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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ DIEGO SOTTI GONÇALVES DE SALES MUDANÇAS NO MERCADO ACIONÁRIO BRASILEIRO NO LIMIAR DO SÉCULO XXI MARINGÁ 2008
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ DIEGO SOTTI GONÇALVES DE SALES MUDANÇAS NO MERCADO ACIONÁRIO BRASILEIRO NO LIMIAR DO SÉCULO XXI MARINGÁ 2008

May 15, 2023

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

DIEGO SOTTI GONÇALVES DE SALES

MUDANÇAS NO MERCADO ACIONÁRIO BRASILEIRO NO LIMIAR DO SÉCULO

XXI

MARINGÁ

2008

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DIEGO SOTTI GONÇALVES DE SALES

MUDANÇAS NO MERCADO ACIONÁRIO BRASILEIRO NO LIMIAR DO SÉCULO

XXI

Trabalho apresentado ao Departamento de Economia,

do Centro de Ciências Sociais Aplicadas da

Universidade Estadual de Maringá, como requisito

parcial da disciplina de monografia para a conclusão do

curso de Ciências Econômicas.

Orientador: Prof. Dr. Neio Lúcio Peres Gualda

Coordenadora de Monografias: Prof. Dra. Maria de Fátima Garcia

MARINGÁ

2008

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DIEGO SOTTI GONÇALVES DE SALES

MUDANÇAS NO MERCADO ACIONÁRIO BRASILEIRO NO LIMIAR DO SÉCULO XXI

Trabalho apresentado ao Departamento de Economia, do Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Estadual de Maringá, como requisito parcial da disciplina de monografia para a conclusão do curso de Ciências Econômicas.

Aprovado em 24/11/2008

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________________

Prof. Dr. Neio Lúcio Peres Gualda

Orientador/Universidade Estadual de Maringá

___________________________________________________________________

Prof. Dr. Marcelo Farid Pereira

Professor convidado 1/Universidade Estadual De Maringá

___________________________________________________________________

Prof. Ms. Antonio Zotarelli

Professor convidado 2/Universidade Estadual de Maringá

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SUMÁRIO

RESUMO ................................................................................................................... 2

ABSTRACT ............................................................................................................... 3

INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 6

1. SURGIMENTO E FUNÇÃO DO MERCADO ACIONÁRIO .................................. 8

2. O MERCADO ACIONÁRIO BRASILEIRO ........................................................ 12

2.1. SURGIMENTO E DESENVOLVIMENTO INICIAL DO MERCADO

ACIONÁRIO NO BRASIL ........................................................................................ 12

2.2. MARCOS REGULATÓRIOS E CONSTITUIÇÃO DO MERCADO ACIONÁRIO

BRASILEIRO ATÉ 1999 .......................................................................................... 14

3. MUDANÇAS DO MERCADO ACIONÁRIO BRASILEIRO NO PERÍODO DE

1999 A 2008 ............................................................................................................ 19

3.1. MUDANÇAS REGULATÓRIAS E OPERACIONAIS ..................................... 20

3.2. MUDANÇAS DA CONSTITUIÇÃO DOS ÓRGÃOS DO MERCADO

ACIONÁRIO ............................................................................................................ 25

4. EVOLUÇÃO DE INDICADORES DO MERCADO ACIONÁRIO BRASILEIRO

NO PERÍODO DE 1999 A 2008 ............................................................................... 27

4.1. EVOLUÇÃO DO IBOVESPA ......................................................................... 30

4.2. EVOLUÇÃO DO PERFIL DOS INVESTIDORES ........................................... 35

4.3. CAPITALIZAÇÃO BURSÁTIL, EMISSÕES PRIMÁRIAS E VOLUME DE

NEGÓCIOS.............................................................................................................. 39

CONCLUSÃO .......................................................................................................... 44

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 46

ANEXOS .................................................................................................................. 50

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RESUMO

O nível de investimentos de uma economia é de importância consensual para

seu crescimento e solidez. Uma das formas conhecidas mais eficientes de direcionar

recursos da poupança de uma população para as firmas é o mercado acionário, que

no caso brasileiro experimentou evolução recorde nos últimos anos. Assim, o

presente estudo busca discutir a trajetória recente do mercado acionário brasileiro,

buscando destacar as principais mudanças operacionais e regulatórias deste

mercado, e as razões de sua expansão. O trabalho busca, ainda, ilustrar a relação

existente entre as mudanças expostas, os principais fatores exógenos de impacto

sobre a evolução deste mercado, e os indicadores do mesmo. Para tanto, realiza

algumas análises de correlação para determinar a existência ou não de correlação

entre os diferentes fatores, e seu impacto na evolução do mercado acionário entre

janeiro de 1999 e junho de 2008, período de efervescência e mudanças importantes

para o mesmo.

