UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ACADÊMICO DE VITÓRIA DAYVSON JOSÉ DE LIMA KARATÊ-DO COMO UM MECANISMO DE CONTENÇÃO DA AGRESSIVIDADE DOS ESTUDANTES VITÓRIA DE SANTO ANTÃO 2017
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO ACADÊMICO DE VITÓRIA
DAYVSON JOSÉ DE LIMA
KARATÊ-DO COMO UM MECANISMO DE CONTENÇÃO DA AGRESSIVIDADE
DOS ESTUDANTES
VITÓRIA DE SANTO ANTÃO
2017
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO ACADÊMICO DE VITÓRIA
EDUCAÇÃO FÍSICA LICENCIATURA
NÚCLEO DE EDUCAÇÃO FÍSICA E CIÊNCIA DOS ESPORTES
DAYVSON JOSÉ DE LIMA
KARATÊ-DO COMO UM MECANISMO DE CONTENÇÃO DA AGRESSIVIDADE
DOS ESTUDANTES
TCC apresentado ao Curso de Educação Física da Universidade Federal de Pernambuco, Centro Acadêmico de Vitória, como requisito para a obtenção do título de Graduação em Educação Física Licenciatura. Orientador: Prof. Dr. Emerson Peter da
Silva Falcão
VITÓRIA DE SANTO ANTÃO
2017
Catalogação na Fonte Sistema de Bibliotecas da UFPE. Biblioteca Setorial do CAV.
Bibliotecária Giane da Paz Ferreira Silva, CRB-4/977
L732k Lima, Dayvson José de.
Karatê-Do como um mecanismo de contenção da agressividade dos estudantes / Dayvson José de Lima. - Vitória de Santo Antão, 2017. 34 folhas.
Orientador: Emerson Peter da Silva Falcão.
TCC (Graduação) – Universidade Federal de Pernambuco, CAV. Licenciatura em Educação Física, 2017.
Inclui bibliografia.
1. Karatê-Do. 2. Artes marciais. 3. Controle da agressividade. I.Falcão, Emerson Peter da Silva (Orientador). II. Título.
796.011 (23.ed.) BIBCAV/UFPE-194/2017
DAYVSON JOSÉ DE LIMA
KARATÊ-DO COMO UM MECANISMO DE CONTENÇÃO DA AGRESSIVIDADE
DOS ESTUDANTES
TCC apresentado ao Curso de Educação Física da Universidade Federal de Pernambuco, Centro Acadêmico de Vitória, como requisito para a obtenção do título de Graduação em Educação Física Licenciatura.
Aprovado em: 27/11/2017.
BANCA EXAMINADORA
________________________________________________ Profº. Dr. Emerson Peter da Silva Falcão
Universidade Federal de Pernambuco
_______________________________________________ Profº. Dr. Marcelus Brito de Almeida
Universidade Federal de Pernambuco
_______________________________________________ Profº. Ms. Flávio Campos de Morais
Universidade Federal de Pernambuco
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a minha família; aos
praticantes do Karatê-do; aos Sensei que tive e o
que ainda tenho; ao meu orientador e aos meus
demais professores.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço a Deus, pois sem ele não somos nada. Agradeço a minha
família, especialmente ao meu pai, José Correia de Lima e minha mãe, Maria da
Conceição de Lima, que me guiaram no caminho correto, ao meu filho, David Ruan
dos Santos Lima, que é a razão do meu viver e ao meu irmão, Dalvison Rodrigo de
Lima, pelos vários treinos que tivemos juntos, onde um sempre buscava o melhor do
outro. Agradeço aos Sensei que tive e ao que ainda tenho, pois eles são os
principais elementos que me guiaram para o verdadeiro caminho do Karatê-do.
Agradeço ao meu orientador, Prof. Dr. Emerson Peter da Silva Falcão, pela
dedicação na construção desse trabalho e mais ainda por todo conhecimento que foi
passado nas aulas e nos treinos de Karatê que foram importantes para o meu
aprendizado e aperfeiçoamento de minhas técnicas no Karatê. Agradeço aos meus
demais professores que foram fundamentais na minha formação acadêmica.
Agradeço aos professores que fazem parte da Banca Examinadora, Prof. Flávio
Campos de Morais e ao Prof. Marcelus Brito de Almeida. Agradeço aos meus
colegas de curso e amigos pelos incentivos no meu percurso acadêmico. Agradeço
a minha noiva, Vanessa dos Santos Lima, pela força e ajuda na conclusão desde
trabalho e pelas palavras de incentivo no meu caminho acadêmico.
RESUMO
O presente trabalho tem o seguinte tema: Karatê-do como um mecanismo de
contenção da agressividade dos estudantes. Essa pesquisa se justifica pelos
comportamentos agressivos que alguns estudantes apresentaram nos estágios e por
ser praticante de Karatê-do. Seu objetivo é verificar se o Karatê-do mesmo sendo
uma arte marcial que utiliza técnicas de combate corporal, pode ajudar na formação
de estudantes menos agressivos e com um comportamento mais sociável perante o
ambiente escolar. Metodologicamente foi realizada uma revisão de literatura. Os
resultados mostram que o Karatê-do pode ser um mecanismo para contenção dos
impulsos agressivos dos estudantes. Concluímos que o Karatê-do mesmo sendo
uma arte marcial, pode servi para a formação da moral dos estudantes através de
sua filosofia e assim tornando estes menos agressivos.
Palavras-chave: Artes marciais. Formação e Agressividade. Ensino Fundamental e
Médio.
ABSTRACT
The present work has the following theme: Karate-do as a mechanism to contain the
aggressiveness of the students. This research is justified by the aggressive behavior
that some students presented in the professional stages and by the fact that I am a
Karate-do practitioner. It´s Objective is to verify if Karate even being a martial art that
uses techniques of corporal combat, can help in the formation of students less
aggressives and with a more sociable behavior in the school environment. The
methodology applied was a literature review. The results show that Karate-do can be
a mechanism to contain the aggressive impulses of the students. We conclude that
Karate even being a martial art, can serve as a tool for the formation of students
morale through its philosophy and thus making these students less aggressive.
