UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA - UFBA ESCOLA POLITÉCNICA DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIAS LIMPAS ESPECIALIZAÇÃO EM TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NO PROCESSO PRODUTIVO ELMO BOMFIM CALASANS AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO DA MANUTENÇÃO AUTÔNOMA: Estudo de caso sobre ganhos ambientais Salvador 2005
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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA - UFBA
ESCOLA POLITÉCNICA
DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIAS LIMPAS
ESPECIALIZAÇÃO EM TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NO
PROCESSO PRODUTIVO
ELMO BOMFIM CALASANS
AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL
COM APLICAÇÃO DA MANUTENÇÃO
AUTÔNOMA: Estudo de caso sobre ganhos ambientais
Salvador
2005
2
ELMO BOMFIM CALASANS
AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL
COM APLICAÇÃO DA MANUTENÇÃO
AUTÔNOMA: ESTUDO DE CASO SOBRE GANHOS
AMBIENTAIS
Monografia apresentada ao Curso de
Especialização em Tecnologias limpas da
Universidade Federal da Bahia, como
requisito parcial para a obtenção de grau de
Especialista em Tecnologias Ambientais no
Processo Produtivo.
Orientador: Prof. Dr. Ricardo Kálid
Salvador
2005
3
AGRADECIMENTOS
A Deus, por minha vida e por tudo de bom que a mim
me tem proporcionado.
Aos meus pais e irmãos, pelo tanto que generosamente
contribuíram para que eu pudesse concluir com êxito
mais esta fase de estudos.
Ao meu orientador, Professor Doutor Ricardo Kálid,
pelos ensinamentos, firme orientação, lealdade, presença
amiga e paciência.
Aos meus colegas e amigos, pelas horas de estudo e
partilhas, imprescindíveis ao meu crescimento pessoal e
profissional.
À minha namorada, Aline Dias, que tão pacientemente
soube compreender minhas ausências nesse período.
4
RESUMO
Com o desenvolvimento deste trabalho, procurou-se conhecer a evolução do
sistema de gestão ambiental, programas aliados, os pré-requisitos à implantação eficiente
da manutenção autônoma com foco em meio ambiente, o escopo de treinamento para a
formação do operador mantenedor com foco em ganhos ambientais e redução de
emissões, os ganhos ambiental e de produção decorridos da aplicação da manutenção
autônoma, e um estudo de caso em que é abordada a implantação da manutenção
autônoma aliada a procedimentos operacionais, com o objetivo de verificar os ganhos
ambientais vinculados à implantação da manutenção autônoma. O trabalho teve como
base a experiência do autor da presente Monografia sobre implantação da manutenção
autônoma, bem como o aperfeiçoamento e adequação às necessidades de treinamento dos
operadores mantenedores. Foram feitos estudos in loco e pesquisa bibliográfica quanto
aos ganhos históricos e de impacto ambiental pela equipe de manutenção. Os Ganhos
reais relativos à melhoria do desempenho ambiental puderam ser mensurados através de
dados históricos de geração de resíduos (inventário anual de resíduo da empresa foco do
estudo de caso). Os resultados, evidenciados com o implemento da manutenção
autônoma, apresentaram aumento da disponibilidade operacional da fábrica, redução dos
custos com a manutenção, com a geração de resíduos e tratamento, além da redução
direta dos impactos ambientais, seja na geração ou na gestão, ou ainda pela não geração
de resíduos. Registrou-se um acréscimo de 7,1% de disponibilidade da planta e uma
redução de 12% da geração anual de resíduos do tipo classe 1. O estudo também indica
que o sistema de capacitação da mão-de-obra e valorização dos funcionários inserem-se
fundamentalmente nos sistemas de desenvolvimento, pois leva a mudanças de
5
pensamento e comportamentos pela ampliação de consciência com respeito à importância
das mudanças propostas e da responsabilidade individual e de grupo quanto a ganhos e
conseqüências das operações.
PALAVRAS-CHAVE: Manutenção Autônoma. Impactos Ambientais. Melhoria de
Desempenho Ambiental. Desenvolvimento Sustentável. Capacitação e Treinamento.
6
LISTA DE FIGURAS
1 - Evolução de um Sistema de Gestão 24
2 - Importância crescente da manutenção 40
3 - Fases da Implementação da Manutenção Autônoma 47
7
LISTA DE GRÁFICOS
1 –Resíduo Perigoso Gerado 2003/2004 59
2 – Resíduo Perigoso Gerado 2004/2005 61
8
LISTA DE QUADROS
1 – Módulos Integrados do Modelo Winter 28
2 – Evolução da Manutenção 38
3 Treinamento para Manutenção Autônoma 51 - 52
4 – Resíduo Classe 1 2003/2004 58
5 – Resíduo Classe 1 2004/2005 60
9
LISTA DE ABREVIATURAS
E SIGLAS
ABIQUIM Associação Brasileira de Indústrias Químicas
ACV Avaliação de Ciclo de Vida
AIA Avaliação de Impactos Ambientais
API American Petróleo Institute
BSI British Standards Institution
CE Comunidade Européia
CMA Chemical Manufactures Association
CMMAD Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
CNUCED Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento
CONSEMA Conselho Estadual do Meio Ambiente
CRA Centro de Recursos Ambientais
CT Comitê Técnico
DDS Diálogo Diário de Segurança
EIA Estudos de Impactos Ambientais
EMAS Eco-Management and Audit Scheme
10
EUA Estados Unidos da América
GAP Distancia da meta
HH Homem Hora
IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis
ISO International Organization for Standardization
NBR Normas Brasileiras Regulamentadoras
OHSAS Occupational Health and Safety Assessments Series
ONU Organização das Nações Unidas
PAR Programa de Atuação Responsável
PNUMA Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas
RAP Relatórios Ambientais Preliminares
RIMA Relatórios de Impactos ao Meio Ambient
SAGE Strategic Advisory Group on Environment
SGA Sistemas de Gestão Ambiental
SGI Sistema de Gestão Integrada
STEP Strategies for Today’s Environmental Partnership
UFBA Universidade Federal da Bahia
UICN Conservação da Natureza
WWF World Wide Fund For Nature (Fundo Mundial para Vida
Selvagem).
