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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE LINGUAGENS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DE CULTURA CONTEMPORÂNEA - ECCO TRANSMIDIAÇÃO: PROCESSO DE RECONSTRUÇÃO DE SENTIDOS DA SAGA CREPÚSCULO NAS CULTURAS JUVENIS CLEUSA ALBILIA DE ALMEIDA Cuiabá 2012
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Jan 24, 2019

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

INSTITUTO DE LINGUAGENS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DE CULTURA

CONTEMPORÂNEA - ECCO

TRANSMIDIAÇÃO: PROCESSO DE RECONSTRUÇÃO DE SENTIDOS DA SAGA CREPÚSCULO NAS CULTURAS JUVENIS

CLEUSA ALBILIA DE ALMEIDA

Cuiabá 2012

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CLEUSA ALBILIA DE ALMEIDA

TRANSMIDIAÇÃO: PROCESSO DE RECONSTRUÇÃO DE SENTIDOS DA SAGA CREPÚSCULO NAS CULTURAS JUVENIS

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de mestre em Estudos de Cultura Contemporânea pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), orientada pela Profª. Drª. Lúcia Helena Vendrúsculo Possari.

Cuiabá 2012

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FICHA CATALOGRÁFICA

A447t Almeida, Cleusa Albília, 1980- Transmidiação: processo de reconstrução de sentidos da saga crepúsculo nas culturas juvenis/ Cleusa Albília de Almeida. - Cuiabá, Universidade de Mato Grosso, Instituto de Linguagens 2012.

94p. : il. Color.

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de mestre em Estudo de Cultura Contemporânea pela Universidade de Mato Grosso (UFMT) orientada pela Profa. Dra. Lúcia Helena Vendrúsculo Possari.

CDU-316.77

Índice para Catálogo Sistemático 1.cibercultura 2.transmidiação 3.etnografia /internet

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FOLHA DE APROVAÇÃO

CLEUSA ALBILIA DE ALMEIDA

TRANSMIDIAÇÃO: JOVEM E O PROCESSO DE RECONSTRUÇÃO DE SENTIDOS DA SAGA CREPÚSCULO

Dissertação defendida e aprovada em: 05 de março de 2012.

Banca examinadora:

Orientadora e Presidente da Banca

Profª. Dra Lúcia Helena Vendrúculo Possari – UFMT

Examinador Externa

Profª. Dra Denise Cogo – UNISINOS

Examinador Interno

Prof. Dr. Yuji Gushiken – UFMT

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DEDICATÓRIA

O sonho Sonhe com aquilo que você quer ser, porque você possui apenas uma vida e nela só se tem uma chance de fazer aquilo que quer. Tenha felicidade bastante para fazê-la doce. Dificuldades para fazê-la forte. Tristeza para fazê-la humana. E esperança suficiente para fazê-la feliz. As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas. Elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos. A felicidade aparece para aqueles que choram. Para aqueles que se machucam Para aqueles que buscam e tentam sempre. E para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passaram por suas vidas.

Clarice Lispector

Dedico este trabalho a todas as pessoas que sonharam comigo em todos os momentos.

Professora Lúcia Helena Vendrúsculo Possari, meu irmão-amigo Cristóvão D. de Almeida e ao

amigo Wuldson Marcelo pelas leituras, re-leituras e longos diálogos desde a literatura a vida

cotidiana.

E de modo especial aos amigos que me precedem na eternidade Ir. Maria de Lima Barros e

Dyolen Vieira. Eu sei que... “as pessoas não morrem, ficam encantadas” (Guimarães Rosa), pois,

permanecem vivas em nossos corações.

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AGRADECIMENTOS

A Deus.

Aos meus pais, irmãos e irmãs Filhas de Maria Auxiliadora.

Aos meus amigos e amigas que me deram força e carinho.

Aos meus educadores e, de modo particular, a minha

amiga e orientadora Profª. Dra. Lúcia Helena Vendrúsculo Possari, a qual possibilitou a travessia do

sonho para a realidade em formato de reflexão e chave de leitura juvenil.

Agradeço ainda, a Profª Dra. Denise Cogo, Profª Dra.

Icléia Rodrigues de Lima e ao Prof. Dr. Yuji Gushiken pelas colaborações claras e pertinentes

durante o processo de qualificação e conclusão desta pesquisa. Pelo carinho e incentivo para

prosseguir nas trilhas como pesquisadora. Obrigada!

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RESUMO

A pesquisa nos despertou o interesse pelo processo de transmidiação da saga Crepúsculo, do livro

ao filme, do livro à internet. Objetiva-se averiguar em que medida os sentidos pretendidos, no polo

da produção, são mantidos ou se modificam na transmidiação. Chamaram-nos a atenção, além

desses sentidos, outros textos publicados em revistas femininas que fazem da saga um eterno devir

e que determinam a preferência por revistas direcionadas aos públicos femininos e teens, por parte

de jovens que cursam as séries finais do Ciclo Básico, a ponto de os programas educacionais

inserirem tais leituras. Inquietou-nos, portanto, como os sentidos são produzidos num processo

intersemiótico, interdiscursivo e transmidiático. A pesquisa é de abordagem qualitativa, mesclando

os procedimentos de pesquisa documental – onde buscamos os registros e a transmidiação –,

bibliográfica – no suporte às análises –, netnográfica – no acompanhamento das reescrituras – e

grupo focal – nos sentidos produzidos pelas adolescentes. O aporte teórico é o das teorias que

tentam compreender os processos e comunicação e cultura, a partir das novas tecnologias de

comunicação. As concepções de interação, interatividade e hipertextualidade colaboraram nas

análises da transmidiação; a análise de discurso embasou as entrevistas no grupo focal.

Palavras - chave: Cibercutura, Cultura e Tecnologia, Transmidiação.

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ABSTRACT

The research awoke the interest by the trial of “transmidiação” of the saga Twilight, of the book to

the film, of the book to the internet. Objective it be ascertained in that measure the hurt intended, in

the pole of the output, healthy maintained or are modified in the transmidiação. It called us the

attention, beyond those hurt, others texts published in female magazines that do of the saga an

eternal one devir and that decide to preference by readings of female magazines and teens, on the

part of youths that study the final series of the Basic Cycle, to point of the educational programs

will insert such readings. It worried us, therefore, as the hurt Saints produced in a trial

“intersemiótico”, “interdiscursivo” and “transmidiático”. The research is of qualitative approach,

mixing the procedures of documentary research – where do we seek the records and to

“transmidiação” –, bibliographical – in the support to the analyses –, “netnográfica” – in the

accompaniment of the “reescrituras” – and focal group, in the hurt produced by the adolescents.

Theoretician disembarks him is the of the theories that are going to understand the trials and

communication and culture, from the new technologies of communication. The conceptions of

interaction, interactivity and “hipertextualidad”e go to collaborate in the analyses of the

“transmidiação”, as well as the analysis I talk, will base the interviews in the focal group.

Words - key: Cybercutura, Culture and Technology, “Transmidiação”.

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LISTA DE FIGURAS DA SAGA CREPÚSCULO

Figura 1 – Capas dos livros Crepúsculo nos diversos países

Figura 2 – Capa do livro Lua Nova em várias nacionalidades

Figura 3 – Eclipse e suas capas em diversos países

Figura 4 – O livro Amanhecer e suas variedades de capas em alguns países

Figura 5 - Capas de revistas de circulação nacional colecionadas pelo site Google 2010

Figura 6 – Página Inicial do site Twilight Brasil em 27 de abril de 2010

Figura 7 – Home da twilighters

Figura 8 – Página inicial do Blog: Twilight Fan Club Cuiabá

Figura 9 – Perfil do Orkut da Twilight Fan Club Cuiabá

Figura 10 - Página galeria de fotos – Portal Twilight Brasil em 24 de junho de 2011

Figura 11 – Capas dos livros da saga Crepúsculo impressos – ano de 2008

Figura 12 – www.google.com.br/galeria de imagens saga Crepúsculo – 25 de junho 2011

Figura 13 – Segundo filme da saga “o triângulo amoroso” – ano de 2009

Figura 14 – twilightbrasil.net – 25 de junho de 2011

Figura 15 – nomundoagora.blogspot.com – 24 de junho de 2011

Figura 16 – Site popz.com.br e cozinhadoscullen.blogspot.com – 25 de junho de 2011

Figura 17 – www.google.com.br/imagens lua nova – 24 de junho de 2011

Figura 18 – pensamentosjess.blogspot.com – 24 de junho de 2011

Figura 19 – www.google.com.br – 25 de junho de 2011

Figura 20 – www.google.com.br/imagens - 25 de junho de 2011

Foto 21 – www.google.com.br/imagens lua nova - 25 de junho de 2011

Foto 22 – www.google.com.br/imagens lua nova - 24 de junho de 2011

Figura 23 – www.google.com.br/imagens – 20 de junho de 2011

Figura 24 – www.google.com.br/imagens - 20 de junho de 2011

Figura 25 – www.google.com.br/imagens - 20 de junho de 2011

Figura 26 – www.google.com.br/imagens - 20 de junho de 2011

Figura 27 – www.google.com.br/imagens - 20 de junho de 2011

Figura 28 – www.google.com.br/imagens - 20 de junho de 2011

Figura 29 – www.google.com.br/imagens - 20 de junho de 2011

Figura 30 – www.google.com.br/imagens - 20 de junho de 2011

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 10

CAPITULO I – Cibercultura e Culturas ............................................................................ 16

1. - A cultura entrelaçada, hibridizada e atravessada ....................................................... 16

1.1 - As juventudes e a formatação da nova cultura .......................................................... 19

CAPITULO II – Eu tinha um segredo que não era meu ................................................... 24

2. - A saga Crepúsculo no ciberespaço: local das juventudes ............................................ 24

2.1 - Crepúsculo: um sonho contado em livros ................................................................... 25

2.2 - Do impresso às telas de cinemas .................................................................................. 30

2.3 - Agora nasce uma Lua Nova ......................................................................................... 31

2.4 - Lua Nova chega aos cinemas ........................................................................................ 35

2.5 - Eclipse: Bella entre vampiros e lobos .......................................................................... 37

2.6 - Agora nas telas: Eclipse ................................................................................................ 40

2.7 - Entendendo o porquê das escolhas em revistas Teen ................................................ 45

2.8 - Twilight Brasil: o primeiro site a apostar na saga Crepúsculo ................................. 47

CAPÍTULO III – Transmidiação e produção de sentidos ................................................ 53

3. - A Transmidiação da saga Crepúsculo do impresso ao filme ....................................... 53

3.1 - Grupo focal do Colégio Coração de Jesus (CCJ) / MT ............................................. 58

3.2 - Análise semiodiscursiva ................................................................................................ 59

3.3 - O processo de transmidiação no ato de ler, reler, ver e rever .................................. 63

CONSIDERAÇÕES FINAIS: sempre em devir ................................................................ 87

Referências Bibliográficas .................................................................................................... 90

Referências Webgráficas ...................................................................................................... 92

Anexos .................................................................................................................................... 95

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INTRODUÇÃO

Esta pesquisa originou-se de uma inquietação a respeito de leituras realizadas

por adolescentes em uma escola estadual religiosa. O objeto de atenção tratava-se da

saga de amor entre uma humana e um vampiro intitulada Crepúsculo. O discurso

corrente nas escolas e na sociedade em geral é de que estudantes não gostam de ler e

nem de escrever. Todavia, o que eu percebia era que jovens de um colégio religioso, ao

invés do celular, do videogame, das brincadeiras e atividades físicas, preferiam, no

recreio, ler livros da saga Crepúsculo como também revistas semanais acerca de

notícias da saga, a moda gerada por ela, notícias dos atores e atrizes etc.

Então, as adolescentes liam!

A partir deste dado, busquei mais detalhes da saga, lendo os livros impressos e,

posteriormente, realizando leituras na internet. Dentre os materiais, deparei-me com as

revistas femininas teens que traziam os desdobramentos da própria saga. Acompanhei o

site oficial Twilight Brasil e o Twiligth-mt onde as releituras/reescrituras da série são

inúmeras e possibilitavam ao leitor interação e interatividade. Nesses sites, que reúnem

a fandomination, chamadas simplesmente de fandoms, há a reescritura da saga pela

ficwriters, que reescrevem as histórias como lhes convém. Desse modo, as fãs assumem

outra vertente, desenvolvem o potencial em produção.

Então, as adolescentes escreviam!

Essas informações disponibilizadas nas transmídias encontram-se imbuídas de

características das personalidades de seus autores, o que considero interessante e

instigante nesta literatura moderna de Crepúsculo (2005). Mas o que é o Crepúsculo?

São livros que marcaram o início do fenômeno literário desta saga. A série já

vendeu mais de 42 milhões de cópias em todo o mundo, com traduções em 37 línguas

diferentes. A saga relata fatos da vida da personagem principal, Bella. Uma garota que

se muda para a pacata cidade de Forks e uma paixão inusitada por um vampiro

transforma sua vida. A adaptação cinematográfica de Crepúsculo foi lançada em 19 de

dezembro do ano de 2008.

Em Lua Nova (2006), para Bella Swan não existe nada mais importante do que o

seu amor por Edward Cullen. Mas estar apaixonada por um vampiro será mais perigoso

do que ela poderia imaginar. O filme estreou dia 20 de novembro do ano de 2009.

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Eclipse (2007), o terceiro livro da saga, coloca Bella diante de várias escolhas, a

mais difícil delas será optar entre a amizade de Jacob e a paixão de Edward. O filme foi

lançado nas telas brasileiras no dia 30 de junho de 2010.

Em Amanhecer (2008), Bella, Edward e Jacob serão obrigados a definir seus

destinos. A saga remete o leitor ao embate final entre vampiros e lobisomens, que é o

grande desfecho da série. O filme que retrata o final da saga foi dividido em duas partes.

A primeira parte estreou em 18 de novembro de 2011 e a conclusão tem previsão de

lançamento para novembro de 2012. A trama contagiou o imaginário da juventude e

invadiu o espaço das relações sociais e virtuais do público juvenil, que são considerados

nativos do ciberespaço. O desfecho cinematográfico da série não foi analisado, nem

mesmo comparado ao livro, devido à pesquisa já estar se encaminhando para o relato.

Segundo a autora Stephenie Meyer (2005), seus livros são “sobre vida, não

morte” e “amor, não luxúria”. Cada livro da série foi inspirado e vagamente baseado em

um clássico diferente da literatura. Crepúsculo, em Orgulho e Preconceito de Jane

Austen, Lua Nova, em Romeu e Julieta de William Shakespeare, Eclipse, em “O Morro

dos Ventos Uivantes” e Amanhecer, em outro de Shakespeare, “Sonho de uma noite de

Verão”.

Para o Twilight Brasil, o gênero de ficção para jovens e adultos trata de fantasia

e romance, sendo que a obra explora o não ortodoxo romance entre a humana Bella e o

vampiro Edward Cullen, assim como o triângulo amoroso entre Bella, Edward e Jacob

Black, um lobisomem. Esta temática ganha ressonância no mundo juvenil,

possibilitando postar novidades desse triângulo amoroso através de fotos e de trechos

mais instigantes dos livros, que transmidiados são recontados de forma diversificada.

Nas mídias, no ciberespaço, a saga Crepúsculo foi reconhecida e aprovada pelos

fãs, passando a atuar no cotidiano dos leitores juvenis. Percebi que a saga obteve espaço

aberto nas escolas, shoppings, supermercados, entre outros ambientes permeados por

leitores jovens e adolescentes conectados à série, realizando uma leitura dinâmica e com

alto poder de produção.

Diante desta multiplicidade de mídias que trazem a saga, objetivei verificar

como se dá a “re”-construção de sentidos da obra quando transmidiada.

Optamos pela narrativa transmidiática por aceditar que ela abarca uma resposta

satisfatória no que concerne ao fenômeno da obra impressa aos seus desdobramentos

midáticos, que inclui os filmes, os blogs, site oficial e outros produtos relacionados à

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franquia Crepúsculo. Conforme Jenkins transmidiação, ou convergência, é tudo que está

relacionado à obra e aos seus artefatos culturais que são impulsionados pelo desejo de

participar e se apropriar das informações e produções referentes ao fenômeno cultural,

seja por meio de eletrônico, impresso ou fílmico.

Por convergência, refiro-me ao fluxo de contéudos atráves de múltiplas plataformas de mídia, a cooperação entre múltiplos mercados midiáticos e o comportamento migrátorio dos públicos dos meios de comunicação, que vão a quase qualquer parte em busca das experiências de entretenimento que deseja (JENKINS, 2009, p. 29).

A fim de compreender a história narrada pela escrita, publicada em livro,

encontrada na internet tal e qual, assim como a mesma história transmidiada para o

cinema e, ainda, reescrita pelas ficwriters e lida pelas fanfics, foi necessária uma revisão

bibliográfica minuciosa, com o intuito de comprender essa transmídia, na agoridade a

que pertencemos, à desterritorialização em que vivemos, enfim, que processos culturais

seriam esses. Além disso, para embasar teórico-metodologicamente às observações e

análises pretendidas.

Diante de tantas possibilidades, mesmo com o sentimento de alguma perda, tive

que optar pelo foco que daria à minha pesquisa, como eleger a abordagem de análise.

Sem dúvida, trata-se de um trabalho sobre recepção. Mas não como consumo, apenas

como processo interacional e interativo. Ainda assim, tive que recortar meus propósitos

ainda mais: decidi-me por estudar a transmídia entre livro e filme. Ultrapassei a

comparação de cenas, através de pesquisa com um grupo focal, com o qual comparei,

discuti e pude ver revelados sentidos atribuídos por um grupo de fãs adolescentes.

Num primeiro momento estabeleci paralelos – não na totalidade – de cenas

descritas em cada um dos livros com cenas dos filmes. Da mesma forma, verifiquei se a

obra ao ser disponibilizada na internet tinha seus sentidos modificados.

O objetivo é verificar como são construídos e produzidos os sentidos em um

processo intersemiótico, interdiscursivo e transmidiático com foco na recepção.

Comporta aos estudos de recepção, segundo Cogo e Brignol (2010), considerar

que a convergência pode ser pensada tanto como modo de apropriação do conteúdo,

através do uso combinado de diferentes mídias, como padronização do formato de

armazenamento e distribuição, e como referência de uma mídia em outras, através da

aproximação de linguagens e lógicas. Ela pode ser entendida, ainda, como

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reconfiguração do sistema econômico e organizacional das mídias administrados por

grandes grupos que, na maioria das vezes, unificaram o processo produtivo para

diferentes mídias, gerando, frequentemente, uma hibridação do conteúdo.

Cogo e Brignol (2010) postulam que, além da convergência midiática, outra

noção a impactar o processo comunicacional, repercutindo no âmbito da recepção, é a

de interatividade, apontada como “um dos elementos principais, senão o mais

importante, da redefinição das formas e processos psicológicos, cognitivos e culturais

decorrente da digitalização da comunicação” (FRAGOSO, 2001, p.1).

A metodologia foi de abordagem qualitativa, construída, na medida em que se

apresentavam cenários, rumos por decidir, enfim, de multimétodos, no intuito de atingir

os objetivos pretendidos. Assim, foi construída no percurso, incorporando-se as

pesquisas documental e bibliográfica, a netnografia. A netnografia, como auxiliar,

propunha constatar o que as adolescentes do grupo focal produziam como sentidos no

twiligth.mt Para compreender a netnografia é preciso entender a etnografia, que é um

método de investigação decorrido da antropologia.

O pesquisador Robert Kozinets foi o responsável pela aplicação da técnica no

ciberespaço; primeiramente, como ferramenta para o estudo de marketing virtual e as

práticas de consumo dos internautas. As premissas da etnografia adaptada ao espaço

virtual eram as mesmas que delimitavam a etnografia em comunidades concretas:

observação e descrição densa de hábitos culturais de determinadas comunidades.

Entre os estudiosos da comunicação, é mais comum o uso do termo “etnografia

virtual”. Para Hine (2005), responsável pela popularização do termo, a etnografia virtual

deve ser compreendida em seu caráter qualitativo em que a análise da internet pode ser

observada sob duas óticas em seus efeitos: como cultura e como artefato cultural.

A construção do campo se dá a partir da reflexividade e da subjetividade em vez

de serem constitutivos da realidade social (HINE, 2009). A etnografia colabora para o

entendimento do papel que exerce e também da complexidade da cibercultura.