Keywords: Martial arts. Training and Aggression. Elementary and high school.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 8
2 REVISÃO DE LITERATURA....................................................................................9
2.1 A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DO KARATÊ-DO................................................9
2.1.1 A origem das lutas na humanidade ................................................................ 9
2.1.2 A origem do Karatê-do ..................................................................................... 9
2.1.3 Karatê-do do Japão para o Mundo................................................................ 11
2.1.4 A chegada do Karatê-do no Brasil ................................................................ 13
2.2 KARATÊ-DÔ E SEU CONTEXTO FILOSÓFICO E PRINCÍPIOS
FUNDAMENTAIS.......................................................................................................14
2.2.1 A filosofia existente no Karatê-do................................................................. 14
2.2.2 Os princípios fundamentais do Karatê-do ................................................... 16
2.3 AGRESSIVIDADE................................................................................................18
2.3.1 Definindo agressividade ................................................................................ 18
2.3.2 Agressividade e o Karatê-do ......................................................................... 19
2.3.3 Agressividade no ambiente escolar ............................................................. 19
2.3.4 O Karatê-do na contenção da agressividade dos estudantes .................... 21
3 OBJETIVO ............................................................................................................. 22
4 METODOLOGIA .................................................................................................... 23
5 RESULTADOS........................................................................................................23
6 DISCURSÕES ........................................................................................................ 26
7 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 27
REFERÊNCIAS .........................................................................................................29
8
1 INTRODUÇÃO
A prática do Karatê-do vai além do aprendizado de técnicas de combate
corporal. Sua prática, bem conduzida, induz ao praticante à uma busca pelo
autoconhecimento e uma melhor compreensão da natureza humana (NAKAYAMA,
2014). Tem obtido maior reconhecimento mundial e recentemente alçou o status de
esporte olímpico.
Em virtude disso, este trabalho pretende discutir se esta arte marcial pode
servir como um meio para tornar alunos do ensino fundamental e médio menos
agressivos.
O tema desta pesquisa é: Implantação do Karatê-do como um mecanismo de
contenção da agressividade dos estudantes do ensino fundamental e médio. Mas
como o karatê vai realmente diminui essa agressividade dos praticantes, uma vez
que nas competições vencem os atletas que mais fazem pontos, ou seja, aquele que
acerta mais golpes e demonstra mais aguerrido, isso não contribuiria para que os
praticantes se tornassem mais agressivos?
Mas o que muitas pessoas não sabem é que o Karatê-do pode ser uma ótima
ferramenta para formação do caráter dos praticantes, pois ao contrário do que pode
parecer a alguns, as artes marciais como o Karatê estão impregnadas de princípios
filosóficos fundamentados em preceitos Taoístas e Zenbudistas (OLIVEIRA;
MOURA; URBINATI, 2013). Um deles diz: no Karatê não existe o primeiro golpe e
sim a primeira defesa, ou seja, os conceitos morais que são trabalhados nas aulas
são para formação de um indivíduo preparado para reagir a uma agressão e não
para agredir, podemos ver que o karatê pode contribuir para a formação de um
indivíduo disciplinado e com comportamento aceitável e menos agressivo no
convívio social (TWEMLOW et al. 2008).
Isso fica mais evidente ainda, porque no karatê existe um profundo código
ético, moral e filosófico, que pode contribuir para a formação de estudantes capazes
de agir e se portar de maneira pacífica com maior respeito a seus colegas e
professores, contribuindo assim para um ambiente escolar mais harmônico
(PACHECO, 2012).
9
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DO KARATÊ-DO
2.1.1 A origem das lutas na humanidade
A prática das artes marciais teve inicio na antiga Índia, aproximadamente no
ano de 5000 a.C., onde se desenvolviam técnicas de combates, práticas de
meditação e estudo da literatura, em busca de desenvolvimento físico, espiritual e
mental além da necessidade de defesa pessoal (BULL, 1988).
Milhares de anos mais tarde essas práticas foram implantadas na China, mais
precisamente no mosteiro shaolin em meados do século VI d.C., pelo monge indiano
Ta Mo Lao Tse, o Bodhi Dharma (REID; CHOUCHER 2004). Embora existam
autores que contestem esta versão, mas eles mencionam que as mais antigas
fontes coincidem em mencionar a atividade de um monge indiano ou persa na região
de Luoyang, no início do século VI d.C., de modo que a existência de Bodhi Dharma
costuma ser aceita nos círculos acadêmicos, no entanto sua ligação ao
desenvolvimento do Kung Fu e outras artes de combate posteriores apresenta
muitas incertezas e é, na melhor das hipóteses impossível de ser determinada
(ACEVEDO; GUTIÉRREZ; CHEUNG, 2011).
A prática de marcial se espalhou por toda China e posteriormente rompendo
as fronteiras e servindo de influencia para o surgimento e evolução de outras formas
de lutas. Porém a construção do karatê é um processo mais especifico, contudo
devido à estreita ligação entre Okinawa (RyuKyu) e a China. Esses aspectos podem
ter influenciado na formação e na construção de seus valores morais e espirituais
(McCarthy, 2008).
2.1.2 A origem do Karatê-do
O Karatê-do é uma arte marcial rica e origina-se da fusão de diversas
técnicas de combate, contendo influências Taoístas, Budistas e culturais, que se
mesclaram no antigo Reino de Ryukyu, atual ilha de Okinawa no Japão, em uma
arte marcial única. Em meados do século XIV d.C., essa ilha era conhecida como o
Reino de Ryukyu, um reino independente e aliado à China, mais especificamente à
10
Dinastia Ming, que foi fundado por Sho Hashi, membro de um dos clãs de Okinawa
(McCarthy, 2008). Apesar de politicamente independente, possuía uma grande
identidade cultural com a China, onde a população era dividida em castas sociais:
nobreza, clero, militares, comerciantes e camponeses (NAKAZATO et al, 2003).
No período feudal, no reino de Ryukyu deu-se a origem dessa arte marcial
que remonta à necessidade dos Heimin (terno usado para os camponeses) em se
defender dos abusos praticados pelo reino na cobrança dos impostos. Os Peichin, a
classe militar guerreira da ilha. Entre as suas funções eram responsáveis pela
cobrança dos tributos e muitas vezes abusavam do poder, usando da força para que
os heimin pagassem os impostos cobrados, que geralmente correspondiam a uma
“gorda” parte do arroz produzido e colhido por eles e muitos deles chegavam a
perder toda ou boa parte de sua colheita, como forma de tributo. Em muitos casos
os heimin partiram para o trabalho árduo na lavoura e após um dia estafante de
trabalho, retornaram apenas para encontrar suas casas totalmente incendiadas e
suas famílias mutiladas, este era o castigo aplicado pela inadimplência (FROSI;
MAZO 2011).
