UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA MONOGRAFIA SUBMETIDA Á AVALIAÇÃO COMO REQUISITO PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE BACHAREL EM GEOGRAFIA UMA ABORDAGEM GEOGRÁFICA DA DISTRIBUIÇÃO DA DENGUE NO ESPAÇO SOTEROPOLITANO JOSÉ EDUARDO BARRETO CRUZ EMANUEL FERNANDO REIS DE JESUS (ORIENTADOR) SALVADOR – 2006.1
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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
MONOGRAFIA SUBMETIDA Á AVALIAÇÃO COMO REQUISITO PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE BACHAREL EM GEOGRAFIA
UMA ABORDAGEM GEOGRÁFICA DA DISTRIBUIÇÃO DA DENGUE NO ESPAÇO SOTEROPOLITANO
JOSÉ EDUARDO BARRETO CRUZ
EMANUEL FERNANDO REIS DE JESUS (ORIENTADOR)
SALVADOR – 2006.1
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
JOSÉ EDUARDO BARRETO CRUZ
UMA ABORDAGEM GEOGRÁFICA DA DISTRIBUIÇÃO DA DENGUE NO ESPAÇO SOTEROPOLITANO
MONOGRAFIA SUBMETIDA Á AVALIAÇÃO COMO REQUISITO PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE BACHAREL EM GEOGRAFIA
ORIENTADOR: EMANUEL FERNANDO REIS DE JESUS
SALVADOR – 2006.1
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar quero agradecer a minha mãe, que esteve sempre presente, me
ajudando como podia, com seu jeito tranqüilo.
Agradecer também aos funcionários da biblioteca, Gil, Dona Zefa, Zeca e Dona Aladia
por me atenderem sempre com muito carinho, e em especial, a Joceane Cristina,
Coordenadora da Biblioteca, por entender meus atrasos nas entregas dos livros.
Fica um grande agradecimento ao Professor Emanuel Reis, que com muitas risadas e
conselhos me orientou e me conduziu a este momento de satisfação.
Á todos os professores de Geografia, em especial a Professora Maria Elvira agradeço o
carinho e a preocupação com o desenvolvimento deste trabalho, esteve sempre atenta
pra que eu pudesse terminar no prazo correto.
E não poderia deixar de agradecer a Profª Maria da Glória Teixeira, do Instituto de
Saúde Coletiva – ISC, UFBA, que me permitiu assistir as aulas da disciplina de
Epidemiologia, como aluno ouvinte, que muito enriqueceu este trabalho.
Araori Coelho, obrigado pelos mapas, Isaías obrigado pela ajuda.
E por final aos amigos e namorada por entender os momentos que os abandonei.
OBRIGADO A TODOS !
FRASE
O QUE É GEOGRAFO DEPENDERÁ DA POSTURA POLÍTICA, DO
ENGAJAMENTO SOCIAL, DE QUEM FAZ GEOGRAFIA.
ASSIM EXISTIRÃO TANTOS GEOGRAFOS, QUANTO FOREM OS
POSICIONAMENTOS SOCIAIS EXISTENTES.
EXPLICAR O QUE É GEOGRAFIA, PASSA A SER A EXPLICITAÇÃO DO
CONTEÚDO DE CLASSE SUBJACENTE A CADA PROPOSTA.
Antonio Carlos Robert Moraes
RESUMO
Segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS, a saúde é o pleno estar
físico, mental e social do ser humano, sendo assim, a geografia como uma ciência de
investigação sócio-ambiental é privilegiada para analisar as condições ambientais e de
saúde, pois sua abordagem espacial facilita a compreensão dos fatores físicos e
humanos.
A partir dessa perspectiva anterior, esta pesquisa monográfica procura mostrar o
quanto a ciência geográfica pode ser importante na investigação da relação
saúde/doença, através do conceito do espaço geográfico.
Neste trabalho a análise da ocorrência dos casos de dengue no espaço urbano de
Salvador durante o período de 2000 a 2003, é feita através da pluviosidade, um dos
elementos mais importante para determinar o clima da região tropical.
A geografia da saúde é resgatada através do entendimento de sua importância no
processo saúde/doença, visto que a doença não pode ser entendida exclusivamente a
partir da doença e daí compreender como esta se prolifera, mas investigando a partir do
espaço geográfico, entender como este é responsável pela produção das condições de
proliferação da doença, ou seja a espacialização da doença.
Palavras chaves: Geografia da saúde, espaço geográfico, análise espacial,
Pluviosidade, dengue, saúde e doença.
LISTA DE FIGURAS, TABELAS E MAPAS
FIGURAS
Figura 1 – Imagem de satélite de Salvador ......................................................................... 18
Figura 2 – Casos de dengue por estação do ano – 2000 ...................................................... 35
Figura 3 – Pluviosidade por estação do ano – 2000 ............................................................ 35
Figura 4 – Dengue X Pluviosidade por estação do ano – 2000 ........................................... 36
Figura 5 – Casos de dengue por estação do ano – 2001 ...................................................... 41
Figura 6 – Pluviosidade por estação do ano – 2001 ............................................................ 42
Figura 7 – Dengue X Pluviosidade por estação do ano – 2001 ........................................... 43
Figura 8 – Casos de dengue por estação do ano – 2002 ...................................................... 47
Figura 9 – Pluviosidade por estação do ano – 2002 ............................................................ 49
Figura 10 – Dengue X Pluviosidade por estação do ano – 2002 ......................................... 50
Figura 11 – Casos de dengue por estação do ano – 2003 .................................................... 52
Figura 12 – Pluviosidade por estação do ano – 2001 .......................................................... 54
Figura 13 – Dengue X Pluviosidade por estação do ano – 2002 ......................................... 54
Figura 14 – Dengue X Pluviosidade por estação do ano – 2000-2003 ............................... 57
MAPAS
Mapa 1 – Salvador – 2006 ................................................................................................... 7
Mapa 3 –Distribuição espacial da dengue – Salvador – 2000 ............................................. 32
Mapa 4 – Distribuição espacial da dengue – Salvador – 2001 ............................................ 39
Mapa 5 – Distribuição espacial da dengue – Salvador – 2003 ............................................ 53
Mapa 6 – Distribuição espacial da dengue- Salvador – 2002 ............................................. 46
TABELAS
Tabela 1 – Salvador – Número de casos de dengue – 2000 ................................................ 30
Tabela 2 – Salvador – Pluviosidade – 2000 ........................................................................ 31
Tabela 3 – Salvado – Distribuição espacial da renda dos chefes de família por faixas de rendimento – 1991 ............................................................................................................... 33
Tabela 4 – Salvador – Número de casos de dengue – 2001 ................................................ 37
Tabela 5 – Salvador – Pluviosidade – 2001 ........................................................................ 38
Tabela 6 – Salvador – Número de casos de dengue – 2002 ................................................ 44
Tabela 7 – Salvador – Pluviosidade – 2002 ........................................................................ 45
Tabela 8 – Salvador – Número de casos de dengue – 2003 ................................................ 51
Tabela 9 – Salvador – Pluviosidade – 2003 ........................................................................ 51
O presente trabalho cujo tema é “Uma abordagem geográfica da distribuição da
dengue no espaço soteropolitano”, foi desenvolvida com uma proposta de estimular a
discussão da saúde por um viés geográfico, a geografia como uma ciência de
investigação sócio-ambiental é privilegiada por discutir os aspectos físicos e humanos
de forma indissociável, contribuindo para uma nova abordagem nos estudos referentes
à saúde/doença.
“A ciência clássica se orientava pelo paradigma da redução e
da simplificação. Antes de mais nada, arrancava-se o
fenômeno de seu ecossistema para analisá-lo em si mesmo.
Excluí-se tudo que fosse meramente conjuntural, temporal e
ligado a contingências passageiras” (BOFF,2000).
A possibilidade que a geografia insere nesse novo contexto de estudo é poder
através do conceito de espaço geográfico entender as enfermidades e a saúde partindo
do espaço e compreender com este produz condições para o desenvolvimento das
doenças e da saúde.
É importante destacar que este estudo não está concluído, pois muito se tem a
trabalhar, sobre este tema, é um tema em que os dados são muitas das vezes
subnotificados, de difícil acesso e saúde não é efetivamente interessante por parte
1. INTRODUÇÃO
O Mundo contemporâneo vem assistindo uma série de sucessivas e gradativas
tragédias naturais e conseqüentemente de difusão de novas enfermidades e de outras que
por longo tempo era tida como abolidas de nosso convívio, e que agora ressurgem de
maneira até mais rápida e intensa em sua proliferação, incidência e contágio.
Nesta era globalizada, as doenças e patogenos ignoram fronteiras e
podem se disseminar literalmente a jato, representando uma ameaça real, a
saúde publica mundial. Neste contexto, é importante ressaltar o quanto o
Espaço Geográfico, o objeto de estudo da Geografia, passa a ser alvo de
estudos nas diversas áreas do conhecimento, sobretudo aquelas preocupadas
com a questão da saúde e do planejamento urbano, pela sua significativa
importância diante da relação sociedade e natureza e sua correlação na
profusão da saúde e das doenças.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Saúde é o pleno bem
estar físico, mental e social do homem.
Diante desse conceito, é interessante salientar o quanto á análise do espaço
geográfico, dentro do contexto dos estudos em epidemiologia é particularmente
proveitoso no momento atual, em que existe uma maior percepção da importância do
meio ambiente sobre a existência da humanidade, quer no plano físico, psíquico e
social.
A modificação do espaço gerado em conseqüências de ações
antrópicas determinando alterações ecológicas significativas na relação do
homem com seu meio, e conseqüentemente os efeitos colaterais causados
por esses processos de transformações contribuem para maior circulação dos
agentes infecciosos, através das mudanças de seu habitat natural.
O estudo da Geografia vinculado aos conhecimentos da saúde tem registro desde
Hipocrates, ha 480 AC, ou seja, nasce com o próprio nascimento da medicina, em sua
celebre obra publicada e intitulada “Ares, Águas e Lugares”, do interesse existente
pela relação entre as condições atmosférica e as doenças, sendo este o primeiro embrião
do estudo terapêutico da influência do clima sobre o homem.
Por ter sido considerada por um longo tempo uma ciência de síntese entre as
disciplinas da natureza e das sociedades, a geografia teve grandes dificuldades de
afirmação no campo cientifico. A imprecisão e o conseqüente retardamento na definição
do seu objeto de estudo, tornou problemática a sua aceitação no meio acadêmico.
