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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA CAED- CENTRO DE POLÍTICAS PÚBLICAS E AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO PROFISSIONAL EM GESTÃO E AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO PÚBLICA FERNANDO RAFAEL CASADO DE BARROS AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO PROFISSIONAL PRODUZIDO PELA EQUIPE GESTORA DE UMA ESCOLA JUIZ DE FORA 2014
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA CAED- CENTRO … · Mestrado Profissional em Gestão e ... desejaram a relotação e aumento na agilidade de autuação dos processos de ... conceitos

Nov 11, 2018

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA

    CAED- CENTRO DE POLTICAS PBLICAS E AVALIAO DA EDUCAO

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO PROFISSIONAL EM GESTO E

    AVALIAO DA EDUCAO PBLICA

    FERNANDO RAFAEL CASADO DE BARROS

    AVALIAO DE DESEMPENHO PROFISSIONAL PRODUZIDO PELA

    EQUIPE GESTORA DE UMA ESCOLA

    JUIZ DE FORA

    2014

  • 2

    FERNANDO RAFAEL CASADO DE BARROS

    AVALIAO DE DESEMPENHO PROFISSIONAL PRODUZIDO PELA

    EQUIPE GESTORA DE UMA ESCOLA

    Dissertao apresentada como

    requisito parcial concluso do

    Mestrado Profissional em Gesto e

    Avaliao da Educao Pblica, da

    Faculdade de Educao,

    Universidade Federal de Juiz de

    Fora.

    Orientadora: Profa. Dra. Edna Rezende Silveira de Alcntara

    JUIZ DE FORA

    2014

  • 3

    TERMO DE APROVAO

    FERNANDO RAFAEL CASADO DE BARROS

    AVALIAO DE DESEMPENHO PROFISSIONAL PRODUZIDO PELA

    EQUIPE GESTORA DE UMA ESCOLA

    Dissertao apresentada Banca Examinadora designada pela equipe de

    Dissertao do Mestrado Profissional CAEd/ FACED/ UFJF, aprovada em

    __/__/__.

    ___________________________________

    Profa. Dra. Edna Rezende Silveira de Alcntara - Orientadora

    ____________________________________

    Membro da banca Externa

    ___________________________________

    Membro da Banca Interna

    Juiz de Fora, .....de..............de 20.....

  • 4

    .

    Dedico este trabalho a minha amada

    esposa, que sempre me apoiou e a

    quem devo parte da experincia

    profissional.

  • 5

    Tudo tem o seu tempo determinado, e h tempo para todo o propsito debaixo do cu.

    H tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;

    Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar;

    Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de danar;

    Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraar, e tempo de afastar-se de abraar;

    Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lanar fora;

    Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar;

    Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz.

    Eclesiastes 3. 1-8

  • 6

    RESUMO

    O presente trabalho tem o objetivo de propor uma ferramenta de auxlio gesto de uma escola estadual do Rio de Janeiro com enfoque no desempenho docente. Trata-se de um instrumento de avaliao profissional, elaborado por Rezende (2012), com base em modelos de gesto por competncias (FRIOZI, 2009) e pautadas em Perrenoud (2000). A justificativa para tal proposta est atrelada aos desafios que a atual equipe gestora tem enfretado no que se refere aos aspectos administrativo-pedaggicos, em virtude de um histrico vivenciado pela escola. Em 2005, houve a substituio da diretora geral em funo de um novo processo de indicao implementado pelo Estado do Rio de Janeiro. Esta nova forma de indicao alterou o sistema de nomeao e exonerao dos diretores escolares. A nova diretora nomeou uma equipe gestora, composta por um diretor adjunto e uma secretria, e procurou renovar a equipe de docentes, o que ocorreu de forma gradativa e por aes administrativas indiretas, dentre elas: alterao e ajuste do horrio de trabalho, redistribuio das tarefas dos professores desviados com seu respectivo retorno funo de origem e a no oposio para aqueles que desejaram a relotao e aumento na agilidade de autuao dos processos de aposentadoria para os que tinham o direito. Assim ocorreram diversas substituies e a equipe da atual gesto encontra-se renovada. Nesse novo cenrio, e entendendo a importncia da avaliao do desempenho docente para o processo ensino-aprendizagem e para a gesto escolar, busca-se estabelecer um critrio que seja capaz de medir, avaliar e conferir transparncia ao trabalho docente. O presente estudo foi realizado luz de conceitos gerenciais em voga na gesto pblica da Educao, especialmente na esfera regional, do Estado do Rio de Janeiro. Os dados resultantes do instrumento de avaliao profissional, sob a forma de questionrio direcionado ao prprio docente, ao aluno e equipe gestora, serviro de referncia para que a gesto da escola possa avaliar o trabalho do docente e criar um alinhamento da prtica pedaggico-administrativa.

    PALAVRAS CHAVE: Avaliao de desempenho profissional. Gesto escolar. Prtica pedaggica.

  • 7

    ABSTRACT

    This paper aims to propose a support tool for the management of a public

    school in Rio de Janeiro with a focus on teacher performance. This is a

    professional assessment tool, developed by Rezende (2012), based on

    competency management models (FRIOZI, 2009) and guided by Perrenoud

    (2000). The justification for this proposal is linked to the challenges that the

    current management team has faced with regard to administrative and

    pedagogical aspects, due to a history lived by the school. In 2005, there was

    the replacement of the Principal on the basis of a new nomination process

    implemented by the State of Rio de Janeiro. This new fashion statement

    changed the naming system and dismissal of school principals. The new

    principal has appointed a management team consisting of a principal and a

    secretary, and sought to renew the team of teachers, which occurred gradually

    and indirect administrative actions, such as: change and adjustment of working

    hours, redistribution of tasks of the diverted teachers with their respective

    homing function and no opposition to those who wished to relocation and

    increased agility assessment of retirement processes for which they were

    entitled. So there were several substitutions and the current management team

    is renewed. In this new scenario, and understanding the importance of teacher

    performance assessment for teaching-learning process and school

    management, we seek to establish a criterion to be able to measure, evaluate

    and provide transparency to teaching. This study was conducted in the light of

    managerial concepts in vogue in the public administration of education,

    especially at the regional level, the State of Rio de Janeiro. Data from

    professional assessment tool, in the form of a questionnaire given to the

    teachers themselves, the student and the management team, will serve as a

    reference for the school management to evaluate the work of teachers and

    create an alignment of teaching and administrative practice .

    KEY WORDS: professional performance evaluation. School management.

    Pedagogical practice.

  • 8

    LISTA DE ABREVIATURAS E SMBOLOS

    AAE Associao de Apoio Escola

    CAED - Centro de polticas pblicas e avaliao da educao

    CLAD Centro Latino Americano para o Desenvolvimento.

    CLT Consolidao das Leis do Trabalho

    CRFB / 88 Constituio da Repblica Federativa Brasileira, promulgada no

    ano de 1988

    DEC Decreto

    DOERJ Dirio Oficial do Estado do Rio de Janeiro

    EF Ensino Fundamental

    ENEM Exame Nacional do Ensino Mdio

    FG Formao Geral

    GIDE Gesto Integrada da Escola

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    IDEB ndice da Educao Bsica

    IED ndice de Eficincia Docente

    IGT Integrante do Grupo de Trabalho

    MCF Mapa de Controle de Frequncia

    MEC Ministrio da Educao

    PAE Plano de Ao Educacional

    PIB Produto Interno Bruto

    PPP Projeto Poltico Pedaggico

    SAERJ Sistema de Avaliao do Estado do Rio de Janeiro

    SAERJINHO Sistema de Avaliao do Estado do Rio de Janeiro, verso

    bimestral

    SEEDUC-RJ Secretaria de Estado de Educao do rio de Janeiro

    SUBGP Subsecretaria de Gesto de Pessoas

    SUGEN Subsecretaria de Gesto de Ensino

    UE Unidade Escolar

    URG Unidade Regional de Governo

    USAID agencia dos Estados Unidos para o desenvolvimento internacional

  • 9

    LISTA DE GRFICOS

    GRFICO 6 Resultados comparados das taxas de desistncia referentes a 1

    srie do Ensino Mdio nos anos de 2005 a 2007. ............................................ 35

    GRFICO 1 Comparativo das taxas de reprovao e evaso escolar entre o

    Estado do Rio de Janeiro e a Unidade Escolar ................................................ 37

    GRFICO 2 Resultados do Ensino Fundamental na srie 2002 a 2008 ....... 38

    GRFICO3 Resultados do Ensino Mdio na srie 2002 a 2008 ................... 39

    GRFICO 4 Resultados do ensino fundamental na srie 2009 a 2012......... 40

    GRFICO 5 Resultados do ensino mdio na srie 2009 a 2012 .................. 40

  • 10

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Efetivo de servidores extraclasse previstos em disposio legal e

    existente na realidade na Unidade Escolar ...................................................... 23

    Tabela 3 - Comparativo das proficincias medias em matemtica considerando

    Brasil; escolas estaduais do Rio de Janeiro; escolas estaduais do Municpio e

    Unidade Escolar, na srie temporal de 2005 a 2011 ........................................ 41

    Tabela 4 - Comparativo das proficincias medias em lngua portuguesa

    considerando Brasil; escolas estaduais do Rio de Janeiro; escolas estaduais do

    Municpio e Unidade Escolar, na srie temporal de 2005 a 2011 .................... 41

    Tabela 5 - Comparativo do IDEB para o 9 ano do ensino fundamental,

    considerando Brasil; escolas estaduais do Rio de Janeiro; escolas estaduais do

    Municpio e Unidade Escolar, na srie temporal de 2005 a 2011 .................... 43

    TABELA 6 Comparativo do nmero de servidores e ocorrncias registradas

    no MCF que resultaram em ausncia de pelo menos uma aula ...................... 53

  • 11

    SUMRIO

    INTRODUO ................................................................................................. 12

    1 A MUDANA DE GESTO EM UMA ESCOLA ESTADUAL DO RIO DE

    JANEIRO E SUAS IMPLICAES ................................................................. 14

    1.1 A mudana do processo de escolha dos diretores na Rede Estadual

    do Rio de Janeiro ........................................................................................... 15

    1.2 Conhecendo a Unidade Escolar ............................................................. 19

    1.2.1 Histrico da Unidade Escolar ................................................................. 20

    1.2.2 A Unidade Escolar na atualidade ............................................................ 21

    1.3 A transio da gesto na Unidade Escolar ............................................ 26

    1.3.1 A gesto escolar atual ............................................................................. 29

    1.3.2 As aes gestoras .................................................................................. 31

    2 A IMPORTNCIA DE UM INSTRUMENTO DE AVALIAO

    PROFISSIONAL COMO FERRAMENTA DE GESTO .................................. 45

    2.1 As evidncias da necessidade da avaliao do desempenho

    profissional na Unidade Escolar ................................................................... 46

