UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA LUCIANO FILHO DE SOUSA PAULA ANÁLISE INTEGRADA DE UNIDADES DE PAISAGEM SUBMERSAS NA PLATAFORMA CONTINENTAL ADJACENTE AO MUNICÍPIO DE ITAREMA (CEARÁ, BRASIL): SUBSÍDIOS PARA GESTÃO TERRITORIAL FORTALEZA - CEARÁ 2014
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ PROGRAMA … · Geomorfologia Costeira e Oceânica; o Professor Morais, prontamente apoiou meu desejo em aprofundar os estudos nesta linha de pesquisa,
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ
CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
LUCIANO FILHO DE SOUSA PAULA
ANÁLISE INTEGRADA DE UNIDADES DE PAISAGEM SUBMERSAS NA
PLATAFORMA CONTINENTAL ADJACENTE AO MUNICÍPIO DE ITAREMA
(CEARÁ, BRASIL): SUBSÍDIOS PARA GESTÃO TERRITORIAL
FORTALEZA - CEARÁ
2014
LUCIANO FILHO DE SOUSA PAULA
ANÁLISE INTEGRADA DE UNIDADES DE PAISAGEM SUBMERSAS NA
PLATAFORMA CONTINENTAL ADJACENTE AO MUNICÍPIO DE ITAREMA
(CEARÁ, BRASIL): SUBSÍDIOS PARA GESTÃO TERRITORIAL
Dissertação submetida à Coordenação do
Programa de Pós-Graduação em Geografia
da Universidade Estadual do Ceará, como
requisito parcial para aquisição do grau de
mestre em Geografia. Área de concentração:
Análise ambiental e Ordenação do território
nas regiões semiáridas e litorâneas.
Orientação: Prof. Dr. Jáder Onofre de Morais
FORTALEZA, CEARÁ
2014
Aos meus pais Luciano e Érica,
E aos meus irmãos Amanda, João
Paulo e Lucas.
AGRADECIMENTOS
Há seis anos, iniciei minha vida acadêmica na Universidade Estadual do Ceará,
no curso Bacharelado em Geografia, onde no primeiro semestre de 2009,
conheci o então professor titular na disciplina Geologia Geral do Curso, Dr.
Jáder Onofre de Morais, que me fez despertar o interesse pela Geologia e
Geomorfologia Costeira e Oceânica; o Professor Morais, prontamente apoiou
meu desejo em aprofundar os estudos nesta linha de pesquisa, sua equipe de
professores e estudantes de graduação e pós-graduação, as professoras
Lidriana, Andréa, professor Paulo Pessoa, o então estudante de Doutorado,
Davis Pereira, hoje professor da Universidade Estadual Vale do Acaraú, os
alunos de pós-graduação Marisa, Silvio, Marcos Brito, os estudantes de
graduação Raquel Soares, Judária Maia, Gustavo, Mariana, Maciel Moura, me
receberam de braços abertos e me transmitiram os primeiros artigos, textos,
revistas e ensinaram a manusear os primeiros equipamentos, disponíveis no
LGCO. No ano seguinte, os amigos de graduação, Renan, Dudu, Mailton, Paty,
Guilherme, Silvia, ingressaram e vieram somar forças a nossa equipe. Nesta
época o “comandante” Ciarlini, veterano da equipe, volta a casa, agora como
estudante de pós-graduação (Doutorado), vindo a contribuir com sua
experiência, alegria e desenvoltura acadêmica para todos nós.
Aos meus tios, Tarcísio e Conceição que me acolheram no ceio do seu lar e
me deram todo o amor e carinho, antes recebido de forma semelhante de meus
pais e avós. Aos primos, Adeilde, Tarcísio, Marcelino, Adeliane, Claúdio, que
dividiram, além do espaço físico de sua casa, a amizade, o companheirismo e
a cumplicidade, sentimentos por vezes superior aos de irmãos.
A fé em Deus, Jesus Cristo seu filho, no derrame de bênçãos do espírito Santo
e na intersessão de Nossa Senhora de Fátima, minha padroeira.
Ao exemplo de vida dos meus pais, Luciano e Érica, que muito me motivam a
retribuir tudo o que fizeram e fazem até hoje por mim e por meus irmãos,
Amanda, João Paulo e Lucas.
“Serenai verdes mares, serenai, e alisai docemente a vaga impetuosa, para que o barco aventureiro manso resvale à flor das águas”.
José de Alencar.
Serenai mesmo, verdes mares, pois precisamos da mansidão das águas para que o trabalho no mar possa ser realizado com melhores resultados.
Luciano Filho
RESUMO
Estudos que tratem da Plataforma Continental do Nordeste Brasileiro
remontam a segunda metade da década de 60. Os trabalhos realizados
caracterizaram de forma regional a superfície e a subsuperfície deste ambiente
submerso. O município de Itarema e Acaraú estão localizados no litoral oeste
do estado do Ceará. Este trabalho tem por objetivo principal analisar e
entender a configuração geomorfológica da Plataforma Continental adjacente a
estes dois municípios. Essa análise se deu a partir dos dados sísmicos,
batimétricos e sedimentológicos obtidos em expedições oceanográficas. Na
área de estudo, observou-se que a Plataforma Continental, defronte aos
municípios, possui características similares às observadas no estado do Ceará.
Na paisagem submersa desse setor do estado, foram identificadas uma série
de feições submersas. Para a consecução do trabalho, foram realizados
levantamentos bibliográficos acerca das características oceanográficas da
área, incluindo a dinâmica de flutuação do nível médio do mar, as mudanças
tectônicas, o suprimento sedimentar, as correntes, as ondas, as mudanças
climáticas. Percebeu-se que associações desses processos respondem pelas
modificações na configuração do assoalho marinho. Com base nos dados
levantados, foi possível identificar as morfologias de fundo, com o apoio técnico
de equipamento de geofísica, consubstanciando assim com registros sísmicos
da área, associados a amostras de sedimentos das áreas sondadas. Os
registros sísmicos nos permitem observar alguns ambientes ou patamares no
trajeto da plataforma rasa seguindo em direção à plataforma média. Estas
observações podem contribuir com informações acerca da configuração
geomorfológica dessa região, entender os processos formadores dessas
feições para o correto manejo e uso sustentável desse frágil ambiente.
Palavras–chave: Plataforma Continental, Feições Submersas, Sísmica Rasa.
ABSTRACT
Studies dealing with the Brazilian Northeast Continental Shelf date back to the
second half of the 60s, the work done regionally characterized the surface and
the subsurface of this underwater environment. The municipality of Itarema and
Acaraú are located on the west coast of the state of Ceará, where this work is
meant to examine and understand the geomorphological setting of the
Continental Shelf adjacent to these two municipalities. The seismic,
bathymetric and sedimentological data were taken from previous oceanographic
expeditions in the area. It was observed that the Continental Shelf adjacent to
those municipalities has similar characteristics to those observed in the state of
Ceará but at in its transitional coast line expose very peculiar spits and bars.
