UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS UNIFAL-MG LUIS GUSTAVO AMORIM DE LIMA E SOUZA RHUAN FELIPE DE ASSIS VIEIRA O USO DA FIBRINA RICA EM PLAQUETAS NA ODONTOLOGIA. UMA VISÃO CRÍTICA. ALFENAS/MG 2016
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS
UNIFAL-MG
LUIS GUSTAVO AMORIM DE LIMA E SOUZA
RHUAN FELIPE DE ASSIS VIEIRA
O USO DA FIBRINA RICA EM PLAQUETAS NA
ODONTOLOGIA. UMA VISÃO CRÍTICA.
ALFENAS/MG
2016
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LUIS GUSTAVO AMORIM DE LIMA E SOUZA
RHUAN FELIPE DE ASSIS VIEIRA
O USO DA FIBRINA RICA EM PLAQUETAS NA
ODONTOLOGIA. UMA VISÃO CRÍTICA.
Monografia apresentada como parte dos
requisitos para elaboração do Trabalho de
Conclusão de Curso de Odontologia da
Faculdade de Odontologia da Universidade
Federal de Alfenas - UNIFAL-MG.
Orientador: Prof. Dr. Ronaldo Célio Mariano
ALFENAS-MG
2016
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LUIS GUSTAVO AMORIM DE LIMA E SOUZA
RHUAN FELIPE DE ASSIS VIEIRA
O USO DA FIBRINA RICA EM PLAQUETAS NA
ODONTOLOGIA. UMA VISÃO CRÍTICA.
A Banca Examinadora abaixo-assinada, aprova
o trabalho apresentado como parte dos
requisitos para obtenção do título de Cirurgião-
Dentista pela Faculdade de Odontologia da
Universidade Federal de Alfenas-MG.
Aprovada em:
Prof. Dr.
Instituição: Universidade Federal de Alfenas – Unifal-MG
Assinatura: _____________________________________
Prof. Dr.
Instituição: Universidade Federal de Alfenas – Unifal-MG
Assinatura: _____________________________________
Prof. Dr.
Instituição: Universidade Federal de Alfenas - Unifal-MG
Assinatura: _____________________________________
3
AGRADECIMENTOS
A Deus, pelas bênçãos recebidas durantes esse período de graduação e possibilidade de
conclusão da mesma.
Ao Curso de Odontologia da Universidade Federal de Alfenas – UNIFAL-MG, seus
administradores, técnicos, funcionários e professores, pela oportunidade de ter cursado e
aprendido uma Odontologia de excelência que se destaca no mercado de trabalho.
Ao Professor Dr. Ronaldo Célio Mariano, pelos ensinamento e orientações, não só neste
trabalho mas também para vida.
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RESUMO
A busca por maneiras de acelerar e melhorar a neoformação óssea é uma constante na área
médica e odontológica e por essa razão, a influência das células sanguíneas sobre os
biomateriais aplicados no organismo humano tem sido pesquisada há décadas. Existem hoje no
mercado uma série de biomateriais para ajudar na reparação de defeitos ósseos na reparação de
alvéolos de dentes recém-extraídos, entre outros. O grande número de cirurgias ósseas
reconstrutivas impulsiona o meio científico a buscar o desenvolvimento de novos biomateriais.
Neste contexto, encontram-se hoje disponíveis uma série de biomateriais para ajudar na
reparação de defeitos ósseos ocasionados pelas mais variadas causas. A Fibrina Rica em
Plaquetas (PRF) vem sendo amplamente utilizada no universo médico odontológico. Com isso
uma visão crítica sobre o assunto torna-se necessária. O PRF é uma matriz cicatricial, definida
como um concentrado de plaquetas sobre uma membrana de fibrina com alto potencial
regenerativo e é obtido através do sangue do próprio paciente sem a adição de anticoagulantes
exógenos, diferentemente do Plasma Rico em Plaquetas (PRP). A sua utilização na odontologia
é bastante abrangente, auxiliando no reparo de defeitos ósseos que tendem, ou não, a regenerar
espontaneamente, podendo ser utilizado desde cirurgias de levantamento de seio até
preenchimento de alvéolos recém-extraídos. Porém, possui suas limitações como o pouco
volume que pode ser utilizado do material, necessidade da coleta previa do sangue e o tempo
de trabalho reduzido. O objetivo desse trabalho foi descrever uma revisão de literatura da
Fibrina Rica em Plaquetas explanando sua aplicação e suas limitações em Odontologia.