11
SUMÁRIO
I N T R O D U Ç Ã O
1 3
1 O B J E T I V O S 1 5
1 . 1 G E R A I S
1 . 2 E S P E C Í F I C O S
2 O MEIO AMBIENTE E SUA RELAÇÃO COM A PRODUÇÃO
INDUSTRIAL
1 6
3 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 1 8
3.1 AS CONTRIBUIÇÕES DAS AUDITORIAS AMBIENTAIS 2 0
3.2 AS CONTRIBUIÇÕES DAS AVALIAÇÕESE ESTUDOS DE
IMPACTOS AMBIENTAIS
2 6
3.3 OS PRIMEIROS PRINCÍPIOS E SISTEMAS DE GESTÃO
AMBIENTAL
2 8
3.3.1 Programa de Atuação Responsável 2 9
12
3.3.2 A Norma Britânica BS 7750 3 3
3.3.3 Sistema Europeu de Eco-gestão e auditoria 3 4
3.3.4 Strategies for Today’s Environmental Partnership (STEP)
3 5
4 RETROSPECTIVA E EVOLUÇÃO DA MANUTENÇÃO
38
5 METODOLOGIA DE IMPLEMENTAÇÃO DO SISTEMA DA
MANUTENÇÃO AUTÔNOMA
46
5.1 CAPACITAÇÃO DO GESTOR E DO COMITÊ DE
IMPLEMENTAÇÃO
46
5.2 FASES DA IMPLEMENTAÇÃO DA MANUTENÇÃO
AUTÔNOMA
47
6 MÉTODOS
54
7 APLICAÇÃO DA MANUTENÇÃO AUTÔNOMA
54
CONCLUSÃO
62
REFERÊNCIAS 64
13
INTRODUÇÃO
A década de 80 foi marcada pelo surgimento de metodologias que visavam à
identificação dos principais impactos ambientais causados ao meio ambiente pelas
organizações. Tal processo foi impulsionado por grandes tragédias ambientais, como
acidentes e derramamentos. O acidente ocorrido com a Usina de Chernobyl marcou a
época, sinalizando para a gravidade da situação face aos efeitos ecológicos em amplas
proporções.
Inicialmente surgiram as Auditorias Ambientais e os Instrumentos de Avaliação
de Impactos Ambientais, que tinham a função de identificar aspectos e impactos
ambientais, complementados com estudos e definição de medidas que pudessem
minimizá-los.
Entre o final da década de 80 e inícios dos anos 90, surgiram os chamados
Sistemas de Gestão Ambiental (SGA). Os SGA buscavam prover as organizações com
instrumentos adequados para o gerenciamento dos seus aspectos e impactos ambientais
mais significativos. Partiam, inicialmente, da identificação e priorização destes aspectos e
impactos, desenhando em seguida um sistema voltado à melhoria contínua dos processos,
com base no controle desses impactos.
Entretanto, embora seja inegável a importância e contribuição dos SGA, as
organizações atualmente encontram-se inseridas num mercado cada dia mais competitivo
e globalizado e, por isso, não devem se limitar apenas à identificação e à minimização
dos impactos ambientais que suas atividades causam ao meio ambiente. Para
sobreviverem neste novo cenário, tais organizações necessitam investir em performance
ou desempenho respaldado no princípio da auto-sustentabilidade, sob cujas orientações
14
os novos mercados tendem a se encontrar conciliando aspectos sócio-ambientais a
estratégias, objetivos e metas organizacionais.
Como o principal objetivo das metodologias de avaliação de desempenho é
estabelecer o grau de evolução ou estagnação de seus processos, nada mais natural,
portanto, que tais princípios, metodologias ou sistemas de avaliação de desempenho
sirvam de instrumentos na adoção das novas posturas, desde que devidamente inseridos
nos sistemas de gestão ambiental. Assim é que os indicadores de desempenho devem
estar alinhados às estratégias e objetivos da organização, de forma a rever e redirecionar
não só decisões, mas também procedimentos.
Historicamente, os sistemas de avaliação de desempenho das empresas tendiam a
optar por um enfoque mais financeiro. Na última década do século XX, todavia,
começaram a surgir algumas metodologias ou sistemas de avaliação de desempenho
também envolvendo questões outras, além do privilégio financeiro, tais como
desempenho dos processos, qualidade dos processos e produtos, satisfação dos clientes,
motivação dos funcionários e questões ambientais.
A relação entre produção e preservação ambiental sempre se apresentou de difícil
conciliação e, sob alguns aspectos, até mesmo antagônica. A humanidade, a título de
justificar-se frente às necessidades de auto-sobrevivência, vem provocando a destruição –
paulatina e irracional - dos recursos naturais disponíveis no planeta, atingindo todas as
formas de vida. Assim agindo, esquece-se de que provoca, ela própria, a aridez do solo e
o desequilíbrio da natureza, de forma irreversível. As indústrias que não investem em
tecnologia limpa, por exemplo, ignoram que a ineficiência dos processos, eleva o
consumo e os custos sob os mais diversos ângulos, e faz com que matérias primas e ou
subprodutos permaneçam estocados, ou ainda sejam descartados na natureza, quando
poderiam ser reaproveitados por si ou por outra empresa. Inadvertidamente, por falta de
conhecimento ou comprometimento, considera o descarte de resíduo como parte normal
do processo de produção, perdendo não só a oportunidade de maiores lucros em seus
negócios, mas, principalmente, gerando danos ao meio ambiente.
No caso específico da manutenção autônoma com foco em ganhos ambientais e de
produção e redução de emissões, a idéia básica implica utilizar com mais eficácia os
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recursos naturais existentes, demandando a redução na utilização de recursos naturais e
no fluxo de materiais, além da redução ou eliminação de desperdício em forma de
resíduos. Na base dos processos geradores de mudanças, apresentam-se os treinamentos e
o trabalho de conscientização dos envolvidos.
1 OBJETIVOS
1.1 GERAL
O presente trabalho tem como objetivo geral analisar o processo de implantação e
utilização do sistema de manutenção autônoma como ferramenta gerencial em uma
empresa química.
1.2 ESPECÍFICOS
Abordar os principais aspectos que levam à implantação da manutenção autônoma
e a ganhos ambientais.
Acompanhar as mudanças ocorridas através dos registros de controle de impactos
ambientais dos processos produtivos e de manutenção, bem como dos ganhos
ambientais vinculados à implantação da manutenção autônoma.
Analisar os pré-requisitos que direcionam a manutenção autônoma no sentido de
reduzir as perdas para o meio ambiente.
Propor uma metodologia de implantação da manutenção autônoma com foco em
ganhos ambientais.
16
2 O MEIO AMBIENTE E SUA RELAÇÃO COM A PRODUÇÃO INDUSTRIAL
Apesar de a agricultura ter contribuído ao longo de séculos com significativa
parcela para a ocorrência de impactos ambientais ao planeta em decorrência,
principalmente, dos desmatamentos e do uso indiscriminado de agrotóxicos, foi na Era
Industrial, entretanto, que a exploração inadequada de recursos naturais e a poluição
resultante do avanço tecnológico impuseram um ritmo mais acelerado à degradação
ambiental.