The underwater landscape of that state sector was observed and identified a
number of submerged features, characterizing them according to the
classifications available in the literature. To achieve the results, a great
bibliographic survey and field work have been focused the oceanographic
characteristics of the area, including the dynamic fluctuation of the mean sea
level, tectonic changes, sediment supply, currents, waves, climate change. It
was noticed that, all the associated processes, they will modify the configuration
of the seabed. Based on the data collected it was possible to identify the
sedimentary processes and kind of the relief of this underwater environment,
with the technical support of geophysical equipment, thus consolidating with
seismic records of the area, associated with sediment samples of the surveyed
areas. The winds prevailing in the NE - SE, influence the emerged and
submerged landscape, controlling the dynamic coastal and marine
environments. On the coast areas the sea waves dominates, and in extreme
events waves swell type has contributed to shaping the underwater landscape.
Seismic records provided us with the observation of some environments or
levels on the path of shallow platform heading for the middle platform. With this
it was observed that this data set, can bring great source of information about
the geomorphological setting of this region understand the formation processes
of these features for the correct management and sustainable use of this fragile
Essa ferramenta nos permite observar e obter dados, tanto do assoalho
(piso) como da subsuperfície (o que está abaixo do fundo). Identificar feições
nos ambientes submersos torna-se possível com a utilização de sonografia,
tais como: side scan sonar (sonar de varredura lateral), sub bottom profiler
(capaz de obter dados da subsuperfície) e sondas batimétricas.
Por apresentar a declividade suave e plana, com profundidades baixas
de até 100 metros, é possível observar a paisagem submersa da plataforma
continental com precisão.
O número de estudos de caso detalhados são escassos devido às
dificuldades que encontradas pelos grupos de pesquisa em se trabalhar nos
ambientes offshore. Por outro lado, tecnologias recentes, disponíveis para
subsidiar estudos relativos aos ambientes submarinos, dão suporte aos
pesquisadores, somando-se a crescente disponibilidade de dados adquiridos
comercialmente (imagens de satélite de alta resolução, por exemplo). Isso
amplia a compreensão da evolução da paisagem submarina. Esses avanços
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fornecem evidências cruciais para avaliar os impactos do futuro aumento do
nível do mar nas economias costeiras e ecossistemas ligados ao mar. É
impotante lembrar que a principal fonte de renda daquela região, é a pesca da
lagosta, segundo dados da CEPENE e IBGE (1998, 2013).
A introdução do método sísmico para aquisição de imagens do fundo do
mar, sistemas de mapeamento de alta resolução, como o echosouder
multifeixe (SMF) ocorreu na década de 90. O sistema LIDAR, para
levantamentos batimétricos, trouxe novas informações disponíveis sobre a
morfologia submarina (Souza, 2006). A análise dos dados SMF gera modelos
batimétricos e mosaicos de retroespalhamento acústico, capazes de
representar com precisão a distribuição espacial do relevo submerso pelas
águas transgressivas (como as formas de fundo, como declividade e
rugosidade de feições). Juntamente com o tipo inferior e composição, os
estudos de ambientes submersos ganharam substancial melhoria e precisão.
Esses métodos vieram alavancar o conhecimento de ambientes antes
desconhecidos. Informações, em termos de batimetria, tipo de distribuição do
fundo do mar e geomorfologia, são de extrema valia para a descrição do fundo
do mar, processos e morfologia, em melhor planejar o uso e definir fluxos que
podem ocorrer neste espaço geográfico (Bastos, 2005).
Diversos estudos já foram apresentados sobre plataforma continental do
município, tais como, trabalhos relativos à linha de costa, elevação do nível do
mar, migração de barras arenosas, migração de desembocaduras fluviais,
pescado e lagostas (Araujo e Freire, 2007, Morais, 2000, Fonteles e Morais,
1997, Cavalcanti, 2011, Freire e Cavalcanti, 1998).
A investigação de ambientes submersos rasos (rios, reservatórios,
áreas costeiras e plataforma continental interna), no entanto, tem despertado
especial interesse no Brasil e no mundo nestes últimos anos (Souza, 2008). Os
materiais disponíveis nestes ambientes constituem fonte de matéria-prima
capaz de mover a produção e a cadeia produtiva do País, estado e municípios
costeiros.
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Para que se possa estudar, explorar e explotar tais materiais e fontes de
matérias-primas, os métodos de prospecção incluem principalmente a sísmica
de reflexão de alta resolução, que proporciona o real arranjo e a identificação
sedimentar, geometria dos sedimentos e feições submersas. Segundo
Augris&Cressard (1991), existem dois métodos para prospecção e
mapeamento de formas sedimentares e jazidas de recursos minerais,
resumidos logo a seguir: (i) Método Indireto: investigação utilizando
equipamentos de varredura lateral e sub-superfície, sonares e batimetria. (ii)
Método Direto: consiste em amostragens pontuais, em loco: mergulhos
autônomos ou imageamentos com ROV´s e/ou câmeras subaquáticas.
1.6 ASPECTOS CARACTERÍSTICOS
1.6.1 Geologia
Na região, afloram os sedimentos da Formação Barreiras (Mioceno/plio-
plesitoceno) (Morais, 2000), por vezes sobrepostos por sedimentos do
Holoceno. A região está acomodada na margem passiva do Ceará (Costa et.
all., 1990, Silva Filho, 1990). O estado do Ceará abrange três blocos crustais
maiores, colados durante a Orogenia Brasiliana/Pan-Africana, entre 640 e 580
Ma (Jardim de Sá, 1994): Domínio Noroeste do Ceará, Domínio Ceará Central
e Domínio Rio Grande do Norte (Fetter et al., 2000). Tais domínios são
separados entre si por descontinuidades crustais de grande porte, como a zona
de cisalhamento Sobral-Pedro II, situada entre os domínios Noroeste do Ceará
e Ceará Central e que faz parte da extremidade nordeste do Lineamento
Transbrasiliano, e a zona de cisalhamento de Senador Pompeu, situada entre
os domínios Ceará Central e Rio Grande do Norte. Também se destacam
outras feições, como as zonas de cisalhamento de Granja (Noroeste do Ceará),
Tauá (Ceará Central) e Jaguaribe (Rio Grande do Norte).
A geologia, o clima, a drenagem e o padrão estrutural das partes
emersas condicionam a sedimentação e a disposição de feições da plataforma
rasa e estreita do Ceará (Morais, 1998).