No século XVI, a aproximação do saber médico e a geografia foram
impulsionadas com os grandes descobrimentos continentais, que colocaram a
necessidade de se conhecer as enfermidades nas terras conquistadas, visando à proteção
de seus colonizadores e ao desenvolvimento de suas atividades comerciais.
Mas, somente no século XIX, na Alemanha, com a sistematização do saber
geográfico, através de Alexander Von Humboldt, é que a geografia, passa a ter uma
maior importância e seu estudo torna-se valorizado no campo das ciências e passa a ser
efetivamente uma disciplina acadêmica diante de um contexto político-territorial vivido
pela Europa ainda no final do século XIX, na Alemanha de Ratzel.
Portanto, não é coincidência nem pecado original que o status acadêmico da geografia tenha institucionalizado um conhecimento útil para revelar, controlar e dominar territórios, para fazer guerra, bem como para desvendar riquezas ocultas nas terras distantes que alimentavam aventuras comerciais coloniais e imperialistas dos séculos XIX e XX. (CASTRO, 2006)
Neste mesmo período, Max Von Pettenkofer, higienista alemão
considera a influência de elementos da geografia física como o solo e a água
na ocorrência e distribuição da cólera em Londres.
Ainda nessa linha de abordagem, os estudos enfatizando o impacto
do ambiente, especialmente o clima, sobre as condições de saúde do homem
continuou a ser produzidos e valorizados no inicio do século XX,
principalmente através das teorias de Max Sorre, com a teoria do complexo
patogênico e Pavlovsky, com a teoria do foco natural, favorecendo a
concepção da doença como resultado do desequilíbrio natural. Para Sorre, o
clima tinha um papel especial entre os elementos da natureza.
O espaço como uma totalidade é uma instância da sociedade, ao mesmo tempo em que as instâncias econômicas e cultural-ideológicas. Os seus elementos homens, instituições, meio-ecológico e as infra-estruturas estão submetidas às variações qualitativas e quantitativas, embora como realidade sejam uno e total (SANTOS, 1992).
Neste momento então há um novo contexto histórico das sociedades e das
ciências, a geografia tem no espaço geográfico seu objeto de estudo.
Dentro deste mais recente contexto e passando a trabalhar na interface do
conhecimento físico e social, a Geografia desponta neste momento como uma ciência
privilegiada para analisar as condições ambientais e de saúde, pois em seu objeto de
estudo, o espaço geográfico, facilita a compreensão dos aspectos físicos e humanos de
uma forma indissociável.
É no campo dos estudos das enfermidades vinculadas a
epidemiologia, porém que a Geografia oferece uma nova perspectiva de
análise, visto que, ao invés de partir da doença e analisar como esta se insere
no contexto, parte-se da totalidade, o Espaço Geográfico, analisando como
este criou condições de ocorrência da doença (Silva, 1997). É através desta
análise que mais recentemente o estudo das doenças e da saúde pela
Geografia tem se intensificado, pois a qualidade de vida do homem se
configura em um bom indicador ambiental.
A influência do meio ambiente na saúde do homem é inegável. O individuo não pode ser visto isoladamente, e existe uma permanente interação entre o ser humano e o que o cerca (CARVALHO, 1997).
No momento em que ocorre um aumento da concentração de pessoas nas
cidades, principalmente nas grandes Metrópoles, sem as devidas infra-estruturas de
saneamento básico, reflexo de um processo de urbanização caótica, fruto das ocupações
desordenadas dos espaços, sem um planejamento eficiente, a partir dos anos de 1970, no
Brasil, conjugado a um baixo nível de escolaridade e de renda da população, além das
precárias condições de moradias e de um maior movimento migratório, a cidade torna-
se um lugar de grande preocupação e medo, por expor ao homem uma maior
vulnerabilidade as doenças e proporcionar uma maior circulação dos vetores
transmissores das doenças urbanas.
No plano ambiental urbano, o que mais influencia a saúde humana é o clima,
pois direta ou indiretamente seus elementos são os responsáveis pelas condições
positivas e negativas em que vive o ser humano. As chuvas, a temperatura e a umidade
relativa do ar são elementos extremamente importantes no desenvolvimento e
disseminação de inúmeras doenças.
A complexidade das interações entre as atividades humanas e o ambiente cresce, portanto, na medida em que atualmente o
processo de urbanização avança cada vez mais no mundo de hoje. As transformações ocorridas na natureza e a atuação dos mecanismos que lhe são peculiares são capazes de, em circuitos contínuos de feedback positivos e negativos, gerar novas situações e processos cada vez mais complexos, forçando a novas adaptações ou ajustamentos da sociedade, e com elas, posteriores repercussões ambientais (DETWYLER e MARCUS, 1972; TITARELLI, 1972 e SCHMID, 1974).
Para poder comprovar estas palavras anteriores, estudos apresentados pelo
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) em seu último anuário
mundial do Meio Ambiente 2004-2005 afirmam o que não é mais novidade no meio
cientifico internacional, a associação do surgimento de novas doenças infecciosas e o
ressurgimento de outras erradicadas às mudanças climáticas que atinge o planeta.
Ainda segundo esses estudos, as variações climáticas podem agravar
as ameaças de doenças infecciosas de três maneiras: aumentando a
temperatura das áreas sobre as quais diversas doenças e seus portadores se
desenvolvem, alterando os habitats naturais; acelerando o ciclo reprodutivo
e através dos seus refugiados ambientais, que poderá favorecer a
disseminação de doenças de uma parte a outra, onde a população pode ser
mais vulnerável.
A problemática ambiental e o (re)surgimento de doenças infecciosas,
devido principalmente às alterações climáticas, compõem hoje uma questão
complexa que preocupa não só as comunidades cientificas, médicas,
sanitárias e autoridades de todo o mundo como também se torna
preocupação da população como um todo, em função da rapidez e
intensidade da sua proliferação e contágio, apesar de todos instrumentos
técnicos disponíveis que existem hoje para se detectar a doença.
Sendo assim, as questões relacionadas ao clima, tanto em escala macro,
aquecimento global, quanto em escala micro, o aquecimento urbano, com as variações
climáticas e seus impactos produzidos pelo homem têm um papel de fundamental
relevância na condição de saúde/doença humana, na ecologia dos insetos e na
distribuição espacial das doenças transmissíveis e infecciosas, dentre elas a malária, a
febre amarela, a cólera e a dengue, esta última, objeto deste estudo.
A Dengue, uma arbovirose transmitida pelo vetor Aedes Aegypti, é uma
enfermidade predominantemente urbana, pois é neste ambiente, segundo Costa e Natal
(1998):
que se encontra os requisitos imunológicos e epidemiológicos principais para desenvolver a doença; o Homem, o vírus, o vetor, e principalmente as condições político econômicas e culturais que formam a estrutura, que permite o estabelecimento da cadeia de transmissão.
A Dengue é uma doença socialmente complexa, a sua susceptibilidade é
universal, pois atinge os seres humanos independentemente da classe social,
constituindo-se uma das mais importantes enfermidades transmissíveis no momento, e
ela pode se apresentar clinicamente de duas formas, a Clássica, não letal e a
Hemorrágica, esta letal.
Para o estudo da dengue, é imprescindível considerar os aspectos climáticos,
pois o mosquito, o vetor da doença, o Aedes Aegypti é diretamente influenciado pelas
condições do clima, sendo que estas devem apresentar-se propicias ao desenvolvimento
do mesmo.
No Brasil o primeiro caso suspeito foi em 1916, na cidade de São Paulo, mas em
função das dificuldades técnicas laboratoriais da época e dos sintomas da doença serem
parecidos com outras enfermidades, o que dificultava os resultados das análises clinicas,
o país só foi ter verdadeiramente conhecimento dos casos confirmados clínica e
laboratorialmente, no ano de 1981, na cidade de Boa Vista de Roraima, no Estado de
Roraima, na Região Norte do país, com um total de 12.000 casos notificados pela
Secretária de Saúde do Estado.
Após uma breve pausa epidemiológica no país, a Dengue reaparece em 1986, no
Município de Nova Iguaçu, no estado do Rio de Janeiro, Região Sudeste, disseminando
por quase todo o Estado.
Em 1990, a situação vivenciada pela população carioca já era um caso de
epidemia, gerando uma preocupação em todo estado.
Em1996, apenas dez anos depois do reaparecimento da enfermidade, o problema
ultrapassava os limites territoriais cariocas e já se estendia para 18 Estados do Brasil,
em aproximadamente 638 municípios o que gerou uma maior preocupação por parte das
autoridades competentes de saúde pública, reflexo da atuação da mídia na divulgação do
aumento alarmante de pessoas de todas as classes sendo infectadas pelo vírus da
dengue.
A partir de então a dengue passa a ser uma realidade no país e sua disseminação
por quase todo país é transformado em caso de saúde pública.
No estado da Bahia, em especial, o primeiro caso de epidemia foi registrado no
verão de 1987, na Cidade de Ipupiara, pequeno município do sudoeste do Estado,
próximo a cidade de Vitória da Conquista, o sorotipo apresentado foi o DEN-1, com o
registro de 623 casos notificados pela Secretária de Saúde do Estado.
Na cidade de Salvador, o universo de analise deste estudo monográfico, o
primeiro caso de epidemia surgiu em 1995, no verão, com grande numero de pessoas
acometidas pela doença em sua área urbana da cidade, alcançando no mês de abril, deste
mesmo ano, a soma de 5.735 casos notificados, correspondendo a uma incidência de
691,37 casos por 100.000 habitantes e no ano foram cerca de 15.458 casos notificados.
No ano de 1996 ocorre uma nova onda de infestação da Dengue na Cidade com
um total de 10.988 casos notificados no ano epidemiológico. Estes dois anos foram sem
dúvida os mais preocupantes, pelo alto grau de incidência de casos da Dengue, afetando
em muito a população soteropolitana, acarretando um grande custo não só para o Estado
como para as empresas privadas pelo elevado numero de absenteísmo na esfera do
trabalho e na freqüência às escolas, pois a grande parte dos indivíduos acometidos pela
doença, ficam impedidos de desempenharem as suas atividades habituais, acamados,
sua convalescença é demorada, trata-se de uma doença incapacitante pelo menos por 5 a
10 dias, em função dos sintomas manifestados.