A par da necessária netnografia para acompanhar as fciwriters, e, a fim de obter

mais profundamente a percepção das leitoras sobre leituras possíveis livro/filme, propus

um grupo focal. Esquematicamente, pode-se descrever a pesquisa, conforme os

princípios de delineamento propostos por Bauer, Gaskell & Allum (2002), como a

busca da verificação da análise fenomenológica; assim, como a tentativa de estabelecer

com o quadrante geração de dados no qual basicamente entra o grupo focal,

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questionário online, análise bibliográfica; na sequência as análises dos dados com a

descrição; e finalizando, o método dos autores no quadro, apresentando os interesses e

conhecimento, dando uma ampla visão do interesse almejado.

Elaborei um questionário, a fim de traçar o perfil das jovens/fãs e poder

compreender a sensação de pertença delas nas produções de sentidos. As respostas

obtidas, através do questionário proposto, abordavam questões relacionadas ao

cotidiano e suas relações com as novas mídias e produção de sentidos. Li com as jovens

as revistas teens que traziam, semanalmente, resumos, comentários, fotos, sequências da

saga. Comparando a intermídia foi possível verificar que a história, independentemente

da mídia que a veicula, permanece como a original, é claro, constatando-se que as

sintaxes da língua escrita e do filme são diferenciadas. As revistas femininas alimentam

o imaginário e as reescrituras constituem-se em prolongamento da saga, tornando-a um

eterno devir.

No percurso teórico indaguei sobre cultura, sobre cibercultura, originária de um

ciberespaço, sem perder de vista a escrita impressa que dialoga com o filme, com a

reescritura no site twilightbrasil.

Para Lemos (2003), a cibercultura, antes de ser uma cultura pilotada pela

tecnologia, trata-se de uma relação que se estabelece pela emergência de novas formas

sociais, surgidas na década de sessenta com a sociabilidade pós-moderna e as novas

tecnologias digitais. Esta sinergia vai criar a cibercultura e todas as suas convergências.

No entanto, o prefixo “ciber” dá a entender um novo determinismo tecnológico.

No momento das grandes transformações, no prelúdio da cibercultura, quando muitos

pensam que este é o futuro, ou que está por vir, ela é o presente que a todo o momento

desafia a ordem, o linear.

Entendida essa relação, tornam-se mais acessíveis os caminhos da cibercultura,

mesmo que tais trajetos sejam sempre nebulosos, vividos por uma geração. Os

internautas do século XXI são os responsáveis pelas transformações, pelas diversas

produções; vê-se grande esperança em superar, e por sua vez tende a possibilitar novas

relações que independem do tempo ou do espaço, ou seja, “agoridades”: “agoridade

pressupõe falar em tempo e em espaço”, Possari (2009). É o período de como encarar o

“agora”, que pressupõe outras janelas de igual acessibilidade em tempo real.

A constituição do trabalho, dessa forma, se concretizou com os teóricos da

comunicação que transpuseram as teorias de massa.

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Este consentimento remete à afirmativa de Lemos, quando o autor traz a ideia de

que a internet não é apenas um prodígio técnico, mas, sobretudo, social.

Para Jenkins (2009), o cenário transmidiático é estabelecido quando uma

narrativa passa de uma mídia para a outra, por exemplo, quando um seriado de TV é

expandido para diferentes mídias mantendo o seu enredo, permite a continuidade da

história e cria um universo ficcional próprio. Para que este universo ficcional se

estabeleça é necessário que a história tenha continuidade nas demais mídias, que se

desenvolva através da elaboração de novos acontecimentos.

Desse modo, ao que se refere à saga, o leitor não precisa, necessariamente, ler os

quatro volumes para depois ir ao cinema, para acessar o site oficial ou ainda, ler as

revistas femininas teen.

Atravessadamente pelos ícones da cultura da mídia são produzidas e

reproduzidas identidades e ideologias das quais o sujeito se apropria e reproduz de

acordo com sua experiência de vida. Assim, partindo deste contexto apresentado,

acredita-se que a saga Crepúsculo seja uma narrativa que segue a lógica transmidiática.

No primeiro capítulo, intitulado “Cibercultura: a cultura entrelaçada, hibridizada

e atravessada”, apresento considerações teóricas de estudiosos, das mídias, buscando

evidenciar as diferentes culturas e como se relacionam na contemporaneidade todas as

vertentes interligadas às culturas juvenis e a recepção.

No segundo capítulo “O fenômeno cultural chamado de saga Crepúsculo”, traço

o percurso da saga, desde o surgimento do livro impresso até a sua versão digital e seus

desdobramentos nas mídias de massa, ou seja, a ambiência da série e sua propagação

transmidiada pelo mundo.

No terceiro capítulo, “Transmidiação e produção de sentidos”, apresento minha

pesquisa, as vias metodológicas, que são multimodais, o grupo focal e um retrato do seu

perfil e atuação, almejando alcançar, desse modo, os efeitos de sentidos.

As considerações finais, sempre em devir, são tecidas com os resultados obtidos

através de interação e interatividade, verificando o devir dos produtos mediáticos e suas

construções nas culturas juvenis. Segundo Fragoso (2001), a interatividade tende a

chamar a atenção do receptor para a pré-seleção inerente a todo processo de produção

midiática. Talvez esse potencial para evidenciar a arbitrariedade da produção, e o papel

fundamentalmente ativo do receptor em quaisquer processos midiáticos, seja a mais

valiosa contribuição que a interatividade tem a oferecer.

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CAPÍTULO I: Cibercultura e Culturas

1. Cibercultura: a cultura entrelaçada, hibridizada e atravessada

Em sintonia com as tendências da pós-modernidade, em um contexto

singularmente juvenil, neste primeiro capitulo, apresento alguns conhecimentos sobre a

cultura na modernidade e na pós-modernidade. Trago alguns autores que fazem esse

diálogo apurado sobre a temática no que se refere às culturas e suas implicações.

Para Canclini (2006), a pós-modernidade é entendida não como uma etapa ou

tendência que viria a substituir o mundo moderno, mas com o caráter de problematizar

os vínculos e equívocos que esta estabelece com as contradições que pretende excluir ou

superar para se constituir.

O autor identifica na modernidade dois processos distintos, porém,

complementares, de desarticulação cultural: o descolecionamento e a

desterritorialização. É com esse olhar que a pesquisa pretende responder a seguinte

pergunta: quais são os fatores que contribuem para o desdobramento da transmidiação

dos livros da saga Crepúsculo da autora Stephenie Meyer? A primeira proposta de

Canclini incide na recusa pós-moderna da produção de bens culturais colecionáveis, o

que seria um sintoma mais claro da desconstituição das classificações que distinguiam o

culto do popular e ambos do massivo.

Diminui, cada vez mais, a possibilidade de se ser culto por conhecer apenas as

chamadas “grandes obras”; ao mesmo tempo, a condição para ser popular não reside

mais no conhecimento dos bens produzidos por uma comunidade relativamente fechada.

Esta problemática, segundo Deleuze e Guattari (2006), conecta e proporciona a

interação, em uma sociedade rizomática, de todos os pontos.

Canclini (2006, p. 303) retoma as ideias de Walter Benjamim, ao assegurar que

o intelectual pós-moderno, forma-se tendo como base sua biblioteca privada, onde

livros se misturam com recortes de jornais, e informações fragmentárias são encontradas

no “chão regado de papéis disseminados”.

Canclini não considerava os dispositivos tecnológicos, como a fotocopiadora, o

videocassete e o videogame, cultos ou populares, pois, para ele as coleções não se

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perderiam e com elas, consequentemente, as referências semânticas e históricas que

ancoravam seu sentido. Neste novo século, percebe-se a evolução tecnológica, pois

todos os dias novas máquinas modernas são inseridas no mercado. Muitos jovens

permeiam as novidades das culturas híbridas, sendo para muitos a extensão do próprio

corpo e do existir.

O uso do primeiro dispositivo, descolecionamento, agregado às ideias de

Canclini, garante a possibilidade do manejo mais livre e fragmentário dos textos e do

saber; o segundo, desterritorialização, permite a articulação de elementos

tradicionalmente opostos nas produções audiovisuais: o nacional e o estrangeiro, o lazer

e o trabalho, a política e a ficção etc. Canclini (2006, p.307) ainda cita um terceiro

dispositivo, desmaterialização, que desmaterializa e descorporifica o perigo, “dando-nos

unicamente o prazer de ganhar dos outros ou a possibilidade, ao sermos derrotados, de

que tudo fique na perda de moedas numa máquina”.

O segundo processo, para Néstor García Canclini, o da desterritorializacão,

constitui-se como o mais radical significado do ingresso na modernidade. Com o

interesse de comprovar o fenômeno da desterritorialização, o autor menciona a

transnacionalização dos mercados simbólicos e as migrações. Nestes termos,

desconstrói os antagonismos, colonizador X colonizado, nacionalista X cosmopolita e

enfatiza a descentralização das empresas, a disseminação dos produtos simbólicos por

meio da eletrônica e da telemática.

O uso de satélites e computadores na difusão cultural, também, impele que se

visualizem os confrontos dos países periféricos como combates frontais com nações

geograficamente definidas. Além disso, a difusão tecnológica permite a países

dependentes registrarem um desempenho notável de suas exportações culturais. É

notório, nos últimos tempos, um crescimento da produção cinematográfica e publicitária

no Brasil.

Outro fator relevante para caracterizar a desterritorialização é o que o autor

chama de migrações multidirecionais e salienta a frequência cada vez maior da

realidade diaspórica. Nesta situação, Canclini relata sobre os conflitos interculturais em

Tijuana, fronteira entre o México e os Estados Unidos, que, “[...] várias vezes pensei

que essa cidade é, ao lado de New York, um dos maiores laboratórios da pós-

modernidade” (2006, p. 315).

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Por vezes, durante a pesquisa, vislumbro insights referentes à saga Crepúsculo.

É pertinente a ideia de que se não fosse originária dos Estados Unidos não teria uma

força representativa enquanto produção de artefato cultural. É perceptível que, no

lançamento da obra, houve repercussão mundial; jovens foram motivados a aprender

outro idioma, precisamente o inglês, para se sentirem parte integrante do processo e do

fenômeno cultural.

Ao observar a história da cultura precedente, percebe-se que existe uma

constante oscilação entre perspectivas de aperfeiçoar e mudanças de direção. É nesta

dinâmica de tentar entender esse desdobramento das transmídias, a partir da saga

Crepúsculo e nas múltiplas ofertas de reflexões e pesquisas, que me pareceu necessário

pensar no conhecimento comum, sobretudo em que os jovens costumam fazer e o que

gostavam de criar em tempos anteriores.

Se fosse possível recontar os tempos, iriam certamente aparecer os jovens, a

partir dos anos 60, que pintavam a cara e saiam nas ruas para as manifestações, os

grupos que criativamente e com coragem, enfrentavam os poderes públicos da ditadura

militar dentre outras formas de manifestações.

Muitos jovens viram suas vidas destinadas a imitar pessoas que eram ícones de

determinadas gerações. Estes ídolos eram seguidos por despertar no grupo um gosto,

uma idolatria pelos ideais e sonhos de revolução. Esse tempo da vanguarda prolonga-se

nos desdobramentos em torno da saga e depara-se com situações semelhantes que fazem

parte da memória.

Por certo período, estabeleceu-se na cultura muitos ídolos que permitiam o uso

dos seus adereços, suas cores, seus estilos. Hoje, estes mesmos estilos, se misturam com

outras vertentes. Quando Maffesoli (2007) lança essas reflexões, comprova o modo da

construção de cultura.

Maffesoli diz que o que constitui cultura é a opinião gerada pelo pensamento das

ruas e das praças, que são ingredientes essenciais do cimento emocional da socialidade.

Somente a posteriori elabora-se, então, o conhecimento erudito. Pode-se citar a

distinção de Fernando Dumont, quando diz de (uma) “cultura primeira”, na qual se está

imerso, sem com isso preocupar-se, e de (uma) “cultura segunda”, que agrega os

grupos. No quadro de interesses desta pesquisa, a primeira das culturas citadas é de

alguma forma, a ambiência, o “banho nutriz” de toda vida em sociedade – e que ela faz

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nascer (ou pelo menos, permite a eclosão) de diversas tradições, que somente podem

perdurar mantendo-se fielmente ligadas à matriz comum.

Há, portanto, tantas tradições específicas quantos forem os grupos. Os grupos

dos jovens que se interessam pela leitura e produção a partir da saga Crepúsculo se

inserem parcial ou totalmente nela. Do mesmo modo que o mito é uma “encruzilhada”

metalinguística ou meta-histórica (H. CORBIN, G. DURAND E LÉVI-STRAUSS), o

estilo cotidiano constitui-se em um “cruzamento” de ações e palavras que, para ser

descrito, requer uma multiplicidade de painéis indicadores que estejam aptos a situá-lo

de maneira tão complexa quanto possível. (Maffesoli, 2007, p. 190).

Possivelmente é o que melhor traduz o tempo mítico, e, como lembra G. Durand,

sua principal característica é a de fazer “sair da unidimensionalidade da história cega,

para situar num universo descontínuo”. Entre esta “einsteinização” do tempo e o retorno

do cíclico, há apenas um passo – do mesmo modo como há múltiplas passagens entre o

mito e o presente. (Maffesoli, 2007, p.176)

1.1. As juventudes e a formatação da nova cultura

Com ênfase das diversidades e das diferenças, os jovens são como sujeitos de

direitos que vivem e se constituem na contemporaneidade em complexos contextos

sociais e comunicativos, construídos histórica e culturalmente, mediados por

significações sociais de seu mundo.

Para tratar tais questões é importante retomar as intuições de pensadores

contemporâneos, a exemplo de Edgar Morin (2002; 2003), que já alertava, desde as

décadas de 1960 e 1970, para um fenômeno social que se torna mais visível, a partir da

década de 1950 do século XX, e que hoje se expande em escala global, dada a profusão

da indústria cultural e da cultura veiculada pelos meios de comunicação de massa.

Trata-se da cultura de massas, assentada nos ideais de consumo e que promove

uma espécie de segunda juvenilização da sociedade.

Esta cultura, segundo Morin (2002, p.153), se ancora na trindade amor, beleza e

juventude. O cinema, a publicidade, a TV, o rádio, as novas tecnologias da comunicação

e da informação são os meios responsáveis por sua veiculação. Tais meios assumem

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uma centralidade na construção dos novos mitos, imagens, modelos de comportamento,

ideais de felicidade e valores que irão povoar o imaginário social, definindo como tipos

ideais de homem e de mulher aqueles considerados jovens, belos e sedutores.

A tendência de juvenilização da sociedade decorre, assim, da transformação da

adolescência em ideal social estetizado quer para as crianças, quer para os adultos e

demais grupos etários. O novo modelo de comportamento que de certa maneira assume

a liderança na contemporaneidade.

Abad (2003b) contribui com essa discussão quando apresenta a diferença entre

a condição e a situação juvenil, sendo a primeira, o modo como uma sociedade constitui

e significa o momento do ciclo de vida, e a segunda, a situação que traduz os diferentes

percursos que estes jovens experimentam com base nos mais diversos recortes: de

classe, gênero e etnia.

Conforme Abad (2003a, p. 24), essa condição juvenil, hoje, é legitimada para

além da questão etária e biológica por alguns fatores, como o fenômeno do alargamento

do período da juventude, podendo-se dizer que “a juventude se prolonga até depois dos

30 anos, o que significa quase um terço da vida, e um terço da população tem o rótulo,

impreciso e convencional como todos, mas simbolicamente muito poderoso”.

O autor destaca, ainda, a descontinuidade no processo linear, simétrico e

ordenado da juventude pelo circuito família-escola-trabalho-emprego no mundo adulto,

bem como a desinstitucionalização que lhe possibilitaria certa autonomia, a qual sugeria

experiências vitais precoces.

Na cultura contemporânea nos deparamos com a juventude que cria novos

espaços de habitação e coabitação, novas formas de relacionamentos e outros

ecossistemas comunicacionais. Se a pesquisa está voltada para os jovens seguidores da

saga Crepúsculo, então, é preciso levar em consideração novos espaços, novos

caminhos de aprendizagem e sistemas de comunicação, pois suas convicções acerca da

vida e da busca pela felicidade desafiam horizontes.

Segundo Cogo e Brignol (2010), a centralidade que a esfera midiática assume na

vida cotidiana e nas relações sociais vem sendo discutida como uma importante

reconfiguração com implicações de diversas ordens, inclusive nas relações de tempo e

espaço e nas vivências identitárias. E seguem a discussão afirmando que as mídias

penetram todas as instâncias da vida social, e estão no foco das discussões sobre

globalização, mundialização da cultura e aceleração dos fluxos informacionais, sendo

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apontadas como protagonistas de mudanças nas interações sociais e nas formas de

reconhecimento.

Freire Filho (2008) observa que a juventude, por mais que incompreendida e

desacreditada em algum momento da história, rechaçada em suas criações culturais,

engendra um confronto com a geração que o precede, e é entendida, por ela, como

incapaz de fazer uso dos meios racionais para construir e constituir suas próprias

escolhas. Os antecessores creditam ser sua responsabilidade tutelar a juventude. Mas os

jovens acabam por afirmar tais escolhas, cedo ou tarde, modificando os cenários

culturais ao contestá-los. No entanto, as mídias cooptam essas, em príncipio,

“revoluções”, adaptando-se a elas e tornando-as artefatos culturais destituídos do seu

impacto inaugural.

Não se pode substimar a importância histórica das velhas e novas mídias nos processos de configurção de modelos ideais de subjetividade juvenil e de seus contrapontos negativos (a instauração da lei produz, necessariamente, os fora-da-lei), desde que a linha entre a juventude e a maturidade se tornou mais refinida, vigiada e democraticamente aplicada dentro dos países industrializados na virada do século XX (FREIRE FILHO, 2008, p. 38).

Na contemporaneidade, essa relação juventude, mídia e dispositivos de

interatividade e interação se complexificou.

Os jovens e adolescentes – os nativos digitais – filhos da tecnologia, vivem,

pensam, agem, convivem e habitam simultaneamente diversas redes. Expõem-se,

constroem opiniões, manifestam seus sentimentos e emoções, em uma nova lógica de

privacidade no Orkut, Twitter, blogs, Youtube, MSN, Facebook, Myspace. Confere-lhes

autonomia na construção de suas cosmovisões e nas transmidiações. São muitas as

inquietações, angústias e desejos na busca de perceber o comportamento destes jovens

nos ecossistemas comunicacionais ou num viés que integre os adolescentes que seguem

a saga Crepúsculo na cibercultura.

Lemos é perspicaz ao questionar o que as comunidades interativas on-line serão,

pois, diz:

Na maioria dos campos elas consistirão de membros separados geograficamente, às vezes agrupados em pequenas agregações, às vezes trabalhando individualmente. Elas serão comunidades não de localidades comuns, mas de interesse comum. (LEMOS, 2008, p.104)

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É viável e coerente este raciocínio, pois se percebe que os jovens, membros de

comunidades virtuais, interagem com rapidez e individualidade simultaneamente.

Para compreender a cibercultura, é necessário saber como se originou, e

entendê-la para assimilar que a cultura faz as articulações com todas as gerações e

possibilita a convivência no sentido de aprimorar as intermídias. Para o autor André

Lemos (2008, p.101) a cibercultura surge com os impactos socioculturais da

microinformática.

O que é importante vai além, ultrapassa a questão tecnológica, o que marca a

cibercultura não é somente o potencial das novas tecnologias, mas uma atitude.

No que diz respeito à cultura, o autor Michel Maffesoli (2001, p. 75) contribui

no sentido de aumentar o vínculo enquanto cultura da contemporaneidade e ressalta: “a

cultura é um conjunto de elementos e de fenômenos passíveis de descrição (...) o

imaginário tem, além disso, algo de imponderável”.

O imaginário para Maffesoli é o estado de espírito transfigurador, que

caracteriza a “errância” de um povo.

A cultura pode ser identificada de forma precisa, seja por meio das grandes obras da cultura, no sentido restrito do termo, literatura, música, ou, no sentido amplo, antropológico, os fatos da vida cotidiana, as formas de organização de uma sociedade, os costumes, as maneiras de vestir-se, de produzir, etc. No imaginário permanece uma dimensão ambiental, uma matriz, uma atmosfera, aquilo que Walter Benjamin chama de aura. O imaginário é uma força social de ordem espiritual, uma construção mental, que se mantém ambígua, perceptível, mas não qualificável (MAFFESOLI, 2001, 75).