Palavras chaves: PRF, Fibrina Rica em Plaquetas, Biomateriais
5
ABSTRACT
The search for ways to improve and accelerate osteogenesis is a constant in the medical and
dental area and for this reason, the influence of blood cells on biomaterials applied in the human
body has been researched for decades. Exist today in the market a series of biomaterials to assist
in repair of bone defects in the repair of alveoli in freshly extracted teeth, among others. The
vast number of reconstructive bone surgery boosts scientific community to search the
development of new biomaterials. In this context, it is available today a number of biomaterials
to assist in repair of bone defects caused by a variety of causes. The Platelet Rich in Fibrin
(PRF) has been widely used in the dental and medical universe. Thus a critical view on the
subject becomes necessary. The PRF is a healing matrix, defined as a platelet concentrate over
a fibrin membrane with high regenerative potential and is obtained by the patient's own blood
without the addition of exogenous anticoagulants, unlike the Plasma Rich in Platelet (PRP).
Their use in dentistry is very comprehensive, assisting in the repair of bone defects that tend or
not to regenerate spontaneously and can be used from sinus lifting surgery to fill newly
extracted alveoli. However, has its limitations as the little volume that can be used the material,
need previous blood collection and reduced working time. The purpose of this study was to
describe a literature review of Platelet Rich in Fibrin explaining its application and its
limitations in dentistry.
Key words: PRF, Platelet Platelet Rich in Fibrin, Biomaterials
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 7
2 OBJETIVO ............................................................................................................................. 9
3 DESENVOLVIMENTO ...................................................................................................... 10
3.1 COLA DE FIBRINA ...................................................................................................... 10
3.2 O PLASMA RICO EM PLAQUETAS ........................................................................... 11
3.3 FIBRINA RICA EM PLAQUETAS E LEUCÓCITOS (L-PRF) ................................... 12
3.4 FIBRINA RICA EM PLAQUETAS ............................................................................... 12
3.4.1 Obtenção do PRF ..................................................................................................... 13
3.4.2 Protocolo para obtenção do PRF (Fibrina Rica em Plaquetas) ............................... 14
3.4.3 Limitações do uso do PRF ....................................................................................... 16
3.4.4 Indicações de uso odontológico do PRF ................................................................. 16
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 18
5 REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 19
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1 INTRODUÇÃO
A busca por maneiras de acelerar e melhorar a neoformação óssea é uma constante na
área médica e odontológica e por essa razão, a influência das células sanguíneas sobre os
biomateriais aplicados no organismo humano tem sido pesquisada há décadas. Existem hoje no
mercado uma série de biomateriais para ajudar na reparação de defeitos ósseos na reparação de
alvéolos de dentes recém extraídos, entre outros.
Podemos definir biomateriais como dispositivos que são introduzidos nos sistemas
biológicos, com diversas aplicações, dentre elas, diagnósticas, vacinais, cirúrgicas ou
terapêuticas, podendo ser formados de compostos de origem sintética ou natural, o que inclui
materiais naturais quimicamente modificados, tanto na forma de sólidos quanto de géis, pastas
ou mesmo líquidos (PIRES, A. L. R.; BIERHALZ, A. C. K.; MORAES, A., 2016). Dentre esses
biomateriais podemos citar os autógenos, que provém do próprio paciente, homógenos, obtidos
de seres da mesma espécie, heterógenos, provindo de espécie diferente do receptor e os
aloplásticos, de origem sintética.