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A bacia do Ceará está localizada na Plataforma Continental da margem
equatorial brasileira, estendendo-se de Noroeste para Sudeste, entre o Alto de
Tutóia e o Alto de Fortaleza (Morais, 1998). Está situada também entre a bacia
de Barreirinha e a bacia Potiguar. Sua limitação ao Norte confronta a falha
transformante do Ceará, associada à Zona de fratura Romanche, e pelo guyot
do Ceará, da mesma gênese da cadeia de Fernando de Noronha. Ela é
explorada desde 1971 com poços de hidrocarbonetos com índice de sucesso
de 19% (Morais, 1998). Com a separação dos continentes africano e sul-
americano, na qual está relacionada a sua formação, segundo classificação de
Klemme (1984) apud. Morais (1998), essa bacia se enquadra como bacia
continental do tipo rift. em margem divergente. A bacia do Ceará engloba no
seu sistema a sub-Bacia do Acaraú, que apresenta baixos potenciais para
geração de hidrocarbonetos.
A região “assentada” sobre o embasamento geológico cristalino,
Formação Barreiras e sedimentos recentes holocênicos, somado a fatores,
oceanográficos como, direção de correntes, ondas, regime de marés,
transporte sedimentar, dinâmica fluvial, e fatores climáticos como, regime de
chuvas, vão contribuir para o atual arranjo das feições geomorfológicas da
plataforma continental cearense.
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Figura 2- Mapa Geológico sintético da margem continental cearense.
Fonte: Silva Filho, 2004.
1.6.2 Geomorfologia
O relevo é relativamente plano alternado com fundos irregulares, a oeste
da desembocadura do Aracatimirim, os pescadores chamam as irregularidades
de “chão mole e chão duro”, fazendo alusão às descontinuidades dos
sedimentos lamosos e sedimentos arenosos (campos de sandwaves). Notamos
que as irregularidades geomorfológicas seguem as descontinuidades das
linhas batimétricas observadas nas cartas náuticas disponibilizadas pela DHN
que ocorrem naquele setor a oeste do Aracatimirin, na isóbata de até 9 m
(segundo conversas com os mestres de barcos da região). A figura 3 mostra o
a configuração da paisagem.
A largura média da plataforma continental é de 78 km e possui
declividade suave em direção a quebra da plataforma, estende-se desde a
26
zona de praia com gradiente de declividade muito baixo (1:1000) (Morais,
1998) até a porção de rompimento brusco deste gradiente, conhecido como
quebra da plataforma. Essa diferença de declividade é denominada, pelos
pescadores artesanais locais, de “barranco”, devido ao mergulho abrupto que
pode ser observado a partir dos 78 km de distância da costa, na isóbata dos
80 m de profundidade.
Figura 3 - Plataforma Continental com linhas batimétricas da margem
Continental.
Fonte: Silva Filho, 2004.
Navegando em linha reta em direção ao Norte, observa-se a
configuração da Plataforma Continental, com suas inconformidades
geomorfológicas. Bem próximo do litoral (praia), encontram-se grandes bancos
de areias (sandwaves), intercalados por pequenas depressões com fundos de
material de granulometria mais fina e com coloração escura, demonstrando a
presença de carbonatos possivelmente mais antigos. A priori creditava-se que
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essa coloração escura era relativa à presença de matéria orgânica proveniente
do rio Aracatimirin, porém, em análises laboratoriais, percebeu-se que os
teores de matéria orgânica eram insignificantes. Por outro lado, os teores de
carbonatos continuaram constantes, cerca de 85%, todavia, em solução de HCl
percebeu-se grande perda do material de coloração escura. Isso dá condições
de constatar que, na verdade, trata-se de carbonatos mais antigos, contudo,
não foram feitas as datações. Em trabalhos que se seguirão haverá condições
de precisar a dúvida supracitada. Será uma informação bastante pertinente
tendo em vista que, trabalhos recentes, remontam a característica escura dos
sedimentos à matéria orgânica, influenciada pela descarga sedimentar do rio
Aracatimirim. Com essas análises, percebe-se que não se trata de matéria
orgânica, e sim, carbonatos “sujos”. Pode-se observar, nas figuras 4 e 5, a
presença de minerais pesados de coloração escura.
Figura 4 - Região da Costa Negra e sedimentos da área.
Fonte: Próprio autor.
Os bancos de algas coralinas constituem a paisagem submersa da
região, formações bioconstruídas predominam nessa plataforma (Morais,
1998). Os sedimentos carbonatados são dominados por algas coralinas
ramificadas (rodólitos) (figura 6), consorciado em menor quantidade por
halimeda.
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Figura 5 - Sedimentos contendo algas calcárias coletadas na área de estudo.
Fonte: Próprio autor.
A sedimentação carbonática é dominante devido à fraca competência
hídrica dos rios da região e o pobre suprimento de sólidos em suspensão em
decorrência da semiaridez do clima. A região continental tem a seguinte
configuração geomorfológica: Tabuleiro pré-litorâneo, caracterizado por trechos
estáveis e com suscetibilidade para a ocupação e uso por parte da população,
caracterizado por feições tabulares recortadas por interflúvios; planície costeira,
que pode ser subdividida em planície aluvial, estuarina e arenosa (Souza,
1989, 1994, Sales, 2002).
1.6.3 Economia local
O litoral do Estado do Ceará, com 573 km, representa 8,5% do litoral
brasileiro (SEPENE, 2008). É composto por 20 municípios costeiros, com 113
pontos de desembarque distribuídos em comunidades que exploram
invariavelmente a pesca extrativa marinha e/ou estuarina. O pescado estadual
é desembarcado, principalmente, nos municípios abaixo discriminados, com
suas respectivas comunidades pesqueiras de maior produção (SEPENE, 2008)
(figura 6).
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Figura 6 - Mapa do Estado do Ceará com indicação dos principais pontos de
desembarque de pescado. Adaptado de SEPENE, 2008.
Fonte: SEPENE, 2008.
Itarema se destaca por sua produção e participação nos percentuais no
total da captura do Estado, com produção em 2006 de 1554,8 t – 9,4%, Acaraú
com 1910,9 t, correspondendo a 11,5% da produção total do Estado, figurando
como um dos maiores produtores. Com relação ao montante de dinheiro
movimentado pelo setor, em 2006, o Estado do Ceará movimentou mais de
R$110.000.000 milhões de reais. Itarema contribuiu com 15,8% desse
montante, representando em valores reais mais de 17 milhões, Acaraú,
participou com 14,6%, com valores da ordem de mais de 16 milhões de reais.
Vale salientar que a significativa participação dos municípios do litoral oeste
(Camocim, Acaraú e Itarema) no total da produção estadual de 1999 a 2006
concede a esses municípios a posição de maiores produtores do Estado
(SEPENE, 2008).
Desde a sua fundação, a região de Itarema e Acaraú tem a pesca com
sua principal atividade econômica. Destacou-se, inicialmente, com a pesca do
30
camurupim, praticada no litoral de Acaraú que atualmente é um dos maiores
produtores de lagosta do Estado e, agora, tem no camarão mais uma
alternativa de renda.