Estas contribuições fazem parte de um nó dessa grande rede que pretende

entender e navegar nos seus outros nós.

Deleuze e Guattari (2000, p. 24) apostam na ideia do rizoma, caracterizado por

sua conectividade, que seria uma maneira de expressar as multiplicidades sem ter que

ligá-las à unidade. Para eles, é importante ressaltar que “existem estruturas de árvore ou

de raízes nos rizomas, mas, inversamente, um galho de árvore ou uma divisão de raiz

podem recomeçar a brotar um rizoma”. Lévy (1999) enfatiza que na web não há

hierarquia absoluta, mas cada site é um agente de seleção, de bifurcação ou de

hierarquização parcial; os usuários devem reconstruir suas totalidades parciais de acordo

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com suas preferências e necessidades, pois o advento do ciberespaço não significa que

tudo pode ser acessado, mas sim, que o “todo” está fora de alcance.

Continuando na mesma discussão, a autora Lúcia Santaella propõe a indagação,

para si e também para todos interligados por essa cultura das mídias, se seria pertinente

pensar nesta interligação, onde existem várias características e supõe uma diversidade.

Santaella expõe o seguinte raciocínio:

Enfim, trata-se de uma cultura do efêmero, do passageiro, do fugaz. Cultura que produz nostalgia. Sentimos nostalgia dos filmes dos anos 60, por exemplo, mas não dizemos que temos nostalgia do construtivismo ou dos romances de Dostoivski, embora haja casos em que a nostalgia pode passar a ser imposta e forçosamente sentida, quando um estilo nas artes é tomado como objeto do circuito das mídias. Neste caso, no entanto, já se trata de uma mutação que a cultura das mídias impõe sobre a cultura tradicional (SANTAELLA, 1992, p.19).

Segundo a autora, a cultura das mídias tem um novo modo de ser.

Na cultura das mídias, quanto mais a mensagem tender à brevidade, mais ela será tachada de superficial. Não se pode saber até que ponto esse tipo de julgamento não passa de um vício, enquanto não se levar em conta o fato de que, em primeiro lugar, a condensação é um tipo de organização de linguagem que visa a reter de uma mensagem apenas seus traços essenciais e fundamentais, o que, aliás, apresenta uma função altamente mnemônica e de retenção rápida da informação. (Ibidem, p.21)

Em um espaço-tempo onde a cultura tem diversos rostos, falas, costumes e

códigos, este estudo prefere indagar a questão da cultura enquanto espaço de

interação/interatividade em um panorama dos blogs, cinemas, livros e revistas da saga

Crepúsculo; no qual o foco é a trasmídia livro/filme em um viés juvenil, um circuito

que indica os espaços juvenis como apropriação e produção de sentidos.

No campo juvenil muitas indicativas seriam possíveis, porém vamos nos deter

nos jovens enquanto pertecentes ao grupo dos fãs da saga Crespúculo e acompanhar o

prrocesso de reconstrução de sentidos nesses pátios digitais e ao mesmo tempo nos

eventos produzidos entorno da saga.

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CAPÍTULO II: Eu tinha um segredo que não era meu

2. A saga Crepúsculo no ciberespaço: local das juventudes

A abertura de novos cenários de comunicação proporciona o desenvolvimento

da interconexão e a criação de comunidades virtuais que se multiplicam a cada dia,

construindo, desse modo, um novo cenário. Neste segundo capítulo apresento os

múltiplos desdobramentos que sofreu a saga em todo o mundo.

Destaco as possibilidades de produzir e recriar tomando por base os recursos

tecnológicos e o enredo da saga caracterizada pela conexão, interação e interatividade

entre os sujeitos.

Em meio aos barulhos surgem sinais do nascimento de uma nova geração. Ainda

que seja temporária, é chamada de a Geração Content ou “Geração do Conteúdo”. Pode

ser visualizada como a geração da Conectividade, da Conexão, da Coprodução, das

Comunidades Virtuais, da Colaboração, de um novo Comportamento. É uma geração

ativa, que produz e veicula o seu próprio conteúdo. A “geração C” revisita as redes

sociais. Nasce sob a “égide” do computador e da internet. Seria uma espécie de

hipercomplexidade na era da mobilidade.

Para Recuero (2010) os sites de redes sociais não são algo novo, “mas uma

consequência da apropriação das ferramentas de comunicação mediada pelo

computador pelos autores sociais”. Nesse sentido o modo de pensar passa pela tessitura

dos “nós” de conexão. Percebe-se que suas atitudes se consolidam na interação e no alto

poder de interatividade. Estas gerações por sua vez, criam novos espaços de habitação e

coabitação, novas formas de relacionar-se seja na presencialidade como na não-

presencialidade. Entende-se a saga “Crepúsculo” como nova ambiência, onde muitos

jovens encontraram espaço para conseguir produzir e modificar as cenas, gerando assim

seu próprio universo de criação.

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2.1. Crepúsculo: um sonho contado em livros

Crepúsculo (Twilight, na versão original), o primeiro livro da saga “Luz e

Escuridão”, editado em 2005 nos Estados Unidos, é considerado um caso de sucesso

mundial e comparado ao fenômeno Harry Potter.

A escritora Stephenie Meyer, começou a escrever o primeiro livro do romance

em junho de 2003, após um sonho; ela se sentou na frente do computador e tentando

recordar-se de tudo, iniciou a história que agora apaixona leitores de todas as idades e

de todos os lugares do mundo. Chama as personagens de “ele” e “ela”. A partir daí,

escreveu todos os dias, até chegar ao ponto final, que mal consegue deixar Forks, a

cidade onde tudo acontece.

Depois de muitos fãs de Harry Potter terem chorado o fim da saga, as esperanças

voltam-se agora para “Crepúsculo”, o novo fenômeno que atrai milhões de fãs. Apesar

da história não ser nada semelhante, o fato de envolver adolescentes e mundos

ficcionais, está a colocá-la no nível de Harry Potter, um dos fenômenos recentes

mediáticos.

Crepúsculo é universal, assim como Harry Potter. A autora Stephenie Meyer foi

eleita em 2005 – o de sua revelação – uma das 25 personalidades do ano pela revista

americana “Entertainment Weekly”, pelo enorme sucesso que seus livros atingiram.

Porém, engana-se quem pensa que são histórias para adolescentes, como aconteceu com

os livros de J.K. Rowling1. Os adultos, também, se apaixonaram pelos vampiros de

Stephenie Meyer, passando, assim, os livros das mãos dos filhos para os pais ou avôs.

Crepúsculo se tornou um exemplo de literatura transversal de todas as idades,

ultrapassando a faixa etária dos 30 anos, sendo a maioria dos leitores mulheres. Mas o

foco desta pesquisa é entender o processo da transmidiação que envolve a saga desde o

livro e seus desdobramentos nas mídias de massa até a internet.

1 Joanne Rowling OBE, conhecida como J. K. Rowling (Yate, 31 de julho de 1965), é uma escritora britânica de ficção, autora dos sete livros da famosa e premiada série Harry Potter, e de três outros pequenos livros relacionados à personagem.

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O fascínio dos romances sobre os vampiros havia regressado. Desde “Drácula”2,

de Bram Stoker, que nenhum outro tinha se igualado em repercussão àquele clássico do

século XIX.

Nunca pensei muito em como morreria – embora nos últimos meses tivesse motivos suficientes para isso – mas, mesmo que tivesse pensado, não teria imaginado que seria assim. (…) Sem dúvida, era uma boa forma de morrer, no lugar de outra pessoa, de alguém que eu amava. Nobre, até. Isso devia contar para alguma coisa (Crepúsculo, 2005).

Quando Isabella Swan se muda para a melancólica cidade de Forks e conhece o

misterioso e atraente Edward Cullen, sua vida dá uma guinada emocionante e

apavorante. Com corpo de atleta, olhos dourados, voz hipnótica e dons sobrenaturais,

Edward é ao mesmo tempo irresistível e impenetrável. Até aquele momento, ele tem

conseguido ocultar sua verdadeira identidade, mas Bella está decidida a descobrir seu

segredo sombrio.

O que Bella não percebe, é que quanto mais se aproxima dele, maior é o perigo

para si e para os que a cercam. E pode ser tarde demais para voltar atrás.

Já sabe como me sinto, é claro. Eu estou aqui… O que, numa tradução grosseira, significa que eu preferia estar morta ficar longe de você (Crepúsculo, pág. 21).

Combinando sensualidade e mistério, romance e fantasia, Stephenie Meyer

produz uma trama de extraordinário suspense neste primeiro volume da série que

marcou sua estréia literária. Tremendamente sedutor, Crepúsculo mantém seus leitores

ligados até a última página: “E então o leão se apaixonou pelo cordeiro…” (Crepúsculo,

p. 21).

2 No século XV, um líder e guerreiro dos Cárpatos renega a Igreja quando esta se recusa a enterrar em solo sagrado a mulher que amava, pois ela se matou acreditando que ele estava morto. Assim, perambula através dos séculos como um morto-vivo e, ao contratar um advogado, descobre que a noiva deste é a reencarnação da sua amada. Deste modo, o deixa preso com suas “noivas” e vai para a Londres da Inglaterra vitoriana, no intuito de encontrar a mulher que sempre amou através dos séculos. Um dos filmes mais famosos baseado na obra data de 1992 e foi dirigido por Francis Ford Coppola.

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Nos Estados Unidos, a editora que apostou na obra é a Little Brown and

Company; os artistas que fazem o designer da capa são Gail Doobinin e Roger

Hagadone; o lançamento foi no dia 05 de outubro de 2005; e o livro foi composto por

24 capítulos e epílogo, contendo 498 páginas.

Aqui no Brasil, a editora que traduziu o romance foi a Intrínseca Ryta Vinagre,

os mesmos artistas que fizeram a arte da capa original incumbiram-se da versão

brasileira, mas o lançamento do livro teve um atraso considerável de quase três anos.

Chegou às livrarias brasileiras no dia 02 de abril de 2008, com os mesmos números de

capítulos, porém com apenas 390 páginas.

A autora revelou não conseguir escrever sem ouvir músicas. O que possibilitou a

série ser uma experiência visual como um filme, e levou-a a selecionar suas músicas

favoritas para Crepúsculo, como se fossem a trilha sonora do livro.

No Brasil, os pátios das escolas, as livrarias, as conversas no Messenger, não

seriam mais as mesmas. Um novo momento desabrochou na vida dos adolescentes e

jovens, despertando curiosidades, desejos de ser um seguidor da saga levando em

consideração toda forma de apropriação.

A respeito da leitura assídua do livro, seja impresso ou virtual, o que chama mais

atenção é a modalidade. Se os grupos aderissem à leitura em inglês, todos os membros

fariam um esforço para seguir de maneira fiel. É perceptível nesse período, um grande

interesse em aprender outro idioma, no caso o inglês. Dessa forma, o acesso ao site

oficial da Stephenie Meyer era facilitado, pois compreendiam as postagens e obtinham

informações suficientes para interagir.

Uma característica desta fase é a leitura. Começa a corrida para ler a série por

completo, neste momento os grupos se dividem, não apenas por informações e sim por

livros lidos e o maior número de assimilações possíveis ao que se refere à saga.

Por ser uma obra literária destinada ao público juvenil, percebe-se uma

identificação, onde muitos fãs dos livros de Harry Potter começaram a ler os livros da

saga e acompanhar blogs, sites para fazer comparações, ver qual autora lidera na

questão do discurso, da poética e da criatividade.

Em relação ao livro, é importante ressaltar o acesso nas escolas e, sobretudo,

entre os adolescentes e jovens que nunca tiveram gosto pela leitura. Apesar de

volumosos, os jovens finalizavam as leituras rapidamente, contrariando as indicações

literárias propostas pela educação escolar, as quais relutam em realizar. Muitos deles

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reliam na expectativa de descobrir algo novo, de encontrar detalhes diferentes, soluções

que respondessem às suas inquietudes como leitores e ao mesmo tempo fãs e seguidores

da saga.

É um livro que não ficou apenas em dois países; a obra percorreu o mundo. Em

alguns países sofreu algumas alterações no designer da capa.

Alemanha

China

Coreia–1

Coreia–2

EUA–EdiçãoEspecial

Dinamarca

Holanda

Indonésia

Japão 1

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República Tcheca

Rússia

Brasil

Figura 1 – Capas dos livros Crepúsculo nos diversos países.

Alguns prêmios que a saga recebeu:

• New York Times Editor’s Choice.

• Um dos Melhores Livros Infantis de 2005 da Publishers Weekly.

• Melhor Livro do Ano da Publishers Weekly.

• Um dos “Top 10 Livros para Jovens Adultos” e “Top 10 Livros para Leitores

Relutantes” da American Library Association”.

• Um dos “Melhores Livros de 2005” do School Library Journal.

• “Melhor Livro da Década… Até Então” da Amazon.com.

Uma das curiosidades sobre o livro em sua primeira edição está na maçã, que

representa a fruta proibida, presente no livro de Gênesis. Ela simboliza o amor proibido

de Bella e Edward, a sabedoria de Bella, o que é o bem e o mal, assim como sua escolha

de provar ou não a “fruta proibida”, Edward.

Stephenie Meyer escreveu Crepúsculo apenas para seu divertimento, e nunca

pretendeu publicá-lo de fato. Foi sua irmã quem incentivou a enviar o manuscrito a

agentes literários, após ler a história e ficar entusiasmada.

A autora escreveu 15 cartas: cinco não responderam, nove rejeitaram e a última

foi uma resposta positiva de Jodi Reamer da Writers House. Oito editoras concorreram

pelos direitos autorais de Crepúsculo em um leilão realizado em 2003. A Little, Brown

and Company ofereceu originalmente $300 mil, mas o agente literário de Meyer pediu

$1 milhão.

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A editora norte-americana Little, Brown and Company pagou $750 mil pelos

direitos de publicação dos três primeiros livros da série de Stephenie Meyer. Crepúsculo

foi publicado em 2005 com uma tiragem de 75 mil cópias nos Estados Unidos.

Os direitos autorais do livro foram vendidos para 26 países. O primeiro livro

apareceu na 5ª posição da lista dos Best Seller do New York Times com apenas um mês

após seu lançamento, e logo atingiu o primeiro lugar.

Crepúsculo apareceu na 26ª posição da lista “Livros Mais Vendidos dos Últimos

15 Anos” do USA Today, em outubro de 2008.

2.2. Do impresso às telas de cinemas

Baseado na série literária adolescente homônima, o filme “Crepúsculo” estreia

nos EUA com o mesmo nome que chega a todas as partes do mundo. É um evento

considerado de sucesso mundial e comparado a Harry Potter. O lançamento do filme

nos Estados Unidos ocorreu em dia 21 de novembro de 2008 e as salas dos cinemas

encheram-se de fãs para verem seus vampiros preferidos.

Em sua estreia, os números falam por si. Segundo a revista “People”3, duas mil

sessões de cinema estavam completamente esgotadas. Só no fim de semana de estreia, o

filme obteve perto de 70,55 milhões de dólares (cerca de 57 milhões de euros), impondo

recorde. No Brasil, foi lançado apenas no dia 19 de dezembro e teve a mesma audiência

dos fãs em todos os cinemas, garantindo assim, recorde de público por semanas

consecutivas.

A trilha sonora do filme “Crepúsculo” (“Twilight”, em inglês) tirou “Black Ice”,

novo álbum da banda de hard rock AC/DC do topo das paradas norte-americanas. O

disco do grupo australiano estava há duas semanas em primeiro lugar nos EUA.

3 People é uma revista semanal norte-americana fundada em 1974 que publica notícias sobre cultura popular e celebridades. A publicação talvez seja mais conhecida pelas suas edições especiais anuais que listam "Os 50 Mais Belos" e "Os Mais Bem Vestidos". É publicada pela Time, Inc., uma divisão da Time Warner.

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O filme mostra Isabella Swan (Kristen Stewart), uma garota que se muda da

ensolarada cidade de Phoenix para a chuvosa Forks, no norte do país, para morar com o

pai, o chefe de polícia Charlie. Bella Swan se apaixona por um garoto da escola,

Edward Cullen, estranho e reservado jovem, que vai acabar se revelando um vampiro.

A série de livros “Crepúsculo” é um best-seller internacional, o filme trilhou o

mesmo caminho, contando com Catherine Hardwicke (“Aos treze”) na direção e com a

novata Kristen Stewart como Isabella e Robert Pattinson (o Cedric Diggory da série

“Harry Potter”) como Edward. A trilha sonora do filme traz bandas como Paramore,

Muse, Iron & Wine e Perry Farrell.

Crepúsculo é a maior estreia nas bilheterias de um filme dirigido por uma

mulher na história do cinema. O ator Henry Cavill, já havia sido escolhido pela

escritora, para interpretar Edward, mas quando as gravações começaram, perceberam

que ele estava fora dos padrões para ser um jovem de 17 anos; então, o convidaram para

ser Carlisle Cullen, mas ele não aceitou. Mais de três mil atores fizeram teste para o

papel de Edward. Os fãs queriam Tom Welling de “Smallville” para o vampiro.

Quando Meyer começou a escrever o livro, não tinha batizado os personagens

como Edward e Bella. Ela usava apenas “ele” e “ela”. A escritora conta que teve muita

dificuldade para decidir os nomes dos protagonistas. Para o vampiro, ela se inspirou em

livros de Jane Austen, e para Bella usou o nome que daria à própria filha. No filme,

quando Bella procura na internet artigos sobre vampiros e encontra o link para a livraria

em Port Angeles, o resultado que encontra é Little Brown, que é a editora de

ascendência do Twilight.

Na cafeteria, Bella derruba uma maçã que Edward pega antes que caia no chão;

a diretora do filme contou nos extras do DVD especial que esta cena precisou de 13

takes pra ser feita. Eles usaram o Blue Ray de Crepúsculo para ajudá-los com idade, cor,

textura e detalhes da casa e quarto de Bella.

2.3. Agora nasce uma Lua Nova

Na obra de arte de Shakespeare, “Romeu e Julieta”, ato II, cena VI, “Estas

alegrias violentas têm fins violentos, falecendo no triunfo, como fogo e pólvora que num

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beijo se consomem” (Shakespeare). Com a citação desta obra imortal sobre jovens

amantes malfadados, Meyer abre as portas de Lua Nova, romance que dá continuidade à

saga Crepúsculo. As palavras são do frei Lourenço, dirigidas a Romeu, enquanto os

dois aguardam a chegada de Julieta para uma cerimônia secreta de casamento que o

religioso concordou em realizar.

O temor visionário de Lourenço reverbera as desafiadoras palavras de Romeu

sobre sua bem-amada: “E que a morte, a devoradora do amor, venha fazer aquilo que

sua audácia for capaz. Para mim já é muito poder chamá-la de minha”. (Shakespeare).

No entanto, assim como os infelizes amantes de Shakespeare, Edward Cullen e Bella

Swan não levam em consideração “a morte devoradora do amor” e o abismo que os

separam.

Edward, um vampiro eternamente com 17 anos, está apaixonado por Bella, que,

com a proximidade de seus 18 anos, ficaria feliz em se tornar uma vampira se Edward

concordasse em transformá-la. Mesmo que haja um rompimento, Crepúsculo termina

com os dois trocando juras de eterno amor.

Para Bella é mais uma simples festa de aniversário. Trata-se de sua alegre

aceitação em um admirável mundo novo e do desenrolar de sua feliz história de amor.

Mas basta que Bella corte o dedo com um papel e que surja uma gotícula de sangue,

para que o apetite primitivo dos vampiros ali reunidos seja despertado.

No livro é descrita a separação de Bella e Edward; ele decide afastar-se e deixá-

la. Bella lamenta-se: “Eu me parecia com uma lua perdida – meu planeta destruído em

algum cenário desolado de cinema-catástrofe – que continuava, apesar de tudo, a rodar

numa órbita muito estreita pelo espaço vazio que ficou ignorando as leis da gravidade”

(Lua Nova). Em relação ao lançamento nos Estados Unidos, ocorreu no dia 06 de

setembro de 2006, mantendo o contrato com a editora Little, Brown and Company, e

seus designers Gail Doobibin e John Grant. No segundo volume da saga, Lua Nova, os

números de páginas foram aumentados para 563, permanecendo os números de

capítulos. No Brasil mantiveram-se as mesmas empresas responsáveis pela divulgação e

venda; o lançamento foi no dia 27 de setembro de 2008, tendo apenas dois anos de

atraso – para os fãs algo positivo, pois no lançamento anterior aguardaram por três anos.

