilizando o
movimento de sinal e a expressatildeo facial como meio de comunicaccedilatildeo o
surdo se comunica tanto com a comunidade surda quanto com a ouvinte
O contato dos jovens com os ensinamentos do professor
Francisco proporcionou uma nova fase da liacutengua de sinais A partir
desse contato o modelo linguiacutestico trazido do Rio de Janeiro eacute
aperfeiccediloado pela geraccedilatildeo mais nova do mesmo modo que descreve
Calvet (2002) nos estudos de liacutengua oral
- a ideacuteia de pesquisa uma (s) variaacutevel (eis) frequente (s)
que geralmente aparecem na estrutura linguumliacutestica
variaacuteveis cuja distribuiccedilatildeo deve ser fortemente
estratificada ldquoIsso equivale a dizer que as pesquisas
preliminares deveriam indicar a seu respeito uma
distribuiccedilatildeo assimeacutetrica entre as mais diversas faixas
etaacuterias ou entre outras categorias mais hierarquizadas da
sociedaderdquo - o estabelecimento de uma metodologia que
extrai essas variaacuteveis dos textos produzidos pelos
falantes - a pesquisa da correlaccedilatildeo entre essa
distribuiccedilatildeo de traccedilos linguiacutesticos e uma distribuiccedilatildeo de
traccedilos socioloacutegicos (CALVET 2002 p 93)
Na citaccedilatildeo acima o autor relata que eacute preciso pensar a construccedilatildeo
de identidade levando em conta diferentes faixas etaacuterias e a variaccedilatildeo
linguiacutestica Entendemos assim a necessidade de pesquisarmos as
variaccedilotildees ocorridas em Santa Catarina
A LIBRAS possui uma forma de comunicaccedilatildeo proacutepria Eacute
independente como qualquer outra liacutengua escrita ou falada Tem o
formato proacuteprio na sua comunicaccedilatildeo que eacute o visual pois se utiliza de
sinaisgestos e expressotildees Todos os seres humanos usam um
determinado tipo de liacutengua e linguagem para se comunicar e tanto a
liacutengua falada quanto a sinalizada apresentam sentidos de expressotildees
104
diferentes na comunicaccedilatildeo A liacutengua de sinais muda histoacuterica e
linguisticamente conforme as variaccedilotildees de cada lugar ou regiatildeo Entatildeo
eacute importante a relaccedilatildeo estabelecida com outras pessoas na sociedade na
troca de informaccedilatildeo ideias experiecircncias ensinamentos e aprendizagem
quando se fala uma liacutengua Quando pensamos as liacutenguas percebemos
que existem diferenccedilas na LIBRAS e no Portuguecircs
Frishberg (1975)51
no seu estudo pesquisado no Instituto Teacutecnico
Nacional para Surdos de Nova Iorque aborda como a Liacutengua de Sinais
Americana (ASL) tem mudado gradativamente ao longo do tempo de
uma linguagem mais icocircnica para uma linguagem mais arbitraacuteria Eacute a
liacutengua natural da comunidade surda nos Estados Unidos e em partes do
Canadaacute onde o inglecircs eacute falado Difere das duas liacutenguas que a maioria
das pessoas conhece no sentido de que eacute produzida com as matildeos e
percebida pelos olhos em vez de pronunciado e percebido pelos
ouvidos Entatildeo ela realizou a sua pesquisa sobre alguns processos
histoacutericos em Liacutengua de Sinais onde havia uma forte tendecircncia para
certas mudanccedilas Como toda liacutengua as liacutenguas de sinais aumentam seu
inventaacuterio lexical com novos sinais introduzidos pelas comunidades
surdas em respostas agraves mudanccedilas culturais e tecnoloacutegicas
A liacutengua de sinais possui estrutura gramatical como qualquer
liacutengua utiliza paracircmetros e como todas as liacutenguas tem variaccedilotildees no
niacutevel fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico semacircntico e pragmaacutetico Por
isso pode-se perceber a mudanccedila cotidiana na liacutengua de sinais A pessoa
surda traz do seu contato cultural dos grupos nos quais estaacute inserida
novos olhares desta liacutengua muitas vezes transformando sinais jaacute
existentes em novos sinais
Quadros e Karnopp (2004) dizem que as liacutenguas de sinais
recebem informaccedilotildees linguiacutesticas pelos olhos e satildeo produzidas pelas
matildeos O termo fonologia tem sido muito usado para estudar os
elementos das liacutenguas de sinais Apesar da diferenccedila com as liacutenguas
orais as duas liacutenguas tecircm os mesmos princiacutepios subjacentes de
construccedilatildeo Poreacutem existe um esquema linguiacutestico estrutural nas liacutenguas
de sinais que natildeo tem significado se feito isoladamente que eacute
51 Nancy Frishberg eacute consultora em Liacutengua de Sinais e Interpretaccedilatildeo Ela tem PhD em
linguiacutestica pela Universidade da Califoacuternia San Diego onde sua pesquisa de doutorado focada
em mudanccedila histoacuterica em Liacutengua de Sinais Americana ndash ASL Seu trabalho de dissertaccedilatildeo demostrou que os sinais seguem princiacutepios linguiacutesticos como elas mudam ao longo do tempo
com o uso Seu livro de 1986 ldquoInterpretaccedilatildeo Um Introduccedilatildeordquo que ainda estaacute em versatildeo
impressa eacute o texto principal em muitos programas de treinamento inteacuterprete e serve como base para o exame escrito (primeira etapa) para certificaccedilatildeo pelo Registro de Inteacuterpretes para
Surdos
105
Configuraccedilatildeo de Matildeos (CM) Locaccedilatildeo (L) e Movimento (M) A
LIBRAS eacute basicamente feita com as matildeos (direita ou esquerda) tendo
tambeacutem movimento do corpo e da face A CM L e M se contrastam
minimamente alterando o significado dos sinais
A ASL tem a sua proacutepria gramaacutetica e fonologia Na liacutengua de
sinais eacute o estudo dos movimentos manuais baacutesicos que fornece a base
para todos os sinais sintaxe e morfologia na liacutengua falada A morfologia
estuda como as palavras satildeo formadas a partir de sons e palavras
baacutesicas Na liacutengua de sinais eacute o estudo de como os sinais manuais
baacutesicos representam conceitos A liacutengua americana de sinais eacute uma
liacutengua visual que incorpora gestos expressotildees faciais movimentos da
cabeccedila linguagem corporal e ateacute o espaccedilo ao redor do falante Os sinais
manuais satildeo a base desta liacutengua Muitos deles satildeo icocircnicos o que
significa dizer que o sinal usa uma imagem visual que se parece com o
conceito que representa
Wescott (1971 Frishberg) sugere que todas as formas de liacutengua
(oral escrita e gestual) usam iconicidade Ele diz que a iconicidade eacute um
sinal familiar (caseiro) em vez de uma caracteriacutestica absoluta de
qualquer sistema de comunicaccedilatildeo incluindo a liacutengua
Segundo Frishberg um sinal pode ser especificado atraveacutes de
quatro paracircmetros simultaneamente configuraccedilatildeo de matildeo movimento
ponto de articulaccedilatildeo (ou localizaccedilatildeo) e orientaccedilatildeo Essas descriccedilotildees de
paracircmetro servem para poder distinguir alguns sinais de outros similares
e dar sentido agrave frase num todo como por exemplo os sinais HOJE e
AGORA diferem no paracircmetro movimento mas satildeo iguais na
configuraccedilatildeo de matildeos e na localizaccedilatildeo A alteraccedilatildeo entre esses
paracircmetros pode significar uma completa alteraccedilatildeo no sentido de
algumas palavras Por exemplo o sinal correspondente agrave ldquoMACcedilAtilderdquo pode
significar ldquoQUEIJOrdquo se houver apenas uma mudanccedila na configuraccedilatildeo
de matildeos novamente ldquoMACcedilAtilderdquo pode significar ldquoCURSOrdquo se houver
diferenccedila no local e por fim ldquoMACcedilAtilderdquo pode significar ldquoCUBArdquo se
houver variaccedilatildeo no movimento Esses satildeo pares-miacutenimos encontrados
na LIBRAS A orientaccedilatildeo conforme aplicada tambeacutem pode alterar o
significado de uma palavra Seguem os exemplos na liacutengua de sinais
106
Figura 15 ndash Mostrar os Sinais
As autoras Quadros e Karnopp (2004 p 78) dizem que as
restriccedilotildees fonoloacutegicas requeridas para a boa formaccedilatildeo de sinais podem
ser produzidas pelas matildeos como a) sinais produzidos com uma das
matildeos b) sinais produzidos com as duas matildeos ambas ativas e c) sinais produzidos com as duas matildeos em que a matildeo dominante eacute ativa e a matildeo
natildeo-dominante serve como locaccedilatildeo
Para Battison (1978 Quadros e Karnopp (2004)) haacute duas
restriccedilotildees fonoloacutegicas na produccedilatildeo dos tipos de sinais a) a condiccedilatildeo de
107
simetria e b) a condiccedilatildeo de dominacircncia Quando as duas matildeos se
movem na produccedilatildeo de um uacutenico sinal CM deve ser a mesma para as
duas matildeos a locaccedilatildeo deve ser a mesma ou simeacutetrica o movimento deve
ser simultacircneo ou alternado Jaacute na condiccedilatildeo de dominacircncia as matildeos
apresentam diferentes configuraccedilotildees e entatildeo a matildeo ativa produz o
movimento e a matildeo passiva serve de apoio
A importacircncia dessa transferecircncia de movimento do rosto ou
corpo para as matildeos deve ser ressaltada bem como a concentraccedilatildeo para
uma sinalizaccedilatildeo de faacutecil entendimento Alguns sinais continuam sendo
motivados para uma mudanccedila dentre eles WILL (indica o futuro)
CARE (cuidado) TEDIOUS (tedioso) FINDFAULT (criticar) e
MEET (encontrar) Nessas mudanccedilas satildeo observadas algumas
caracteriacutesticas corporais tais como movimentos ordenados dos dedos e
matildeos deslocamento lateral da cabeccedila e movimentos do toacuterax
Pesquisei outro exemplo no curso de LetrasLIBRAS sobre a
variaccedilatildeo fonoloacutegica ldquoOs sinais FUNNY (engraccedilado) BLACK (preto)
e BORING (chato) satildeo exemplos de variaccedilatildeo fonoloacutegica pois esses
sinais podem ser realizados de duas formas soacute com o indicador
distendido e os outros dedos fechados ou com o
indicador e o polegar distendidos e os demais dedos fechadosrdquo
108
Figura 16 ndash Variaccedilatildeo fonoloacutegica
Outro exemplo interessante dos autores Woodward e Desantis
(1976) satildeo sinais que podem ser realizados tanto com uma matildeo quanto
com duas matildeos como os sinais CAT (gato) COW (vaca) e FAMOUS
(famoso) que satildeo produzidos no rosto
CAT COW
FAMOUS
(TENNANT amp BROWN 2004)
Figura 17 ndash Mostrar os sinais com uma matildeo e com duas matildeos
109
Vamos conhecer e refletir sobre as variaccedilotildees dos surdos
essencialmente com relaccedilatildeo agrave liacutengua de sinais
Klima e Bellugi (1979) representam uma pesquisa fonoloacutegica na
liacutengua de sinais do ASL A ASL ndash American Sign Language eacute a liacutengua
natural da comunidade surda nos Estados Unidos Os autores
identificam na liacutengua de sinais apenas trecircs paracircmetros configuraccedilatildeo de
matildeo (CM) ponto de articulaccedilatildeo (ou localizaccedilatildeo) (L) movimento (M)
que ao serem analisados individualmente natildeo satildeo possuidores de
significado e a outra autora Brito (1995) no Brasil pesquisou partes dos
paracircmetros primaacuterios a configuraccedilatildeo das matildeos o ponto de articulaccedilatildeo e
o movimento e tambeacutem os paracircmetros secundaacuterios52
a regiatildeo de
contato a orientaccedilatildeo das matildeos e a disposiccedilatildeo das matildeos
Segundo Frishberg em se tratando de tendecircncia para a simetria a
liacutengua toma vaacuterias formas Examinando o seu desenvolvimento em dois
paracircmetros matildeo-forma e movimento nota-se que ambas as matildeos agem
em uniacutessono e uma matildeo age sobre a outra As matildeos assumiram a mesma
configuraccedilatildeo Pode-se ver que alguns sinais mudam sua forma de
expressatildeo antes era com apenas uma das matildeos e agora se tornam as
duas
Eacute claro que os sinais tendem a seguir mudanccedilas ao longo da
histoacuteria Por exemplo para sinais no rosto tendem a utilizar apenas uma
matildeo deixando a face mais visiacutevel e permitindo que os olhos expressem
uma variedade de fins gramaticais Jaacute para os sinais na aacuterea do tronco
geralmente usam as duas matildeos ndash o que muitas vezes eacute sinal de
redundacircncia e simetria
Segue o exemplo da liacutengua de sinais do ASL
52 BRITO (1995) Regiatildeo de Contato ldquoRefere-se agrave parte da matildeo que entra em contato com o corpo Esse contato pode-ser dar maneiras diferentes atraveacutes de um toque de um risco de um
deslizamento etcrdquo
Orientaccedilatildeo das Matildeos ldquoEacute a direccedilatildeo da palma da matildeo durante o sinal voltada para cima para
baixo para o corpo para frente para esquerda ou para a direita Pode haver mudanccedila na
orientaccedilatildeo durante a execuccedilatildeo do Movimentordquo
Disposiccedilatildeo das Matildeos ldquoA articulaccedilatildeo dos sinais pode ser feita apenas pela matildeo dominante ou
pelas duas matildeos Neste uacuteltimo caso as duas matildeos podem se movimentar para formar o sinal ou entatildeo apenas a matildeo dominante se movimenta e a outra funciona como Ponto de
Articulaccedilatildeordquo
110
Figura 18 ndash Sinal de Paacutessaro
Para o sinal de PAacuteSSARO em um primeiro momento utiliza-se
uma das matildeos na aacuterea da face para o sinal ldquobicordquo e em seguida as duas
matildeos (uma para cada lado) em forma de asas Por fim o sinal
PAacuteSSARO hoje eacute apenas representado pela primeira parte (bico em
matildeo uacutenica)
A histoacuteria documentada da liacutengua americana de sinais natildeo eacute
longa existe uma seacuterie de gestos registrados ao longo da histoacuteria mas
foi somente no final do seacuteculo XVIII que os surdos foram considerados
educaacuteveis
Segundo Frishberg ldquoHomesignrdquo (sinais caseiros) eacute um termo
geral utilizado pela comunidade surda para se comunicar poreacutem eacute uma
forma bastante utilizada principalmente pelas matildees em aacutereas rurais que
tecircm filhos surdos Dados estatiacutesticos mostram que 80 a 90 dos surdos
nascem de pais ouvintes por essa razatildeo haacute uma necessidade inevitaacutevel
de comunicaccedilatildeo A partir dessa necessidade as matildees principalmente
precisam encontrar maneiras de se comunicar com os filhos e passam a
criar sinais de forma empiacuterica sem qualquer regra ou seja sinais natildeo
padronizados Tais sinais inventados passam a criar certas dificuldades
111
de comunicaccedilatildeo entre as diferentes comunidades de surdos Existe a
ASL (Liacutengua de Sinais Americana) com uma linguagem jaacute padronizada
que comeccedila a ser difundida e ensinada atraveacutes das escolas americanas
com sinais padronizados
A liacutengua de sinais padronizada enfrenta ainda dificuldade pois
algumas escolas eram proibidas politicamente de ensinar atraveacutes da
metodologia da ASL O fato eacute que outras escolas mesmo sem a devida
autorizaccedilatildeo comeccedilam a ensinar a liacutengua padronizada Os surdos
comeccedilam a aprender a liacutengua padratildeo mas continuam a se comunicar em
casa com os familiares usando o ldquohomesignrdquo (sinais caseiros) A
comunicaccedilatildeo ensinada em casa requeria a utilizaccedilatildeo de vaacuterios recursos
ambientais para a comunicaccedilatildeo entretanto havia a dificuldade de
encontrar referecircncia para as cores nos recursos ambientais pois para se
referir a uma cor eles deveriam encontraacute-lo na natureza aproximar-se o
suficiente para apontar e fazer a associaccedilatildeo com a cor
Historicamente pode-se afirmar que ao longo do tempo a forma
de comunicaccedilatildeo entre a comunidade surda vem mudando
constantemente teacutecnicas e sinais vecircm sendo aperfeiccediloados Ao inveacutes de
gestos natildeo-estruturados o que encontramos eacute uma gama de sinais e
movimentos de matildeos regularizados ou seja inter-relacionados
conjunto sistematizado de sinais que estaacute passando por mudanccedilas de
forma regular e formal
Quadros e Karnopp (2004 p 51) observam que os articuladores
primaacuterios das liacutenguas de sinais satildeo as matildeos estas se movimentam em
um espaccedilo determinado em frente ao corpo Um sinal pode ser
articulado com uma ou duas matildeos ou seja um mesmo sinal pode ser
articulado tanto com a matildeo direita quanto com a esquerda Mas precisa-
se levar em conta que sinais efetuados com as duas matildeos apresentam
restriccedilotildees em relaccedilatildeo ao tipo de interaccedilatildeo entre as matildeos De acordo
com Brito (1995) a LIBRAS apresenta 46 Configuraccedilotildees de Matildeos
(CMs) mas nem todas as liacutenguas de sinais partilham do mesmo nuacutemero
de configuraccedilotildees de matildeos Seguem quatro imagens de configuraccedilotildees de
matildeos difundidas no Brasil
112
As Configuraccedilotildees de Matildeos da LIBRAS
Figura 19 Figura 20
Figura 19 e 20 ndash Ferreira-Brito e Langevin (1995 p220)
Figura 21 Figura 22
Figura 21 ndash httpwwwinesgovbrlibrasprincipalaspASSU_id=3
Figura 22 ndash Quadro de CMs da LSB por Pimenta e Quadros (2006 p 73)
113
Um aspecto recorrentemente discutido eacute a iconicidade dos sinais
ndash em oposiccedilatildeo agrave arbitrariedade da relaccedilatildeo entre significado e
significante observada na constituiccedilatildeo do signo linguiacutestico em liacutenguas
orais Reconhecendo nas liacutenguas de sinais a iconicidade a par da
arbitrariedade (e remetendo a estudos que demonstram por exemplo a
dificuldade por parte de informantes de deduzirem significados em
relaccedilatildeo a muitas formas aparentemente icocircnicas) as autoras (Ferreira-
Brito e Langevin Pimenta e Quadros) destacam o fato de que signos
icocircnicos sofrem mudanccedilas as quais frequentemente ldquotendem a inibir a
natureza icocircnica dos sinais tornando-os mais arbitraacuterios atraveacutes dos
temposrdquo
Embora os demais sinais natildeo-manuais sejam realizados de forma
muitas vezes equivocada quando estes satildeo de forma simples como
afirmativa negativa e exclamativa natildeo haacute um comprometimento do
significado na sentenccedila Mas quando associados a outras formas o
equiacutevoco na execuccedilatildeo da expressatildeo facial provoca uma mudanccedila no
significado da sentenccedila passando esta a pertencer a outra classe
As liacutenguas orais modificam-se como no caso das palavras que
caem em desuso outras que satildeo adquiridas aumentando o vocabulaacuterio
e ainda mudando de significado das palavras O mesmo acontece nas
liacutenguas de sinais a fim de responder agraves necessidades que a evoluccedilatildeo
soacutecio-cultural impotildee
A ASL por sua vez estaacute seguindo a teoria citada acima
substituindo seus iacutecones por siacutembolos que de maneira geral tendem a
ser menos transparentes e icocircnicos pois se tornam mais arbitraacuterios
siacutembolos convencionais
Com o passar do tempo ocorrem muitas mudanccedilas nas liacutenguas
para suprir as necessidades de comunicaccedilatildeo e as modificaccedilotildees de
costumes de cada geraccedilatildeo Assim novos sinais satildeo criados de acordo
com a necessidade de cada grupo
Na verdade temos que pesquisar a liacutengua de sinais em Santa
Catarina observar o sujeito surdo em diferentes faixas etaacuterias
investigando o surgimento do primeiro espaccedilo de identidade cultural do
surdo em contexto social e acessando gramaticalmente a liacutengua de
sinais Esse espaccedilo foi conquistado pela poliacutetica linguiacutestica que assegura
o envolvimento com a liacutengua de sinais que estaacute se expandindo na
sociedade em nosso estado catarinense
Como toda liacutengua a LIBRAS sofre influecircncia das mudanccedilas
histoacutericas e culturais as liacutenguas satildeo dinacircmicas e natildeo estaacuteticas por isso
elas vivem sofrendo alteraccedilotildees e com as liacutenguas de sinais ocorre o
mesmo Essas mudanccedilas podem ser percebidas nas diferentes regiotildees
114
onde satildeo utilizadas as mesmas liacutenguas em que haacute algumas diferenccedilas
em algumas palavras ou expressotildees Mas como tem sido a participaccedilatildeo
do registro na comunicaccedilatildeo do surdo neste espaccedilo linguiacutestico e histoacuterico
cultural na liacutengua de sinais
Calvet (2002) mostra relaccedilotildees entre a liacutengua e a sociedade
fornecendo embasamento agraves explicaccedilotildees sobre as variaccedilotildees
sociolinguiacutesticas o que nos permite fazer uma comparaccedilatildeo das
descriccedilotildees agraves influecircncias externas e internas que a liacutengua de sinais de
Santa Catarina sofreu ateacute chegar ao estaacutegio em que se encontra
atualmente expandido em LIBRAS
Eacute importante registrar a nova histoacuteria da liacutengua de sinais suas
variaccedilotildees e o seu potencial transformador na realidade da comunidade
surda
O sistema linguiacutestico eacute heterogecircneo e as variaccedilotildees podem ser
observadas sob vaacuterios aspectos Sob o ponto de vista diacrocircnico
podemos observar o processo de sistematizaccedilatildeo linguiacutestico de alguns
gestos extralinguiacutesticos usados por usuaacuterios de liacutengua oral auditiva
que foram lexicalizados na LIBRAS tais como os gestuais que
correspondem ao significado de LOUCO ADEUS POSITIVO etc
Por outro lado sob uma perspectiva sincrocircnica vaacuterias formas
podem ser alternadas e podem representar aleacutem disso uma variaccedilatildeo
diatoacutepica53
e a variaccedilatildeo diafaacutesica54
Essas variaccedilotildees referem-se a
variaacuteveis geograacuteficas podem coexistir duas ou mais formas com um
mesmo significado Eacute o caso do sinal CULTURA (matildeo em ldquo5rdquo na testa
ou matildeo em ldquoCrdquo ao longo do braccedilo de apoio) Essas variantes podem
identificar usuaacuterios provindos do Sul e Centro-Oeste respectivamente e
em outras regiotildees por apresentarem sinais diferentes
Em geral um dialeto abrange uma zona ou regiatildeo territorial que
pode ou natildeo coincidir com as fronteiras ou barreiras geograacuteficas No
53 Variaccedilatildeo diatoacutepica eacute a regional quando haacute elementos diferentes dentro de um mesmo territoacuterio linguiacutestico mas natildeo necessariamente dentro de um mesmo dialeto Nem sempre os
elementos detentos de variaccedilotildees diatoacutepicas concorrem a menos quando haacute fortes migraccedilotildees
dentro de um mesmo territoacuterio Podem ocorrer interferecircncias mais incisivas quando determinadas regiotildees possuem destaque econocircmico poliacutetico social e cultural
54 Variaccedilatildeo diafaacutesica eacute a situacional relativa agraves diferentes monitoraccedilotildees do falante nas diferentes situaccedilotildees de interaccedilatildeo Exemplo uma pessoa estaraacute mais monitorada em seu
ambiente de trabalho do que nas interaccedilotildees realizadas em ambiente domeacutestico A variaccedilatildeo
diafaacutesica vem da afirmaccedilatildeo LABOVIANA de que natildeo haacute falante de estilo uacutenico A produccedilatildeo linguiacutestica eacute dependente do contexto social
115
Brasil existem vaacuterios dialetos55
(ou variedades) em comunidades de
ouvintes onde se fala a Liacutengua Portuguesa com diferentes usos Ex
bergamota vergamota e tangerina Palavras variaacuteveis acontecem em
vaacuterias regiotildees e podem ser usadas por motivaccedilatildeo social e ou regional A