A pesca artesanal faz parte da cultura local e representa a fonte de
renda de comunidade pesqueira local, movimentando uma cadeia produtiva
importante. Exercida por barcos artesanais, teve participação relevante em
2006, correspondendo a 58,6% da produção total desembarcada nesse ano,
com ênfase para canoas e paquetes – respectivamente – com 28,1% e 17,1%
do total. Somam-se também as lanchas motorizadas com 34,8% e os barcos
industriais com 6,1%. Os barcos artesanais buscam, geralmente, a captura de
espécies que ocorrem mais próximas à costa, como é o caso da lagosta,
guaiúba, ariacó, biquara, arraia, cavala, serra e caíco (peixes diversos com
menos de 1,0 kg/indivíduo). Os barcos motorizados de médio porte (lanchas e
botes motorizados) têm um maior raio de ação e além de buscarem a captura
de lagosta, espécie nobre, capturam também durante determinadas épocas do
ano, guaiúba, cavala, serra, arabaiana e pargos (SEPENE, 2008).
A captura mais significativa e rentável em Itarema e Acaraú é de lagosta
vermelha (Panuliris argus) e da lagosta verde (Panuliris laevicauda) que são
encontradas em bancos de algas calcárias. Constituídos, em sua maior parte,
por fragmentos de algas vermelhas da família Rhodophyceae, principalmente
do gênero Lithothamnium, as quais se apresentam sob a forma de artículos
ramificados livres, de nódulos verrucosos ou arborescentes, com tamanho
variável e que são vivos apenas na superfície superior (SILVA, 1998), por algas
verdes da família Chlorophyceae, dos gêneros Halimeda, Udotea e Penicillus
(COUTINHO; MORAIS, 1970; FONTELES-FILHO, 2007) além de areias e
cascalhos biodetríticos formados por uma mistura de fragmentos de moluscos,
briozoários e foraminíferos. Associado a alta salinidade e os fundos
carbonáticos, torna-se o habitat favorável a proliferação do crustáceo.
31
2 CONTEXTUALIZAÇÃO DA PLATAFORMA CONTINENTAL
2.1 INTRODUÇÃO
A Plataforma Continental é uma região plana de baixa declividade que
bordeja o continente, no caso do Ceará, no último máximo glacial, encontrava-
se emersa. A elaboração da plataforma está associada a diversos fatores,
dentre os quais: o controle tectônico exposto anteriormente, o controle
morfotectônico, controle biológico, as variações do nível do mar, sobretudo no
Quaternário, além dos fatores condicionados pela litologia e topografia
(MORAIS, 2000).
Morais & Freire (2003) apresentaram estudos sobre a Plataforma
cearense, afirmando categoricamente que a Plataforma é o prolongamento do
continente, submergindo gradativamente mar adentro. É relativamente plana,
estende-se desde a zona litorânea, logo após a praia, e mergulhando em suave
declive até a quebra da Plataforma. A partir da “quebra”, chamada localmente
pelos pescadores por “barranco”, encontra-se o início do Talude continental
que representa um mergulho abrupto até profundidades superiores a 2.000
metros de profundidades, onde inicia o sopé continental.
32
Figura 7 - A Plataforma Continental e suas principais divisões.
Fonte: Adaptado de (http://geografianosecundario.blogspot.com.br/2014_05_01_archive.html).
A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, em sua parte
V, artigo 56, assegura ao Estado Costeiro “Direitos de Soberania para fins de
exploração e aproveitamento, conservação e gestão dos recursos naturais,
vivos ou não vivos das águas sobrejacentes ao leito do mar e seu subsolo, e no
que se refere às outras atividades com vista à exploração e aproveitamento da
zona para fins econômicos como a produção de energia a partir da água, das
correntes e dos ventos”. Cerca de 50 nações já definiram suas ZEE`S e estão
realizando amplos programas de pesquisa, visando identificar e quantificar o
potencial de seus recursos. A seguir, um quadro ilustrativo com as principais
deliberações:
Convenção das Nações unidas sobre o Direito
do Mar:
1. Apoiar e incentivar a exploração racional da Plataforma Continental Jurídica Brasileira (PCJB) foi recomendado à Comissão Interministerial para os recursos do mar (CIRM) como uma meta a ser atingida durante a vigência do V Plano Setorial para os recursos do mar (PSRH).
2. O potencial de recursos naturais da PCJB é praticamente desconhecido devido à ausência de mapeamento básico sistemático, visando identificar e delimitar esses recursos.
3. O Brasil, mais especificamente o Nordeste, possui
uma situação privilegiada com relação à existência de depósitos, praticamente inesgotáveis e inexplorados até hoje, de calcário biogênico / biodetrítico e siliciclástico. Esses depósitos constituem os recursos mais importantes da PCJB na região Nordeste e de mais fácil exploração.
4. A exploração e explotação de recursos naturais
renováveis e não renováveis da Plataforma Continental submarina e de zonas litorâneas do Estado do Ceará são responsáveis em grande escala pela geração de empregos, fortalecimento da economia regional e aumento da pauta de exportação.
A Convenção das Nações Unidas para o Direito do Mar (CNUDM) traz
algumas definições importantes a despeito do tema, que são os espaços
marítimos, abordados a seguir:
Espaço
Marítimo
Definição
Mar Territorial
(MT)
O Estado costeiro tem soberania a partir de seu território e
águas interiores até o que chamamos de zona de mar
adjacente, denominado mar territorial. Possui normalmente 12
milhas náuticas (m.n). A soberania se estende ao espaço
aéreo sobrejacente e também a seu solo e seu subsolo
(Sembra, 2012). Nesse espaço, a atividade científica é
estritamente exclusiva do estado costeiro, necessitando de
autorização prévia para outros estados acessarem esse
espaço. O trânsito de navios é permitido, sem que seja pedida
a permissão, desde que não inflijam as normas de soberania
e integridade territorial.
Zona Contígua
(ZC)
Fixada a uma faixa de 24 milhas náuticas (m.n) contadas a
partir das linhas de base. Está contígua ao mar territorial, nela
o estado costeiro poderá exercer direitos de fiscalização,
aduaneira e fiscal, de imigração e sanitários.
34
Zona
Econômica
Exclusiva
(ZEE)
Com limite estabelecido a 200 (m.n) das linhas de base, neste
espaço, o estado costeiro tem direito de exploração,
aproveitamento, conservação e gestão dos recursos minerais
e naturais, bióticos e abióticos, das águas sobrejacentes ao
assoalho marinho, do leito e da sua subsuperfície.
Plataforma
Continental
(PC)
Podemos entender como sendo a constituição do solo e do
subsolo das áreas submersas além do domínio do mar
territorial, pode-se ter sua extensão até o bordo exterior da
margem continental, ou seja, uma distância média de 200
(m.n) das linhas de base, quando a margem continental não
atinja essa extensão. As medidas da PC não poderão
ultrapassar as distâncias de 350 m.n. ou 100 m.n. da isóbata
de 2.500 metros. O limite da PC pode ainda ser definido, por
dois critérios alternativos: (i) até o alcance de 60 m.n. do pé
do Talude Continental ou (ii) até o local onde a espessura das
rochas sedimentares corresponda a 1% da distância desse
local até o pé do talude Continental (DOMINGUES, et al.