Parecia que eu estava presa num daqueles pesadelos apavorantes, onde é preciso correr até os pulmões explodirem, mas não se consegue obrigar o corpo a andar com rapidez suficiente. Mas isto não era um sonho e, ao

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contrário do pesadelo, eu não corria para salvar minha vida, corria para salvar uma coisa infinitamente mais preciosa. Hoje minha própria vida pouco significava para mim (Lua Nova).

Para Bella Swan, Edward Cullen é mais importante que a própria vida. Mas estar

apaixonada por um vampiro é mais perigoso do que Bella poderia imaginar. Edward

resgatara Bella das garras de um monstro cruel, mas, quando o amor dos dois ameaça

tudo o que lhes é próximo e querido, percebem que seus problemas podem estar apenas

começando. Tentando se recuperar de uma reviravolta da vida, Bella se depara com

ameaças que envolvem novas criaturas sobrenaturais; ela é levada a enfrentar dilemas e

desafios em cenários e situações surpreendentes.

Com arroubos de emoção, Lua Nova cria compulsão no leitor e renova a trama

repleta de impasses de altíssimos riscos. Legiões de leitores que ficaram em transe com

o best-seller Crepúsculo estão ávidos pela sequência da história de amor de Bella e

Edward. Apaixonante e cheia de reviravoltas formidáveis, a saga ganha ritmo ainda

mais intenso na segunda parte da série.

Assim como o primeiro livro, Lua Nova não fica para trás e percorre o mundo.

Alemanha

Coreia

Edição/Especial

Finlândia

Holanda

Japão–1

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34

Japão–2

Japão–3

Reino Unido

Rússia

Tailândia

Brasil

Figura 2 – Capa do livro Lua Nova em várias nacionalidades

Ao contrário do que se espera a capa e o nome “Lua Nova” não se referem aos

lobos, e sim ao momento em que o sol está do lado oposto ao da lua em referência ao

nosso planeta, fazendo com que o lado iluminado da lua não fique visível para a Terra.

Essas noites são conhecidas como mais escuras, e o livro “Lua Nova” é o período mais

sombrio da vida de Bella.

Eu estava meio adormecida, talvez mais, quando percebi o que o beijo dele me lembrou: Na primavera passada, quando precisou me deixar para desviar James de mim, Edward me deu um beijo de despedida, sem saber quando – ou se – nos veríamos outra vez. Este beijo teve o mesmo toque quase doloroso por um motivo que eu não conseguia perceber (Lua Nova, p. 46).

Ao finalizar Crepúsculo, Stephenie produziu múltiplos epílogos com centenas de

páginas, foi quando entendeu que não estava preparada para deixar de escrever sobre

Bella e Edward.

Começou a escrever uma sequência intitulada “Forever Dawn”, que falava sobre

o último ano de Bella no ensino médio. Quando descobriu que Crepúsculo iria ser

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publicado para os jovens, decidiu escrever o próximo livro para um público similar;

então, surgiu Lua Nova.

A tiragem inicial do segundo livro de Meyer nos Estados Unidos foi de 100 mil

cópias. Os pedidos pelo livro foram tantos que cópias desse volume estavam sendo

vendidas no eBay por mais de $380. Alguns prêmios conquistados pelo livro:

• Primeiro lugar na lista de Best Sellers do The New York Times.

• Indicado ao prêmio “Livros para Jovens Adultos” da Carolina do Sul (2008-

2009).

• Livro Sensação do Ano (2007.3|Children’s Literature Honor Book, 2007).

• Votação popular do “Library Association Young Reader” da Pacific Northwest

(2009).

• ALA Quick Picks em “Leitores Jovens Adultos Relutantes”.

Lua Nova conquistou imediatamente a primeira posição na lista dos livros

infantis mais vendidos do New York Times, desbancando autores infantis populares por

duas semanas consecutivas. O segundo livro da saga Twilight permaneceu no topo da

lista do New York Times por 11 semanas e passou um longo tempo dentro do Top 10.

O livro também permaneceu na lista dos mais vendidos do USA Today por mais

de 150 semanas; após entrar na lista, duas semanas depois de seu lançamento, pulou

rapidamente para o primeiro lugar. Segundo o Publishers Weekly informou em 2008,

Lua Nova vendeu 1,5 milhões de cópias nos Estados Unidos. Em outubro do mesmo

ano, o volume apareceu na 37ª posição da lista dos “Livros Mais Vendidos dos últimos

15 anos”. No Brasil sua vendagem foi de aproximadamente 140 mil exemplares.

2.4. Lua Nova chega aos cinemas

Sobre o lançamento desse filme, Stephenie Meyer falou para mais de 1.400 fãs,

como recorda Bohrer, sendo que apenas algumas centenas conseguiram se acomodar no

espaço reservado para recebê-los. O restante estava amontoado em volta da livraria.

Meyer comenta Lua Nova dizendo, “a maioria das meninas se apaixona uma

vez, se é que já se apaixonou, e quando acredita que existe uma única pessoa no

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universo que é perfeita para elas. A ideia de que possa existir mais de uma pessoa para

se amar e mais de um tipo de amor é difícil de compreender”. Lua Nova trata dessa

relação, da primeira decepção amorosa e do processo de superação. Esse sentimento,

uma pitada de decepção amorosa, supõe ser apenas o começo da jornada emocional de

Bella. Em Lua Nova, descobre-se que a vida continua, que outras pessoas podem se

tornar importantes; entra em cena o lobisomem Jacob Black, o jovem da tribo quileute

que a ajuda a ignorar o vazio emocional causado pela ausência de Edward.

Posteriormente, é revelado que ele é membro da matilha de lobos que se

metamorfoseiam.

Bella é ameaçada pelos vingativos vampiros de Crepúsculo; Laurent e Bella

viajam para a Itália para salvar Edward e enfrentar os Volturi, a antiga sociedade secreta

de vampiros que governa o mundo sombrio dessas criaturas. Nesse espaço vazio, nas

narrações do livro, Bella ouve apenas a voz de Edward em sua mente em circunstância

de perigo, porém no filme, Edward manifesta-se visualmente. No silêncio mortal, todos

os detalhes de repente se encaixam em uma explosão de intuição.

Em 2009, a sequência de Crepúsculo também foi lançada em versão

cinematográfica. Lua Nova chegou aos cinemas no mundo todo em 20 de novembro do

mesmo ano. Sucesso na estreia, o filme lucra nos primeiros três dias de exibição nos

EUA mais de 140 milhões de dólares e 258,8 milhões no mundo. Com esse recorde,

Lua Nova se consagrou como a terceira maior bilheteria de abertura.

Apreende-se outro contexto de Lua Nova para Crepúsculo, isto é, por causa da

partida de Edward e da entrada de Jacob, a frieza do vampiro é substituída pelo calor do

lobo. No filme nota-se uma popularidade, fãs começam a interferir nas produções,

sobretudo quem se apropria dos sites, revistas e blogs que informam tudo sobre a saga.

Especificamente no Brasil, a interferência ocorre pelas mídias: portal Twilight Brasil e

blogs relacionados, as revistas Capricho, Toda Teen, entre outras.

Os adolescentes e jovens se sentem mais familiarizados com a saga, se arriscam

na produção e interferem nos destinos dos personagens. De forma espontânea, de modo

individual e grupal, passam a se meter no texto, nas imagens e fazer ao seu modo as

suas escolhas.

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2.5. Eclipse: Bella entre vampiros e lobos

O regresso de Edward e sua família para Forks devolve a felicidade a Bella.

Entretanto, a pequena cidade que era pacata, será abalada pelo aparecimento de

Victória, ex-companheira de James, o vampiro que tentou matar Bella e foi destruído

pelos Cullen.

Victória retorna em busca de vingança e com isso vai criar um exército de

vampiros, os chamados “recém-criados”, para destruir Bella. Mas antes de Bella, muitas

pessoas desaparecem repentinamente ou aparecem mortas de formas trágicas. Neste

período, a legião de vampiros aumenta e aterroriza a pequena cidade de Forks.

E na parte da narrativa de Bella, durante o desenrolar do terceiro livro da série, há relatos de seu temor:

Ele me tomou nos braços num só movimento, como havia feito no estacionamento, e me beijou de novo. Esse beijo me assustou. Havia tensão demais, foi brusca demais a pressão de seus lábios nos meus – como se ele estivesse com medo de termos pouco tempo para nós dois. (Eclipse, 2009)

As narrativas são características do livro. Enquanto a cidade de Seattle é

assolada por uma sequência de assassinatos misteriosos, uma vampira maligna continua

sua busca por vingança. Bella encontra-se cercada de perigos outra vez.

Em meio a esta situação caótica, ela é forçada a escolher entre seu amor por

Edward e sua amizade com Jacob, sabendo que essa decisão tem o potencial para

reacender o conflito inacabável entre vampiros e lobisomens. Com a proximidade da

formatura, Bella tem mais uma decisão a tomar: viver ou morrer.

No esforço de salvar a vida da protagonista e evitar uma invasão em Forks, os

lobisomens de La Push estabelecem uma trégua ao conflito com os Cullen, e se unem

para acabar com a ameaça que ronda a tranquilidade estabelecida. Durante esse tempo

Bella se vê perturbada pelos seus sentimentos amorosos, ou seja, sente-se apaixonada

por Jacob, e diante dessas escolhas que deve fazer fica em pânico pelos próprios

pensamentos.

Os livros da saga se assemelham. O lançamento do livro Eclipse nos Estados

Unidos se deu no dia 07 de outubro de 2007; a mesma editora Little Brown and

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Company estava a cargo da publicação e na parte de designer permanecem Gail

Doobinin e Roger Hagadone. Desta vez o número de páginas aumentou para 629, que

foram dividas em 27 capítulos, desafio maior para os leitores da saga.

No Brasil, a data da estreia foi dia 16 de janeiro de 2009; a editora continua a

Intrínseca; a tradutora permanece Ryta Vinagre; e, na parte da arte visual continuam os

mesmos do lançamento original, porém os números de páginas são 446, contendo 27

capítulos. São dados que se modificam em pequenas linhas, mas prevalece a história

narrada para seus fãs.

As várias capas que percorreram o mundo:

Alemanha

Bulgária

China

Dinamarca

Eslovênia

Finlândia

França

Polônia

Suécia

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39

Tailândia

Turquia

Brasil

Figura 3 – Eclipse e suas capas em diversos países.

Para este terceiro livro foi conferido alguns prêmios:

• 1º lugar na lista dos mais vendidos do New York Times (2008).

• Book Sense Book of the Year (2008.3 | Children’s Literature Honor Book,

2008).

• Indicada ao Whitney Award na categoria Romance/Ficção Feminina (2007).

Alguns meses antes do lançamento de Eclipse, Meyer realizou uma “Festa de

Formatura Eclipse”, na Universidade do Estado de Arizona em parceria com a livraria

local e o departamento inglês da ASU. Os ingressos foram vendidos em sete horas, o

que levou a autora a realizar uma segunda festa no mesmo dia, cujos ingressos foram

vendidos em apenas quatro horas.

No evento, Meyer leu o primeiro capítulo de Eclipse, lançado no mesmo dia em

que a edição especial de “Lua Nova” chegou às prateleiras. Em uma maratona, a autora

embarcou em um tour e passou por 15 cidades para promover o livro. Publicou o

primeiro capítulo em seu website, postando na “citação do dia” dados sobre a história do

romance durante os 37 dias que antecederam o lançamento.

A fita partida da capa do livro evidencia a hora da escolha de Bella. Na trama a

garota precisa escolher entre seu amor por Edward e sua amizade com Jacob. A autora

acrescenta que a fita representa a ideia de que Bella é incapaz de cortar seus laços

completamente com a vida humana.

Em 25 de julho de 2008, a livraria Barnes & Noble de forma equivocada, enviou

algumas cópias do livro Eclipse antecipadamente para pessoas que o haviam comprado

na pré-venda. A livraria alegou ter sido um erro do computador, pois a loja era

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completamente informatizada. Devido a este vazamento, para prevenir que os spoilers4

dominassem a internet, muitos fóruns de fansites5 da série ficaram offline. Stephenie

Meyer também trancou os comentários de sua conta no MySpace pelo mesmo motivo.

O lançamento antecipado do livro ocorreu com a edição especial desse volume,

que incluía o primeiro capítulo e a arte da capa do livro subsequente, Amanhecer. A

edição especial estava prevista para chegar às lojas em 31 de maio de 2008, mas várias

cópias foram lançadas uma semana antes.

Eclipse foi publicado com tiragem inicial de um milhão de cópias. O livro

substituiu “Harry Potter e as Relíquias da Morte” de JK Rowling no topo das listas de

mais vendidos ao redor do mundo, incluindo a New York Times, mesmo o livro de

Rowling tendo sido lançado apenas duas semanas antes.

O terceiro livro da série saltou para a primeira posição na lista dos 150 livros

mais vendidos do USA Today, e se manteve por mais de 100 semanas. Depois, apareceu

no 45º lugar da lista dos “Livros Mais Vendidos dos Últimos 15 Anos” do mesmo

veículo, em outubro de 2008.

Para o jornal Time, “Stephenie Meyer imerge a página como uma artéria

cortada. (...) O modo como lida com a curiosidade do leitor, mantendo tensão e

controlando o fluxo de informações, é simplesmente excepcional. Cria compulsão no

leitor quase vampiresca”. Motivados por essas sensações os leitores aguardam o

lançamento nos cinemas.

2.6. Agora nas telas: Eclipse

No filme não é diferente. Não foi por acaso que as fotos dessas cenas caíram na

rede. Os seguidores da saga agradeceram e, desse modo, puderam de forma interativa

interferir e produzir seus próprios sonhos para o final da série. A cena mais badalada foi

o momento em que Jacob teve que aquecer Bella na barraca. Em Eclipse, o delírio das

4 Spoilers é quando algum site ou alguém revela fatos a respeito do conteúdo de determinado livro, filme, série ou jogo. O termo vem do inglês, mais precisamente está relacionado ao verbo “To Spoil”, que significa estragar. Numa tradução livre, spoiler faz referência ao famoso termo “estraga-prazeres”. 5 Fansite criação de sites de fãs para as celebridades.

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fãs ocorre com frequência quando Jacob fica sem camisa. Meninas fazem alvoroço,

parece que uma magia invade os cinemas, as páginas e os pôsteres.

Não tenha medo – murmurei. Nós pertencemos um ao outro. De repente fui dominada pela verdade de minhas palavras. Aquele momento era tão perfeito, tão certo, que não havia dúvidas. Seus braços me envolveram, apertando-me contra ele (...). Eu tinha a sensação de que cada terminação nervosa do meu corpo era um fio desencapado. Para sempre - concordou ele. (Eclipse)

A série que movimentou milhões de pessoas no mundo torna-se artefato cultural,

como diz Shah.

Um artefato cultural, para evitar qualquer confusão, pode ser claramente definido como um repositório vivo de significados compartilhados e produzidos por uma comunidade de ideias. Um artefato cultural é um símbolo de comunhão (no sentido não violento, não religioso da palavra). Um artefato cultural se torna infinitamente mutável e gera muitas autorreferências e narrativas mutuamente definidoras mais do que cria uma narrativa mestra linear. (SHAH, 2005, p. 116)

A estreia de “Eclipse” une mães e filhas apaixonadas pelo casal Bella e Edward

da saga Crepúsculo. O número se junta a outros recordes obtidos pelos filmes no Brasil,

como o de maior pré-estreia. Foram 200 mil espectadores nas sessões de meia-noite e

cinco da terça-feira, de maior número de salas, 692 cópias em 780 cinemas, e ainda com

maior vendagem de ingressos antecipados, 320 mil. Nos Estados Unidos, a aventura

vampiresca arrecadou US$ 68.5 milhões no dia de sua estreia.

Mesmo sendo recordistas de público e vendagem de livros, filmes e outros

produtos, o filme foi nomeado para receber o “Prêmio Framboesa de Ouro 20106” na

categoria de pior filme, assim como para piores atores e atriz, Robert Pattinson, Taylor

Lautner e Kristin Stewart, respectivamente.

6 Framboesa de Ouro (Razzie Awards) é um prêmio cinematográfico, paródia do Oscar, que premia só os piores filmes produzidos ao longo de um ano. Atualmente é escolhido por internautas membros da "associação" (leia-se site). Surgiu em 1980, tendo sido a primeira "premiação" realizada na sala de John Wilson, o idealizador do "prêmio". A fruta parece ser usada no sentido da expressão "blowing a raspberry", que é simular o som de flatulência com a boca. É tanto o tom de deboche em cima do Oscar que as indicações saem um dia antes das da Academia – e a "premiação" também é um dia antes da festa. O prêmio é uma framboesa de plástico sobre um filme Super 8 pintado de tinta dourada, com valor aproximado de US$4,97.

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Estar irrevogavelmente apaixonada por um vampiro é tanto fantasia como

pesadelo, costurados em perigosa realidade para Bella Swan. Impulsionada por sua

intensa paixão por Edward Cullen e ligada ao lobisomem Jacob Black, ela resistiu ao

tumultuado ano de tentações, perdas e conflitos até o momento da decisão definitiva.

A escolha entre fazer parte do obscuro e sedutor mundo dos imortais ou

permanecer vivendo como humana, se tornou o marco que poderá transformar o destino

dos dois clãs: vampiros e lobisomens.

Bella tomou sua decisão, e uma corrente de acontecimentos sem precedentes se

desdobrará com consequências devastadoras. No momento em que as feridas parecem

prontas para serem cicatrizadas, e os desgastantes confrontos da vida de Bella

resolvidos, é quando, justamente, podem desencadear a destruição.

Ao fim da saga, certamente, os seguidores hão de eternizar o que for possível

transmidiar. O final tem aguçado a curiosidade dos fãs, pois tudo está sendo feito para

evitar qualquer vazamento de informações que venham a revelar o desfecho da saga

Crepúsculo.

Assim como o último filme de Harry Potter, Amanhecer é dividido em duas

partes. Os fãs não gostaram muito desta informação, mas a própria Stephenie Meyer, se

pronunciou a respeito da dificuldade em reduzir um livro de quase 600 páginas em 90

minutos. O último livro Amanhecer ultrapassou fronteiras e chegou a muitas partes do

mundo, causando muita admiração.

Alemanha

Bulgária

China

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Coreia

Croácia

Finlândia

Grécia

Polônia

Romênia

Suécia

Tailândia

Brasil

Figura 4 – O livro Amanhecer e suas variedades de capas em alguns países

A autora Stephenie Meyer, juntamente com a editora Little Brown and

Company, lançaram nos Estados Unidos, no dia 02 de agosto de 2008, o último livro da

saga “Crepúsculo”, com 756 páginas de muita aventura, contendo 39 capítulos.

Desta vez a edição brasileira conseguiu fazer o lançamento com apenas um ano

de diferença, no dia 26 de junho de 2009, pela editora Intrínseca. O livro tem 567

páginas e manteu-se os 39 capítulos do original, proporcionando uma boa despedida aos

seus fãs e seguidores sempre fiéis.

Como todos os livros da série, este também recebeu premiações:

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• “Livro Infantil do Ano” do British Book Award.

• “Teen Choice Book of the Year” do Children’s Choice Book Awards.

• “Autora do Ano” do Children’s Choice Book Awards.

O título original, “Breaking Dawn”, faz referência ao início da vida de Bella

como vampira recém-nascida. A capa é uma metáfora para o progresso de Bella ao

longo de toda a série. Ela começa como uma personagem fraca fisicamente,

representada no tabuleiro de xadrez pelo peão, mas no final se torna rainha, a mais forte.

As peças “O Mercador de Veneza” e “Sonho de Uma Noite de Verão”

influenciaram Amanhecer.

O lançamento oficial de Amanhecer ocorreu à meia-noite do dia 2 de agosto de

2008. Mais de quatro mil livrarias participam deste lançamento, em sua maioria

envolvida em concursos de cosplay, produtos feitos pelos fãs e desenhos de rostos. Foi

um dos livros mais aguardados de 2008. Para atender a demanda, a editora Little, Brown

Books acrescentou 500 mil impressões, chegando a uma tiragem inicial de 3,7 milhões.