seguir algumas variaccedilotildees linguiacutesticas que ocorrem na LIBRAS Ex o
sinal de Cultura SC SP e RJ Seguem os sinais
Figura 23 ndash Sinal ldquoCultura em SCrdquo
Figura 24 ndash Sinal ldquoCultura em SPrdquo
Figura 25 ndash Sinal ldquoCultura em RJrdquo
55 Variedade ndash ldquoa fala de uma comunidade de modo global considerando-se todas as suas particularidades tanto categoacutericas quanto variaacuteveis o mesmo que dialeto ou falarrdquo COELHO
et al (2010 p 166)
116
Um outro exemplo de variaccedilatildeo diatoacutepica no leacutexico do portuguecircs
pode ser observado na diferenccedila entre MACAXEIRA (Norte e
Nordeste) MANDIOCA (Sudeste e Centro-Oeste) e AIPIM (Sul)
A liacutengua de sinais tem uma importacircncia muito significativa para a
comunicaccedilatildeo entre surdos e tambeacutem entre surdos e ouvinte pois sem a
liacutengua de sinais dificultaria a comunicaccedilatildeo e os surdos natildeo conseguiriam
viver na comunidade
A LIBRAS possui forma clara e definida em sua estrutura
gramatical que se estabelece no dia a dia dos que a utilizam Suas vaacuterias
formas sua estrutura o grupo que a utiliza a influecircncia social e
geograacutefica torna a LIBRAS uma liacutengua como qualquer outra pois
realiza a verdadeira funccedilatildeo de comunicar Como Calvet (2002 p 89)
explica variaacuteveis linguiacutesticas satildeo muito usadas em todas as liacutenguas
ldquoDeste modo um reacuteptil comum em todo o Brasil eacute chamado de ldquoosgardquo
na regiatildeo Norte ldquobribardquo ou ldquoviacuteborardquo no Nordeste e ldquolagartixardquo no
Centro-Sul56
rdquo
43 ndash As variaccedilotildees linguiacutesticas na liacutengua de sinais
Uma definiccedilatildeo geral sobre a variaccedilatildeo linguiacutestica na liacutengua de
sinais torna-se necessaacuteria para melhor aproveitamento desta pesquisa Eacute
importante considerar os dialetos regionais natildeo soacute usados em regiotildees
diferentes no contato social mas no espaccedilo de uso cultural da liacutengua
influenciando o surdo
A Liacutengua de Sinais Americana (ASL) eacute diferente da Liacutengua de
Sinais Britacircnica (BSL) que por sua vez eacute diferente da Liacutengua de Sinais
Argentina e tambeacutem da Liacutengua de Sinais Francesa (LSF) Verificamos
que nos demais paiacuteses tambeacutem satildeo diferentes as liacutenguas de sinais e as
variaccedilotildees linguiacutesticas no contexto social dos surdos no mundo
(STROBEL e FERNANDES 1998) Observe
Ex
56 O exemplo do autor eacute o seguinte ldquoDesse modo um objeto simples como a serpiliegravere peccedila de pano usada para limpar o chatildeo pode tambeacutem ser chamada de panosse (na Saboacuteia e na
Suiacuteccedila) wassingue (no Norte) torchon (no leste) since (no sudeste)rdquo
117
NOME
ASL LIBRAS
Figura 26 ndash Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo ndash Depto Educaccedilatildeo
Especial ndash CuritibaPR SEEDSUEDDEE
Aleacutem disso dentro de um mesmo paiacutes haacute as variaccedilotildees regionais
Na LIBRAS tambeacutem existem dialetos regionais salientando assim uma
vez mais o seu caraacuteter de liacutengua natural
Os povos57
surdos satildeo influenciados pelos contatos nas liacutenguas de
sinais Em cada regiatildeo o surdo se comunica A liacutengua difere quanto ao
dialeto social e cultural Haacute variaccedilatildeo linguiacutestica em LIBRAS
As variaccedilotildees linguiacutesticas relacionadas ao contexto satildeo chamadas
de variaccedilotildees estiliacutesticas ou registro Os paracircmetros de variaccedilatildeo
linguiacutestica satildeo diversos no ato de interagir verbalmente um falante
utilizaraacute a variedade linguiacutestica relativa agrave sua regiatildeo de origem classe
social idade escolaridade sexo ou ainda acrescenta-se sua condiccedilatildeo
adaptativa de origem como no caso da pessoa surda
O professor Francisco participou do grupo surdo de outras regiotildees
dos estados de Santa Catarina Paranaacute Rio Grande do Sul Satildeo Paulo
Rio de Janeiro e Minas Gerais em contato com a liacutengua de sinais e suas
variaccedilotildees linguiacutesticas No dialeto regional haacute variaccedilatildeo linguiacutestica
diferenccedilas percebidas no espaccedilo cultural do surdo nas situaccedilotildees de
conversa na associaccedilatildeo escola e comunidade Os sujeitos surdos que
relataram o depoimento para a pesquisa sobre a liacutengua de sinais falavam da importacircncia do Francisco para a comunidade surda de SC
57 O povo surdo segundo STROBEL (2006) refere-se ao conjunto de sujeitos que natildeo habitam
no mesmo local mas que estatildeo ligados por uma origem tais como a cultura surda costumes e interesses semelhantes histoacuterias e tradiccedilotildees comuns e qualquer outro laccedilo
118
No mundo haacute pelo menos uma liacutengua de sinais usada
amplamente na comunidade surda de cada paiacutes diferente da liacutengua
falada utilizada na mesma aacuterea geograacutefica Isto se daacute porque essas
liacutenguas de sinais satildeo independentes das liacutenguas orais pois foram
produzidas dentro das comunidades surdas (STROBEL e
FERNANDES 1998)
Pode ser considerado como sotaque na liacutengua de sinais as
variaccedilotildees linguiacutesticas e costume cultural diferentes de cada regiatildeo
Entatildeo Francisco trouxe a experiecircncia do contato com outras regiotildees
para o grupo de surdos de SC na comunicaccedilatildeo em liacutengua de sinais
44 ndash O surdo se comunica a liacutengua de sinais no contexto social
O dialeto social refere-se a variaccedilotildees de configuraccedilatildeo das matildeos
eou de movimento natildeo modificando o sentido do sinal (STROBEL e
FERNANDES 1998) Dependendo da situaccedilatildeo de uso da comunicaccedilatildeo
do surdo na liacutengua de sinais a variaccedilatildeo pode ser observada atraveacutes da
configuraccedilatildeo das matildeos como em
Ex
Figura 27 ndash Sinal de Ajudar
119
Figura 28 ndash Sinal de Faltar
Figura 29 ndash Sinal de Ocircnibus
Figura 30 ndash Sinal de Sonhar
120
Nem todos os usuaacuterios de uma liacutengua falam do mesmo
jeito por isto todas as liacutenguas naturais possuem
variaccedilotildees linguiacutesticas A LIBRAS tambeacutem apresenta
dialetos regionais reforccedilando seu caraacuteter de liacutengua
natural As variaccedilotildees na LIBRAS ocorrem de vaacuterias
formas como alteraccedilotildees na configuraccedilatildeo de matildeos (forma
que a matildeo assume na realizaccedilatildeo do sinal) ou na
localizaccedilatildeo espacial do sinal (local onde o sinal eacute
realizado) sem que seu sentido e significado sejam
perdido ou modificados Tambeacutem haacute sinais diferentes
para representar um mesmo referente usando em
diferentes regiotildees do paiacutes agraves vezes do mesmo estado
(BASSO e SCHMITT 2007 p 50 e 51)
O valor social58
das formas em variaccedilatildeo se estabelece nas
relaccedilotildees sociais e na avaliaccedilatildeo do que pode ser considerada uma
variedade de prestiacutegio ou uma variedade estigmatizada Estilos formais
ou distensos podem ser identificados a partir de um estudo da variaccedilatildeo
das formas no contexto social Estudos sobre o portuguecircs falado
mostram por exemplo que jovens mais favorecidos tendem a fazer
mais concordacircncia verbal em oposiccedilatildeo aos menos favorecidos que
tendem a usar menos concordacircncia Isso mostra o fator externo
(mercado de trabalho ou situaccedilatildeo) e a necessidade de o falante se
adequar ao valor linguiacutestico de concordacircncia considerado como de
prestiacutegio nesse espaccedilo Podemos concluir que a LIBRAS como
qualquer outra liacutengua apresenta variaccedilatildeo e mudanccedila mas ainda
precisamos aprofundar os estudos linguiacutesticos dessa liacutengua para melhor
conhececirc-la em seus diferentes aspectos (lexicais fonoloacutegicos
morfoloacutegicos e sintaacuteticos) O capiacutetulo 6 traraacute uma descriccedilatildeo sobre
alguns desses aspectos em variaccedilatildeo e mudanccedila Acreditamos que com a
proposta biliacutengue para a educaccedilatildeo de surdos a liacutengua portuguesa e a
LIBRAS teratildeo uma relaccedilatildeo cada vez mais intensa e o contato dessas
duas liacutenguas pelos surdos vai acarretar com toda a certeza trocas
linguiacutesticas entre elas o que pode provocar novas transformaccedilotildees
58 Valor social eacute relativo aos problemas de avaliaccedilatildeo e eacute atribuiacutedo pelos proacuteprios falantes e
usuaacuterios de liacutengua de sinais ou seja eacute sempre de ordem social (nunca linguiacutestica) Valor
atribuiacutedo desenha o futuro das formas concorrentes jaacute que a forma eleita eacute sempre a que recebe maior valor e que muitas vezes corresponde agraves formas adotadas pela elite econocircmica poliacutetica
social ou cultural de uma dada comunidade (surda)
121
CAPIacuteTULO V ndash Metodologia
51 ndash Introduccedilatildeo
Investigarei a histoacuteria da liacutengua de sinais em Santa Catarina e as
variaccedilotildees e mudanccedilas fonoloacutegicas e lexicais ocorridas no periacuteodo que
compreende 1946 aos dias atuais fazendo comparaccedilotildees entre sinais que
aparecem nos relatos de experiecircncias em trecircs geraccedilotildees de surdos
pesquisadas
A metodologia utilizada para esta pesquisa foi a de coleta de
dados atraveacutes de perguntas e depoimentos dos surdos envolvidos nas
trecircs geraccedilotildees das uacuteltimas deacutecadas A coleta de dados de informantes59
foi realizada com o objetivo de solicitar depoimentos sobre fatos
histoacutericos e sobre o contato que os surdos tiveram com a liacutengua de
sinais
Os depoimentos dos ex-alunos surdos bem como dos surdos
envolvidos na comunidade surda catarinense nas uacuteltimas deacutecadas foram
realizados por meio de entrevistas filmadas Eu mesmo fiz os viacutedeos
Mas antes conversei com cada um dos surdos explicando porque
precisava de seu depoimento Apoacutes a aceitaccedilatildeo de cada um formei os
trecircs grupos por idade Cada um assinou uma ficha do informante para
realizar a pesquisa (em anexo) com dados pessoais e autorizaccedilatildeo
Foram utilizadas trecircs cacircmeras para a filmagem colocadas de forma a
gravar o depoimento dos trecircs surdos simultaneamente Primeiro filmei o
Grupo I Os informantes ficaram sentados na frente de cada cacircmera um
ao lado do outro Depois fiz a pergunta e eles teriam trinta minutos para
dar a resposta e mais vinte minutos para conversarem entre eles Liguei
as trecircs cacircmeras e saiacute da sala Voltei aproximadamente apoacutes uma hora e
desliguei as cacircmeras Fiz o mesmo com o Grupo II e com o Grupo III O
Grupo III foi filmado na UFSC os outros dois numa sala da Associaccedilatildeo
de Surdos A resposta sobre a histoacuteria da educaccedilatildeo de surdos em SC
mais a conversa espontacircnea em LIBRAS trouxe material de qualidade
para a pesquisa A escolha dos surdos levou em conta o fato de os
escolhidos terem frequentado a escola na deacutecada de 1950 quando surgiu
tambeacutem uma associaccedilatildeo de surdos catarinenses
Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os seguintes toacutepicos a coleta
59 COELHO et al (2010 p 164) ldquosujeito da pesquisa sociolinguiacutestica aquele que fornece seus
dados linguiacutesticos para que o pesquisador analiserdquo
122
de dados das trecircs geraccedilotildees com as diferentes faixas etaacuterias o meacutetodo de
entrevista sociolinguiacutestica a coleta de narrativa de experiecircncia pessoal
a transcriccedilatildeo de dados dos trecircs grupos compostos de informantes surdos
na liacutengua de sinais os informantes do grupo surdo na liacutengua de sinais e
por fim a descriccedilatildeo dos informantes quanto aos dados
Como procedimento metodoloacutegico no primeiro momento
realizamos uma coleta inicial de dados na liacutengua de sinais observando
uma diferenccedila de 30 anos entre um grupo e outro Cada grupo eacute
composto de trecircs indiviacuteduos
O Grupo I eacute formado por pessoas mais velhas na faixa
etaacuteria entre 60 a 80 anos
O Grupo II eacute formado por pessoas entre 30 a 60 anos e
O Grupo III eacute formado por indiviacuteduos na faixa etaacuteria de
15 a 30 anos
Com a anaacutelise da LIBRAS usada pelos indiviacuteduos dessas trecircs
faixas etaacuterias esperamos poder detectar se nas trecircs geraccedilotildees de
sinalizadores da liacutengua de sinais em Santa Catarina vamos encontrar
mudanccedila em tempo aparente
Entatildeo foram entrevistados os trecircs informantes do Grupo III na
situaccedilatildeo de mais jovem em idade na faixa etaacuteria de 15 a 30 anos 1)
Informante A 2) Informante B e 3) Informante C
No segundo momento foi feita a coleta dos dados do Grupo I
Para saber o que existe no primeiro grupo de diferente precisamos
identificar os sinais antigos para depois fazermos uma comparaccedilatildeo com
as liacutenguas de sinais da atualidade Assim foram entrevistados trecircs
sujeitos surdos mais velhos na faixa etaacuteria de 60 a 80 anos 1)
Informante G 2) Informante H e 3) Informante I
No terceiro momento foram entrevistados os informantes do
Grupo II outros trecircs alunos de Francisco na faixa etaacuteria de 30 a 60
anos 1) Informante D 2) Informante E e 3) Informante F Acreditamos
que as formas usadas pelo professor Francisco serviram e servem de
modelo influenciando os alunos E que agraves vezes os alunos do professor
Francisco podem usar alguns sinais proacuteprios do professor surdo em
conversas na escola na associaccedilatildeo e na comunidade surda das regiotildees
de Santa Catarina Eacute possiacutevel tambeacutem que o ex-professor Francisco
usasse outros sinais quando conversava com os amigos os ex-alunos
surdos na escola e associaccedilatildeo em Santa Catarina
123
Foi levado em consideraccedilatildeo na coleta o que sugere Tarallo
(2000)
O pesquisador ao selecionar seus informantes estaraacute em
contato com falantes que variam segundo classe social
faixa etaacuteria etnia e sexo Seja qual for a natureza da
situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo seja qual for o toacutepico central
da conversa seja quem for o informante o pesquisador
deveraacute tentar neutralizar a forccedila exercida pela presenccedila
do gravador e por sua proacutepria presenccedila como elemento
estranho a comunidade Tal neutralizaccedilatildeo pode ser
alcanccedilada no momento em que o pesquisador se decide a
representar o papel de aprendiz-interessado na
comunidade de falantes e em seus problemas e
peculiaridades (TARALLO 2000 p 21)
Ė importante selecionar os informantes dos grupos que tecircm
contato entre si e utilizam a liacutengua de sinais de classes sociais
diferentes dentro da comunidade surda faixa etaacuteria diferente etc A
geraccedilatildeo do grupo dos mais velhos tem influecircncia sobre o grupo dos mais
novos que tem menos contato experiecircncia com a liacutengua Isso pode ser
observado na liacutengua usada pelos informantes pois seus objetivos satildeo
diferentes na fase de aprendizagem em situaccedilatildeo de comunidade surda
O pesquisador aproveita para pensar e planejar como seraacute realizada a
coleta de dados Por se tratar de uma liacutengua visualespacial tentei
diversificar os lugares para a conversa espontacircnea dos informantes
52 ndash A coleta de dados
Na coleta dos dados desta pesquisa espera-se que as trecircs geraccedilotildees
com faixas etaacuterias distintas de informantes relatem sua experiecircncia de
vida na liacutengua de sinais possibilitando uma anaacutelise dos sinais gravados
para que possamos identificar possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas
linguiacutesticas
Na primeira parte assisti aos viacutedeos no programa Transcriccedilatildeo de
Liacutengua de Sinais ndash ELAN60
No segundo momento verifiquei e analisei
60 McCLEARY e VIOTTI 2007 - Eacute a caraacuteter eminentemente descritivo buscando a captaccedilatildeo
do maior nuacutemero de detalhes de sinalizaccedilatildeo As narrativas que estatildeo sendo transcritas foram
baseadas no filme ldquoHistoacuteria da pecircrardquo criado pelo de pesquisa de Wallace Chafe na deacutecada de 1970 com o objetivo de eliciar narrativas para anaacutelise e comparaccedilatildeo translinguiacutestica Visando
a produccedilatildeo de narrativas em liacutengua de sinais brasileira o grupo ECS fez a gravaccedilatildeo de
narrativas produzidas por surdos que assistiram ao filme e relataram a histoacuteria para outra pessoa fluente na liacutengua
124
a coleta de dados dos grupos de informantes das trecircs geraccedilotildees com
relaccedilatildeo agraves mudanccedilas histoacutericas e linguiacutesticas Depois realizei a
descriccedilatildeo dos grupos nas diferentes faixas etaacuterias que mostram se os
sinais se modificam nas possiacuteveis narrativas Espero com esses sinais
observados alcanccedilar o objetivo principal da pesquisa o de comparar os
sinais encontrados nos trecircs grupos e verificar se ocorreram variaccedilotildees e
mudanccedilas linguiacutesticas em tempo aparente
Realizei a coleta de dados da seguinte forma coloquei todos os
depoimentos filmados dos surdos no programa ELAN Escolhi os sinais
que apareciam nos trecircs grupos e fiz uma tabela com esses sinais depois
fiz anaacutelise e descriccedilatildeo dos resultados finais
53 ndash O meacutetodo de entrevista sociolinguiacutestica a coleta de narrativas
de experiecircncia pessoal
A coleta de dados realizada numa entrevista deve ocorrer de
forma espontacircnea Antes de realizar a pesquisa para recolher os dados eacute
importante conhecer as diferentes abordagens que identificam os grupos
e sua relaccedilatildeo com a liacutengua Segundo Tarallo (2000)
De gravador em punho o pesquisador-sociolinguista
como afirmamos deve coletar 1 situaccedilatildeo natural de
comunicaccedilatildeo linguumliacutestica e 2 grande quantidade de
material de boa qualidade sonora (TARALLO 2000 p
21)
Para realizar a pesquisa empiacuterica foi necessaacuterio um planejamento
anterior utilizando viacutedeo de filmagem com boa qualidade visual pois
observamos indiviacuteduos que utilizam a comunicaccedilatildeo visual espacial com
o objetivo de melhor descrevermos os grupos e verificar questotildees
linguiacutesticas desses indiviacuteduos
Para a coleta seguimos os procedimentos metodoloacutegicos
indicados por Tarallo
Este software foi desenvolvido no Instituto Max Planck de Psycholinguistics na Holanda e
mostra no site wwwmpinl na transcriccedilatildeo o ELAN (Eudico Language Annotator) eacute um
programa que permite adicionar anotaccedilotildees para um arquivo de viacutedeo o que pode tornaacute-lo muito mais faacutecil de estudar assistir o viacutedeo na liacutengua de sinais Ele tambeacutem pode ser utilizado
com as liacutenguas faladas (com ou aacuteudio ou viacutedeo) mas este foi apresentado na minha pesquisa e
utilizado na liacutenguas de sinais das trecircs geraccedilotildees
125
Para atingir tais propoacutesitos metodoloacutegicos podem-se
formular moacutedulos (ou roteiros) de perguntas um
questionaacuterio-guia de entrevista Esses moacutedulos tecircm por
objetivo homogeneizar os dados de vaacuterios informantes
para posterior comparaccedilatildeo controlar os toacutepicos de
conversaccedilatildeo e em especial provocar narrativas de
experiecircncia pessoal (TARALLO 2000 p 22)
Ė permitido ressaltar na pesquisa sociolinguiacutestica que para
realizaacute-la seraacute feita uma seleccedilatildeo de um grupo ou indiviacuteduo dependendo
da situaccedilatildeo como por exemplo quanto agrave classe social pode ser
verificado o gecircnero a etnia faixa etaacuteria e costumes A situaccedilatildeo de
pesquisa pode acontecer em qualquer lugarambiente O pesquisador
observa de forma neutra o grupo de falantes que estaacute pesquisando em
um determinado local e faz anaacutelises com base nos fatos linguiacutesticos
observando-os em conversas espontacircneas procurando especificaacute-las
A metodologia de coleta laboviana mostra que encontramos a
variedade mais espontacircnea em narrativa de experiecircncia pessoal pois o
indiviacuteduo quando estaacute envolvido emocionalmente faz relatos sem se
preocupar com o modo como estaacute contando De acordo com Tarallo
Os estudos de narrativas de experiecircncia pessoal tecircm
demonstrado que ao relataacute-las o informante estaacute tatildeo
envolvido emocionalmente com o que relata que presta o
miacutenimo de atenccedilatildeo ao como E eacute precisamente esta a
situaccedilatildeo natural de comunicaccedilatildeo almejada pelo
pesquisador-sociolinguista
Os moacutedulos cobrem uma seacuterie de toacutepicos para fins de
conversaccedilatildeo dados pessoais do informante (sua
histoacuteria) jogo e brincadeira de infacircncia brigas namoro e
encontros amorosos casamento perigo de morte medo
famiacutelia religiatildeo amigos turmas serviccedilos puacuteblicos o
crime nas ruas escola e trabalho interaccedilatildeo com outros
membros da comunidade esportes etc (TARALLO
2000 p 22)
As pessoas ouvintes falam sobre fatos ocorridos de sua experiecircncia pessoal com famiacutelia amigos etc de forma natural Isto
tambeacutem acontece na comunidade surda e ao coletar narrativas em
liacutengua de sinais acredita-se que vamos encontrar diferentes situaccedilotildees do
cotidiano e parte da histoacuteria da comunidade que mostraratildeo variaccedilotildees e
tambeacutem mudanccedilas linguiacutesticas
126
Podem ser escolhidas diferentes maneiras de realizar uma
pesquisa de campo mas a experiecircncia pessoal deve ser levada em
consideraccedilatildeo A pesquisa pode ser realizada com diferentes informantes
ou grupos de informantes de qualquer categoria para verificar as
possiacuteveis variaccedilotildees da liacutengua falada sem qualquer preocupaccedilatildeo com a
forma como indica Tarallo
A narrativa de experiecircncia pessoal eacute a mina de ouro que
o pesquisador-sociolinguistica procura Ao narrar suas
experiecircncias pessoais mais envolventes ao colocaacute-las no
gecircnero narrativa o informante desvencilha-se
praticamente de qualquer preocupaccedilatildeo com a forma A
desatenccedilatildeo agrave forma no entanto vem sempre embutida
numa linha de relato a que chamaremos ldquoestrutura
narrativardquo (TARALLO 2000 p 23)
Nesta citaccedilatildeo o autor explica a importacircncia da coleta de narrativa
pessoal de cada um dos informantes porque apenas fazem a narraccedilatildeo
sem preocupaccedilatildeo com a forma como estatildeo contando
54 ndash A transcriccedilatildeo de dados dos trecircs grupos compostos de
informantes surdos na liacutengua de sinais
Estes dados foram organizados no sistema de transcriccedilatildeo na
liacutengua de sinais ndash ELAN As identificaccedilotildees dos sujeitos surdos que
apresentavam cada um o seu relato em viacutedeo mostram a sua forma de se
comunicar na liacutengua de sinais Verificar se a variaccedilatildeo fonoloacutegica e
mudanccedila lexical pode acontecer nesta liacutengua de sinais em trecircs geraccedilotildees
eacute um dos propoacutesitos deste trabalho
55 ndash Informantes do grupo surdo na liacutengua de sinais
Os informantes do grupo que participaram da minha pesquisa
foram escolhidos de forma aleatoacuteria pela facilidade de contato e