    2.1.1 A gesto escolar e seus reflexos no processo ensino-aprendizagem .... 47

    2.1.2 Gesto de pessoas no mbito da Unidade Escolar ................................ 49

    2.2 A avaliao profissional como ferramenta de gesto escolar ............ 54

    2.2.1 Aspectos legais ....................................................................................... 56

    2.2.2 Discusso acerca da avaliao profissional ........................................... 59

    2.2.3 Dimenses da avaliao profissional .................................................... 62

    A avaliao do desempenho profissional de um professor de uma escola

    pblica envolve sua atuao pedaggica, mas tambm o seu exerccio

    profissional enquanto servidor pblico. A seguir, apresenta-se e justifica-se trs

    variveis que devem ser levadas em considerao, a saber: i)a relao

    professor aluno no universo da sala de aula; ii) o saber, planejar e mediar o

    conhecimento; e iii) a atividade administrativa do docente............................... 62

    2.2.3.1 A relao professor aluno no universo da sala de aula ........................ 62

    2.2.3.2 O saber, planejar e mediar o conhecimento ......................................... 63

    2.2.3.3 A atividade administrativa do docente .................................................. 64

    2.3 Um exemplo da avaliao profissional como ferramenta para a gesto

    escolar ............................................................................................................. 65

  • 12

    3 A AVALIAO DE EFICIENCIA DO DOCENTE ......................................... 68

    3.1 A ferramenta de avaliao do desempenho profissional ............................ 68

    3.2 Gesto e docentes: caminho do dilogo atravs do questionrio .............. 69

    3.3 Autoavaliao docente .............................................................................. 73

    3.5 A dinmica da avaliao ........................................................................... 81

    CONSIDERAES FINAIS ............................................................................. 83

    REFERNCIAS ................................................................................................ 85

    ANEXO 1 Decreto n 42838 de 04 de fevereiro de 2011. ............................. 88

    ANEXO 2 - Resoluo SEEDUC n 4778 de 20 de maro de 2012 ................. 89

    ANEXO 3 Portaria E/COIE.E n3 de 19 de setembro de 2001. ...................... 99

    ANEXO 4 Resoluo SEE n2659 de 19 de abril de 2004. ......................... 100

    ANEXO 5 Portaria conjunta SUGEN/SUBGP n2 de 28 de novembro de 2011.

    ....................................................................................................................... 101

    ANEXO 6 Decreto n 42793 de 6 de janeiro de 2011................................... 102

  • 12

    INTRODUO

    Se em um passado recente o maior obstculo da educao bsica

    brasileira era o acesso e a universalizao, atualmente, com a expanso do

    sistema educacional, os esforos tm sido voltados para a qualidade do ensino.

    Assim, a educao bsica tem se deparado com o seguinte desafio:

    como ofertar uma educao de qualidade e de forma universal, de maneira a

    oferecer a todos os cidados a oportunidade de adquirir um cabedal de

    conhecimentos que proporcione o pleno desenvolvimento e prepare para o

    exerccio da cidadania com a devida qualificao para o trabalho na atividade

    ou profisso de sua escolha? Logo, a temtica da universalizao do ensino

    com qualidade suscita a importncia da gesto escolar e, mais

    especificamente, envolve a qualidade do desempenho dos docentes,

    componentes fundamentais de todo esse processo.

    Desta forma, o trabalho desenvolvido pelos professores envolve uma

    srie de competncias necessrias ao seu desempenho que precisa ser

    constantemente avaliado e correlacionado a outras variveis atreladas ao

    contexto escolar. Nessa direo, a avaliao do desempenho docente foco

    deste trabalho deve se tornar um processo que observe outros princpios,

    alm da subjetividade. necessrio entender como os professores

    desempenham sua funo, quais as condies de trabalho oferecidas a esses

    profissionais e como essas questes podem ser correlacionadas a outros

    elementos essenciais para um desempenho eficiente e eficaz.

    Nesse contexto, a presente dissertao objetiva propor uma ferramenta

    de auxlio gesto de uma escola pblica estadual situada na regio

    metropolitana do Rio de Janeiro, que passou por um processo de renovao

    de sua equipe gestora e pedaggica. Com base no instrumento j validado no

    mbito da gesto escolar no Cear, proposto por Rezende (2012), entende-se

    que a gesto da escola objeto deste estudo possa fazer uso de questionrios

    para a avaliao do desempenho docente, a partir dos dados dos prprios

    docentes (autoavaliao), dos alunos e da equipe gestora.

    O produto final desta dissertao, portanto, a propositura da utilizao

    dos questionrios de avaliao de desempenho profissional, elaborados por

    Rezende (2012), na escola investigada. Tal proposta parte da anlise dos

  • 13

    dados da Unidade Escolar, da observao da rotina, sua cultura e histria, de

    entrevistas com a equipe gestora e docentes, os quais evidenciam a

    pertinncia do uso do instrumento nesse novo contexto.

    Portanto, o Plano de Ao pode ser justificado pela iniciativa de se

    utilizar uma ferramenta de gesto que avalie o desempenho dos docentes,

    possibilitando um efeito de reflexo e mudana, resultante da participao e

    discusso dos envolvidos.

    Na organizao deste trabalho, apresenta-se, no primeiro captulo, a

    Unidade Escolar objeto da pesquisa com a descrio do caso de gesto, bem

    como seu contexto histrico. Em seguida, evidenciam-se os elementos que

    reforam a necessidade de avaliar o desempenho dos professores, alm de

    algumas consideraes sobre a importncia de ajudar o professor a refletir

    sobre a sua prtica profissional.

    No segundo captulo, exploram-se as reflexes tericas, as percepes

    dos diversos atores sobre a concepo de avaliao de desempenho

    profissional e os aspectos legais para a realizao dessa avaliao.

    O terceiro captulo destinado ao detalhamento do instrumento de

    avaliao, seus objetivos e o que se pretende avaliar e a dinmica,

    propriamente dita, da avaliao.

    Espera-se, dessa forma, evidenciar a importncia da utilizao de uma

    ferramenta de avaliao para auxiliar a gesto escolar em sua dimenso

    administrativo-pedaggica.

  • 14

    1 A MUDANA DE GESTO EM UMA ESCOLA ESTADUAL DO RIO DE

    JANEIRO E SUAS IMPLICAES

    A presente dissertao tem como objetivo propor a utilizao de uma

    ferramenta de avaliao de desempenho profissional dos docentes como

    auxlio para a gesto de uma escola pblica estadual do Rio de Janeiro. A

    escola, denominada como Unidade Escolar neste estudo, est situada no

    estado do Rio de Janeiro, na regio da Baixada Fluminense.

    A motivao para esta proposta, entendida como um Plano de Ao

    Educacional, decorre da substituio da gestora da escola em 2005 e as

    alteraes na equipe de docentes que se desenvolveu por conseguinte.

    O presente captulo se desenvolve a partir do caso escolhido e destaca

    as prticas adotadas pela gesto da Unidade Escolar para construir uma

    equipe de professores e funcionrios de apoio. Adotamos, como recorte

    temporal inicial o ano de 2005, uma vez que foi nesse ano que a atual equipe

    gestora assumiu a gesto da escola e introduziu outro dinmica para a

    realidade que se apresentava at ento.

    Desta forma, o caso se caracteriza por uma mudana de estilos

    administrativos por parte da nova gesto da escola, em relao antiga

    equipe, que ocasionou uma reorganizao espacial, dos atores e do ambiente

    escolar.

    Este primeiro captulo, portanto, busca apresentar o cenrio,

    fundamentar e entender como a equipe gestora avaliou, discutiu, elaborou e

    colocou em prtica o processo de reorientao e reorganizao da equipe

    escolar.

    A descrio do caso feita com base em documentos internos da

    Unidade Escolar, nos resultados oficiais das avaliaes internas e avaliaes

    em larga escala das quais a escola participa, alm da observao e de

    entrevistas com as equipes gestora, pedaggicas e com professores que

    vivenciaram o processo de mudana.

    Mediante a pesquisa realizada, este primeiro captulo foi organizado de

    forma a demonstrar o contexto da mundaa de gesto da escola, respaldado

    na Resoluo SEE n 2659 de 20 de abril de 2004, publicada no Dirio Oficial

    do Poder Executivo do Estado do Rio de Janeiro e, em seguida, as

  • 15

    caractersticas gerais da escola, seus principais ndices educacionais, os

    principais problemas presentes na escola e, por fim, o perfil da equipe gestora.

    1.1 A mudana do processo de escolha dos diretores na Rede Estadual do Rio de Janeiro

    O caso de gesto selecionado para este estudo est atrelado

    mudana de gesto em uma escola, como j esclarecido. Diante disso,

    apresenta-se o contexto dessa mudana, a qual est relacionada Secretaria

    de Educao do Estado do Rio de Janeiro e, especificamente, Resoluo que

    estabele os procedimentos para a escolha dos diretores.

    At o ano de 2004, o critrio utilizado para a nomeao de diretores das

    escolas que compem a rede estadual de ensino era a eleio direta entre a

    comunidade escolar. Nesse modelo, os candidatos inscreviam sua chapa

    (diretor e diretor adjunto), montava-se uma comisso eleitoral, composta por

    professores lotados na unidade e, no dia previamente determinado, os alunos

    maiores de 14 anos, os responsveis dos alunos menores, os professores e

    funcionrios estatutrios escolhiam qual chapa deveria gerir a escola.

    Nessa poca, foram identificados alguns problemas como: a falta de

    periodicidade nas eleies, possibilidade de reeleies consecutivas e

    campanhas eleitorais pouco ticas (compra de camisas, brindes, promessas de

    facilitao do quadro de horrio dos docentes), o que comprometia a gesto e

    o desenvolvimento da escola, uma vez que, com vistas a uma possvel

    reeleio, os gestores pautavam suas aes em medidas que no

    desagradassem seus eleitores. Desta forma, a prtica da gesto escolar no

    estava alinhada ao desempenho escolar e a eleio no apresentava nenhuma

    mudana. Como pondera Neubauer (2008 apud BARROS&MENDONA,

    1998), a possibilidade do clientelismo por si ocorre como um dos efeitos

    danosos deste critrio de escolha. Assim, a simples forma de escolha da

    gesto pelo vis culturalmente reconhecido como o mais democrtico no

    garantia de melhor opo sob o ponto de vista da eficincia.

    Nessa direo, a Resoluo SEE n 2659, publicada no Dirio Oficial

    do Poder Executivo do Estado do Rio de Janeiro (DOERJ), em 19 de abril de

    2004, continha a seguinte resenha: Estabelece procedimentos de consulta

  • 16

    para a indicao de diretoras para as unidades escolares rede pblica estadual

    e d outras providncias. (DOERJ, 19 de abril de 2004, p.14).