O livro vendeu 1,3 milhões de cópias nos Estados Unidos, 20 mil no Reino

Unido em suas primeiras vinte e quatro horas de publicação e 100 mil no Canadá

durante seu primeiro fim de semana. Estreou em primeiro lugar na lista dos 150 livros

mais vendidos do USA Today. A última parte da série foi o livro infantil mais vendido

de 2008, com mais de seis milhões de cópias vendidas.

O último livro da saga é dividido em três partes: Bella é a narradora da primeira

e última parte do livro. Detalhe do relato de Bella no livro:

(...) a dor era atordoante. Exatamente isso – eu estava atordoada. Não conseguia entender, não conseguia perceber o que estava acontecendo. Meu corpo tentava rejeitar a dor, e eu era sugada repetidas vezes para uma escuridão que apagava segundos ou, talvez, até minutos inteiros da agonia, tornando ainda mais difícil acompanhar a realidade. Tentei separá-las. A não realidade era escura e doía tanto. A realidade era vermelha e me trazia a sensação de estar sendo serrada ao meio, atropelada por um ônibus, nocauteada por um campeão de boxe, pisoteada por touros e mergulhada em ácido, tudo ao mesmo tempo. (Amanhecer, 2009, p.286)

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Narração feita por Jacob no livro Amanhecer, inspirado nos dizeres de William

Shakespeare, em Sonho de uma noite de verão, Ato III, Cena I “no entanto, para dizer a

verdade, hoje em dia a razão e o amor quase andam juntos” (Shakespeare).

Assim que vi na floresta de verdade, sem estradas ou casas beirando-a, parei e tirei o short. Com movimentos rápidos e treinados, enrolei-o e o amarrei na corda de couro no meu tornozelo. Ainda estava puxando as pontas quando comecei a me transformar. O fogo descia por minha coluna, provocando espasmos em meus braços e pernas. Só levou um segundo. O calor tomou conta de mim e senti o tremor silencioso que me transformava em outra coisa. As patas pesadas foram de encontro à terra e estiquei o dorso, comprido e ondulante. A metamorfose era muito fácil quando eu estava concentrado assim. Eu não tinha mais problemas com meu temperamento. A não ser quando era provocado. (Amanhecer, 2009, p.128)

Comenta-se nos bastidores sobre a possibilidade de usar todos os recursos da

tecnologia em 3D. As gravações deste filme começaram, resta conferir nas telas o

desfecho da saga que rendeu muitas informações, mudanças e comportamentos. As

meninas que outrora eram ligadas em músculos, pessoas coradas, se encantam pelo

pálido e magro Edward.

2.7. Entendendo o “porque” das escolhas em revistas Teen

Para compreender as juventudes é necessário entrar nas culturas juvenis e

perceber os sinais deixados. Se por um lado existem os jovens que marcam um dado

momento com suas produções, por outro existem aqueles que cooperam ou são

inspiração pelo mercado editorial.

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Figura 5 - Capas de revistas de circulação nacional colecionadas pelo site Google 2010.

Freire Filho (2008), em seu livro “Culturas juvenis no século XXI”, apresenta

um pequeno histórico sobre as várias fases da juventude, iniciando na virada do século

XX. Expõe a relevante questão de como a imprensa foi imprescindível no caso francês

nos tempos da Belle Époque. Por exemplo, para configurar o imaginário popular e as

ações públicas em torno do “bando de jovens” da periferia que perturbavam o sono das

pessoas importantes de Paris.

Mediante esta situação, Le Journal e Le Matin levavam com destaque e

assiduidade todos os acontecimentos. Essas ações eram realizadas pelos chamados

rebeldes e desordeiros, isto é, indivíduos perigosos. Em seu livro, Freire Filho (2008,

p.38), destaca: “inimigos da sociedade, sem pátria, nem patrão, a maioria com a idade

entre 15 e 20 anos”.

Esses tempos se distanciaram, pois o que se percebe para além da sondagem é

um processo que parte em busca destes que um dia foram os “fora-da-lei”. Algo

imprescindível nessa questão são o olhar e o faro comercial de algumas agências

editoriais. Nos Estados Unidos, o editor norte americano quis mudar a concepção e

propôs uma imagem que contrapôs o vivido no “ontem juvenil” de um jeito avesso.

Em 1944, foi lançada a revista Seventeen, pioneira no ramo feminina juvenil.

Direcionava um olhar de modo particular para as estudantes do segundo grau. Lançava

novos estilos visuais, e para este fim criou personagens a partir da realidade criteriosa

daquele período, considerando as preferências e preocupações das garotas americanas.

Os elementos relacionados ao consumismo originam o uso de acessórios em

cadeia, surge um processo de consumo circular. Recortaram-se esses dados para

compreender os modelos que fascinam o mundo juvenil. As revistas “Teen” servem

como referência para as escolhas que perpassam o estilo visual e comportamental e

garantem o sucesso, diferenciando-os, desse modo, dos demais.

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Segundo Freire Filho (2008), a revista Capricho é a herdeira mais bem sucedida da

Seventeen no Brasil. Sua oferta nas bancas e livrarias é quinzenal, o desejo principal é

que suas matérias possam sempre responder às angústias juvenis e, de certo modo,

oferecer instrumentos que os oriente e que dialoguem sobre moda, paquera, sexo,

drogas e outras curiosidades de forma detalhada para o mundo juvenil.

A presença efetiva de personagens que estão em voga no mundo dos artistas é

essencial e servem como referência, por exemplo, os atores e atrizes da saga

Crepúsculo.

2.8. Twilight Brasil: o primeiro site a apostar na saga Crepúsculo

O Twilight Brasil foi o primeiro site que disponibilizou todas as informações

sobre a saga Crepúsculo de forma interativa, rápida e criativa para todos os seguidores

da série. A novidade do referido site é que todas as informações estão no idioma

português, o que favorece a leitura e a velocidade das informações desejadas. As

novidades postadas estão ligadas à série e imagens dos personagens.

O site contabiliza mais de quatro milhões e quinhentos mil acessos7. Twilight

Brasil, além de referência para os fãs brasileiros, também é o único site do país

referendado na página oficial do filme Eclipse,8 ao lado de sites dedicados

exclusivamente à saga em diferentes países.

Espaços de interação e interatividade são produzidos por fãs e não tem qualquer

ligação com a autora da série, os autores e produtores dos filmes. O interesse principal é

reunir informações sobre a saga e enviá-las para o ciberespaço, de modo preciso

contemplando as hipercomplexidades.

7 O número exato é 4.515.783 de acessos até 24 de abril de 2010. 8 Site oficial do filme (em inglês): http://www.eclipsethemovie.com/

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Figura 6 – Página Inicial do site Twilight Brasil em 27 de abril de 2010.

O site disponibiliza vários links dentro do seu domínio. Os fãs podem acessar as

páginas: “Livros” que contam sobre os volumes da série; “Autora”, para saber sobre

Stephenie Meyer; “Filme”, área onde estão disponibilizadas informações sobre os três

filmes lançados – “Crepúsculo”, “Lua Nova” e “Eclipse”; “Mídia”, banco de imagens e

vídeos oficiais; Biografias, a vida dos personagens dos quatro livros é contada; e

Equipe, New Moon Filme e o link para “Fanspace”.

O último sítio é dividido em outras seis seções: Loja Virtual, Fanfics, Fanart,

Sonhos – os fãs contando sobre os sonhos que tiveram relacionados a Crepúsculo –,

Depoimentos – os fãs que já conhecerem a autora ou foram a eventos da saga, relatam

sua experiência – e, por último, o link Diversão, que contém jogos diversos.

Outros endereços são disponibilizados no site como “Links rápidos”. Ao clicar

nesses hiperlinks o internauta tem acesso ao site oficial da autora Stephenie Meyer, ao

site oficial dos filmes da saga, ao fórum da comunidade Twilight Brasil e à página do

Orkut do Twilight Brasil.

Isaaff Karhawi Santos (2010) afirma em sua pesquisa que, “Depois do fenômeno

Harry Potter, da autora inglesa J.K. Rowling, o mundo aguardava o novo grande

sucesso responsável por deslocar as atenções dos adolescentes para a leitura”.

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Crepúsculo, assim como Harry Potter9, faz do universo “fantástico” seu ponto de

partida. Apesar de ser uma história sobre vampiros, foge ao estereótipo de sangue

derramado em todos os capítulos ou de criaturas noturnas assustadoras. A família

principal de vampiros da saga de Stephenie Meyer é dona de uma beleza sobrenatural e

não se alimenta do sangue humano, mas do sangue de animais.

A série literária Crepúsculo, apesar de ser considerada fútil por muitos

estudiosos, se configurou como fenômeno cultural nos últimos anos, entrou nos lares,

ambientes educativos e espaços frequentados por jovens e adultos.

Em relação aos membros do grupo focal integrante da pesquisa, seu modo de

produção foi no espaço twilight.cuiaba, e nesse espaço fizeram interações com várias

mídias e todos “linkados” para endereços próprios da saga e os seus fãs.

Essas são produções culturais e mercadológicas, integrantes da economia cultural de significados coletivos, fornecendo receitas, padrões, narrativas, apresentando critérios, auxiliando na vida cotidiana, permitindo às leitoras processar suas experiências cognitivas numa sociedade estruturada também por gênero. Puramente constatação de observação, acreditamos estar diante de uma cultura juvenil, onde se estabelece uma marca, uma identificação de pertença. Nos aproximamos e verificamos que, além do visto e observável, elas também interagem pelas redes sociais, inclusive pela Twiligth Brasil. Para buscar respostas a essa intrigante forma de produção de sentidos, optamos pela busca de sentidos. Aplicamos questionário com 14 alunas, sondando-lhes os perfis. Sem surpresa, elas se espelham nos perfis já comentados anteriormente. Quanto à entrevista, reunimos as alunas, incluindo-se uma professora, em grupo, onde perscrutamos suas formas de produzir sentidos. Reafirmando o já dito, têm sido necessárias inúmeras seções para que os sentidos apareçam. Entre eles o que mais se destaca é o da identificação das adolescentes, melhor dizendo, do desejo delas de ser Bella Shawn e encontrar e ser amada por Edward Cullen (POSSARI, SANTOS e ALMEIDA, 2010, p. p. 13-14).

Para compreensão da participação-transmidiação efetiva dos membros do grupo

focal das meninas fãs e produtoras da saga Crepúsculo tomei como ponto de busca o

site twilight.mt relacionado ao site original twilightbrasil. O primeiro passo foi conectar-

me com as participantes inseridas de modo direto no processo de alimentação do espaço

para fãs e seguidores da saga.

9 Harry Potter, assim como Crepúsculo, é uma série literária, escrita pela inglesa J.K. Rowling. Os sete livros da série contam a história de um jovem bruxo e venderam, juntos, mais de 350 milhões de exemplares no mundo todo. O primeiro volume foi lançado na Inglaterra em 1997 e o último em 2007 (Informação disponível em http://www.abril.com.br/noticia/diversao/no_292574.shtml Acesso em 20 de junho de 2010).

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Para a minha surpresa descobri que o site é uma ramificação do site adaptado

para os fãs do estado de Mato Grosso, criado como twilighters, e a partir deste site

outras apropriações foram criadas.

Figura 7 – home da twilighters

Como por exemplo, o Twilight fan club Cuiabá, que tem como ponto alto o

Orkut da série, onde são apresentadas as fotos dos vários eventos realizados a partir dos

lançamentos dos livros, das pré-estreias e dos filmes.

Na busca, encontrei muitas fotos, pequenas produções de filmes e entrevistas

com alguns fãs. Sua principal chamada está no visual, tendo como ponto forte as capas

dos livros da série, sendo o perfil uma apresentação do grupo, o trabalho que

desenvolvem e faz o convite para que todos os fãs os sigam: os fãs que residem em

Cuiabá ou em qualquer outra localidade, alegando que fã onde estiver é sempre fã, e

segue todas as modalidades propostas ao que se refere ao objeto de desejo e de

consumo.

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Figura 8 – Página inicial do Blog: Twilight Fan Club Cuiabá

No Twilight fan club Cuiabá encontra-se o seguinte texto: “Twilight Fan Club

(Cuiabá) é um Fã-Clube para todos que admiram, gostam, adoram, AMAM a saga

Crepúsculo (Sejam os livros ou os filmes). Uma história de Amor Impossível (a melhor

eu diria), de uma adolescente de 17 anos por um vampiro de 100, num universo

FANTÁSTICO onde se encontram Vampiros e Lobisomens/Transfiguradores, criada

por Stephenie Meyer, que começou esse best-seller após ter um sonho com uma jovem e

um vampiro que embora estivesse apaixonado por ela, desejava seu sangue (o capítulo

13 do primeiro livro). Após alguns anos graças a Summit Entertainment vemos a

adaptação para filme, com um mega elenco... É Fã? Então participa... É de Cuiabá?

Entra logo... Não é? E daí? Fã que é fã participa de TUDO... Tá esperando o quê? Entra

Baby!”.

Seguindo o desempenho de grande parte dos blogs o de Cuiabá não difere dos

existentes, com várias chamadas, sendo um espaço de leituras, de filmes, fotos e, como

base do momento (2010) foi à estréia de Eclipse, um pequeno vídeo anunciando o

trailer.

Sendo o blog “linkado” com o Orkut dos fãs de Cuiabá, clicando na imagem do

casal Bella e Edward, o link mostra as novidades do Orkut e o perfil dos seus

seguidores.

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Figura 9 – Perfil do Orkut da Twilight Fan Club Cuiabá

Neste contexto de pré-estreia do último filme da série, foi perceptível que as

atenções estão focadas para o esperado evento; o que repercute um trabalho intenso na

composição do figurino e nas recordações da saga. Muitos jovens fãs e seguidores estão

relendo o livro, na expectativa de não perder nenhum detalhe e de acompanhar com

muita propriedade a primeira da última parte da série. Estas expectativas vividas com

teor de saudade e o começo do fim.

As meninas do grupo focal estão investindo na capa dos Volturis, uma capa

preta com maquiagem mais escura, e essa confecção está sendo feito observando os

mínimos detalhes, desde o material bruto como os simples recortes. Essa roupa será

uma confecção em conta, pois terá o custo de 100 reais. Há algumas do grupo com o

desejo de aparecer na pré-estreia de noiva, assim como a Bella. Para o dia 18 de

novembro, meia noite e cinco estão sendo aguardados vários personagens: lobos,

vampiros, noivas e bruxos.

Com essas informações, faço um paralelo com meu objeto de pesquisa, que foi

um fenômeno, que teve seu tempo de explosão, e neste exato momento, aguarda ver nas

telas o filme que antecede o final da saga.

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CAPÍTULO III: Transmidiação e produção de sentidos

3. A transmidiação da saga Crepúsculo do impresso ao filme

Neste capítulo, o objetivo é evidenciar o processo da transmidiação que ocorre

do livro para as telas e das telas para outros desdobramentos nas mídias de massa.

Foram escolhidas algumas cenas dos livros para análises e melhor visibilidade do

processo da transmidiação. Falar em Análise do Discurso, como afirma Fernanda

Mussulim (2008), pode significar em um primeiro momento, algo vago e amplo, cujo

significado pode ser qualquer coisa, já que toda produção de linguagem é passível de ser

entendida como “discurso”. A Análise que será realizada neste capítulo trata de uma

pesquisa qualitativa, perpassada pela sondagem e observação do processo da

transmidiação pela netnografia.

Esse processo de intertextualidade e de interdiscursividade é marcante na

passagem da leitura do livro ao livro para as telas; estas ações promovem produções de

sentidos, a partir da interdiscursividade coletiva. O aporte teórico-metodológico é da

netnografia, ou etnografia online, e de grupo focal para a gestualidade presencial, onde

se descrevem os processos de interlocução.

Conforme Bauer e Gaskell (2002, p.40), grupos focais são indicados para

“explorar o espectro de atitudes, opiniões e comportamentos, observar os processo de

consenso e divergência, adicionar detalhes contextuais a achados quantitativos, assuntos

de interesse público (...) política (...), novas tecnologias”. Os autores consideram esse

tipo de levantamento de dados indicado para pessoas que não sejam pertencentes a

grupos tão diversos, sendo dessa forma, uma opção adequada à pesquisa com usuários

de um mesmo local.

As observações são de fundamentação semiodiscursiva, na pista dos indícios e

do simbólico que congregam e marcam os fãs através dos interesses pelas atividades

que envolvem a saga.

Foram aplicados questionários e entrevistas para os dez membros do grupo focal

do Colégio Coração de Jesus, Cuiabá/MT. Os primeiros trouxeram os perfis que

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convergem para a admiração e a imitação de Bella, a eterna busca pelo príncipe

encantado, representado no primeiro filme por Edward e no segundo pelo próprio

Edward e pelo seu rival, Jacob.

Os perfis traçados serviram como ferramentas que favoreceram as possíveis

análises em relação ao gênero, faixa etária, renda familiar, grau de escolaridade da

família e do entrevistado. Para prosseguir com as análises referentes à saga, os dados

coletados sobre a interação e interatividade dos fãs com o mundo tecnológico foram

tabulados para melhor conhecer a realidade da vida dos seguidores e assim traçar o seu

possível perfil.

Foram 10 participantes do grupo focal, garotas entre 10 e 18 anos de idade.

Tendo, portanto, a predominância do sexo feminino. Confirma-se uma admiração

primordial e encanto por Bella Swan, seguido pelo desejo de encontrarem um príncipe

encantado como os retratados na saga, representados pelo vampiro Edward e o

lobisomem Jacob.

Percebe-se a coincidência na renda familiar das entrevistadas, que prevalece

entre quatro a seis salários. Duas das entrevistadas coincidem na renda familiar com

mais de seis salários. Estes dados permitem analisar as condições que dispõem para

usufruirem das mídias em geral.

Quanto à escolaridade dos familiares das jovens entrevistadas, possuem curso

superior completo e exercem as mais variadas profissões tais como: professores,

engenheiros, administradores, médicos e servidores públicos. Os dados marcam a

pesquisa quanto à realização das leituras feitas e das produções que as jovens poderão

criar mediante o diálogo com seus pais.

As entrevistadas cursam o Ensino Fundamental II e o Ensino Médio, das 10

participantes, metade para cada etapa de ensino; este dado permite perceber um número

igual de participantes pertencentes aos grupos de ensino, e também permite algumas

discussões ao que se refere à apropriação de determinadas posturas e escolhas das

adolescentes.

No decorrer dos encontros do grupo focal se percebe nitidamente que as meninas

entre 10 a 14 anos, sonham com o amor verdadeiro e impossível, elas esperam pelo

príncipe encantado, que tem um nome elegido coletivamente: “Edward”. As

adolescentes entre 15 a 18 anos possuem outras tendências e diferentes buscas, são mais

desejosas do ato em sim, estão na expectativa do desejo carnal, querem algo tocável e

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que cause impacto, nesse contexto quem melhor corresponde a tais expectativas é o

lobisomem, quente por natureza e de corpo musculoso. Neste caso, os pensamentos são

para “Jacob”, o homem ideal por estimular o desejo sexual.

Os diálogos favorecem os debates relativos à saga sobre temas específicos e

interesses diferenciados.

Ao que se referem às possíveis atividades que frequentam, obteve uma variedade

considerável de respostas, algumas entrevistadas responderam que estudam inglês;

quatro praticam academia, dentre outros esportes e duas não participam de nenhuma

atividade.

Quando indagadas há quanto tempo fazem uso do computador, elas afirmaram

que fazem uso da máquina há mais de dois anos, sendo fácil o acesso e o

acompanhamento da saga em todas as mídias. Quanto ao grau de escolaridade dos pais,

todos com curso superior completo e alguns continuam os estudos como pesquisadores

na linha da educação. Tal dado facilitou algumas considerações em relação ao bom

tempo de uso do computador por parte das meninas do grupo focal.

Outro item da pesquisa foi o local de acesso diário ao computador/internet; todas

afirmam que acessam a internet na própria casa, o que facilita a produção, a leitura e o

movimento entre os mais buscados.

Sobre tempo/horas que gastam no acesso ao computador/internet no cotidiano,

os resultados das entrevistas obtiveram essas informações. Três ficam no

computador/internet mais de 4 horas; cinco delas entre 1 e 2 horas; duas de 2 a 4 horas.

Nenhuma das entrevistadas fica menos que 1 hora por dia.

Para a grande maioria do grupo focal, quando questionadas sobre o que buscam

na internet responderam – e esse é um dado em comum – que querem acessar livros na

internet. A segunda opção são as curiosidades em geral, depois os sites de

relacionamento, correspondências e outros.