separados em trecircs geraccedilotildees que usavam a liacutengua de sinais
Labov em suas pesquisas elaborava entrevistas de modo a
elicitar nos entrevistados uma fala menos monitorada ndash o vernaacuteculo61
Ele afirma que
61 ldquoEstilo em que pouco monitoramento eacute dispensado agrave fala fala ldquonaturalrdquordquo COELHO et al
(2010 p 166)
127
As narrativas produzidas em resposta a essa pergunta
[ldquoVocecirc jaacute viveu uma situaccedilatildeo em que correu seacuterio risco
de morrerrdquo] quase sempre exibem uma mudanccedila de
estilo que se distancia da fala monitorada e se aproxima
do vernaacuteculo62 (LABOV 2008 [1972] p 245)
Da mesma forma na pesquisa sobre o grupo de surdo que o
senhor Francisco ensinou utilizei um questionaacuterio com uma pergunta
que era explique a histoacuteria da educaccedilatildeo de surdo em Santa
Catarina para que pessoas surdas respondessem As perguntas foram
feitas em LIBRAS e as respostas foram filmadas num total de nove
pessoas
O foco do agrupamento dos sujeitos foi a idade portanto houve
variabilidade quanto ao gecircnero e agraves atividades exercidas pelos
participantes
Na primeira etapa o objetivo foi a escolha dos trecircs indiviacuteduos dos
grupos informantes surdos mais jovens A B e C Neste grupo o fator
escolhido quanto ao sexo foi trecircs masculinos pois natildeo encontrei jovem
do sexo feminino
Na segunda etapa os trecircs indiviacuteduos do grupo de informantes
surdos intermediaacuterio D E e F foram quanto ao sexo dois masculinos e
um feminino
Na uacuteltima etapa os trecircs indiviacuteduos do grupo de informantes
surdos mais velhos G H e I foram escolhidos quanto ao sexo um
masculino e dois femininos Entatildeo escolhi a faixa etaacuteria deste grupo que
apresentava o documentaacuterio em viacutedeo que a partir do qual foi extraiacuteda
amostra de uma experiecircncia de cada uma das narrativas de sujeitos
surdos que usavam a liacutengua de sinais espontacircnea Seguem os quadros de
amostras dos grupos em trecircs geraccedilotildees contemplados nesta pesquisa
62 Um dos aspectos mais interessantes dessa pergunta eacute que ela implica uma resposta sim-ou-
natildeo do tipo que em geral evitamos O mecanismo parece ser o seguinte o informante estaacute
disposto a reconhecer o fato de ter estado numa situaccedilatildeo assim embora possa natildeo estar disposto a fazer um relato Mas uma vez que reconheceu o fato acha muito difiacutecil deixar de
fazer um relato completo quando o entrevistador pergunta depois de alguns instantes ldquoO que
aconteceurdquo Do contraacuterio ficaria parecendo que ele fez uma afirmaccedilatildeo falsa
128
Quadros de amostras dos Grupos I II e III
Grupo I
Identificaccedilatildeo
de Classe
Sexo Idade Faixa
Etaacuteria
Profissotildees
Informante G Masculino 82
anos
60 a 80
anos
ProfessorAposentado
Informante H Feminino 64
anos
60 a 80
anos
CostureiraAposentado
Informante I Feminino 62
anos
60 a 80
anos
BancaacuterioAposentado
Grupo II
Identificaccedilatilde
o de Classe
Sexo Idade Faixa
Etaacuteria
Profissotildees
Informante D Feminino 56
anos
30 a 60
anos
BancaacuterioAposentado
Informante E Masculino 53
anos
30 a 60
anos
Autocircnomo
Informante F Masculino 52
anos
30 a 60
anos
MotoristaAposentado
Grupo III
Identificaccedilatildeo
de Classe
Sexo Idade Faixa
Etaacuteria
Profissotildees
Informante A Masculino 29
anos
15 a 30
anos
Professor
Informante B Masculino 25
anos
15 a 30
anos
Professor
Informante C Masculino 24
anos
15 a 30
anos
Estudante
129
Os Grupos I e II foram alunos de profdeg Francisco jaacute os
informantes do Grupo III foram escolhidos na universidade porque eacute
difiacutecil de ser ter contato com surdo na faixa etaacuteria de 15 anos
Cada um dos 9 (nove) informantes da amostra nos trecircs (3) grupos
com relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria poderaacute trazer indicativos sobre a trajetoacuteria da
liacutengua de sinais e a influecircncia da geraccedilatildeo dos surdos mais velhos (Grupo
I) com relaccedilatildeo agrave sinalizaccedilatildeo utilizada na atualidade pelos surdos mais
jovens (Grupo III) Segundo a citaccedilatildeo de Tarallo
a primeira tentativa de definiccedilatildeo a liacutengua falada a que
nos temos referido eacute o veiculo linguumliacutestico de
comunicaccedilatildeo usado em situaccedilotildees naturais de interaccedilatildeo
social do tipo comunicaccedilatildeo face a face Ė a liacutengua que
usamos em nossos lares ao interagir com os demais
membros de nossas famiacutelias Ė a liacutengua usada nos
botequins clubes parques rodas de amigos nos
corredores e paacutetios das escolas longe da tutela dos
professores Ė a liacutengua falada entre amigos inimigos
amantes e apaixonados (TARALLO 2000 p 19)
Na interaccedilatildeo social desta liacutengua que o surdo utiliza para se
comunicar em diversos lugares com os amigos na associaccedilatildeo na escola
etc haacute uma valorizaccedilatildeo cultural aleacutem da troca de conhecimentos
necessidades de criaccedilatildeo de novos sinais modificaccedilatildeo eou
aperfeiccediloamento de outros trazendo modificaccedilotildees linguiacutesticas
Concluiacutemos a explicaccedilatildeo do procedimento da metodologia desta
pesquisa trazendo consideraccedilotildees sobre os registros dos dados dos
informantes para posterior verificaccedilatildeo da variaccedilatildeo e mudanccedila
linguiacutestica observada nos trecircs grupos de surdos nas diferentes geraccedilotildees
referentes agrave liacutengua de sinais Atraveacutes das informaccedilotildees encontradas nas
narrativas seraacute feita uma trajetoacuteria histoacuterica da liacutengua de sinais e seratildeo
observadas as mudanccedilas ocorridas com relaccedilatildeo agrave liacutengua na comunidade
surda de Santa Catarina
56 ndash Descriccedilatildeo dos informantes quanto aos dados
Nesta seccedilatildeo apresentamos descriccedilotildees dos dados coletados na
liacutengua de sinais espontacircnea de informantes conforme amostras dos
Grupos I II e III Os dados foram observados pelo programa de
transcriccedilatildeo de ELAN Realizei os trabalhos comparando a liacutengua usada
pelas geraccedilotildees e as informaccedilotildees dadas pelos informantes
Os fatos sociolinguiacutesticos apresentados pelos informantes atraveacutes
130
de seus depoimentos mostrando suas trajetoacuterias e vivecircncias na
comunidade surda nas diferentes regiotildees do estado de SC seratildeo
analisados para saber se o professor surdo influenciou a comunidade
surda do estado no ensino da LIBRAS
A questatildeo que tentarei responder com os dados eacute a seguinte Os
informantes de cada grupo de comunidades surdas de diferentes regiotildees
do estado de Santa Catarina relatando sua trajetoacuteria com experiecircncias
relacionadas agrave liacutengua de sinais ora sofreram ora natildeo a influecircncia do
professor surdo com relaccedilatildeo ao aprendizado desta liacutengua
Pretendo verificar se haacute algum sinal de que a liacutengua sofreu
variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica em cada uma das trecircs geraccedilotildees dos
informantes Essas trecircs geraccedilotildees vatildeo ser acompanhadas pelas glosas de
sinais A descriccedilatildeo de experiecircncias dos informantes surdos nos trecircs
grupos observados eacute a estrateacutegia para se pesquisar o processo de
mudanccedila
A pesquisa vai analisar os trecircs comparativos dos informantes
surdos com a descriccedilatildeo de dados de cada geraccedilatildeo apoacutes verificar os
resultados de cada uma das trecircs geraccedilotildees de informantes Grupo III A
B C Grupo II D E F Grupo I G H e I As narrativas na liacutengua de
sinais que os informantes apresentaram foram coletadas e vatildeo ser
descritas nas proacuteximas seccedilotildees
561 ndash Grupo I ndash Informantes
Nas narrativas dos sujeitos63
do grupo de informantes na faixa
etaacuteria dos surdos de 60 a 80 anos os mais velhos mesmo grupo do
professor surdo foram expressas algumas opiniotildees dos surdos
nomeados de informantes G H e I Seguem as informaccedilotildees
5611 ndash Informante G
Francisco eacute o informante G e sua identidade estaacute expliacutecita porque
ele autorizou O informante G mostra sua experiecircncia na liacutengua de
63 Os sujeitos surdos SCHMITT (2008) mostram a participaccedilatildeo no amplo espaccedilo da sociedade
em que vivem No momento eles se identificam como um ldquooutrordquo como surdo Esta mudanccedila
eacute mostrada pelas lutas seja na sociedade em encontros eventos seminaacuterios congressos e outros Isso eacute o povo surdo participando no movimento na luta pela educaccedilatildeo pelos direitos
culturais
131
sinais e sua opiniatildeo sobre como aconteceu essa experiecircncia Segue um
comentaacuterio ldquoSabemos que as liacutenguas mudam com o tempo e se
transformam conforme as culturas dos paiacuteses regiotildees ou mesmo em
situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo em que estaacute participando (numa conversa
informal na sala de aula na famiacutelia etc) estas mudanccedilas ocorrem com
as configuraccedilotildees de matildeos articulaccedilotildees movimentos expressotildees faciais e
ou corporais essas mudanccedilas satildeo recicladas para se adaptar a realidade e
conceitos na sociedade tendo os traccedilos de identificaccedilatildeo proacutepriardquo
O informante G nasceu no dia 01061928 em Florianoacutepolis SC
foi aluno interino do Instituto Nacional de Surdos-Mudos do Rio de
Janeiro e do Instituto Paulista de Surdos em Satildeo Paulo de 1937 a 1946
Ele realizou o curso fundamental e meacutedio tinha habilitaccedilatildeo em ensino
especial desenho encadernaccedilatildeo ginaacutestica datilografia frequentou da
1a a 8
a seacuterie do ensino fundamental no Instituto Nacional de Surdos-
Mudos e sua habilitaccedilatildeo eacute em Contabilidade pelo Instituto Monitor e
Nuacutecleo de ensino profissional
Em 1952 ele conheceu quinze surdos-mudos em Florianoacutepolis
que natildeo sabiam ler e escrever Ele ensinava algumas palavras e sinais
para esses surdos-mudos De outra feita entre 1953 a 1954 iniciava a
amizade com o primeiro presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos de
Satildeo Paulo senhor Maacuterio Devisate Ele natildeo tinha o conhecimento da
existecircncia de uma Associaccedilatildeo de Surdos em Florianoacutepolis o senhor
Devisate entregava um documento para Associaccedilatildeo de Surdos-Mudos
de acircmbito nacional e o professor Francisco Lima Juacutenior veio como
delegado e responsaacutevel pela regiatildeo do Sul passando a residir nesta
capital (Florianoacutepolis)
O primeiro presidente da Sociedade dos Surdos-Mudos do
Distrito Federal que na eacutepoca era Rio de Janeiro foi o senhor Miguel
da Fonseca Seabra de Melo era grande colega do Francisco Mais tarde
com a construccedilatildeo de Brasiacutelia a associaccedilatildeo continuou no RJ soacute que
naquele momento natildeo mais como capital com o nome Sociedade dos
Surdos-Mudos do Brasil para finalmente Associaccedilatildeo dos Surdos do Rio
de Janeiro (ASURJ)
O grupo conversava na liacutengua de sinais numa reuniatildeo quando
chegou o presidente da ASURJ que tambeacutem era surdo O professor
Francisco foi apresentado e cumprimentou o senhor Miguel da Fonseca
Seabra de Melo que estava acompanhado de uma colega que ao ver o
professor Francisco sorriu O professor Francisco agradeceu pela ajuda
que o senhor Miguel deu ao Instituto Nacional de Surdos-Mudos e as
informaccedilotildees referentes agrave associaccedilatildeo
Na verdade o professor Francisco tinha contato e conversava
132
sempre com o amigo que estudou com ele no INES o senhor Salomatildeo
Watnick que foi primeiro presidente da Associaccedilatildeo dos Surdos-Mudos
do Rio Grande do Sul seu grande amigo que morava em Porto Alegre
Como o INES estava passando por reforma o professor
Francisco como tinha muitos amigos dos diferentes cursos e viagens
que fez conseguiu estudar na Escola Especial para Surdos-Mudos em
Satildeo Paulo que para ele era uma escola maravilhosa e excepcional onde
aprendeu muito
O grupo dos surdos de SC se perguntava como ganharia a vida
pois natildeo estavam felizes nas escolas especiais que na eacutepoca utilizavam
os meacutetodos oralistas onde os surdos natildeo podiam utilizar sinais Mas
encontraram o motivo da existecircncia na associaccedilatildeo do estado podendo
assim discutir e abrir caminhos para os surdos
5612 ndash Informante H
A informante H mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua
opiniatildeo sobre como aconteceu essa experiecircncia ldquoMudam porque as
pessoas mudam os tempos mudam assim como mudam as culturas e
diversas outras formas de liacutengua existentes entre elas Sendo a LIBRAS
tambeacutem uma forma de liacutengua ela acompanha estas mudanccedilas para que
os indiviacuteduos que dela fazem uso possam acompanhar a sociedade e
mundo do qual fazem parterdquo
A informante H nasceu em 26051946 em Satildeo Pedro de
Alcacircntara em Santa Catarina Durante sua infacircncia e adolescecircncia
morou com seus pais que eram agricultores
Ela teve que trabalhar na lavoura dos 6 ateacute os 18 anos de idade
cortava o capim que alimentava o gado roccedilava para limpar um paacutetio do
terreno e uma plantaccedilatildeo cercada onde se criavam vaacuterias galinhas patos
etc Plantavam vaacuterios tipos de flores e tinham uma horta Ela penteava
os cabelos dos cavalos para depois montaacute-lo corria e caiacutea no chatildeo num
desses passeios quebrou o braccedilo e diz que doeu muito Quando o
cunhado viu o braccedilo dela quebrado levou-a de carroccedila para o hospital
na cidade de Vidal Ramos em Santa Catarina Depois ela tinha que
ficar um mecircs com o gesso no braccedilo mas 15 dias depois na casa da
irmatilde olhava o rio e pulava no rio que brilhava acabou ficando coberta
de aacutegua e quase se afogou Para natildeo se afogar colocou as matildeos em cima
de uma pedra do rio ficou muito assustada e chorou muito o tio dela foi
quem a ajudou
O pai de H eacute brasileiro e lavrador Dedicava-se agrave criaccedilatildeo de gado
aves e na fabricaccedilatildeo de cachaccedilas que preparava das plantas que
133
produziam cana-de-accediluacutecar cafeacute e frutas Na casa natildeo tinha luz e era
utilizada a vela a fogueira e a lacircmpada de querosene
A matildee de H tambeacutem era brasileira costureira e lavradora
Trabalhava na propriedade na plantaccedilatildeo de milho feijatildeo arroz aipim e
verduras Os Pais de H tiveram 13 filhos 1 filha jaacute falecida com 1 ano e
um mecircs de gravidez gemular 3 filhas eram ouvintes 3 filhas eram
surdas 6 filhos eram ouvintes 1 filho era surdo A terra lavrada e
cultivada estaacute localizada em Satildeo Pedro de Alcacircntara Depois que o pai
morreu o terreno foi loteado e a informante H ficou com um dos lotes e
os irmatildeos deram a casa
O irmatildeo da informante H que era surdo jaacute falecido em 1976 foi
mordido por uma cobra venenosa Seu pai faleceu em 1989 e a matildee
faleceu em 1998
Em 1966 ajudava lavando roupas para fora nesta eacutepoca morava
com o primo numa casa localizada no bairro do Estreito ndash
FlorianoacutepolisSC Tinha trecircs vizinhos surdos e com eles conversava com
os sinais eou gestualidade Ela natildeo sabia conversar em LIBRAS com
outro surdo aprendeu com os vizinhos surdos que a avisavam das
reuniotildees de surdos que aconteciam no salatildeo do grupo Escolar Celso
Ramos
O professor Francisco ensinou aos surdos as regras do jogo de
bingo depois foram oferecidos cinco brindes para o jogo de bingo que
aconteceu no bairro de Capoeiras Ele perguntava para ela de onde vocecirc
eacute E ela respondia que morava em Satildeo Pedro de Alcacircntara Entatildeo o
Francisco foi junto com a informante H conhecer sua casa localizada no
siacutetio de Satildeo Pedro de Alcacircntara
Ela apresentou sua matildee para o senhor Francisco queria estudar e
aprender a liacutengua de sinais com Francisco presidente da associaccedilatildeo e
professor na escola para surdos Ela veio para a capital em 1966 aos 19
anos de idade onde aprendeu a Liacutengua Portuguesa Escrita matemaacutetica e
liacutengua de sinais na Escola Celso Ramos em Florianoacutepolis numa classe
de alunos surdos Alguns anos mais tarde ela trabalhou como costureira
na faacutebrica de renda e bordados Hoepcke
Ela fez alguns cursos de pintura em tecido bordado a maacutequina
Ela conta que sempre foi uma pessoa esforccedilada que buscava desafios na
sua aprendizagem o tempo todo e cada vez mais como autodidata que
aprendia muitas coisas como por exemplo cozinhar e alta costura
Passava sempre na escola era muito esforccedilada aprimorava muito a sua
aprendizagem de vida
O professor Francisco e ela viajavam pelo estado verificavam e
encontravam os surdos no interior do estado Ela entregou um anel para
134
a ex-rainha do Ciacuterculo de Surdo-Mudos de Santa Catarina ndash CSMSC
que era Catarina Ceciacutelia Schveitzer em 1993
5613 ndash Informante I
A informante I mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua
opiniatildeo sobre como aconteceu essa experiecircncia ldquoMudam a ldquoformardquo de
vida das pessoas na sociedade para que se adaptem a nova realidade e
as liacutenguas tambeacutem se modificam As liacutenguas de sinais tambeacutem mudam
criam-se palavras novas satildeo influenciadas por outras liacutenguas etc A
evoluccedilatildeo das coisas em geral estaacute acontecendo de forma muito raacutepida e
a LIBRAS sendo uma forma de comunicaccedilatildeo entre cultura surda e
ouvinte precisa acompanhar essa evoluccedilatildeo Quando uma determinada
coisa natildeo acompanha o desenvolvimento onde estaacute inserida a
tendecircncia eacute de ficar do lado de forardquo
A informante I nasceu em 01041948 em Blumenau veio de
uma famiacutelia de 6 irmatildeos onde 3 satildeo surdos e 3 satildeo ouvintes A matildee do
informante I descobriu que era surda quando tinha mais ou menos dois
anos de idade Apoacutes essa descoberta teve uma infacircncia normal era uma
crianccedila super ativa
Aos 7 anos de idade entrava na escola onde havia outras crianccedilas
surdas como ela Foi alfabetizada em Blumenau Depois lembrou que
tentava usar o seu aparelho auditivo mas como natildeo escutava nada
acabou rejeitando o aparelho
Tinha muita preocupaccedilatildeo com a educaccedilatildeo dos surdos Os pais
mandaram-na estudar num internato de crianccedilas surdas no Rio de
Janeiro aos 9 ou 10 anos de idade Ela natildeo se adaptou e retornou para
Blumenau A escola para surdos que frequentava em Blumenau ficou
sem a professora especializada e ela teve que ir para uma escola regular
O pai que era bancaacuterio pediu transferecircncia do banco para a cidade
de Florianoacutepolis para que a informante I e seus irmatildeos pudessem
continuar os estudos
Em Florianoacutepolis frequentaram a escola Celso Ramos onde a sala
dos surdos era de responsabilidade do professor Francisco Lima Juacutenior
O professor Francisco era uma pessoa muito importante nesta
eacutepoca a vida dele era ajudar o grupo de surdos atraveacutes da liacutengua de
sinais e ele lecionava no ensino fundamental e no curso primaacuterio
A informante I sempre foi muito curiosa queria mais e resolveu
fazer o curso ginasial por correspondecircncia pois na eacutepoca fazia o
segundo grau na escola de ouvintes tinha dificuldade tinha que aprender
tudo sozinha porque na escola o ensino era em portuguecircs falado difiacutecil
135
para o surdo entender (problema de comunicaccedilatildeo) Ela tinha vontade de
estudar na escola com o professor Francisco que ensinava na liacutengua de
sinais
Relembrou que naquela eacutepoca viu que foi muito difiacutecil quando
ela tinha duacutevidas os pais pagavam um professor para dar aulas
particulares Enfim venceu mas natildeo foi faacutecil Depois fez vaacuterios cursos
profissionalizantes como datilografia correspondecircncia comercial curso
de cabeleireira manicure pintura em tela corte e costura e tantos outros
que agora natildeo lembrava mais
Depois de tudo isso resolveu fazer o concurso para uma vaga de
escrituraacuterio no Banco do Estado de Santa Catarina ndash BESC e foi
aprovada trabalhou laacute por vaacuterios anos e agora jaacute estava aposentada
A informante I eacute casada e o companheiro tambeacutem eacute surdo
funcionaacuterio aposentado da Imprensa Oficial Queria muito ter filhos e
acabou tendo um filho que eacute ouvinte e hoje estaacute com 27 anos e tem
formaccedilatildeo acadecircmica com poacutes-graduaccedilatildeo Diz sentir-se realizada
Sua matildee tem hoje 87 anos e eacute a grande incentivadora de sua vida
eacute tambeacutem um grande exemplo de vida guerreira batalhadora e muito
religiosa Foi ela que ensinou o que eacute amor respeito e outros valores
morais tudo isso dentro da doutrina espiacuterita
A informante I diz ser uma pessoa realizada porque venceu
muitas barreiras conseguiu tirar a carteira de motorista e tambeacutem
aprendeu a utilizar a comunicaccedilatildeo no celular Internet MSN e e-mail
Nada foi faacutecil considera-se uma pessoa feliz adora assistir aos
filmes legendados os noticiaacuterios novelas enfim gosta de estar bem
informada
Contando a histoacuteria de sua vida quer mostrar agraves pessoas que pode
alcanccedilar qualquer coisa na vida e que natildeo eacute diferente dos outros A
diferenccedila estaacute na audiccedilatildeo mas pode usar os outros sentidos para se
comunicar e utilizar a liacutengua de sinais visual
562 ndash Grupo II ndash Informantes
Nas narrativas dos sujeitos surdos para a pesquisa no Grupo II
com idade intermediaacuteria de 30 anos a 60 anos de idade em
intermediaacuterio verificou-se que todos foram alunos do professor surdo
Francisco A seguir estatildeo expressas algumas opiniotildees destes surdos
nomeados de informantes D E e F
136
5621 ndash Informante D
A informante D mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua
opiniatildeo a respeito de como aconteceu essa experiecircncia ldquoCom o passar
do tempo ocorrem muitas mudanccedilas nas liacutenguas de sinais para suprir as
necessidades de comunicaccedilatildeo e as modificaccedilotildees de costumes de cada
geraccedilatildeo Os sinais satildeo criados de acordo com a necessidade de cada
grupordquo
A informante D nasceu em Florianoacutepolis num domingo no dia
quatro de outubro de mil novecentos e cinquenta e trecircs (04101953) em
casa sob os cuidados de uma parteira chamada de Dona Oliacutevia Nasceu
com audiccedilatildeo perfeita segundo diagnoacutestico de um meacutedico do hospital
das cliacutenicas em Satildeo PauloSP em 1961 O responsaacutevel pela sua perda de
audiccedilatildeo foi um medicamento chamado de trepdomicina usado para
acalmar a ldquotosse compridardquo ou Coqueluche Nessa eacutepoca natildeo havia
vacina para a doenccedila nos postos de sauacutede Sua matildee levou os filhos para
vacinar e constatou isso
A famiacutelia dela descobriu a surdez aos nove meses de idade Ela
tinha seis meses de idade quando foi acometida pelo viacuterus da
coqueluche e a irmatilde tambeacutem que na eacutepoca tinha 9 anos de idade
A matildee dela quando estava graacutevida tomou uma injeccedilatildeo
denominada 914 para curar infecccedilatildeo no aparelho genital feminino Esse