2011). A soberania do estado costeiro no território da
Plataforma Continental é irrestrita, a exploração e
aproveitamento de recursos vivos e não vivos do solo e do
subsolo, além de espécies que se movem em contato direto,
junto ao leito do mar (figura 8).
35
Figura 8 - Limites do Mar Territorial, Zona Econômica Exclusiva e Plataforma
Continental.
Fonte: Marinha do Brasil (http://www.mar.mil.br/menu_v/ccsm/imprensa/am_azul_mb.htm)
Adaptado.
O Estado brasileiro, desde a execução do projeto LEPLAC, submeteu à
CNUDM uma proposta de delimitação de Plataforma Continental no ano de
Figura 14 - Representação esquemática da condução dos trabalhos na
Plataforma Continental de Itarema e Acaraú.
Fonte: Adaptado de PAULA, 2012.
66
4.3 EXPEDIÇÕES OCEANOGRÁFICAS
4.3.1 Levantamento Sísmico
Os dados possuem origem no âmbito do projeto “Potencialidades e
manejo ambiental na exploração de granulados marinhos na plataforma
do estado do Ceará”, Pronex, financiado conjuntamente pela Fundação
Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP) e
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Totalizando levantamento da ordem de 80 km de linhas sísmicas e coleta de
sedimentos naquela região, os dados estão alinhados perpendicularmente e
paralelos à linha de costa de Itarema e Acaraú, tendo como porto os
respectivos estuários do rio Acaraú e um riacho de “Porto dos barcos”, distrito
do município de Itarema.
67
Figura 15 - Levantamentos sísmicos realizados.
Fonte: Próprio autor.
As etapas de campo constituíram:
4.3.2 Trabalhos no laboratório PRÉ-CAMPO
4.3.3 Bancada: Calibração de equipamentos, limpeza e
operacionalização.
Delimitação da área de estudo, imagens de satélites, planejamento da
rota a ser navegada e planejamento das linhas sísmicas. Sempre apoiando o
LEVANTAMENTOS
SÍSMICOS REALIZADOS
40 km de
levantament
o contínuo
Banco de
cascalho
Carbonático
Percurso realizado
desde a foz do Rio
Acaraú.
1
2
3
N
1
68
projeto de expedição na subida e descida das marés na região, tendo em vista
que a saída e a entrada nos portos de atracação, tanto em Itarema como em
Acaraú, encontram-se dentro dos estuários dos respectivos rios (Aracatimirin e
Acaraú).
4.3.4 Trabalhos de campo
As etapas de campo foram realizadas a bordo de embarcações tipo
lagosteiro, locadas na área. Na região de Itarema e Acaraú, foi utilizado o barco
“Maria Eduarda” (figura 16) com licença ambiental para a pesca de lagostas,
pertencente a um pescador local. A embarcação é adaptada às necessidades
do serviço e da equipe de trabalho. A navegação durante o levantamento foi
mantida a uma velocidade entre 3 e 4 nós, o que permite gerar uma razão de
aspecto (escala vertical/escala horizontal) adequada sobre as imagens.
Figura 16 - Embarcação tipo lagosteiro, geralmente usada para os levantamentos na
plataforma.
Fonte: Próprio autor.
4.3.5 Trabalhos de Gabinete pós-campo
Os trabalhos de campo consistiram na organização dos dados
levantados em campo, triagem dos dados de boa, média e baixa qualidades.
Na triagem dos dados e processamento das imagens com o SonarWiz5, foi
utilizando o programa Discovery da Edge Tech,
69
O processamento dos registros foi submetido à sequência de
processamentos, todas as etapas básicas para o procedimento necessário
para o fluxo geral, por vezes, alguns fluxos suplementares que podem ser
utilizados para fins de melhorias de processamento e agilidade no
processamento e exportação de imagens processadas, foram seguidas.
O aperfeiçoamento do padrão de aquisição do dado, como o espectro
de frequência do pulso e a frequência de emissão; o procedimento e fluxo de
processamento de dados para a sísmica de ambientes submersos rasos
precisaram ser adaptados do método de processamento sísmico convencional.
O imageamento de superfície rasa, a nitidez e a resolução dos dados precisam
ser analisados, centralizando o processamento que é apoiado por um
fluxograma centralizado e direcionando a geometria traço, extrair ou atenuar
ruídos que se apresentam no domínio da frequência e das amplitudes dos
sinais e das ondas sísmicas enviadas, múltiplas de fundo precisam ser
identificadas e atenuadas, equalizar a amplitude e o decaimento de energia do
sinal e interpretação da sessão.
Os recursos disponíveis do Programa Sonarwiz5 foram utilizados para
validar a elaboração e aplicação do fluxo de processamento para os dados de
sísmica rasa. Módulos interativos do programa permitem ao usuário trabalhar
com sísmica 2D e 3D, suportando os formatos de dados, padrão (*jsf.) do
Programa Discorery SB. (fluxograma 2)
70
Fluxograma 2: Fluxo de trabalho para o processamento de dados Sísmicos.
Fonte: Próprio autor.
As “marcas onduladas” são restritas a sedimentos com diâmetro médio
inferior a 0,17 mm (2,5 φ) e a correntes cuja estrutura de velocidade não se
estende consideravelmente além da camada limite de fundo (Allen, 1968).
Essas feições possuem comprimentos de onda menores que 0,6 m e alturas
abaixo de 0,1 m. Já as megaondulações se caracterizam por uma
granulometria da ordem de duas ou três ordens de magnitude maior, com
comprimentos de onda e alturas características acima de 0,6 m e 0,1 m
respectivamente (Allen, 1968). Ondas de areia, por sua vez, são transversais
aos fluxos oscilantes relacionados à maré onde, tanto na enchente como na
vazante, estes fluxos são efetivos no transporte de material de fundo. Os
comprimentos de onda variam entre 25 e 1000 m com alturas entre 1 e 25 m,
dependendo das intensidades dos fluxos e profundidades em questão.
71
Esses levantamentos geofísicos na região da Plataforma Continental dos
municípios de Itarema e Acaraú foram feitos nos períodos de Abril/2014,
Maio/2014 e junho/2014. Esses incluíram: levantamentos sonográficos,
utilizando-se um sonar de varredura lateral e Subbotton profiler, conjugados em
um veículo Chirp 0512 C da Edge Tech, acoplados com DGPS. Todas as
coordenadas geográficas são referidas ao WGS84.
Figura 17 - Sonar de varredura.
Fonte: Próprio autor.