As preferências pelos sites mais buscados pelas entrevistadas estão evidenciadas

nas próprias respostas dadas. Liderou o Orkut e o MSN, em seguida tfc.cuiabá,

twilightmt e outros. Elas especificaram a procura por filmes e seriados, sendo unânimes

na escolha. Buscam informações relacionadas a Crepúsculo, além de se

responsabilizarem pela assiduidade de acessos ao site Twilightmt e garantirem a

alimentação do mesmo.

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Os locais onde residem as entrevistadas: Centro Sul, Bosque da Saúde, Santa

Amália, Mário Palma, Dom Aquino e Jardim Imperial – Várzea Grande. Os bairros

citados favorecem o acesso à internet. Todos comportam uma estrutura capaz de atender

aos requisitos que possibilitam uma interatividade com o lazer, a cultura e os meios

tecnológicos.

O grupo focal trouxe as percepções das diferenças dos textos escritos impressos

em relação aos filmes; isto permite ver que o processo realmente não é de adaptação ou

simplesmente especular, são textos diferentes, ou seja, discursos diferenciados, cujas

gramáticas de escrita e de audiovisual os tornam outros textos, portanto, transmidiados.

É importante destacar as percepções das entrevistadas utilizando como

parâmetros análises semiodiscursivas:

a) Quanto ao uso do computador: todas destacam a necessidade gerada por uma

dependência da máquina e, sobretudo, das possíveis postagens e interações com os

amigos virtuais. A grande maioria das entrevistadas reconhece que precisa e quer ficar

muito tempo on-line para responder às novidades e navegar em busca de interesses

pessoais, realizar pesquisas e leituras pela internet dos livros que as interessam.

b) Sobre a transmidiação: três das dez entrevistadas responderam de forma otimista por

trabalharem em parceria com a livraria Janina, localizada em Cuiabá-MT. Como

parceiros, divulgam os diversos lançamentos relacionados à saga, inclusive a divulgação

dos produtos e a participação direta dos sites criados pelos fãs de Crepúsculo,

twilight.mt, incentivando os fãs para as manifestações em torno da série. As demais

lidam com a transmidiação ou transcodificação, em um sentido passivo, ou seja,

acompanham as produções dos outros fãs, sem nenhum envolvimento comprometedor.

c) Sobre o envolvimento com os sites: três meninas do grupo entrevistado acompanham

o site de modo sistemático. Frequentemente são chamadas pelas livrarias para coordenar

e desenvolver as atividades que promovem durante os lançamentos de filmes e livros da

saga. As outras acompanham como coadjuvantes, sempre “antenadas” nas possíveis

atividades de massa.

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d) Quanto aos trabalhos apresentados: por serem estudantes, além de seguidoras fiéis,

elas acompanham os trabalhos em parceria com a editora Intrínseca, que as mantêm

informadas sobre as novidades relacionadas à saga e envia-lhes materiais e brindes para

serem distribuídos entre as fãs participantes dos eventos em pré-estreia e lançamento de

livros. Apenas três das entrevistadas têm maior ritmo de trabalho com a saga

propriamente dita, as outras apenas auxiliam nos trâmites dos eventos e realizações.

e) Sobre outros trabalhos: todos os trabalhos realizados, durante os anos da saga

Crepúsculo, têm como objetivo preservar e perpetuar o amor à saga e o desejo que ela

se torne imortal. Querem movimentar-se e realizar o máximo de atividades para deixar

uma marca na memória e no coração de todos os apaixonados pela série de Stephenie

Meyer e pela sua versão cinematográfica.

f) Quanto às modificações: as entrevistadas gostam dos gibis Crepusculinho, outras

modificações das cenas, dos pares românticos, enfim curtem as novidades que sempre

aparecem.

g) Quanto à solicitação de outros comentários: neste último tópico, é importante

ressaltar que as garotas que cursam o Ensino Médio alegam buscar nos artigos

científicos, nos livros e nas atualidades o que lhes serão oportunos para as provas que

irão fazer e proporcionem enriquecimento intelectual necessário para satisfação pessoal

e profissional. Depois é que se interessam pelos sites de relacionamento, pelos filmes e

seriados; buscam informações sobre a saga, nos blogs para os fãs de Cuiabá e recorrem

aos sites oficiais da saga para maiores informações.

De modo sintético e não profundo, foi uma rápida leitura das respostas dos

questionários e das entrevistas antes de entrarmos nas observações das respostas e das

construções de sentidos do livro ao filme.

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3.1. Grupo focal do Colégio Coração de Jesus (CCJ) / MT

A opção por grupo focal é devido às condições encontradas no ambiente de

trabalho, ambiente educativo, e principalmente por se tratar de grupos juvenis

envolvidos pelos contextos interculturais presentes na contemporaneidade.

Deste modo, faço uma breve diferenciação de grupo focal e grupo de discussão.

Segundo Gaskell (2002, p. 79), os grupos focais podem ser definidos como uma esfera

pública ideal, já que se trata de um debate aberto e acessível, onde todos os assuntos em

questão são de interesse comum, e nos quais as diferenças de status entre os

participantes não são levadas em consideração e o debate se fundamenta em uma

discussão racional.

Os grupos focais são geralmente constituídos por um número de seis a oito

pessoas, que são convidadas a debater sobre um determinado assunto com a ajuda de

um moderador. O grupo focal do CCJ era composto por 10 membros e eu enquanto

pesquisadora. Conforme Gaskell (2002) existem pelo menos três progenitores ou

tradições associados à utilização de grupos focais como técnica de entrevista, sendo

eles: a) a tradição da terapia de grupo (Tavistock Institute); b) a avaliação da eficácia da

comunicação (Merton; Kendall, 1984); c) a tradição da dinâmica de grupo em

psicologia social (Lewin). Os grupos focais se apresentam como um método quase

naturalista de geração de representações sociais mediante a simulação de discursos.

Como grupo de discussão representa um instrumento por meio do qual o

pesquisador estabelece uma via de acesso que permite a reconstrução dos diferentes

meios sociais e do habitus coletivo do grupo. Seu objetivo principal é a análise dos

epifenômenos subprodutos ocasionais relacionados ao meio social, ao contexto

geracional, às experiências de exclusão social, entre outros.

O nosso aporte é o grupo focal do CCJ/MT, que nasceu com o propósito

primeiro de ler o livro, escolher as melhores cenas contemplando os gostos pessoais e,

em seguida, assistir ao filme, buscando fazer um estudo e/ou um diálogo comparativo

de pesquisadora e de fãs apaixonadas pela saga.

O grupo, como já mencionado, era formado por 10 meninas, provindas de vários

bairros localizados na cidade de Cuiabá, cinco eram do Ensino Fundamental II e cinco

do Ensino Médio, sendo a faixa etária de 10 a 18 anos, em comum tinham o desejo de

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rever, reler, recordar e discutir o que foi mais importante antes, durante e após o

lançamento de cada livro seguido de seus respectivos filmes.

Um dado curioso é o fato de todas terem em seus quartos, seja individual ou não,

pôsteres dos ídolos: Bella, Jacob e Edward. Algo notável foi a constatação da

preferência total e alucinante das meninas entre 10 a 14 anos pelo vampiro, dando a

compreender o desejo pelo amor impossível, pelo romantismo do homem perfeito nas

condições do amor e não do físico. E para as meninas entre 15 a 18 anos havia grande

interesse pelo lobisomem: homem bem definido, extremamente forte e atraente,

permitindo entender o interesse pelo desejo e fascínio sexual.

O grupo focal CCJ/MT reuniu-se de dezembro de 2010 até julho de 2011, numa

sala do próprio colégio, sendo que para o gupo fora liberado o uso dos instrumentos

multimídias, como data show, notebook e aparelhos de registros digitais, como

máquinas e gravadores. Cada membro, ao se apresentar para o grupo que foi feito por

adesão e não por imposição, adquiriu uma característica comum, a de andar pelos

corredores portando algum objeto que lembrava a saga, como por exemplo, revistas,

tatuagens, pôsteres, copos com as figuras dos artistas: Bella, Edward e Jacob, livros da

saga e o próprio DVD – pirata ou original. O que importava para esse grupo era seu

pertencimento.

3.2. Observando os sentidos construídos

Para observar a construção de sentidos pelo grupo das adolescentes que, comigo,

compararam a transmidiação do livro para o filme, considerei necessários alguns

aspectos da Análise do Discurso.

A AD surge na década de 60, na França, como teoria da leitura rompendo com a

tradição de práticas teórico-analíticas direcionadas para a interpretação empreendida

pela hermenêutica e pela análise de conteúdo. Seus estudos procuram evidenciar as

várias maneiras de significar o que a materialidade linguística permite, sem estabelecer

corte sincrônico da língua ou analisá-la enquanto sistema.

Para a AD é imprescindível que sejam considerados os sujeitos, seus registros na

história e as condições de produção da linguagem. Analisam-se, assim, segundo esse

domínio de estudos, as relações estabelecidas entre a língua e os sujeitos que a

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empregam e as situações em que se desenvolve o dizer. O analista do discurso busca,

portanto, certas regularidades no uso da língua em sua relação com a exterioridade.

Com o questionário e as entrevistas, pude além de traçar-lhes o perfil, observar

as formações discursivas, que lhes foram oportunizadas pelo seu modo de vida, cultura,

família, enfim, contexto onde se inserem.

Portanto, o estudo discursivo considera em suas análises, não apenas o que é dito

em dado momento, mas as relações que esta afirmação estabelece com o que já foi dito

antes e, até mesmo, com o não-dito, atentando também para a posição social e histórica

dos sujeitos e para as formações discursivas às quais se filiam os discursos.

No que concerne aos precursores dos estudos discursivos, destaca-se o francês

Michel Pêcheux (1938-1983), cujos estudos têm forte embasamento nas correntes

marxistas. Segundo Pêcheux, não há sujeitos individuais no discurso, há “formas-

sujeito”, ou seja, um ajustamento do sujeito à ideologia. Ao estudar Pêcheux, Gregolin

(2003), outro expoente contemporâneo da AD, afirma que:

O sujeito não é considerado como um ser individual, que produz discursos com liberdade: ele tem a ilusão de ser o dono de seu discurso, mas é apenas um efeito do ajustamento ideológico. O discurso é construído sobre um inasserido, um pré-construído (um já-lá), que remete ao que todos sabem, aos conteúdos já colocados para o sujeito universal, aos conteúdos estabelecidos para a memória discursiva. (GREGOLIN, 2003, p.27)

O indivíduo, ao produzir seu discurso, não expressa a sua consciência livre de

interferências. Ao contrário, aquilo que ele discursa é resultado de conjuntos discursivos

que lhe são anteriores, exposição sócio-histórica a que está submetido, a partir da qual

são constituídas as representações discursivas sobre o mundo. Neste contexto, Orlandi

(2001, p. 09), como referência dos estudos discursivos no Brasil, apresenta algumas

contribuições da AD para a reflexão sobre a língua e sua interpretação.

Para Orlandi (2001) problematizar as formas de ler é levar o sujeito falante ou o

leitor a se colocar questões sobre o que produz e o que ouve nas diferentes

manifestações da linguagem. Perceber que não se pode não estar sujeitos à linguagem, à

sua ambiguidade, sua opacidade. Não há neutralidade nem no uso mais específico do

cotidiano dos signos.

A entrada no simbólico é irremediável e permanente, compromete-se com os

sentidos e o político. Interpretar é sempre uma passagem. A contribuição da AD está em

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favorecer o estado de reflexão. Orlandi (2001, p.9) salienta que “... sem cairmos na

ilusão de sermos conscientes de tudo, permite-nos, ao menos sermos capazes de uma

relação menos ingênua com a linguagem”.

Ao produzir seu discurso, o indivíduo não expressa a sua consciência livre de

interferências. Analisar o discurso dos sujeitos, assim como dos trechos transmitidos,

compreende produção de sentidos. Para além da linguagem utilizada, examinam-se os

sentidos pretendidos, as condições de produção de discurso: o perfil, a forma de

solicitação e de quem solicita.

No que se refere aos signos verbais ou não-verbais, eles são uma construção

sócio-cultural que ocorrem em um contexto determinado histórico, social e

culturalmente.

Esta concepção de discurso amplia-se para gesto discursivo, formação discursiva

e prática discursiva. O primeiro é a inerência a todas as formas de linguagem de serem

gestos que transitam entre interlocutores. A segunda é o dizer permanente em nossa

cultura pela qual somos formados discursivamente. E a terceira são as práticas

propriamente ditas.

Nas análises desta pesquisa, o gesto discursivo engendra intertextos de produção

continuada, intertextos e intermídias.

Produzir linguagem significa produzir discursos, dizer alguma coisa para

alguém, de uma determinada forma, em um determinado contexto histórico. Partindo

destes raciocínios, significa que as escolhas feitas ao dizer, ao produzir um discurso, não

são aleatórias — ainda que possam ser inconscientes — mas decorrentes das condições

em que esse discurso é realizado.

Quando se interage verbalmente com alguém, significa que o discurso se

organiza a partir dos conhecimentos que se acredita que o interlocutor possua sobre o

assunto. Partindo dos parâmetros de suas opiniões e convicções, simpatias e antipatias,

da relação de afinidade e do grau de familiaridade, da posição social e hierárquica que

ocupa em relação a ele e vice-versa.

Todo processo de interação verbal, não tem início e nem término em si. Os

textos orais e escritos são apenas produzidos sob determinadas condições e contextos;

há textos diferentes, para além das condições de produção e dos contextos.

Em uma análise parcial referente a pesquisa, pode-se observar que as respostas

dadas ao questionário e a entrevista foram solicitadas por alguém (eu, enquanto sujeito

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pesquisador). A pesquisadora solicitou as fãs da série literária Crepúsculo que

respondessem ao questionário (para traçar-lhes o perfil) e a entrevista foi proposta para

conhecer seus discursos.

O discurso produzido pode ser analisado pelo texto que o engendra. Pode-se

afirmar que o texto escrito forma um todo significativo e acabado, qualquer que seja sua

extensão. Textualidade é uma sequência verbal constituída por um conjunto de relações

que se estabelecem a partir da coesão e da coerência.

Assim como um texto não se inicia nele nem se encerra, depreende-se que a

intertextualidade é inerente ao processo de produção. As integrantes do grupo foram

solicitadas referências nas entrevistas sobre outros textos, como os trabalhos produzidos

ligados à saga, o que leram, reescreveram e sobre o que mais quisessem informar.

A produção de discursos não acontece no vazio. Ao contrário, todo discurso se

relaciona de alguma forma com os que já foram produzidos. Nesse sentido, os textos,

como resultantes da atividade discursiva, estão em constante e contínua relação uns com

os outros.

Na busca das atribuições de sentidos, após traçar o perfil, foi analisada cada

resposta dada, o que possibilitou perceber três tipos de discursos: a) o discurso das

interlocutoras da série, onde não se nota nada além do discurso da participação; b) da

admiração pela saga; c) pelos textos transmidiados a partir dela. São discursos das

adolescentes e jovens de 10 a 18 anos.

Um discurso comum entre várias entrevistas é o do pertencimento à comunidade

de seguidores da saga Crepúsculo, seja pelas leituras dos livros ou pelo discurso da

admiração pelos textos produzidos, ou o ato de reescrever apenas. Os sentidos são o de

prazer, responsabilidade e, de algumas delas, de orgulho e vaidade.

Percebe-se com base nas respostas das entrevistadas que as fãs enfatizam

características positivas sobre a sua postura. Quando questionadas sobre a relação que

mantêm com os sites sobre a saga ou com o próprio Twilight Brasil, as respostas se

assemelham a autopromoção; as fãs mostram que não são meras leitoras ou fãs passivas,

mas idolatram e transmidiam suas produções.

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3.3. O processo de transmidiação no ato de ler, reler, ver e rever

Foram quatro volumes impressos, sendo que cada volume era composto por

aproximadamente 400 páginas de pura adrenalina, suspense, romance, perigo, risos e

sonhos.

Nessas condições infinitas de recontar todas as partes importantes, ousei

selecionar algumas das cenas, lidas e revistas mil vezes em mais noventa encontros

(sem exagero). Um dado curioso nessa etapa foi a emoção transmitida pelas fãs a cada

lida/relida/visto/revisto das cenas, parecia que o real era àquela hora, o momento

esperado era aquele; como pesquisadora confesso que me surpreendi, porém o trabalho

foi realizado a partir das escolhas feitas coletivamente, na expressão de suas emoções

enquanto liam e quando assistiam as superproduções.

Primeiro livro e filme: Crepúsculo. Foram escolhidas as seguintes cenas:

a) O Prólogo: há um anúncio de como será o destino de Bella durante todo o seu

percurso na saga. Relato do livro 1, Crepúsculo (2005, p. 11).

Nunca pensei muito em como morreria – embora nos últimos meses tivesse motivos

suficientes para isso. [...] O caçador sorriu de um jeito simpático enquanto avançava

para me matar.

Essa é a reescritura do primeiro livro. No filme, a primeira cena, que é o prólogo

do livro, a voz de Bella está em off, proferindo as mesmas falas do livro e a imagem de

Edward atacando o veado na floresta.

Para as fãs do grupo focal do CCJ/MT, após calorosa discussão, chegou-se a

conclusão que a cena foi modificada, pois ao ler o livro têm-se outras ideias,

personagens criados na imaginação e, de repente, na tela aparecem ataques de

“vampiros do bem”, os que não bebem sangue humano. Mas, ao mesmo tempo, foi fiel

à proposta da autora para o decorrer da trama entre a humana e o vampiro. Houve então

uma modificação sem perder o foco principal criado ao ler o livro.

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Para todas houve prejuízo na apresentação das figuras, pois para elas teria sido

mais importante criar e recriar, como fizeram a partir do texto escrito.

Pareceu-me, num primeiro momento, que um discurso corrente ali se instalava,

ou seja, de que o livro era melhor que o filme.

Todavia, indagadas se prefiriam o livro ou o filme, ficaram em dúvida. Dúvida

que permeou todas as atividades de descrição e comparação feitas pelo grupo em todas

as cenas selecionadas para tal. Há momentos em que dizem preferir, ou consideram

mais completos, ou revelam gostar mais de um que de outro.

Nesse sentido essa performance, que é inerente ao grupo focal, permitiu a

visibilidade do reconhecimento como membro dos grupos de fãs que têm acesso aos

roteiros oficiais, possibilitando maior diálogo sobre as criações, as trocas de

personagens, sobre quais elementos foram usados para os efeitos especiais, ou seja, com

esta postura as fãs tem um papel interessante: coprodutora de recepção e, ao mesmo

tempo, de produção de determinado produto que circula no entorno da saga.

b) A cena em que Bella ganha a Picape: conforme descreve o livro 1, Crepúsculo

(2005, p. 14).

– Achei um carro bom para você, baratinho – anunciou ele quando estávamos

afivelando o cinto.

-- Que tipo de carro? – Fiquei desconfiada do modo como ele disse “um bom carro

para você” em vez de simplesmente “um bom carro”.

-- Bom, na verdade é uma picape, um Chevy.

-- Onde achou?

-- Lembra do Billy Black, de La Push? – La Push é a pequena reserva indígena no

litoral.

Esse recorte pode ser lido no livro, porém, quando a mesma cena vai para as

telas, existe uma espécie de antecipação, ou seja, a presença de Jacob. Quando Bella, no

filme, ganha o carro, quem entrega é a família de Billy, e Jacob está junto. Bella e o

rapaz são amigos de infância. No caso do filme é o presente de boas vindas. A cor do

automóvel permanece a mesma do livro para o filme. Conforme figura abaixo:

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Figura 10 – carro de Bella fonte: www.google.com.br

Na discussão do grupo focal, as meninas, de modo contudente, falaram sobre os

efeitos que foram utilizados para determinado carro ficar com a cor desejada, o modelo

que correspondia aos imaginários dos fãs leitores da saga; as meninas ainda comentaram

os muitos dias de trabalho necessários para que a picape da Bella ficasse com aspecto

real, a mistura das cores para dar o tom de envelhecimento e que, ao mesmo tempo,

causasse um estranhamento no contexro colegial da qual Bella fazia parte.