medicamento agiu negativamente na formaccedilatildeo dos ossos deixando-a
com o andar defeituoso parecendo que uma perna era mais curta que a
outra Ela foi para Satildeo Paulo levada pelo irmatildeo e pelo padrinho para
tratamento Foi submetida a quatro cirurgias entre 1961 a 1963 mas
que surtiram pouco resultado comprovado em 1980 Daiacute para frente
voltava a ter uma perna mais curta e sente muitas dores ao andar e
sentar
Em 1964 iniciava seus estudos na escola para surdos de
Florianoacutepolis no grupo Celso Ramos Seu primeiro professor surdo foi
o Francisco que lhe dava aula na liacutengua de sinais Francisco tambeacutem
ensinava LIBRAS no Ciacuterculo dos Surdos Mudos de Santa Catarina na
escola primaacuteria e na associaccedilatildeo de surdos
Em 1975 fazia teste para ingressar como funcionaacuteria no BESC
sendo admitida como escrituraria em 18091975 e se aposentou em
19112002 Ela aprendeu a dirigir automoacutevel fez curso de datilografia
e por uacuteltimo fez curso baacutesico de computador para saber operaacute-lo Fez
curso de pintura a oacuteleo em tela e em tecido Procurava cuidar de sua
sauacutede indo ao meacutedico regularmente
Ela eacute associada e participa da diretoria da Associaccedilatildeo de Surdos
137
da Grande Florianoacutepolis ndash ASGF eacute tambeacutem voluntaacuteria nas atividades
que a associaccedilatildeo desenvolve em benefiacutecio de seus amigos surdos que
frequentam a mesma associaccedilatildeo Hoje ensina LIBRAS para os
associados de qualquer idade
5622 ndash Informante E
O informante E mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua
opiniatildeo de como aconteceu essa experiecircncia ldquoAssim como a liacutengua
portuguesa evolui ou muda com o passar do tempo LIBRAS tambeacutem
passa por mudanccedilas constantes estas podem ser de regiatildeo para regiatildeo
por exemplo a liacutengua de LIBRAS acompanha a evoluccedilatildeo do mundo
sendo hoje uma liacutengua para a comunicaccedilatildeo dos surdosrdquo
O informante E nasceu na maternidade Carmela Dutra no Centro
de Florianoacutepolis no dia 03 de Novembro de 1957 Ele ficou surdo aos
quatro anos de idade (causado por remeacutedios ministrados errados por sua
matildee nos ouvidos quando estava com febre dor de ouvidos e caxumba)
Com 53 anos eacute presidente de entidade esportiva de Santa
Catarina desde 1999 reeleito pela segunda vez com gestatildeo ateacute 2011
sendo um dos liacutederes dos surdos de Santa Catarina Foi um dos
fundadores da Sociedade de Surdos de Satildeo Joseacute atuou nela de 1990 a
1996 uma entidade que crescia muito e eacute considerada a mais organizada
no estado de Santa Catarina
Ele escolheu o sobrenome diferente na campanha poliacutetica que
concorreu para vereador de Satildeo Joseacute de 2003 a 2007 em homenagem agrave
sua avoacute-materna jaacute falecida descendente de alematildees que lhe criou por
mais de 10 anos junto com o marido descendente de portugueses que
natildeo conhecera pois a avoacute dele ficara viuacuteva quando o pai dele era
solteiro Portanto queria preservar o sobrenome da avoacute-matildee dele como
lembranccedila
Os pais dele estavam preocupados com sua infacircncia com sua
situaccedilatildeo futura e por isso procuravam incansavelmente a existecircncia de
uma escola especial para surdos
Finalmente acharam a escola localizada na Rua Conselheiro
Mafra no Centro de Florianoacutepolis Era uma sala comercial tipo garagem
grande (perto do antigo terminal urbano hoje Terminal Cidade de
Florianoacutepolis) foi ali onde encontraram a primeira escola para surdos
onde ele aprendeu a liacutengua de sinais aos 6 anos de idade
Ele estudou com o primeiro professor surdo do estado de Santa
Catarina O professor Francisco e sua esposa que era ouvinte e tambeacutem
professora chamava-se Mercedes e foi a primeira inteacuterprete dele Neste
138
momento existiam outros alunos surdos que eram Niro Paulo Percy
Socircnia Maria da Graccedila Maria Bernadete Aldenei Rita Reinoldo
Edson Ivo (falecido) Arnoldo e outros que ele natildeo lembrava
No comeccedilo do aprendizado dele da liacutengua de sinais achava
estranho e natildeo lhe agradava muito fazendo com que ele natildeo quisesse
estudar ali mas foi a matildee dele que o incentivou a continuar estudando
e com o tempo foi gostando da escola e do grupo de amigos surdos
isto foi em 1971
Essa escola foi transferida de local e foi para a EEB
Governador Celso Ramos no bairro Prainha em Florianoacutepolis no ano
de 1972 Esta nova escola ele adorava muito e guarda boas recordaccedilotildees
vividas nela
Infelizmente ele natildeo lembrava do ano em que foi transferido para
o Instituto de Audiccedilatildeo e Terapia da Linguagem ndash IATEL situado na
Rua Liberato Bittencourt no Centro de Florianoacutepolis numa casa
simples e alugada Ficou muito contrariado com esta transferecircncia
Nessa eacutepoca tinha mais ou menos 13 anos Proacuteximo aos 15 anos ele
abandonou o IATEL porque tinha que trabalhar para sustentar a avoacute
dele que era viuacuteva e pobre Sua avoacute tambeacutem natildeo gostava desta escola e
tambeacutem das novas professoras que eram ouvintes e que natildeo sabiam usar
a liacutengua de sinais obrigando os surdos a oralizarem
Aos 14 anos ele jaacute trabalhava em uma empresa de comunicaccedilatildeo
visual (luminosos) Apoacutes um ano ele mudava de ramo para a funccedilatildeo de
auxiliar de escritoacuterio em duas empresas de contabilidade Depois disso
ele fundou uma empresa proacutepria de comunicaccedilatildeo visual em sociedade
com seu pai no ramo de letreiros em placas paredes e etc O nome da
empresa comprada foi modificado e mais tarde fez sociedade com o
irmatildeo caccedilula Para seu irmatildeo caccedilula foi um aprendizado e hoje ele eacute
proprietaacuterio de uma empresa no mesmo ramo residindo em Blumenau
Em 2000 deixava este ramo e comeccedilava a estudar para ter a
formaccedilatildeo de professor na Liacutengua de Sinais aos 43 anos Ele Trabalhou
como professor em Admissatildeo em Caraacuteter Temporaacuterio ndash ACT e na
Fundaccedilatildeo Catarinense de Educaccedilatildeo Especial - FCEE como assessor
teacutecnico na Educaccedilatildeo de Surdos de 2003 a 2005 Trabalhou tambeacutem
como ACT no Centro Educacional Municipal Interativo Floresta em Satildeo
Joseacute no Nuacutecleo de Educaccedilatildeo Especial e Inclusiva - NEESPI como
professor de LIBRAS de 2006 a 2007 Foi docente dos cursos de
LIBRAS de 2000 a 2007
A partir de 2008 deixava o cargo de professor de LIBRAS para
focar os compromissos somente nos esportes Atualmente atua numa
entidade esportiva de surdos desde 1999 nesta com 12 associaccedilotildees
139
filiadas organizando em meacutedia sete (7) eventos esportivos por ano
Portanto os pensamentos deles e seus compromissos satildeo voltados para a
comunidade surda
5623 ndash Informante F
O informante F mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua
opiniatildeo de como aconteceu essa experiecircncia ldquoPorque assim como toda
liacutengua ela sofre das mudanccedilas histoacutericas e culturais as liacutenguas satildeo
dinacircmicas e natildeo estaacuteticas por isso elas vivem sofrendo alteraccedilotildees e com
as liacutenguas de sinais ocorre o mesmo Essas mudanccedilas podem ser
percebidas nas diferentes regiotildees onde satildeo utilizadas a mesma liacutengua
mesmo sendo a mesma liacutengua ela possui algumas diferenccedilas em
algumas palavras ou expressotildeesrdquo
O informante F nasceu 04071958 em Florianoacutepolis eacute casado e
tem 52 anos Nasceu surdo a famiacutelia dele sempre lhe deu apoio
levaram-no a vaacuterios lugares para consultar com meacutedicos procuravam
um tratamento mas de acordo com os meacutedicos ele natildeo tinha muita
chance de desenvolver audiccedilatildeo e a fala Nesta eacutepoca natildeo existiam no
Estado de Santa Catarina escolas especializadas para surdos e como o
pai dele era militar natildeo podia morar em outro Estado Entatildeo seu pai
matriculou-o numa escola regular mas as professoras natildeo sabiam a
liacutengua de sinais e era muito difiacutecil para ele aprender
A alfabetizaccedilatildeo dele natildeo foi muito boa e para melhorar um pouco
o aprendizado tinha aulas com o professor surdo Francisco Lima Juacutenior
que lhe ensinava as palavras utilizando o alfabeto manual e a liacutengua de
sinais para o aprendizado da Liacutengua Portuguesa Escrita e tambeacutem para
alguns alunos surdos
Em sua famiacutelia se comunicava atraveacutes de sinais caseiros que de
acordo com ele foi muito bom e os utiliza ateacute hoje
Apesar das dificuldades nos estudos tinha sorte pois conseguiu
emprego Neste emprego que era na Central de Luz Eleacutetrica de Santa
Catarina ndash CELESC sempre foi muito bem tratado Tinha muitos
amigos na associaccedilatildeo de surdos na escola e no trabalho e para se
comunicar ensinava alguns sinais bem baacutesicos para os amigos para que
assim natildeo tivessem problemas quanto agrave comunicaccedilatildeo
Ele trabalhou sempre na CELESC na cidade de Florianoacutepolis
pois foi aprovado em um teste naquela eacutepoca natildeo havia concursos
Depois foi transferido algumas vezes para outras cidades como
Blumenau Joinville e Jaraguaacute do Sul Iniciou como auxiliar de serviccedilos
gerais depois passou a auxiliar administrativo e por uacuteltimo como
140
motorista
Foi presidente de vaacuterias Associaccedilotildees de Surdos uma dessas em
1989 que foi fechada neste mesmo ano e outra em dois mandatos
20052008 Ele jogou em vaacuterios times nas associaccedilotildees de surdo de Santa
Catarina Ele preferia jogar futebol de salatildeo - FUTSAL
Ele sempre participou e ateacute hoje participa de encontros com
surdos na liacutengua de sinais seja em associaccedilotildees ou outros eventos
Atualmente mora na cidade de Londrina ndash Paranaacute
563 ndash Grupo III ndash Informantes
Nas narrativas dos sujeitos surdos do Grupo III com idades entre
15 a 30 anos sendo o grupo dos mais jovens e que participam de
associaccedilotildees de surdos em Santa Catarina foram expressas algumas
opiniotildees desses surdos aqui nomeados de informantes A B e C
Seguem abaixo relatos e experiecircncias dos informantes
5631 ndash Informante A
O informante A mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua
opiniatildeo a respeito de como aconteceu essa experiecircncia ldquoNatildeo diria que
ldquomudardquo mas sim sofre modificaccedilotildeesalteraccedilotildees com o tempo e como
qualquer outra liacutengua dependendo do estadopaiacutes em que eacute ldquofaladardquo teraacute
adaptaccedilotildees conforme a necessidade de cada lugar Sendo que ateacute mesmo
em casa quando a crianccedila natildeo tem contato com LIBRAS em um
primeiro momento ela e sua famiacutelia se apropriam de sinais proacuteprios para
a comunicaccedilatildeordquo
O informante A nasceu em 18121980 no Balneaacuterio Camboriuacute
nasceu surdo comunica-se por meio de gestos com a famiacutelia Sua
famiacutelia sempre mostrou preocupaccedilatildeo com ele levaram-no a atendimento
fonoaudioloacutegico para que aprendesse a falar mas tinha dificuldades
poreacutem era esforccedilado Somente mais tarde encontrava a comunidade
surda na escola Quando ele teve atendimento especial e natildeo era
utilizada a liacutengua de sinais somente alguns gestos acabava desistindo e
parava de estudar Retornando agrave escola com ouvintes quando ele tinha
17 anos de idade encontrava os surdos que o convidaram a participar
de uma festa na associaccedilatildeo de surdos foi quando comeccedilou a aprender a
LIBRAS e ficou feliz pois comunicava-se com todos na LIBRAS jaacute
que era um modo mais faacutecil de aprender e memorizar os conteuacutedos jaacute
com o oralismo era muito sofrido
Ele fundou uma Associaccedilatildeo de Surdos na cidade onde mora Na
141
associaccedilatildeo motivou o uso da LIBRAS valorizou o contato entre os
membros da comunidade surda e a LIBRAS assim como a educaccedilatildeo
formal Ele sentia-se satisfeito pois se comunicava com os amigos
usando a leitura labial e os gestos mesmo assim perdia algumas
informaccedilotildees por natildeo ouvir Mais tarde encontrava-se com grupos de
surdos e comeccedilou entatildeo o contato da LIBRAS e percebia que por meio
da LIBRAS ele poderia receber mais informaccedilotildees do que pela leitura
labial e a partir de entatildeo conseguiu viver melhor na sociedade Lutou
para inserir a LIBRAS no ensino dos surdos porque sabia na praacutetica que
facilita o aprendizado do surdo
Hoje estaacute casado e sua esposa eacute surda Formou-se na faculdade de
gastronomia pela UNIVALI e tem o curso de especializaccedilatildeo em
educaccedilatildeo especial Atualmente faz curso de LetrasLIBRAS e sua
turma eacute composta na maioria por surdos que estatildeo gostando do curso
tendo a oportunidade de trocar ideacuteias experiecircncias bem como buscar
novos conhecimentos
Ele eacute Instrutor de LIBRAS efetivado pela prefeitura de Itajaiacute
aleacutem de trabalhar como professor de LIBRAS em outros lugares
Tambeacutem realiza trabalhos voluntaacuterios em algumas entidades
(Associaccedilatildeo FENEIS Federaccedilatildeo etc) Jaacute atuou em vaacuterios cargos de
diretoria na Associaccedilatildeo de Surdos de Balneaacuterio Camboriuacute isso foi bom
porque ele aprendeu sobre poliacutetica sobre organizaccedilatildeo e tambeacutem a
utilizar estrateacutegias diferentes para as accedilotildees etc
5632 ndash Informante B
O informante B mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua
opiniatildeo sobre como aconteceu essa experiecircncia ldquoA LIBRAS eacute uma
liacutengua porque possui uma forma de comunicaccedilatildeo proacutepria Ė
independente como qualquer outra liacutengua escrita ou falada Tem
formato proacuteprio sua comunicaccedilatildeo eacute visual pois se utiliza de gestos e
expressotildees Como todas as liacutenguas tem variaccedilotildees conforme a regiatildeordquo
O informante B nasceu em 08011985 na cidade de Tijucas em
Santa Catarina Atualmente mora em Itapema e tem 25 anos Ele nasceu
surdo mas seus pais soacute descobriram sua surdez aos nove meses de
idade entatildeo ficaram apavorados e natildeo sabiam como ele iria se
comunicar na sociedade Depois o pai dele levou-o para uma escola em
Florianoacutepolis chamada de IATEL onde ateacute a 3ordf seacuterie utilizavam a
linguagem oral e muito pouco gestual Na eacutepoca os gestos (sinais) natildeo
eram reconhecidos como uma liacutengua
Os pais dele escolheram uma escola da Rede Regular de Ensino
142
na eacutepoca nem era pensado em inteacuterprete de LIBRAS ateacute porque essa
natildeo era uma liacutengua oficializada Eles natildeo conheciam a comunidade
surda e sua cultura entatildeo decidiram que seu filho frequentaria
atendimento fonoaudioloacutegico dois dias por semana
Para o informante B seus pais tentavam criaacute-lo como ouvinte o
que para ele caracteriza uma tentava de modificar sua identidade surda
Ele relata que tinha muita dificuldade de comunicar-se com as pessoas
na sociedade que utilizava a liacutengua falada
Mais tarde aos 16 anos de idade foi para uma escola de educaccedilatildeo
especial onde teve aulas de informaacutetica com outros surdos entatildeo podia
utilizar a LIBRAS Antes ele ficava isolado natildeo gostava e natildeo podia
usar a liacutengua de sinais comeccedilava a aprender a falar mas demorava
muito Agora aceita sua identidade surda sente-se mais feliz e melhor
Participa de uma associaccedilatildeo de surdos e viaja para vaacuterios lugares nas
diferentes regiotildees de Santa Catarina
Ele trabalhou como analista de sistemas na aacuterea de informaacutetica da
empresa Ceracircmica Portobello em Tijucas ficava muito incomodado
com a barreira de comunicaccedilatildeo com os funcionaacuterios em virtude de terem
muito trabalho pois o surdo precisa das matildeos para falar e se estaacute com
elas ocupadas trabalhando fica impossiacutevel comunicar-se diferente dos
ouvintes Tentou ensinar alguns sinais para os funcionaacuterios para que lhe
entendessem e pudessem se comunicar com ele mas os funcionaacuterios
desviavam para outro assunto natildeo demonstravam interesse em aprender
sinais Sofria por passar o dia inteiro de trabalho sem poder se
comunicar com outra pessoa disfarccedilava esse sentimento acessando a
Internet para realizar pesquisas de temas relacionados agrave educaccedilatildeo de
surdos (palestras congressos encontros etc) Entatildeo numa destas
pesquisas achou um congresso de surdos anotou a data e mostrou ao
chefe que o liberou para ir ao congresso (encontro surdo)
Ele acredita que as pessoas natildeo tinham culpa pois oralismo era a
forma de ensinar naquela eacutepoca e para os surdos era muito difiacutecil de
compreender e aprender a liacutengua falada Aprendeu LIBRAS na
comunidade surda Apoacutes a liberaccedilatildeo para o congresso pelo seu chefe
comeccedilou a frequentar a associaccedilatildeo de surdos e outros eventos da
comunidade surda
Ele participou de um concurso no municiacutepio de Itajaiacute para o
cargo de instrutor de LIBRAS Foi classificado em terceiro lugar
conseguiu um trabalho e seus pais deixaram que ele morasse sozinho
em Itajaiacute Morou sozinho por um ano trabalhava durante o dia e
estudava na faculdade agrave noite Com o passar do tempo conheceu
pessoas e fez amizade com outros surdos que no segundo ano dividiram
143
o aluguel da casa com ele
Alguns surdos convidaram ele para um encontro de surdo
(nacional congresso e entre outros) Foi possiacutevel fazer novas amizades e
entrar em contato com outros sujeitos surdos pois neste espaccedilo tinha
surdo sentado ao lado surdo no bar e em outros momentos do
congresso
Ao teacutermino do encontro pegou os endereccedilos eletrocircnicos das
pessoas que conheceu e assim pode manter correspondecircncia com outros
surdos atraveacutes de e-mails nas diferentes regiotildees do estado de SC
Depois de algum tempo de troca de e-mails combinou encontros e
viajou para o sul sudeste nordeste norte do Brasil e etc encontrou-se
com muitos surdos que se comunicavam na liacutengua de sinais e aprendeu
muitos sinais novos onde percebeu que havia muitas diferenccedilas nos
sinais que cada regiatildeo tinha sinais especiacuteficos daquele lugar
Quando o curso de LetrasLIBRAS da UFSC foi aprovado pelo
MEC e abriram-se as inscriccedilotildees trecircs instrutores de LIBRAS jaacute haviam
prestado o vestibular tiveram uma prova com 15 questotildees referentes a
LIBRAS utilizaram na apresentaccedilatildeo para seleccedilatildeo dos candidatos slides
e videoconferecircncia com todos os candidatos Ficou admirado e achou
muito legal o grupo de surdo que estava laacute e disse ldquoPassei a ver o
mundo diferente ao teacutermino da provardquo
Ele trabalhou como instrutor de LIBRAS por 4 anos e recebeu 14
alunos surdos para atendimento no processo de aprendizagem da
LIBRAS E tambeacutem ensinou sobre a relaccedilatildeo de aprendizagem do aluno
surdo em LIBRAS para os colegas Ele formou-se no curso de ciecircncias
da computaccedilatildeo e fez poacutes-graduaccedilatildeo no processo de inclusatildeo e educaccedilatildeo
especial Atualmente estaacute cursando a faculdade de LetrasLIBRAS pela
UFSC
5633 ndash Informante C
O informante C mostra sua experiecircncia na liacutengua de sinais e sua
opiniatildeo de como aconteceu essa experiecircncia ldquoA liacutengua de sinais assim
como todo o contexto no qual estamos inseridos sofre mudanccedilas e
adaptaccedilotildees durante o decorrer de nossas vidas por questotildees de
adaptaccedilatildeo comportamento e culturardquo
O informante C nasceu em 12021986 em Santa MariaRS surdo
de nascenccedila morando em Florianoacutepolis haacute pouco tempo Voltando ao
passado dele desde pequeno adorava brincar mexer experimentar as
coisas novas o que tinha por perto Certa vez sua avoacute chamou-o falava
o seu nome mas como ele natildeo escutava nenhuma letra e nenhum som
144
que veio da voz da avoacute natildeo a atendeu Ela estranhou a atitude dele pois
ele nunca deu atenccedilatildeo para ela quando ela gritava ou chamava pelo seu
nome Pra ela era impossiacutevel uma crianccedila que natildeo respondia aos sons
Entatildeo ficou desconfiada que ele poderia ser surdo Resolveu pedir aos
pais dele para levaacute-lo a um meacutedico para descobrir a causa do problema
Mas seus pais tinham dificuldade de aceitar essa ideacuteia e de levaacute-lo para
o meacutedico parecia que tinham medo que ele realmente fosse surdo Ficou
assim sem comunicaccedilatildeo
A matildee dele assustada chorava muito e o pai dele ficou furioso
Pois o medo deles era de jamais se comunicarem com o filho que eles
amavam muito Entatildeo o meacutedico deu um conselho para a matildee dele que
era conhecer as pessoas surdas que se comunicavam atraveacutes da
LIBRAS ou entatildeo fazer atendimento e acompanhamento com
fonoaudioacuteloga para aprender a falar eou melhorar a fala
A matildee dele decidiu em primeiro lugar ir numa escola onde tinham
pessoas surdas laacute conheceu algumas pessoas surdas e achou que eram
pessoas legais Conversou com essas pessoas surdas que conheceu
sobre seu filho que era surdo Queria saber como poderia se comunicar
com uma crianccedila surda pois o objetivo da matildee era poder se comunicar
com o filho Entatildeo pediu ajuda de um surdo jovem Ele explicou para
ela que devia fazer um curso de LIBRAS que eacute a Liacutengua de Sinais
Brasileira que as pessoas surdas utilizam para se comunicarem com
facilidade
Ele crescia e no seu desenvolvimento viveu muita coisa
conseguiu mexer comer tudo A matildee dele comunicava-se com ele
atraveacutes dos sinais ele via as matildeos da matildee que natildeo parava de mexer
estranhava mas repetia para entender aquele conceito o que ela queria
dizer ela sinalizava e mostrava as coisas ateacute que ele entendia o
conceito
A matildee dele era uma pessoa bastante simples e feliz com os filhos
Tem um irmatildeo que eacute um ano mais velho do que ele o irmatildeo aprendeu a
usar sinais com ele e a matildee e podiam se comunicar daiacute eles
melhoraram muito a comunicaccedilatildeo tornaram-se grandes amigos sempre
brincaram juntos brigavam choravam gritavam e reclamavam Mas
eles eram grandes amigos
Ele mais observava as coisas a seu redor e se admirava com o que
via Depois de alguns meses sua irmatilde cresceu um pouco conseguiu
perceber as coisas comeccedilou a falar com ela atraveacutes de sinais ela
aprendeu essa liacutengua com ele como se fosse a primeira liacutengua da vida
dela Uma vez teve uma festinha laacute em sua casa estava toda a famiacutelia
reunida passou um aviatildeo sua irmatilde ouviu o barulho do aviatildeo e sinalizou
145
um aviatildeo todo mundo viu e se assustaram principalmente a matildee dele
pois natildeo sabia que a filha sinalizava sendo tatildeo pequena Sua matildee ficou
tatildeo contente e bateu uma foto dela sinalizando
Como cresceu sempre podendo se comunicar na liacutengua dos sinais
acreditava viver muito ldquonormalizadordquo Tinha uma famiacutelia e amigos
surdos estudou em escolas com outras crianccedilas surdas e relata como ele
se divertia muito
Depois de certo tempo a escola natildeo funcionava somente para
crianccedilas surdas sua matildee ficou muito preocupada com sua educaccedilatildeo