Como o uso de armas foi proibido para a população comum, o povo de
Okinawa desenvolveu uma arte marcial conhecida como Te, que usava de técnicas
de combate, única contendo técnicas de agarrar, projeções, ataques com as mãos e
os pés, além do uso de ferramentas rurais de trabalho como foices, enxadas e
batedores de arroz. Assim, como também era proibido a prática de qualquer forma
de luta pela classe que não fosse guerreira, por isso que os treinos eram praticados
durante a noite e em locais como, jardins com murros altos, no interior de floresta ou
em praias desertas (STEVENS, 2005).
Segundo Shinzato; Bueno (2007) foram os peichin de Okinawa que realmente
impulsionaram o desenvolvimento do Karatê-do. Pois como Okinawa na época fazia
parte do território Chinês, era muito comum a visita de diplomatas chineses que
vinham supervisionar as relações comerciais entre os povos. Esses “encontros”
eram muito importantes uma vez que serviam para a realização de trocas culturais
entre os povos, que ocasionalmente envolviam a apresentação de artes marciais.
Foi nessa época; depois de passar por muitas situações difíceis para conter
os camponeses revoltosos que alguns desses guerreiros se apropriaram do Te. E
11
através dessa troca cultural que havia nas supervisões chinesas que se passou a ter
uma influência das artes marciais chinesas, dando origem ao To-de, que significa
literalmente ¨Mãos chinesas¨. Após os períodos de revoltas, os guerreiros de
Okinawa passaram a estudar o To-de, sendo eles os principais responsáveis pelo
desenvolvimento dessa arte marcial (SHINZATO; BUENO, 2007).
2.1.3 Karatê-do do Japão para o mundo
Foi por volta do século XIX d.C. que esse estilo de luta local passou a ter seus
treinamentos realizados pelos grandes mestres de Okinawa para um grupo pequeno
de pessoas e posteriormente nesse período também foi que a educação passou a
ser um direito de todos e começou a ser praticada uma forma de karatê nas escolas
de Okinawa, onde começou a ser praticado por um pequeno grupo de alunos. Isso
foi fruto do mestre Yasutsune Itosu que formulou os ¨Dez artigos sobre o To-de,
onde foi bem aceitos pelos dirigentes do sistema educacional da época
possibilitando a inserção do Karatê nas escolas da Prefeitura de Okinawa
(FUNAKOSHI, 2007).
Nesse contexto o mestre Gichin Funakoshi aproveitou a oportunidade para se
tornar professor, recusando o pedido do seu pai para ingressar na Faculdade de
Medicina de uma das principais universidades japonesas. Era muito vantajoso no
período ser professor, pois com a aplicação do novo regime em Okinawa, esta
profissão passou a ser uma das mais respeitadas e rentáveis no final do século XIX
d.C. e início do século XX d.C. (STEVENS, 2005).
Em uma viagem realizada pelo Príncipe Hirohito em 1921, a comitiva imperial
acabou fazendo uma breve parada em Okinawa. Como já era de costume, os
habitantes de Okinawa realizaram uma apresentação para receber o futuro
Imperador. Nesta recepção o Mestre Gichin Funakoshi junto com seus alunos da
escola municipal, realizaram uma demonstração de Embu, uma luta combinada
entre dois ou mais caratecas. Deslumbrando com a apresentação o jovem príncipe
fez o convite para demonstrar o To-de na 1ª Exibição Atlética Nacional no Japão
continental, evento promovido pelo Ministério da Educação do país; naquela
oportunidade, Funakoshi e seu grupo foram à Tóquio realizar uma nova
12
demonstração para diversas autoridades japonesas e para o grande público
(NAKAZATO et al., 2003).
Desse dia em diante Funakoshi não conseguiu mais retornar à Okinawa,
sendo persuadido por diversas vezes a permanecer no Japão ensinando Karatê. Até
mesmo o próprio Jigoro Kano, criador do Judô; fez um pedido para Funakoshi dar
aulas no Instituto Kodokan, onde permaneceu ensinando. (STEVENS, 2005). Em
1922 ele publicou seu primeiro livro: Ryukyu Kenpo: Karate; promovendo a mudança
dos ideogramas que significavam “Mãos chinesas”, para Karatê significando “Mãos
vazias”. No processo de buscar o reconhecimento do Karatê como arte marcial pelos
japoneses; o mestre Funakoshi ainda incluiu o ideograma Do ao nome que significa
¨Caminho¨ e adotou ainda o sistema de graduação kyu/dan e o uniforme dogi,
ambos criados por Jigoro Kano (FROSI; MAZO, 2011).
Passados cerca de 20 anos desde da sua apresentação, vários mestres de
Okinawa vieram ao Japão continental ensinar a arte e uma explosão do Karatê
aconteceu no país. Iniciava-se então um processo de modernização que buscaria
aproximá-lo de práticas como o Judô e o Kendô, as quais já possuíam sistemas
competitivos e eram amplamente praticadas em escolas em todo país (NAKAZATO
et al., 2003).
Apesar disso, o Karatê sofreria um forte abalo, junto com tantas outras
estruturas do Japão, devido aos acontecimentos da Segunda Guerra Mundial que
assolaram todo o país (FROSI; MAZO, 2011). Na ilha de Okinawa ocorreu uma das
batalhas mais ferozes da guerra, onde foi destruído o Shotokan Dojo, o prédio onde
Funakoshi ministrava aulas; perderam-se diversos documentos, objetos foram
destruídos e com isso apagando parte dos vestígios da história de Okinawa e do
próprio Karatê e ainda por conta da guerra seu filho e braço direito, faleceu
fragilizado pela má alimentação, pois grande parte da comida era dada as tropas
japonesas; e pela tuberculose que contraiu, deixando seu pai sozinho na
estruturação do estilo Shotokan (FUNAKOSHI, 2007).
Após a guerra, ainda ouve a proibição da prática das artes marciais, por meio
de um decreto pelo exército americano, porém o karatê não foi proibido, pois via-se
essa prática como um jogo ou diversão local, porque eles associaram as práticas de
kata, que é uma luta imaginaria, a uma dança com tambores, apitos e movimentos
13
enérgicos própria de Okinawa, algo semelhante ao que os negros fizeram para
ocultar a capoeira no Brasil (FROSI; MAZO, 2011).
Mesmo com todas essas turbulências a difusão do Karatê-Do pelo mundo era
inevitável; pois vários militares ocidentais, que participavam da ocupação do Japão
desde a Segunda Guerra Mundial, realizaram treinamento de Karatê no período em
que participaram das empreitadas bélicas, daí ao regressar para seu país, passaram
a ensinar o que aprenderam (CHAMBERS; DUFF, 2008). Para evitar que a arte
fosse disseminada com seus aspectos técnicos e filosóficos distorcidos dos
originais, vários mestres do Japão e de Okinawa passaram a se encaminhar para
países da Europa e América, principalmente, para trabalhar no movimento de
expansão do Karatê pelo mundo (SHINZATO; BUENO, 2007).