No período, as organizações objetivavam, como principal meta, produzir seguindo
as exigências do progresso, bem como para atender às emergentes sociedades de
consumo nas mais diferentes regiões do planeta. Em sentido inverso aos princípios do
trabalho produzido manual e artesanalmente na era pré-industrial, a indústria moderna,
seguida da contemporânea, consolidou a produção em escala. A possibilidade de
utilização da energia para a produção fez com que os homens e a sua recente invenção, a
máquina, trabalhassem vinculados, seduzidos aqueles por ganhos financeiros amplos e
imediatos e imputando ao seu semelhante o poder de um novo mando senhorial para se
produzir em escala crescente. Apoiada no discurso da sobrevivência e do
desenvolvimento sócio-econômico inevitável, a humanidade, desde então, vem se
utilizando de ações comprometedoras para o meio ambiente, sem se dar conta que, mais
cedo ou mais tarde, os resultados afetariam a qualidade de vida do Planeta. Decorridos
alguns anos de intensas discussões, concluiu-se que o grande desafio não é lutar contra o
desenvolvimento, mas torná-lo sustentável, ou seja, evoluir sem agressões ou destruições
ao meio ambiente. (CMMAD, 1988).
No século XX, fortaleceram-se novas e mais acertadas posturas resultantes dos
investimentos originários de várias frentes, ao mesmo tempo em que acidentes ecológicos
e importantes conferências alternavam-se, tendo como centro discussões sobre o tema.
Em 1957 ocorre o primeiro acidente com um reator nuclear, em Tcheliabinski (antiga
União Soviética), justamente num momento em que o crescimento econômico contribuía
sobremaneira para o consumo e que a descoberta de possíveis usos da energia nuclear
17
tornava remota quaisquer preocupações com a escassez de recursos, principalmente a
escassez energética. Ainda nos anos 50, assinala-se, em Minamata, Japão, um outro
desastre tendo no topo do desafio o derramamento de mercúrio, e cujo saldo apresentou–
se lastimável diante dos 700 mortos e 9.000 doentes crônicos (PONTING, 1991).
A Reunião do Clube de Roma, em 1968, que culminou com a publicação do
documento Limites do Crescimento (The Limits to Growth), ocorreu quando o mundo
experimentava um possível emergir da Guerra Fria e também presenciava o terror dos
holocaustos, a guerra do Vietnan e as conquistas tecnológicas empregadas na fabricação
de armamentos. O documento previa uma incontrolável mortandade da população por
volta dos anos 2050, provocada pelo esgotamento dos recursos naturais, conseqüência do
aumento desmedido e irresponsável da produção industrial e de alimentos para atender ao
crescimento exponencial da população. O tom alarmista de "Limites ao Crescimento"
desencadeou várias avaliações contrárias, mas o impacto foi inequívoco: a questão, a
partir desse momento, faria parte da teoria econômica, tanto em nível dos insumos, como
dos efluentes rejeitos (TAYRA, 2002).
Um pouco mais adiante, em junho de 1972, ocorre em Estocolmo, Suécia, a
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, onde foram levantadas questões
envolvendo desde os direitos fundamentais do homem a condições de vida adequadas e
dignas. Foi enfatizada a obrigatoriedade do ser humano de proteger e melhorar o meio
ambiente para as gerações presentes e futuras. Houve ainda a inserção do conceito de
Meio Ambiente. A conferência contou com representantes de 113 países, 250
organizações não-governamentais e vários organismos da ONU.
A Conferência foi reconhecida como a mais importante sobre o assunto, a ponto
de estabelecer a distinção para o estudo do meio ambiente em “antes” e “depois” de
Estocolmo. Para além dos aspectos técnico-científicos, pela primeira vez foram discutidas
questões sociais, políticas e econômicas ligadas ao tema, o que sinalizou para um grande
avanço sócio-econômico, político e ambiental no campo da produção.
Desta Conferência adveio a criação do Programa de Meio Ambiente das Nações
Unidas (PNUMA), a partir do qual, para maior tranqüilidade dos países em
18
desenvolvimento, os conceitos de crescimento zero postulados pelos países ricos
começaram a ser substituídos por “metas de desenvolvimento sustentável”.
Em 1992, na cidade do Rio de Janeiro, sucede a Conferência das Nações Unidas
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUCED), a RIO-92, como ficou conhecida.
Dentre os compromissos acordados, constam a convenção sobre a mudança do clima e
biodiversidade, e uma declaração sobre florestas. A conferência aprovou, entre outros,
documentos de objetivos mais abrangentes e de natureza mais política: a Declaração do
Rio e a Agenda 21. Ambos endossam o conceito fundamental de desenvolvimento
sustentável, produto das aspirações compartilhadas por quase todos os países, e
relacionado à idéia de progresso econômico e usos de materiais. No contexto das
propostas, incluiu-se a necessidade de uma consciência ecológica.
Em dezembro de 1997 foi realizado em Kioto, Japão, um evento que contou com
um contingente de cerca de 10.000 representantes de países, observadores e jornalistas. A
Conferência culminou com a decisão, por consenso, de se adotar um protocolo, definido
como Protocolo de Kioto, segundo o qual os países industrializados reduziriam suas
emissões combinadas de gases de efeito estufa em pelo menos 5% em relação aos níveis
de 1990, até o período compreendido entre 2008 e 2012. Com vinculação legal, envolve
compromisso de uma reversão da tendência histórica de crescimento das emissões
iniciadas nesses mesmos países, há cerca de 150 anos. Data de 16 de março de 1998 a
abertura do Protocolo de Kioto, para as assinaturas devidas.
3 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Segundo Starke (1991), o termo desenvolvimento sustentável surge pela primeira
vez em 1980, no documento “Estratégia de Conservação Mundial: conservação dos
recursos vivos para o desenvolvimento sustentável”. Esse documento foi assinado pela
União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), pelo Fundo Mundial para
Vida Selvagem (WWF) e pelo PNUMA. Segundo o documento:
19
“[...] para ser sustentável, o desenvolvimento precisa levar em
conta fatores sociais e ecológicos, assim como econômicos; as
bases dos recursos vivos e não-vivos; as vantagens de ações
alternativas, a longo e a curtos prazos.” (STARKE, 1991, p. 67)
Em 1987, a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
(CMMAD) elaborou um novo significado para o termo. Para a Comissão,
desenvolvimento sustentável passa a ser “[...] aquele que atende às necessidades do
presente, sem comprometer a possibilidade de gerações futuras atenderem às suas
próprias necessidades.” (CMMAD, 1988).
Em junho de 1992, no Rio de Janeiro, na CNUCED, reconheceu-se a importância
de se assumir a idéia de sustentabilidade em qualquer programa ou atividade de
desenvolvimento. LELÉ (1995) afirma que o conceito de desenvolvimento sustentável
ocupa uma posição central dentro do ambientalismo, particularmente após a publicação
do relatório Nosso Futuro Comum.
“[...] nos últimos anos, o antigo debate dos anos 70, que de certa forma
separava as questões ambientais do desenvolvimento, é substituído por
outro mais convergente e otimista, preocupado centralmente na questão
de como fazer para alcançar um desenvolvimento sustentável.” (VIOLA
apud LELÉ, 1995, p. 73).