combinou com seu pai e com toda sua famiacutelia a mudanccedila para a cidade
de Florianoacutepolis ndash Santa Catarina pois soube que havia uma escola
especial para ele onde poderia crescer com uma educaccedilatildeo de qualidade
Quando chegou agrave capital de SC Florianoacutepolis simplesmente
amou a cidade porque ele curtia bastante as praias o pai alugou uma
casa bem legal na Barra da Lagoa e todos os dias ia sozinho para a
praia brincava na areia e construiacutea castelos
O informante C relata que curtiu bastante aquele veratildeo
mudaram-se dessa casa para outra que construiacuteram no bairro Carianos
ele natildeo gostava muito do lugar achava meio estranho porque para ele
ficava muito longe das praias Mas com o tempo ele se acostumou ateacute
fez amizades com os vizinhos que eram ouvintes Ele natildeo sabia como
comunicar-se com eles pois usavam a fala ele sentiu vergonha e medo
Ficava atraacutes de sua matildee que explicava para os vizinhos que ele era
surdo que natildeo sabia falar quase nada apenas sabia LIBRAS eles
ficavam admirados e convidavam-no para brincar Tinha amigos que
eram tranquilos porque o pai deles era surdo tambeacutem
O tempo passava e ele brincava sempre com esses amigos curtia
muito mas ele percebeu que se comunicavam soacute oralmente soacute ele natildeo
estranhava Foi falar com sua matildee sobre essa situaccedilatildeo pois ele queria
poder falar tambeacutem sua matildee se surpreendeu com a ideacuteia dele que era
ldquoquerer poderrdquo falar tambeacutem Para sua matildee foi uma surpresa porque
ouvia muito que a maioria das pessoas surdas natildeo aguentava aprender a
falar e seu proacuteprio filho estava querendo aprender a falar
Ele resolveu ser soacutecio de uma associaccedilatildeo de outra cidade natildeo
gostava da anterior e se mudou para Associaccedilatildeo dos Surdos da Grande
Florianoacutepolis ele fez amizade com o pessoal viajou muito se divertia
saiacutea e curtiu bastante Participava das reuniotildees da associaccedilatildeo tambeacutem
Depois virou Conselheiro Fiscal da Associaccedilatildeo gostou da experiecircncia
mas continuou sendo soacutecio Mas por outro lado andava observava e
estudava bastante e percebeu o mundo cada vez mais veloz por causa
da tecnologia e a sociedade que natildeo parava de mudar Depois que
146
terminou o terceiratildeo teve uma formatura incriacutevel em que chorou um
monte pois teve medo de perder o contato com as colegas de sala mas
tambeacutem porque ele aprendeu a amar esses amigos como se fossem de
sua famiacutelia
Comeccedilou uma faculdade na UFSC gostou bastante e fez novas
amizades comeccedilou a trabalhar como AtorTradutor Cinegrafista Editor
de Viacutedeos na UFSC tudo isso como bolsista Ele tornou-se bem
conhecido nacionalmente na comunidade surda comeccedilou a viajar
bastante para congressos e palestras Depois de um ano de sucesso em
sua vida acabou o contrato de bolsista pela UFSC e comeccedilou a
trabalhar como professor na prefeitura foi um grande desafio para ele
pois tinha professoras ouvintes que trabalhavam na educaccedilatildeo especial
que pensavam diferente dele com relaccedilatildeo agrave comunicaccedilatildeo na liacutengua de
sinais
Hoje em dia continua sendo conhecido nacionalmente na
comunidade surda eacute estudante do uacuteltimo periacuteodo da LetrasLIBRAS na
UFSC e estaacute trabalhando em duas escolas da prefeitura como professor
de LIBRAS
564 ndash Algumas consideraccedilotildees finais
Os informantes mostraram sua histoacuteria e nela pude perceber que
sinalizavam diferentemente uma mesma palavra principalmente aqueles
que viveram em lugares diferentes
Sabemos que a histoacuteria humana sofre transformaccedilotildees ao longo do
tempo mas nem sempre os seres humanos se datildeo conta das mudanccedilas
que podem acontecer no passado no presente e no futuro Na sociedade
acontecem transformaccedilotildees tecnoloacutegicas poliacuteticas econocircmicas sociais e
culturais Todas essas transformaccedilotildees influenciam o modo como usamos
a liacutengua E a liacutengua se modifica com o tempo
Noacutes tambeacutem mudamos as ldquocoisas da vidardquo A comunidade surda
tem um jeito proacuteprio de demonstrar as variaccedilotildees regionais e mudanccedilas
quanto agrave liacutengua de sinais a ponto de ser possiacutevel identificar a
procedecircncia de um surdo do nordeste ou do sul com base apenas no seu
gestual
A comunidade surda antigamente apresentava uma forma de
conversar em LIBRAS mais cotidiana e restrita agrave associaccedilatildeo de surdos
mas na atualidade a comunicaccedilatildeo eacute mais ampla acontece em vaacuterios
locais como escolas universidades congressos viagens turiacutesticas etc
ampliando conhecimentos e conhecendo novos sinais em contexto
social
147
Um surdo conversa com outro surdo utilizando a liacutengua de sinais
e qualquer pessoa ouvinte pode aprender LIBRAS e se comunicar na
comunidade surda mesmo natildeo tendo fluecircncia Dessa forma os surdos e
ouvintes podem se comunicar na LIBRAS Aleacutem disso a comunicaccedilatildeo
entre duas ou mais pessoas pode se dar em diferentes contextos sociais
Vale ressaltar que poucos surdos conheciam a gramaacutetica ou tinham
conhecimento linguiacutestico da LIBRAS ateacute porque eacute uma liacutengua que estaacute
sendo ensinada para o surdo nas escolas a partir da LEI de
reconhecimento e ainda natildeo eacute ensinada a parte de reflexatildeo linguiacutestica
estaacute mais voltada para sua praacutetica (o uso)
Segundo Labov
Ao falar do papel de fatores sociais que influenciam a
evoluccedilatildeo linguiacutestica eacute importante natildeo superestimar o
grau de contato ou de superposiccedilatildeo entre valores sociais
e a estrutura da liacutengua A estrutura linguiacutestica e a
estrutura social natildeo satildeo de modo algum coextensivas A
grande maioria das regras linguiacutesticas estatildeo bastante
distantes de qualquer valor social elas fazem parte do
elaborado mecanismo de que o falante precisa para
traduzir seu complexo conjunto de significados ou
intenccedilotildees em forma linear (LABOV 2008 [1972] p
290)
Em vaacuterios lugares (regiotildees) da comunidade surda usar a LIBRAS
em breve vai ser como falar em inglecircs em francecircs em italiano e em
outras liacutenguas Todas as liacutenguas satildeo importantes poreacutem alguma pode
ser mais reconhecida no mundo e influenciar mais Natildeo podemos
descartar a possibilidade de outras liacutenguas serem mais reconhecidas
assim como natildeo podemos prever quais liacutenguas influenciaratildeo mais no
mundo em outras eacutepocas quais dialetos novos teremos e quais variaccedilotildees
e mudanccedilas linguiacutesticas Talvez no futuro tenhamos mais influecircncia das
liacutenguas de sinais na comunicaccedilatildeo do mundo
148
149
CAPIacuteTULO VI ndash Descriccedilatildeo e anaacutelise dos resultados
61 ndash Introduccedilatildeo
Realizei a pesquisa escrita baseado nos relatos dos informantes
das trecircs geraccedilotildees pesquisadas atraveacutes de filmagem Primeiro busquei
nessas filmagens sinais que fossem relevantes para a pesquisa
variaccedilotildees e mudanccedilas lexicais e variaccedilotildees e mudanccedilas fonoloacutegica na
LIBRAS Em seguida fiz uma listagem de sinais com a palavra
correspondente em Liacutengua Portuguesa observando o nuacutemero de vezes
em que o sinal era apresentado aparecia Depois escolhi os sinais que
mais apareciam nos trecircs grupos de informantes e verifiquei as CM (paacuteg
225 e 227) que apareceram Apoacutes isto fiz tabelas gerais para pesquisa
de variaccedilatildeo lexical mudanccedila lexical variaccedilatildeo fonoloacutegica e mudanccedila
fonoloacutegica Foram escolhidos dezessete sinais para anaacutelise porque
apareceram nos trecircs grupos e em maior nuacutemero Apoacutes a escolha dos
sinais construiacute quatro tabelas gerais com os sinais produzidos pelos trecircs
grupos pesquisados com a CM utilizada na sinalizaccedilatildeo Por fim fiz a
anaacutelise dos dados obtidos
Ressalto que a descriccedilatildeo dos informantes que realizaram as
entrevistas nas trecircs geraccedilotildees em diferentes faixas etaacuterias traz
informaccedilotildees de grande importacircncia para a anaacutelise dos dados obtidos
referentes agraves possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas na Liacutengua de
Sinais em Santa Catarina
Neste capiacutetulo seratildeo apresentados os seguintes toacutepicos
comparaccedilatildeo dos dados dos grupos das trecircs geraccedilotildees de surdos na liacutengua
de sinais e descriccedilatildeo sobre variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na liacutengua de
sinais com a existecircncia de um ou mais sinais dos informantes das trecircs
geraccedilotildees descriccedilatildeo da variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua de
sinais e explicaccedilatildeo de como o mesmo sinal pode ser utilizado e por
fim anaacutelise dos resultados das trecircs geraccedilotildees dos informantes
considerando as variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas na Liacutengua Brasileira
de Sinais
62 ndash A comparaccedilatildeo dos dados o grupo de trecircs geraccedilotildees de surdos
na liacutengua de sinais
Os dados recolhidos no programa de transcriccedilatildeo na liacutengua de
sinais ndash ELAN foram analisados e comparados com o propoacutesito de
mostrarapontar possiacuteveis variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas que
aconteceram na liacutengua de sinais em Santa Catarina Os informantes
150
apresentaram individualmente suas respostas ao questionaacuterio referente a
seu aprendizado escolar e a sua vida Essas apresentaccedilotildees gravadas em
viacutedeo tecircm o objetivo de mostrar a experiecircncia na liacutengua de sinais dos
informantes nas trecircs geraccedilotildees pesquisadas
Para anaacutelise dos dados recolhidos foi feita uma tabela
denominada Preliminar dos dados ndash variaccedilotildees ou mudanccedilas
linguiacutesticas Nessa tabela vemos a transcriccedilatildeo dos depoimentos e a
identificaccedilatildeo dos Grupos (I II e III) de surdos que narraram a sua
experiecircncia na liacutengua de sinais Seguem as principais abordagens
pesquisadas
No primeiro momento investigo a variaccedilatildeo e
mudanccedila lexical na Liacutengua Brasileira de Sinais onde
dois ou mais sinais existem na liacutengua ao mesmo tempo
descrevo a mudanccedila em dois sinais que se daacute quando o
antigo sinal some e um novo entra
No segundo e uacuteltimo momento investigo a variaccedilatildeo e
mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua Brasileira de Sinais em
que um mesmo sinal possui mais de uma forma de
realizaccedilatildeo descrevo a mudanccedila que se observa quando um
sinal altera de caracteriacutesticas com relaccedilatildeo aos paracircmetros
configuraccedilatildeo das matildeos ponto de articulaccedilatildeo e movimento
Foi interessante realizar a pesquisa dos dados dos trecircs grupos
porque eacute um desafio aleacutem de me permitir identificar os sinais das
geraccedilotildees pesquisadas A princiacutepio foram identificados os sinais que
eram utilizados pelos surdos mais velhos e que os jovens natildeo
conheciam Em seguida os sinais com configuraccedilatildeo de matildeos (CM) e
ponto de articulaccedilatildeo (PA) diferentes e tambeacutem os sinais com
configuraccedilatildeo de matildeos (CM) iguais e ponto de articulaccedilatildeo (PA)
diferentes Por uacuteltimo os sinais com configuraccedilatildeo de matildeos (CM)
diferentes e ponto de articulaccedilatildeo (PA) iguais
Os sinais apresentados pelos informantes das trecircs geraccedilotildees
totalizaram 255 sinais Nesse total foram utilizados 17 vocaacutebulos para a
anaacutelise dos resultados e levantamento dos sinais de cada informante dos
trecircs Grupos (I II e III) Alguns sinais foram dispensados porque
tornariam a pesquisa muito ampla Dos 255 sinais encontrados para
anaacutelise 115 foram apresentados pelos surdos do Grupo mais jovem 163
foram apresentados pelo Grupo com idade intermediaacuteria e 183 pelo
Grupo dos mais velhos
Esta distribuiccedilatildeo por faixa etaacuteria compreende 9 informantes trecircs
151
em cada uma das geraccedilotildees formando os trecircs Grupos pesquisados (I II e
III) O resultado mais significativo foi mostrado pelos informantes do
grupo de indiviacuteduos mais velhos (G e I) possibilitando numa primeira
anaacutelise perceber algumas variaccedilotildees e mudanccedila na liacutengua de sinais Ficou
perceptiacutevel que o grupo de surdos dos mais velhos influenciou a liacutengua
de sinais em Santa Catarina na comunidade surda Segue tabela com os
nuacutemeros de sinais levantados em cada um dos trecircs grupos
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Sinais
Analisados
183
163
115
Tabela 09 ndash Preliminar dos dados ndash Variaccedilotildees ou mudanccedilas linguiacutesticas
Como jaacute foi comentado anteriormente a comunidade surda em
Santa Catarina ateacute aproximadamente o ano de 2000 teve um uacutenico
professor surdo no nosso estado e que influenciou a liacutengua de sinais O
fator externo que influenciou a liacutengua de sinais em SC atraveacutes do
professor Francisco foi o agrupamento dos surdos de todo o estado
formando uma comunidade surda que tambeacutem participa da
identificaccedilatildeo de classe do grupo informante Outro fator externo eacute
percebido nos Grupos II e I que mostram sinais aprendidos no contato
com o professor surdo na escola e tambeacutem no Ciacuterculo de Surdo-Mudo
em Santa Catarina sendo que o Grupo II influenciou o Grupo III
Na tabela em anexo percebe-se que dos 255 sinais coletados o
Grupo I apresentou mais sinais do que os Grupos II e III Talvez os
sinais natildeo conhecidos pelo Grupo III sejam os sinais criados
recentemente pela comunidade surda acadecircmica
Nas quatro tabelas gerais dos dados (paacuteg153 167 174 e 176)
tambeacutem apresenta na coluna agrave esquerda dos informantes o sinal (leacutexico)
e na direita os trecircs grupos de diferentes geraccedilotildees com diferentes faixas
etaacuterias que variam de 25 a mais de 80 anos e totalizam nove (9) indiviacuteduos Na coluna sinal (leacutexico) apresentam-se os dados que foram
escolhidos para realizar a pesquisa nos Grupos I II e III as variaacuteveis
independentes (homem mulher idade escolaridade e profissatildeo) que
152
podem mostrar tambeacutem variaccedilatildeo e mudanccedila na liacutengua de sinais usada
pelos informantes
63 ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na Liacutengua Brasileira de Sinais
Nesta seccedilatildeo vatildeo ser observados os itens lexicais que estatildeo em
variaccedilatildeo nas trecircs geraccedilotildees Comparando os sinais eles podem ser
produzidos atraveacutes de um sinal ou mais por exemplo o sinal de ldquomatildeerdquo
no passado tinha apenas um sinal (simples) atualmente utilizam-se dois
sinais (composto) para esta representaccedilatildeo Isto mostra que acontece
variaccedilatildeo lexical em LIBRAS Outros exemplos de sinais em variaccedilatildeo
satildeo ldquoaposentarrdquo ldquoaviatildeordquo ldquomatildeerdquo ldquopairdquo ldquopoliacuteticardquo ldquopretordquo
ldquoreuniatildeordquo e ldquosemanardquo (Tabela geral dos dados a seguir)
Nos Grupos I e II nos sinais de banco feio meacutedico porque
padre e ter tambeacutem acontece variaccedilatildeo lexical pois tem mais de um
sinal que existe na liacutengua ao mesmo tempo Nos Grupos I e III o sinal de
nome aponta variaccedilatildeo lexical
Foi apresentada na discussatildeo sobre mudanccedila lexical de alguns
sinais na Liacutengua Brasileira de Sinais (MAtildeE e PAI) Agora seraacute mostrada
a variaccedilatildeo lexical encontrada nos sinais utilizados pelos informantes das
trecircs geraccedilotildees (Grupos I II e III)
Veja a tabela a seguir elaborada para descrever os resultados
obtidos dos informantes dos Grupos I II e III Os nuacutemeros que
aparecem na tabela correspondem agrave configuraccedilatildeo de matildeos (CM) num
total de 64 posiccedilotildees diferentes que as matildeos podem assumir (ver anexo
paacutegina 225)
153
Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na Liacutengua
Brasileira de Sinais
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
APOSENTAR CM ndash 01 02
07 11 57
CM ndash 01 02
11 57
CM ndash 01 11
AVIAtildeO CM ndash 53a CM ndash 36 37a
40
CM ndash 40
MAtildeE CM ndash 02 14
63
CM ndash 01 02
06 14 60 63
CM ndash 02 07
14
PAI CM ndash 01 11
14 16 38
CM ndash 01 02
11 16 38 45
CM ndash 02 11
16 38 45
POLIacuteTICA CM ndash 11 51a CM ndash 11 14 CM ndash 11
PRETO CM ndash 05 34
62
CM ndash 05 CM ndash 05
REUNIAtildeO CM ndash 14 CM ndash 14 15
25
CM ndash 25
SEMANA CM ndash 08a 10
64
CM ndash 10 CM ndash 10
Os quadros a seguir mostram a sequecircncia dos sinais lexicais
utilizados pelos informantes desta pesquisa na liacutengua de sinais nas trecircs
geraccedilotildees
Observe-se inicialmente o item lexical APOSENTAR
154
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Aposentar
(1)
Figura 31
CM ndash 01 11
(2)
Figura 32
CM ndash 02 57
(1)
Figura 34
CM ndash 01 11
(2)
Figura 35
CM ndash 02 57
Figura 36
CM ndash 01 11
155
(3)
Figura 33
CM ndash 07
Quadro 01 ndash Sinal de Aposentar
O sinal de aposentar apresentado no quadro 01 no Grupo I (mais
velhos) apareceu com trecircs sinais diferentes o que indica variaccedilatildeo
lexical O Grupo III (mais jovem) utiliza o sinal com a configuraccedilatildeo de
matildeos (CM) - 01 e 11 com o movimento no espaccedilo neutro
consecutivamente para frente Os Grupos I e II utilizaram a CM - 02 57
(palma da matildeo aberta se fechando agrave medida que o antebraccedilo puxa para
traacutes junto ao lado do corpo no espaccedilo neutro) O Grupo I apresentou o
sinal de aposentar com a CM ndash 07 ambas as matildeos saiacutedas do espaccedilo
neutro na frente do corpo indo ateacute o peito Esse sinal atualmente eacute
produzido para indicar folga descanso e acomodar O Grupo III natildeo
conhece o sinal de aposentar do Grupo I talvez por isso eles utilizam
com outro significado O Grupo I tem trecircs sinais diferentes para
ldquoaposentarrdquo como mostram as figuras 31 32 e 33 mas o significado eacute o
mesmo isso pode ser variaccedilatildeo lexical mas tudo indica que ocorre
tambeacutem mudanccedila lexical O Grupo I tem um uacutenico sinal diferente do
Grupo III Parece que atualmente o sinal tem outro significado
Inicialmente observe-se o item lexical AVIAtildeO
156
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Aviatildeo
Figura 37
CM ndash 53a
(1)
Figura 38
CM ndash 36
(2)
Figura 39
CM ndash 37a
(3)
Figura 40
CM ndash 40
Figura 41
CM ndash 40
Quadro 02 ndash Sinal de Aviatildeo
157
Sabe-se que o professor Francisco iniciou o ensino para alguns
surdos utilizando a soletraccedilatildeo no alfabeto digital em Portuguecircs
Observando os trecircs grupos foi possiacutevel identificar as
modificaccedilotildees graduais deste sinal que iniciou com a soletraccedilatildeo Depois
foi apresentada como em CM ndash 53a a matildeo parte do lado do corpo em
linha reta e ascendente imitando a decolagem do aviatildeo usada pelo
Grupo I (mais velhos) O Grupo II apresentou as configuraccedilotildees CM ndash
36 CM ndash 37a CM - 40 tambeacutem imitando a decolagem do aviatildeo No
Grupo III apareceu apenas o sinal com a CM ndash 40 ou seja continuou
igual ao utilizado pelo Grupo II
Veja a seguir o item lexical MAtildeE
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Matildee
(1)
Figura 42
CM ndash 02
(1)
Figura 45
CM ndash 02
(1)
Figura 48
CM ndash 02 07
158
(2)
Figura 43
CM ndash 14
(3)
Figura 44
CM ndash 63
(2)
Figura 46
CM ndash 14
(3)
Figura 47
CM ndash 63
(4)
(2)
Figura 49
CM ndash 14
Quadro 03 ndash Sinal de Matildee
No quadro 03 aparece na figura 43 46 e 49 nos Grupos I II e III
o sinal de matildee que tem variaccedilatildeo lexical ao mesmo tempo Entatildeo os
Grupos I e II tambeacutem mostram o mesmo sinal No Grupo III a figura 48
mostra o sinal de matildee (mulher^benccedilatildeo = matildee) o que acontece eacute um sinal
composto em variaccedilatildeo lexical Nas figuras 42 45 e 48 a configuraccedilatildeo de
matildeos acontece (igualmente) nos trecircs grupos As figuras 44 e 47 nos Grupos I e II mostram a palma da matildeo aberta para frente e o dorso da
matildeo colocado na boca para o sinal de matildee o que tambeacutem indica
variaccedilatildeo lexical
No quadro 03 tambeacutem mostra mudanccedila lexical O sinal de ldquoM-Atilde-
Erdquo aparece soletrado no alfabeto digital e outro com a configuraccedilatildeo de
159
matildeos (CM) em ldquoMrdquo (nuacutemero da CM ndash 01 06 60) com ponto de
articulaccedilatildeo (PA) na boca num movimento (M) de roccedilar a matildeo para
frente (reto) Atualmente o sinal de MAtildeE eacute realizado da seguinte forma
o sinal de mulher (matildeo fechada e polegar riscando o rosto de cima para
baixo) junto com a matildeo fechada sendo beijada no dorso (mulher^benccedilatildeo
= MAtildeE) representando um sinal composto
Comparando o sinal de MAtildeE apresentado pelos informantes dos
trecircs Grupos (I II e III) nota-se que ocorreu mudanccedila lexical a forma de
configuraccedilatildeo de matildeos (CM) modificou-se
Pode ser que a distinccedilatildeo entre variaccedilatildeo lexical e mudanccedila lexical
nem sempre estaacute clara mas pode ser estabelecida em alguns casos dos
sinais
O quadro a seguir mostra variaccedilatildeo e mudanccedila do item lexical
PAI
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Pai
(1)
Figura 50
CM ndash 11
(1)
Figura 53
CM ndash 16
(1)
Figura 55
CM ndash 11 38
160
(2)
Figura 51
CM ndash 14
(3)
Figura 52
CM ndash 16
(4)
(2)
Figura 54
CM ndash 02 45
(3)
(2)
Figura 56
CM ndash 16
(3)
Figura 57
CM ndash 02 45
Quadro 04 ndash Sinal de Pai
Nas figuras 52 53 e 56 dos Grupos I II e III na configuraccedilatildeo de
matildeos (CM) o dedo indicador curvado colocado como se fosse um
bigode movimenta-se para frente e para traacutes significando sinal de pai
Os Grupos II e III mostram o sinal composto (homem^benccedilatildeo = pai)
Nas figuras 54 e 57 tambeacutem temos variaccedilatildeo e mudanccedila lexical Na
figura 51 o dedo indicador reto eacute colocado como se fosse um bigode
fazendo movimento para a direita no Grupo I Nas figuras 50 e 55 nos
Grupos I e III mostra-se a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) - 11 tambeacutem
161
imitando um bigode fazendo movimento para a direita e no Grupo III
mostra-se o empreacutestimo linguiacutestico ldquoP-Irdquo (CM) -11 38 o sinal de pai
No quadro 04 tambeacutem aparece mudanccedila lexical O sinal de
famiacutelia que mostra a palavra ldquoP-A-Irdquo eacute apresentado na soletraccedilatildeo de
matildeos Haacute uma mudanccedila linguiacutestica porque inicia com o sinal ldquoPrdquo (CM ndash
11) passando sobre os laacutebios depois o sinal de bigode realizado de duas
formas diferentes (o dedo indicador em cima do laacutebio superior e o dedo
indicador flexionado tambeacutem em cima do laacutebio superior) e ainda o sinal
ldquoPrdquo saindo dos laacutebios indo para frente formando o sinal ldquoIrdquo (CM ndash 38)