A partir desses dois anos de maior impacto nos casos notificados da doença, os
trabalhos informativos e educacionais realizados pelo Ministério da Saúde e pelas
Secretárias de Saúde do Estado e do Município de Salvador, fizeram a diferença nos
números de notificações, pois houve uma queda considerável, alcançando em 1999, a
menor taxa de notificação, com cerca de 608 casos notificados e uma taxa de incidência
de 16,8 casos por 100.000 habitantes. (TEIXEIRA, 2001)
A partir do ano de 2000, ano base deste trabalho, ocorreram 792 novos casos
notificados pela Secretaria de Saúde do Município de Salvador (tabela 1), ocorrendo um
leve aumento em relação ao ano anterior, no ano de 2001 ocorreu uma elevação para
1.957 casos notificados, no ano de 2002 foram 26.971 casos notificados, um alarmante e
preocupante aumento e no último ano para efeito de analise deste trabalho, no ano de
2003, foram notificados 1.025 novos casos na cidade de Salvador.
É com base nesses dados de notificação da dengue e pelos dados de
pluviosidade fornecidos pelos órgãos oficiais que são apresentados neste trabalho, que
iremos tentar entender como a intensidade das chuvas, na cidade de Salvador, um dos
elementos do clima que mais determina as condições de vida da população
soteropolitana, já que a cidade estar localizada em uma faixa da região tropical, no qual
a mudança do tempo está muito mais ligada às condições pluviométricas do que a
mudança de temperaturas pode ser responsável pela incidência da Dengue na cidade de
Salvador e a partir destes resultados encontrados, poder contribuir para melhor planejar
o seu controle e para gerar uma efetiva discussão das condições de saúde da população
por um viés geográfico, tão escasso em Salvador.
Mapa 1 – Salvador – 2006
Base cartográfica: CONDER. Município de Salvador – Uso do solo. Escala 1:25.000. Salvador, 1983. Elaboração: Eduardo Barreto; Araori Coelho.
2. OBJETIVOS
2.1. OBJETIVO GERAL
A reintrodução da Dengue no território nacional e sua rápida expansão por todas
as regiões do país constituem-se em um inquestionável problema de saúde pública,
ocasionando um impacto negativo nas condições de vida da população, no sistema
produtivo e no próprio sistema de saúde, pelos seus custos elevados com ações de
controle.
Diante desses pressupostos, proponho nesta Monografia de Bacharelado em
Geografia pela Universidade Federal da Bahia-UFBA, contribuir para preencher uma
lacuna deixada por pesquisadores da área da Geografia, quanto ao estudo desta natureza
no plano urbano, desenvolvendo uma abordagem geográfica da distribuição da Dengue
no espaço urbano Soteropolitano, utilizando os dados de pluviosidade mensal como
parâmetro de investigação da (co) relação, existente entre a Dengue e a chuva no
período do ano de 2000 até o ano de 2003, por esta infecção ter sido desde 1995 até o
momento a de maior repercussão e mobilização em todo país, principalmente em
Salvador, com um alto índice de infestação.E por entender que a geografia possui
grandes instrumentos metodológicos e conceituais para analisar as condições ambientais
e de saúde.
2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Os objetivos específicos deste trabalho encontram-se diretamente envolvido nas
necessidades de buscar encontrar através dos dados obtidos, respostas para o objetivo
geral, sem ordem de relevância, já que todos fazem parte do mesmo trabalho, tais como:
- A distribuição geográfica da Dengue no Espaço Soteropolitano
- Localizar as áreas de maior ocorrência da doença.
- Produção de mapas temáticos da distribuição da Dengue em Salvador.
- Investigar se há correlação ou relação entre a chuva e a Dengue.
- Determinar os períodos de maior ocorrência de Dengue em Salvador.
3. JUSTIFICATIVAS
O que justifica a realização deste trabalho monográfico é ter a possibilidade de
preencher um vazio existente nos trabalhos realizados pelos pesquisadores na área da
Geografia Médica em Salvador.
A Geografia da Saúde, desde a sua origem, tem sido calcada na resolução de
problemas, permitindo a identificação de lugares e situações de risco ou de abandono
público, o planejamento territorial de ações de saúde e o desenvolvimento das
atividades de prevenção e promoção de saúde.
Neste contexto torna-se relevante tentar reafirmar o reconhecimento histórico da
utilidade da Geografia para compreensão do processo saúde-doença e potencializar um
diálogo escasso, muito mais por parte dos Geógrafos, entre a Geografia e os
Profissionais da área de saúde, pois a Geografia como uma ciência do espaço social,
torna-se uma ciência privilegiada para analisar as condições de saúde.
4. REFERENCIAL TEÓRICO
4.1 EVOLUÇÃO DOS ESTUDOS DA GEOGRAFIA DA SAÚDE
O estudo das relações Homem e Saúde, Homem e Doenças por muito tempo
foram responsabilidade dos médicos e higienista, sobretudo através de um enfoque
analítico ambiental, quando não divino.Aqueles que tinham uma rara percepção do
espaço restavam dois caminhos bem diferentes.
O primeiro caminho levava a um conhecimento apoiado pela filosofia, uma
relação mais Humanística e natural da relação, descrevendo o espaço para suas análises
sanitárias, principalmente o efeito do clima na saúde da população.
O segundo caminho percorre labirintos utilitaristas, ideológicos, em pró das
idéias colonialista/imperialistas o espaço vai ser usado para produção de conhecimento
que priorize a saúde para o acumulo de capital, através do saber territorial.
Os Geógrafos, importantes cientistas sociais, que procuram investigar o uso do
espaço como caminho para entender as possibilidades que o Homem tem de ser feliz em
seu espaço de vida, encontra na saúde esta possibilidade, afinal a ONU estabelece que a
Saúde é muito mais que a falta de doença, mas o estado de bem estar físico, social e
mental.
Atribui-se a Hipocrates, há 480 AC, o primeiro registro sobre a relação entre a
doença e o ambiente onde ela ocorre. Em seu celebre livro “Ares, Águas e Lugares”
além de enfatizar a importância do modo de vida dos indivíduos, analisa também a
influência dos ventos, da água, do solo e da localização das cidades em relação ao sol,
na ocorrência das doenças.
Por um longo tempo a Geografia passou a se preocupar com a distribuição dos
fenômenos e processo da natureza, apesar de alguns esforços individuais e inconstantes,
não incorporou cedo na sua leitura de síntese, de maneira efetiva e cientifica, e como
preocupação central de seus estudos, o estado biopsicosocial do Homem. E por isso a
Ciência Geográfica ficou afastado de um estudo Interdisciplinar, um estudo em que a
saúde das pessoas fosse um produto de suas análises.
Aproximação do saber Geográfico e a Saúde Médica só vão tornar-se realidade
para o mundo a partir do Séc. XVI com as grandes descobertas marítimas e
conseqüentemente as grandes invasões de territórios, nos continentes, americanos,
africanos e asiáticos.
A partir deste momento então, a doença, passa a ser vista não só como uma
dimensão biológica e divina, mas, sobretudo geopolítica e econômica, através do uso do
território pelas grandes corporações médicas. E o uso do território é uma análise que
privilegia a Geografia.
Neste instante a Geografia tem uma grande importância no planejamento das
políticas colonialistas, pela necessidade que se fazia na época de conhecer o estado de
salubridade ou insalubridade das terras longínquas conquistadas, visando
exclusivamente à proteção de seus colonizadores e ao desenvolvimento das atividades
econômicas, pré-capitalistas, de acumulação de capital.
É importante enfatizar que esses conhecimentos geográficos foram
utilizados através de profissionais da medicina, quase todos eles militares,
subordinados as principais potencias coloniais.
No final do Séc. XIX período de uma nova etapa do imperialismo colonial, uma
colonização mais efetiva, conquistadora e usurpadora de território e de riquezas
naturais, para suprir novas necessidades de um processo de Industrialização na Europa
em franco desenvolvimento, Ratzel, 1882, com seu celebre livro “Antropogeografia”,
que dentre outras idéias, preconizava a relação Homem-Natureza, de modo que as
características geográficas, principalmente o clima exerciam sobre o Homem uma
grande influência no seu modo de vida, primeiro na Fisiologia (somatismo), na
Psicologia (caráter) e por fim na Sociedade.
É através desta concepção que se confere a certas doenças infecciosas e
parasitárias específica de uma faixa latitudinal do globo terrestre, o estigma de “doenças
tropicais”.
É neste contexto político territorial, determinista e utilitarista, que ocorre a
consolidação da forma moderna do Estado, às conquistas territoriais européias do Séc.
XIX, que se produz também idéias preconceituosas da “indolência do Homem Tropical”
ou o subdesenvolvimento como fonte da tropicalidade, que até hoje ainda se faz
presente no imaginário, no Brasil, quando se refere aos povos nordestinos.
Ainda neste período, observa-se uma intensa discussão entre aqueles que
acreditavam que as doenças resultavam de miasma (exalação, sopro), Teoria
miasmática, e os que acreditavam que estas eram causadas por organismo contagioso
propagado pelo contato ou objetos contaminados, Teoria do contágio.
Na linha da Teoria do Contagio, destaca-se o trabalho do Médico Inglês Snow,
1850, considerado um marco na Epidemiologia, que através da distribuição espacial da
Cólera em Londres, determinou a sua via de transmissão.
No final do Séc. XIX surge em conseqüência do desenvolvimento da
Microbiologia, a concepção da Etiologia infecciosa das doenças, privilegiando o Agente
e considerando como secundário o papel de outros fatores, inclusive a natureza.
Contrapondo-se à hegemonia desta Teoria, destaca-se o trabalho de Pettenkofer,
que sem negar a influência do Agente Biológico, este Higienista alemão, considerava a
importante influência dos elementos da Geografia Física como o solo, a água na
ocorrência e distribuição do Cólera em Londres.
Os estudos enfatizando o Impacto do Ambiente em especial o Clima sobre as
condições da Saúde do Homem voltam a ser valorizado e produzido mais intensamente
no início do Séc. XX, com a constatação de que somente a presença do Agente não era
suficiente para a produção de enfermidades e no aparecimento de determinadas
nosologias nas quais não são possíveis identificações de um Agente Etiológicas.
O resultados destes estudos são reforçados através das Teorias do Foco Natural,
em 1939, pelo Soviético Pavlovsky, parasitologistas, que durante três décadas orientaria
diretamente ou indiretamente as investigações e os planejamentos públicos em Saúde no
mundo e principalmente no Brasil.