O uso de materiais xenógenos e alógenos podem criar condições para a transmissão de
doenças, sendo assim, vale ressaltar o uso da Fibrina Rica em Plaqueta, favorecendo o processo
de reparo tecidual. (Tajima N, Ohba S, Sawase T, Asahina I2013)
MARTINS et al (2010) relata uma afirmação de Schlegel KA et al(2003) em que os
biomateriais de origem autógena são considerados os mais apropriados, pois possuem melhores
propriedades quando comparado aos outros tipos de biomateriais.
Dentre os materiais autólogos, o PRF tem sido amplamente pesquisada e utilizada desde a sua
preconização por Choukroun et al (2000) com um grande potencial de reparação tecidual
através de uma concentrado de plaquetas sobre uma membrana de fibrina. Sua obtenção se dá
através da retirada de sangue autólogo imediatamente antes do procedimento a ser realizado,
sem adição de fatores externos (LANDESBERG, R. et al, 2000)
O PRF é um biomaterial autólogo cuja função é aumentar a velocidade e qualidade da
reparação tecidual, sendo constituído por uma matriz de fibrina, plaquetas e fatores de
crescimento, obtidos a partir de um de uma amostra de sangue. (CHOUKROUN et al., 2006;
TATULLO et al., 2012). Os fatores de crescimento são liberados de forma lenta, como citocinas,
que são importantes no processo inflamatório e conduzem à cura tecidual (MESSORA et al.,
2008; EHRENFEST et al., 2009). Os fatores de crescimento presentes nas malhas da rede de
8
fibrina atuam no processo de reparo tecidual. Autores vêm apresentando grandes vantagens na
utilização do PRF para reparação tecidual (HE et al., 2009).
Apesar disso, a comprovação da capacidade terapêutica de alguns concentrados de
plaquetas (como o Plasma Rico em Plaquetas) ainda gera controvérsia (EHRENFEST;
RASMUSSON; ALBREKTSSON, 2009). No entanto PRF é considerado uma nova geração de
concentrados de plaquetas com vantagens que justificam o seu uso.
Diferentes abordagens em Odontologia mostram que o PRF e outros biomateriais
buscam melhorar a cicatrização dos tecidos vivos capazes de se reparar espontaneamente ou
não. Biomateriais obtidos de origem bovina, suína, equina e biomateriais sintéticos têm sido
empregados no preenchimento dos defeitos ósseos, sempre com objetivo de conseguir formar
um arcabouço e garantir a propriedade de osteocondução para que as reações teciduais
importantes no processo cicatricial aconteçam de forma melhorada. Mas a utilização de
produtos autógenos, representado pelo osso autógeno, o mais indicado material de enxerto,
ganha força quando se tem possibilidade de utilizar suas propriedades osteoindutoras e
atividade osteogênica, além daquela já citada propriedade de osteocondução. Assim, o objetivo
do presente trabalho é apresentar uma revisão bibliográfica sobre o PRF, um recurso promissor
dentre os produtos autógenos que poderiam ser usados como preenchimento de cavidades
ósseas na substituição do coágulo sanguíneo natural.
9
2 OBJETIVO
O propósito deste trabalho é analisar através de uma revisão de literatura as propriedades da
fibrina rica em plaquetas e sua utilização na odontologia através de uma análise crítica.
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3 DESENVOLVIMENTO
A melhora do reparo tecidual é uma busca constante das tecnologias aplicadas à saúde
na atualidade. Na cirurgia bucomaxilofacial, a utilização dos concentrados derivados de
plaquetas para aumentar o reparo dos tecidos bucais é relevante. Tais materiais são ricos em
fatores de crescimento e citocinas importantes no processo inflamatório que conduz à cura
tecidual e a sua utilização pode acelerar este processo (MESSORA et al., 2008; EHRENFEST
et al., 2009). Contudo, a capacidade terapêutica desses concentrados de plaquetas ainda gera
duvidas (EHRENFEST; RASMUSSON; ALBREKTSSON, 2009).