2.1.4 A chegada do Karatê-do no Brasil
A história do Karatê no Brasil está diretamente ligada aos imigrantes
japoneses que chegaram ao país em grande massa logo após a Segunda Guerra
Mundial. Esses imigrantes japoneses tiveram sua principal atividade econômica nas
plantações de café; e aqui se estabeleceram e formaram a primeira colônia japonesa
em São Paulo. Em 1955 foi estabelecida a primeira academia de Karatê naquela
cidade, pelo Sensei Mitsusuke Harada do estilo Shotokan e em 1959, o Sensei
Seichi Akamine fundou a primeira academia do estilo Goju-ryu e um ano depois
fundou a Associação Brasileira de Karatê, a partir deste momento o karatê passou a
ganhar muitos adeptos. Esta foi a associação que mais tarde daria origem à
Confederação Brasileira de Karatê que foi uma das principais responsáveis pela
administração do esporte no Brasil, porém surgiram outras confederações e
federações, o que impulsionou o surgimento de campeonatos e torneios no país
(OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2015).
Em 1961 o Karatê foi introduzido na Bahia pelo Sensei Eisuke Oishi e no ano
seguinte o Sensei Yoshihide Shinzato do estilo Shorin-ryu. Outros mestres como,
Juichi Sagara, em São Paulo; Yasutaka Tanaka e Sadamu Uriu, no Rio de Janeiro;
Higashino em Brasília foram importantes na expansão do karatê no Brasil
(OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2015). Estes mestres foram, portanto, os introdutores do
14
¨Caminho das Mãos Vazias¨ no Brasil, em um processo estrutural de
aproximadamente 10 anos; e que hoje em dia está introduzido em todo território
brasileiro.
Existe hoje no Brasil diferentes entidades que se organizaram, na realização
de eventos, torneios e responsáveis pelo treinamento e graduação de seus
associados. Sendo as mais reconhecidas: Confederação Brasileira de Karate (CBK),
Federação Brasileira de Karate (FBK), Confederação Brasileira de Karatê Interestilos
(CBKI) e Associação Brasileira de Karate Jutsu (ABKJ); além de filiais de
associações japonesas localizadas no Brasil, tais como JKA do Brasil e JKS do
Brasil (FROSI; MAZO, 2011).
O karatê está sendo considerado uma das artes marciais e esporte de contato
mais praticadas na atualidade, onde são realizados diversos torneios municipais,
estatuais, nacionais e internacionais. Porém, o karatê atualmente está deixando de
ser praticado como um modo de vida, para somente ser praticado como um esporte,
visando - se mais o desempenho esportivo e as premiações. Apesar de toda a
formalidade e etiqueta de um dojo os treinos estão sendo direcionados mais pra o
desempenho esportivo, deixando - se de lado o desenvolvimento espiritual e mental
do praticante. Porém, mesmo com essa “situação” ainda há espaço para a
manutenção do respeito e cortesia essenciais para a formação do Karatê do
praticante.
Nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro de 2016, o karatê se tornou um
esporte olímpico e terá sua estreia nos Jogos Olímpicos do Japão em 2020, nada
mais justo que ter sua estreia na terra natal.
2.2 KARATÊ-DO E SEU CONTEXTO FILOSÓFICO E PRINCIPIOS
FUNDAMENTAIS
2.2.1 A filosofia existente no Karatê-do
Um dos grandes responsáveis pelo desenvolvimento do Karatê e sua
massificação foi o Mestre Gichin Funakoshi, reconhecido como ¨O Pai do Karatê
Moderno¨ e o criador do Karatê estilo Shotokan; um dos mais praticados na
15
atualidade (STEVENS, 2005). Ele também foi o responsável pela introdução dos
ensinamentos de não a violência e os princípios filosóficos e éticos que são
aplicados atualmente no Karatê. Um novo pensamento das artes marciais clássicas
foi introduzido; as técnicas mortais do Karatê foram banidas da prática, pois o intuito
não seria mais finalizar o adversário ou atacá-lo até a morte; a eliminação do inimigo
não seria mais necessária e as técnicas consideradas muito violentas, tais como
golpes de cotovelo, joelho e cabeçadas começaram a ser deixadas de lado, mas
sempre mantidas nos treinamentos de kata (RANGEL JUNIOR, 2003).
O karatê agora tem seus treinamentos voltados para a construção e
aperfeiçoamento moral e espiritual do praticante, neste contexto a atenções agora
se concentram na acuidade mental e nas condições de formação do caráter do
praticante, não apenas na execução das técnicas. O caminho agora é para se
chegar no ¨vazio¨ (muchin) (McCarthy, 2008). Para Funakoshi, a ideia de vazio se
constituía em algo além da não utilização de armas, mas se transmitia em um
conceito de que o praticante deveria se esvaziar de seus pensamentos e emoções,
se desfazendo das vaidades do mundo, buscando se torna um ser melhor na
sociedade (TEJERO GONZÁLES; BOLSALOBRE FERNÁNDEZ, 2011).
O Karatê ensina que se deve ao máximo evitar confrontos. Que ao contrário
do que muitos pensam; os ensinamentos não se baseiam em golpear o adversário
primeiro e sim de evitar desfecho violento. Esse conceito está presente em todos os
kata do estilo Shotokan, pois todos eles começam com um movimento de defesa,
seguido de um contra-ataque, firmando o pensamento de não a violência e sempre
reagindo de maneira defensiva antes de utilizar qual técnica para atacar (DUNCAN,
1985).
O verdadeiro praticante do Karatê-do deve assumir uma postura não
agressiva, demonstrando sabedoria e tranquilidade frente a uma situação perigosa,
contudo, se ver que não tem outra solução e o praticante se encontre em uma
situação de vida ou morte; ele deverá, portanto, lutar com todo o espírito, técnica e
corpo (TEJERO GONZÁLES; BOLSALOBRE FERNÁNDEZ, 2011).
Portanto, em uma situação em que você for acossado
por um bandido ou desafiado por um desordeiro
agressivo, tente evitar a aplicação de um golpe.
16
Tenha como um princípio essencial que evitar um
ferimento nos outros com os seus punhos ou pés é a
sua maior preocupação. (FUNAKOSHI, 2007).