Em 1943, na França, Maximilien Sorre, Geógrafo, publicou sua obra prima,
“Lês Fondamentos de Geographie Humaine”, dividido em três tomos, “El Clima y el
Hombre”, “Ambiente Vivo y Alimentacion Humana”, e o “El Ambiente Humano em
Lucha contra el Ambiente Vivo”.
Neste trabalho Sorre tem uma grande e importante preocupação teórica: fornecer
uma base conceitual á geografia médica que permitisse a investigação de natureza
interdisciplinar.
É dentro desta linha de trabalho que Sorre desenvolve a Teoria dos “Complejos
Patogenos”. Neste momento surge de forma metodológica, científica e conceitual a
relação entre a Geografia e a Saúde, por ser considerada a primeira análise das questões
ambientais e sua influência Humana.
A importância da Geografia Médica se concretiza ao constituir-se em Lisboa, a
Comissão de Geografia Médica da UGI em 1949 e em seu informe apresentado em
1952, porém 40 anos depois no Congresso da UGI em Washington, se modifica o nome
da Comissão para Ambiente, Saúde e Desenvolvimento.
O termo Geografia Médica é ainda muito questionado, de que seu sentido
seja inadequado. Picheral defende a expressão Geografia da Saúde, Jusatz,
defende o termo Geomedicina, encontra-se ainda referências á
Epidemiologia Espacial, Medicina Ambiental, e outros estudos produzidos
em áreas afins.
No Brasil a contribuição do Prof° Afrânio Peixoto, médico, em meados do Séc.
XIX foi de grande relevância, a partir da criação de paradigmas da Salubridade,
Adaptação, Higiene e Saúde Pública.
Ardoroso defensor do Mundo Tropical contra os preconceitos detratores deste
ambiente, que apregoavam a “natural inferioridade dos povos da faixa Tropical.
(SANT’ANNA, 2004). Em 1907 Peixoto, publicou seu primeiro estudo sobre a relação
Clima e a doença no Brasil, para ele era fundamental derrubar e desmascarar as teses
deterministas e se construísse uma nova analise da terra e do Homem dos Trópicos, a
partir dos Trópicos, sobretudo por que naquela época, civilizar era europeizar.
Em 1938, em seu trabalho “Clima e Saúde”, realizou uma excelente análise das
condições climáticas associadas às enfermidades e a Saúde Pública, demonstrando que
mais que a influência do Clima, são as condições de higiene e salubridade, portanto, os
aspectos sócio-econômicos que passam a definir as novas áreas endêmicas.
Peixoto também criou novos conceitos, como, por exemplo, a Meteoropatologia,
relacionando os tipos de Clima com os casos de morbidez, epidemias e endemias.
Adalberto Serra, meteorologista do IBGE, publicou em 1929, Ainda como
professor da Universidade Politécnica do Rio de Janeiro, um de seus primeiros trabalhos
de natureza Bioclimatica na interface entre o clima e a Psicologia – o suicídio no Rio de
Janeiro. Publica também na revista Brasileira de Medicina, em 1963, um estudo de
interpretação dos dados climatológico do Brasil relacionando com enfermidades,
desenvolvendo um grande estudo das influências dos fatores climáticos sobre o
metabolismo humano, responsável por inúmeras doenças, aferição de índices de
civilização e fenômenos migratórios.
Outra grande contribuição para o entendimento da saúde da população brasileira
é manifestada através do livro Geografia da Fome, produzido em 1964 por Josué de
Castro, Médico Geógrafo, que elaborou cientificamente uma singular análise geográfica
da saúde alimentar, com utilização da cartografia, o que seria hoje conhecida como
Cartografia Temática, Castro fez um mapeamento de todo o espaço geográfico
brasileiro se preocupando mais com uso político e econômico do território do que com
sua simples descrição paisagística, produzindo assim as principais respostas para
desvendar as verdadeiras causas da fome e da subnutrição que passava o povo brasileiro
de norte a sul.
Diante a desorganização mundial da vida humana e a proliferação de processos
tantos antigos quantos atuais de destruição da saúde, surge então uma nova perspectiva
de estudos, uma perspectiva menos descritiva e mais relacional e investigativa, visto
que, as estratégias do uso seletivo e hegemônico do território passam a ser importante
para determinação dos focos de doenças e da produção de saúde, podemos encontrar um
novo ciclo de estudos relacionado à Geografia da Saúde a partir do século XX,
principalmente a partir de 1972, quando da realização do encontro de.
Estocolmo, na Suécia, de cientistas e representantes de Estados, para discutir o
problema ambiental no mundo, principalmente o relacionado ao Clima.
No Brasil, o rápido processo de urbanização com pouca proteção e
responsabilidade sócio-ambiental e planejamento alcançado a partir dos anos de 1970,
gerou conseqüências ambientais negativas e profundas nas cidades, tornando o estudo
do meio ambiente urbano um desafio constante para os cientistas de todas as áreas do
conhecimento, principalmente pelo reflexo no dia a dia da saúde dos seus habitantes.
Neste novo período, período de ressurgimento da Geografia da Saúde destaca-se
Carlos Lacaz, médico, em1972, através do livro “A Introdução à Geografia Médica”,
teve uma grande contribuição para o desenvolvimento da Geografia Médica no Brasil,
através de um estudo utilizando as fronteiras do conhecimento biológico-geográfico,
tornando-se assim uma referência para quem pretende desenvolver pesquisa nesta área
do conhecimento.
Francisco Mendonça, geógrafo, que tem contribuído muito para um maior
desenvolvimento e reconhecimento dos geógrafos brasileiros na produção de trabalhos
científicos na linha da Geografia da Saúde.
Em destaque três trabalhos de Mendonça, o primeiro, ‘Aspectos da interação
clima ambiente-saúde Humana: da relação Sociedade-Natureza à (in) sustentabilidade
ambiental. Neste trabalho é abordado com muita relevância o impacto do clima sobre a
sociedade repercutindo na condição de saúde humana e chamando ao debate os
geógrafos para a importância deste campo de estudo e pesquisa, visto que ha uma
grande lacuna existente dentro da Geografia.( MENDONÇA, 2000)
“Aquecimento global e saúde: uma perspectiva geográfica” é um trabalho que
tem o problema das mudanças climáticas globais, ainda que discutível a maior
preocupação de Mendonça, principalmente na proliferação e reintrodução de doenças
infecciosas e transmissíveis pelo mundo.( MENDONÇA, 2003)
E o mais recente trabalho apresentado no VI Simpósio Brasileiro de
Climatologia Geográfica – SBCG, em que aborda a evolução da Dengue na Região Sul
do Brasil numa perspectiva de mudança climática global.
No VI SBCG, ocorrido em Aracaju, 2004, uma série de trabalhos foi
apresentada, dando ênfase aos estudos da Geografia da Saúde, contribuindo para
reafirmar que existe interesse do Geógrafo nesta linha de estudo, principalmente a
influência climática sobre a proliferação da Dengue no Brasil, doença de maior
repercussão nos últimos anos no cenário urbano do país.
O trabalho elaborado Sparandio e Pitton, Unesp, foi baseado na utilização dos
índices de pluviosidade e a incidência da Dengue, representando uma contribuição
importante para o melhor uso das políticas públicas de Saúde e do planejamento
ambiental urbano. Segundo Sperandio, a Geografia como uma ciência social é
privilegiada para analisar as condições ambientais e de saúde, pois sua abordagem
espacial facilita a compreensão dos fatores físicos e humanos (SPERANDIO, 2004).
O trabalho elaborado por Araújo, UFMA, fez uma relação entre o clima urbano e
a saúde da população da Cidade de São Luis no Maranhão, dando ênfase na
espacialização da área de atuação do mosquito da Dengue, o Aedes Aegypti (ARAUJO,
2004).
Damasceno, utilizando-se do termo Climatologia Médica, preocupou-se com a
proliferação da Dengue usando os elementos climáticos, Temperatura, Pluviosidade e
Umidade como instrumento de análise, na cidade de Presidente Prudente em São
Paulo.(DAMASCENO, 2004).
Com relação à Cidade do Salvador, a maioria dos trabalhos temáticos, foram
desenvolvidos no nível de dissertação e artigos científicos publicados em
periódicos tanto no ambiente da geografia como da ciência da saúde, além
de trabalhos desenvolvidos no nível de Pós-Graduação oriundos de outras
instituições de Ensino Superior, no âmbito da Universidade Federal da
Bahia, UFBA e órgãos de pesquisa de cunho federal, a exemplo da
Fundação Osvaldo Cruz - FIOCRUZ, de cunho Estadual, Divisão de
Epidemiologia do Estado - DIVEP e de cunho Municipal o Centro de
Controlo de Zoonoses, CCZ.
No Instituto de Saúde Coletiva – UFBA/ISC, tem sido elaborados uma série
de trabalhos utilizando o Espaço Geográfico como campo de estudo, o
Espaço Geográfico tem sido apresentado para Epidemiologia como uma
perspectiva singular para melhor apreender os processos interativos que
permeiam a ocorrência da saúde e da doença nas coletividades (TEIXEIRA,
1999).
De acordo com SILVA (1997), pelo fato de a geografia marxista e de a
epidemiologia terem como objeto o centro de uma rede de relações ampla e
complexa que não se coaduna a uma visão metodológica estreita, tornou-se
bastante interessante para esta última o modo como aquela corrente da
Geografia trabalhou a categoria do Espaço, valendo-se da analise do
processo de sua organização como esteio das referidas relações, dando
coerência a um aparente caos.
O Espaço Geográfico tem sido apresentado para a Epidemiologia como uma
perspectiva singular para melhor apreender os processos interativos que
permeiam a ocorrência da saúde e da doença nas coletividades (TEIXEIRA,
1999). A doença passa a ser vista não pelo seu aspecto etiológico ou
humano, mas pelo seu aspecto nosológico também.
Outro trabalho a ser lembrado e de grande importância para o estudo da
geografia da saúde é de Silva Melo, 2003, tese de mestrado no ISC/UFBA que aborda a
progressão espaço-temporal da Dengue no Estado da Bahia entre 1994-2000, utilizando
a malha viária do Estado como fonte para sua análise.
Em Meio Ambiente Urbano e Saúde no Município de Salvador, 1996, Alves de
Carvalho descreve a situação da Cidade de Salvador através de um viés ecológico
aliados aos problemas estruturais de planejamento urbano como parte importante para
discussão dos problemas de saúde e doenças na Cidade.
