Revista Espaço para a Saúde, Londrina, v.1, n.2, p. 89-112 - , jun. 2000. INTERNAÇÕES PEDIÁTRICAS NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO REGIONAL NORTE DO PARANÁ, 1998 1 Bernadete Nardo Teodoro 2 Selma Maffei de Andrade 3 INTRODUÇÃO O processo de Reforma Sanitária, desencadeado em meados dos anos 70, acentuou algumas tendências relativas à organização do Sistema de Saúde, culminando com o estabelecimento do Sistema Único de Saúde (SUS) em 1988, através da promulgação da Constituição Federal, garantindo à população o direito universal de assistência à saúde. Conforme o artigo 198, o SUS tem como diretrizes a universalidade, a descentralização, a integralidade, a eqüidade e a participação da comunidade, que devem orientar e direcionar as políticas públicas no sentido de 1 ? Artigo baseado em monografia de conclusão do Curso de Especialização em Saúde Coletiva em 1999, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Estadual de Londrina. 2 Enfermeira da Unidade de Pediatria do Hospital Universitário Regional do Norte do Paraná/HURNP. 3 Enfermeira, doutora em Saúde Pública, Professora Adjunta do Departamento Materno Infantil e Saúde Comunitária, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Estadual de Londrina. 89
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Revista Espaço para a Saúde, Londrina, v.1, n.2, p. 89-112 - , jun. 2000.
INTERNAÇÕES PEDIÁTRICAS NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO
REGIONAL NORTE DO PARANÁ, 19981
Bernadete Nardo Teodoro2
Selma Maffei de Andrade3
INTRODUÇÃO
O processo de Reforma Sanitária, desencadeado em meados dos
anos 70, acentuou algumas tendências relativas à organização do Sistema
de Saúde, culminando com o estabelecimento do Sistema Único de Saúde
(SUS) em 1988, através da promulgação da Constituição Federal,
garantindo à população o direito universal de assistência à saúde. Conforme
o artigo 198, o SUS tem como diretrizes a universalidade, a
descentralização, a integralidade, a eqüidade e a participação da
comunidade, que devem orientar e direcionar as políticas públicas no sentido
de constituir um modelo de atenção à saúde com enfoque para a melhoria
da qualidade de vida da população.
Segundo SILVA (1996), este modelo não se limita em definir a saúde
como ausência de doenças, cujas ações de saúde são estruturadas na cura
do enfermo e no controle das doenças. Ultrapassa esta concepção,
introduzindo o conceito de que o processo saúde-doença ocorre na medida
em que os seres humanos numa determinada sociedade produzem a vida, 1
? Artigo baseado em monografia de conclusão do Curso de Especialização em Saúde Coletiva em 1999, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Estadual de Londrina.2 Enfermeira da Unidade de Pediatria do Hospital Universitário Regional do Norte do Paraná/HURNP.3 Enfermeira, doutora em Saúde Pública, Professora Adjunta do Departamento Materno Infantil e Saúde Comunitária, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Estadual de Londrina.
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numa relação com outros seres humanos, com a natureza e com o processo
de trabalho.
Um dos pontos fundamentais para a construção deste novo modelo é
a informação em saúde que, segundo CARVALHO & EDUARDO (1998),
deve ser compreendida como um instrumento para conhecer a realidade
socio-econômica, demográfica e epidemiológica, para planejar, gerenciar,
organizar e avaliar os vários níveis que integram o SUS.
Através das informações podemos obter indicadores de saúde que
refletem o nível de vida da população, coeficientes de mortalidade e suas
causas determinantes, padrão de morbidade da população ou da demanda
atendida pelos serviços, grau de risco de um evento ou agravo em saúde,
conhecer a estrutura da população segundo características de sexo, idade,
estado civil, religião, estrutura socio-econômica da população, tipo e
qualidade das habitações, ambientes domiciliários, entre outros.
Por conseguinte, as informações são consideradas alicerces de um
sistema mais abrangente voltado às necessidades de saúde da população,
indo além dos tradicionais bancos de dados que são direcionados à doença
ou à oferta de serviços (MENDES, 1993).
Neste contexto, as informações em morbidade têm um papel
fundamental, pois permitem indicar a prevalência, incidência e letalidade
das doenças; em que dimensão as doenças estão incidindo em grupos
específicos da população, por exemplo, de acordo com sexo, idade, raça,
ocupação, procedência (LEBRÃO, 1997).