Propriedade dos biomateriais:
Sobre os diferentes mecanismos de formação óssea (osteogênese, osteoindução e
osteocondução), nem todos os biomateriais para enxerto apresentam essas três propriedades, o
que é normal e está relacionado à sua origem. Entretanto, é essencial que o material de escolha
disponha de pelo menos uma delas. Segundo Mazzonetto (2012) define-se osteogênese,
osteoindução e osteocondução como:
Osteogênese:
Osteogênese é a capacidade que o enxerto tem de transferir, junto de si, células viáveis
(osteoblastos e células osteoprogenitoras), que iniciarão a FASE 1 do reparo ósseo.
Fase 1 do reparo:
O osso é formado pelas células transferidas do enxerto. A quantidade de células
transplantadas determina o ganho de volume ósseo final.
Osteoindução:
A osteoindução é a capacidade que o enxerto tem de estimular as células mesenquimais
indiferenciadas ou precursoras osteogênicas, que existem nos tecidos adjacentes, a se
transformar em células osseas que formarão novo osso.
Osteocondução:
A osteocondução é o processo no qual o material de enxerto serve como arcabouço
para que as células do hospedeiro possam se proliferar.
3.1 COLA DE FIBRINA
11
A Cola de Fibrina foi disponível na Europa no fim de 1970 como primeiro aditivo
cirúrgico. Essa cola possui uma importante propriedade, reproduzindo a fase final da cascata
de coagulação, agindo de forma independente a partir dos mecanismos internos de coagulação.
Independente dos desfeitos de coagulação, essa cola vai promover a hemostasia da ferida.
Dentre alguns pontos positivos a cola de fibrina tem propriedades, sendo biodegradável, não
tóxica e promove o crescimento local e reparação tecidual (Prakash e Thakur 2011)
A cola de fibrina apresenta como desvantagens o longo tempo para a preparação, altos
custos, bem como o risco teórico de transmissão viral. Colas de fibrina podem ocasionar na
produção de anticorpos com subsequente coagulopatias; no entanto, este é um evento raro com
a utilização de produtos derivados do sangue humano (Petersen, B et al 2003). O que também
limita o seu uso é o fato de a fibrina sofrer desnaturação, quando em contato com álcool ou iodo
(ELLIS; PELAUSA, 1988).
3.2 O PLASMA RICO EM PLAQUETAS
Um dos principais materiais investigados e usados para acelerar o crescimento do novo
tecido ósseo é o plasma rico em plaquetas (PRP). Seu mecanismo de ação baseia-se na
aceleração da cura por concentração de fatores de crescimento, os quais são iniciadores
universais de quase todos os eventos de cura. Os fatores de crescimento presentes no PRP
incluem o fator de crescimento transformante (TGF-1 e TGF-2), o fator de crescimento
endotelial vascular, 3 isômeros de fator de crescimento derivado das plaquetas (PDGF-alfa,
PDGF-beta, e PDGF-gama), e o fator de crescimento endotelial. Estes fatores de crescimento
agem a favor da reparação de tecidos quando aplicados em feridas ósseas.
Estudos atuais têm relatado a baixa eficácia do PRP para acelerar a cicatrização
óssea(EHRENFEST; RASMUSSON; ALBREKTSSON, 2009) e acreditam ser devido à rápida
liberação dos fatores de crescimento presentes nas plaquetas, ao processo demorado e mais
complexo de centrifugação e à evidência de estímulo apenas nos estágios iniciais do reparo
ósseo.
12
A grande desvantagem apresentada pelo PRP é que ele provoca a quebra da rede de
fibrina muito rapidamente na fase da fibrinólise, não perdurando o tempo necessário para a
coagulação.
3.3 FIBRINA RICA EM PLAQUETAS E LEUCÓCITOS (L-PRF)
O L-PRF é uma variação da Fibrina Rica em Plaquetas, que segundo Dohan Ehrenfest
et al pode ser distinguida através de 3 parâmetros chave: o processo de preparação, as
propriedades farmacológicas e a característica final do material para estabelecer uma
classificação funcional.