PALAVRAS-CHAVE: Mercado acionário; Ibovespa; Investimento estrangeiro.

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ABSTRACT

The investment level of an economy is of consensual importance for its growth

and soundness. One of the most known efficient paths to directing families’ savings

to firms is the stock market, which, in the Brazilian case experienced record level

evolution in the recent past years. Therefore, the present study aims to discuss the

brazilian stock market’s recent trajectory, seeking to highlight the main operational

and regulatory changes within this market, and the reasons for its expansion. The

paper intends, yet, to illustrate the existing relationship between the exposed

changes, the main exogenous factors acting over this market, and the indicators of

the latter. For that, the paper runs some correlation analysis in order to determine

whether is there a level of correlation among the different factors, and their impact

over the evolution of the stock market in between January of 1999 and June of 2008,

a period of effervescency and key-changes for this market.

KEYWORDS: Stock market; Ibovespa; External investment.

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LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1. Ibovespa fechamento mensal X Taxa SELIC alvo (a.a). – janeiro/1999 a junho/2008.......................................................................................31 GRÁFICO 2. Ibovespa fechamento mensal – janeiro/1999 a junho/2008............32 GRÁFICO 3. Participação dos investidores no volume financeiro total da Bovespa - 2000 a junho de 2008.............................................................................36 GRÁFICO 4. Evolução da distribuição do saldo líquido anual de Investimentos Estrangeiros em Carteira - IEC x Evolução do EMBI+ Brazil médio anual – 1999 a 2008............................................................................................................... ..........37 GRÁFICO 5. EMBI+ Brazil (pontos base) X Ibovespa fechamento mensal – janeiro/1999 a junho/2008........................................................................................38 GRÁFICO 6. Volume Médio Diário Negociado na Bovespa (R$ Milhões) x Liquidez Bovespa - 1999 a junho de 2008..............................................................40 GRÁFICO 7. Capitalização bursátil Bovespa (US$ Bilhões) X N° de empresas negociadas – dezembro/2006 a junho/2008...........................................................40 GRÁFICO 8. Quantidade de emissões primárias/mês X Ibovespa fechamento mensal – maio/2004 a junho/2008...........................................................................41 GRÁFICO 9. Volume de captação primária (R$)/mês X Ibovespa fechamento mensal.......................................................................................................................42 GRÁFICO 10. Formação Bruta de Capital Fixo Trimestral x Ibovespa fechamento trimestral - 1999 a junho de 2008.......................................................43

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1. Referência de grau de correlação linear...............................ANEXO A

QUADRO 2. Escala de avaliação de crédito de longo prazo para títulos públicos........................................................................................................ANEXO B

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INTRODUÇÃO

O mercado de capitais é, segundo Schumpeter (1964), o responsável pelos

planos de desenvolvimento econômico futuro1. Enquanto parte do mesmo, o

mercado acionário tem papel fundamental na intermediação financeira voltada a

investimentos produtivos. Como demonstrado por Neto & Félix (2002) apud Grôppo

(2004), os níveis de investimento possuem relação causal direta com o mercado de

capitais.

Ainda, segundo Rocca (2004), para que o mercado de capitais - aí incluso o

mercado acionário, cumpra o papel de financiar o crescimento econômico, é

importante que haja, entre outros fatores, um ambiente regulatório estável e

estimulante ao investimento privado. Portanto, e levando-se em conta que no

período compreendido entre 1999 e 2008 houve abundantes mudanças regulatórias

e operacionais no mercado acionário brasileiro, julga-se de importância conhecer as

principais mudanças deste mercado e sua evolução no período.

Dentro deste escopo busca-se no presente trabalho apresentar e discutir as

principais mudanças regulatórias e operacionais do mercado acionário brasileiro

entre janeiro de 1999 e junho de 2008 e a evolução de seus principais indicadores

no mesmo período. Para que tal objetivo seja alcançado empregar-se-á como

procedimento metodológico básico a pesquisa documental e bibliográfica - para as

informações relativas às mudanças na regulação e operação. Para a determinação

das relações entre as variáveis de estudo, será empregada a análise de correlação a

partir de dados estatísticos relativos aos indicadores do mercado estudado.

Além desta introdução, esta monografia está composta em três diferentes

partes. Inicialmente, será apresentada a função e formação do mercado acionário,

referente ao conceito deste mercado em seus primórdios, e surgimento e breve

exposição de sua evolução até 1999 no Brasil. Na segunda parte serão expostas as

1 “O mercado monetário é sempre, por assim dizer, o quartel-general do sistema capitalista, do qual partem as ordens para suas divisões individuais, e o que ali é debatido e decidido é sempre em essência o estabelecimento de planos para o desenvolvimento posterior”. Schumpeter, 1934, p.127. Schumpeter usa aqui termo “mercado monetário” como sinônimo de “mercado de capitais”.