    Essa resoluo marcou a forma com que os diretores eram nomeados,

    pois se antes existia uma eleio direta para os concorrentes ao cargo de

    diretor de escola que privilegia a tese do fortalecimento da democracia ao qual

    a comunidade escolar, compreendida por professores, funcionrios

    estatutrios, alunos maiores de 14 anos e responsveis dos alunos mais novos

    faziam a escolha do diretor, agora o mtodo de escolha passou a ter outro

    paradigma, com foco nas habilidades de gestor. O contrato de gesto,

    denominado Plano de Gesto, o qual o postulante funo de diretor teria que

    desenvolver, a expresso mais evidente de que se busca maior eficincia e

    qualidade tcnica do gestor escolar.

    Nessa perspectiva, a formao do gestor tornou-se fundamental,

    constando, inclusive na resoluo, que diz considera a necessidade de

    promover a indispensvel qualificao dos Diretores das Unidades Escolares,

    (DOERJ, p.14, 20 de abril de 2004). Em outras palavras, percebeu-se que a

    funo de diretor de Unidade Escolar no poderia ocorrer somente pela

    aprovao da comunidade. Era necessrio que o gestor tivesse habilidades e

    competncias gerenciais.

    Como requisito para o exerccio da funo de diretor, a resoluo previa

    que, preferencialmente, o candidato fosse diplomado em curso superior,

    conforme asseverava o 1 do artigo 1. A prova de sua capacidade

    administrativa estava materializada no chamado Plano de Gesto que deveria

    ser confeccionado pelo pretendente ao cargo de diretor, conforme previso do

    2 do artigo 3. Este plano de gesto seria o critrio determinante para a

    indicao do futuro diretor.

    Art.4 - Aps o Procedimento de consulta, o Grupo Executivo Estadual encaminhar os nomes dos indicados ao Secretrio de Estado de Educao, que designar, preferencialmente, um dos nomes para a nomeao da Unidade Escolar, levando em conta, para tanto, o melhor Plano de Gesto apresentado. (Grifo nosso) (DOERJ, p.14,20 de abril de 2004).

    O Plano de Gesto consistia em um documento de anlise situacional

    na qual se descreviam os fatores positivos e negativos bem como o

  • 17

    estabelecimento de uma estratgia, contendo possveis aes, metas e prazo,

    para se elevar o nvel administrativo-pedaggico da escola1.

    O processo foi composto por trs etapas. A primeira etapa era uma

    consulta, nos moldes da eleio. A segunda etapa consistia na elaborao de

    um documento que fosse capaz de realizar um diagnstico preciso da escola e,

    ao final, o candidato deveria propor mudanas e demonstrando como as

    implementariam se fosse indicado, inclusive com a apresentao de um

    cronograma. Esse documento, como j esclarecido, era o Plano de Gesto. A

    terceira etapa consistia na anlise do currculo que levava em considerao o

    tempo no magistrio, qualificao profissional e a experincia administrativa.

    Nessa nova forma de indicao dos gestores, evidencia-se o enfoque

    maior na capacidade administrativa e de gerncia, especialmente devido

    construo do documento denominado Plano de Gesto, uma vez que,

    segundo as orientaes da SEEDUC, o plano de gesto que melhor

    apresentasse a escola e com as propostas mais coerentes teria o gestor

    nomeado. Destaca-se que a SEEDUC promoveu um treinamento sobre a

    construo e confeco do plano de gesto com todos os candidatos

    envolvidos.

    A referida informao pode ser constatada observando o marco

    regulatrio editado pela SEEDUC, Resoluo n 2659 de 19 de abril de 2004

    no artigo 4.

    Art.4 Aps o Procedimento de Consulta, o Grupo Executivo Estadual encaminhar o nome dos indicados ao Secretrio de Estado de Educao, que designar, preferencialmente, um

    1O plano de gesto foi um documento elaborado por todas as candidatas ao cargo de diretora e

    constavam obrigatoriamente dos seguintes tpicos: Identificao do postulante / Diretor; 1- Identificao da Escola; 2- Misso da Escola; 3- Diagnostico da Escola, 3.1 Situao Atual, 3.2Vulnerabilidades, 3.3 Situao Desejada, 3.4 Oportunidades; Definio do Projeto; 4 Objetivo, 4.1 Geral, 4.2 Especficos; 5 Metas (quantificar e periodicidade); 6 Gesto de Matricula; 7 Sntese da Proposta Pedaggica, 7.1 Projetos Pedaggicos, 7.2 Projetos Especiais, 7.3 A aprendizagem, a permanncia e a progresso de todos os alunos, 7.4 A aplicao dos conceitos de aprendizagem, competncias, interdisciplinaridade e contextualizao, 7.5 Matriz curricular, Plano de curso, Regimento interno, Quadro de horrios, Calendrio escolar, 7.6 Selecionar e caracterizar estratgias de recuperao de aprendizagem para os casos de baixo rendimento escolar definindo como e quando recuperar, 7.7 Que aes imediatas de mdio e de longo prazo podem ser desenvolvidas pela escola para assegurar a melhoria da aprendizagem e a permanncia do aluno; 8 Plano de aplicao de recursos, 8.1 Plano de aplicao de recursos de manuteno e apoio nutrio, 8.2 Parcerias estabelecidas pela escola, 8.3 Forma de divulgao para a comunidade dos recursos disponveis; 9 Sistema de controle e avaliao; 10 Cronograma de execuo resumido etapas, data de incio e durao; Anexos

  • 18

    dos nomes para a Direo da Unidade Escolar, levando em conta, para tanto, o melhor Plano de Gesto apresentado.

    A essa poca, a preocupao dos dirigentes da educao fluminense

    residia nas questes administrativas, pois o tema foi objeto de impedimento

    para aqueles diretores que pleiteavam continuar seus exerccios no cargo, uma

    vez que o artigo 6 no pargrafo nico impedia o atual gestor que no tivesse

    comprovado a regularidade do processo de prestao de contas das verbas

    recebidas devidamente aprovadas pela associao de apoio escola (AAE), o

    atesto da sua regional e a apresentao do inventrio dos bens patrimoniais da

    escola.

    Por fim, para no deixar dvidas acerca do estabelecimento do novo

    paradigma, o artigo 11 afirma ser poder discricionrio do Secretrio de

    Educao a designao do diretor escolar, dadas as condies elencadas nos

    incisos, fonte Resoluo SEE n 2659/2009.

    Conforme cita Mendona (2006, p.36), tal estudo, patrocinado pelo

    Banco Mundial e pelo governo Japons, concluiu que as responsabilidades

    institucionais, mtodos e processos de gesto e qualificao profissional dos

    recursos humanos deveriam ser mais bem preparados. E nesse sentido que

    nova forma de escolha do diretor, preconizada na Resoluo citada caminhava,

    uma vez que demanda ao postulante ao cargo de diretor, um algo a mais, que

    o seu currculo profissional e sua capacidade de realizar anlise sobre a

    Unidade Escolar que deseja ser gestor e propor aes que visem ao seu

    desenvolvimento associada consulta popular.

    Foi neste contexto que ocorreu a mudana de gesto da Unidade

    Escolar focalizada neste estudo e, conforme ser evidenciado, iniciou-se com

    grande rejeio. Atualmente, com a mudana do quadro de funcionrios, a

    equipe gestora possui a necessidade de um maior enfoque nas aes voltadas

    dimenso administrativa-pedaggica, para o qual este estudo apresenta uma

    proposta.

  • 19

    1.2 Conhecendo a Unidade Escolar

    A Unidade Escolar est situada em um bairro central do municpio de

    Nova Iguau, na regio da Baixada Fluminense, no Estado do Rio de Janeiro.

    A escola investigada pertencente Secretaria de Estado de Educao do Rio

    de Janeiro (SEEDUC). Como nos outros Estados da Federao, a Secretaria

    que se dedica regulao das unidades escolares e do ensino.

    A SEEDUC subdividida em diversas Subsecretarias, definidas por

    competncia de atuao, e 14 Diretorias Regionais distribudas por localizao

    ou regio demogrfica, conforme regulamentado atravs do Decreto n 42838

    de 04 de fevereiro de 20112. Toda esta estrutura tem a funo de normatizar as

    escolas e se responsabilizar por elas, atrves de aes como o

    estabelecimento de regras para seus servidores, criao de programas

    polticos educacionais ou aderir aos federais, estabelecimento do currculo

    mnimo e realizao de avaliaes.

    O papel da SEEDUC, assim, possibilita que, apesar de as escolas que

    compem a rede estadual de ensino serem completamente heterogneas, o

    funcionamento dessas escolas sigam os parmetros legais. Nesse sentido, as

    possiblidades de avaliar os alunos, o currculo mnimo a ser contemplado, os

    mecanismos de gerenciamento de bens patrimoniais, a forma de aplicao dos

    recursos financeiros e as regras relativas aos recursos humanos so bons

    exemplos de regulao que so comuns a todas as escolas da rede.

    No que se refere s especificidades, cada escola possui uma

    caracterizao, seja na rede fsica (j que os prdios escolares no so

    padronizados), na micro sociedade formada pelo agrupamento dos mais

    diversos tipos de atores sociais, no contexto social e histrico em que as

    escolas esto inseridas. Alm disso, outro fator que produz a particularidade de

    cada unidade a sua gesto. comum que escolas de uma mesma Diretoria

    Regional que, em princpio, esto inseridas no mesmo contexto social3,

    entendendo que as variveis sociais como renda, saneamento bsico, acesso

    cultura, servios pblicos e demais quesitos observados pelo IBGE (instituto

    2A integra deste dispositivo legal encontra-se no Anexo 1.

    3 Cabe ressaltar que as Diretorias Regionais esto divididas por reas e a escola objeto de

    estudo est inserida em uma regio metropolitana da cidade do Rio de Janeiro, conhecida por Baixada Fluminense que ser melhor apresentada no decorrer deste captulo.

  • 20

    brasileiro de geografia e estatstica) so similares e, mesmo assim, umas se

    destacam em relao s outras. Portanto, a gesto tambm uma varivel a

    ser considerada diante das discrepncias de resultados discentes e diante da

    maneira como se encaram as adversidades.

    No que se refere Unidade Escolar focalizada nesta dissertao, a sua

    localizao influencia em seu pblico de alunos. Como j indicado, a escola

    est situada na regio da Baixada Fluminense, que tem a caracterstica de

    servir como dormitrio para os cidados que trabalham na cidade do Rio de

    Janeiro. A regio conhecida pela composio social, em sua maioria, da

    poro mais pobre da populao. Os ndices de violncia e o pouco

    investimento na estrutura das cidades como saneamento bsico tambm so

    caractersticas da regio.