O L-PRF é definido como um concentrado de plaquetas, leucócitos e fibrina misturado
e preparados sem anticoagulantes e uma técnica de centrifugação única. O protocolo de
obtenção foi descrito por Chokroun et al. em 2001
3.4 FIBRINA RICA EM PLAQUETAS
Segundo Sclafani AP (2011), foi descrito por Choukroun et al. em 2001 que o PRF não
é uma “cola de fibrina”, nem tampouco um concentrado plaquetário clássico. O PRF é uma
matriz cicatricial, definida como um concentrado de plaquetas sobre uma membrana de fibrina
com alto potencial regenerativo. A capacidade de regeneração tecidual ocorre da mesma forma
que no PRP, pelo acúmulo de plaquetas e liberação de citocinas e fatores de crescimento, no
coágulo de fibrina.
Esse concentrado de plaquetas é obtido através do sangue do próprio paciente sem a
adição de anticoagulantes exógenos (CHOUKROUN et al., 2006; TATULLO et al., 2012),
utilizada na obtenção do PRP. Os fatores de crescimento e citocinas ficam presos nas malhas da
rede de fibrina exercendo um efeito controlável, gradativo e duradouro no processo de reparo
tecidual. HE et al (2009) já relatou as vantagens na utilização do PRF no reparo dos tecidos
bucais, inclusive na regeneração óssea.
Segundo Ehrenfest et al. (2009), a grande densidade do coágulo de fibrina pode servir
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como uma matriz biológica curativa que apoia a migração celular e a liberação dessas citocinas.
Dohan et al. (2006) também afirmaram que, durante o processamento do PRF por meio da
centrifugação, as plaquetas são ativadas e a sua maciça degranulação implica na liberação de
citocinas capazes de estimular a migração e a proliferação celular dentro da matriz de fibrina,
constituindo os primeiros estágios da cicatrização. As citocinas “presas” no PRF e liberadas
gradualmente são capazes de acelerar a reparação tecidual por um período de tempo mais
prolongado, no entanto, o elemento chave desse processo cicatricial é a própria estrutura da
rede de fibrina.
A aplicação clínica do PRF resulta em uma aceleração cicatricial tecidual devido a
neovascularização efetiva, fechamento acelerado da ferida e total ausência de eventos
infecciosos. A diversidade da configuração da matriz de fibrina é fator importante no
entendimento diferencial da cinética biológica entre PRF e PRP(Gandhi A et al 2011)
A utilização da Fibrina Rica em Plaquetas (PRF) se mostra mais relevante nos estudos
para o aprimoramento do biomaterial regenerador no processo de cura. Entretanto, apesar de
alguns resultados positivos com a sua utilização na reparação dos tecidos, devem ser realizados
novos estudos para que seja explorada ao máximo na busca da excelência do reparo tecidual,
em especial do tecido ósseo. Novas pesquisas com o PRF talvez preencham a lacuna da
regeneração óssea na Odontologia moderna. (LINDHE; KARRING; LANG, 2003)
3.4.1 Obtenção do PRF
O PRF é obtido de modo semelhante ao PRP. Contudo, não há nessa técnica a adição
de anticoagulantes, como a trombina bovina ou cloreto de cálcio, sendo essa a grande diferença
entre o PRF, o PRP e os adesivos de fibrina. O PRF resulta de uma polimerização natural que
ocorre durante a centrifugação. A densidade da rede de fibrina é determinada pela concentração
de fibrinogênio durante o preparo. A ativação das plaquetas e da cascata da coagulação ocorre
pelo contato da amostra de sangue com as paredes do tubo que será colocado na centrífuga.
Uma vez centrifugado, o PRF é obtido no meio do tubo, entre os corpúsculos vermelhos ao
fundo e o plasma celular no topo (sobrenadante). É na rapidez da coleta do sangue e da sua
transferência para a centrífuga que reside o êxito dessa técnica. Segundo Dohan et al. (2006),
as plaquetas se acumulam na parte inferior do coágulo de fibrina, principalmente na junção
14
entre as células vermelhas e a própria membrana, peculiaridade essa que deve ser levada em
conta quando do uso clínico do PRF, uma vez que, a “extremidade vermelha” da PRF pode ser
mais eficaz do que a parte superior do coágulo de fibrina.