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mudanças ocorridas no período de 1999 a 2008 no mercado acionário brasileiro, o

que envolve os marcos regulatórios e a evolução operacional das bolsas de valores

brasileiras ocorrida então. Finalmente, será apresentada a evolução dos principais

indicadores do mercado brasileiro, ocasião em que serão analisados de acordo com

os fatores que contribuíram para sua evolução.

Espera-se, por meio da exposição e análise do comportamento do mercado

acionário no período, comprovar-se a importância de um arcabouço regulatório

eficiente para que haja expansão do mesmo mercado pela obtenção - a partir do

desenvolvimento da exposição e análise supracitadas, a comprovação da hipótese

de que as mudanças operacionais e regulatórias ocorridas no mercado acionário

brasileiro de 1999 a 2008 afetaram seu desenvolvimento no mesmo período.

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1. SURGIMENTO E FUNÇÃO DO MERCADO ACIONÁRIO

O mercado acionário constitui o ambiente de distribuição e negociação de

valores mobiliários referentes ao capital social de empresas que sejam sociedades

por ações. Segundo Oliveira (1980), a gênese das sociedades anônimas deu-se no

momento em que o mercado de crédito deixou de ser suficiente para o

financiamento da manutenção e crescimento da atividade produtiva, principalmente

pelos custos e prazos impostos pelo mercado de crédito. Segundo Miranda Valverde

(apud Oliveira, 1980), a primeira sociedade por ações surgiu em 1407, quando a

República de Gênova, por não poder honrar juros de títulos de dívida por ela

emitida, transformou estes em ações nominativa e negociáveis.

No entanto, ainda de acordo com a Oliveira (1980), o que criou o mercado de

ações livre foi a necessidade de negociar efetivamente os títulos mobiliários

referentes ao capital social das sociedades por ações, já que, para que haja

captação de recursos fiduciários junto aos potenciais investidores, não basta sua

emissão, mas é necessário que exista a possibilidade de negociação dos títulos

emitidos entre diferentes investidores, dadas as diferentes intenções cada indivíduo

ao adquiri-los2. Isto é, o funcionamento adequado do mecanismo de captação de

recursos pelas sociedades por ações de capital aberto dependia da aproximação de

compradores e vendedores de títulos, o que inicialmente era feito pelos corretores,

de forma individual.

Os corretores de títulos viriam, com o desenvolvimento de suas atividades, a

associar-se e manter ambientes de negociação contínua de títulos, que viriam a ser

chamadas de bolsas de valores (Oliveira, 1980). A expressão “bolsa”, em seu

sentido comercial e financeiro, foi concebida em Bruges, na Bélgica, ao fim do

século XV, e, na França, há documentos com referência à existência, em 1549 de

2 “Alguns comprarão [as ações] esperando lucros futuros, outros para vendê-las caso necessitem eventualmente do dinheiro para alguma despesa extraordinária”. OLIVEIRA, 1980, p.52

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uma “Bolsa de Lyon”, e relatos que dão conta da existência de organizações

semelhantes no mesmo período em Ronen e Toulose (CARMELLO, 1997)3.

Assim, com a existência de ambiente apropriado à negociação de ações,

estabelece-se o conceito de mercado primário e mercado secundário. De acordo

com a necessidade por parte das sociedades emissoras de ações – captação de

recursos para inversão produtiva, forma-se o mercado primário, em que, conforme

exposto por Pinheiro (2006), dá-se a criação das ações e sua subseqüente emissão

em bolsa de valores. Nesta etapa acontece a capitalização da empresa emissora,

pela venda de parte de seu capital social.

Em continuidade a emissão primária, o mercado secundário passa a

desenvolver seu papel, que é o de satisfazer a necessidade dos investidores do

mercado acionário por liquidez, que, ainda segundo Pinheiro (2006), é definida pela

negociação dos títulos já emitidos entre os investidores, e que, forma condição sine

qua non para a formação do que Hilferding definiu como “capital fictício”, e que, na

visão crítica deste autor sobre o mercado acionário, permite a mobilização do capital

na economia capitalista4.