Então a nova finalidade do Karatê passa a ser em seu aspecto educacional e
formador do praticante, moldando assim a sua personalidade e caráter, afim de
torná-lo um individuo menos agressivo no meio social (FUNAKOSHI; NAKASONE,
2005).
2.2.2 Os princípios fundamentais do Karatê-do
Foram vinte, Niju Kun, os princípios fundamentais implantados por Funakoshi
no Karatê, dentre eles podemos considerar dois, como os mais importantes para a
formação do caráter do praticante e é justamente os dois primeiros princípios que
estão no seu Livro: Os Vintes Princípios Fundamentais do Karatê, o legado espiritual
do mestre (NAKAYAMA, 2014).
O primeiro princípio é: “Não se esqueça de que o karatê-do começa e termina
com Rei”, este termo é um termo utilizado para a reverência formal, que é a aquela
utilizada, de forma ritualizada, antes e no final de cada aula. Mas esse princípio fala
que o rei é uma palavra que costuma ser definida como ¨respeito¨ mas que seu
significado vai muito além disso (FUNAKOSHI; NAKASONE, 2005). Rei compreende
tanto uma atitude de respeito pelos outros, quanto um sentimento de auto estima
que é transferido para os outros quando se tem respeito entre si. A arte marcial que
não tem o rei, não passam de uma mera violência desprezível; é nada mais do que
força bruta e sem valor. Portanto esse princípio explica a conduta de respeito entre
os praticantes e deles com o seu sensei, que deve ser utilizada na sua vida
cotidiana, pois os ensinamentos do karatê devem ser praticados fora do dojo
(FUNAKOSHI; NAKASONE, 2005).
O seguinte é o mais famoso de todos os vinte e o mais importante para todos
praticantes, que é: ¨Não existe primeiro golpe no karatê¨. Nesse principio está claro
que o karatê não é uma arte marcial com o intuito de ferir alguém; fica mais evidente
este principio e nos kata, pois todos eles começam com um movimento de defesa e
depois com um de contra ataque, apesar de ser este principio bastante claro e aludir
17
para uma certa passividade no praticante, o Karateca não deve ser passivo, pois
tem que estar preparado para agir de forma a não ferir seu oponente. É como atacar
com a parte de traz da espada, sem utilizar a parte cortante, dando tempo para ele
reconsiderar ou se arrepender de suas ações (FUNAKOSHI; NAKASONE, 2005).
Porém, não quer dizer que os outros princípios são desnecessários, todos
eles são importantes e essenciais no caminho do vazio, mas esses dois princípios
são os mais enfatizando pelos sensei em todos os dojo que prezem pelos bons
princípios e pelo caminho correto do karatê.
Os outros princípios também são importantes na formação do caráter dos
praticantes, e são eles:
O karatê permanece do lado da justiça;
Primeiro conheça a si mesmo, depois conheça os outros;
O pensamento acima da técnica;
A mente deve ficar livre;
O infortúnio resulta de um descuido;
O Karatê vai além do dojo;
O Karatê uma atividade vitalícia;
Aplique o sentido do Karatê a todas as coisas. Isso é o que ele tem de belo;
O Karatê é como água fervente: sem calor, retorna ao estado tépido;
Não pense em vencer. Em vez disso, pense em não perder;
Mude de posição de acordo com o adversário;
O resultado de uma batalha depende de como encaramos o vazio e o cheio (a fraqueza e a força);
Considere as mãos e os pés do adversário como espadas;
Ao sair pelo seu portão, você se depara com um milhão de inimigos;
A kamae (posição de prontidão) é para os iniciantes; com o tempo, adota-se a
shizentai (postura natural);
18
Execute o kata corretamente; o combate real é outra questão;
Não se esqueça de imprimir ou subtrair a força, de distender e contrair o corpo, de
aplicar a técnica com rapidez ou lentamente;
Mantenha-se sempre atento, diligente e capaz na sua busca do caminho.
Todos esses princípios foram incorporados por Funakoshi no karatê para que
os praticantes encontrassem ¨o caminho do vazio¨ e são fundamentais para a
formação de seu caráter e para torna o carateca um cidadão (COLOMBO, 2014).
De acordo com o que vimos acima, temos a noção que o karatê é muito mais
do que simplesmente uma aprendizagem de técnicas para obter a vitória em
combate é uma maneira de cultivar o espírito e a mente, tornando o praticante um
individuo mais calmo, seguro e confiante; além de proporcionar domínio próprio,
determinação e humildade, onde os vinte princípios aqui apresentados, devem ser
aplicados além do dojo e servir como um estilo de vida. Esses princípios podem ser
aplicados a todas pessoas, visando uma melhora no seu comportamento e
tornando-as verdadeiros cidadãos (SOUZA, 2012).
2.3 AGRESSIVIDADE
2.3.1 Definindo agressividade
A agressividade é considerada como uma manifestação irracionalista de uma
força que faz o organismo tender para um objetivo, situada na fronteira entre o
psíquico e o somático, um ato natural no indivíduo quando sua sobrevivência está
ameaçada. Assim, é praticada como defesa para conservar a vida ou integridade do
ser, bem como para saciar suas necessidades vitais. Por isso, um impulso agressivo
que está presente nos homens (UENO; SOUZA, 2014).
Segundo Colombo (2014) a agressividade é um atributo natural de todo ser
humano e não deve ser entendida como uma via única e determinada que conduza
à luta e à destruição. As atitudes agressivas do ser humano é um amplo aspecto que
vai desde a destruição e à construção. Portanto a agressividade também deve ser
reconhecida pelos seus aspectos positivos, como no nosso sentido competitivo de
sermos melhores que os outros. Foi sem dúvidas essa agressividade que permitiu a
sobrevivência das sociedades.
19
De acordo com De Souza (2003) a agressividade em formas moderadas se
faz presente em nossas vidas e impulsionando-nos para o domínio do conhecimento
sobre o mundo e para crescimento pessoal do ser humano. A agressividade de certo
modo possui alguns benefícios; sendo essencial para nossa sobrevivência,
desenvolvimento, adaptação e defesa.
2.3.2 Agressividade e o Karatê-do
Segundo Tramontin; Peres (2008), o Karatê se apresenta para o aluno como
uma ferramenta ou como um meio canalizador dos sentimentos hostis para fins
úteis, evidenciando o instinto de vida, liberando mecanismos de defesa do Ego, do
qual o aprendiz se livra dos impulsos agressivos, lançando-os no ambiente de forma
construtiva e valorizada. O aprendizado dessa arte marcial proporciona virtudes
necessárias para uma atuação social positiva: união, amizade, respeito e disciplina,
visando conter o espírito agressivo dos alunos (RANGEL JUNIOR, 2003).