A membrana de PRF é forte, elástica e flexível, além de possuir uma arquitetura
favorável para apoiar todo o processo cicatricial. É a estrutura da matriz de fibrina o elemento
chave responsável pelo real potencial terapêutico do PRF, muito embora as plaquetas,
leucócitos e fatores de crescimento exerçam papéis fundamentais. (Gandhi A et al, 2006)
Angiogênese, imunidade e cobertura epitelial são, segundo Choukroun et al. (2006),
as três chaves da cicatrização e da maturação dos tecidos moles. A membrana de PRF é capaz
de apoiar o desenvolvimento desses três fenômenos, simultaneamente. A angiogênese consiste
na formação de novos vasos sanguíneos no local da lesão.
O PRF é favorável ao desenvolvimento da microvascularização e é capaz de guiar a
migração do epitélio celular em sua superfície.(Gandhi A et al, 2006)
Outra vantagem do PRF é a simplificação do processo de obtenção, sem manipulação
bioquímica do sangue. O PRF apresenta uma diferença importante em relação aos adesivos ou
selantes de fibrina que é a diminuição do risco de transmissão de doenças.
3.4.2 Protocolo para obtenção do PRF (Fibrina Rica em Plaquetas)
Coleta-se amostra de sangue (10ml) do paciente por punção venosa no pré-operatório
imediato da intervenção que se deseja utilizar o produto PRF. Em seguida o sangue é
imediatamente centrifugado para a separação celular. A separação dos elementos do sangue
érealizada por centrifugação em centrífuga de bancada. O sangue coletado é centrifugado uma
única vez a 3000 rpm por 10 minutos sem a adição de qualquer anticoagulante como
preconizado por Dohan et al. (2006) resultando em três componentes básicos: células vermelhas
do sangue (fundo do tubo), fibrina rica em plaquetas - PRF (meio do tubo) e plasma pobre em
plaquetas ou componente seroso ou acelular – PPP (parte superior do tubo) como mostrado na
Figura 1.
15
Figura 1 - Separação dos componentes do sangue após a centrifugação. A: plasma
pobre em plaquetas (PPP), B: fibrina rica em plaquetas (PRF) e C: células vermelhas do
sangue. (FONTE: Oliveira et al., 2014)
Após centrifugado, o tubo deve ser retirado da centrífuga cuidadosamente e o PRF
isolado a partir do pinçamento na porção do meio do tubo. Obtém-se, então o PRF separado
dos restantes do componente do sangue (Figura1).
Esse produto isolado pode agora ser comprimido entre superfícies metálicas ou de
vidro para produção de membranas de barreira ou ser usado sem a compressão para
preenchimento de defeitos ósseos.
Figura 2. Isolamento do PRF: Após a centrifugação, a porção do meio do tubo (PRF) será
pinçada para separá-lo dos restantes dos componentes do sangue. (FONTE: Do autor)
16
3.4.3 Limitações do uso do PRF
Um dos limitantes do uso do PRF é que apenas um pequeno volume pode ser usado,
uma vez que provém do sangue do próprio paciente e a quantidade produzida é pequena. Além
disso, por possuir células imunes e moléculas plasmáticas antigênicas, o PRF de cada paciente
só pode ser usado por ele mesmo. O uso do PRF homógeno só é permitido em estudos
experimentais com modelos animais.
Outro aspecto limitante é a necessidade de obtenção previamente ao início do
procedimento cirúrgico em que vai ser usado como material de preenchimento o para
regeneração tecidual guiada (nos casos de preparo de membranas de PRF). Não é possível
coletar o sangue do paciente após o início do procedimento cirúrgico, pois há prejuízo na
concentração de plaquetas a partir da coleta do sangue periférico para o preparo do PRF.
O tempo reduzido de trabalho após sua centrifugação pode também ser considerado
um fator limitante. Não se deve demorar para usar a membrana de PRF ou como material de
preenchimento após longo tempo da centrifugação, para se ter a chance de aproveitar ao
máximo os fatores de crescimento viáveis.