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Sobre as informações em morbidade CARVALHO & EDUARDO
(1998, p. 32 ) descrevem que:
“...fornecem dados importantes para o controle das doenças; para a investigação de etiologia e patogenia e da relação com fatores econômicos, sociais e culturais; para a investigação de eficácia das medidas preventivas e terapêuticas; para estudos nacionais e internacionais da distribuição das doenças e para o planejamento de serviços destinados a prevenção e a cura das doenças.”
Dentre as fontes de informações em morbidade estão as estatísticas
hospitalares que, apesar das restrições ao seu uso devido ao seu caráter
seletivo e parcial, é um dos únicos registros sistemáticos de informações em
morbidade. São consideradas seletivas pois fornecem informações de
doenças que exigiram hospitalização, e parciais porque apenas uma parte
delas chega ao hospital. Portanto, as estatísticas hospitalares não
representam a morbidade do coletivo (LEBRÃO, 1997).
O hospital é uma instância de assistência de nível terciário, ou seja,
de média ou alta complexidade, e também é considerado a parte mais
dispendiosa do Sistema de Saúde. Sobre o uso administrativo das
estatísticas hospitalares no planejamento dos serviços, LEBRÃO (1997, p.
63), afirma que:
“...as informações deveriam estar disponíveis a fim de permitir o acompanhamento de mudanças no padrão de demanda e utilização dos serviços hospitalares, a programação de determinados serviços de diagnóstico e tratamento ou, ainda, a verificação da eficiência e eficácia do hospital.”
Um dos exemplos de grande importância dessa fonte de informações
é o Centro de Processamento de Dados Hospitalares, do município de
Ribeirão Preto, Estado de São Paulo, que funciona desde 1970 no 91
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Departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo, onde são trabalhadas as informações de todos
os pacientes internados nos 12 hospitais da região. Através desse sistema
de informação foi possível realizar vários estudos, entre os quais podemos
destacar: Desigualdade entre pacientes hospitalizados por doenças
cardíacas e vasculares-cerebrais em localidade do Estado de São Paulo
(BRASIL), 1986 (YAZLLE ROCHA et al., 1989), Assistência hospitalar como
indicador da desigualdade social (YAZLLE ROCHA et al., 1997), Estudo da
assistência hospitalar pública e privada em bases populacionais, 1986-1996
(YAZLLE ROCHA & SIMÕES, 1999), entre outros.
Tendo em vista essas considerações, o presente trabalho objetivou
estudar as internações da Unidade de Pediatria do Hospital Universitário
Regional do Norte do Paraná (HURNP) de acordo com algumas
características ligadas às crianças e ao Serviço.
METODOLOGIA
O HURNP é um órgão suplementar da Universidade Estadual de
Londrina – PR, que iniciou seu funcionamento em 1971, sendo o único
hospital público de grande porte na região norte do Paraná. Constitui-se em
um centro de referência regional para o SUS e sua área de influência
alcança mais de 200 municípios dos estados do Paraná, São Paulo e Mato
Grosso do Sul.
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A Unidade de Pediatria/HURNP, em 1998, era composta de 36
leitos, sendo distribuídos entre as clínicas de cirurgia infantil (12 leitos),
pediatria geral (19 leitos) e outras especialidades (5 leitos).
A casuística foi composta pelas saídas registradas durante todo o ano
de 1998 no relatório de altas e óbitos produzido pelo Serviço de Arquivo
Médico e Estatística (SAME) e fornecido, para fins da presente pesquisa, em
formato impresso.
As variáveis estudadas foram: sexo, idade, clínica de internação,
procedência (residente em Londrina, outros municípios do Paraná e outros
estados), tempo de permanência, diagnóstico principal segundo os capítulos
I a XIX da Classificação Internacional de Doenças, décima revisão – CID-10
(Organização Mundial da Saúde, 1995), diagnóstico secundário (referente à
causa externa de lesões ou envenenamentos, segundo o capítulo XX da
CID-10) e tipo de saída hospitalar (alta ou óbito).
As variáveis clínica de internação, idade, sexo, tempo de
permanência, meses de internação e tipo de saída foram coletadas do
próprio relatório de altas e óbitos do SAME. Para as variáveis procedência,
diagnóstico principal e secundário, foi necessário coletar informações de
outra ficha disponível no Hospital (denominada “Setor de Classificação”)
para cada saída hospitalar observada.