Vale salientar uma preocupação de Teixeira, quanto ao uso dos conceitos da Geografia
por parte da Epidemiologia, segundo a pesquisadora:
A epidemiologia, assim como a clínica, utilizava os conceitos da geografia sem, contudo estabelecer-se um diálogo entre estes campos do conhecimento, existindo apenas esforços isolados não hegemônicos neste sentido (TEIXEIRA, 1999).
5. O UNIVERSO DE ANÁLISE
O Espaço de Análise proposto para este trabalho é a cidade de Salvador, que
possui uma posição geográfica privilegiada no contexto regional baiano, caracterizada
pelas excelentes condições de tropicalidade que se conjuga a uma marcante presença do
mar e da Baia de Todos os Santos em seu entorno, criando uma paisagem singular de
bem estar profunda não só pela beleza cênica, mas pela agradável brisa oceânica que
passeia pela cidade amenizando o calor tropical.
Salvador, primeira cidade e capital do Brasil colonial, núcleo urbano fundamental do comercio português ao longo de três séculos de colonização, se constituindo no principal porto de todo o Atlântico Sul, chega ao século XXI como uma das mais populosas cidades do Brasil, sede de uma das nove mais antigas regiões metropolitanas do país, com sua área municipal praticamente tomada pelo espaço urbano e exercendo o papel de metrópole regional com hinterlândia (espaço de influência) que supera o limite estadual (ANDRADE, 2006).
Salvador, capital do Estado da Bahia, localizada na Região Nordeste do Brasil,
entre as coordenadas geográficas, latitude 12°47’42”e 13°00’45”S e longitude
38°21’11” e 38°30’36”O, com uma população estimada de 2.631.831 milhões de
habitantes, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístico - IBGE,
2004, com uma área de aproximadamente 324,5 km e com uma densidade demográfica
em torno de 7.521,08 hab/km, tornando-se a terceira maior cidade do país em
população, constituindo-se em uma Metrópole Regional, com cerca de 3.335.221
habitantes, distribuída por nove cidades que a compõem, Camaçari, Lauro de Freitas,
Dias D’Ávila, Simões Filho, Candeias, Madre de Deus, São Francisco do Conde,
Itaparica e Vera Cruz.
O Sítio da Cidade do Salvador foi inicialmente instalado sobre um reverso de um
resto de planalto altamente dissecado, falha de Salvador, a uma altitude média de
aproximadamente 70 metros, também conhecida como “Horst”, onde hoje está
assentada o Centro Histórico, formado por rochas antigas, integrantes do cristalino
brasileiro, resultante de um movimento tectônico ocorrido no período
Mesozóico/Cenozóico, e estrategicamente localizado no interior da Baía de Todos os
Santos, em sua porção oriental, para ser a capital da colônia portuguesa no Brasil, com
um acesso limitado aos barcos estranhos que navegasse pelo oceano Atlântico a Leste
da Cidade. Percebe-se então, que o sítio da cidade foi muito mais uma escolha de
segurança, uma Fortaleza do que propriamente uma Cidade ( Figura 1 ).
Figura 1 – Imagem de satélite de Salvador – 2006
Fonte: Google Earth, 2006.
Posteriormente a cidade foi se organizando para sua parte do “graben”, cidade
baixa, localizada na planície da costa oriental da Baía de Todos os Santos, onde hoje
estão os Distritos Sanitários do Subúrbio Ferroviário e Itapagipe, formados por uma
estrutura residencial preferencialmente horizontal, com construções de casas em sua
maioria moradias precárias, e sem uma boa infra-estrutura urbana-sanitária e um do pior
nível de renda da cidade.
Posteriormente a cidade continuou a crescer, desta vez no sentido do litoral
oriental da cidade, margeando o mar, formado pelo oceano atlântico, constituindo os
Distritos Sanitários da Barra, Pituba e Itapuã e Boca do Rio sendo o Distrito da
Barra/Rio Vermelho/Pituba com um predomínio de uma estrutura habitacional vertical,
com prédios de classes média e média alta e boa infra-estruturas urbanas e um alto nível
de renda distribuída pelos habitantes.
A região de Itapuã e Boca do Rio ocorre um predomínio de casas, estruturas
horizontais e uma situação socioeconômica menos privilegiada, mas de rara beleza
natural, belas praias e dunas remanescente.
No centro geográfico da cidade, também conhecido como “Miolo” da cidade,
formado pelos Distritos Sanitários do Cabula e Cajazeiras, Cabula, Pau da Lima, área de
ocupação mais recente com uma estrutura mais heterogênea, com predomínio de
moradias modestas e conjuntos habitacionais de classes média baixa e baixa.
Segundo Ab’Saber,
Salvador é um porto profundo e acessível, um sítio elevado e resguardado, varrido por suaves brisas, a cavaleiro de uma das mais extensas muradas rochosas que o litoral brasileiro apresenta, valeram como uma combinação de elementos ideais para que os que decidiram fundar ali a primeira cidade do Brasil, e para os que hoje decidem visitá-las. (GONÇALVES, 1992 apud AB’SÁBER, 1960).
5.1. A COMPARTIMENTAÇÃO GEOECOLÓGICA DA CIDADE DE
SALVADOR
Para efeito de análise do trabalho a Cidade de Salvador foi dividida
através de um zoneamento espacial, em quatros setores espaciais, levando
em consideração sua estrutura geoecológica estabelecida em função de seus
aspectos geológicos, geomorfológico, e de ocupação do solo (Mapa 2, pg.
20).
O Setor I, Orla Atlântica, localizada no setor leste da cidade, formada pela
planície aluvial de influência Fluvio-Marinho holocênica, com reminiscência de antigas
falésias e dunas, encontra-se o setor, em que a seletividade dos instrumentos urbanos e
as condições sócio-econômicas são mais iluminadas, formados pelos “bairros” que
inicia na Barra, passando pela Amaralina, Pituba, Itapuã até Praia do Flamengo.
O Setor II, da Baía de Todos os Santos, BTS, lado Oeste da Cidade, que
abrange os ‘bairros’ da Calçada passando pela Península Itapagipana até o
Subúrbio Ferroviário, ocupando uma faixa estreita da planície e resto de
colinas costeiras margeando a parte oriental da Baía de Todos os Santos, na
zona do Graben da Cidade, mais conhecida popularmente como a Cidade
Baixa e Subúrbio Ferroviário. Setor em que as situações sócio-econômicas e
as condições de moradias e infraestruturas urbanas são a mais escassa ou
“opacas”.
O Setor III, o Miolo da Cidade, assim conhecida desde os estudos do primeiro
Plano de Desenvolvimento Urbano, PLANDURB, da década de 1970, possuindo cerca
de 115 km, uma área formada por um baixo planalto dissecado, colinoso com topos
arredondados e encostas convexas, vales largos e meândricos neste caso com encostas
suaves, encravado no interior da cidade através de uma feição triangular antropizada,
separado pela BR 324, sentido Salvador-Feira de Santana e a Avenida Luiz Viana Filho,
mais conhecida por Paralela, em direção ao litoral norte da cidade.Abrange os “bairros”
Cabula e Pernambués no setor sul até Sussuarana e Pau da Lima no setor norte, setor de
ocupação mais recente da Cidade.
Mapa 2 – Salvador – Setores geoecológicos – 2006
Base cartográfica: CONDER. Município de Salvador – Uso do solo. Escala 1:25.000. Salvador, 1983. Elaboração: Eduardo Barreto; Araori Coelho.
O Setor IV, do Centro Histórico, ocupando uma situação mais elevada, próxima
dos 70 m de altitude, um remanescente planalto bastante dissecado e de espigões,
chamados de “Horst”, e vales abertos com fundos chatos ou amplamente colmatados.
Setor de ocupação Histórica e original do núcleo urbano da cidade, que abrange os
“bairros” do Pelourinho, Brotas, Liberdade, este último localizado no que chamamos de
Plano de Falha, para diferenciar das condições de ocupação.
5.2. ASPECTOS CLIMÁTICOS
Em uma situação privilegiada em relação ao território brasileiro, a Região
Nordeste, situada entre 4° e 16° de latitude sul e 33° e 46° de longitude
oeste, entre a Amazônia e o oceano atlântico, a oeste e leste
respectivamente, e a Região Sudeste ao sul do Brasil, com altitudes médias
em torno de 800m, assume uma relevante importância em relação ao
mecanismo de circulação atmosférica regional, responsável por uma
singularidade em seus aspectos climáticos.
Como característica de uma região tropical, possui pouca variação térmica anual,
oscilando em torno de 26°C a 28°C, á exceção do litoral oriental cujas variações
alcançam 24°C a 26°C e das áreas situadas acima de 200m de altitude que apresentam
médias inferiores a 26°C, alcançando até mesmos valores abaixo 20°C, em certas áreas
da Chapada Diamantina, em sua porção centro ocidental.
Quanto a sua média pluviométrica, a região oscila entre 400 e 700mm ao ano na
maior parte de seu território, área formada pelo clima tropical semi-árido, característica
de uma vegetação da caatinga. Entretanto no litoral sua média anual oscila entre 1600 a
2000mm, caracterizado por uma vegetação remanescente da mata atlântica e
manguezais.E oscilando entre 1000 e 15000mm na Região da Chapada Diamantina.
Estes diferentes quadros de temperatura e precipitação da região nordestina estão
associados à atuação de mecanismos atmosférico também distintos nas suas
características e direções, como a Zona de Convergência Intertropical, ZCIT, Sistemas
Frontais e outros mecanismos de escalas menores, meso-escalas, como as correntes
perturbadoras e as brisas.
A ZCIT, que faz parte da circulação geral da atmosfera, é definida por uma faixa
de baixa pressão e convergência do escoamento nos baixos níveis da atmosfera de
ventos alísios e contra-alisios, próximos a superfície, propiciando condições favoráveis
para o movimento de ar ascendente gerando, em conseqüência as precipitações
regulares, na região intertropical, esse mecanismo atua no território nordestino mais
intensamente no período de Março/Abril, provocando chuvas na parte norte e central da
região, através de um deslocamento sazonal para o norte e para o sul. Em período de
seca, a ZCIT, não cruza, normalmente, a linha do Equador, não atingindo a microrregião
do semi-árido.A ZCIT tem uma estreita relação com o aquecimento das águas do
oceano atlântico tropical, quanto mais aquecida estiver a água no atlântico sul tropical e
mais fria no atlântico norte tropical, haverá mais chuvas no nordeste.