e atualmente o sinal de homem (CM ndash 45) fechar a matildeo e beijar as
costas da mesma (CM ndash 02) Observam-se nesse caso cinco diferentes
sinais ilustrando as variaccedilotildees e mudanccedilas linguiacutesticas Acredita-se que
o contado dos diferentes surdos em comunicaccedilatildeo com gestos familiares
proporcionou uma troca entre eles influenciando a comunidade surda e
a escola com uma classe de surdos onde os alunos tiveram contato com
a soletraccedilatildeo de palavras em Portuguecircs e nos respectivos sinais
O Grupo I apresentou trecircs sinais diferentes nas figuras 50 51 e 52
ldquopaisrdquo o que pode indicar variaccedilatildeo lexical O Grupo II mostra dois
sinais diferentes nas figuras 53 e 54 tem um sinal composto
homem^benccedilatildeo = pai que foi utilizado pelo Grupo III
Observe agora no quadro a seguir o item lexical POLIacuteTICA
162
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Poliacutetica
Figura 58
CM ndash 11 51a
(1)
Figura 59
CM ndash 11
(2)
Figura 60
CM ndash 14
Figura 61
CM ndash 1 1
Quadro 05 ndash Sinal de Poliacutetica
No quadro 05 o sinal de POLIacuteTICA se daacute atraveacutes da matildeo direita
na configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 11 colocada em movimento circular
(girando) no lado do rosto com a bochecha insuflada sinal apresentado
pelos Grupos II e III O Grupo I apresenta um sinal icocircnico porque eacute a
representaccedilatildeo da sede do congresso em Brasiacutelia O Grupo II mostra
tambeacutem outro sinal para poliacutetica com CM ndash 14 o dedo indicador das matildeos com as extremidades proacuteximas em frente do corpo em movimento
alternado para cima e para baixo localizado no espaccedilo neutro
No Grupo III na figura 61 com CM ndash 14 eacute o uacutenico sinal com
configuraccedilatildeo diferente e que o significado tambeacutem pode ser entendido
163
como discutir a poliacutetica aparecendo nesse caso com sentido
abrangente
Veja a seguir o item lexical PRETO
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Preto
(1)
Figura 62
CM ndash 34 62
(2)
Figura 63
CM ndash 05
Figura 64
CM ndash 05
Figura 65
CM ndash 05
Quadro 06 ndash Sinal de Preto
No quadro 06 aparece o sinal de PRETO com a matildeo direita com
CM ndash 05 palma para baixo simulando girar uma chave ao lado da
cabeccedila Um dos informantes do Grupo I utilizou o sinal de preto que
acredito teve influecircncia da liacutengua de sinais produzida no Rio de janeiro
Os Grupos II e III apresentaram o sinal regional utilizado na grande
Florianoacutepolis Os Grupos I II e III mostram o mesmo sinal para preto
164
nas figuras 63 64 e 65 mas tem um sinal diferente apresentado pelo
Grupo I nas figuras 62 e 63
O sinal produzido pelo Grupo I na figura 62 eacute utilizado ateacute hoje
no Rio de Janeiro e percebo que tambeacutem eacute utilizado por interpretes e
estudantes surdos da UFSC
Veja a seguir o item lexical REUNIAtildeO
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Reuniatildeo
Figura 66
CM ndash 14
(1)
Figura 67
CM ndash 25
(2)
Figura 68
CM ndash 14
Figura 70
CM ndash 25
165
(3)
Figura 69
CM ndash 15
Quadro 07 ndash Sinal de Reuniatildeo
No quadro 07 o sinal de REUNIAtildeO mostrado pelos Grupos II e
III com CM ndash 25 nas matildeos estaacute localizado no espaccedilo neutro com as
palmas das matildeos para frente as matildeos em movimento semicircular
fechando em ciacuterculo Os Grupos I e II mostram como em CM ndash 14
realizado da mesma forma que o descrito anteriormente sinal este que o
grupo jovem natildeo conhece O Grupo II apresenta um sinal de REUNIAtildeO
com as matildeos como em CM ndash 15 em espaccedilo neutro movendo-se
alternadamente para frente e para traacutes com a palma das matildeos proacuteximas
este grupo apresentou trecircs sinais diferentes enquanto os Grupos I e III
mostraram apenas um
No Grupo II na figura 69 o sinal eacute diferente e natildeo aparece no
Grupo I e no Grupo III mas o significado deste eacute REUNIAtildeO particular
com poucas pessoas Talvez por isso natildeo apareceu nos outros dois
grupos Nas figuras 68 e 69 os sinais apresentam variaccedilatildeo fonoloacutegica
porque mudou o traccedilo linguiacutestico o ponto de articulaccedilatildeo da sinalizaccedilatildeo
no espaccedilo neutro eacute o mesmo mas a CM e o movimento se alteram
Veja a seguir o item lexical SEMANA
166
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Semana
(1)
Figura 71
CM ndash 08a 64
(2)
Figura 72
CM ndash 10
Figura 73
CM ndash 10
Figura 74
CM ndash 10
Quadro 08 ndash Sinal de Semana
No quadro 08 aparece o sinal de SEMANA com a matildeo esquerda
aberta palma para fora (CM ndash 08a ldquoLrdquo) matildeo direita CM - 64 palma
para fora direcionando as duas matildeos para o lado direito O grupo de
informante III (terceira geraccedilatildeo) apresentou a variaccedilatildeo do sinal descrita
anteriormente mas o Grupo II apresentou o sinal a matildeo direita com
forma de configuraccedilatildeo CM - 10 direcionando a matildeo direita para o lado
direito ponto de articulaccedilatildeo no espaccedilo neutro O Grupo I (primeira
geraccedilatildeo) apresentou no queixo o sinal de semana como em CM ndash 10
Isso mostra a variaccedilatildeo do sinal apresentado pelos informantes nas trecircs
geraccedilotildees por faixa etaacuteria Os trecircs grupos sinalizam semana de forma
diferente nas figuras 71 72 e 74 Os Grupos I e II sinalizam semana nas
167
figuras 72 e 73 de forma igual O Grupo I eacute o uacutenico que realiza o sinal
no espaccedilo neutro e o Grupo III inicia o sinal no queixo e termina-o no
espaccedilo neutro
Uma das razotildees para variaccedilatildeo e mudanccedila lexical acontecer eacute por
influecircncia tecnoloacutegica que transforma a sociedade que cresce no
cotidiano por necessidade na liacutengua usada na conversa No caso da
pessoa surda em contato com a liacutengua de sinais ela acaba valorizando
mais a liacutengua de sinais que torna a cultura surda dinacircmica e proporciona
uma nova forma de comunicaccedilatildeo para o indiviacuteduo surdo Na
comunidade surda precisamos buscar o conhecimento cada vez maior
para aumentar o leacutexico da liacutengua em sinais
Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na Liacutengua
Brasileira de Sinais
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
BANCO CM ndash 53a 61 CM ndash 53a 61 CM ndash 53a
FEIO CM ndash 07 64 CM ndash 8a CM ndash 08a
MEacuteDICO CM ndash 16 44 CM ndash 16 44 CM ndash 16
NOME CM ndash 21 24 CM ndash 24 CM ndash 24
PORQUE CM ndash 14 15 CM ndash 14 15 CM ndash 14
O quadro a seguir apresenta a sequecircncia dos sinais lexicais que
sofreram mudanccedila na liacutengua de sinais dos informantes dos Grupos I II e
III nas trecircs geraccedilotildees Inicialmente seraacute descrito o item lexical BANCO
168
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Banco
(1)
Figura 75
CM ndash 53a
(2)
Figura 76
CM ndash 61
(1)
Figura 77
CM ndash 53a
(2)
Figura 78
CM ndash 61
Figura 79
CM ndash 53a
Quadro 09 ndash Sinal de Banco
No quadro 09 a CM ndash 61 corresponde agrave letra B no alfabeto
digital palma da matildeo voltada para a esquerda batendo suavemente em
cima do peito esquerdo Este sinal foi utilizado pelos Grupos II e I
sofrendo uma mudanccedila lexical pois modificou o ponto de articulaccedilatildeo e
a CM com o mesmo movimento Os informantes do Grupo III (jovens)
natildeo utilizam e talvez natildeo conheccedilam o sinal de BANCO utilizado pelos
Grupos II e I Podemos chamar de mudanccedila em tempo aparente
Nos Grupos I II e III apresentam variaccedilatildeo lexical os sinais das
figuras 75 77 e 79 pois se realizam da mesma forma Nos Grupos I e II
169
as figuras 76 e 78 apresentam um sinal que natildeo eacute mais utilizado
caracterizando uma mudanccedila lexical
Observe-se agora o sinal do item lexical FEIO
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Feio
Figura 80
CM ndash 07 64
64
Figura 81
CM ndash 08a
Figura 82
CM ndash 08a
Quadro 10 ndash Sinal de Feio
No quadro 10 a CM ndash 08a (L) usa palma da matildeo em frente da
boca o dedo indicador apontando para a esquerda em seguida abaixa-
se a matildeo ateacute a altura do peito O sinal utilizado pelo Grupo I mostra uma
mudanccedila lexical no sinal de FEIO o sinal de bonito (matildeo aberta com
palma da matildeo voltada para o rosto na frente fazendo um ciacuterculo e se
fechando) e mais o sinal de negaccedilatildeo matildeo fechada com polegar para
baixo Houve uma troca na configuraccedilatildeo de matildeos (CM) de ponto de
articulaccedilatildeo (PA) e movimento (M) do sinal pelos surdos do Grupo III
(mais jovens de 15 a 30 anos de idade) O Grupo I faz dois sinais
bonito^ruim = feio na figura 80 como se fosse o contraacuterio de bonito O
Grupo II faz o sinal de feio para pessoas enquanto o Grupo III sinaliza
com significado de feio para objetos
64 A imagem da CM segue a ordem da tabela com as configuraccedilotildees
170
Observe-se a seguir o item lexical MEacuteDICO
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Meacutedico
(1)
Figura 83
CM ndash 16
(2)
Figura 84
CM ndash 44
(1)
Figura 85
CM ndash 16
(2)
Figura 86
CM ndash 44
Figura 87
CM ndash 16
Quadro 11 ndash Sinal de Meacutedico
No quadro 11 o sinal de MEacuteDICO aparece diferenciado no Grupo
I (geraccedilatildeo G H e I) O sinal de MEacuteDICO eacute produzido com a
configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 44 com ponto de articulaccedilatildeo (PA) no
peito em cima do coraccedilatildeo movimentando-se semicircularmente ateacute o
lado direito Esse sinal mostra mudanccedila lexical pois o Grupo III
(jovens) inovou com relaccedilatildeo ao espaccedilo neutro65
o sinal eacute produzido
65 Espaccedilo Neutro ndash ldquono caso do uso de pontos arbitraacuterios o estabelecimento ocorre em um
local neutro do espaccedilo da sinalizaccedilatildeo e em geral satildeo distribuiacutedos no espaccedilo de forma a serem
171
com a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 16 em ambas as matildeos onde uma eacute
ativa e outra passiva e o dedo indicador direito bate na 2a falange do
dedo esquerdo
Podemos dizer que o sinal que aparece nos Grupos I e II e que
natildeo aparece no Grupo III eacute um sinal icocircnico Acredito que ainda eacute
utilizado apenas natildeo apareceu nas sinalizaccedilotildees do grupo dos mais
jovens que apresentam uma fluecircncia maior na LIBRAS
Veja a seguir a configuraccedilatildeo do item lexical NOME
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Nome
(1)
Figura 88
CM ndash 21
(2)
Figura 89
CM ndash 24
Figura 90
CM ndash 24
Figura 91
CM ndash 24
Quadro 12 ndash Sinal de Nome
amplamente diferenciados Os pontos podem estar acima ou abaixo do espaccedilo neutro se esses apresentarem uma imagem apropriada (por ex um aviatildeo seraacute apontado acima do espaccedilo
neutro)rdquo QUADROS et al (2008 p 07)
172
No quadro 12 mostra o sinal de NOME com a configuraccedilatildeo de
matildeos (CM) ndash 24 (matildeo direita em ldquoUrdquo no Alfabeto Digital) palma da
matildeo para frente dedos apontados para cima na altura do peito movem-
se os dedos do lado esquerdo para o lado direito Na leitura dos
resultados encontrados apareceu uma mudanccedila lexical na liacutengua de
sinais o Grupo I utiliza a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 21 24 na (CM)
ndash 21 representa o nome do crachaacute (sinal icocircnico) Acontece mudanccedila
lexical pois as configuraccedilotildees de matildeos (CM) os pontos de articulaccedilotildees
(PA) os movimentos (M) e a orientaccedilatildeo satildeo diferentes (OP) Aqui
temos tambeacutem mudanccedila fonoloacutegica as configuraccedilotildees de matildeos satildeo
diferentes
O quadro a seguir mostra a configuraccedilatildeo do item lexical
PORQUE
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Porque
(1)
Figura 92
CM ndash 14
(1)
Figura 94
CM ndash 14
Figura 96
CM ndash 14
173
(2)
Figura 93
CM ndash 15
(2)
Figura 95
CM ndash 15
Quadro 13 ndash Sinal de Porque
No quadro 13 o sinal de PORQUE no Grupo I e II aparece com
CM ndash 15 (dedo indicador flexionado saindo da tecircmpora em diagonal) e
nos trecircs grupos aparece o sinal com a CM ndash 14 dedo indicador direito e
esquerdo em diagonal bater o indicador direito sobre o esquerdo vaacuterias
vezes no espaccedilo neutro O sinal com a CM ndash 14 aparece na sinalizaccedilatildeo
dos informantes das trecircs geraccedilotildees permanecendo ateacute a atualidade
O sinal que os Grupos I e II fizeram nas figuras 93 e 95 natildeo eacute
mais realizado pelo grupo dos mais jovens que tambeacutem natildeo conhece o
significado
64 ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua Brasileira de Sinais
A variaccedilatildeo e a mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua Brasileira de
Sinais satildeo observadas na semelhanccedila entre somfala ou sinais foneacutetico-
fonoloacutegicos Na Liacutengua Brasileira de Sinais encontram-se modificaccedilotildees
de pronuacutencia de certos itens lexicais atestando variaccedilatildeo e mudanccedila
fonoloacutegica Essa variaccedilatildeo depende da unidade lexical e pode decorrer de
diferentes paracircmetros a configuraccedilatildeo de matildeos (CM) movimento (M)
ponto de articulaccedilatildeo (PA) e orientaccedilatildeo das matildeos Nesses casos a
configuraccedilatildeo de matildeos pode modificar mas o significado dos sinais
permanece o mesmo mostrando variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica As
autoras Quadros e Karnopp (2004 p47) definem a fonologia das
liacutenguas de sinais da seguinte forma
Fonologia das liacutenguas de sinais eacute o ramo da linguumliacutestica
que objetiva identificar a estrutura e a organizaccedilatildeo dos
constituintes fonoloacutegicos propondo modelos descritivos
e explanatoacuterios A primeira tarefa da fonologia para
174
liacutengua de sinais eacute determinar quais satildeo as unidades
miacutenimas que formam os sinais A segunda tarefa eacute
estabelecer quais satildeo os padrotildees possiacuteveis de
combinaccedilatildeo entre essas unidades e as variaccedilotildees possiacuteveis
no ambiente fonoloacutegico
Haacute pouca pesquisa cientiacutefica sobre variaccedilatildeo e mudanccedila
fonoloacutegica na LIBRAS no Brasil Pode-se verificar atraveacutes dos dados
dos informantes apresentados a cada pronuacutencia dos sinais diferentes de
uso a unidade miacutenima lexical pode se modificar (configuraccedilatildeo de matildeos
movimento e ponto de articulaccedilatildeo) No quadro 07 apresenta-se o sinal
de semana mostrando mudanccedila no ponto de articulaccedilatildeo e variaccedilatildeo e
mudanccedila fonoloacutegica nos Grupos I II e III
Veja a Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica
na Liacutengua Brasileira de Sinais com os resultados que foram escolhidos
nesta pesquisa para realizar a descriccedilatildeo e a anaacutelise
Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua
Brasileira de Sinais
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
ANTES CM ndash 08a 53a
63
CM ndash 08a CM ndash 08a
Veja agora os sinais para o item lexical ANTES
175
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Antes
(1)
Figura 97
CM ndash 53a 63
(2)
Figura 98
CM ndash 08a
Figura 99
CM ndash 08a
Figura 100
CM ndash 08a
Quadro 14 ndash Sinal de Antes
No quadro 14 aparece o sinal de ANTES com a seguinte
configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 08a a matildeo direita em L horizontal
(alfabeto digital) palma para baixo na frente do corpo no espaccedilo neutro
levantar o antebraccedilo da matildeo direita para cima Outro sinal aparece com
a (CM) ndash 53a e 63 inicia com a CM 63 e finaliza com a CM 53a com o
mesmo movimento do antebraccedilo descrito anteriormente Ambos os
informantes utilizam a expressatildeo facial necessaacuteria para a compreensatildeo
do sinal As trecircs geraccedilotildees apresentaram variaccedilatildeo fonoloacutegica o sinal eacute
produzido com diferentes configuraccedilotildees de matildeos mas os paracircmetros
movimento (M) e ponto de articulaccedilatildeo (PA) satildeo os mesmos
176
Nos Grupos I II e III apresentam os mesmos sinais com a mesma
CM ndash 08a mas temos com essa mesma CM o mesmo significado soacute
que com ponto de articulaccedilatildeo diferente acontecendo na palma da matildeo e
no dorso da matildeo e que tambeacutem pode ter significado de ldquoQue horasrdquo ou
pode estar atrasado para trabalhar ou ainda precisa agendar uma reuniatildeo
antes
Os dados coletados tambeacutem mostram mudanccedila e variaccedilatildeo
fonoloacutegica na liacutengua brasileira de sinais Sinais foram modificados com
o passar dos anos Observando os informantes percebe-se que os
paracircmetros mudaram da geraccedilatildeo mais antiga (Grupo I) em relaccedilatildeo agrave
geraccedilatildeo atual (Grupo III)
Observe na tabela a seguir os dados que foram escolhidos para
realizar a descriccedilatildeo e a anaacutelise dos resultados Ela apresenta a sequecircncia
das mudanccedilas e variaccedilotildees dos sinais lexicais na LIBRAS usados pelos
informantes nas trecircs geraccedilotildees
Tabela geral dos dados ndash Variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na Liacutengua
Brasileira de Sinais
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
CORTAR CM ndash 14 24
63
CM ndash 14 24 CM ndash 24
PADRE CM ndash 21 24
62
CM ndash 11 21
24
CM ndash 24
TER CM ndash 08a 63 CM ndash 08a 63 CM ndash 08a
Acompanhe agora a descriccedilatildeo do item lexical CORTAR
177
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Cortar
(1)
Figura 101
CM ndash 63
(2)
Figura 102
CM ndash 14 24
(3)
Figura 103
CM ndash 14
(1)
Figura 104
CM ndash 14
(2)
Figura 105
CM ndash 24
Figura 106
CM ndash 24
Quadro 15 ndash Sinal de Cortar
178
No quadro 15 observa-se que o Grupo I apresentou a
configuraccedilatildeo de matildeos (CM) ndash 63 (U) raspando o dedo meacutedio da matildeo
direita no dedo indicador da matildeo esquerda simulando cortar algo
Depois a CM ndash 14 junto com a CM 24 mostraram um movimento
simulando o corte com uma faca e tambeacutem a CM ndash 14 em ambas as
matildeos simulando o movimento de cortar O Grupo II apresentou a CM ndash
14 (igual a do Grupo I) e a CM ndash 24 simulando o movimento de cortar
O Grupo III (jovem) utilizou apenas a CM ndash 24
Exemplos das figuras apresentadas no quadro 15 mostrando
sinais de CORTAR66
em diferentes contextos satildeo apresentados a seguir
a) Em LIBRAS Grupo I - EU ANTES ESTUDAR LAacute INES
DEPOIS CORTAR MARCENEIRO (Figura 101)
Em Portuguecircs Grupo I ndash Eu era crianccedila estudava no INES
fomos cortar madeira com supervisatildeo de um marceneiro (Figura 101)
b) Em LIBRAS Grupo I - SURDOS LAacute INES CORTAR
PAPELAtildeO (Figura 102)
Em Portuguecircs Grupo I ndash Os alunos surdos do INES foram
cortar papelatildeo (Figura 102)
c) Em LIBRAS Grupo I - EU AIacute (FOGO) FOGO COMER
CARNE CORTAR UM (CADA) IRMAtildeO SENTAR COMER TODOS
COMER ARROZ BATATA AIPIM TODOS (Figura 103)
Em Portuguecircs Grupo I ndash Eu fiquei assustada com o fogo Eu e
meus irmatildeos sentados juntos a mesa cortei a carne e dei um pedaccedilo para
cada irmatildeo Todos comeram arroz batata e aipim aleacutem da carne
(Figura 103)
d) Em LIBRAS Grupo II ndash ANTES ERA PEQUENO
BRINCAR LAacute ESCOLA BALANCcedilO CORRENTE CORTAR DEDO
DOR (Figura 104)
Em Portuguecircs Grupo II ndash Quando era crianccedila fomos brincar no
parque da escola cortei o dedo na corrente (Figura 104)
e) Em LIBRAS Grupo II - FESTA CSMSC SURDOS CORTAR
CARNE BOLO TODOS SURDOS (Figura 105)
Em Portuguecircs Grupo II ndash Teve uma festa do Ciacuterculo de Surdos-
Mudos de Santa Catarina (CSMSC) para comemoraccedilatildeo dos surdos Foi
cortada a carne e o bolo para os surdos que foram a associaccedilatildeo (Figura
105)
66 Nesses casos noacutes temos sinais diferentes para o mesmo significado de ldquocortarrdquo que satildeo as imagens do quadro 15
179
f) Em LIBRAS Grupo III ndash EU LAacute CASA AMIGO SURDO
ALMOCcedilAR COMER PEDIR CORTAR CARNE CONVERSAR
AMIGO (Figura 106)
Em Portuguecircs Grupo III - Eu fui agrave casa do meu amigo surdo
almoccedilar pedi a ele para cortar a carne e tambeacutem conversei com os
amigos surdos (Figura 106)
O Grupo I eacute o uacutenico que utiliza para o sinal de cortar CM ndash 63 um
sinal diferente dos outros grupos mas com o mesmo significado Parece
que o Grupo I foi evoluindo o sinal comeccedilou com CM diferente em
cada matildeo e por fim uma mesma CM para ambas as matildeos O Grupo II
utilizou duas CM diferentes como o Grupo I mas realizava o sinal de
duas formas diferentes CM ndash 14 ou 24 mas a mesma CM para ambas as
matildeos O Grupo III realiza o sinal somente com a CM ndash 24 em ambas as
matildeos Como se observa parece que ocorreu mudanccedila fonoloacutegica nos
trecircs grupos pesquisados
Veja na sequecircncia a mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua brasileira de
sinais
A tabela a seguir traz os sinais do item lexical PADRE
180
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Padre
(1)
Figura 107
CM ndash 62
(2)
Figura 108
CM ndash 24
(1)
Figura 110
CM ndash 11
(2)
Figura 111
CM ndash 24
Figura 113
CM - 24
181
(3)
Figura 109
CM ndash 21
(3)
Figura 112
CM ndash 21
Quadro 16 ndash Sinal de Padre
Nos trecircs grupos apareceu o sinal com CM ndash 24 matildeo na frente do
peito no espaccedilo neutro desenhando uma cruz com a matildeo (Representaccedilatildeo
icocircnica) Os Grupos I e II apresentaram o mesmo sinal CM ndash 21
produzido na base do pescoccedilo iniciando do lado esquerdo indo ateacute o
lado direito como se estivesse desenhando a gola da batina (Icocircnico) O
Grupo I apresentou um sinal diferente com CM ndash 62 matildeo na frente do
peito no espaccedilo neutro desenhando uma cruz com a matildeo O Grupo II
tambeacutem mostra um sinal uacutenico com CM ndash 11 matildeo na frente do peito no
espaccedilo neutro desenhando uma cruz com a matildeo A configuraccedilatildeo de
matildeos (CM) foi sendo alterada no espaccedilo neutro Os informantes do
Grupo I II e III (nas trecircs geraccedilotildees) apresentaram sinais que podem ser
considerados como variaccedilatildeo ou mudanccedila fonoloacutegica
Na figura 107 o sinal parece ser igual ao que um padre faz na
missa ao despedir-se dos fieacuteis e na figura 110 parece que a CM ndash 11 (P)
recebe influecircncia do oralismo Um uacutenico sinal aparece nos trecircs grupos
satildeo das figuras 108 111 e 113 sendo o uacutenico utilizado pelo Grupo III
(jovens)
Veja na sequecircncia a mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua brasileira de
sinais
Agora observe o sinal variaacutevel do item lexical TER
182
Sinal
(Leacutexico)
Grupos dos informantes
Grupo I
geraccedilatildeo
(G H e I)
Grupo II
geraccedilatildeo
(D E e F)
Grupo III
geraccedilatildeo
(A B e C)
Ter
(1)
Figura 114
CM ndash 63
(2)
Figura 115
CM ndash 08a
(1)
Figura 116
CM ndash 63
(2)
Figura 117
CM ndash 08a
Figura 118
CM ndash 08a
Quadro 17 ndash Sinal de Ter
No quadro 17 aparecem os dados apresentados pelo Grupo I dos
trecircs informantes G H e I
Em conversa natildeo filmada com o informante G ele deu a seguinte
explicaccedilatildeo para a variaccedilatildeo do item ldquoTERrdquo antigamente o professor