Para as meninas do grupo focal, o trabalho da produção nos detalhes dos objetos,

das casas, dos espaços frequentados pelos personagens comporta os sonhos imaginários

dos adoslecentes que leram e ao mesmo tempo idealizaram um ambiente próprio para

cada personagem, que, além de ser uma representação, é representado por seu ambiente,

seja casa, roupas ou acessórios.

c) A chegada de Bella a escola: descrição da cena no livro 1, Crepúsculo (2005,p.16).

Forks High School tinha um total assustador de apenas 357 – agora 358 – alunos; em

Phoenix, havia mais de setecentas pessoas só do meu ano. Todas as crianças daqui

foram criadas juntas – suas avós engatinharam juntas. Eu seria a garota nova da

cidade grande, uma curiosidade, uma aberração.

Essa cena permanece na adaptação para o cinema, no aspecto em que todas as

pessoas já conheciam a Isabella Swan, a filha do chefe de policia Charlie; sua história se

tornou popular entre os corredores. Um detalhe se diferencia no livro, Bella sente raiva

por essa situação. Na figura 11 a fachada da escola de Bella em Forks.

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Figura 11 - http://www.google.com.br/imgres

A chegada de Bella gerou grande repercursão na cidade. Por ser um lugarejo,

todos comentavam e sabiam o seu passado, todos os percursos da criança e esperavam

pelos acontecimentos na vida da jovem Bella. Para as meninas do grupo focal do CCJ,

esta chegada tinha que ser impactante. De certa forma, quando as meninas remetem a

produção como responsável pelas transformações causadas pelos personagens, a picape,

como foi dito anteriormente, conseguiu ser um registro de impacto da chegada de Bella,

porque todos tinham carros da moda, e de repente, chega à garota num carro velho e

bem diferente; as participantes do grupo destacam o fato como um ponto positivo, pois

a partir dele, Bella tornou-se um ícone de liberdade.

d) Bella cozinha para o pai: trecho do livro 1, Crepúsculo (2005, p. 31).

Na noite passada, descobri que Charlie não sabe cozinhar grande coisa além de ovos

fritos e bacon. Então pedi para cuidar da cozinha enquanto estivesse ali. Ele estava

bastante interessado em passar adiante as chaves do salão de banquete. Também

descobri que ele não tinha comida em casa. Então fiz minha lista de compras, peguei o

dinheiro no pote do armário rotulado de DINHEIRO DA COMIDA e estava a caminho

do Thriftway.

Essa parte é completamente alterada no filme. Bella e Charlie vão ao bar para

fazer suas refeições, e em uma das cenas, a autora dos livros, Stephenie Meyer, aparece

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como figurante. Fazendo uma leitura comparatista percebe-se que nesta cena a

modificação do livro para o filme foi total.

A maioria das meninas do grupo focal considera que no livro há mais detalhes

sobre a casa de Charlie, o que deixa evidente se tratar da residência de um homem

divorciado – que mora sozinho –, cuja cozinha não proporcionava o cenário ideal para

preparar as refeições, o que pontua a aflição de Bella em ter que cozinhar e não

encontrar alimentos na dispensa. Porém, elas entendem que a modificação no filme,

levava a tentativa de reapresentar e integrar Bella a cidade.

e) Os ataques dos vampiros: no primeiro livro em nenhum momento aparece como

algo grandioso, que ganhe destaque em longas páginas. Porém, no filme aparece e se

agregam vários elementos ao ataque dos vampiros do mal, o que não ocorre no livro

como constataram as participantes do grupo focal. São cenas concebidas para dar mais

adrenalina a produção cinematográfica, impactar os espectadores, bem como fazer

conexões com outras cenas, uma vez que teria que cortar alguns trechos do livro. Sendo

assim, percebe a real modificação e complementação para dar ação à aventura propostas

aos jovens e adolescentes apaixonados pela saga. No filme ocorre como na figura 12

abaixo.

Figura 12 - http://www.google.com.br/imgres

Para o grupo focal, o filme explicita e antecipa os ataques dos vampiros. O livro

mantém o suspense por mais tempo, dando a crer que os ataques podem ser obras de

animais ferozes. No filme, logo conhecemos os vampiros recém-criados que fazem sua

primeira vítima.

Para as meninas do grupo focal esses ataques marcam uma série de

eventualidades que determinam outros movimentos na saga. Estes são gerados pelos

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sentimentos que se criam a partir das expectativas suscitadas tanto na leitura como ao

assistir o filme, e tais momentos/sensações entram em ressonância com o modo de

pertencimento; e a pergunta que sempre remotam para si mesmas e para os outros será

em torno de qual lado quero estar, dos “vampiros do bem” ou “vampiros do mal”, nesse

caso, não está em jogo nem Bella, Edward ou Jacob, mas o sentimento sobre o lado em

que há espaços de produção.

f) Edward se revela à Bella: no impresso, o diálogo é longo, pausado, e carregado de

suspense. Segundo as componentes do grupo focal do CCJ, é a parte mais importante,

pois se trata do momento em que acontece a revelação de quem é Edward. Conforme

relato do livro 1, Crepúsculo (2005, p. 139).

-- Você não liga que eu seja um monstro? Que eu não seja um humano?

-- Não.

Ele ficou em silêncio, olhando para a frente de novo. Seu rosto era vazio e frio.

[...] – Está curiosa com o quê?

-- Quantos anos você tem?

-- Dezessete – respondeu ele prontamente.

-- E há quanto tempo tem 17 anos?

Seus lábios se retorceram enquanto ele olhava a estrada.

Esta parte é muito diferente no filme, o diálogo é muito rápido, o que no livro

passaram-se horas para ler e degustar, no filme é questão de minutos. Procurou-se

causar um impacto nos leitores e espectadores da trama. Portanto, foi uma das cenas que

sofreram modificações no que se refere ao tempo cinematográfico.

Na opinião do grupo, principalmente, para as mais sensíveis, as modificações

não causaram incômodo, pois elas consideraram que a cena aumentou o romantismo em

torno da relação do casal, criando a impressão de um amor perfeito.

As participantes do grupo focal citam o momento como um tempo ímpar e sem

precedentes. Todas desejam ser Bella nessa cena, não somente pelo fato da descoberta

do amor impossível, mas também pelo desafio de conhecer tudo a respeito de Edward, o

que poderia ocasionar grandes perigos.

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Um fato que deve ser recordado é como o período inicial do fenômemo

Crepúsculo mexeu com o sentimento das fãs. Muitas adolescentes começaram a ser

cortar para seduzir o vampiro, chamando-o pelo nome, Edward. No modo de pensar

dessas fãs, é o vampiro do “amor impossível” irrompia a própria lei do espaço; o dado

mais curioso é que os atores eram sempre recebidos nos aeroportos pelas fãs, e nesse

momento da recepção do elenco da saga, as fãs queriam fazer-se conhecida através do

cheiro do próprio sangue.

g) Pesquisas de Bella na internet e as compras de livros: a escolha dos livros

permaneceu sem modificação. Um detalhe interessante é que todos os sites buscados

por Bella são os sites oficiais da saga.

h) Música de ninar: no livro Edward toca piano, e a composição dele se torna a música

de ninar de Bella. A novidade discutida pelo grupo focal é que Robert Pattinson, o ator

que interpreta Edward, foi quem compôs a música, uma vez que ele toca piano na

realidade. Esta parte foi reproduzida no filme de modo mais intenso, mantendo e

adequando a cena no ponto ideal.

Figura 13 - http://www.google.com.br/imgres

i) Primeiro beijo: a cena do primeiro beijo não foi modificada, permaneceu como

descrito no livro, porém a ordem foi invertida, acontece um pouco mais tarde no livro.

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Figura 14 - http://www.google.com.br/imgres

j) O jogo de beisebol: no livro ocorre como um relato comum sem muita adrenalina,

mas com diálogo e troca de informações devido ao tempo chuvoso e o esporte ao ar

livre. Transcrição do livro 1, Crepúsculo (2005, p. 258).

-- Então eu soube que vai levar minha menina para ver jogo de beisebol.

– Só mesmo em Washington o fato de estar chovendo baldes não perturbaria em nada

os esportes ao ar livre.

-- Sim, senhor, o plano é esse. – Ele não pareceu surpreso que eu tivesse contado a

verdade a meu pai. Mas ele também podia estar ouvindo.

Para a nossa confirmação ao transmidiar para as telas houve total modificação,

dando a cena mais ação. E aos vampiros, velocidade descomunal. Foi atribuída a

Edward uma rapidez impressionante; a Alice beleza e leveza refletidas em um traje

esportivo. A chegada dos vampiros recém-criados gera uma tensão que o jogo acirra

ainda mais, o que acaba culminado no momento em que James “fareja” Bella, a única

humana a participar da partida. Esta cena para muitos fãs foi um grande presente

recheado de adrenalina, ação e efeitos fantásticos que atenderam as expectativas do

público juvenil.

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Figura 15 - http://www.google.com.br/imgres

Figura 16 - http://www.google.com.br/imgres

Figura 17 - http://www.google.com.br/imgres

A partir desta cena, tanto no livro como no filme, trava-se a batalha entre os

“vampiros do bem”, ou seja, “os vegetarianos” que bebem sangue de animais e os

“vampiros do mal”, que são fascinados pelo sangue humano. Entra em cena a caçada de

James a humana Bella, a qual termina num final trágico para James, sendo sua morte no

livro descrita com exatidão no filme. Com a morte de James a vida de Bella passa a ser

um risco constante, pois Victória promete vingança.

Para o grupo focal, estes trechos do livro foram transpostos de modo muito

intenso nas telas, por conseguir reunir várias gerações de vampiros e lobisomens, que,

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além do mais, reuniam alguns personagens que relatavam como os clãs surgiram e

como eles se efetivaram como grupos especificos.

l) O baile de formatura: foi eleita uma das mais belas cenas do livro e a sensação

permanece ao assistir o filme. Parte do diálogo no livro 1, Crepúsculo (2005, p. 347).

– Bom – murmurou ele enquanto nos aproximávamos devagar da mesa de entradas;

ele carregava a maior parte de meu peso, mas eu ainda tinha de me arrastar e

cambalear com o pé para frente --, o que há de vampiros presentes já basta.

Olhei a pista de dança; um enorme espaço se formara no meio, onde dois casais

giravam. [...] Emmett e Jasper estavam intimidadores e impecáveis com seus smokings

clássicos. Alice estava estonteante com um vestido de cetim preto com contornos

geométricos que revelavam triângulos de sua pela branca como a neve. E Rosalie

estava... Bom, Rosalie. Ela estava inacreditável. Seu vestido vermelho vivo tinha as

costas nuas, apertado até as panturrilhas, onde se abria em uma série de babados, com

um decote que afundava até a cintura. Tive pena de todas as meninas no salão,

incluindo a mim mesma.

Como é descrito no livro o vestido de Bella foi confeccionado por Alice, e esta

possui, reconhecidamente, um excelente gosto em designer. O vestido que Bella usaria

no baile era esperado com muita curiosidade pelos espectadores, porém no evento

pareceu que todos os vestidos estavam mais belos que o seu vestido azul, muito simples

em relação aquele imaginado pelas fãs.

O vestido foi uma decepção unânime dentro do grupo focal do CCJ/MT. Pois,

para elas, como Bella estava sendo preparada por Alice, que tem um senso de moda e

elegância aguçadas, o vestido apresentado no filme ficou abaixo da expectativa. Elas

consideraram que Bella estava muito bonita, porém, faltou-lhe glamour.

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Figura 18 - http://www.google.com.br/imgres

Na cena do baile de formatura houve uma modificação, a qual se refere ao

aparecimento de Victória, no livro não cita a presença dela; e outra alteração concerne à

postura de Edward e Bella. O livro descreve Edward e Bella sentados e o rapaz explica

para ela o significado de crepúsculo, e no filme, eles aparecem dançando e Victória os

observa da escada. As participantes do grupo focal analisaram como uma conexão para

dar sequência ao próximo filme “Lua Nova”, no qual ocorre a caçada de Victória que

deseja vingar a morte de James seu amado, eliminando a vida da humana Bella.

Segundo livro e filme: Lua Nova. As cenas escolhidas foram as seguintes:

a) Bella sonha com a avó: no filme acontece de modo semelhante ao contado no livro.

Bella se depara com a própria realidade, ela é menina que se torna avó no futuro, e lidar

com o tempo a faz entrar em crise. Nesse momento, Edward aparece em seu sonho para

desejar “Feliz Aniversário”.

É uma cena em que Bella sente receio e ao mesmo tempo fica incomodada com

o futuro que lhe aguarda. Esta cena no filme é uma das primeiras que aparece, e Bella

percebe que a imagem refletida é o seu futuro e isso fica evidente quando a jovem faz os

movimentos com os braços e a idosa num processo simultâneo os repete. O grupo focal

considerou-a sem modificações.

Segue essa manifestação com a figura 19, o momento em que Bella a reconhece

através dos movimentos dos braços e estes refletem os seus próprios movimentos.

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Figura 19 - http://www.google.com.br/imgres

b) Festa de aniversário de Bella: no livro Alice programa cuidadosamente a festa dos

18 anos de Bella e todos da família Cullen participam. A festa é realizada na residência

dos Cullens.

Os fãs sentiram falta do crucifixo que há no livro e não aparece no filme. O

quarto de Edward está diferente do descrito no livro.

Um fato que chama a atenção na festa é o corte no dedo que Bella sofre ao abrir

o presente. Jasper, marido de Alice, não consegue controlar o cheiro de sangue humano

emanado por Bella e avança contra a garota. Edward o detém, porém deixa a situação

mais caótica, pois ao tentar proteger Bella a joga contra o piano e as peças de cristais

caem e se quebram sobre ela, deixando-a em pior estado, toda ensanguentada.

Este relato no livro é muito claro, pois detalha com perspicácia cada situação,

deixando o leitor envolvido pela cena, pela situação. O filme cria a partir da cena, o

desespero de Edward que tenta convencer Bella que o romance não é possível, que ela,

eventualmente, irá se machucar ao lado dele. Edward decide abandonar Bella, pois não

quer transformá-la em vampira, por considerar que vampiros não têm alma e ele não

seria egoísta de tirar a alma da mulher amada.

No filme, o episódio não foi tão rico em detalhes e emoções como no livro.

Ocorreram modificações na cena. Contundo não dirimiu o sabor de ver a aventura na

tela. Os detalhes no livro e no filme garantem que Bella, no período de ausência de

Edward, vivia como morta, perambulando e alucinada nas noites de Forks sem a

presença dele. Nas figuras 20 a 23 é possível recordar o momento em que Bella é

acolhida pela família dos Cullen, a mesa dos presentes, o ataque de Jasper e o

tratamento imediato oferecido pelo pai de Edward, Dr. Cullen, que consegue lidar com

sangue humano.

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Figura 20 - http://www.google.com.br/imgres

Figura 21 - http://www.google.com.br/imgres

Figura 22 - http://www.google.com.br/imgres

Figura 23 - http://www.google.com.br/imgres

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Esta cena foi analisada pelas leitoras e fãs da saga Crepúsculo como um

processo de teste para a Bella entre os vampiros e para os Cullens que, mesmo sentindo

o cheiro de sangue humano, deveriam manter o controle. O que não ocorre com todos

da família Cullen, o sangue causa perturbação e diante desse processo o organizador e

pai da família Cullen se mantém firme para lidar com sangue humano e, como médico,

tratá-los.

c) O punho de Charlie bateu na mesa: no livro o pai de Bella, Charlie, percebe que

sua filha não está conseguindo administrar seus sentimentos e procura ajudá-la,

acreditando que mandá-la para a casa da mãe em Jacksonville seria uma boa solução.

Trecho tirado do livro – 2, na íntegra, Livro Lua Nova (2006, p. 74).

— É isso, Bella! Vou mandar você para casa.

-- Eu estou em casa – murmurei confusa.

-- Vou mandar você para Renée, para Jacksonville – esclareceu ele.

Após o diálogo – tanto no livro como no filme – Bella pede uma noite com suas

amigas, liga para Jéssica e combina ir ao cinema. Voltando do cinema, ao passar por um

bar, vê alguns homens estranhos e, nesse momento, escuta a voz de Edward. Depois

desse dia, a sua alucinação é tamanha que se envolve em muitas aventuras perigosas na

tentativa de ouvir ou encontrar com o vampiro. No livro, Bella apenas escuta a voz de

Edward, pois a trama é narrada sem a presença dele. “Lua Nova” é a manifestação de

sua ausência. Narrativa do livro 2, Lua Nova, 2006, p. 79.

-- Tem algum compromisso?

-- Não... Acho que posso ir com você. O que você quer ver?

-- Não sei bem o que está passando – disse, de forma vaga. Essa era a parte perigosa.

Revirei meu cérebro procurando uma dica. Não ouviu ninguém falar de um filme

recentemente? Não viu nenhum cartaz? – Que tal aquele com a presidente?

Ela me olhou com estranheza.

-- Bella, esse saiu de cartaz há séculos.

-- Ah! – Franzi o cenho. – Há algum filme que você quer ver?

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Segundo análise do grupo focal, muitos fãs foram ao cinema por causa dos

personagens, Bella, Edward e Jacob, e de repente só ouvir a voz de Edward iria causar

muitas frustrações. Por isso, a produção cinematográfica optou pela presença física de

Edward, não somente pela sua voz, dando ao público um gosto a mais e provocou uma

modificação em relação ao livro.

As meninas do grupo focal aprovaram a decisão de Edward estar presente nos

momentos de apuros ocasionados por Bella para encontrá-lo ou fazer com que ele viesse

até ela. Edward salva Bella dessas confusões, o que faz com que ele faça parte das

ações, preenchendo, desse modo, as expectativas das fãs. No livro, Edward surge apenas

como fruto das alucinações de Bella; não há, portanto, a presença física de Edward na

vida dela no segundo livro da saga.

d) Aproximação de Bella e Jacob: no livro Bella tem o desejo de correr risco para ser

protegida, e encontra na velocidade da moto um motivo perfeito para ouvir e sentir a

proteção de Edward. O livro relata que ao passar por um local abandonado, encontra

duas motos velhas e as coloca em sua picape e leva para Jacob concertar. O rapaz faz os

reparos nas motos e dá aulas de motociclismo para Bella, e assim, nasce à possibilidade

de preencher o vazio deixado por Edward.

Esta cena na tela sofre muitas modificações. Bella aparece com as motos e nem

diz onde as conseguiu. O grupo focal fez uma leitura comparativa e pontuou a cena

como o início do romance mais sério com Jacob. Para os lobos também existem regras a

serem seguidas. O líder Sam Uley, no livro, pede o fim da amizade entre Jacob e Bella.

Livro 2, Lua Nova (2006, p.197).

-- Sam Uley disse que Jacob não pode mais ser meu amigo.

Charlie me olhou de um jeito estranho.

-- Quem lhe disse isso?

-- Declarei, embora não fosse exatamente o que Jacob dissera.

Essa cena revela para os leitores do livro o medo que o jovem lobisomem tem do

líder Sam; no filme ocorre de maneira mais rápida, sem muitas explicações. A cena que

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muda o personagem Jacob, foi destacada pelo grupo focal, como sendo uma surpresa de

muito bom gosto para o público jovem: a autodefinição de Jacob.

Essa transformação ocorre justamente quando ele vai ao cinema com Bella e

Mike, e sem motivos começa a passar mal, depois some sem nenhuma explicação.

Nesse espaço de tempo Bella se sente culpada, e decide procurá-lo. Quando Jacob

aparece, é outro Jacob.

No livro, esta cena não impressiona tanto como na tela grande. No livro não há a

descrição da tatuagem dos lobos, mas no filme é bem nítido; Jacob corta os cabelos, faz

uma tatuagem no braço e dispensa o uso das camisetas.

O grupo focal destacou a mudança como o grande momento do personagem, a

partir dessa transformação, ele assume uma postura de quem veio para vencer. E para a

maioria das fãs entre 15 e 18 anos foi o melhor presente da saga, um motivo a mais para

assistir e delirar com o porte físico do lobisomem. Os gostos se confundem entre

lobisomem e vampiros.

e) Votação para Bella ser vampira ou não: ao final do livro 2, Lua Nova (2006, p.

380), Bella, enquanto está reunida com a família Cullen, faz uma votação para saber se

será transformada em vampira.

Endireitei-me na cadeira, concentrando-me. Aquela era a minha reunião.

-- Muito bem, então, Edward propôs uma alternativa para a consideração de todos – eu

disse com frieza. – Vamos votar.

Desta vez, olhei para Edward; seria melhor ter a opinião dele de uma vez por todas.