Outro importante mecanismo de produção de chuvas no nordeste é os sistemas
frontais, particularmente, na faixa litorânea oriental da região. Originadas das altas e
médias latitudes, áreas de altas e médias pressões do Hemisfério Sul, formada pelo
contato do anticiclone migratório polar e subtropical. Este mecanismo atua no litoral
durante todo ano, até a latitude 13°S, quando muito alcançando o litoral do Estado de
Sergipe, mais fortemente no período de Outono/Inverno, associado a chuvas contínuas,
intensas e uma leve queda de temperatura.
Além destes mecanismos de grande escala, É também importante para a
complexa estrutura de pequena escala da precipitação no nordeste, a
circulação de meso-escala e escala localizada, induzidas pela topografia e
por convecção úmida resultante do aquecimento da superfície pela radiação
solar e disponibilidade de umidade próxima à superfície, mas capazes de
interferir nas mudanças ou oscilações do comportamento atmosférico da
região.
Associado aos padrões de circulação anteriores descritas, as Correntes
Perturbadoras de Leste, “ondas de leste”, que são vórtices ciclônicos dos altos níveis
que se formam no atlântico sul, com maior freqüência nos meses de verão, quando o
escoamento da alta troposfera sobre a América do Sul é anticiclônico.
O Estado da Bahia, que situado ao sul da região nordeste, caracteriza-se como uma grande área periférica e de transição pra a região sudeste do país. Esta posição geográfica confere-lhe a particularidade de ser uma área da passagem dos referidos sistemas meteorológicos diferenciados e de direções opostas que à semelhança do desempenho na região, contribuem para a complexidade climática do seu território (GONÇALVES, 1992).
A Cidade de Salvador situada na zona litorânea do Estado da Bahia, a altura
do paralelo de 13°S entre a baia de Todos os Santos a oeste e o Oceano
Atlântico à leste, o que lhe confere uma singularidade de paisagem. Com
um relevo com altitudes modestas em torno de 50 metros, uma relativa área
de verticalização na orla da cidade, que não impede a livre circulação das
brisas e dos ventos de leste, faz parte deste contexto dos mecanismos de
circulação atmosférica que atuam no litoral da região nordestina do Brasil
acima citado.
Na faixa litorânea, ha regularidade das precipitações o ano todo, com
máxima de chuvas no Outono/Inverno, ligado à maior intensidade de
atuação das correntes de sul e leste.
Essa intensidade de chuvas é assegurada pela atuação de dois sistemas de
circulação meteorológicos. A propagação da Frente Polar Atlântica sul e
pelas Correntes Perturbadoras de leste.
A Frente Polar Atlântica gera no período de maior intensidade de sua ação,
durante o outono/inverno, uma maior concentração de chuvas frontais,
oriundas do encontro da massa tropical atlântica com a massa polar, com
precipitações intensas e continuas, com leve queda da temperatura durante
alguns dias, e é também responsável pelos principais impactos negativos
pluviais e de desorganização do espaço urbano de Salvador, acarretando
prejuízos não só materiais, mas, sobretudo, humanos, com mortes causadas
diretamente por deslizamentos e indiretamente através das enchentes, e
acúmulos de águas, que produzem focos de proliferação de doenças infecto-
contagiosas, como a leptospirose, dengue, leshimaniose, gripes e outras.
As correntes perturbadoras de leste produzem instabilidade e mau tempo
especialmente no verão com as chuvas intensas e rápidas, os aguaceiros, que
caem durante o dia intermitentemente.
Em função da atuação destes dois sistemas de circulação, praticamente, durante
o ano todo, os índices de pluviosidade em Salvador são altos, oscilando entre 1800 e
2000 mm. ao ano, com uma média mensal em torno de 150 a 170 mm., aumentando
essa média mensal nos messes de outono/inverno, quando da passagem da Frente Polar,
para cerca de 200 a 300 mm., sem nenhum período de estiagem, sendo os meses de
menor pluviosidade, setembro a março, em torno de 90 a 100 mm.
A influência de todos esses fatores meteorológicos e atmosféricos, relacionados
aos sistemas de alta e baixa escala, é que determina a ocorrência de intensa
nebulosidade, o ano todo, favorecendo percentuais médios bastante elevados de
umidade relativa e contribuindo para a redução dos índices de evaporação, os quais são
sempre inferiores àquelas da precipitação.
É importante frisar a relevância do mecanismo de brisa marítima e terrestre na
produção de chuvas na cidade, acredita-se que esse mecanismo seja responsável por
uma grande quantidade de precipitação no litoral, além do frescor natural que transmite
a cidade um bem estar para seus habitantes e turistas.
Salvador, segundo Koppen, apresenta um clima tropical super úmido, Af, sem
estação seca, com temperaturas médias entre 25°C a 26°C, alcançando no período do
inverno, Julho/Agosto a temperatura de 22°C. A Amplitude térmica da cidade é baixa,
cerca de 3 a 5°C, favorecida pelo efeito de maritimidade, não havendo grandes
oscilações de temperatura durante o ano.
6. METODOLOGIA
Este trabalho de cunho monográfico, para conclusão do Bacharelado em
Geografia pela Universidade Federal da Bahia, UFBA, trata-se de uma avaliação da
ocorrência da Dengue baseado em um estudo de caso realizado na cidade de Salvador,
Bahia, através dos dados de registros oficiais pluviométricos, diários e mensais, dos
anos de 2000 a 2003, fornecidos pela Defesa Civil de Salvador, CODESAL, órgão
vinculado a Secretária de Habitação de Salvador, SEHAB.
Também foi utilizado para efeito de estudo e avaliação da ocorrência da dengue
em Salvador, os dados fornecidos pela Secretaria Municipal de Saúde de Salvador,
dados da freqüência de casos notificados da doença por Distritos Sanitários, DS’s, do
período de 2000 a 2003.
Quanto à espacialização destes dados em forma de mapa, foi realizada uma
divisão proposta pelo próprio autor desta obra, uma divisão por setores geoecológicos,
divididos em quatro setores: setor Centro Histórico, Setor Orla Atlântica, Setor Orla
Oriental da Bahia de Todos os Santos e o setor Miolo da Cidade, ou coração geográfico
da Cidade. Sua base cartográfica foi o mapa de uso de solo do município de Salvador,
na escala 1:25.000, elaborado pela CONDER – Companhia de Desenvolvimento da
Região Metropolitana de Salvador, em 1983.
Com os dados obtidos foram realizadas umas séries de gráfico, quadros e
figuras, para poder tentar avaliar qual o período de maior e menor incidência
das doenças notificadas e em quais Distritos Sanitários a ocorrência de
notificação da dengue foi mais ou menos intensa, também foram produzidos
gráficos dos índices de pluviosidade e ocorrência de dengue por mês, que
foram de suma importância para o trabalho, pois foi dados a oportunidade
de (co) relacionar a dengue com os índices de pluviosidade em Salvador por
estações do ano e tentar perceber o quanto é preocupante a infestação da
doença no espaço soteropolitano.
Com estes mesmos dados foram realizadas umas séries de tabelas que mostram a
relação entre a dengue e a sua incidência por meses e casos de dengue e os índices de
pluviosidade diárias e mensais.
E foram também confeccionados os mapas que tenta identificar o movimento da
Dengue pelo espaço soteropolitano durante os anos de 2000 á 2003.
Foi feito um levantamento bibliográfico intenso, uma busca sistemática, partindo
de teses e monografias e artigos publicados por geógrafos e pesquisadores de outras
linhas de estudos.
7. A DENGUE E SUA EVOLUÇÃO NO ESPAÇO BRASILEIRO
A Dengue é uma arbovirose transmitida pelo vetor aedes aegypti, uma
enfermidade predominantemente urbana.Existem dois tipos de doença, a Dengue
Clássica, não letal e a Dengue Hemorrágica. A dengue é uma virose febril aguda, de
inicio súbita com gravidades variável. As infecções variam de forma assintomática até
uma doença grave, que evolui para dengue hemorrágica: A Febre Hemorrágica da
Dengue –FHD e a Síndrome do Choque da Dengue – SCD, que pode levar ao óbito.
O Vírus da Dengue é um Arbovirus, vírus transmitido por artrópodes, um
mosquito do gênero Flavirus pertencente à família Flaviriridae.São conhecidos quatro
sorotipos, DEN 1, DEN 2, DEN 3 e DEN 4
A transmissão da doença feita pelo mosquito Aedes Aegypti, mosquito escuro, rajado
de branco, de vida diurna, através da picada da fêmea do mosquito infectado, no ciclo
Homem- Aedes Aegypti- Homem.
Não há transmissão da doença por contato direto de um doente ou de suas
secreções com uma outra pessoa sadia, nem mesmo através de fonte de água ou de
alimentos.
Os principais sintomas da doença surgem de 3 a 15 dias após a picada do
mosquito.Como foi explicada anteriormente, a dengue pode variar de uma
forma leve a uma forma hemorrágica, em sua forma leve, conhecida como
dengue clássica seus sintomas principais são: febre alta, fraqueza, dores
musculares e nas articulações, falta de apetite, dores de cabeça e nos olhos,
diarréias, náuseas e vômitos. Em algumas pessoas podem até apresentar
manchas vermelhas no corpo, descamação e coceiras intensas.
Na forma de dengue hemorrágica, os sintomas iniciais são os mesmos da dengue
clássica, porém mais intensas e graves, a pressão arterial cai, e as manifestações
hemorrágicas são mais precoces, podendo levar ao óbito.
A multiplicação dos mosquitos ocorre quando a fêmea deposita seus ovos em
recipientes sombreados e que contenha água, de preferência limpa. Os ovos podem
sobreviver até um ano, em ambientes secos, havendo contato com água nesse período
evoluem prontamente.
A prevenção deve ser feita principalmente através da eliminação e ou proteção
dos criadouros potenciais (recipientes e depósitos de água). Dentro desta linha de
prevenção é importante não esquecer que a educação e conscientização e a informação.
Os principais cuidados que o poder público e a população deve ter são:
· Limpeza de córregos, terrenos baldios, lixões e outros lugares depositário de
águas.
· Intensificar o recolhimento diário de lixos em toda cidade, principalmente
em áreas periféricas da cidade.
· Nos domicílios é importante haver uma atenção quanto aos vasilhames,
vasos, garrafas que devem ser furados ou guardados em locais que não
permitam acumular água.
· Os pneus, principalmente nas borracharias, devem ser furados ou guardados
em locais cobertos.
· Vasos de plantas deve ter atenção ao acumulo de água.