Baroni (1992) acrescenta que há um consenso por parte dos autores que abordam
o termo, ao sugerir que desenvolvimento sustentável implica em buscar o fim da pobreza,
acrescido da preocupação em reduzir a poluição ambiental e o desperdício no uso dos
recursos.
Pode-se perceber, portanto, que o termo desenvolvimento sustentável, por si só,
não traz respostas ou soluções ao conflito existente entre a necessidade de crescimento e
a preservação dos recursos naturais que ainda restam. Considerando que as organizações
20
produzem bens vastamente consumidos pelas sociedades contemporâneas, e que algumas
destas sociedades assumem estes bens como de suma importância para a sua
sobrevivência, torna-se inegável o relevante papel que estas organizações de produção de
bens precisam adotar na busca pela prática de um desenvolvimento sustentável.
O fato é que a produção dos bens consumidos pelas sociedades gera poluição de
toda ordem, nos mais diferentes níveis, danos que acabam atingindo direta ou
indiretamente a própria humanidade. Por outro lado, a mesma sociedade parece não
querer abrir mão do conforto e comodidade proporcionados por muitos destes bens.
A busca de soluções para este conflito deverá passar por mudança de valores da
sociedade, tanto da parte dos responsáveis pela produção, quanto por aqueles que se
encontram no papel de consumidores dos produtos. Além disso, os sistemas
organizacionais deverão ser reorientados com vistas à minimização de danos e impactos
ambientais negativos, normalmente causados pela produção de bens de consumo. Para
tanto, faz-se necessário conhecer tais danos e impactos ambientais, identificando suas
origens, meios de expansão, conexões e magnitude, e as conseqüências diretas e indiretas
dos mesmos por metas adequadas a cada situação.
Dentro deste enfoque, os itens subseqüentes pretendem apresentar duas ferramentas
que têm por objetivo a identificação de danos ou impactos ambientais associados às
atividades das organizações e que tiveram grande parcela de contribuição no surgimento
das ferramentas e modelos dos sistemas de gestão ambiental: as auditorias ambientais e
as avaliações de impactos ambientais.
3.1 AS CONTRIBUIÇÕES DAS AUDITORIAS AMBIENTAIS
As primeiras auditorias ambientais nasceram em meados da década de 70, nos
EUA. Seu surgimento baseou-se na necessidade de criação de um instrumento de
controle que auxiliasse empresas a verificar se as mesmas cumpriam ou não as
regulamentações ambientais legais, tal como acontecia com as auditorias contábeis, muito
difundidas na época.
21
Com o decorrer dos anos, as auditorias foram se tornando não apenas um
instrumento importante para demonstrar a conformidade com relação às leis ambientais,
mas também passaram a ser definidas como processos sistemáticos para se obter, avaliar
e registrar fatos, buscando conformidade com determinados padrões estabelecidos, os
quais poderiam ser até mais restritivos do que a legislação aplicável. (KUHRE, 1996, p.
42)
Atualmente, existem diversos tipos de auditorias ambientais, que variam de
acordo com os objetivos estabelecidos para a sua realização. De um modo geral, as
auditorias ambientais podem ser classificadas como auditorias de primeira, de segunda ou
de terceira parte. As de primeira parte, algumas vezes conhecidas como auditorias
internas, são realizadas por membros da própria organização. Já as de segunda, também
conhecidas por auditorias de fornecedores, são aquelas realizadas por algum membro
externo à organização, mas com alguma relação com ela, como por exemplo, um cliente,
um fornecedor ou um parceiro. As auditorias de terceira parte, ou externas, assim se
definem porque são realizadas por um membro externo à organização e sem nenhuma
relação com esta, como por exemplo, uma certificadora.
As auditorias foram e são bastante utilizadas como ferramentas para verificação
de conformidades no processo de gestão de produção, processo de manutenção e
ambiental. O seu relatório final constitui-se como um bom indicativo de pontos de
melhoria e ganho. O processo como um todo, inclusive a manutenção, pode e deve ser
alvo de auditorias e inspeções periódicas para que se possa gerar um meio mensurável
dos resultados, bem como um histórico dos levantamentos e ações a serem evidenciadas.
De acordo com ASTM (1994), alguns dos tipos mais importantes e conhecidos de
auditorias ambientais assim se classificam:
Auditoria Fase I - auditorias ambientais com o propósito de identificar, na
propriedade auditada e em seu entorno, condições que possam vir a ser não
conformidades ambientais, tais como contaminações de qualquer espécie. São
consideradas muito importantes na área de manutenção, pois procuram marcas de
22
vazamento, manchas de óleo e qualquer outro indício de derrames ou
contaminação por destinação incorreta de resíduos.
Auditoria Fase II - auditorias ambientais com a finalidade de investigar, na
propriedade auditada ou em seu entorno, as condições normalmente identificadas
na Fase I, visando caracterizar melhor a magnitude da não conformidade
identificada.
Auditoria de Conformidade Legal - realiza avaliação verificando a conformidade
em relação às exigências legislativas ambientais aplicáveis.
Auditoria Due Diligence, de Aquisição e Alienação - normalmente realizada por
comprador, intermediário ou cessionário em uma transação comercial, tal como
fusões, aquisições ou compras de ações. O principal objetivo deste tipo de
auditoria é o de evitar que sejam assumidos riscos ou passivos ambientais em
transações de compra e venda.
Auditoria de SGA - essas auditorias são realizadas com o intuito de verificar a
eficiência e eficácia do sistema de gestão ambiental de uma organização, isto é,
verificar a conformidade do sistema com os critérios estabelecidos.
Auditorias de Desempenho Ambiental - procuram verificar especificamente o
desempenho ambiental da organização, considerando todos os setores envolvidos
e a integração entre eles.
Auditorias Corporativas - realizadas por membros ou empresas de uma mesma
corporação, visando checar conformidade contra os padrões legais e de
desempenho estabelecidos normalmente pela própria corporação.
Auditorias de Fornecedores - realizadas em clientes ou fornecedores relacionados
às atividades da organização. Dependendo do escopo desejado, podem ser de
conformidade legal ou de desempenho. Normalmente esta auditoria de segunda
parte é conduzida visando assegurar que as atividades desses clientes ou
fornecedores não comprometam de alguma forma a reputação da organização.
23
As auditorias foram algumas das ferramentas utilizadas antes da implementação da
manutenção autônoma, já que têm grande valia na detecção e conhecimento dos pontos
prioritários de implementação do programa. A experiência nos mostra que as auditorias
devem ser constantemente realizadas para acompanhamento e monitoração de todo o
processo de implementação. Dentre os fatores que impulsionaram as auditorias
ambientais, pode ser mencionado o reconhecimento por parte das empresas dos
benefícios de se avaliar de forma sistemática sua conformidade contra os padrões
estabelecidos, bem como a possibilidade de estimar os riscos e responsabilidades
potenciais no caso do não cumprimento dos requisitos legais.