    Dentre os treze municpios que compem a Baixada Fluminense,

    destaca-se o municpio de Nova Iguau. Este municpio conta com

    aproximadamente 800 mil habitantes, PIB per capta de R$12000,004, segundo

    dados do IBGE (2010), sendo subdividido em nove regies administrativas

    denominadas de Unidades Regionais de Governo (URG). A URG 1 a

    principal, pois concentra os bairros mais centrais. neste ambiente scio

    geogrfico, no bairro central do maior municpio de uma regio perifrica e de

    baixo poder aquisitivo, que est inserida a Unidade Escolar pesquisada.

    1.2.1 Histrico da Unidade Escolar

    A Unidade Escolar foi criada na dcada de 50 e, inicialmente, era um

    pequeno Grupo Escolar com trs salas, nas quais funcionavam as turmas de 1

    a 5 srie do antigo 1 grau, em trs turnos. O aumento da demanda forou o

    grupo escolar a ter mais duas salas de aula, contando, ento, com cinco salas.

    Com o passar do tempo, Grupo Escolar foi convertido em Escola Estadual,

    com turmas de alfabetizao a 4 srie. Em 1976, foi implantado o ensino de

    5 a 8 srie. No final da dcada de 90, iniciu-se o antigo ensino de 2 grau

    (Formao Geral), nos turnos manh e noite, com o gradativo trmino do

    funcionamento das turmas de 1 a 4 srie.

    4Fonte:http://www.ibge.gov.br/cidadesat/xtras/perfil.php?codmun=330350&search=rio-de-

    janeiro|nova-iguacu. Acesso em 20 de janeiro de 2012.

    http://www.ibge.gov.br/cidadesat/xtras/perfil.php?codmun=330350&search=rio-de-janeiro|nova-iguacuhttp://www.ibge.gov.br/cidadesat/xtras/perfil.php?codmun=330350&search=rio-de-janeiro|nova-iguacu

  • 21

    Ao longo do tempo, embora a Unidade recebesse recursos destinados

    manuteno do prdio, ocorreu uma depreciao gradual do prdio escolar

    devido ao mau uso dos recursos. De tal modo, em 2004, a situao da escola

    era muito ruim: os muros limtrofes da Unidade estavam caindo, os telhados

    com muitos vazamentos, a cozinha em pssimo estado e havia ausncia de

    refeitrio. Toda essa depreciao impactava negativamente no aspecto esttico

    e funcional do estabelecimento.

    Alm desses aspectos negativos, sob a perspectiva pedaggica, havia

    muitos alunos com baixo rendimento, elevada evaso, em especial no turno da

    noite, o que, inclusive, o levou extino em 2007. Tais problemas afetavam,

    consequentemente, os funcionrios, cuja equipe encontrava-se, segundo

    percepo pessoal, desmotivada.

    Atualmente, conforme ser melhor detalhado na prxima seo, a

    Unidade Escolar funciona com turmas de 6 ao 9 ano do Ensino Fundamental

    no turno da tarde e Ensino Mdio no turno da manh, foram feitos reparos,

    restabeleceu-se a segurana e a higiene, a equipe de funcionrios est mais

    unida e os alunos mais motivados.

    1.2.2 A Unidade Escolar na atualidade

    A Unidade Escolar, atualmente, possui oito salas de aulas com cerca de

    37 m2 cada, dois ptios desprovidos de cobertura, sala de professores,

    secretaria conjugada direo, sala de coordenao pedaggica, sala de

    leitura, laboratrio de informtica com 12 computadores conectados rede

    (internet), sala de departamento pessoal, sala de arquivo inativo, cozinha,

    dispensa, um espao improvisado como refeitrio, banheiros de aluno,

    banheiro de professor e funcionrio e almoxarifado.

    A Unidade atende cerca de 600 alunos, divididos no turno da manh e

    tarde. No turno da manh, ofertada a modalidade de Ensino Mdio regular e,

    no turno da tarde, o segundo segmento do Ensino Fundamental.Para atender

    esses alunos, h 29 professores regentes com nvel superior distribudos em

    todas as disciplinas. Cabe ressaltar que esse quantitativo supre a carncia de

    docentes para a escola, ou seja, existem professores em nmero suficiente

    para lecionar os componentes curriculares (matemtica, lngua portuguesa,

  • 22

    lngua estrangeira, histria, geografia, qumica, fsica, educao fsica, filosofia,

    sociologia e biologia).

    Em termos de atividades extraclasses, a Unidade conta com o projeto

    Mais Educao com cerca de 100 alunos no contraturno, sendo 25 alunos de

    cada ano do Ensino Fundamental. O projeto Mais Educao foi criado atravs

    da portaria interministerial n17/2007 em parceria com a Secretaria Estadual de

    Educao e tem o objetivo de aumentar a oferta educativa atravs de

    atividades no contraturno dos alunos, a fim de proporcionar um aumento na

    jornada escolar e promover um reforo. No caso da escola estudada, esse

    reforo feito atravs do letramento com nfase na leitura e interpretao,

    letramento matemtico com nfase em jogos educativos e atividades

    esportivas (MEC, 2009). Outro projeto desenvolvido na Unidade o conhecido

    EnterJovem5, que tem o objetivo de orientar profissionalmente os jovens.

    Dessa forma, os educadores ensinam etiqueta profissional, como elaborar um

    currculo, como se comportar em uma entrevista de emprego, lngua inglesa e

    informtica. O projeto tem, aproximadamente, 30 alunos do Ensino Mdio,

    maiores de 16 anos, no contraturno.

    Devido a sua localizao privilegiada, que est no itinerrio de diversas

    linhas de nibus e estaes ferrovirias, a escola recebe alunos de diversos

    bairros do entorno do Municpio, configurando uma enorme heterogeneidade,

    uma vez que existem alunos de todos os segmentos sociais da populao.

    No que se refere aos funcionrios, h uma considervel defasagem em

    termos de profissionais que deveriam atuar na escola. A seguir, encontra-se o

    quadro de funcionrios constantes na Unidade Escolar em comparao ao

    quantitativo previsto na Resoluo SEEDUC n4778 de 20 de maro de 20126.

    5 O Enter Jovem um projeto criado pelo Instituto Empreender e financiado pelo USAID

    Agncia dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional e diversas empresas, se destina a jovens em situao de desfavorecimento social na faixa etria de 16 a 19 anos que estejam cursando o ensino mdio em uma escola da rede pblica, visa promover a incluso digital e a comunicao global. Desta forma a instituio estabeleceu uma parceria com a unidade escolar para proporcionar um melhor bem estar aos alunos. 6A integra deste dispositivo legal encontra-se no Anexo 2.

  • 23

    Tabela 1 - Efetivo de servidores extraclasse previstos em disposio legal e existente na realidade na Unidade Escolar

    Efetivo de servidores da Escola

    Funo Previsto na Resoluo

    Real na Unidade Escolar

    Diretor geral 1 1

    Diretor adjunto 1 1

    Secretria 1 1

    Auxiliar de secretaria 1 0

    Orientador educacional 1 0

    Coordenador pedaggico

    1 1

    Agente de pessoal 1 0

    Agente de leitura 2 1

    Coordenador de turno 3 0 Fonte: MCF (mapa de controle de frequncia)

    Como se observa, a defasagem ocorre, em especial, nas funes de

    auxiliar de secretaria, orientador educacional, agente de pessoal, agente de

    leitura e coordenador de turno. Isso provoca um acmulo de trabalho, por

    sobreposies de funes. Desta forma, os diretores geral e adjunto se

    revezam nas atribuies inerentes ao agente de pessoal e ao orientador

    educacional. A coordenadora pedaggica e a agente de leitura auxiliam na

    atribuio de coordenador de turno.

    Nas funes de suporte Unidade Escolar, mais especificamente

    tratando-se da parte pedaggica, as escolas estaduais do Rio de Janeiro

    contam com dois agentes externos aos quadros, mas ligados SEEDUC, a

    saber: o inspetor escolar e o Agente de Acompanhamento da Gesto Escolar

    (AAGE).

    O Inspetor Escolar fundamental para o bom funcionamento das

    escolas pblicas e particulares do estado e tem como atribuies:

    Art. 2. - funo precpua do Inspetor Escolar zelar pelo bom

    funcionamento das instituies vinculadas ao sistema estadual de ensino - pblico e particular - avaliando-as, permanentemente, sob o ponto de vista educacional e institucional e verificando: a) a formao e a habilitao exigidas do pessoal tcnico-administrativo-pedaggico, em atuao na unidade escolar. b) a organizao da escriturao e do arquivo escolar, de forma que fiquem asseguradas a autenticidade e a regularidade dos estudos e da vida escolar dos alunos.

  • 24

    c) o fiel cumprimento das normas regimentais fixadas pelo estabelecimento de ensino, desde que estejam em consonncia com a legislao em vigor. d) a observncia dos princpios estabelecidos na proposta pedaggica da instituio, os quais devem atender legislao vigente. e) o cumprimento das normas legais da educao nacional e das emanadas do Conselho Estadual de Educao - RJ. (Portaria E/COIE.E Normativa n.03, de 19 de setembro de 20017.

    O AAGE, antigo Integrante do Grupo de Trabalho (IGT), tem o objetivo

    de facilitar e promover os conceitos da gesto eficaz, voltada aos termos

    propostos pelo novo paradigma de gesto escolar e meritocracia, estabelecido

    pelo Programa de Educao do Estado, sua atividade est diretamente ligada

    ao programa denominado Gesto Integrada da Escola (GIDE)8.

    Esses dois profissionais so lotados na regional e prestam

    acompanhamento na Unidade Escolar. Cada um conta com um grupo de

    escolas e suas atuaes se operacionalizam atravs de visitas peridicas ou

    quando solicitados pela gesto.

    Na escola pesquisada, o inspetor escolar atua em parceria com a equipe

    gestora no tocante a fornecer orientaes legais sobre documentaes de

    alunos, publicaes de alunos concluintes, fiscalizao do trabalho executado,

    seja no setor pedaggico, seja no administrativo, em especial para o

    cumprimento dos deveres funcionais dos profissionais que atuam na escola. J

    o AAGE est mais voltado para a observao dos resultados das avaliaes

    externas, nos ndices educacionais e o desenvolvimento pedaggico.

    Cabe ressaltar que o quantitativo de funcionrios administrativos ou no

    regentes estabelecido observando-se a classificao da escola, a qual pode

    variar em cinco nveis identificados de A a E. A classificao de uma escola

    leva em considerao o quantitativo de salas de aula e de alunos. A Unidade

    em estudo possui a classificao C.

    Vale lembrar que a Resoluo no contempla o chamado pessoal de

    apoio, que representa os funcionrios de limpeza (em nmero de trs),

    7A integra deste dispositivo legal encontra-se no Anexo 3.