– Quer que eu una à sua família?

Seus olhos eram duros e pretos como sílex.

-- Não desse jeito. Deve continuar humana.

Assenti uma vez, mantendo a expressão pragmática, depois segui adiante.

-- Alice?

-- Sim.

-- Jasper?

-- Sim...

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Essa reunião ganhou a aprovação dos fãs, pois cada vampiro ao votar a favor ou

contra, expressava o porquê da escolha pelo SIM ou pelo NÃO; como foi com a

Rosalie, ela disse não no livro e no filme a sua decisão é mantida com a mesma

explicação, sendo que no terceiro livro da série, ela conta para Bella toda a sua história

de dor antes de ser transformada sem nenhuma chance de escolher.

Para o grupo focal, essa cena é considerada importante, pois há uma condição

para que Bella seja transformada: deve ocorrer após a formatura para evitar a tristeza de

Charlie. E assim se decide o destino de Bella, ela será uma vampira, será eternizada.

Terceiro livro e filme: Eclipse. As principais cenas escolhidas pelo grupo focal do

CCJ/MT:

a) Triângulo amoroso, Edward, Bella e Jacob: o livro é um tratado de escolhas que

Bella deverá fazer; ela precisa optar entre dois destinos: lobos ou vampiros. No livro é

bem claro que para Bella se tornar vampira, ela precisa deixar de ser humana, enquanto

que para viver com o lobisomem, apenas precisa seguir o culto próprio dos lobisomens.

Os lobisomens são opostos dos vampiros, sua temperatura é de 42 º a 43 º e eles

têm febre na presença de vampiros.

Figura 24 - http://www.google.com.br/imgres

No primeiro circuito de discussões sobre o livro, as meninas falaram com

bastante insistência do calor do lobisomem, sendo um grande fator para a atração das

jovens por Jacob, uma vez que sua musculatura definida é considerada ideal para as fãs

e para as mulheres com fetiches sexuais que envolvam calor e criatividade.

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b) O livro das escolhas entre lobos e vampiros: o livro das escolhas não é mencionado

nas telas, mas é considerado pelos membros do grupo. Segundo as participantes do

grupo focal, este é o momento eclipse – a escolha de Bella, a fita que se rompe como

detalha na figura 25.

Figura 25 - http://www.google.com.br/imgres

Conforme informações das meninas do grupo focal, o terceiro volume trouxe

algo esperado e desejado pelas fãs, a verdadeira escolha de Bella, depois de uma

sequência de filmes, livros e outras formas de desdobramentos da saga em revistas e

sites específicos da saga e apropriações dos fãs. A terceira parte fomenta o fim de uma

grande história de amor, paixão e desordem do espírito humana.

c) A chegada dos recém-criados: com o misterioso desaparecimento de pessoas na

cidade de Seattle, a polícia tende para a teoria de que há o envolvimento de uma gangue.

Tal teoria encontra apoio no número de vitímas e por não haver padrão nas escolhas

delas. A seleção parece ser aleatória, a única intenção é matar. A maioria das vitímas

encontradas tinha queimaduras a tal ponto que foram necessários os registros

odontológicos para identificação. Outra característica, a maioria dos corpos mostra

provas de violência brutal, ossos esmagados e rompidos por uma pressão imensa. Estas

marcas são encontradas nos corpos que se deixam pelas ruas, há outros que

desaparecem sem deixar vestígios. No livro 3, Eclipse (2007, p. 202).

Há menos de uma década a cidade de Seattle foi área de caça do mais prolífico serial

killer da história dos Estados Unidos. Gary Ridgway, o Assassino de Green River, foi

condenado pelo homicídio de 48 mulheres.

E agora uma empalidecida Seattle deve enfrentar a possibilidade de abrigar um

monstro ainda mais apavorante neste exato momento.

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O clã dos Cullen fica apreensivo por serem os vampiros mais próximos da

cidade de Seattle, por isso, inicia uma investigação. A primeira suspeita recai sobre os

Volturi que desejam exterminar os Cullen. A espécie de vampiros Volturi é aquela que

não pensa em nada a não ser em destruir, se precisar matar entre eles o fazem sem

remorsos.

No livro o relato tem muita adrenalina e riqueza de detalhes, mas no filme

percebe-se, num primeiro momento, que o grupo de vampiros Volturi, parece ser mais

de 100 pessoas; contudo, como conta o livro, são apenas 21 componentes.

O livro fala de Alice Cullen possuidora de um dom especial, que é a capacidade

de ler pensamentos e prever o futuro; ela afirma que são os Volturi, mas ainda não

consegue perceber o que realmente desejam. Posteriorrmente descobre que Victória está

por trás de toda da batalha. Como Victória não havia definido o plano completo,

decidido cada passo, Alice não conseguiu ver o futuro.

O filme também recorre ao poder de Alice nas horas importantes de apuros. Ela

é consultada para ajudar na prevenção contra os possíveis ataques. Essa personagem é

muita admirada pelos fãs que leram o livro e assistiram ao filme, sendo que sempre se

surpreendem com seu estilo de vestir e de ser. Pode-se afirmar que houve modificações

para compor o quadro com emoção, medo e suspense.

Figura 26 - http://www.google.com.br/imgres

O grupo focal ficou admirado com a quantidade de vampiros apresentados no

filme em relação ao livro. O movimento avassalador também impressionou. Uma legião

que tem sede de sangue e ganha objetivos dados por Victória: matar Bella e destruir os

Cullen. No filme é nítida uma distinção entre o bem e o mal, o que não ocorre no livro.

A fúria dos recém-criados é um ponto salientado pelo grupo focal.

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d) União e treinamentos dos vampiros e lobos: na narrativa do livro Eclipse, em

algum dado momento, aparece o depoimento de alguém para contar como se

transformou em vampiro; com mais destaque para a história de Jasper, que foi eleito

para treinar lobos e vampiros encarregados de proteger Bella e a cidade de Forks.

Em Lua Nova, Bella corta o dedo, Jasper não mantém o controle e tenta atacá-la;

a referência ao fato serve para nos revelar que antes de ser vampiro “vegetariano”, ele

foi general do exército e, depois de transformado, continuou a treinar vampiros

bebedores de sangue humano. Quando entrou para família Cullen, Jasper mudou, mas

ainda sentia grandes dificuldades para dominar seu ímpeto por sangue. Mas, no

momento crucial das batalhas, é escolhido para treinar os dois clãs: lobos e vampiros. O

que revela a confiança que tem nele.

Para o grupo focal, este momento foi semelhante. As principais caraterísticas

contidas no livro são contempladas pelo filme, porém a adaptação para o cinema trouxe

toda a beleza, leveza e determinação dos treinamentos. O que é evidente no livro é o

desejo de destruir os Cullen por parte dos Volturi, porém os “vampiros do mal” não

contavam com a união entre lobos e vampiros, uma vez que eles não se toleram.

O que se confirma, lendo e assistindo a saga, é que Bella foi o motivo primeiro

da união, mas num segundo plano, entra o cuidado para que a cidade de Forks não seja

transformada em um caos. Portanto, lobos e vampiros fizeram uma trégua para proteger

os moradores da grande batalha que estava por iniciar.

e) Bella beija Jacob: a estratégia aprovada, após os treinamentos, foi a de que os

vampiros sairiam para a caçada e os lobos ficariam de guarda na cidade e cuidariam de

Bella. Nesse intervalo, Jacob aproveita para se declarar e dar um beijo na jovem; após o

beijo Bella dá um soco no rosto dele e quebra a mão. No livro, Edward conversa como

um digno cavalheiro com Jacob, porém, no fim o ameaça dizendo que da próxima vez o

matará.

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Figura 27 - http://www.google.com.br/imgres

No filme Edward esquece todo o cavalheirismo e avança em Jacob, dando-lhe

empurrões e socos. Na leitura comparativa no grupo focal percebeu-se que a cena

modificou, transmitindo ao público uma sensação que ele não é tão sangue-frio, que ele

reage impulsivamente pela amada.

Alguns fãs acharam que a cena poderia ter mais interessante. Parecia uma cena

entre estranhos, não causou nenhuma sensação diferenciada.

O grupo focal destaca que a relação de Bella e Jacob é apresentada no livro mais

como uma provocação de Bella a Edward do que como uma atração que possa gerar um

triângulo amoroso que conduza a mocinha a rejeitá-lo. Além disso, no livro Edward

precisa que Jacob proteja Bella, e não o agrederia por ciúmes, sabendo que isso poderia

por em risco essa necessidade.

f) A aliança e o pedido de casamento: antes da batalha de lobos e vampiros contra os

Volturi, Edward convida Bella para sair pelos campos e faz o tão esperado pedido de

casamento; tanto no livro quanto no filme, a cena mantém a expectativa de romantismo.

O grupo focal destacou o fato da cena ser feita numa paisagem belíssima, ideal para o

momento, selando, assim, a característica do amor perfeito, mesmo que seja impossível:

humana e vampiro unidos para sempre.

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A figura 28 mostra exatamente o local da conversa e do pedido de casamento,

um sonho desejado por muitas garotas.

E a figura 29 a entrega do anel de noivado. Esse anel foi cobiçado por muitas

meninas fãs e não fãs da saga. As componentes do grupo focal assistiram e debateram a

cena entre lágrimas e risos, dando a impressão de que a vitória não é simplesmente de

Bella, mas de todas as garotas que se colocaram em seu lugar, assumindo os mesmos

sentimentos, angústias e medos.

Figura 28 - http://www.google.com.br/imgres

Figura 29 - http://www.google.com.br/imgres

e) A batalha final: os Cullen tinham Jasper como líder dos treinamentos, e do lado

Volturi quem liderava era Riley, parceiro de Victória. Durante a batalha há a cena em

que Bella é levada para a montanha, um local muito frio, e, na cabana, Edward ao se dar

conta da condição de humana da amada, que não resistiria ao frio, pede a Jacob que a

esquente com o corpo. Esta cena no livro e no filme ocasionou muitos suspiros e gritos,

mantendo alguns detalhes e dispensando outros.

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No final da cena, Bella beija calorosamente Jacob num desejo de boa luta, todo

esse movimento foi acompanhado por um Edward furioso, mas sem nenhuma reação,

pois, no momento a única preocupação era cuidar da vida de Bella.

Ao prosseguir a cena, Victória e Riley chegam à cabana, atacam Edward para

então, tentar destruir Bella. No livro 3, Eclipse (2008, p.386), a cena é contada por

Bella.

Minha morte.

Seu plano era tão óbvio que chegava a ser prático. O louro grandalhão atacaria

Edward. Assim que Edward estivesse suficientemente distraído, Victória acabaria

comigo.

Seria rápido – ela não tinha tempo para joguinhos ali – mas seria fatal.

Seria impossível me recuperar daquilo. Algo que nem o veneno de vampiro podia

reparar.

Ela teria de parar meu coração. Talvez uma das mãos atravessasse meu peito,

esmagando-o. Algo nesse gênero.

Logo, a luta começa. No livro, o leitor fica sem respiração e com vontade de ver

o final o mais rápido possível. Um dos comentários no grupo focal diz respeito aos

leitores da saga lerem as obras com muita rapidez.

No filme, Bella faz memória ao “culto com os lobisomens”, quando a esposa faz

o “sacrifício”, ao perceber que seu marido está sendo morto, de cortar o próprio pulso

para arrancar sangue e distrair o inimigo. Bella ao fazer uso do método distrai Victória,

o que possibilita a Edward dar-lhe o golpe fatal.

Figura 30 - http://www.google.com.br/imgres

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Para o grupo focal a cena é uma das mais lindas. As integrantes perceberam que

ocorreram modificações, mas que garantiram a emoção de todo o público. Algumas

pessoas ainda preferem à emoção sentida no decorrer da leitura.

Com estas cenas em destaques, busquei sinalizar o empenho do grupo focal

CCJ/MT, durante os meses de discussão, de parar diante das cenas prediletas, de buscar

as recordações que, apesar do tempo, reinventaram as emoções, as lágrimas e os risos, o

prazer de assistir e ao mesmo tempo produzir efeitos de sentidos.

Além do mais, pude observar os seus discursos da atenção, da fidelidade, da

admiração incondicional, do imaginário, sem que com isso perdessem o senso crítico.

Ainda cabe indagar: seria uma formação discursiva própria de adolescentes – de

uma cultura juvenil – cujo perfil foi descrito, cujo modo de vida se assemelha?

Continuarei indagando.

Todavia, uma resposta a algumas perguntas que o senso comum dispara:

adolescentes gostam de ler e de escrever? Sim. Aquilo que os encanta.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS: Sempre em devir

Jovens, culturas, livros, telas e mediações foram vertentes utilizadas para

comportar o desejo de responder aos questionamentos provindos da contemporaneidade,

onde os jovens e adolescentes estão inseridos e da qual se mostra pertinente à busca pela

compreensão de seus artefatos como produção cultural e marca do fenômeno intitulado

de saga Crepúsculo. Utilizamos-as como recurso para entender como, a partir do

consumo e da recepção, as representações midiáticas desencadeadas por vivências

mediadas se articulavam no contexto das culturas juvenis.

Corroborando uma perspectiva comparativa, buscamos o grupo focal como

tentativa de ouvir, compartilhar e acompanhar suas atividades em torno dos lançamentos

referentes à Crepúsculo, bem como novas leituras a partir da saga ou mediada pela

série. Este grupo caracterizou-se de forma diferenciada, sendo que seus componentes, os

sujeitos da pesquisa, assumiram papéis dentro das várias mídias utilizadas que

configuram, também, possibilidades proporcionadas pela interatividade.

As jovens/fãs componentes do grupo focal foram sujeitos-recepetor de modo

simultâneo aos eventos ligados à saga e produtoras das várias discussões no formato de

mídias multimodal, dando a perceber a transmidiação do livro impresso à internet, uma

vez que nenhuma mídia necessariamente dependesse da outra. A saga colaborou no

processo transmidiático e possibilitou as caçadoras de informações o uso do artefato

mediático disponível deste mesmo grupo, diga-se de passagem, que são meninas que

provêm de espaços priviligiados de cultura e outras oportunidades que poucos jovens

têm acesso.

Aceitar tal condição é compreender as juventudes e sua cultura, não segundo um

ponto de vista estereotipado, como um sujeito passivo, mas aceitar as juventudes que

lidam com o que lhe é posto de uma maneira única e criativa, ativamente. Internalizando

e adaptando os sentidos de produtos que circulam em torno de si.

Compreender o fenômeno das juventudes, hoje, requer mais que a compreensão

do ser e a produção nas plataformas comunicacionais. Ser jovem na atualidade está além

de apenas adotar um perfil, compartilhar desmedidamente. Ser jovem é estrapolar em

produtividade, em um processo de interatividade. O ciberespaço, enquanto sede de uma

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cultura ciber, é espaço potencial para as práticas de jovens/fãs que se organizam em

conglomerados virtuais de culto e devoção, os fandoms.

Esta organização dos jovens/fãs tem como intuito não apenas o

compartilhamento de novidades sobre os ídolos, mas a possibilidade de um espaço onde

se produz. A produção é múltipla. Escrever notícias sobre os assuntos relacionados ao

tema do fandom, organizar galerias de imagens do ídolo, da obra, do personagem

apreciado e, acima de tudo, criar, reinventar.

Sendo assim, o Fandom é espaço no qual a interatividade é mãe de todas as

coisas. No caso da série literária Crepúsculo, a leitura dos livros possibilita o início de

um ciclo interativo sem fim. Um jovem/fã lê, depois escreve algo sobre o que lê e o

apresenta a outros jovens/fãs.

A obra de Stephenie Meyer pode ser um exemplo de que o livro em si não é a

única possibilidade de criação. A história contada inicialmente não se finda em si

mesma. Os fãs são donos de olhares que recontam histórias. Um recontar que vai além

de apenas escrever o que se quer. Um olhar envolto por sentidos. Sentidos buscados

nesta pesquisa.

Os efeitos de sentidos observados são primeiro, os do livro ao filme: se no livro

há um tempo e uma escrita alongada, descrições e narrações demoradas, o filme, por sua

vez, traz na sua sintaxe a rapidez, quase como em videoclipe. Segundo as observações

das adolescentes, nem livro, nem filme são melhores ou piores. Elas consideram que

eles se complementam. Surpreenderam-me que a diferença de idade, entre 10 e 18 anos,

não interferiu nessa conclusão. No que se referem às demais observações, já era de se

esperar que o contexto seja muito parecido: famílias, renda familiar, acesso a bens

culturais etc. Terceiro: a transmídia não para na relação livro-filme, continua na

reescritura, na propagação de suas leituras via internet, na forma cuidadosa como

seguem a saga, não importando através de qual mídia seja. Não há ideias pré-concebidas

quanto à linguagem escrita, não verbal, nem quanto às mídias, hipermídias, veículos e

internet.

A realização deste trabalho me possibilitou enxergar o fenômeno cultural em que

a saga vampiresca Crepúsculo se configurou. Em como qualquer obra artística pode ser

ampliada, não necessariamente por seu autor original, mas por diversos coautores

virtuais que interagem diariamente com a obra. A possibilidade de desvelar a história de

vampiros como um fenômeno cultural, midiático e interativo, asim, indo além de uma

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imterpretação de mero passatempo para jovens leitores, pode ser citado como um fator

positivo.

As pistas e travessias desta pesquisa convergem para a necessidade de se

continuar debruçado sobre a temática juvenil que concerne às transmídias. Seguindo tal

vertente que é um devir, e ao aprofundarmos a compreensão discursiva, os estudos,

certamente, serão ampliados. Nos relatos apresentados é tecida uma moldagem ativa da

cultura juvenil, e a narrativa transmidiática, ainda que no aleatório e superficial, é o

pertencimento e o desejo de publicizar o vivido e o produzido a partir da própria

experiência e da vida grupal em constante devir, o modo como os jovens/fãs habitam o

território, agora já desterritorializado e desmaterrializado; porém, cabe ressaltar que a

força coletiva é capaz de tornar visível a memória do grupo e de seus seguidores.

Trata-se, enfim, de vislumbrar, de construir uma proposta de atualização crítica e

reflexiva sobre as complexas condições de vida dos jovens na contemporaneidade e

aprofundar a recepção e o papel deles como atores diante das mídias.

Em devir, ficam outros estudos e outras histórias de vidas e sagas...

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A N E X O

GRUPO FOCAL COLÉGIO CORAÇÃO JESUS – SAGA CREPÚSCULO

QUESTIONÁRIO

Nome__________________________________________________________

Idade ____

Sexo

( ) Masculino

( ) Feminino

Endereço Residencial_________________________________________

1- Qual Sua Renda Familiar?

( ) 1 Salário Mínimo ( ) Entre 1 e 3 Mínimos

( ) Entre 4 e 6 Mínimos ( ) Acima de 6 Salários Mínimos

2- Qual Grau de Escolaridade de sua família?

( ) Ensino Fundamental Completo

( ) Ensino Fundamental Incompleto

( ) Ensino Médio Completo

( ) Ensino Médio Incompleto

( ) Ensino Superior Completo

( ) Ensino Superior Incompleto

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3- Que Nível de ensino você estuda?

( ) Ensino Fundamental I

( ) Ensino Fundamental II

( ) Ensino Médio

4- Qual outra atividade você participa?

_______________________________________________________________

5- Lida com computador/internet há quanto tempo?

( ) Menos de 1 ano ( ) De 1 a 2 anos ( ) + De 2 anos

6- Tem acesso à internet

( ) Em casa ( ) Em lanhouse ( ) Outro

7- Qual o tempo diário?

( ) 1 hora ( ) Entre 1 e 2 ( ) Entre 2 e 4 ( ) + De 4

8- Que tipo de atividade privilegia?

( ) Correspondência ( ) Sites de relacionamento

( ) Curiosidades em geral

( ) Trabalhos acadêmicos/escolares

( ) Livros

( ) Outros - Quais? __________________________________________

9- Pertence a alguma comunidade/grupo – Qual/is? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________

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ENTREVISTA

1- Qual sua relação com o uso do computador?

2- Como você vê a transmídiação (do livro para o cinema do cinema para a internet) da saga Crepúsculo?

3 - Quantos trabalhos você já apresentou? Seria possível falar deles?

5- Que trabalhos você destacaria?

6 - Há algo nos sites, blogs e Twiligth Brasil que você modificaria? Por Quê?

7- Gostaria de tecer outros comentários?