No final da década de 70, com o avanço das propostas na área ambiental empresarial
produtivo, algumas empresas dos setores químico, petroquímico, de geração de energia e
de mineração, estabeleceram metodologias específicas e programas de auditoria
ambiental, que muitas vezes eram realizados em conjunto com as avaliações nas áreas de
saúde ocupacional e segurança do trabalho. Tudo isso sinaliza mais uma vez a crescente
preocupação com o meio ambiente.
Na década de 80, ampliaram-se as pressões da opinião pública e dos órgãos de
regulamentação para que as empresas divulgassem, através de relatórios, informações
sobre o seu desempenho ambiental. Assim, corporações internacionais como Allied
Signal, Union Carbide, Monsanto, Rhône Poulenc, entre outras, vêm publicando
relatórios sobre sua atuação na área ambiental.
Além dos relatórios publicados, a crescente tendência de aquisições e fusões de
empresas industriais no país vem incentivando a realização de auditorias para avaliação
do desempenho ambiental, dos riscos associados a passivos ambientais, e até mesmo de
alguns impactos ambientais associados.
As auditorias ambientais, ao tornarem transparente a existência ou não de
impactos ambientais dentro das organizações, podem auxiliar investidores e acionistas
quando das avaliações das empresas relativa aos passivos ambientais e/ou desempenho
ambiental, ou ainda levá-las a rever rotinas e traçar planos com medidas de ações
corretivas e preventivas. O setor de manutenção em indústrias, geralmente terceirizado,
24
funciona com menor inserção da cultura e valores organizacionais, pela não existência de
funcionários diretos da corporação.
Na atualidade, surge a filosofia da manutenção autônoma, onde funcionários da
produção iniciam a sua atuação também na manutenção, em decorrência de uma série de
fatores, indicados inicialmente pelas auditorias. Os sistemas de gestão, porém, que não
estejam bem estruturados - sejam eles da qualidade, de saúde, segurança ou ambientais -
fazem com que as auditorias se tornem instrumentos pouco eficazes e punitivos. As
organizações passam a temer as auditorias e só promovem melhoria no sistema para o
evento, relaxando tão logo finalize a auditoria e novamente se mobilizando quando em
outra oportunidade análoga. A Figura 1 demonstra o comportamento organizacional
descrito anteriormente através de um “gráfico serra”, que indica, por intermédio do GAP,
(distância da referência) ser possível verificar que o resultado final é o de melhoria,
porém com fases de quedas bruscas normalmente interrompidas pelos eventos das
auditorias.
Melhorias instáveis/auditorias
GAP
Auditoria Auditoria Auditoria Auditoria
Figura 1: Evolução de um sistema de gestão tipo “serra”.
Assim, o ideal é que as auditorias sejam introduzidas no sistema enquanto
ferramentas para auxiliar na identificação de oportunidades de melhoria. Seus objetos
estão dispostos nas normas ISO 14001 e BS 7750.
25
No caso específico da ISO 14001, as auditorias do SGA devem determinar se o
sistema está em conformidade com as disposições planejadas, se o que foi implementado
está sendo mantido e, ainda, fornecer à organização informações sobre os resultados das
auditorias. De posse destes resultados, a organização pode, através de uma análise crítica,
rever as metas, objetivos e os programas de gestão.
No ano de 1980 foi criada no Brasil a Política Nacional do Meio Ambiente, sendo
a primeira de uma série de iniciativas governamentais que viriam a acontecer. Em 1983,
em São Paulo, foi criado o Conselho Estadual do Meio Ambiente (CONSEMA), pedra
fundamental da futura Secretaria do Meio Ambiente.
Ainda nos anos 80, o Brasil e o mundo viram a cidade de Cubatão ganhar fama,
como uma das cidades mais poluídas do mundo. Um grande número de indústrias
instalou-se de maneira desordenada, sem que a cidade possuísse tecnologia e
conhecimento necessários para abrigar tamanha estrutura.
Com a Constituição de 1988, avançou-se para o estabelecimento da política
ambiental. Pela primeira vez formulava-se um capítulo inteiro da constituição dedicado
ao meio ambiente. Um ano depois foi criado o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), que passaria a ser o monitor dos recursos
naturais, ao difundir atividades de fiscalização por todo o país.
Na Bahia, com a finalidade de executar a Política Estadual de Administração dos
Recursos Ambientais e promover o fortalecimento dos instrumentos de controle
ambiental, como a avaliação, o licenciamento e a fiscalização das atividades
potencialmente capazes de causar impactos sobre o meio ambiente, foi criado a 3 de
Março de 1983, através da Lei Delegada nº 31, o Centro de Recursos Ambientais (CRA).
Desde então, as empresas inseridas no Pólo Petroquímico de Camaçari são monitoradas e
orientadas pelo CRA, com relação às suas atividades associadas a desempenho ambiental
e impactos ambientais.
26
3.2 AS CONTRIBUIÇÕES DAS AVALIAÇÕES E ESTUDOS DE IMPACTOS
AMBIENTAIS
Segundo a NBR ISO 14001 (1996), impacto ambiental pode ser definido como “[...]
qualquer modificação do meio ambiente, adversa ou benéfica, que resulte, no todo ou em
parte, das atividades, produtos ou serviços de uma organização”.
Em linhas gerais, a Avaliação de Impactos Ambientais (AIA) visa à identificação
dos principais impactos associados ao evento, que pode ser um novo empreendimento,
um novo projeto, um novo processo, uma nova atividade, um novo produto, um novo
programa ou até mesmo uma nova política, visando subsidiar avaliações sobre a
magnitude deste impacto no meio ambiente em que está inserido e apresentar as medidas
mitigadoras ou de solução mais viáveis.
As primeiras avaliações de impactos ambientais – AIA - datam do início da década
de 70, através de iniciativas do National Environmental Protection Act. Porém, os
primeiros métodos de AIA foram considerados documentos pouco aplicáveis a situações
reais. Isto porque a quantidade de fatores de influências diretas e indiretas e a
complexidade das mesmas tornavam estas avaliações complexas e, por vezes, muito
longas.
A partir de 1976, os métodos AIA passaram por um período de evolução no sentido
de melhor compreender as relações de causa e efeito das ações dos projetos e seus
impactos associados, levando em conta a dinâmica dos sistemas ambientais. Ou seja, as
avaliações de impactos ambientais tornaram-se mais aplicáveis à realidade.