Karatê é essencialmente pacífico e tem sua finalidade na defesa e não no
ataque, como alguns pensam, e por isso mesmo, longe de predispor para a violência
e comportamentos agressivos, o karatê cultiva a cortesia, a boa educação e o
respeito entre os semelhantes; razão pela qual torna-se um fator altamente positivo
na formação do caráter e da moral dos praticantes (CHUNLEI, 2008).
Como foi visto que desde da origem do um método de luta até o surgimento
do karatê, propriamente dito na ilha de Okinawa, eles utilizavam esses métodos de
lutas para se defender dos abusos sofridos pelos peichin e só utilizavam esses
golpes para se defender e não no intuito de causar ferimentos e este pensamento foi
seguindo desde de sua origem até os dias atuais.
2.3.3 Agressividade no ambiente escolar
As atitudes agressivas no contexto escolar são um tema com frequente
exposição nos órgãos de comunicação. Isso se traduz numa realidade
comprometedora da qualidade do ensino enfrentada por toda a comunidade escolar.
Diante da gravidade desse problema devemos cobrar medidas dos órgãos
governamentais de políticas públicas efetivas para o enfrentamento dessa questão
(DAS DORES, 2007).
A agressividade já pode ser considerada como um problema de saúde
pública, de acordo com Lopes Neto (2005). O seu grande aumento fica ainda mais
20
evidente através do estudo divulgado pelo website da Associação Nova Escola, uma
organização sem fins lucrativos, criada em 2015 e com apoio da Fundação Lemann.
O estudo mostra um Mapa de Violência 2010, que divulga entre os anos de 1997 à
2007, o número de homicídios envolvendo jovens entre 14 e 16 anos subiu cerca de
30% (MONROE, 2010).
Uma das causas da agressividade nos adolescentes está relacionada às
mudanças fisiológicas decorridas da passagem da infância para adolescência.
Existem, porém, outros motivos como a desestruturação da família; a influência da
mídia; professores autoritários; a prática de desportos de rendimento, a competição
exacerbada e ainda pelas dificuldades que muitas dessas crianças têm, em se
adaptar ao determinado contexto social (COSTA; SANTOS; 2016).
Essa agressividade nas crianças e nos jovens de hoje pode estar relacionada
principalmente ao abandono por parte de seus responsáveis. Muitos pais “largam”
seus filhos nas escolas pensando que é dever do professor dar toda a assistência na
educação de seu filho e esquecem do seu papel como pais e educadores. Como é
que um professor vai moldar o caráter de um aluno na sua aula, quando este só
passa algumas horas por dia na sua presença? Daí que essa irresponsabilidade dos
pais vai se traduzir nos estudantes que vemos hoje, com um alto nível de
indisciplina, violência intra e extraescolar, além das outras dificuldades já
mencionadas acima (AGUIAR; ALMEIDA, 2006).
Conforme uma avaliação feita no final do estudo, de Rosa Sandi (2010), por
43 alunos, do primeiro ano do nível médio no Colégio Estadual Novo Horizonte de
Toledo no Paraná. Foi apontado por esses alunos que a origem da potencialidade
da violência no contexto escolar específico, provém, em 96% dos casos, de
discussão entre colegas de turmas, que tendem a se transformar em agressões
físicas, o que faz transparecer que o diálogo é precário nas relações sociais. Este
mesmo estudo mostrou que na avaliação dos alunos, 27% deles disseram que as
violências e agressões no âmbito escolar podem resultar da falta de diálogo entre
professores e alunos (FILHO, 2014).
Com isso vemos que os próprios professores não estão preparados e tão
pouco recebem em sua formação acadêmica o treinamento para lidar com tais fatos,
como resultado quando acontecem conflitos no meio escolar, têm como cerne de
suas ações atitudes punitivas aos alunos envolvidos e regras disciplinares que
eventualmente dificultam a convivência, tais ações não deveriam existir em uma sala
21
de aula e quando existissem estes alunos deveriam ser estimulados a dialogar entre
si para achar um meio de ter resolvidos estes conflitos sem ter que partir pra
violência física. Em face a estas situações o Karatê pode canalizar sua filosofia na
cortesia e respeito ao próximo, sempre procurando meios de agir sem violência,
ações estas que via de regras não se apresentam no ambiente escolar, por isso que
nesse sentido, a agressividade no ambiente escolar passasse a existente
(TRAMONTIN; PERES, 2008).
2.3.4 O Karatê-do na contenção da agressividade dos estudantes
No ambiente escolar, se tem uma percepção errônea de que a prática do
Karatê ou de outras artes marciais no ambiente escolar teriam o efeito de elevar o
nível da agressividade dos alunos. Os educadores pesam que por eles estarem
aprendendo a lutar é que vão ser mais agressivos ainda, mas esse e um efeito
contrário da realidade desta prática e um julgamento errôneo de quem não conhece
os ensinamentos do Karatê (JUNQUEIRA FILHO, 2013).
Como já foi exposto em tópicos anteriores, percebemos que o karatê tem em
sua finalidade no aperfeiçoamento do caráter do praticante e na busca da contenção
do seu espirito agressivo. Isso fica bastante evidente no principio que fala que no
karatê não existe o primeiro golpe, deixando bem claro que esta arte marcial não
tem como intuito ferir alguém e nem tornar os praticantes agressivos e isso fica bem
visível, pois em todos os kata, não só do estilo Shotokan mas nos demais, eles
sempre começam com um movimento defensivo (NUMES, 2007).
Com podemos ver o karatê pode ser um meio utilizável para ajudar os alunos
a serem menos agressivos e não ao contrario como muitos educadores e gestores
pensam e com isso podemos utilizar esta pratica corporal nas aulas de educação
física.
A prática do Karatê como forma de ferramenta
pedagógica contribui para a socialização que possa
encaminhar os educadores físicos combatendo a
coragem impetuosa direcionando energias de forma
lúdica e saudável criando convivência pacifica para
todos (TRAMONTIN; PERES, 2008).
22
De acordo com Souza (2012), a didática do karatê pode contribuir para o
relacionamento interpessoal e conduzir os educandos na diminuição da
agressividade dos alunos e este sentimento de raiva dos estudantes vai ser
direcionado como forma de energia saudável de colaboração e companheirismo
criando um ambiente amigável nas aulas de educação física.