3.4.4 Indicações de uso odontológico do PRF
São várias as indicações de uso do PRF na Odontologia. O seu emprego em diferentes
tipos de defeitos ósseos tem sua maior indicação. Defeitos ósseos decorrentes de remoção
cirúrgica de tumores, cistos, lesões apicais e exodontias traumáticas podem ser preenchidos
com o PRF. No caso das exodontias traumáticas, ocorridas nas situações principalmente de
extrações de dentes retidos, ostectomias extensas levam a criação de defeitos ósseos que
apresentam dificuldade de reparação adequada.
Implantodontia:
O PRF pode ser utilizado na implantodontia gerando um aumento do tecido ósseo para
a instalação de implantes. Geralmente, o que mais se encontra é uma falta de volume ósseo,
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comprometendo estruturas anatômicas, como por exemplo, o seio maxilar e nervo alveolar in-
ferior. (Sunitha RV, Munirathnam NE 2008) Com o uso do PRF, podemos criar condições ade-
quadas para a instalação dos implantes. (Simonpieri A, Del Corso M, Sammartino G, Ehrenfest
DMD. 2009)
O Sinus lift (cirurgia de levantamento de seio maxilar) é uma técnica cirúrgica com
finalidade de reabilitar áreas edêntulas da maxila onde há a presença de reabsorções ósseas.
(Gassling V et al., 2013) Aplicação em tecidos lesados: Pode-se lançar mão do uso do PRF para
reparo tecidual que não for possível por primeira intenção em tecidos moles. A zona lesada pode
ser coberta com a membrana, favorecendo a cicatrização e acelerando a junção dos bordos gen-
givais com significativas melhorias no pós-operatório e função estética. (Del Corso M, Toffler
M, Ehrenfest DMD. 2010)
Periodontia:
O uso do PRF tem sido muito utilizado na periodontia. No caso de exposição radicular
e recessão gengival, o PRF entra como fator coadjuvante para o tratamento periodontal. (Rock
L. 2013) A doença periodontal leva a destruição do periodonto e do osso alveolar, podendo
levar a perda precoce dos elementos dentários. (Pradeep, A. R. et al. 2012)
Aplicação em alvéolos:
A utilização do PRF em alvéolos vem sido amplamente utilizado para o preenchimento
do mesmo, a fim de impedir que um defeito ósseo seja criado. Utiliza-se o PRF para formar um
arcabouço dentro do alvéolo para acelerar a cicatrização óssea. O PRF demonstra ser uma boa
opção de material de preenchimento ou pode ser usado como barreira (membrana) para guiar a
reparação óssea nesses defeitos. Estabelece-se, então, um protocolo de preenchimento do
alvéolo com PRF nas situações de exodontias traumáticas:
1. Coleta de 20ml de sangue em punção venosa e distribuição em dois tubos de ensaio.
2. Centrifugação única a 3000rpm por 10 minutos em centrífuga de bancada.
3. Durante o período de centrifugação, inicia-se a cirurgia de extração dental.
4. Imediatamente após a extração, separar o PRF e preencher o alvéolo que foi irrigado
com soro fisiológico para eliminação do coágulo sanguíneo.
5. Aproximar as bordas da ferida e suturar com fio de nylon-50.
6. Estabelecer os cuidados pós-operatórios para o paciente.
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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante da Literatura abordada, considera-se que o uso do PRF na odontologia é um
grande avanço na regeneração de defeitos ósseos e seu uso constitui uma alternativa viável no
tratamento regenerativo de tecidos moles e duros. O seu alto poder reparacional é um dos fatores
determinantes para esse amplo uso. Apesar de suas poucas desvantagens, seu sucesso clínico
está intimamente ligado a uma observação coerente de suas indicações associada a um
planejamento adequado. Assim, tornam-se necessárias mais pesquisas sobre esse tema com o
propósito de tornar o uso do PRF uma possibilidade de cada vez mais sucesso no tratamento.
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5 REFERÊNCIAS
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