Francisco Lima Juacutenior usava o sinal ldquoTERrdquo fazendo a soletraccedilatildeo do
sinal depois utilizou a configuraccedilatildeo de matildeo com todos os dedos
fechados (CM ndash 63) colocados no peito em seguida outra oposiccedilatildeo
seria a matildeo e os dedos abertos tambeacutem colocados no peito (CM ndash 64)
183
Atualmente o sinal ldquoTERrdquo eacute realizado como CM - 08a tambeacutem
colocado no peito Observa-se uma mudanccedila fonoloacutegica com alteraccedilatildeo
na liacutengua de sinais ao longo de algumas deacutecadas O dedo em ldquoLrdquo (08a) eacute
batido no meio do peito com a ponta do polegar
Os Grupos I e II mostram os sinais de ter nas figuras 114 e 116
com mesma CM ndash 63 Nas figuras 115 117 e 118 os sinais satildeo
realizados com a mesma CM ndash 08a O Grupo III permanece apenas com
um sinal
Veja na sequecircncia a mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua brasileira de
sinais
Na eacutepoca em que o professor Francisco foi professor era outro
tempo na comunicaccedilatildeo em liacutengua de sinais diferentemente de hoje tal
como se observa na comunicaccedilatildeo entre as pessoas mais jovens com
contato cultural maior O professor Francisco aprendeu no RJ a escrever
com o alfabeto digital (soletraccedilatildeo) e assim ele comeccedilou a ensinar Aleacutem
de ensinar o contato do aluno surdo com a comunidade de surdos fez
com que houvesse uma troca o Sr Francisco ensinou a soletraccedilatildeo no
alfabeto digital (alfabetizaccedilatildeo em Liacutengua Portuguesa) e aprendeu sinais
familiares dos diversos surdos com quem teve contato Todos
aprenderam e isso influenciou para que ocorresse mudanccedila fonoloacutegica
Pesquisando a LIBRAS nos Grupos I II e III confirmamos portanto
algumas mudanccedilas fonoloacutegicas
65 ndash O que dizem os resultados das trecircs geraccedilotildees dos informantes
na Liacutengua Brasileira de Sinais
A comunidade surda principalmente na associaccedilatildeo de surdo de
Santa Catarina abriu espaccedilo para o encontro de surdos proporcionando
a troca de informaccedilotildees e experiecircncias na liacutengua de sinais (visuais)
promovendo eventos na aacuterea esportiva cultural poliacutetica e na educaccedilatildeo
de surdo Todos esses espaccedilos sociais devem ter contribuiacutedo para o que
esta pesquisa jaacute aponta variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica em LIBRAS
Os resultados de certos itens lexicais usados pelos grupos de
indiviacuteduos investigados apontam que os Grupos I e II se distinguem do
184
Grupo III
Os resultados mostram que com passar do tempo os sinais entre
os grupos se modificam apresentando indiacutecios de mudanccedila em tempo
aparente na liacutengua de sinais nas trecircs geraccedilotildees O grupo dos mais jovens
de 15 a 30 anos (Grupo III) diferentemente dos outros dois grupos
(Grupo I e Grupo II) apresenta um sinal para cada palavra Acreditamos
que antes havia mais sinais porque eram familiares ou caseiros os quais
foram substituiacutedos eou modificados com o contato social maior que a
comunidade surda tem nos dias atuais Acreditamos que outros sinais
estatildeo sendo criados com o passar do tempo o que pode ser fruto de um
maior contato social entre os surdos jovens
Os resultados apontam que os trecircs grupos investigados (Grupos I
II e III) usaram vaacuterios sinais idecircnticos para algumas palavras os Grupos
I e II usaram outros e os Grupos II e III usaram palavras idecircnticas em
menor nuacutemero Entretanto os Grupos I e III (dos mais velhos e dos mais
jovens) natildeo usaram nenhuma palavra comum que se distinguisse do
Grupo II Os resultados apontam portanto que na LIBRAS haacute variaccedilatildeo
lexical e fonoloacutegica
Como eacute possiacutevel perceber a partir dos resultados apresentados o
contato entre as pessoas surdas transforma a liacutengua de sinais que jaacute
apresenta indiacutecios de variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica entre diferentes
geraccedilotildees como acontece em qualquer liacutengua natural
Nota-se nas narrativas contadas que os surdos tecircm consciecircncia de
seu papel nas trecircs geraccedilotildees de informantes e reconhecem a influecircncia
exercida pelo contato com outros surdos e com os surdos mais velhos
Certamente o Grupo III seraacute disseminador de conhecimento
aumentando cada vez mais o interesse de outros surdos pela liacutengua de
sinais e com a expansatildeo de seu uso naturalmente outras mudanccedilas vatildeo
acontecer transformando mais uma vez a liacutengua de sinais Aleacutem disso
pode-se identificar nas narrativas de todos os sujeitos a total
consciecircncia das pessoas envolvidas no processo de ampliaccedilatildeo do espaccedilo
de conforto do surdo Eacute mais uma parte da histoacuteria surda que se registra
tendo como personagem principalmente a pesquisa sobre a variaccedilatildeo e a
mudanccedila linguiacutestica na liacutengua de sinais em Santa Catarina
Eacute importante registrar o momento de pouco acesso dos surdos agrave
pesquisa a respeito da liacutengua brasileira de sinais seja no domiacutenio
puacuteblico ou privado Assim julga-se necessaacuterio o desenvolvimento de
mais estudos e de um contato mais intenso de sujeitos surdos com as
reflexotildees e conhecimentos que satildeo produzidos sobre essa liacutengua
refletindo o que dizem os informantes surdos nas trecircs geraccedilotildees da liacutengua
de sinais Sabe-se que em parte isso ocorre porque eacute uma liacutengua
185
oficializada recentemente
Os estudos tecircm apontado atraveacutes de recentes pesquisas que a
liacutengua de sinais eacute a forma mais adequada de comunicaccedilatildeo para a
educaccedilatildeo do surdo tendo em vista que como as outras liacutenguas
humanas a liacutengua de sinais eacute uma liacutengua natural podendo servir de base
para o ensino da liacutengua escrita
Finalmente espero que os resultados desta pesquisa possam
motivar-me e motivar outras pessoas a aprofundar o tema aqui
pesquisado
186
187
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Concluiacutemos que eacute importante pesquisar sobre a histoacuteria na liacutengua
de sinais em Santa Catarina em encontros sociais ou nas associaccedilotildees de
surdo Aleacutem de aprender a liacutengua de sinais os surdos que fazem parte
dessas associaccedilotildees acabam criando uma identidade surda trocam
experiecircncias evoluindo na proacutepria liacutengua criando e valorizando o seu
espaccedilo linguiacutesticocultural
Na liacutengua de sinais aqui no Brasil acontece a mesma coisa que
se observa no portuguecircs quanto agraves regras da liacutengua que satildeo oficiais
para todo o Brasil mas vaacuterios sinais satildeo diferentes para expressar a
mesma coisa Podemos utilizar no sul do Brasil um sinal e outro
sinal totalmente diferente na regiatildeo sudeste com o mesmo
significado
Surdos se encontram em associaccedilotildees ou outros espaccedilos
culturais para poder conversar trocar experiecircncia e aprender sua
liacutengua mas com o ouvinte acontece diferente eles natildeo precisam de
um local para esses encontros isso acontece em seu dia-a-dia todos
se falam O surdo necessita marcar encontros com outros surdos
para que aconteccedila a comunicaccedilatildeo pois poucos ouvintes sabem se
comunicar em LIBRAS Eles vatildeo para a associaccedilatildeo de surdos
aprender LIBRAS e com o passar do tempo podem se tornar
biliacutengues
Haacute falta de pesquisa em variaccedilatildeo e mudanccedila linguiacutestica das
liacutenguas de sinais e sobre o desenvolvimento e o domiacutenio desta liacutengua
Nada foi registrado nas uacuteltimas deacutecadas e parece que muitos dados sobre
os sujeitos surdos e sua histoacuteria da liacutengua de sinais foram prejudicados e
perdidos
Na UFSC por exemplo temos no curso de LETRASLIBRAS
a distacircncia que eacute pioneiro uma vitoacuteria do surdo acessando a
primeira Universidade Brasileira que estuda a liacutengua de sinais e que
oferece oportunidade de acesso ao estudo e aprofundamento
linguiacutestico da LIBRAS aleacutem das trocas de sinais em diferentes
regiotildees do paiacutes
Temos um grupo de surdos responsaacuteveis por criar sinais novos
de acordo com as necessidades encontradas pelas comunidades
surdas para diminuir a influecircncia da Liacutengua Portuguesa na
LIBRAS e possibilitar outros contatos fora do Brasil trazendo
relatos de experiecircncias de comunidades surdas de outros paiacuteses bem
como apresentaccedilotildees de pesquisas mais avanccediladas nas liacutenguas de
sinais
188
Eacute importante reforccedilar que a LIBRAS eacute uma liacutengua natural pois
possui estrutura gramatical eacute utilizada por um grande grupo social com
funccedilatildeo ativa e provedora de opiniatildeo Este tipo de liacutengua soacute se diferencia
das liacutenguas orais pela forma de se comunicar pois esta utiliza a accedilatildeo
gestual o que difere das demais liacutenguas que utilizam a accedilatildeo oral na
comunicaccedilatildeo
As pessoas falam que na ilha de Santa Catarina o dialeto falado eacute
o manezinho que vem sofrendo modificaccedilotildees com o passar dos anos
devido ao turismo que eacute forte na temporada de veratildeo O professor
Francisco e a comunidade surda na deacutecada de 1950 usavam o sinal de
dactilologia no mesmo sentido da liacutengua nativa mas com dialeto
proacuteprio Depois outros surdos vieram para Santa Catarina e sinalizaram
diferentemente Isso mostra que nas duas liacutenguas ndash LIBRAS e Portuguecircs
ndash haacute variaccedilatildeo dialetal
Observando os trecircs grupos de surdos investigados nesta tese
podemos dizer que o Grupo I mostra o primeiro contato com a liacutengua de
sinais desenvolvida com pouco conhecimento linguiacutestico porque
adquirir a liacutengua de sinais em contexto social na eacutepoca era difiacutecil Mas
este Grupo I foi buscando surdos que participavam de associaccedilotildees que
estudavam na garagem da casa do professor Francisco e na Escola Celso
Ramos onde tinha o grupo de surdos aprendendo a liacutengua de sinais que
se modificava O Grupo III demonstrou mais qualidade na sinalizaccedilatildeo
da liacutengua de sinais e maior fluecircncia mas natildeo conhece alguns dos sinais
(antigos) realizados pelos Grupos I e II O contexto social dos Grupos
nas trecircs geraccedilotildees eacute bem diferente e a liacutengua de sinais do Grupo III (mais
jovens) apresentou menor nuacutemero de sinais que os demais grupos
Acreditamos que antes havia mais sinais porque eram familiares
Os resultados do trabalho mostraram que algumas variaccedilotildees e
mudanccedilas linguiacutesticas (variaccedilatildeo e mudanccedila lexical na liacutengua de sinais e
variaccedilatildeo e mudanccedila fonoloacutegica na liacutengua de sinais) aconteceram nos trecircs
grupos quando um mesmo sinal eacute produzido pelos diferentes grupos de
maneira diferente Alguns sinais que antigamente eram produzidos no
corpo agora acontecem no espaccedilo neutro na liacutengua de sinais Os grupos
mostraram sinais que antes eram produzidos com uma matildeo e agora satildeo
produzidos com ambas as matildeos ao mesmo tempo O Grupo I utilizava
sinalizaccedilatildeo manual sinais familiares (caseiros) ou aqueles aprendidos e
trazidos pelo professor Francisco do INES o que talvez explique o fato
de que este grupo tinha um nuacutemero maior de sinais para uma mesma
palavra
Concluiacutemos que os trecircs grupos de nove informantes nas
diferentes geraccedilotildees apresentaram sinais compartilhados e outros que se
189
transformaram com o tempo na liacutengua de sinais Cada grupo pertence a
um contexto social diferente A liacutengua de sinais transforma e desenvolve
o conhecimento caseiro bem como a troca de informaccedilotildees a
participaccedilatildeo na associaccedilatildeo de surdos e na busca de mais contato com
outros surdos Na escola o surdo conseguia aprender mais quando o
professor surdo (Francisco) ensinava na liacutengua de sinais e tambeacutem
quando proporcionava aos seus alunos um contato social que antes natildeo
existia
190
191
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ALBERTI Verena Ouvir contar textos em histoacuteria oral Rio de
Janeiro Editora FGV 2004
__________ Manual de histoacuteria oral 3a Ed Rio de Janeiro Editora
FGV 2005
ALVELAR Thais Fleury A Questatildeo da Padronizaccedilatildeo Linguiacutestica de
Sinais nos Atores-Tradutores surdos do Curso de LetrasLIBRAS ndash
LIBRAS da UFSC estudo descritivo e lexicograacutefico do sinal ldquoculturardquo
Dissertaccedilatildeo de Mestrado na UFSC 2010
BASSO Idavania Maria Souza SCHMITT Deonisio LIBRAS livro
didaacutetico 1a ediccedilatildeo revista Palhoccedila UNISUL Virtual 2007
__________ LIBRAS livro didaacutetico 2a ediccedilatildeo revista e atualizada
Palhoccedila UNISUL Virtual 2008
BEHARES LE ndash Nuevas corrientes en la educacioacuten del sordo de los
enfoques cliacutenicos a los culturales In Cadernos de Educaccedilatildeo Especial
Porto Alegre UFSM No 4 1993
BOTELHO Paula Linguagem e letramento na educaccedilatildeo dos surdos
ideologias e praacuteticas pedagoacutegicas Belo Horizonte Autecircntica 2002
BRITO Lucinda Ferreira Por uma gramaacutetica de liacutengua de sinais Rio de
Janeiro Tempo Brasileiro UFRJ 1995
__________ Uma abordagem fonoloacutegica dos sinais da LSCB Revista
Espaccedilo INES nO 120-43 1990
__________ Convencionalidade e iconicidade em liacutengua dos sinais
Anais do I Encontro da ASSEL ndash Rio PUCRJ 1991
CALVET Louis-Jean Sociolinguiacutestica uma introduccedilatildeo criacutetica
Traduccedilatildeo Marcos Marcionilo Satildeo Paulo Paraacutebola 2002
__________ Sociolinguiacutestica uma introduccedilatildeo criacutetica Satildeo Paulo
Paraacutebola 2007
192
CAMPELLO Ana Regina e Souza A Constituiccedilatildeo Histoacuterica da Liacutengua
de Sinais Brasileira seacuteculo XVIII a XXI Revista Mundo amp Letras Joseacute
BonifaacutecioSP v 2 Julho2011
CARVALHO Paulo Vaz de Breve Histoacuteria dos Surdos ndash no Mundo e
em Portugal Ediccedilatildeo Surd‟ Universo 2007
CHAMBERS J K Accents in Time In Sociolinguistic theory
linguistic variation and its social significance Cambridge Blackwell
1995 p 146 ndash 206
COELHO Izete Lehmkuhl [et al] Sociolinguiacutestica Florianoacutepolis
LLVCCEUFSC 2010
CORREA Rosemeri Bernieri e SEGALA Rimar Romano A
Perspectiva Social na Emergecircncia das Liacutenguas de Sinais A noccedilatildeo de
ldquoComunidade de Falardquo e Idioleto segundo o modelo teoacuterico Laboviano
Estudos Surdos IV Editora Arara Azul PetroacutepolisRJ 2008
DALAPORTE Yves La variation reacutegionale en langue des signes
franccedilaise Marges linguistiques 10 (ldquoLangues reacutegionalesrdquo apresentado
por Claudine Moise Veacuteronique Fillol Thierry Bulot) 2005 p 118-132
DAVIS Jeffrey E Hand Talk Sign Language Amang American Indian
Nations Cambridge Press New York 2010
DINIZ Heloise Gripp A histoacuteria da liacutengua de sinais brasileira
(LIBRAS) um estudo descritivo de mudanccedilas fonoloacutegicas e lexicais
dissertaccedilatildeo de mestrado CCEUFSC 2010
DUBOIS Jean [et al] Dicionaacuterio de linguiacutestica Satildeo Paulo Cultrix
2006
FARACO Carlos Alberto Linguiacutestica Histoacuterica uma introduccedilatildeo ao
estudo da histoacuteria das liacutenguas SP Paraacutebola 2005
FERGUSON Charles A 1959 Diglossia Word 15 325-340
FELIPE Tanya Amaral LIBRAS em contexto Curso baacutesico livro do
estudante cursista Programa Nacional de Apoio a Educaccedilatildeo dos Surdos
Brasiacutelia MEC SEESP 2001
193
__________ De Flausino ao Grupo de Pesquisa da FENEIS ndash RJ Anais
do V Seminaacuterio Nacional do INES Rio de Janeiro INES 200087 - 89
FERNANDES Sueli STROBEL Karin Liacutelian Aspectos linguiacutesticos da
LIBRAS Curitiba SEEDSUEDDEE 1998
FICHER R amp LANE H ndash Looking back ndash A reader on the History of
Deaf Communities and their Sign Languages ndash Hamburg Signum-Verl
1993
FRISHBERG Nancy Arbitrariness and Iconicity Historical Change in
American Sign Language Vol 51 N 3 pp 696-719 (Sep 1975)
GROCE Nora Ellen Everyone Here Spoke Sign Language Hereditary
Deafness on Martha‟s Vineyard Printed in the United States of
America 1952
ILARI Rodolfo e BASSO Renato O portuguecircs da gente a liacutengua que estudamos e a liacutengua que falamos Satildeo Paulo Contexto 2006
JOTA Zeacutelio dos Santos Dicionaacuterio de linguiacutestica 2a Ed Rio de
Janeiro Presenccedila Brasiacutelia INL 1981
KARNOPP Lodenir Becker Variaccedilatildeo Linguiacutestica IN Foneacutetica e
Fonologia Curso de licenciatura em Letras-Libras na Modalidade a
Distacircncia 2007
__________ Aquisiccedilatildeo do Paracircmetro Configuraccedilatildeo de Matildeo na Liacutengua
Brasileira de Sinais (LIBRAS) Estudo sobre quatro crianccedilas surdas
filhas de pais surdos Dissertaccedilatildeo de Mestrado PUCRS 1994
__________ Aquisiccedilatildeo Fonoloacutegica na Liacutengua Brasileira de Sinais
Estudo Longitudinal de uma Crianccedila Surda Tese de Doutorado
PUCRS 1999
KLIMA Edward S amp Ursula BELLUGI The Signs of Language
Cambridge Harward University Press 1979
LABOV William Principios del Cambio Linguiacutestico Volume 1
Factores Internos 1996 traduccedilatildeo em espanhol
__________ Sociolinguistic patterns Philadelphia Philadelphia Univ
Press 1972a
194
__________ Principles of Linguistic Change Volume 1 Internal
Factors 1994 traduccedilatildeo em inglecircs
__________ Padrotildees Sociolinguiacutesticos Traduccedilatildeo Marcos Bagno Maria
Marta Pereira Scherre Caroline Rodrigues Cardoso Satildeo Paulo
Paraacutebola Editoral 2008
__________ Building on empirical foudations Pennsylvania
University of Pennsylvania 1982
LANE Harlan ndash A Maacutescara da Benevolecircncia ndash a comunidade surda
amordaccedilada Lisboa Instituto Piaget 1992
McCLEARY Lelan VIOTTI Evani Transcriccedilatildeo de dados de uma
liacutengua sinalizada um estudo piloto da transcriccedilatildeo de narrativas na
liacutengua de sinais brasileira (LSB) In H Salles (Org) Bilinguismo e
surdez Questotildees linguiacutesticas e educacionais Brasiacutelia DF Editora da
UNB 2007
MIRANDA Wilson de Oliveira Comunidade dos surdos olhares sobre
os contatos culturais Dissertaccedilatildeo de Mestrado UFRGS 2001
MOLLICA Maria Ceciacutelia BRAGA Maria Luiza Introduccedilatildeo a
Sociolinguiacutestica o tratamento da variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2003
__________ Introduccedilatildeo a Sociolinguiacutestica variacionista Rio de
Janeiro UFRJ 1992
MONTEIRO Joseacute Lemos Para compreende LABOV Editora Vozes
Ltda Petroacutepolis RJ 2000
MOTTEZ Bernard ndash Los banquetes de sordomudos y el nacimiento del
movimiento sordo In Revista GELES no 6 ano 5 ndash Rio de Janeiro
1992
MUSSALIM Fernanda BENTES Anna Christina (Org) Introduccedilatildeo agrave
Linguiacutestica Domiacutenio e Fronteiras Satildeo Paulo Cortez 2000 Volumes 1
e 2
NARO Anthony Julius O Dinamismo das liacutenguas paacuteg 43 Introduccedilatildeo a
Sociolinguiacutestica o tratamento da variaccedilatildeo Satildeo Paulo Contexto 2003
195
O‟CAIN Raymond K Linguistic Atlas of New England American
Speech vol 54 n 4 Winter 1979
PAIVA M da Conceiccedilatildeo amp DUARTE M Eugecircnia (orgs) Mudanccedila
linguiacutestica em tempo real Rio de Janeiro Contra Capa 2003
PERLIN Gladis Teresinha Taschetto Identidades Surdas SKLIAR C
(org) ndash A Surdez ndash Um olhar sobre as diferenccedilas Porto Alegre
Mediaccedilatildeo 1998a
__________ Histoacuterias de vida surda Identidades em questatildeo
Dissertaccedilatildeo de Mestrado Porto Alegre UFRGS 1998b
__________ Histoacuteria dos Surdos Caderno Pedagogia para Surdos
UDESC ndash Florianoacutepolis ndash SC CEAD 2002
QUADROS Ronice Muller de KARNOPP Lodenir Becker Liacutengua de
Sinais Brasileira Estudos Linguumliacutesticos ndash Porto Alegre Artmed 2004
__________ et al Liacutengua Brasileira de Sinais ndash III
LetrasLIBRASUFSC Florianoacutepolis 2008
__________ Poliacuteticas Linguiacutesticas e Educaccedilatildeo de Surdos em Santa
Catarina Espaccedilo de Negociaccedilotildees Cad Cedes Campinas vol 26 n 69
p141-161 maioago 2006
__________ Educaccedilatildeo de Surdos A aquisiccedilatildeo de Linguagem Artes
Meacutedicas Porto Alegre 1997
REacuteE Jonathan Os deficientes auditivos satildeo uma naccedilatildeo a parte
Inglaterra 2005
Revista da FENEIS ano IV ndash nuacutemero 13 ndash janeiromarco 2002)
SABRIA Richard Sociolinguistique de la Langue des Signes Franccedilaise
Revue de sociolinguistique em ligne no 7 ndash janvier 2006
SACKS Oliver Vendo Vozes - Uma viagem ao mundo dos surdos Satildeo
Paulo Cia Das Letras 1998
SANCHES Carlos M ndash A incrible y triste historia de la sordera
Caracas CEPROSORD 1990
196
SAUSSURE Ferdinand de Curso de Linguumliacutestica Geral Organizado por
Charles Bally Albert Sechehaye traduccedilatildeo de Antocircnio Chelini Joseacute
Paulo Paes Izidoro Blikstein Ed Satildeo Paulo Cultrix 2006
SCHMITT Deonisio Contextualizaccedilatildeo da Trajetoacuteria dos Surdos e
Educaccedilatildeo de Surdos em Santa Catarina dissertaccedilatildeo de mestrado
CEDUFSC 2008
__________ Silva Fabio Irineu BASSO Idavania Maria Souza Curso
de pedagogia para surdos Liacutengua brasileira de sinais Florianoacutepolis
(SC) UDESC CEAD 2002
SILVA Rosa Virginia Mattos e Caminhos da linguiacutestica histoacuterica ndash
ldquoouvir o inaudiacutevelrdquo Satildeo Paulo Paraacutebola Editorial 2008
SILVA Rosangela Villa da Aspectos da Pronuacutencia do ltSgt em
Corumbaacute uma abordagem sociolinguiacutestica UFMS 2004
SKLIAR Carlos Bernardo (org) ndash Educaccedilatildeo e Exclusatildeo abordagens
soacutecio-antropoloacutegicas em Educaccedilatildeo Especial Porto Alegre Mediaccedilatildeo
1997
__________ La educacioacuten de los sordos uma reconstrucioacuten histoacuterica
cognitiva y pedagoacutegica Mendonza Ed Ediunc 1997b
SOUZA R M GOacuteES M C R ndash O ensino para surdos na escola
inclusiva consideraccedilotildees sobre o excludente contexto da exclusatildeo In SKLIAR C ndash Atualidades da educaccedilatildeo biliacutengue para surdos Porto
Alegre Editora Mediaccedilatildeo 1999 v 1 p 163-187
STOKOE William Sign language diglossia Studies in Linguistics
1969
__________ Language in hand why Sign Came before Speech
Gallaudet Press Washington 2001
STROBEL Karin Lilian Surdos Vestiacutegios Culturais natildeo Registrados
na Histoacuteria Florianoacutepolis 2008 Tese de Doutorado em Educaccedilatildeo ndash
UFSC
TARALLO Fernando Fotografias sociolinguiacutesticas Campinas Pontes
1989
197
__________ A pesquisa sociolinguiacutestica 4a ediccedilatildeo Satildeo Paulo Aacutetica
2000
TENNANT R A amp BROWN M G The American Sign Language
Handshape Dictionary Illustrated by Valerie Nelson-Metlay
Washington DC Gallaudet University Press 1998 (fourth printing
2004) ISBN 1-56368-043-2
WEINREICH Uriel LABOV William amp HERZOG Marvin I
Empirical foundations for a theory of language change In WP
LEHMANN and Y MALKIEL (eds) Directions for historical
linguistics Austin University of Texas Press pp 97-195 1968
__________ Fundamentos empiacutericos para uma teoria da Mudanccedila
Linguiacutestica Traduccedilatildeo em portuguecircs Marcos Bagno Satildeo Paulo
Paraacutebola Editorial 2006