    8 GIDE um modelo de gesto baseado no mtodo PDCA (planejamento, execuo,

    verificao, ao corretiva) dotada de um sistema gerencial que registra, documenta e unifica as aes da escola de tal forma que pode-se visualizar sistematicamente toda a escola em seus aspectos estratgicos, administrativo e pedaggico. O objetivo da GIDE melhorar os indicadores da escola e em especial o IDEB e aplicada a todas as escolas da rede estadual.

  • 25

    porteiro (um), agente de disciplina ou inspetor de alunos (um), merendeira

    (uma) e auxiliares de cozinha (trs). Todavia, considera-se que o nmero

    desses profissionais segue a mesma tendncia, ou seja, reduzido e aqum

    do ideal.

    Outro aspecto importante em relao Unidade Escolar o

    posicionamento que se tem acerca do Projeto Poltico Pedaggico (PPP).

    observada a seriedade da equipe em sua construo e o formato, desde 2006,

    atualizado anualmente.

    O PPP est estruturado da seguinte maneira: possui um eixo temtico

    que Resgate de Valores ticos, Morais e Familiares; a identificao da

    escola; sua histria desde a fundao at os dias atuais e como est inserida

    na comunidade.

    No contexto scio geopoltico, h um breve comentrio sobre o patrono

    que lhe empresta seu nome; um diagnstico da Unidade Escolar em si sob o

    enfoque dos alunos e responsveis, e a caracterizao da origem dos alunos,

    como eles so e qual a realidade de suas famlias.

    A justificativa do PPP reside em se obter todo o conhecimento da escola

    e de seus alunos; os objetivos; a definio do marco referencial9;

    fundamentao terica, alicerada nos preceitos da gesto democrtica.

    H, ainda, a estrutura e organizao da escola, demonstrando seu

    organograma; calendrio escolar oficial publicado em Dirio Oficial do Poder

    Executivo do Estado do Rio de Janeiro; matrcula e distribuio de turmas,

    turno, srie, regimento operacional. O sistema de avaliao est em

    conformidade com o estabelecido pela SEEDUC-RJ; alm de apresentar o

    currculo, programas e projetos internos. No so contempladas quaisquer

    questes de ordem funcional, como possveis remoes e critrios de escolha

    entre os docentes, uma vez que estes temas so regulados diretamente pela

    SEEDUC-RJ.

    Ressalta-se que o PPP da Unidade Escolar construdo coletivamente

    por meio de ciclos de debates e reunies com a participao da comunidade

    9 O Marco Referencial o Enfoque Poltico-Pedaggico da escola. Subdivide-se:

    - Marco Situacional (Anlise da realidade na qual a escola est inserida); - Marco Doutrinal/Filosfico (Proposta de sociedade, pessoa e educao que a escola assume) - Marco Operativo (O caminho para se atingir o que queremos). Da anlise dos marcos, a escola define sua Identidade Estratgica (Misso, Viso de Futuro e Valores) que traduzida em metas de melhoria. (GODOY, p. 24 e 28, 2009).

  • 26

    escolar, professores e equipe gestora que, aps colher todas as informaes,

    dados e contribuies, organiza a redao e submete-o apreciao e

    correo posterior.

    Aps essa breve caracterizao da Unidade Escolar, detalha-se, a

    seguir, os aspectos relacionados gesto escolar.

    1.3 A transio da gesto na Unidade Escolar

    A atual gestora da Unidade Escolar assumiu a direo em 2005, aps a

    particpao no processo da SEEDUC, cnforme esclarecido na seo 1.1.

    Durante a participao no processo, o seu Plano de Gesto tinha como

    objetivo central a melhoria da qualidade do ensino oferecido, tornando o campo

    pedaggico o centro da gesto e as questes administravas sanadas para o

    melhor direcionamento pedaggico. De acordo com ela, a Unidade Escolar

    apresentava uma srie de problemas administrativos e pedaggicos que foram

    se acumulando com maior nfase a partir do segundo semestre de 2002.

    Esses problemas podem ser subdivididos em duas grandes categorias.

    Em uma categoria, esto inseridos aspectos mais burocrticos, como o

    uso dos recursos financeiros sem planejamento, sem estruturao de

    prioridades, sem a participao de demais membros da comunidade escolar.

    Desta forma, eram comuns problemas fsicos, como salas de aula pouco

    iluminadas por problemas de lmpadas queimadas; muros limtrofes em mau

    estado de conservao, com risco de desabamento; vazamentos nas torneiras;

    ausncia de iluminao no ptio; piso completamente irregular. Alguns

    materiais de limpeza e de escritrio eram muito abundantes, com quantidade

    alm do necessrio para o consumo mensal; havia aquisio de camisas para

    distribuio aos alunos no final do perodo letivo. Enfim, esses eram os

    exemplos do desperdcio das verbas repassadas Unidade Escolar, como

    tambm uma sala de informtica existente, mas inoperante, qual os alunos

    no tinham acesso; instalaes fsicas depreciadas, no que diz respeito

    iluminao; vazamentos no telhado, banheiros danificados. Tudo isso

    contrastava com excessivos gastos em passeios a parques aquticos e

    parques de diverses. Vale ressaltar que esses passeios estavam

    desconectados da parte pedaggica.

  • 27

    A outra categoria se enquadra no ramo dos conhecimentos das relaes

    humanas e dizem respeito gesto de pessoas como: o nvel de cobrana, a

    comunicao, orientao e parceria que o gestor deve ter com o restante de

    sua equipe.

    Nesse quesito, importante ressaltar que o absentesmo dos docentes

    no era computado, existindo uma espcie de subnotificao. Em geral, os

    docentes no compareciam para lecionarem e, em outra oportunidade, davam

    explicaes das mais diversas. Diante de tais fatos, a antiga gestora os

    aceitava e no informava a falta para a SEEDUC, o que resultava em: o

    professor no comparecia ao dia letivo, no tinha o dia descontado e o aluno

    no tinha a aula reposta.

    Outro aspecto observado era a desmotivao da equipe; prticas

    pedaggicas exclusivamente expositivas; cultura da reprovao como forma de

    indicar um bom ensino e como instrumento de poder, proporcionando altos

    ndices de evaso, em especial para o turno noturno.

    Dessa forma, grande quantidade de alunos considerados desistentes ou

    evadidos simplesmente deixavam de frequentar as aulas por entenderem que,

    a reprovao era tida como certa. Havia desistncia dos estudos e os poucos

    que permaneciam tinham grandes expectativas de sofrerem, ao menos, uma

    reprovao em uma disciplina.

    Reside nessa categoria, assim, o foco de nossa pesquisa, tendo em

    vista que a gestora optou por solucionar esses problemas com a reforma da

    equipe, em especial, os professores, o que se deu por mtodos, embora legais,

    voltados para critrios subjetivos e empricos, como otimizao dos docentes

    dentre suas habilitaes, retorno dos docentes que estavam em funes

    diversas para a sala de aula, monitoramento do cumprimento da carga horria,

    dentre outras medidas.

    Aps toda anlise sob o diagnstico, o plano de gesto deveria conter as

    possveis solues. O gestor estabeleceria metas e indicaria como alcan-las.

    Existia uma orientao da SEEDUC de que as escolas seriam avaliadas com

    base no disposto no plano de gesto no final do binio e, dependendo do

    resultado dessa avaliao, o gestor continuaria no cargo ou seria exonerado.

    Durante a pesquisa no se encontrou nenhum documento a esse respeito,

    todavia tal informao foi dada pela atual gestora.

  • 28

    Disputaram a direo da escola a atual gestora, a sua antecessora e

    uma professora do turno da noite e que compunha o quadro de funcionrios h

    alguns anos na unidade. No rendimento, a atual gestora da Unidade Escolar

    obteve melhor aproveitamento nos quesitos de anlise do Plano de Gesto e

    detinha o melhor currculo. Como sua pontuao foi a maior das outras duas,

    ela foi a escolha da SEEDUC e sua nomeao ocorreu em janeiro de 2005.

    De acordo com relatos, a gestora antecessora iniciou um movimento de

    boicote, juntamente com alguns servidores que estavam insatisfeitos com sua

    exonerao. Desta forma, a nova gestora assumiu a Unidade Escolar em um

    ambiente hostil, conforme evidencia o trecho a seguir, extrado de uma

    entrevista com a atual gestora:

    P: Como voc classificaria o ambiente escolar, em termos de relacionamento entre os professores e voc, na poca e sua nomeao? R: Pude perceber que parte dos professores tinha como ttica o desprezo, falta de respeito ao se dirigir a mim, se recusavam a cumprir as normas, entregar as notas dos alunos, preencher os dirios, convocavam os responsveis sem prvia comunicao, etc.. (Segunda entrevista semiestruturada com a diretora, constante no apndice B).

    A partir da nomeao, a atual gestora construiu uma pequena equipe

    indicando o diretor adjunto e a secretria escolar e iniciaram a perseguio das

    metas estabelecidas em seu plano de gesto. Percebeu-se que o quadro de

    funcionrios e alguns docentes eram avessos figura da nova gestora e eram

    resistentes s propostas de mudanas que estavam contidas no documento

    Plano de gesto. Atravs de consulta aos antigos funcionrios e queles que

    testemunharam esses acontecimentos, foi possvel concluir que tal resistncia

    se devia a um alto grau de cumplicidade com a antiga gestora e a crena de

    que a nova gestora no seria a melhor escolha, tendo em vista ter perdido a

    etapa de consulta popular (votao).

    A seguir, apontaremos os problemas enfrentados pela diretora nomeada

    em 2005, bem como as aes empreendidas, com a exibio e a devida

    anlise das taxas de aprovao e reprovao escolar ao longo da srie

    temporal que compreende a pesquisa.

  • 29

    1.3.1 A gesto escolar atual

    A equipe gestora da Unidade Escolar composta por diretora geral,

    diretor adjunto, secretria e coordenadora pedaggica. Com o foco nos alunos

    e com o intuito de trazer mais conforto a eles, a diretora, assim que assumiu,

    promoveu uma srie de mudanas de ordem fsica, ou seja, transferiu o

    gabinete da direo para uma sala menor e criou neste espao, anteriormente

    destinado ao gabinete, uma sala de leitura para os alunos, trocou a sala de

    professores que era maior pelo laboratrio de informtica, fechou a garagem da

    escola que tinha o espao para apenas cinco automveis e criou um

    improvisado refeitrio, uma vez que os alunos no tinham um local adequado

    para realizarem as refeies. De uma maneira geral e sem realizar grandes

    obras, a diretora ampliou os espaos extraclasses para os alunos. Todas essas

    alteraes foram realizadas sem prvia consulta aos professores, o que em

    princpio gerou descontentamento. Todavia, ficou esclarecido que as mudanas

    tinham o foco em proporcionar maior conforto aos alunos.