4.4 TRABALHOS DE LABORATÓRIO PÓS-CAMPO
4.4.1 Processamento de Dados Sísmicos
4.4.1.1 Registros de Side Scan Sonar
Os registros de sonografia foram tratados individualmente (imagem por
imagem) com auxílio do software (SonarWiz5, Chesapeake Technology, EUA),
onde foram aplicados filtros digitais para excluir as frequências referentes ao
72
“ruído” (e.g. eco, reverberação, ruído ambiental, entre outros). Em seguida,
aplicou-se em cada imagem padrões de cores que permitiram realçar os
contrastes produzidos pelas diferentes amplitudes do sinal de retorno e pelas
regiões de sombra acústica. Foram, então, gerados mosaicos com uma
resolução de 0.25 m/pixel através de um software específico (SonarWiz5,
Chesapeake Technology, EUA). Sobre os registros sonográficos foram
efetuadas medições de comprimento de onda e simetria das marcas onduladas
e megaonduladas, bem como medidas de altura das feições utilizando a
seguinte expressão: (Eq. 1)
Onde: Ht é a altura da feição, Hf a distância do peixe (fonte-receptor) ao fundo, Ls o
comprimento da sombra acústica e Rs a distância do peixe à feição. Calculados pelo software
utilizado.
4.4.1.2 Registros de Sub Botom Profiler
Para o pós-processamento dos registros sísmicos foram utilizados
os softwares específicos (SonarWiz5, Chesapeake Technology, EUA). Para
visualização e tratamento e MDPS para interpretação. Em cada registro foram
aplicados filtros digitais (passa-alta e passa-baixa), configurou-se, de maneira
individual, o ganho (gain ) e aumentaram-se as escalas verticais de cada perfil.
Através dos registros sísmicos foram obtidas medidas de comprimento das
ondas de areia, determinando-se a distância entre dois pontos
georreferenciados sobre duas cristas consecutivas (Eq. 2).
Onde: DP1P2 é a distância entre os pontos P1 e P2, e xi e yi são as coordenadas (em UTM)
associadas a tais pontos. Também foram obtidas medidas de altura e profundidade médias
(escala vertical ajustada com a velocidade de propagação do som no meio) e o comprimento
da projeção horizontal de cada face da feição, com o qual se obteve o índice de simetria (Eqs.
3 e 4).
73
Onde: Ls e Ll são as projeções horizontais de barlamar ( stoss side ) e sotamar (lee side )
respectivamente, sendo o segundo modificado (de -1) para relacionar feições simétricas com
valores próximos de zero. Obteve-se, também, a inclinação de cada face mediante uma
relação trigonométrica simples (Eq. 5).
Onde: Ax é o ângulo de inclinação (com relação à horizontal) de cada face, H é a altura da
feição e Lx é a projeção horizontal da face em questão, sendo x = s para o stoss
side e x = l para o lee side.
4.4.1.3 Classificação das feições submersas
Para a geração de feições de grande escala, um ambiente subaquoso
deve obedecer a algumas premissas (Dalrymple & Rhodes, 1995):
devem ser ambientes arenosos modernos;
apresentar profundidades superiores a 1 metro;
o tamanho das partículas sedimentares deve ser igual ou maior que 0,17
mm (2,5 ψ, areia fina) e;
as velocidades de corrente devem ser superiores a 0,4 m.s-1.
Dentro dessas características, três tipos de ambientes apresentam
condições sedimentares e hidrodinâmicas que favorecem a formação dessas
feições, a saber:
rios;
ambientes costeiros dominados por marés e;
ambientes marinhos rasos.
Ashley (1990) propôs uma maneira de classificar as feições de grande
escala, associando principalmente o tamanho e a forma destas aos processos
hidrodinâmicos que as geraram. Para tal, foi estabelecida uma hierarquia dos
principais descritores morfológicos das feições submersas de acordo com sua
importância:
74
de primeira ordem - comprimento de onda, altura e dimensionalidade:
2D ou 3D;
de segunda ordem - tamanho e orientação das feições superpostas, tipo
e granulometria do sedimento constituinte e;
de terceira ordem - ângulo das faces e simetria do perfil, características
do trem de ondas, área do leito coberta pela feição e evolução temporal.
Para considerar o tamanho de uma feição como sendo a relação entre
seu comprimento e sua altura, é possível utilizar a razão L/H, denominada
índice da forma vertical (Gorsline & Swift, 1977), através da qual os autores
subdividem as feições de grande escala da seguinte maneira:
para L/H < 20: megaondulações (feições submersas pequenas a
médias);
para L/H > 20: ondas de areia (feições submersas grandes a muito
grandes).
4.4.1.4 Integração e Análises de Dados
Após processamento e integração dos dados, esses foram interpretados
de modo a ser elaborada esta dissertação de mestrado e publicações em
eventos e periódicos científicos.
75
5 DISCUSSSÃO DE DADOS
A distribuição atual de fácies sedimentares na Plataforma Continental ao
largo do Ceará relaciona-se primeiramente ao nível de mar baixo (em torno de
–120 m) correlativo ao último máximo glacial, entre 22.000 e 14.000 anos A.P
(Martins & Coutinho, 1981), quando se depositaram areias litoclásticas em
ambientes transicionais (praias, campos de dunas eólicas e deltas), que foram
afogados pela transgressão subsequente e parcialmente retrabalhados com a
incorporação de novos componentes bióticos, assumindo um caráter
palimpsesto (Freire & Cavalcante, 1998). Essas fácies ocorrem principalmente
na face de praia, a profundidades menores que 15 m (Silva Filho, 2004).
A Plataforma Continental entre os municípios de Itarema e Acaraú,
objeto deste trabalho, apresenta características similares as encontradas no
Estado do Ceará, com largura média de 78 km, tendo as medidas de linha de
costa aproximada de 35 Km.
Conseguimos identificar várias feições ao longo dos trabalhos, tais
como, alinhamentos rochosos encontrados paralelos à costa, campos de
dunas, marcas de ondas e correntes e pequenos afloramentos rochosos, que
contrastam com a paisagem de imensos depósitos siliciclásticos.
A sedimentação atual é principalmente carbonática algálica, com
ausência de corais hermatípicos (Milliman, 1977; Carannante et al., 1988). As
fácies relacionadas ocorrem a profundidades maiores que 15 m, abrigadas da
ação das ondas (Silva Filho, 2004). As algas coralinas ramificadas de vida livre
(Lithothamnion) predominam no setor oeste da Plataforma cearense, enquanto
que as algas verdes calcificadas do gênero Halimeda produzem fácies de areia
e cascalho que ocorrem principalmente no setor leste da Plataforma
Continental ao largo do Ceará (Freire, 1985; Freire & Cavalcanti, 1998; Silva
Filho, 2004).
A partir destes dados oferecidos pelos autores citados no parágrafo
anterior, partimos para fazer a correlação com os dados adquiridos em
trabalhos de campo, apresentados na tabela abaixo: (tabela 1).