WRIGLEY Owen ndash The politics of deafness Washington Gallaudet
University Press 1996
198
199
ANEXOS
Anaacutelise Comparativa dos Dados Variaccedilatildeo e Mudanccedila Linguiacutestica
Sinais
(Leacutexico)
Forma do
Sinal
(Configuraccedilatildeo
de Matildeos)
Identificaccedilatildeo
de Classe
Faixa
Etaacuteria
(Grupo)
Geraccedilatildeo
Ajudar1
CM ndash 63
Informante
H D E F A
C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Ajudar2
CM ndash 02 63
Informante
D E B
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Ajudar3
CM ndash 01 63
Informante
H I F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Ajudar4
CM ndash 14 63
Informante
I E F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Aluno1
CM ndash 01
Informante
G I A B C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Aluno2
CM ndash 63
Informante
G H I D B
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Amanhatilde1 CM ndash 14 Informante 60 a 80 I
200
H Anos
Amanhatilde2 CM ndash 63 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Amanhatilde3
CM ndash 35a
Informante
I A B
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Antes1 CM ndash 53a Informante
I
60 a 80
Anos
I
Antes2 CM ndash 63 Informante
I
60 a 80
Anos
I
Antes3
CM ndash 08a 63
Informante
G E F B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Aposentar1
CM ndash 02 57
Informante
G I F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Aposentar2
CM ndash 01 11
Informante
G I F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Aposentar3 CM ndash 07 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Associaccedilatildeo1
CM ndash 01
(2 matildeos)
Informante
G I F D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Associaccedilatildeo2
CM ndash 01
(1 matildeo)
Informante
I D E F A
B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
60 a 80
201
Aula1 CM ndash 63 Informante
G H I E D
A C
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Aviatildeo1 CM ndash 53a Informante
G
60 a 80
Anos
I
Aviatildeo2 CM ndash 36 37a Informante
E F
30 a 60
Anos
II
Aviatildeo3
CM ndash 40
Informante
D E F A B
C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Avocirc1 CM ndash 30 31 Informante
G I
60 a 80
Anos
I
Avocirc2 CM ndash 02 57 Informante
H I
60 a 80
Anos
I
Avocirc3
CM ndash 02
Informante
H I D E F
A
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Azul1 CM ndash 01 Informante
G I
60 a 80
Anos
I
A-z-u-l2 CM ndash 01 08a
14 24
Informante
G I
60 a 80
Anos
I
Azul3
CM ndash 01 08a
Informante
D E F A B
C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Bairro CM ndash 14 63 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Banco1
CM ndash 61
Informante
G H I F
60 a 80 Anos
30 a 60
Anos
I II
Banco2
CM ndash 53a
Informante
60 a 80
Anos
I II III
202
G I F C 30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
Batata1 CM ndash 62 Informante
H
60 a 80
Anos
I
Batata2 CM ndash 63 Informante
H
60 a 80
Anos
I
Branco1
CM ndash 63
Informante
H I B
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Branco2 CM ndash 35a Informante
G
60 a 80
Anos
I
Cafeacute
CM ndash 49
Informante
G F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Calma1
CM ndash 63
(2 matildeos)
Informante
G H I D E
F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Calma2
CM ndash 63
(1 matildeo)
Informante
H I E B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Cama1 CM ndash 37a Informante
G
60 a 80
Anos
I
Cama2 CM ndash 63 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Cavalo1 CM ndash 02 Informante
H
60 a 80
Anos
I
Cavalo2 CM ndash 27 Informante
H I
60 a 80
Anos
I
Chorar1 CM ndash 14 Informante
D
30 a 60
Anos
II
203
Chorar2 CM ndash 18a Informante
H I
60 a 80
Anos
I
Crianccedila1
CM ndash 63
(pequeno)
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Crianccedila2 CM ndash 64 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Crianccedila3
CM ndash 14 63
Informante
D E A C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Crianccedila4 CM ndash 57 63 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Cobra1 CM ndash 14 Informante
H
60 a 80
Anos
I
Cobra2
CM ndash 31
Informante
E F A B
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Conversar1
CM ndash 14
Informante
G H F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Conversar2 CM ndash 63
(2 matildeos)
Informante
G H I D E
F A
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Conversar3 CM ndash 28 Informante
D
30 a 60
Anos
II
Conversar4 CM ndash 44 Informante
D E F
30 a 60
Anos
II
Conversar5 CM ndash 21 Informante
H
60 a 80
Anos
I
Cortar1 CM ndash 14 Informante
H
60 a 80
Anos
I
204
Cortar2 CM ndash 63 Informante
H
60 a 80
Anos
I
Cortar3
CM ndash 14 24
Informante
E B
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Cultura CM - 31 Informante
A B C
15 a 30
Anos
III
Dormir1
CM ndash 63
(1 matildeos e 2
matildeos)
Informante
G H I F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Dormir2 CM ndash 02 47 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Dormir3
CM ndash 21 24
32
Informante
G D F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Depois1 CM ndash 53a
(2 matildeos)
Informante
H I A B C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Depois2
CM ndash 14
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Depois3
CM ndash 53a
(1 matildeo)
Informante
G D E F A
B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Educaccedilatildeo1 CM ndash 46a Informante
H
60 a 80
Anos
I
Educaccedilatildeo2 CM ndash 45 57 Informante
G
60 a 80
Anos
I
205
Escola1
CM ndash 63
Informante
G H I D E
F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Escola2
CM ndash 63
(duas matildeos)
Informante
D E A B C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Estudar
CM ndash 63
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Emagrecer1 CM ndash 39 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Emagrecer2 CM ndash 47 ou 57 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Engordar1 CM ndash 02 Informante
G H
60 a 80
Anos
I
Engordar2 CM ndash 47 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Engravidar1 CM ndash 14 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Engravidar2 CM ndash 53a Informante
H
60 a 80
Anos
I
Faacutecil1 CM ndash 63 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Faacutecil2 CM ndash 48 Informante
I
60 a 80
Anos
I
Faacutecil3 CM ndash 35a Informante
C
15 a 30
Anos
III
Faculdade1
CM ndash 54
Informante
F A C
30 a 60
Anos
15 a 30 Anos
II III
Faculdade2 CM ndash 21 Informante
I
60 a 80
Anos
I
Faculdade3 CM ndash 55 Informante
A B
15 a 30
Anos
III
206
Falar1
CM ndash 14
Informante
G H D E F
C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Falar2
CM ndash 49
Informante
H D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Falar3
CM ndash 11
(E 1 matildeo e 2
matildeos)
Informante
G H I D E
A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Falar4 CM ndash 21 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Falar5 CM ndash 44 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Feio1
CM ndash 08a
Informante
F B
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Feio2
CM ndash 08a
Informante
D E A
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Feio3 CM ndash 07 64 Informante
G H I
60 a 80
Anos
I
Flor1 CM ndash 57 Informante
D
30 a 60
Anos
II
Flor2 CM ndash 54 Informante
I
60 a 80
Anos
I
Forte1 CM ndash 14 Informante
F
30 a 60
Anos
II
Forte2
CM ndash 02
(2 matildeos)
Informante
G H I D C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II III
207
15 a 30
Anos
Forte3 CM ndash 32
(1 matildeo)
Informante
I
60 a 80
Anos
I
Gato1
CM ndash 08b 20
Informante
G H C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Gato2 CM ndash 59a Informante
I
60 a 80
Anos
I
Gato3 CM ndash 20 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Gostar1 CM ndash 44 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Gostar2 CM ndash 63 Informante
E F
30 a 60
Anos
II
Homem1
CM ndash 50
Informante
G H I D F
A B
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Homem2
CM ndash 21
Informante
H I D F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Hospital1
CM ndash 14
(1 matildeo e 2
matildeos) cruz
Informante
H I C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Hospiatl2
CM ndash 16
Informante
D E F B C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Igreja1 CM ndash 14
(cruz)
Informante
F
30 a 60
Anos
II
Igreja2
CM ndash 14 15
Informante
60 a 80
Anos
I II III
208
H I D E F
A B C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
Igual1
CM ndash 14
Informante
G H I D E
F B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Igual2
CM ndash 14 ( )
Informante
H B
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Igual3
CM ndash 14
(mesmo)
Informante
F C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Igual4 CM ndash 24
(1 matildeo)
Informante
G I A B C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Igual5
CM ndash 24
(2 matildeos)
Informante
I D E F A
B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Igual6 CM ndash 53a Informante
A
15 a 30
Anos
III
Igual7
CM ndash 61
Informante
I A C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Irmatildeo1
CM ndash 14
Informante G H D F
60 a 80
Anos 30 a 60
Anos
I II
Irmatildeo2 CM ndash 24 Informante
D E F
30 a 60
Anos
II
209
Lembrar1
CM ndash 14
Informante
G H D E A
B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Lembrar2
CM ndash 32
Informante
D E F A B
C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Limpar1 CM ndash 02 Informante
H D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Limpar2
CM ndash 64
Informante
H E
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Limpar3
CM ndash 08a
Informante
H D E F A
B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Livro1 CM ndash 63
(duas matildeos)
Informante
G
60 a 80
Anos
I
Livro2
CM ndash 63 08a
Informante
H D E F A
B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Lutar1
CM ndash 08a
Informante
I A B
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Lutar2 CM ndash 02 63 Informante
I D E A B
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II III
210
15 a 30
Anos
Matildee1
CM ndash 63
Informante
H E F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Matildee2 CM ndash 02 07 Informante
A B C
15 a 30
Anos
III
Matildee3
CM ndash 14
Informante I
D B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Matildee4 CM ndash 63
(m)
Informante
G
60 a 80
Anos
I
Matildee5
CM ndash 02
Informante
I D F A
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
M-atilde-e6 CM ndash 01 06
60
Informante
F
30 a 60
Anos
II
Matildee7 CM ndash 02 Informante
F
30 a 60
Anos
II
Mais1
CM ndash 63
Informante
G I E A B
C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Mais2
CM ndash 63
(2 matildeos)
Informante
I D E A
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos 15 a 30
Anos
I II III
Mais3 CM ndash 08a Informante
G I E F
60 a 80
Anos
I II
211
30 a 60
Anos
Mais4
CM ndash 14
Informante
I E C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Matemaacutetica1
CM ndash 02
Informante
G H I D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Matemaacutetica2
CM ndash 58
Informante
G H I F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Meacutedico1
CM ndash 44
Informante
G F B
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Meacutedico2
CM ndash 16
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Medo1
CM ndash 34 64
Informante
H D F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
III
Medo2 CM ndash 02 Informante
E F
30 a 60
Anos
II
Medo3 CM ndash 33 Informante
F
30 a 60
Anos
II
Melhor1
CM ndash 45
Informante
G H I E
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
212
Melhor2
CM ndash 07
Informante
H I E A B
C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Melhor3
CM ndash 63
Informante
H A C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Morrer1 CM ndash 63 63
(2 matildeos)
Informante
H
60 a 80
Anos
I
Morrer2
CM ndash 63
Informante
H I D E F
C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Mudar1
CM ndash 07
Informante
G H E A B
C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
30 a 60
Anos
I II III
Mudar2 CM ndash 44
(1 matildeo e 2
matildeos)
Informante
H I E F B
C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Mulher1 CM ndash 07
(menina) (oral)
Informante
H
60 a 80
Anos
I
Mulher2
CM ndash 07 63
Informante
H D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Mulher3
CM ndash 07
Informante
G I D E F
B
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II III
213
15 a 30
Anos
Noite1
CM ndash 57 44
Informante
G D F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Noite2
CM ndash 53
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Nome1
CM ndash 21
Informante
G H I A
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Nome2
CM ndash 24
Informante
G H I D E
F A C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Noacutes1
CM ndash 14
Informante
G D E F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Noacutes2
CM ndash 14
Informante
E A
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
N-u-n1
CM ndash 24
Informante
I D E
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
N-u-n-c-a2
CM ndash 01 24
51a
Informante
I D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
214
Nunca3
CM ndash 14
(2 matildeos)
Informante
I D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Objetivo1 CM ndash 42 58 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Objetivo2 CM ndash 14 Informante
B
15 a 30
Anos
III
Ocircnibus1 CM ndash 07 Informante
F
30 a 60
Anos
II
Ocircnibus2 CM ndash 31 Informante
I B
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Ovo1 CM ndash 44 57 Informante
I
60 a 80
Anos
I
O-v-o2 CM ndash 42 32 Informante
G H
60 a 80
Anos
I
Padre1 CM ndash 11 Informante
G
30 a 60
Anos
II
Padre2
CM ndash 21
Informante
G H D F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Padre3
CM ndash 24
Informante
I F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
P-a-i1
CM ndash 01 11
38
Informante
G H I D E
F A
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Pai2
CM ndash 11 (p)
Informante
G H F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II III
215
15 a 30
Anos
Pai3 CM ndash 14 Informante
G H I
60 a 80
Anos
I
Pai4
CM ndash 16
Informante
I F B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Pai5
CM ndash 02 45
Informante
E A B C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Patildeo1 CM ndash 02 47
57
Informante
H
60 a 80
Anos
I
Patildeo2 CM ndash 63 Informante
H
60 a 80
Anos
I
Patildeo3
CM ndash 01
Informante
I F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Peixe1 CM ndash 16 Informante
G I
60 a 80
Anos
I
Peixe2
CM ndash 63
Informante
I F A
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Pessoa1
CM ndash 11
Informante
G I C
60 a 80
Anos
15 a 30
Anos
I III
Pessoa2
CM ndash 35a
Informante
I D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Pessoa3
CM ndash 18a
Informante
F A C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
216
Pode-Natildeo1 CM ndash 14
(2 matildeos)
Informante
D E
30 a 60
Anos
II
Pode-Natildeo2 CM ndash 14
(1 matildeo)
Informante
F
30 a 60
Anos
II
Poliacutetica1 CM ndash 11 51a Informante
G I
60 a 80
Anos
I
Poliacutetica2
CM ndash 11
Informante
I E B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Poliacutetica3 CM ndash 14 Informante
D E
30 a 60
Anos
II
Porque1
CM ndash 15
Informante
G H I D F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Porque2 CM ndash 14 Informante
G H I E F
A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Povo1 CM ndash 02 64 Informante
G I
60 a 80
Anos
I
Povo2 CM ndash 11 Informante
I
60 a 80
Anos
I
P-o-v-o3 CM ndash 11 32
42
Informante
I
60 a 80
Anos
I
Preto1
CM ndash 05
Informante
G H I F B
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Preto2 CM ndash 34 62 Informante
G H I
60 a 80
Anos
I
Primeiro1
CM ndash 07 14
Informante
60 a 80
Anos
I II III
217
G I E F C 30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
Primeiro2
CM ndash 14
Informante
H F C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Primeiro3 CM ndash 14
(duas matildeos)
Informante
D
30 a 60
Anos
II
Primeiro4
CM ndash 07
Informante
F E C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Profissional
1
CM ndash 11 Informante
I
60 a 80
Anos
I
Profissional
2
CM ndash 63 Informante
C
15 a 30
Anos
III
Prova1 CM ndash 63 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Prova2
CM ndash 53a
(duas matildeos)
Informante
E F A B C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Respeitar1 CM ndash 53a Informante
D E
30 a 60
Anos
II
Respeitar2 CM ndash 25 Informante
E F
30 a 60
Anos
II
Responsaacutevel
1
CM ndash 25
Informante
I D E B
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Responsaacutevel
2
CM ndash 25
(duas matildeos)
Informante
I D E F A
B
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II III
218
15 a 30
Anos
Responsaacutevel
3
CM ndash 63
(duas matildeos)
Informante
G I
60 a 80
Anos
I
Reuniatildeo1 CM ndash 15 Informante
D
30 a 60
Anos
II
Reuniatildeo2
CM ndash 25
Informante
D E A
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Reuniatildeo3 CM ndash 14 Informante
G H D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Saber1
CM ndash 63
Informante
D B C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Saber2
CM ndash 14
Informante
G H I D E
F A C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Saber3
CM ndash 44 53a
Informante
G H I F A
B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Saber4
CM ndash 11
Informante
E F C
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
II III
Semana1 CM ndash 10 Informante
D E
30 a 60
Anos
II
Semana2 CM ndash 10 Informante
B
15 a 30
Anos
III
Semana3 CM ndash 08a 64 Informante
I
60 a 80
Anos
I
219
Sim1
CM ndash 02
Informante
H D
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
S-i-m2 CM ndash 02 38
60
Informante
H I
60 a 80
Anos
I
Sim3 CM ndash 59a 63 Informante
G H
60 a 80
Anos
I
Surdo1
CM ndash 14
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Surdo2
CM ndash 25
Informante
G I D E B
C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Tambeacutem1
CM ndash 61
Informante
G H I D E
A
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Tambeacutem2
CM ndash 14
Informante
G H I D E
F B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Tarde1 CM ndash 63 Informante
G H I
60 a 80
Anos
I
Tarde2 CM ndash 44 47
63
Informante
H
60 a 80
Anos
I
Tarde3 CM ndash 63 Informante
G H
60 a 80
Anos
I
Teatro1 CM ndash 57 Informante
I
60 a 80
Anos
I
220
Teatro2 CM ndash 49 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Tempo1
CM ndash 14
Informante
H I D E A
B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Tempo2
CM ndash 57
Informante
H I D E
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Tempo3
CM ndash 63
Informante
G I D E C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Tempo4
CM ndash 45
Informante
G D E F A
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Ter1
CM ndash 63 64
Informante
G H I D F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Ter2
CM ndash 08a
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Tio1
CM ndash 56
Informante
H F
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
I II
Tio2
CM ndash 51b
Informante
30 a 60
Anos
II III
221
D E F A B
C
15 a 30
Anos
Trabalhar1
CM ndash 08a
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Trabalhar2
CM ndash 14
Informante
H I F A
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Trabalhar3 CM ndash 24 Informante
I
60 a 80
Anos
I
Tudo CM ndash 63
(duas matildeos)
Informante
F
30 a 60
Anos
II
Vagabundo1 CM ndash 63 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Vagabundo2 CM ndash 64 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Ver1 CM ndash 14 Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Ver2
CM ndash 32
Informante
G H I D E
F A B C
60 a 80
Anos
30 a 60
Anos
15 a 30
Anos
I II III
Ver3
CM ndash 64
Informante D E B C
30 a 60
Anos 15 a 30
Anos
II III
Vergonha1
CM ndash 64
Informante
60 a 80
Anos
I II
222
I E 30 a 60
Anos
Vergonha2 CM ndash 11 Informante
E
30 a 60
Anos
II
Vermelho1 CM ndash 32 Informante
G H I
60 a 80
Anos
I
Vermelho2 CM ndash 14 Informante
G H I
60 a 80
Anos
I
Viajar1 CM ndash 63 Informante
D E F
30 a 60
Anos
II
Viajar2 CM ndash 45 Informante
F
30 a 60
Anos
II
WC CM ndash 48 Informante
G
60 a 80
Anos
I
Palavras no total 255 sinais lexicais
Palavra Ajudar 4 Sinais Palavra Mais 4 Sinais
Palavra Aluno 2 Sinais Palavra Matemaacutetica 2 Sinais
Palavra Amanhatilde 3 Sinais Palavra Meacutedico 2 Sinais
Palavra Antes 3 Sinais Palavra Medo 3 Sinais
palavra Aposentar 3 Sinais Palavra Melhor 3 Sinais
Palavra Associaccedilatildeo 2 Sinais Palavra Morrer 2 Sinais
Palavra Aula 1 Sinal Palavra Mudar 2 Sinais
Palavra Aviatildeo 3 Sinais Palavra Mulher 3 Sinais
Palavra Avocirc 3 Sinais Palavra Noite 2 Sinais
Palavra Azul 3 Sinais Palavra Nome 2 Sinais
Palavra Bairro 1 Sinal Palavra Noacutes 2 Sinais
Palavra Banco 2 Sinais Palavra Nunca 3 Sinais
Palavra Batata 2 Sinais Palavra Objetivo 2 Sinais
Palavra Branco 2 Sinais Palavra Ocircnibus 2 Sinais
Palavra Cafeacute 1 Sinal Palavra Ovo 2 Sinais
Palavra Calma 2 Sinais Palavra Padre 3 Sinais
Palavra Cama 2 Sinais Palavra Pai 5 Sinais
Palavra Cavalo 2 Sinais Palavra Patildeo 3 Sinais
Palavra Chorar 2 Sinais Palavra Peixe 2 Sinais
Palavra Crianccedila 4 Sinais Palavra Pessoa 3 Sinais
Palavra Cobra 2 Sinais Palavra Pode-natildeo 2 Sinais
Palavra Conversar 5 Sinais Palavra Poliacutetica 3 Sinais
Palavra Cortar 3 Sinais Palavra Porque 2 Sinais
223
Palavra Cultura 1 Sinal Palavra Povo 3 Sinais
Palavra Dormir 3 Sinais Palavra Preto 2 Sinais
Palavra Depois 3 Sinais Palavra Primeiro 4 Sinais
Palavra Educaccedilatildeo 2 Sinais Palavra Profissional 2 Sinais
Palavra Escola 2 Sinais Palavra Prova 2 Sinais
Palavra Estudar 1 Sinal Palavra Respeitar 2 Sinais
Palavra Emagrecer 2 Sinais Palavra Responsaacutevel 3 Sinais
Palavra Engordar 2 Sinais Palavra Reuniatildeo 3 Sinais
Palavra Engravidar 2 Sinais Palavra Saber 4 Sinais
Palavra Faacutecil 3 Sinais Palavra Semana 3 Sinais
Palavra Faculdade 3 Sinais Palavra Sim 3 Sinais
Palavra Falar 5 Sinais Palavra Surdo 2 Sinais
Palavra Feio 3 Sinais Palavra Tambeacutem 2 Sinais
Palavra Flor 2 Sinais Palavra Tarde 3 Sinais
Palavra Forte 3 Sinais Palavra Teatro 2 Sinais
Palavra Gato 3 Sinais Palavra Tempo 4 Sinais
Palavra Gostar 2 Sinais Palavra Ter 2 Sinais
Palavra Homem 2 Sinais Palavra Tio 2 Sinais
Palavra Hospital 2 Sinais Palavra Trabalhar 3 Sinais
Palavra Igreja 2 Sinais Palavra Tudo 1 Sinal
Palavra Igual 7 Sinais Palavra Vagabundo 2 Sinais
Palavra Irmatildeo 2 Sinais Palavra Ver 3 Sinais
Palavra Lembrar 2 Sinais Palavra Vergonha 2 Sinais
Palavra Limpar 3 Sinais Palavra Vermelho 2 Sinais
Palavra Livro 2 Sinais Palavra Viajar 2 Sinais
Palavra Lutar 2 Sinais Palavra WC 1 Sinal
Palavra Matildee 7 Sinais
224
225
AS CONFIGURACcedilOtildeES DE MAtildeOS
Cm 01
Cm 02
Cm 03
Cm 04
Cm 05
Cm 06
Cm 07
Cm 08a
Cm 08b
Cm 09
Cm 10
Cm 11
Cm 12
Cm 13
Cm 14
Cm 15
Cm 16
Cm 17
Cm 18a
Cm 18b
Cm 19
Cm 20
Cm 21
Cm 22a
Cm 22b
Cm 23
Cm 24
Cm 25
Cm 26
Cm 27
226
Cm 28
Cm 29a
Cm 29b
Cm 30
Cm 31
Cm 32
Cm 33
Cm 34
Cm 35a
Cm 35b
Cm 36
Cm 37a
Cm 37b
Cm 38
Cm 39
Cm 40
Cm 41
Cm 42
Cm 43
Cm 44
Cm 45
Cm 46a
Cm 46b
Cm 47
Cm 48
Cm 49
Cm 50
Cm 51a
Cm 51b
Cm 52
Cm 53a
Cm 53b
Cm 54
Cm 55
Cm 56
227
Cm 57
Cm 58
Cm 59a
Cm 60
Cm 61
Cm 62
Cm 63
Cm 64