Presume-se que exista relação entre a prática de
Artes Marciais, como o Karatê, e a redução da
Agressividade, haja vista a primeira permitir a
canalização da agressividade dos jovens de forma
direcionada e controlada por meio das aulas, quando
afirma que a pratica de artes marciais favorece a
autodisciplina educativa proporcionada pelas artes
marciais, podendo ser encarada como uma forma de
terapia para o controle social e redução da violência
(ARSENY, 2011).
Através de tudo já exposto vemos que o karatê-do mesmo sendo uma
modalidade de contato corporal, não incentiva os praticantes a serem agressivos,
mas educa no controle do ímpeto da agressividade, canalizando essa energia e
ajudando-os a terem total controle sobre os seus instintos de agressividade. Além
disso o individuo começa a perceber que a prática do karatê não se resume apenas
na prática motora dos golpes, mas sim, como uma arte marcial que tem doutrina,
filosofia, princípios éticos e morais que sevem para transformação do seu caráter e
como isso resultando na mudança espontânea de seu comportamento, pois quem
não consegue seguir seus ensinamentos, vai por si só se afastando de um dojo
(ADLER, 2003).
3 OBJETIVO
Verificar através de uma revisão de bibliográfica, se o Karatê-do mesmo
sendo uma arte marcial que utiliza uma grande variedade de técnicas de combate
corporal, pode ajudar na formação de estudantes, do ensino fundamental e médio,
23
menos agressivos e com um comportamento mais sociável perante o ambiente
escolar.
4 METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão de literatura, processo de busca, análise e descrição
de um corpo de conhecimentos em busca de resposta a uma pergunta específica
(GIL, 2008). A busca dos artigos científicos, foi feita através das seguintes bases de
dados: Periódicos Capes, Scielo e Bireme. Com as seguintes palavras-chaves: Artes
marciais; Formação e Agressividade; Ensino Fundamental e Médio; utilizando do
Booleano AND e das seguintes combinações de palavras-chaves: Artes Marciais
AND Formação e Agressividade; Artes Marciais AND Ensino Fundamental e Médio;
Ensino fundamental e médio AND Formação e Agressividade. Com a prioridades em
estudos no período de 2000 a 2017. Além de utilizar dos seguintes livros: O Melhor
do Karatê 1, (2014); O Melhor do Karatê 2, (2014); Três Mestres do Dubo:
Kano(Judô), Funakoshi (Karatê), Ueshiba (Aikido), (2007); Os Vintes Princípios
Fundamentais do Karatê (2005) e Karatê-do: O Meu Modo de Vida (2007).
O critério de inclusão e exclusão dos artigos científicos, ocorreu da seguinte
maneira: primeiramente os artigos foram selecionados de acordo com o tema e logo
após isto, foi feita a leitura do resumo juntamente com a introdução, daí se o
determinado artigo tivesse relevância ao tema do abordado, seria incluído para
leitura completa. Após essa leitura mais aprofundada, caso o trabalho apresentasse
conteúdo de importância seria incluído como referência bibliográfica.
Seguindo-se esses critérios foram incluídos ao todo 39 referências para a
realização deste Trabalho de Conclusão de Curso (TCC).
5 RESULTADOS
Conforme foi observado em todos os artigos; a pratica de uma arte marcial,
como o Karatê-do, não irá aumentar as ocorrências de agressividade, muito pelo
contrário, vai aumentar a consciência do aluno para um convívio pacífico, isso está
ancorado nos fundamentos teóricos e filosóficos não só do karatê-do, mas como nas
24
demais artes marciais orientais de forma geral; pois todas elas não têm a prática da
agressividade ou da violência, mas contribuem para a formação do caráter e do
desenvolvimento de verdadeiros seres humanos, com autodisciplina. Isso é bastante
visível nas sociedades orientais, principalmente na China e no Japão, pois as artes
marciais fazem parte de sua cultura desde de sua origem. A pratica do karatê e de
outras artes marciais, pode ser um caminho satisfatório para ser ter uma sociedade
saudável e com comportamentos menos agressivos e onde poderíamos ter menos
conflitos entre as pessoas.
E de acordo com os artigos científicos encontrados, podemos afirmar que o
Karatê-do é uma ferramenta que pode ajudar os praticantes a serem pessoas mais
pacíficas e no ambiente escolar pode servir de meio para que os estudantes
procurem maneiras de resolver os conflitos nas aulas sem que haja agressão física,
pois como foi visto no estudo de Rosa Sandi (2010) que em 96% dos casos de
discussão ocorrente entre os estudantes se transformar em agressões físicas,
mostrando a falta de diálogo entre eles pra resolução de conflitos e como vimos nos
princípios criados por Funakoshi, onde o karatê prega uma ideia de não violência e
respeito pelo próximo (FILHO, 2014).
Fica mais evidente ainda no estudo Direto de Campo, onde se faz a busca
dos dados diretamente da fonte, realizado por Pacheco (2012) através de um
formulário semiestruturado, com a participação de 15 adolescentes praticantes de
diversas artes marciais, portanto ficou comprovado que a prática de qualquer que
seja a arte marcial, pode auxiliar de forma positiva na redução da ação de
comportamentos agressivos por parte dos estudantes nas aulas de Educação Física,
pois elas contribuem para o autocontrole dos alunos e para a formação do cidadão.
No estudo de campo, com uma abordagem quantitativa produzido por
Leonardo et al (2011) com a participação de 30 pais e pessoas ligadas ao corpo
docente da escola, que tem o convívio diário com os 30 alunos com idade entre 7 e
10 anos de idade, que serviram de base para as perguntas do questionário aplicado
e estas crianças tinha que ter pelo menos três meses de prática regular de Karatê.
Este estudo mostrou que 67% dos alunos teve melhora no convívio com outras
pessoas e o nível dessa melhora foi considerada significativa por 40% dos
entrevistados; 47,5% afirmaram que o grau de satisfação com os resultados
25
adquiridos pela prática de karatê foi excelente e 63% disseram que foi bom; 34%
responderam que os alunos estão respeitando as regras do bom convívio após a
prática da modalidade e 60% responderam que as vezes; 75% concordam que o
karatê contribuiu muito para o controle da agressividade dos alunos e 25% que a
contribuição foi razoável; 70% dos entrevistados indicariam com certeza a prática do
karatê, enquanto 30% talvez indicassem a modalidade. Nesse estudo fica evidente
que com apenas três meses de prática do karatê, esta arte marcial teve uma
contribuição significativa para diminuição da agressividade.