76
Tabela 1 – Análise granulométrica de amostras coletadas na área de estudo.
Comprovando a quantidade principal de material carbonático, proveniente das algas
calcárias que “recobrem” grande parte da plataforma continental daquela região.
Amostra % Carbonato CURTOSE ASSIMETRIA
ITA-1 92,00% MESOCÚRTICA POSITIVA
ITA-2 97,00% MESOCÚRTICA POSITIVA
ITA-3 92,00% PLATICÚRTICA APROXIMADAMENTE SIMÉTRICA
ITA-4 92,00% MESOCÚRTICA POSITIVA
ITA-5 99,00% MESOCÚRTICA NEGATIVA
ITA-6 90,00% PLATICÚRTICA POSITIVA
ITA-7 96,00% PLATICÚRTICA MUITO NEGATIVA
ITA-8 98,00% MESOCÚRTICA APROXIMADAMENTE SIMÉTRICA
ITA-9 98,00% MESOCÚRTICA POSITIVA
ITA-11 96,00% PLATICÚRTICA APROXIMADAMENTE SIMÉTRICA
ITA-12 99,00% LEPTOCÚRTICA APROXIMADAMENTE SIMÉTRICA
ITA-13 97,00% MUITO LEPTOCÚRTICA MUITO NEGATIVA
ITA-14 96,00% LEPTOCÚRTICA MUITO NEGATIVA
ITA-15 99,00% LEPTOCÚRTICA MUITO NEGATIVA
ITA-16 95,00% PLATICÚRTICA NEGATIVA
ITA-17 98,00% PLATICÚRTICA MUITO NEGATIVA
ITA-18 94,00% LEPTOCÚRTICA MUITO NEGATIVA Fonte: Próprio autor.
77
As amostras coletadas na Plataforma Interna e Média, adjacente ao município
de Itarema e Acaraú, indicaram pela análise granulométrica a predominância
de partículas grosseiras (65%). (gráfico 1).
Gráfico 1: Análise Granulométrica amostras Itarema e Acaraú.
Fonte: Próprio autor.
Na classificação de Larsonneur 1977 (Dias, 1996), foi verificado em
75% das amostras sedimentos como coquinas ou rodolitos, areia bioclástica
com grânulos, areia grossa a muito grossa e cascalho bioclástico. (gráfico 2).
Gráfico 2: Classificação de Larsonnerur 1977/ Dias 1996.
Fonte: Próprio autor.
0% 10% 20% 30% 40%
COQUINAS OU RODOLITOS
CASCALHO BIOCLÁSTICO
AREIA BIOCLÁSTICA COM GRÂNULOS
AREIA BIOCLÁSTICA MÉDIA
AREIA BIOCLÁSTICA FINA A MUITO FINA
AREIA BIOCLÁSTICA LAMOSA
AREIA BIOCLÁSTICA GROSSA A MUITO GROSSA
CLASSIFICAÇÃO DE LARSONNEUR 1977/DIAS 1996
78
Os biodetritos possuíram um alto percentual de carbonato de cálcio –
95% com total ou parcial presença de bioclastos, principalmente Lithothamniun,
rodolitos e moluscos. Já a Halimeda ocorre de forma acessória e aparece
apenas em duas amostras e em uma aparece viva (amostra ITA-06),
lembrando que essa alga calcária verde aparece diferentemente da espécie
Incrassata do setor leste da Plataforma Continental do Ceará, de forma
incrustante em rodolitos. O substrato dessa área analisada é composto,
predominantemente, por sedimentos biodetríticos, aparecendo de forma traço
os sedimentos siliciclástico, como o quartzo, principalmente.
A deposição desses biodetritos se processa de forma variegada, ou
seja, em uma mesma amostra se verificam percentuais significativos em mais
de uma textura que, apesar dessa variedade granulométrica, observa-se o
predomínio da fração grossa, sendo considerado um ambiente típico de
deposição, no qual a remobilização é inexistente ou ocorre esporadicamente
como em períodos de precipitações elevadas e/ou tempestades. Essas épocas
ocasionam mudanças nas características físico-químicas, turbidez da água e
remobilização do fundo e consequentes soterramentos que fazem com que
certas espécies bentônicas morram e/ou passem a habitar setores mais
distantes da costa. Por esse fato, verifica-se a questão das algas vermelhas
calcárias que migram para áreas mais distantes e, consequentemente,
afetando os organismos que dependem do substrato algálicos como a lagosta,
prejudicando assim aspectos socioeconômicos. Um fato que predominou nas
amostras em cima do banco de cascalhos na plataforma média é o de
sedimentos estarem quase que inteiramente constituídos de algas calcárias
vermelhas do gênero Lithothamniun (mais de 95%), onde seus restos se
encontram erodidos, microperfurados, ou seja, indicador de sedimento de
maior tempo no sistema, onde rara é a presença de algas vivas.
A distribuição das formas de fundo foi caracterizada e descrita a partir da
integração dos padrões de reflexão sonora e resposta do fundo aos sinais
sísmicos enviados pela fonte geradora. A distribuição de padrões sonográficos
se mostra coerente com a distribuição sedimentar na maior parte da área
sondada (figura 19), sendo possível identificar na superfície percorrida 5
79
respostas acústicas: (1) Fundo Homogêneo de Baixa Intensidade (associado a
sedimentos arenosos, como campos de sandwaves); (2) Dunas Submersas
(associado a sedimentos arenosos); (3) Formas de Fundo Irregulares
(associado a sedimentos com maior teor de carbonato); (4) Afloramentos de
possíveis linhas de Beach rock (associado a possíveis linhas de costa); (5)
Associação a formas de interferência humana (naufrágio, armadilhas para
captura de lagostas), nas armadilhas de captura de lagostas, podemos
destacar os covos artesanais e as chamadas “marambaias” (atratores
artificiais, construídos com matérias diversos, por vezes, pneus, ferro velho,
alvenaria) (Veronez Jr., 2009).
80
6 RESULTADOS E CONCLUSÕES
A partir do que foi discutido no capítulo anterior, chegamos às seguintes
conclusões:
1. O padrão identificado no Fundo Homogêneo de Baixa Intensidade
(figura 18) apresentou relação com uma única textura sedimentar,
estando o mesmo associado a sedimentos com granulometria
que vai de areia muito grossa a grossa. É o padrão que apresenta
a maior ocorrência.
2. O padrão denominado Dunas Submersas (figura 18) é
caracterizado por um padrão intercalado de baixa e alta
intensidade onde se observa as grandes feições de fundo, estas
formas geomorfológicas estão diretamente ligadas à direção das
ondas e correntes que incidem na área.
3. Formas de fundos irregulares: essas formas estão associadas à
formação de bancos de algas calcárias, os sedimentos se
apresentam com granulometria entre o cascalho e o cascalho
arenoso, configuram como habitat de lagostas.