Na década de 80 surge o que se pode chamar de base conceitual para a abordagem
científica da avaliação de impacto ambiental. A Universidade Federal da Bahia (UFBA),
comprometida com pesquisas e meio-ambiente, passa a desenvolver estudos técnico-
científicos sobre o assunto em forma de monografias, dissertações e teses. Além disso, é
criado um curso de pós-graduação cuja matriz curricular tem como base o conhecimento
e a aplicação de tecnologias limpas, onde os aspectos e impactos ambientais são alvos
constante de estudos e pesquisas. Publicações científicas do período procuraram
27
demonstrar e destacar a importância da AIA, mostrando que este tipo de avaliação pode,
entre outros aspectos:
• Compreender as características funcionais dos ecossistemas potencialmente
afetados;
• Considerar a variação natural dos sistemas no espaço e no tempo;
• Compreender como respondem os sistemas às interferências humanas;
• Reconhecer limitações técnicas;
• Considerar critérios sociais, culturais e ambientais.
As avaliações de impactos ambientais permitem, portanto, às partes interessadas
(dirigentes das organizações, comunidade, governo etc), uma visão ampla das influências
positivas e negativas que cada empreendimento possa causar ao meio ambiente, ao meio
social e à sua vizinhança. Neste sentido, a AIA pode ser considerada como uma
componente integrada no desenvolvimento de projeto e parte do processo de decisão,
proporcionando uma retro-alimentação contínua entre a concepção e as conclusões da
proposta.
Os principais instrumentos que atualmente viabilizam a execução das avaliações de
impactos ambientais são os Estudos de Impactos Ambientais (EIA), os Relatórios de
Impactos ao Meio Ambiente (RIMA) e os Relatórios Ambientais Preliminares (RAP).
No Brasil, os EIA/RIMA, bem como o RAP, foram implementados pela Lei Federal
6938/81, e pela Resolução número 001/86 do Conselho Nacional do Meio (CONAMA).
Estes instrumentos estão vinculados aos sistemas de licenciamento de propostas. Ou,
ainda, a projetos de atividades poluidoras ou modificadoras do meio ambiente a cargo das
organizações governamentais dos Estados e, em casos especiais, do (IBAMA).
Os EIAs são ferramentas de grande importância no dimensionamento do setor ou
setores que mais geram impacto ambiental durante a sua atuação. A partir de definições
de prioridades e dimensões dos impactos, podem-se traçar objetivos e metas a serem
28
cumpridas. Essas ferramentas devem ser utilizadas também para dimensionar os impactos
causados pela área de manutenção e, além de suas medidas mitigadoras, servem ainda à
redução do impacto por mudança de tecnologia, procedimentos e ou re-qualificação do
seu corpo de funcionários.
O termo desenvolvimento sustentável, como se pode depreender desses estudos,
ainda que complexo, parece ser o caminho para a convivência pacífica entre o progresso
e a proteção do meio ambiente. Pode-se afirmar ainda que tanto as auditorias ambientais
quanto os instrumentos de AIA foram e são de grande contribuição no processo de
evolução ambientalista apresentado.
3.3 OS PRIMEIROS PRINCÍPIOS E SISTEMAS DE GESTÃO AMBIENTAL
Segundo Donaire (1999), um dos primeiros sistemas de gestão ambiental existente
foi o Sistema Integrado de Gestão Ambiental, também conhecido por Modelo Winter.
Este sistema foi desenvolvido em 1972, pela empresa Ernest Winter & Sonh. Tal modelo
procura descrever o sistema por meio do estabelecimento de 20 módulos integrados cujos
objetivos incluem: facilitar a sua implantação, definir prioridades e definir o cronograma.
Os módulos integrados, apresentados no quadro 1, segundo ainda o autor citado, definem
o papel completo da gestão ambiental da empresa. Quando conhecidos, deverão ser
avaliados pelo administrador e implementados segundo propostas ambientalistas e
obedecendo a critérios de planejamentos e prioridades.
Quadro 1: Módulos Integrados do Modelo Winter
1) Motivação da Alta Administração 11) Gestão de Materiais
2) Objetivos e Estratégia da Empresa 12) Tecnologia de Produção
3) Marketing 13) Tratamento e Valorização de Resíduos
4) Disposições Internas em Defesa do 14) Veículos da Empresa Ambiente
29
ambiente
5) Motivação e Formação 15) Construção da Instalação/equip
6) Condições do Trabalho 16) Finanças
7) Alimentação dos Funcionários 17) Direito
8) Aconselhamento Ambiental Familiar 18) Seguros
9) Economia de Energia e Água 19) Relações Internacionais
10) Desenvolvimento do Produto 20) Relações Públicas
Fonte: DONAIRE, 1999
Além do modelo Winter, muitos outros sistemas de gestão ambiental surgiram,
sobretudo nas décadas de 80 e 90. Dentre os principais sistemas de gestão ambiental
existentes, os que mais contribuíram para o surgimento da norma ISO 14001 foram o
Responsible Care Program, a BS 7750 e o Eco-Management and Audit Scheme (EMAS).
Estes e alguns outros sistemas serão discutidos a seguir.
3.3.1 Programa de Atuação Responsável
O Programa de Atuação Responsável - Responsible Care Program - é considerado
por Culley (1998) como o primeiro modelo de gestão ambiental formal. Surgiu no
Canadá, em 1984, através de uma iniciativa das indústrias químicas formalizada pelo
Chemical Manufactures Association (CMA). Apesar de ser um programa voluntário,
tornou-se requisito exigido àqueles que participam do CMA. O Programa consiste
essencialmente de:
• Princípios Diretivos, equivalentes a uma declaração de propósitos.
• Códigos de Práticas Gerenciais, com metas genéricas que permitem a cada
organização estabelecer as formas para alcançá-las (os seis códigos estão
apresentados a seguir).
30
• Painel Público Consultivo, composto por membros de diferentes segmentos da
sociedade que colaboram com a indústria química na elaboração de práticas
gerenciais e a ajudam a compreender as preocupações da comunidade.
• Grupos de Liderança, formados por executivos das empresas participantes,
aquelas que se adequam aos princípios do Responsable Care, para discutir as
experiências, trocar informações e identificar necessidades de melhorias e
assistência mútua.
Os seis códigos do Programa de Atuação Responsável são:
• Conscientização da comunidade e programa de emergência - este código requer
da organização que esta inicie e mantenha um programa de comunicação com a
comunidade respondendo abertamente questões relativas à saúde, segurança e
meio ambiente e fornecendo informações sobre atividades, como minimização de
resíduos, emissões e efeito de produtos químicos sobre a saúde.
• Prevenção de poluição - este código visa auxiliar a organização na redução de
suas emissões e na minimização dos resíduos gerados. As empresas devem medir
ou estimar as suas emissões e o volume de resíduos gerados; elaborar um plano de
redução; medir o progresso obtido e atualizar anualmente seu inventário de
resíduos.