    Conforme constatado no Plano de Gesto e atravs das entrevistas com

    a diretora, os primeiros dois anos (2005 e 2006) foram os de maior embate, a

    diretora era rgida com o cumprimento dos horrios e os exigia, com a

    adequao do horrio das aulas, seguindo as determinaes da SEEDUC

    expressas sob a forma de manual com orientaes, com os desvios, evitando

    que docentes lecionem disciplinas sem serem devidamente e formalmente

    habilitados, escolhas de disciplinas e anos que os professores queriam

    lecionar.

    A gradativa substituio desses docentes fez com que, segundo relatos,

    o clima escolar se arrefecesse. Tais ajustes provocaram manifestas intenes

    em sair da Unidade Escolar, por parte de alguns docentes, inteno que,

    devido ao regime jurdico, no final do ano permitiu gestora facilitou a sada

    daqueles professores que no se adequavam a sua forma de trabalho

    conforme j informado. Essa facilitao foi feita no sentido legal, com

    orientao sobre possveis mecanismos de remoo, expedio de ofcio

  • 30

    denominado nada a opor10, confeco de relatrios fundamentados

    destinados regional solicitando a sada de determinado servidor e priorizando

    a confeco de apurao de tempo de servio para fins de autuao de

    processo de aposentadoria. Assim, os professores que estavam insatisfeitos

    iam sendo removidos ou se aposentando.

    No incio do ano de 2006 chegou, via transferncia de outra escola, para

    compor a equipe de gesto, a coordenadora pedaggica que logo se integrou

    filosofia da gestora, pois as tarefas ligadas fiscalizao do correto

    preenchimento de dirios de classe, lanamentos de notas, planos de estudo

    passaram a ser sua responsabilidade da coordenadora pedaggica que

    demonstrava estar sempre pronta a auxiliar a gesto, mesmo que as atividades

    no fossem diretamente relacionadas coordenao pedaggica.

    Atualmente, com a equipe de professores completamente renovada, a

    gesto da escola tem outro perfil: mais democrtico e participativo. As decises

    so tomadas em reunies, mas sem perder o foco na disciplina administrativa,

    procurando contribuir com a gesto, realizando suas tarefas da melhor maneira

    possvel.

    Ao longo desses anos de atuao na Unidade Escolar, a gestora

    conseguiu disseminar a ideia de coletividade, ou seja, os resultados da escola

    so frutos do trabalho de todos, se os alunos se destacam nas avaliaes

    externas porque a equipe conseguiu cumprir de forma positiva suas

    atividades. Assim um dos focos da gestora criar subsdios, pensar em

    conjunto nas metas, interpretar os resultados e registrar as informaes, para

    que os professores possam cada vez mais desenvolver seus alunos11.

    A gestora no atua somente nas questes administrativas, mas

    preocupa-se e procura se manter informada sobre todas as questes da

    escola, por exemplo: no processo ensino-aprendizagem, verifica alguns

    cadernos de alunos, conversa com eles de forma a saber se realmente esto

    aprendendo, procura conhecer cada um, fazendo o acompanhamento das

    notas bimestrais, constri grficos para demonstrar os resultados. Ela tambm

    10

    Para solicitar a remoo para outra unidade escolar da rede estadual dentro de uma mesma regional necessrio que o servidor solicite formalmente a sua diretora que expedir um documento declarando que no se ope a sua transferncia e outro documento da diretora da escola para onde se quer ser transferido de que h vaga. 11Concluso extrada atravs da interpretao das entrevistas com a diretora e a coordenadora pedaggica, constante no apndice.

  • 31

    acompanha a preparao da merenda escolar garantindo a qualidade da

    alimentao que ser servida, tendo sempre a preocupao para que esta

    nunca falte na escola, pois acredita que uma boa alimentao ajuda no

    desenvolvimento do aluno fazendo com que esse permanea na escola.

    Tambm realiza reunies com a comunidade escolar sempre que necessrio,

    sendo estas com pautas definidas: prestao de contas e sugestes,

    pedaggicas para tratar de assuntos relacionados ao rendimento escolar. O

    importante destas reunies que elas no so s para dar bronca, mas

    tambm para elogiar e incentivar.

    Em linhas gerais, durante a pesquisa, foi possvel observar, atravs da

    observao participante, por um perodo aproximado de seis meses, duas

    vezes por semana, que a rotina da gestora no fixa, mas segue o seguinte

    padro: chega pela manh, s 07h30 realiza uma pequena vistoria na unidade,

    colocando alguns alunos em sala de aula, verificando se todos os docentes

    esto em sala. Passa pela cozinha, entra em seu gabinete e realiza atividades

    administrativas. s 10 horas (horrio do intervalo) circula pelo ptio escolar e

    sala de professores; ao final retorna s suas atividades administrativas. No final

    do turno da manh, s 12 horas, forma os alunos para transmitir algum recado

    e os libera. O turno da tarde se inicia s 12h30 e segue o mesmo princpio,

    encerrando-se s 18h15. Essa rotina quebrada quando a SEEDUC a

    requisita para alguma reunio ou em reunies de pais, professores e conselhos

    de classe.

    Diante do exposto, possvel entendermos que a Unidade Escolar

    passou por um processo de reestruturao em seu quadro funcional que

    ocorreu como alternativa para a nova gesto, atravs de um mtodo diferente

    do convencional, votao direta. Na prxima seo, sero destacadas as

    aes gestoras.

    1.3.2 As aes gestoras

    Tendo em vista a relevncia da mudana da gesto da Unidade Escolar

    para nosso estudo, importante detalhar as aes que a diretora realizou para

    alcanar uma melhoria na escola, no que se refere ao seu funcionamento e

    melhoria dos resultados.

  • 32

    Em termos de gesto de pessoas, sua linha de atuao foi a de cobrar o

    cumprimento da carga horria dos servidores extraclasse. Nesse aspecto,

    destaca-se que existem dois tipos de regimes de carga horria em funo do

    concurso que realizaram: servidores que devam cumprir 25 horas semanais e

    os servidores de 40 horas semanais. Todavia, todos os servidores cumpriam

    indevidamente apenas 25 horas semanais. Assim, a ao da diretora foi a de

    exigir a totalidade legal do cumprimento de sua carga horria. Tal medida

    gerou descontentamento, pois os servidores de 40 horas trabalhavam menos e

    a partir de 2005 tiveram que cumprir a carga horria.

    A confeco do quadro de horrios adequada s diretrizes gerais da

    SEEDUC, ou seja, um mnimo de dois dias para o cumprimento da jornada de

    trabalho do professor em sala de aula, evitar a alocao de disciplinas do

    mesmo ramo do conhecimento em um nico dia, evitar mais de trs tempos de

    aula seguidos da mesma disciplina e os desvios tambm deveriam ser

    evitados. Havia professores lecionando disciplinas que no estavam

    habilitados, exercendo funes extraclasses e lecionando mais de uma

    disciplina na mesma turma. A esse respeito vale informar que o ano de 2005

    inaugurou o sistema de lanamento do quadro de horrios das aulas via

    sistema informatizado e monitorado com mais eficcia pela SEEDUC.

    Aps essas adequaes, no final do ano de 2005 saram da Unidade

    Escolar sete servidores, sendo dois inspetores de alunos (um do turno da noite

    que pediu para ser removida e outro do turno da manh que foi removido a

    pedido da diretora por motivos disciplinares), a antiga secretria que era

    professora e retornou sala de aula, a agente de pessoal que acumulava duas

    matrculas e s cumpria a carga horria referente a uma, a coordenadora

    pedaggica e um professor solicitaram sua transferncia para outra escola e a

    coordenadora do turno da noite que tinha duas matriculas e s trabalhava a

    carga horria referente a uma e estava desviada indevidamente, pois deveria

    estar lecionando em sala de aula.

    Segundo a gestora, os professores e demais funcionrios que, de certa

    forma, se opunham s diretrizes, cobranas e determinaes relativas ao

    quadro de horrios e ao cumprimento da jornada de trabalho realizada pela

    diretora buscaram se transferir para outras escolas da rede. No ano de 2007,

    saram mais quatro professores, em 2008 foram seis professores e um

  • 33

    servente. Em 2009 foram apenas dois docentes e em 2010 apenas um. Na

    configurao atual (considerando o final do ano letivo de 2012) do quadro de

    funcionrios da escola, apenas cinco professores e trs funcionrios de apoio

    remontam da poca da transio. No computo geral foram 21 funcionrios

    removidos12 , sendo 13 professores, com a maior incidncia nos anos de 2007

    e 2008 e oito funcionrios administrativos.

    Vale explicar que, no mbito da SEEDUC, existe uma cultura

    organizacional que permite aos funcionrios se transferirem de uma para outra

    escola dentro da prpria regional, desde que haja o mtuo consentimento (das

    gestoras e do servidor) e que a escola para a qual o servidor deseja se

    transferir exista a vaga. Para viabilizar as transferncias, a regional divulga um

    perodo, entre os meses de novembro e dezembro, ao qual se manifestam a

    vontade em se transferir e a busca por uma nova unidade.

    Cabe ressaltar que medida que os professores iam saindo, a Unidade

    Escolar no ficava carente de profissionais, porque o Estado convocava novos

    professores concursados e a localizao da escola propiciava interesse e

    acesso destes novos servidores, por se tratar de um bairro central que dispe

    de diversas linhas de nibus e trens. Com isso, novos docentes passaram a

    compor o quadro de funcionrios da escola, ocorrendo uma completa

    renovao na equipe que era uma renovao era intencional. A pesquisa

    constatou o fato atravs da anlise dos documentos, observao da rotina

    escolar e entrevistas com a diretora, conforme evidencia o trecho a seguir:

    P: Explique, em linhas gerais, o processo de renovao da

    equipe de professores?

    R: No era inteno substituir cerca de 90% dos funcionrios

    da unidade, acreditava que era possvel uma adaptao entre

    mim e eles, pelo tempo em que convivamos. Todavia a recusa

    em passar a cumprir as determinaes da SEEDUC, a

    excessiva reprovao sem que esgotasse todas as

    possibilidades de recuperao dos alunos, foram os principais

    motivos que os fizeram sair da unidade escola. (Fonte:

    12Remoo a transferncia a pedido ou de ofcio do servidor para outra unidade de lotao. Definio expressa na Lei n 81121990, artigo 36, em mbito federal com seu equivalente, no Decreto-lei n2479/79, artigo 64 em mbito do Estado do Rio de Janeiro.

  • 34

    segunda entrevista semiestruturada com a diretora, constante

    no apndice B)

    Outras medidas administrativas foram implementadas, as quais no so

    o foco principal desta pesquisa por se situarem em segundo plano. Todavia,

    essas medidas contriburam para a sada dos funcionrios, uma vez que tais

    aes removeram os funcionrios de sua zona de conforto: reestruturao do

    quadro de funcionrios e otimizao das funes como mudana no

    planejamento, horrio e desenvolvimento das rotinas de limpeza; incio de

    diversos pequenos reparos no telhado, conserto de encanamento de

    banheiros, instalao e troca de lmpadas; reativao do laboratrio de

    informtica para o uso dos alunos; reestruturao do espao escolar com troca

    da sala de leitura por uma maior, mudana do gabinete da direo por um

    menor, so exemplos de aes que constaram no Plano de Gesto e a gestora

    estava colocando em prtica.