No estudo feito por Souza et al, (2010); se propôs uma comparação entre
praticantes e não praticantes de desporto de combate, no caso avaliou praticantes
de Karatê do estilo Goju-Ryu. Participaram da pesquisa 120 indivíduos, sendo 63
eram praticantes e 57 não praticavam num desporto de combate, que tiveram que
responder um questionário de agressão, composto por 29 itens, que avaliam a
agressividade em quatro medidas: agressão física, agressão verbal, raiva e
hostilidade. O resultado mostrou que os não praticantes de karatê tinham um nível
superior em todas as medidas da agressividade em relação aos praticantes de
karatê. Fica mais que comprovado nesse estudo a existência de uma relação
inversamente proporcional entre agressividade e a prática de desportos de combate.
O Estudo de Caso feito por Tramontin; Peres (2008), através do Projeto
Karatê, com vinte e nove alunos de uma das turmas da 5° série do Colégio Estadual
Nestor Victor dos Santos no Município São Miguel do Iguaçu - PR. Foi utilizado um
questionário que serviu como critério de escolha da amostra, onde optou-se essa
turma sendo considerada a mais problemática da escola segundo os professores, a
direção e equipe pedagógica. Após o desenvolvimento das atividades foi realizado
um segundo questionário que serviu para análise comparativa com o primeiro e a
descrição dos resultados foi bastante eficaz. Os resultados mostram que as aulas de
Karatê-do aplicadas foram fundamentais para tornarem estes estudantes menos
agressivos na escola. Além disso, os estudantes mostram mais comprometimentos
com as tarefas aplicadas nas outras disciplinas e com o cumprimento dos horários.
Verificou-se essa transformação nas falas finais da Professora de Matemática no
final desde Projeto. “No decorrer do ano letivo percebi que a maioria das atitudes da
5ª A, como: indisciplina e falta de respeito, palavrões e outras atitudes hostis foram
sendo superadas. Hoje podemos dizer que damos excelentes aulas nessa turma,
26
onde isso não acontecia. Quisera que todas as turmas com problemas de
indisciplina e aprendizagem tivessem a oportunidade de terem um projeto de “apoio”
como esse. Sei o quanto foi trabalhoso para o professor “transformar” nossos
alunos. Gostaria de ressaltar também o empenho de toda a equipe de professores
que atuam nessa turma que se engajaram de “corpo e alma” nesse lindo projeto. O
professor está de parabéns! “Professor transformador”.
Através de todo aqui exporto é mais que evidente que o Karatê-do pode ser
um meio de contenção dos impulsos agressivos dos estudantes, pois essa arte
marcial se preocupa com a formação de valores dos praticantes, dando-lhes
instrumentos para não reagirem de forma agressiva diante dos problemas
encontrados no seu cotidiano, além de proporcionar uma atividade física rotineira,
tornando o praticante fisicamente ativo.
6 DISCUSSÃO
Vimos que o Karatê-do é uma arte marcial desenvolvida na ilha de Okinawa,
antigo Reino de Ryukyu, que originou da fusão de diversas técnicas de combate;
porém ao contrario do que muitos pensam ele pode servir como uma ferramenta
para a formação de estudantes menos agressivos. Pois o Karatê é essencialmente
pacífico e tem sua finalidade na defesa e não no ataque, como alguns pensam, ele
cultiva a cortesia, a boa educação e o respeito entre os semelhantes; razão pela
qual torna-se um fator altamente positivo na formação do caráter e da moral dos
praticantes.
E como a agressividade é um atributo natural de todo ser humano, sendo
considerada como uma manifestação irracional de uma força que faz o organismo
tender para um objetivo que por muitas vezes poderíamos resolver através do
dialogo e no ambiente escolar como estamos lidando com indivíduos em
desenvolvimento social, devemos estar preparados para auxilia-los nesta caminhada
de resolução de problemas sem utilizar de meios agressivos. Pois o aprendizado
dessa arte marcial proporciona virtudes necessárias para uma atuação social
positiva: união, amizade, respeito e disciplina, visando conter o espírito agressivo
dos alunos.
27
Estas virtudes são muito importantes nos dias atuais, em que se observa um
aumento nas estatísticas de violência nas escolas e na sociedade em geral. Devido
ao abandono dos responsáveis na educação de seus filhos, muitos deles esperam
que os professores resolvam atitudes que eles deveriam resolver como pais.
Com isso podemos ver que o Karatê-do é um mecanismo ideal para a
formação de estudantes menos agressivos, pois a sua prática como ferramenta
pedagógica contribui para a socialização dos estudantes e combatendo esses
impulsos agressivos através de uma convivência saudável e pacifica para todos.
Isso se dar, pois a didática do karatê-do contribuir para o relacionamento
interpessoal e conduzir os educandos na diminuição da agressividade de seus
alunos e esse sentimento de raiva deles vai ser direcionado como forma de energia
saudável para a colaboração e companheirismo, criando um ambiente amigável nas
aulas de educação física.
7 CONCLUSÃO
Como foi apresentado nos resultados acima, vemos que fica bem claro que o
Karatê-do mesmo sendo uma arte marcial que utiliza de uma grande variedade de
técnicas de combate corporal, pode servir como um mecanismo fundamental para
ajudar na formação de estudantes, do ensino fundamental e médio, menos
agressivos e com um comportamento mais sociável perante o ambiente escolar.
Pois essa arte marcial além de desenvolver práticas de combate, tem como
prioridade o desenvolvimento do caráter e da moral dos praticantes, isso fica
bastante evidente através dos Vinte Princípios Fundamentais que foram implantados
por Funakoshi, onde percebemos que o Karatê-do preza pela a auto defesa e não
para atacar.
O presente estudo confirma o seu objetivo, mostrando que o Karatê-do pode
ser utilizado como um mecanismo de contenção da agressividade dos estudantes
podendo ser usado como pratica esportiva de luta, pois tais modalidades estão
presentes no conteúdo da Educação Física Escolar. Pode ser trabalhado o Karatê
nos anos iniciais de formação estudantil de maneira lúdica, nas aulas de educação
física, disponibilizando para eles a aquisição de habilidades motoras. Já com os
28
estudantes dos anos mais avançados podemos utilizar o Karatê como um projeto
escolar como foi feito por TRAMONTIN; PERES (2008), em seu trabalho ficou
bastante claro os benefícios do Karatê-do no desenvolvimento de comportamentos
menos agressivos pelos estudantes, além de tornarem estes mais comprometidos
com as atividades escolares.
29
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