• Segurança de processos - objetiva a prevenção de acidentes através de
levantamentos e análises dos riscos dos processos, de manutenção e inspeção, do
estabelecimento de padrões operacionais e treinamento de pessoal.
• Distribuição de produtos - são qualificações para a seleção de transportadoras,
distribuidores e outros fornecedores de serviços externos.
• práticas: gerenciamento de riscos, segurança da transportadora, manuseio e
segurança, ação em emergências, revisão crítica e treinamento.
31
• Saúde e segurança ocupacional - requer o comprometimento com fornecimento de
recursos e mecanismos para a identificação e avaliação de riscos associados à
saúde e segurança dos trabalhadores, bem como seu controle e prevenção,
requerendo ainda a elaboração de um programa específico e o treinamento de
funcionários.
• Responsabilidade pelos produtos (productstewardship) - enfoca aspectos do
produto associados à saúde, segurança e meio ambiente, desde a concepção até a
disposição final do mesmo. Inclui projetos de produtos de baixo risco,
informações aos consumidores sobre os usos corretos dos produtos, estudos de
usos alternativos e suas possíveis conseqüências.
No Brasil, o Programa de Atuação Responsável, adotado a partir do ano de 1990, é
coordenado pela Associação Brasileira de Indústrias Químicas (ABIQUIM). Os
princípios diretivos adotados pela indústria brasileira são:
• Assumir o gerenciamento como expressão de alta prioridade empresarial, através
de um processo de melhoria contínua em busca de excelência.
• Promover, em todos os níveis hierárquicos, o senso de responsabilidade individual
com relação ao meio ambiente, segurança, saúde ocupacional e o senso de
prevenção de todas as fontes potenciais de risco associados a suas operações,
produtos e locais de trabalho.
• Ouvir e responder às preocupações da comunidade sobre seus produtos e
operações.
• Colaborar com os órgãos governamentais e não governamentais na elaboração e
aperfeiçoamento de legislação adequada, segurança da comunidade, locais de
trabalho e meio ambiente.
• Avaliar previamente o impacto ambiental de novas atividades, processos e
produtos.
• Monitorar os efeitos ambientais de suas operações.
32
• Buscar continuamente a redução de resíduos, efluentes e emissões atmosféricas
para o ambiente.
• Cooperar com a solução de impactos negativos ao meio ambiente, decorrentes das
disposições inadequadas de produtos ocorridas no passado.
• Transmitir às autoridades, clientes, funcionários e à comunidade informações
adequadas quanto aos riscos à saúde, segurança e meio ambiente de seus produtos
e operações, e recomendar medidas de proteção e emergência.
• Orientar fornecedores, transportadores, distribuidores, consumidores e o público
para que transportem, armazenem, usem, reciclem e descartem os seus produtos
com segurança.
• Exigir que o contratado, trabalhando nas instalações da empresa, obedeça a
padrões adotados pela contratante em segurança, saúde e meio ambiente.
• Promover a pesquisa e o desenvolvimento de novos processos e produtos
ambientalmente compatíveis.
• Promover os princípios e a prática da atuação responsável, compartilhando
experiências e oferecendo assistência a outras empresas para a produção,
manuseio e transporte, uso e disposição de produtos, principalmente as pequenas
e médias empresas.
A grande diferença entre o Programa de Atuação Responsável e a Norma
Internacional ISO 14001, detalhada mais adiante, é que o primeiro consiste de uma série
de iniciativas específicas de gerenciamento, enquanto o segundo é um SGA. Isto é, as
iniciativas do Programa de Atuação Responsável podem ou não ser sistematizadas. A
adesão de indústrias químicas ao Programa de Atuação Responsável não significa que
automaticamente estas possuam os requisitos normativos necessários para uma
certificação, mas encontrar-se-ão num estágio muito mais adiantado para tanto.
A implementação da filosofia da manutenção autônoma encontra grande apoio no
Programa de Atuação Responsável (PAR) onde estão previstos, em vários dos seus
princípios, a redução de resíduos, e a estimativa destes, bem como um plano para seu
33
acompanhamento e arrefecimento, seja com treinamento dos funcionários, seja através da
adoção de boas práticas por estes e pelos contratados.
3.3.2 A Norma Britânica BS 7750
A BS 7750 - Specifications for Environmental Management Systems - teve sua
primeira edição publicada em março de 1992, entrando em vigor em janeiro de 1994.
Trata-se de um marco importante para a gestão ambiental, pois é uma forte referência
para quase todos os sistemas existentes.
A norma foi encomendada pelo Environmental and Pollution Standard Policy
Committe of British Standard Institution a um comitê técnico formado por 38 instituições
inglesas representando os mais variados setores da economia, tais como a Associação de
Consultores Ambientais, a Corporação Britânica de Carvão e a Real Academia de
Química. Trata-se de uma especificação para o desenvolvimento, implementação e
manutenção de um sistema de gestão ambiental voltada a assegurar e demonstrar
conformidade com as declarações da empresa quanto à sua política, objetivos e metas
relativos ao meio ambiente.
A norma supracitada não estabelece um cumprimento absoluto quanto ao
desempenho ambiental. Exige, porém, atendimento às normas legais locais e o
comprometimento com a melhoria contínua. Estipula, ainda, que a organização formule
políticas e objetivos que levem em conta as informações relativas aos efeitos ambientais
significativos decorrentes de suas atividades. Resumidamente, pode-se dizer que a norma
preconiza que a organização deve estabelecer e manter um sistema de gestão ambiental
como mecanismo para garantir que os efeitos de suas atividades, produtos ou serviços,
estejam em conformidade com sua política ambiental.
34
3.3.3 Sistema Europeu de Eco-Gestão e Auditorias
O Sistema Europeu de Eco-Gestão e Auditorias EMAS, estabelecido pelo
Regulamento da Comissão da Comunidade Européia nº1836/93, definiu os critérios para
certificações ambientais de processos industriais. A estes critérios foi incluído,
posteriormente, um sistema de gestão e de auditoria, padrões de desempenho,
verificações por terceiros, e declarações públicas após revisão ambiental inicial e
conclusão de cada auditoria.
O Sistema EMAS entrou em operação a partir de 1995 e, basicamente, permite às
empresas que desenvolvem atividades industriais nos países membros da Comunidade
Européia (CE) obter registros de suas fábricas junto a uma comissão da CE. Anualmente,
é publicada no jornal oficial da CE uma lista de todas as instalações industriais
registradas. Tal registro pode ser considerado, portanto, como um "certificado" de bom
desempenho ambiental para quem o obtiver.
Os requisitos para a obtenção de tal registro são:
• Adoção de uma política ambiental que, entre outros requisitos, inclua um
compromisso com o avanço contínuo do desempenho ambiental da empresa
através do uso das melhores tecnologias práticas disponíveis.