    Dentre as aes pedaggicas, adotou-se o monitoramento do

    cumprimento dos contedos programticos, que, tradicionalmente, so

    elaborados no incio do ano letivo pelos professores. Esse acompanhamento

    consistia em comparar o planejamento dos contedos programticos com o

    que era lanado no dirio de classe bimestre a bimestre e o que era cobrado

    nas avaliaes formais (provas). Em alguns casos os docentes no cumpriam

    com o planejado, o que fornecia subsdios para pautas de reunies

    pedaggicas e possveis estratgias para a adequao.

    Buscou-se tambm a conscientizao sobre a importncia, a

    valorizao, a participao e o envolvimento dos docentes nas avaliaes

    externas atravs de reunies pedaggicas e abordadas nos conselhos de

    classe.

    Houve, ainda, a criao de uma prova que rene todas as disciplinas

    com pontuao nica valendo at trs pontos que era realizada no terceiro

    bimestre, conhecida por simulado, confeccionada pelos professores. A

    confeco do simulado serviu a um duplo propsito, o primeiro era o de treinar

    os alunos a realizarem exames do tipo concurso ou avaliaes externas com

    administrao do tempo e marcao do carto resposta e o segundo objetivo

  • 35

    era o de padronizar o contedo ajustando-o ao currculo mnimo, pois em uma

    mesma srie cada professor lecionava um currculo diverso.

    Demais aes foram tomadas, como reorganizar o processo de

    prestao de contas e de inventrio, ento atrasados; continuar a revitalizao

    e obras de pequenos reparos; estreitar os laos com os responsveis, criando

    um clima de confiana mutua e gesto democrtica, o combate evaso e a

    repetncia dos alunos atravs de reunio de pais e professores.

    Alm de reunies por fora do dispositivo legal que regula a prestao

    de contas das verbas recebidas pela escola, a diretora realizava reunies

    denominadas por ela de reunio cara-crach. Essas reunies so por turma

    com a participao dos responsveis e os alunos. Inicialmente ela pedia que os

    alunos se sentassem ao lado de seus responsveis.

    A pauta desta reunio era debatida com os professores da turma e todos

    eram convidados a participar e falar tambm. Incluram-se, nessa pauta, alguns

    temas relevantes como notas, dificuldades dos alunos, comportamento,

    recados sobre eventos, utilizao do uniforme, perodo de provas, resultados

    das avaliaes e ao final da reunio era dada a palavra aos responsveis que

    quisessem se pronunciar, comentar, criticar e perguntar.

    No entanto, as aes de cunho pedaggico desenvolvidas pouco

    impactava no turno noturno, que gradativamente foi se esvaziando, conforme

    depreende-se atravs do grfico abaixo.

    GRFICO 6 Resultados comparados das taxas de desistncia referentes a 1 srie do Ensino Mdio nos anos de 2005 a 2007.

    Fonte: Livro de matricula da escola.

    0

    0,1

    0,2

    0,3

    0,4

    0,5

    0,6

    2005 2006 2007

    Taxa de Desistncia - 1 srie do Ensino Mdio

    Manh Noite

  • 36

    A cada ano, o turno noturno ia se esvaziando, o que culminou com sua

    extino no ano de 2007 devido alta evaso.

    Essa foi a oportunidade para que, gradativamente, o paradigma da

    reprovao fosse alterado e o estabelecimento da estratgia da recuperao

    paralela. A recuperao paralela tem o objetivo de se identificar as

    dificuldades do aluno e a proposio de uma srie de estudos dos contedos

    que o aluno apresenta dificuldade sem interromper o planejamento bimestral

    (trabalhos de pesquisa, lista de exerccios, explicao individualizada).

    No ano de 2008, dois alunos se destacaram na pontuao do SAERJ,

    com premiaes. Em 2009, o nmero subiu para oito alunos, em 2010 foram

    vinte e oito alunos, uma vez que, nesta edio, houve a participao de todos

    os alunos da escola, do 6 ano do Ensino Fundamental ao 3 ano do Ensino

    Mdio. Em 2011, doze alunos foram premiados com a participao apenas de

    alunos do 9 ano do Ensino Fundamental e 3 ano do Ensino Mdio e, em

    2012, tambm foram premiados doze alunos, com a mesma participao do

    ano anterior.

    Realizando uma anlise comparativa dos dados entre a mdia das

    escolas do Estado e a Unidade Escolar pesquisada antes da gesto atual, isto

    , o perodo que compreende os anos de 2002 a 2004, observa-se que o

    fracasso escolar estava acima da mdia das escolas estaduais exprimindo um

    resultado negativo, mesmo com fatores que lhe era favorvel como: a presena

    de responsveis dos alunos e a populao residente no mbito da Unidade

    Escolar, uma escola bem situada, com professores em quantidade suficiente

    para lecionar.

  • 37

    GRFICO 1 Comparativo das taxas de reprovao e evaso escolar entre o Estado do Rio de Janeiro e a Unidade Escolar

    Fonte: construdo pelo autor com dados do INEP/MEC

    O grfico acima fora construdo com os dados do INEP/MEC, nas

    tabelas denominadas de Rendimento e Movimento Escolar para a categoria

    de media RJ e os dados da Escola foram obtidos aps anlise do

    documento denominado Livro de Matricula.

    O que se observa um fracasso escolar13 muito elevado, ou seja, o

    somatrio dos ndices de reprovao, abandono, evaso e desistncia

    sempre maior na escola do que a mdia das escolas do Estado, denotando que

    devem existir problemas de gesto e/ou uma cultura de reprovao instalada.

    Tal observao demonstra a necessidade de aes, com vistas reconstruo

    da escola, e, diante da nova gesto, surgiu o argumento principal e motivador

    para a implementao das mudanas.

    A fase das transformaes da equipe escolar, em especial os docentes,

    ocorreu nos anos de 2005 a 2008. A seguir, encontra-se um grfico que

    evidencia, temporalmente, os resultados dos alunos. Os dados foram extrados

    do documento denominado Ata de Conselho de Classe Final.Convm

    ressaltar que existem trs categorias de ndices medidos: o ndice de

    aprovao significa que o aluno alcanou o conceito aprovado ou apto em

    todos os componentes curriculares e poder cursar a srie/ano seguinte; o

    ndice de aprovao parcial indica que o aluno no obteve a aprovao em ao

    menos dois componentes curriculares (a conhecida dependncia, ou seja, o

    13

    Devemos entender que Fracasso Escolar representa qualquer motivo (reprovao, abandono, evaso, desistncia, dentre outros) que impea o aluno em seguir sua jornada na progresso das sries e anos na escola (SPOZATI,2000).

    0,00

    0,20

    0,40

    0,60

    0,80

    6 9 1 3

    modalidade de ensino

    Comparativo das taxas de fracasso escolar (ano base 2004)

    mdia RJ

    Escola

  • 38

    aluno poder cursar a srie/ano seguinte alm das disciplinas da srie/ ano que

    no foi obtida a aprovao); e o ndice de fracasso escolar representa a

    reunio de qualquer motivo que impea o aluno em seu fluxo, como a evaso,

    abandono, reprovao e desistncia14.

    GRFICO 2 Resultados do Ensino Fundamental na srie 2002 a 2008

    Fonte: anlise do livro de matricula da Unidade Escolar.

    As curvas exibidas no grfico acima mostram um comportamento no

    qual possvel identificar um padro. Nos anos de 2002 a 2004, h flutuao

    coerente, denotando certa estabilidade, o ano de 2005 a fase de transio dos

    gestores, denotando que a escola passava por uma transformao. Aps 2006,

    h o crescimento da taxa de aprovao, denotando um progresso do sistema

    pedaggico da escola.

    Todavia algumas informaes so importantes: a partir do ano de 2005

    no houve formao de turmas na modalidade do 6 ano do ensino

    fundamental no turno da noite e os professores foram remanejados para o

    turno da tarde. A eliminao do turno noturno, ressalta-se, deve ser

    considerada como um fator que tambm pode ter contribudo para a melhoria

    dos ndices, tendo em vista que nesse turno se concentram, historicamente, os

    piores resultados no desempenho dos alunos, tanto em nvel nacional, como

    estadual e regional.

    Constata-se, no entanto, que houve um aumento geral entre o perodo

    intermedirio e o perodo anterior nomeao da diretora. Isso explica o incio

    14 ndice de Aprovao = n alunos aprovados / n alunos matriculados. ndice de Fracasso Escolar = (n alunos reprovados + n alunos desistentes) / n alunos matriculados

    0

    0,1

    0,2

    0,3

    0,4

    0,5

    0,6

    0,7

    2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

    Resultados - Ensino Fundamental

    aprovao

    progresso parcial

    fracasso escolar

  • 39

    de uma mudana de paradigma, ou seja, os ndices de aprovao parcial vm

    aumentando.

    GRFICO3 Resultados do Ensino Mdio na srie 2002 a 2008

    Fonte: anlise do livro de matricula da Unidade Escolar

    Para o Ensino Mdio, as curvas do grfico seguem a mesma tendncia

    geral na escola, ou seja, o comportamento das taxas de aprovao, progresso

    parcial e fracasso escolar so parecidos. Nos anos de 2002 e 2003, houve

    pouca oscilao e as taxas permaneceram relativamente estveis. Em 2004, as

    taxas de aprovao e progresso parcial cresceram acentuadamente e a taxa

    de reprovao caiu.

    Os anos de 2005 e 2006 caracterizam o incio da gesto da atual

    diretora, num ambiente hostil, causado em especial pelos professores, que

    foram mais exigentes com os alunos resultando em uma queda de,

    aproximadamente, 35 pontos em relao s taxas de aprovao com

    proporcional aumento do fracasso escolar. Desta forma a chance de que o

    aluno ficasse reprovado em pelo menos uma disciplina era muito grande15.

    No perodo de 2007 e 2008, a maioria dos professores foi substituda por

    novos docentes concursados. Esses novos professores no estavam na escola

    poca da transio, logo, suas atividades estavam livres daqueles

    movimentos contrrios figura da diretora. Isso, somado ao fim do turno

    noturno, representou uma forte tendncia de elevao das taxas de aprovao

    e queda das taxas de reprovaes.

    15A referida concluso est embasada na interpretao da segunda entrevista com a diretora, mas especificamente a questo 1, a integra da entrevista consta no apndice.