Para processamento geral dos dados foi utilizado o processador de
texto, banco de dados e processador estatístico para saúde pública Epi Info
6.04.
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Os resultados foram apresentados em tabelas e figuras, em números
absolutos e percentuais, sendo ainda calculados os seguintes indicadores
(LEBRÃO, 1997):
Tempo médio de permanência: total de pacientes-dia no ano em
relação ao total de leitos-dia no mesmo período, multiplicado por
100;
Tempo mediano de permanência: valor central do conjunto dos
dias de internações ordenados forma crescente;
Taxa de mortalidade da Unidade: relação entre o número de óbitos
e o número de saídas no mesmo período, multiplicado por 100.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em 1998, houve 1136 saídas da Unidade de Pediatria do HURNP,
sendo que 57,2% foram pacientes do sexo masculino e 42,8% do sexo
feminino (Figura 1).
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Figura 1 - Distribuição de internações segundo sexo. Unidade de Pediatria do HURNP, Londrina, 1998.
Quanto aos grupos de idade, percebemos que o mais freqüente foi o
de 0 a 4 anos, correspondendo a 782 internações (69,2% do total),
conforme demonstrado na Tabela 1.
Tabela 1 – Distribuição de internações segundo faixa etária. Unidade de Pediatria do HURNP, Londrina, 1998.
Faixa etária (anos) Número %
0 |-- 5 782 69,2
5 |-- 10 231 20,4
10 |-- 15 117 10,4
Total* 1130 100,0
* Excluídos 6 casos com idade ignorada.
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Resultados semelhantes foram constatados por MATHIAS &
SOBOLL (1996) que caracterizaram a morbidade hospitalar de 8 hospitais
gerais do município de Maringá – PR, onde as internações se concentraram
em crianças de até 4 anos.
Na Tabela 2 é apresentada a distribuição de internações segundo as
clínicas de internação.
Tabela 2 - Distribuição de internações segundo clínica. Unidade de Pediatria do HURNP, Londrina, 1998.
Clínica Número %
Pediatria geral 550 48,4
Cirurgia Infantil 436 38,4
Ortopedia 55 4,8
Neurologia 27 2,4
Hematologia 29 2,6
Oftalmologia 17 1,5
Otorrinolaringologia 22 1,9
Total 1136 100,0
Verifica-se que 48,4% das internações foram da clínica de pediatria
geral. Estes dados podem estar relacionados ao número de leitos ofertados
em cada clínica. Do total de leitos da Unidade, a pediatria geral dispõe de 19
leitos, que correspondem a 52,8%. A cirurgia infantil dispõe de 12 leitos
(33,3%) e as outras especialidades de 5 leitos (13,9%). Podemos verificar
que a cirurgia infantil realizou 435 internações (38,3%), com 33,3% do total
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de leitos, demonstrando que esta clínica tem uma maior rotatividade,
comparado à pediatria geral e demais clínicas. Segundo LEBRÃO apud
CARVALHO (2000), o tempo de permanência das internações,
principalmente das cirúrgicas, vem diminuindo nos últimos anos, em função
das inovações tecnológicas que vêm ocorrendo na assistência à saúde.
Conforme demonstra a Figura 2 a maioria das internações foram de
pacientes procedentes do município de Londrina (62,5%), seguidos de
outros municípios do estado do Paraná (35,7%) e de outros estados (1,8%).
Estes dados indicam realidade semelhante à do município de Maringá – PR,
relatada por MATHIAS & SOBOLL (1996), onde a maior parte das
internações foram de pacientes procedentes do próprio município de
Maringá (66,4%).
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Figura 2 - Distribuição de internações segundo procedência. Unidade de Pediatria do HURNP, Londrina, 1998.
Segundo dados levantados pela Seção de Estatística do HURNP, no
total de internações do Hospital, a procedência é semelhante aos dados da
Unidade de Pediatria, embora nesta a proporção de residentes em Londrina
seja um pouco menor. No ano de 1998, das 11510 internações, 8126
(70,6%) foram do município de Londrina, 3321 (28,8%) de outros municípios
do Estado do Paraná e 63 (0,5%) de outros Estados (BIAZIN et al., 1999).
A Tabela 3 apresenta a distribuição das internações segundo
procedência e clínicas de internação.
Tabela 3 - Distribuição de internações segundo procedência e clínicas de
internação. Unidade de Pediatria do HURNP, Londrina, 1998.
Procedência98
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Londrina Outros/Paraná Outros estados TotalNo % No % No % No %