· Bebedouros de animais devem ser limpos pelo menos uma vez por semana.
· As calhas e piscinas devem ser limpas e cloradas
Em nosso país, as condições socioambientais favoráveis à expansão do Aedes
aegypti possibilitaram a dispersão do vetor desde sua reintrodução em 1976 e o avanço
da doença. Essa reintrodução não conseguiu ser controlada com os métodos
tradicionalmente empregados no combate às doenças transmitidas por vetores em nosso
país e no continente. Programas essencialmente centrados no combate químico, com
baixíssima ou mesmo nenhuma participação da comunidade, sem integração
intersetorial e com pequena utilização do instrumental epidemiológico mostraram-se
incapazes de conter um vetor com altíssima capacidade de adaptação ao novo ambiente
criado pela urbanização acelerada e pelos novos maus hábitos de consumo e dispersão
no meio ambiente dos materiais descartáveis, que são os principais focos da doença.
Enfim, a responsabilidade pela prevenção e diminuição da doença deve ser de
todos, tanto do poder público, já que a dengue é um problema de saúde pública, pelos
seus altos números de ocorrência e pela sociedade como um todo.
Se o Poder Público desencadeia ações emergenciais no sentido de conter a
escalada do mosquito, de forma convincente ou não, a população também tem que agir,
para não sofrer mais com essa doença.
O tratamento de uma doença como a dengue, por ser de etiologia viral, é através
do uso de analgésico, antipirético, ingestão de água o suficiente para evitar desidratação
e muito repouso, visto que não há um tratamento específico. A atenção, porém deve ser
feito quanto ao uso de Aspirina, esse medicamento não deve ser usado, pois tende a
produzir irritação do estomago e também interferir com a função das plaquetas e
potencialmente agravar o problema hemorrágico.
Considera-se que as primeiras epidemias da Dengue, registradas na literatura
médica, tenham ocorrido na Ilha de Java, Jakarta e no Egito ambas em 1779 e em
Filadélfia, EUA, no ano seguinte. Ao longo dos três últimos séculos, tem-se registrado a
ocorrência de Dengue em várias partes do planeta, pandemias e epidemias isoladas,
atingindo as Américas, África, Ásia, Europa e a Austrália, restando apenas o continente
da Antártida incólume.
Por um longo tempo acreditava-se que esta doença era benigma, não letal, mas a
partir da 2ª Grande Guerra Mundial ocorreram surtos de uma febre hemorrágica severa,
que posteriormente foi identificada como Dengue. O primeiro deste evento foi descrito
nas Filipinas, em 1953.
Um dos maiores problemas enfrentados para identificar a doença é o fato de
produzir sinais e sintomas típicos de outras doenças, os quais incluem a febre, cefaléias
(dores de cabeça), mialgias e exantemias
Nas Américas, mais especificamente, o vírus da Dengue circula desde o século
XIX e início do século XX. Em seguida houve um silêncio epidemiológico, e considera-
se que a sua reintrodução teria ocorrido nos anos de 1960 associando-se à ocorrência de
epidemias de Dengue Clássica. Em 1963, registraram-se os primeiros casos na Jamaica,
os quais proliferaram para Martinica, em Curaçau, na Antigua, em Saint Kitts, em Porto
Rico; logo após a doença atingiu o Norte da América do Sul, Venezuela e Colômbia e
casos importados nos EUA. N a década de 1980, se destaca pelo aumento da circulação
do vírus causadores da doença, no continente americano. Os paises que mais
notificaram casos foram: Brasil, Colômbia, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua,
Paraguai Porto Rico e Venezuela.
Dentre os acontecimentos epidemiológicos mais importantes na historia da
Dengue nas Américas foi á epidemia de Dengue Hemorrágica ocorrida em Cuba, em
1981. Foram notificados 344.203 casos, com 116.143 hospitalizações, 158 óbitos, dos
quais 101 eram crianças.
Nos anos de 1990, o quadro epidemiológico das Américas se agravou. Os
quatros sorotipos (den-1, den-2, den-3, den-4) do vírus passaram a circular amplamente,
e epidemias de Dengue Clássica têm sido freqüentemente observadas em vários centros
urbanos, muitas delas associando a ocorrência de Dengue Hemorrágica.
No Brasil o primeiro caso suspeito foi em 1916, na cidade de São Paulo e em
1923 em Niterói, no Estado do Rio de Janeiro.Mas verdadeiramente confirmado
clinicamente e laboratorialmente, o Brasil conviveu como primeiro caso de epidemia em
1981, em Boa Vista em Roraima estima-se a ocorrência de 12 mil casos
A partir de então ocorre um breve silêncio epidemiológico no Brasil,
reaparecendo cinco anos depois, na cidade de Nova Iguaçu, no Estado do Rio de
Janeiro, disseminando por todo o Estado, foram notificados cerca de 9.390 casos entre
Abril de 1986 e Julho de 1987, em 1990 já era endêmica.
Nos anos 90 do século XX, um período de uma nova fase técnica, das novas
tecnologias da informação e transportes, a Globalização, para Santos (2000)
o ápice do processo de internacionalização do mundo capitalista. Mas neste
momento surge uma outra globalização, a da doença, a mobilidade
migratória cada vez mais intensa também faz disseminar com a mesma
velocidade da informação as doenças.
“De fato para a maior parte da humanidade a globalização está se impondo como uma fábrica de perversidade. Novas enfermidades como a SIDA se instalam e velhas doenças, supostamente extirpadas, fazem seu retorno triunfal” (SANTOS , 2000).
Em 1996, a doença já se estendia para 18 Estados do Brasil, em
aproximadamente 638 municípios. A partir de então a dengue passa a ser uma realidade
no país e sua disseminação por quase todo país é transformado em caso de saúde
pública.
No Estado da Bahia o primeiro caso de Epidemia de Dengue foi registrada na
Cidade de Ipupiara, localizado no Sudoeste do Estado, com 623 casos notificados pela
Secretária da Saúde do Estado.
Na cidade do Salvador apresentou os primeiros casos de Dengue no verão de
1995, em um processo epidêmico explosivo, com grande número de pessoas acometidas
em toda a área urbana da Cidade. Os primeiros casos foram registrados em Janeiro,
alcançando em Abril, a soma de 5.735 casos notificados, no boletim final do ano de
1995 foram notificados cerca de 15.458 casos, correspondendo a uma incidência de
691,37 casos por 100.000 habitantes. Cabe neste momento ressaltar que estes dados são
exclusivamente casos das pessoas que procuraram os postos médicos públicos,
representando então apenas uma parte da população residente na cidade, visto que as
pessoas acometidas pelas doenças que foram atendidas pelo serviço de saúde privada,
estes dados geralmente, não são notificados, mesmo sendo a dengue um caso de doença
de notificação compulsória, previsto pelo Ministério da Saúde, além das pessoas que se
curam em casa, muitas vezes sem saber que tiveram dengue, pelo fato de haver sintomas
parecidos com outras doenças comuns, e imaginarem que tiveram apenas uma “virose”.
Neste primeiro período de infestação da doença, pode-se observar pelos
trabalhos realizados por Teixeira, que foram os Distritos Residenciais da Liberdade,
com uma população de 178.424 habitantes, com uma incidência de 1.657.8 casos por
100.000 habitantes e o Distrito Residencial do Cabula/Beiru com 882,8 casos por
100.000 habitantes os de maiores infestação.
Em 1996, ocorre uma nova onda epidêmica na Cidade do Salvador, que em
janeiro atinge 1.158 casos, e já nos quatros primeiros meses do ano totalizava 7.095
casos notificados, terminando o ano epidemiológico com um registro de 10.988, com
uma incidência por 100.000 de 393,50 (TEIXEIRA, 2001).
Nos anos seguintes foi considerada redução nas taxas de incidência da doença
em Salvador, reduziu drasticamente quando comparado com os anos de 1995 e 1996,
até então o período de maior infestação. Percebe-se que em 1997 houve uma ocorrência
de 1.256 casos com uma incidência por 100.000 habitantes de 44.59. Em 1998 com uma
taxa de incidência de 64,99 por 100.000 habitantes, com um número total de notificação
de 1.478, que ocorre uma elevação em relação ao ano anterior.
No ano de 1999, com um total de notificação em torno de 608 casos e uma taxa
de incidência de 16,20 casos por 100.000 habitantes, a mais baixa desde o inicio do
reaparecimento da Dengue na cidade, em 1995 (TEIXEIRA, 2001).
8. ANÁLISE DOS DADOS
A análise de grande importância deste trabalho monográfico foi feita através dos
dados oficialmente fornecidos pelos órgãos público da Secretária de Saúde do
Município de Salvador - SMS e pela Coordenação de Defesa Civil de Salvador –
CODESAL, respectivamente os dados dos números de casos de Dengue Notificados por
Distritos Sanitários de Salvador, e os dados de índices de pluviosidade diários da cidade
de Salvador, no período de 2000 a 2003.
É importante destacar que a partir do ano de 2003, através da Portaria n°
2.325/GM, de 08 de Dezembro de 2003, publicadas no Diário Oficial da União-DOU n°
240, de 10 de Dezembro de 2003 os casos de Dengue no Brasil passou a ser
classificados como doença de notificação compulsória, ou seja, de registro obrigatório
pelas Secretárias Municipais, Estaduais e ao Ministério de Saúde, juntamente com uma
serie de doenças, tais como: cólera, febre amarela, hanseníase, malária, difteria e outras
tantas.
A Dengue, objeto de estudo deste trabalho é um Arbovirose, doença causada por
um vírus e transmitida pela picada de um mosquito, o Aedes Aegypti, que vem se
tornando um grande problema de saúde pública urbana no Brasil, nos últimos anos.
A dengue é uma doença reemergente, de transmissão essencialmente
urbana, ambiente no qual se encontram os fatores fundamentais para sua
proliferação: Homem, Vírus, Vetor e principalmente as condições
Ambientais, políticas, econômicas e culturais, que juntos formam as
estruturas que permitem o estabelecimento da cadeia de transmissão.
Inicialmente, através das tabelas produzidas neste trabalho, pode-se notar que no
ano de 2000, ano base para a pesquisa, houve um total de 792 casos de dengue
notificados em todo município de Salvador, e um índice pluviométrico registrado em
torno de 1.894,6 mm/aa (Tabela 1).