    0

    0,1

    0,2

    0,3

    0,4

    0,5

    0,6

    0,7

    2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

    Resultados - Ensino Mdio

    aprovao

    progresso parcial

    fracasso escolar

  • 40

    GRFICO 4 Resultados do ensino fundamental na srie 2009 a 2012

    Fonte: anlise do livro de matricula da Unidade Escolar

    A partir de 2009, foram consolidadas o vis para as atividades

    pedaggicas, o que refletiu no aumento das taxas de aprovao e reduo da

    progresso parcial e fracasso escolar. O mesmo fenmeno ocorreu no Ensino

    Mdio, como pode ser visto no grfico 5.

    GRFICO 5 Resultados do ensino mdio na srie 2009 a 2012

    Fonte: anlise do livro de matricula da Unidade Escolar

    Alm da anlise dos dados internos, a escola conta com crescimento na

    escala de proficincia das avaliaes externas. As tabelas a seguir

    estabelecem um comparativo entre a Unidade Escolar pesquisada e as mdias

    das escolas estaduais para as regies: Brasil, Estado do RJ, Escolas Estaduais

    situadas no Municpio de localizao (Nova Iguau), para a Prova Brasil no 9

    ano do ensino fundamental.

    0

    0,1

    0,2

    0,3

    0,4

    0,5

    0,6

    0,7

    0,8

    0,9

    1

    2009 2010 2011 2012

    Resultados - Ensino Fundamental

    aprovao

    progresso parcial

    fracasso escolar

    0

    0,2

    0,4

    0,6

    0,8

    1

    1,2

    2009 2010 2011 2012

    Resultados - Ensino Mdio

    aprovao

    progresso parcial

    fracasso escolar

  • 41

    Tabela 3 - Comparativo das proficincias medias em matemtica considerando Brasil; escolas estaduais do Rio de Janeiro; escolas estaduais do Municpio e Unidade

    Escolar, na srie temporal de 2005 a 2011

    Mdias Comparadas Matemtica

    Ano Escolas Estaduais Unidade

    Escolar Brasil Estado Municpio

    2005 238,76 236,15 233,26 234,69

    2007 241,63 231,54 227,49 234,73

    2009 242,87 238,54 232,3 233,31

    2011 244,7 235,2 235,2 263,9

    Fonte: INEP-MEC

    Observando o desempenho, pode-se concluir que, no Brasil, de um

    modo geral, houve um pequeno crescimento, mas o estado praticamente em

    nada avanou. O mesmo ocorreu no municpio, todavia a Unidade Escolar,

    aps se manter estagnada, conseguiu dar um salto de crescimento a partir do

    ano de 2009.

    O ano de 2005 corrobora o grfico 1, pois situa a escola em um nvel de

    proficincia em matemtica abaixo da mdia Brasil e Estado do RJ. Em 2007, o

    Brasil obteve um pequeno crescimento, ao passo que o Estado e o Municpio

    retrocederam, a Escola pesquisada se manteve no mesmo nvel, contrariando

    a tendncia regional de queda.

    Todavia, no ano de 2009 a situao se inverte, ou seja, a escola exibe

    uma tendncia de queda ao passo que o Estado e o Municpio apresentam

    crescimento.

    Tabela 4 - Comparativo das proficincias medias em lngua portuguesa considerando Brasil; escolas estaduais do Rio de Janeiro; escolas estaduais do Municpio e Unidade

    Escolar, na srie temporal de 2005 a 2011

    Mdias Comparadas - Lngua Portuguesa

    Ano

    Escolas Estaduais Unidade Escolar

    Brasil Estado Municpio

    2005 224 228,26 227,5 222,72

    2007 229,96 223,68 221 238,98 2009 239,74 235,81 231,66 237,48

    2011 238,7 227,6 237,8 264,5

    Fonte: INEP-MEC

  • 42

    Comportamento semelhante para o intervalo de 2005 a 2009, tambm

    pode ser observado na proficincia em Lngua Portuguesa. A escola

    posicionada em situao inferior, no ano de 2005, crescimento de,

    aproximadamente, 16 pontos para o ano de 2007, enquanto observa-se

    retrao no Estado e Municpio e, para o ano de 2009, a estagnao da escola

    e a recuperao por parte do Estado e Municpio.

    As tabelas se referem s mdias comparativas entre a escola, o

    municpio em que est inserido, o Estado e o pas nas disciplinas de

    matemtica e lngua portuguesa. O fato que reala a ateno que de uma

    maneira geral at o ano de 2009 a escola exibia notas de proficincia

    semelhantes aos demais entes e para o ano de 2011 o crescimento alcanou

    28,70 pontos e 26,70 pontos em relao ao municpio nas disciplinas de

    matemtica e lngua portuguesa respectivamente.

    Ainda nessa tendncia em se comparar uma escola ao longo do tempo

    convm destacar os dados do ndice de Desenvolvimento da Educao Bsica

    (IDEB). O IDEB foi criado em 2007 com o objetivo de reunir as informaes dos

    diversos sistemas de ensino de forma padronizada, a fim de que se possa

    medir e comparar entre si e com outros sistemas, administrar polticas pblicas

    e estratgias pedaggicas de forma mais equitativa em todo o territrio

    nacional.

    Nessa direo, a escola eficaz deve buscar o equilbrio entre a

    aprendizagem e o tempo em que cada aluno leva para completar as fases do

    ensino. pouco eficiente o sistema que tem um ensino de excelncia com

    poucos alunos sendo promovidos a sries superiores. Em contrapartida,

    igualmente ineficaz o sistema em que os alunos progridem nas sries e exibem

    baixo rendimento nos conhecimentos. A esse respeito Fernandes (2007)

    elucida:

    Um sistema educacional que reprova sistematicamente seus estudantes, fazendo que grande parte deles abandone a escola antes de completar a educao bsica, no desejvel, mesmo que aqueles que concluam essa etapa atinjam elevadas pontuaes nos exames padronizados. Por seu lado, um sistema em que os alunos concluem o ensino mdio no perodo correto no de interesse caso eles aprendam muito pouco. Em suma, um sistema ideal seria aquele no qual todas as crianas e adolescentes tivessem acesso escola, no desperdiassem tempo com repetncias, no abandonassem

  • 43

    os estudos precocemente e, ao final de tudo, aprendessem. (FERNANDES, 2007. p.7)

    Desta forma, o IDEB rene dois grandes conceitos que vinham sendo

    tratados de forma isolada. O primeiro conceito o da proficincia e o segundo

    o fluxo escolar. Um aumento das notas de proficincia aliado reduo dos

    ndices de reprovao refletiram nos ndices do IDEB para o mesmo perodo

    como se depreende na tabela a seguir.

    Tabela 5 - Comparativo do IDEB para o 9 ano do ensino fundamental, considerando Brasil; escolas estaduais do Rio de Janeiro; escolas estaduais do

    Municpio e Unidade Escolar, na srie temporal de 2005 a 2011

    IDEB

    ANO Brasil Estado Municpio Unidade Escolar

    2005 3,3 2,9 3,1 2,9 2007 3,6 2,9 2,8 2,9 2009 3,8 3,1 3 3,4 2011 3,9 3,2 3,1 5,1

    Fonte: INEP-MEC

    Mais uma vez nota-se a evoluo da escola em 2011, e vlido lembrar

    que no IDEB, formado pela mdia das notas padronizadas dos exames e pelo

    fluxo escolar, o aluno que ingressou em 2008 no 6 ano do ensino fundamental

    foi progredindo e assimilando conhecimentos ao longo de sua jornada, de tal

    forma que, em 2011, chegou no 9 ano desta etapa de escolaridade e

    demonstrou suas habilidades refletindo no aumento do ndice.

    Observando os dados da tabela percebe-se que, nos anos de 2005 e

    2007, a escola esteve estagnada, passou por um perodo de crescimento em

    2009 e continuando a avanar no ano de 2011.

    Diante do exposto, fica evidenciado que a Unidade Escolar passou por

    um processo de reestruturao em seu quadro funcional que ocorreu como

    alternativa para a nova gesto. Com a Unidade Escolar organizada nos mais

    diversos aspectos que envolvem a atuao da gesto, torna-se fundamental

    ampliar as ferramentas para o auxlio ao trabalho dos docentes, de modo a

    fazer com que a escola continue melhorando, isto , a utilizao de um

    instrumento de avaliao profissional, que permita o levantamento de dados

    para reflexo e melhoria.

  • 44

    No prximo captulo, ser examinado, sob o ponto de vista terico-

    analtico, todas as nuances dessa opo, de modo a justificar a proposio do

    estabelecimento de uma ferramenta avaliativa do desempenho dos docentes.

  • 45

    2 A IMPORTNCIA DE UM INSTRUMENTO DE AVALIAO PROFISSIONAL COMO FERRAMENTA DE GESTO

    A figura do Gestor Escolar de fundamental importncia para o

    funcionamento da escola e as suas dimenses de atuao so de cunho

    administrativo, pedaggico e interrelacional, conforme aponta Polon (2010).

    Assim, o gestor escolar, alm de suas atribuies administrativas (gerenciais)

    tambm deve se preocupar com o aspecto humano (os alunos e os docentes) e

    com a qualidade do ensino.

    Sob esse ponto de vista, a funo de gestor escolar apresenta muitas

    especificidades e similitudes. Sendo assim, o gestor escolar deve ser capaz de

    gerenciar todas as variveis inerentes ao processo de aprendizagem e a

    adoo de uma gesto democrtica e participativa, juntamente com as

    ferramentas de gesto, permite que o exerccio da funo seja de modo mais

    satisfatrio.

    Tendo isso em vista, a SEEDUC, a partir do ano de 2004, iniciou uma

    reforma no paradigma educacional em especial na modernizao da gesto

    escolar com a introduo de um sistema de gerenciamento escolar e a

    disponibilizao do quadro de horrios das aulas pela rede mundial de

    computadores (internet). Outros avanos vieram em decorrncia desses e,

    como destaca Mendona (2006):

    Essas questes essenciais na definio da postura gerencial e no planejamento estratgico da administrao pblica da Educao Bsica estiveram sempre presentes, com surpreendente eficincia, nos dois anos e trs meses da gesto de Claudio Mendona frente da Secretaria de Estado de Educao do Rio de Janeiro. (MENDONA, 2006, p.12).

    H fortes indcios de que a viso gerencial passou a ser o novo

    paradigma da gesto das escolas. Isso foi reforado com a implementao do

    mtodo gerencial denominado GIDE no ano de 2011.

  • 46

    2.1 As evidncias da necessidade da avaliao do desempenho profissional na Unidade Escolar

    Na Unidade Escolar focalizada neste estudo, a mudana da diretora,

    nomeada atravs de uma nova regra estabelecida pelo Estado do Rio de

    Janeiro tambm esteve atrelada mudana de paradigma com reflexos diretos

    no ambiente escolar a poca dos acontecimentos.