• Realização de um levantamento do sistema de gestão ambiental considerando, em
síntese, os instrumentos relacionados à gestão ambiental na empresa, ou seja:
o políticas, objetivos e programas ambientais;
o organização e pessoal;
o definição de responsabilidades pelas atividades de controle ambiental;
o avaliação e registro dos efeitos ambientais;
o controles operacionais;
35
o registros ambientais e auditorias ambientais;
• Instituição de um programa de gestão ambiental que vise cumprir os objetivos
estabelecidos na política ambiental da empresa;
• Efetuar auditorias ambientais periódicas;
• Fixação de objetivos de melhoria contínua do desempenho ambiental;
• Elaboração de uma declaração ambiental;
• Proceder análises críticas periódicas da política, dos programas e do sistema de
gestão ambiental;
• Comunicação dos dados da declaração ambiental ao organismo ambiental do país
onde se situa a unidade industrial.
3.3.4 Strategies for Today’s Environmental Partnership (STEP)
Em 1990, a American Petróleo Institute (API), instituto fundado em 1919 pela
indústria de petróleo norte-americana, criou o STEP. Como o principal objetivo do STEP
era desenvolver um guia para a indústria de petróleo americana que possibilitasse um
aprimoramento de seu desempenho ambiental, de saúde e segurança, foi então criado o
American Petroleum Institute Environmental, Health and Safety Mission and Guiding
Principles. Em linhas gerais, este documento tem como princípios: prevenção da
poluição, conservação dos recursos naturais, relação de parceria e acordos com a
comunidade, entre outros. Cabe salientar, ainda, que a maioria dos princípios
apresentados abaixo tem estreita relação com os requisitos normativos e a filosofia da
norma ISO 14001.
Os princípios básicos do American Petroleum Institute Environmental Health and
Safety Mission and Guiding Principles são:
• Reconhecer e responder à comunidade quaisquer reclamações sobre matérias-
36
primas, produtos ou operações nas companhias de petróleo.
• Operar plantas e fábricas e manusear matérias primas e produtos protegendo o
meio ambiente, a saúde e segurança dos funcionários, bem como de toda
comunidade envolvida e dos clientes.
• Considerar prioritárias as questões relacionadas à saúde, segurança e meio
ambiente nos planejamentos, e no desenvolvimento de produtos e processos.
• Comunicar prontamente aos funcionários, clientes, órgãos oficiais, e todo o
público envolvido, quaisquer questões relacionadas a danos ambientais, de saúde
e segurança, e recomendar medidas pró-ativas.
• Contribuir na capacitação de funcionários, clientes, terceiros, transportadores e
outros envolvidos quanto ao manuseio, transporte e disposição final de matérias-
primas, produtos e resíduos.
• Desenvolver e produzir economicamente recursos naturais e conservá-los
utilizando a energia de forma eficiente.
• Sempre buscar aumentar conhecimentos através de pesquisas nas áreas que
afetam o meio ambiente, saúde e segurança dos produtos, matérias-primas,
processos e resíduos.
• Comprometer-se em reduzir a geração de resíduos e emissões.
• Trabalhar em parcerias para resolver problemas criados pelo manuseio e
disposição de substâncias perigosas geradas nas operações.
• Participar com entidades governamentais e outras entidades na criação de leis
responsáveis, regulamentações e normas para salvaguardar a comunidade, os
locais de trabalho e o meio ambiente.
• Promover estes princípios e praticá-los, dividindo experiências e oferecendo
assistência a todos que produzam, manuseiem, utilizem, transportem ou
disponham matérias-primas similares, produtos e resíduos derivados de petróleo.
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A ISO, sensibilizada por todas as ações, em nível internacional, citadas
anteriormente, e sentindo a ausência da avaliação de questão ambiental de forma mais
abrangente, iniciou uma investigação para avaliar a necessidade de normas internacionais
para gestão ambiental. Em agosto de 1991 criou o Strategic Advisory Group on
Environment (SAGE). Este grupo tinha por finalidade:
Promover uma abordagem comum à gestão ambiental semelhante à gestão da
qualidade.
• Aperfeiçoar a capacidade das organizações para alcançar e medir melhorias no
desempenho ambiental.
• Facilitar o comércio e remover barreiras comerciais.
Em 1992, o SAGE deu o sinal verde para o Conselho Técnico da ISO, que então
encarregou um novo Comitê Técnico, o TC 207, do desenvolvimento de normas
internacionais para gestão ambiental. Os membros do comitê são representantes oficiais
de cerca de 40 países, incluindo representantes da indústria, organizações normativas,
governamentais e ambientais. O conjunto de normas conhecido como ISO 14000 abrange
cinco áreas: SGA, Auditoria Ambiental, Avaliação de Desempenho Ambiental,
Avaliação do Ciclo de Vida e Rotulagem Ambiental.
A norma ISO 14000 hoje é alvo de muitas críticas, pois se esperava que as normas
de rotulagem ambiental e de Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) do produto
contribuíssem para iniciativas mais pró-ativas das empresas. Ou seja, agissem de maneira
a eliminar na fonte o problema e não apenas corrigir ou remediar os erros.
Furtado et al. (2000) criticam os Sistemas de Gestão Ambiental que se apóiam na
Norma ISO 14001 que sejam restritos a sistemas administrativos sem maiores
compromissos com as questões ambientais. Defendem o emprego de Princípios de
Produção Limpa, ou de Produção Mais Limpa, além da re-qualificação dos funcionários,
colocando a geração de resíduo como o problema central dos impactos ambientais.
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A atual tendência dos sistemas de gestão ambiental é a utilização do recurso da
redução ou eliminação dos impactos na fonte, apoiados no Princípio da Produção Limpa.
A norma ISO 14000 deveria espelhar-se neste sentido, pois dentro do conceito da auto-
sustentabilidade este é o caminho a ser seguido.
Os sistemas de auditoria e gestão, por sua vez, não destacam a questão da
manutenção e da manutenção autônoma como itens passivos de se obter ganhos através
do foco ambiental. Todavia, estes são pontos a serem levados em consideração devido
aos impactos que estas atividades trazem ao meio ambiente.
4 RETROSPECTIVA E EVOLUÇÃO DA MANUTENÇÃO
A manutenção é uma tecnologia chave para o chamado desenvolvimento
sustentável. A idéia basilar é utilizar com mais eficácia os recursos existentes, tais como
matéria-prima, equipamento e energia necessários para produzir bens e serviços,
provocando assim uma redução do fluxo de materiais, de recursos naturais e do
desperdício. Isso exige a presença das seguintes características: ciclos de produção
fechados; longevidade dos produtos; influência no período de vida (ou ciclo de vida) dos
produtos; otimização na limpeza dos meios disponíveis de produção (ou aumento da
produtividade dos recursos); reutilização antes da reciclagem. O quadro 2, a seguir,
mostra um breve histórico da evolução da manutenção.