Tabela 1 – Salvador – Número de casos de dengue – 2000
Distritos Sanitários JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ Total
Ainda no ano de 2003, o que se percebe é que a distribuição das chuvas não se
alterou, o período do Outono com 943,9 mm, repartido pelos meses de marco com
206,3 mm, Abril com 187,1 mm e Maio com 550,5 mm de chuvas, confirma a primazia
de ser a estação mais chuvosa em Salvador.
Figura 12
Outra constatação diz respeito ao mês mais chuvoso na cidade, o mês de maio,
apesar de ter sido o mês de maior índice de chuva, foi o período de menor número de
casos de dengue, com 68 casos notificados o período, com o mês de Abril com 79 casos
e o mês de Março com 455 casos, o maior número de casos do outono, a pesar de ter
tido menos da metade do índice pluviométrico do mês de Maio.
A estação do Outono com 608 casos, com cerca de 59,3 % de todos os casos do
ano e um índice pluviométrico de 943,9mm de chuvas confirma mais uma vez como o
período da dengue e da chuva ( fig. 13), evidenciando uma estreita relação.
Figura 13
O Inverno, com 144 casos de dengue notificados, repartidos pelos meses de
Junho e Julho com 55 casos cada e o mês de Agosto com 34 casos, mas quanto aos
índices pluviométricos, foi o segundo maior do ano, com 560mm de chuvas,
distribuídas pelos meses Junho com 237,5mm, Julho com 186,5 mm e Agosto com
136,7 mm de chuvas.
A estação da Primavera, estação das flores, com 40 casos de dengue notificados,
distribuídos pelos meses de Setembro com 14 casos, os meses de Outubro e Novembro
com 13 casos, os menores números de casos de todo período de estudo, tornando-se a
estação do ano de menor ocorrência de dengue e com um índice pluviométrico em torno
de 373 mm de chuvas, distribuídas pelos meses de Setembro com 168,7mm, Outubro
com71, 5mm, o mês mais seco e o mês de Novembro com 132,8mm de chuvas (tabela
9).
9. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Mundo atual está aberto a todo tipo de possibilidades de investigações e de
explicações. Nunca a dimensão médica dos fenômenos teve tanta visibilidade e nunca se
precisou tanto do olhar geográfico para desvendar a complexidade de fatos entrelaçados,
aparentemente paradoxais, porém identificáveis a partir das escalas espaciais
diferenciadas, encaixadas, que o geógrafo é treinado para compreender. Ao mesmo
tempo, é oferecidos á geografia contemporânea um terreno fértil para compor sua
agenda temática, suas especulações conceituais, suas pesquisas empíricas e suas
inquietações.
As questões colocadas para a geografia médica no inicio deste terceiro milênio
são bem mais amplas do que aquelas que inspiraram seus fundadores. De uma
perspectiva estritamente descritiva e determinista, em que o clima era muitas vezes o
referencial para as explicações das doenças e da superioridade econômica, social racial
dos povos, que serviam para controle de territórios, em que o Estado nacional servia de
eixo teórico conceitual, em torno do qual a agenda da disciplina era definida, pois dele o
mundo se organizava.Alcança na atualidade uma disciplina que necessita compor sua
agenda em um mundo muito diferente, numa perspectiva em que a o Espaço
Geográfico, o espaço das relações entre o Homem e a natureza deve ser visto na sua
totalidade.
O espaço da saúde vista como uma totalidade é uma instância da sociedade, ao
mesmo tempo em que as instâncias econômicas e cultural-ideológicas.
Este trabalho monográfico vem exatamente nestas últimas linhas confirmar a
importância que o estudo da saúde pela geografia se faz presente neste momento, visto
que o espaço é uma variável a se considerar quando se discute a proliferação das
doenças, não se pode mais tentar tratar as doenças apenas pela doença, tentando assim
entender como ela se distribui pelo espaço, mas sim entender como o espaço pode ser
responsável pela proliferação das doenças.
Sendo assim, essa consideração final é fruto de observações feitas ao longo de
pesquisa com a utilização dos dados dos números de casos de dengue e pelos dados da
distribuição das chuvas no espaço soteropolitano, fornecidos pela Secretaria de Saúde
de Salvador – SMS, e pela Defesa Civil de Salvador – CODESAL, respectivamente, dos
períodos de 2000 a 2003.
A cidade de Salvador, neste período de estudo e investigação, registrou um
quantitativo de 30.745 casos de dengue notificados, por toda a cidade, distribuídos por
12 Distritos Sanitários, como é geograficamente dividida a cidade de acordo com a
SMS. Observa-se neste estudo que não há um Distrito Sanitário que tenha ficado ileso
das ocorrências de casos de dengue, apesar das diferenças sócio-econômicas existentes,
confirmando assim o fato da dengue ser considerada uma doença universal e complexa,
ou seja, uma enfermidade que atinge a todas as classes sociais independentemente.
Quanto aos índices de pluviosidade neste período, Salvador registrou 7.519 mm
de chuvas, uma média de 1.877mm, dentro da média para a Cidade.
As conclusões que pode ser feita através deste trabalho dentro do que foi
proposto nos objetivos geral e especifico, tem que ser antecipadamente explicado que
não poderá ser entendido como uma conclusão definitiva, visto que o trabalho foi feito
em cima de apenas uma variável, a pluviosidade, importante, mas que não é suficiente
para uma conclusão definitiva, se faria necessárias outras tantas variáveis como, a
temperatura, a umidade, a pressão, dados socioeconômicos e sanitários, o que não foge
da proposta inicial nem desmerece o trabalho feito, mas sim propõe uma continuidade
de investigação.
Enfim, as análises feitas através dos dados de pluviosidade e dos números de
dengue tornou possível evidenciar que sem dúvida alguma existe uma relação muito
estreita entre o período de chuvas em Salvador e os números de notificação da dengue.
Figura 14
Observando a Figura 14, fica clara esta relação, o período de maior índice de
pluviosidade, outono, foi também o de maior incidência da doença.Esta constatação
cientifica é importante para se desmistificar e se propor uma outra forma estratégica de
controle a doença na cidade, visto que, parece ser de consenso do poder público e da
mídia que o período de verão é o que tem maior ocorrência da doença, período em que
as grandes operações emergenciais ocorrem, a partir de então se percebe que há uma
moderação nas operações de controle do mosquito.
Inexplicavelmente estas Campanhas emergenciais tem sido feitas sempre no
período de verão, talvez por ter um contingente maior de pessoas na cidade, época de
festas populares, muitos turistas, o que esquenta a economia da cidade e o que talvez
explique a atuação do poder público em suas ações pontuais. Já no período de outono
em que se percebe um aumento dos números de ocorrências da doença, estas ações são
mais precárias, quase inexistentes.
Outra conclusão que pode ser tirada deste estudo é quanto à localização espacial
da cidade com maior índice de notificações da doença.Pelo mapa de evolução espacial
da doença no período de estudo, constata-se que a dengue realmente é uma doença
universal e complexa, no sentido de não escolher as camadas sociais, ela atinge a todos,
talvez por isso há uma efetiva preocupação por parte do poder público, visto que outras
doenças como a leptospirose e raiva que são doenças mais letais e que atinge
basicamente a classes mais baixa da sociedade e menos protegida, não gera tanta
preocupação por parte da mídia nem do poder publico quanto a dengue.Isto por que, não
há um só Distrito Sanitário sem ocorrência da doença durante todo período de estudo, a
cidade de Salvador foi infestada pela dengue.
Mas, o fato da cidade estar infestada pela doença, torna-se generalizante,
escondendo a realidade de que os Distritos Sanitários em que as condições
socioeconômicas e médico-sanitárias são mais precárias e muitas vezes quase
inexistentes, é visivelmente o de maior incidência da doença.
Através do mapa de evolução da doença no período de estudo é fácil entender,
que os dois Distritos Sanitários no ano de 2000 de maior ocorrência da doença foram
Liberdade e Brotas, com 399 casos e com 105 casos notificados respectivamente ( mapa
3).
No período 2001, ocorre uma mudança espacial das doenças, o Distrito
Sanitário Subúrbio Ferroviário assume a liderança nos números de ocorrências da
dengue, com 340 casos notificados, depois aparece o Distrito de Itapuã com 247 casos,
Cabula/Beiru com 226 casos, o Distrito da Barra/Rio Vermelho/Pituba que se insere
neste contexto com 214 casos, e o Distrito de Itapagipe com 202 casos ( Mapa 4).
No ano de 2002, período de grande expansão da doença na cidade, cerca de
26.971 casos notificados, superando até mesmo o período de 1995/6, em que tinha sido
registrada a maior epidemia até então, com aproximadamente 15.458 e 10.988 casos
registrados respectivamente. O Distrito da Liberdade volta a linha de frente nos
números de ocorrências com 3.397 casos notificados, depois acompanha o Distrito do
Subúrbio Ferroviário com 3.339 e o Distrito da Barra/Rio Vermelho/Pituba com 3.228
casos notificados ( Mapa 5).
No ano de 2003, não altera a espacialização, mais uma vez o Distrito Subúrbio
Ferroviário , como já tinha sido o primeiro em 2001, volta a liderar com 356 casos
notificados da doença seguidos do Distrito Barra/Rio Vermelho/Pituba com 143 casos e
o Distrito de Itapagipe com 100 casos ( Mapa 6).
De uma forma geral, os cinco Distritos com maior ocorrência da doença, são: DS
Subúrbio Ferroviário com 4.097 casos, cerca de 13,3% do total de 30.745 casos durante
os quatros anos estudados, o DS Liberdade com 4.063, com cerca de 13% do total,
seguida do DS Barra/Rio Vermelho/Pituba com 3.646, com 11,3% do total, DS Pau da
Lima com 4.097 e DS São Caetano com 3.078 casos notificados.Daí se conclui que as
áreas que comumente são consideradas como “áreas de risco” melhor denominado de
“áreas e abandono público” estão entre as de maior números de ocorrências.
O DS Barra/RioVermelho/Pituba inserido neste contexto de áreas com grande índice de
notificação da doença geram uma desconfiança, quanto aos números apresentados, visto
que, apesar de ser uma doença universal, o nível sócio-econômico deste DS é o maior, e
os números de postos médicos públicos também e como foi anteriormente citado, estes
dados são em sua maioria resultado de notificações desses postos médicos públicos e
não de clinicas particulares, o que se faria necessário um levantamento das notificações,
para que se possa avaliar se realmente as pessoas notificadas neste Distrito Sanitário são
residentes desta área, visto que área é um local de maior absorção de mão de obra das
outras áreas da cidade.
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