4. Afloramentos de antigas linhas de costa: foram definidos
alinhamentos paralelos à costa que indicam possíveis antigas
linhas de costa. Datações podem nos dar provas da idade
geológica, são resultados esperados em trabalhos subsequentes
a serem conduzidos por este autor.
5. Associação à interferência humana: Marambaias (Atratores
artificiais), que servem de refúgio para peixes e lagostas. Elas são
construídas por pescadores para criar um habitat onde espécies
possam se refugiar. Um navio Petroleiro da Segunda Guerra
Mundial naufragado também faz parte destes fundos, associados
ao banco de cascalho carbonático, localizado em trabalho de
campo da geofísica na área e confirmado pelos pescadores.
81
6. Concomitante ao levantamento sonográfico, os registros sísmicos
apresentaram grande correlação com o material de fundo da
região de Itarema e Acaraú, sendo possível identificar quatro
respostas sísmicas diferentes e relacioná-las com as respectivas
características granulométricas de fundo e padrões sonográficos,
como ilustra a figura 18.
7. O ecocaráter Plano de Baixa Reflexão (figura 18) é representado
na sísmica por um fundo sedimentar com baixa reflexão de sua
superfície, seguindo por uma fácies sísmica tipicamente
transparente. A base desta camada transparente é marcada por
uma superfície de subfundo de grande reflexão, a partir da qual o
sinal acústico apresenta pouca ou nenhuma penetração, e não é
mais observado refletores de subfundo. Este ecocaráter está
restrito aos trechos onde ocorre diminuição da hidrodinâmica
junto ao fundo provocada pela calmaria propiciada pelo estuário
dos rios, favorecendo a deposição de sedimentos lamosos. Esta
resposta sísmica, pelas características de baixa reflexão da
superfície deste fundo sedimentar apresentadas na sísmica, pode
ter relação com depósitos de lama fluida. Ocorrendo dentro do
estuário dos rios Acaraú e rio do Porto dos barcos em Itarema
(figura 19). A lama fluida é um estado do sedimento lamoso
intermediário entre o fundo lamoso e o material particulado em
suspensão, onde, apesar de ter altas densidades, o depósito
apresenta as características e o comportamento de um fluido
(figura 21).
8. A integração dos métodos geofísicos e granulométricos utilizados
neste trabalho se mostrou importante e adequada para a
inferência dos processos sedimentares da região de estudo,
assim como para a conclusão dos objetivos propostos,
conseguimos identificar feições e substratos na Plataforma
Continental e, consequentemente, observar a paisagem
submersa daquela área.
82
9. A distribuição das respostas sísmicas (fácies sedimentares) se
mostrou condizente com a distribuição faciológica; as
amostragens corresponderam aos dados sísmicos obtidos.
10. A análise de registros sísmicos é importante para a
caracterização ou mapeamento acústico do fundo marinho
(paisagem submersa), contribuindo para os estudos da geografia
e geomorfologia daquela região da Plataforma Continental. A
combinação dos registros e da sondagem sedimentar permite a
interpretação dos processos sedimentares atuantes no ambiente.
11. O termofácie, associado ao sinal acústico, tem como objetivo
indicar a resposta acústica (tanto de um perfilador acústico
quanto de um sonar de varredura lateral) do leito marinho ou
estuarino em função da sua granulometria, textura, grau de
compactação e morfologia. Com isso, uma ecofácies é descrita
aqui como sendo a combinação de um tipo de ecocaráter (padrão
de reflexão a partir de um perfilador monofeixe, geralmente de
alta freqüência, > 3,5kHz), com o padrão sonográfico (as
intensidades de retorno do sinal acústico emitido por um sonar de
varredura lateral).
83
Figura 18: Formas de fundo e respectivas respostas acústicas adquiridas em trabalhos
de campo na área de estudo. 1. Fundo homogêneo de baixa intensidade (campos de
sandwaves); 2. Dunas Submersas; 3. Formas de fundo irregular (material bioclástico); 4.
Não se aplica a esta imagem; 5. Interferência antropogênica (armadilhas para pesca de
lagostas).
Fonte: Próprio autor.
84
Figura 18: Registro de Sedimentos Lamosos dentro do estuário do rio do Porto dos
Barcos em Itarema.
Fonte: Próprio autor
12. Melhorias tecnológicas recentes ao método de aquisição de
dados sísmicos e aos sistemas de processamento de dados,
através de programas específicos, aumentaram a capacidade
técnica para resolver e explicar detalhes do fundo do mar,
morfologia e transporte de sedimentos. Neste estudo,
conseguimos identificar feições (12 m de comprimento de onda,
0,25 m de amplitude) não visíveis se não dispuséssemos de
tecnologia apropriada, adequando a resolução no ato do
processamento conseguimos identificar ondas em grande escala
(~ 60 m de comprimento de onda, de 1,5 m de amplitude). A
85
inspecção dos dados sugere que a características sobrepostas
podem ser controladas por tempo regional padrões de circulação,
bem como da camada limite de fluxo de deflexão a sotavento dos
grandes cristas bedform. A comparação feita entre dois inquéritos
obtidos em abril e novembro de 2008 revela degradação dos
bedforms sobrepostas seguinte marés de maior amplitude do que
em abril. Em vez de medições, os resultados numéricos modelo
indicam o limiar velocidade a ser entre 55 e 90 cm / s para
secundário deflação bedform (d50 = 0,35 mm). Os resultados do
modelo também suportam a hipótese de que os gradientes de
transporte de sedimentos taxas de conduzir os padrões de
migração bedform em grande escala, e que bedforms
sobrepostas são o resultado de mudanças de fase da maré, e
variações regionais e locais da batimetria, resultando numa
direcção topográfica multibeam batimetria. Medidas obtidas de 11
anos revelam significativas mudanças na forma e tamanho das
ondas de areia em grande escala. Por causa de essas alterações
dos padrões de fluxo brutos serem improváveis, essas mudanças
são pensadas para serem relacionadas a outros fatores tais como
modificações de fornecimento de sedimentos. Fluxo da camada
limite dinâmica é extremamente complexo e mudança ao longo do
pequeno escalas espaciais; maior resolução batimétrica é,
portanto, essencial para a obtenção de dados de campo que
podem ser utilizados para testar modelos.
86
Figura 20 - Mosaico sísmico e a correlação com os sedimentos de fundo.
Fonte: Próprio autor.
87
Figura 19 - Classificação a partir da reflectância GLCM Std Dev vertical.
Fonte: Próprio autor.
88
Figura 20 - Padrão de resposta sísmica
Fonte: Próprio autor.
89
Figura 21- Padrão de resposta sísmica para diferentes texturas e formas de fundo, cor
(i) vermelha, (ii) amarela, (iii) roxo.
Fonte: Próprio autor
Figura 22- formas de fundo na plataforma de Itarema e Acaraú
Fonte: Próprio autor
90
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