Um pressuposto fundamental do mercado secundário de ações, e que

diferencia o mercado acionário das demais formas de intermediação é a

imprevisibilidade de retorno dadas as expectativas sobre o desempenho das firmas

emissoras dos títulos. Como exposto por Hilferding:

Só que aqui [na bolsa de valores] a diversidade de preços não se explica, em primeiro lugar, pela diversidade de preços de produção [...] mas se dá exclusivamente por uma relação diferenciada entre oferta e procura. Se, digamos, uma ação de açúcar e uma de ferrovia dão o mesmo rendimento, a cotação da ação da ferrovia pode ser mais alta porque um maior número de pessoas querem comprá-la, pois, na opinião delas, promete maior estabilidade no seu rendimento. (HILFERDING, 1985, p. 146-147)

O mercado acionário é alvo de diversos estudos que relacionam seu

desenvolvimento ao aumento dos investimentos produtivos na economia, que Souza

3 Embora, como exposto pela CNBV (1980, p.111) “A bourse de Parisfoi implantada [...] em 1141, sendo regulamentada em 1304”, a menção à regulamentação diz respeito “a uma ordenança [...] determinando um lugar fixo para os banqueiros de Paris efetuarem suas transações, com exclusão de quaisquer outros, dizendo: ‘O câmbio de Paris será feito na Grande Ponte, ao lado da Gréve’ “. Assim, toma-se como evidência das primeiras bolsas de valores as do século XV e XVI. 4 “A mobilização do capital transforma, em proporções crescentes, a propriedade capitalista em títulos de rendimento e, com isso, torna o processo de produção capitalista, em volume crescente, independente da propriedade capitalista”. HILFERDING, 1985, p.144

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(2005) define como fator crítico para o desenvolvimento econômico5. Segundo

Pinheiro (2006), o mercado primário de ações constitui possibilidades importantes

para a realização de investimentos com riscos diluídos e representa fonte importante

para o crescimento econômico ao: aumentar as alternativas de financiamento das

empresas; reduzir o custo agregado de financiamentos; diversificar e distribuir o

risco entre os investidores; e democratizar o acesso ao capital.

Nobrega et al (2000) argumentam que enquanto a poupança é fundamental

para a viabilidade de investimentos, a mesma deve ser eficientemente aplicada para

que o custo de investimento seja baixo, e opina que o mercado de capitais –

incluindo o mercado acionário, é a forma mais eficiente de direcionar os recursos

dessa poupança. Os autores concluem ainda que para haver expansão desse

mercado, é importante que haja regulação e ambiente de negócios eficiente, de

forma a institucionalizar a poupança para direcionamento da mesma aos tomadores

de recursos para atividades produtivas.

A presença de um mercado de ações eficiente permite buscar a viabilização do maior número de seleções privadas em áreas onde, de outra forma, só seriam possíveis pela empresa estrangeira ou estatal. (OLIVEIRA, 1980, p.53)

Em seu trabalho sobre a relação entre o desempenho do mercado acionário e

crescimento econômico no longo prazo, Levine (1996) ratifica a relação entre

mercados acionários com alta liquidez e crescimento econômico superior no período

de dezoito anos subseqüentes6.

Concluí-se, portanto, que há relação comprovada por diversos autores entre o

crescimento econômico e o desenvolvimento do mercado de capitais, sobretudo o

mercado acionário. E há ainda, a expressão por parte de alguns deles de que, para

o mercado acionário cumpra o papel de fomentador da economia, é necessário que

o mesmo seja eficientemente regulado e operado7.

No próximo capítulo será tratada a constituição e evolução inicial do mercado

acionário no Brasil, como forma de estabelecer a estrutura sobre a qual ocorreram

5 “Pela experiência [...] percebe-se que o desenvolvimento econômico de uma nação depende do emprego crescente de trabalho produtivo, da formação da poupança, do aporte de capitais externos, da adoção de inovações tecnológicas [...]” SOUZA, 2005, p.50. 6 A liquidez é formulada por Levine como a taxa entre volume negociado e PIB, e a taxa entre volume negociado e capitalização bursátil, e o crescimento econômico tido como a variação anual do PIB per capita dos países estudados. 7 BARROS et al, 2000; BARROS, 2004.

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as mudanças do período 1999 e 2008 e o melhor entendimento dos fatores

envolvidos.

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2. O MERCADO ACIONÁRIO BRASILEIRO

2.1. SURGIMENTO E DESENVOLVIMENTO INICIAL DO MERCADO ACIONÁRIO

NO BRASIL

De acordo com Carmello (1997), a primeira menção ao mercado de capitais

no Brasil formalizada foi o Decreto 417, de 1845, que dizia respeito à definição do

papel do “corretor oficial de títulos públicos”. Até então não havia no país nenhum

ambiente similar ao de uma bolsa de valores. O que existia no país até 1876 era a

negociação de títulos entre vendedores e compradores em reuniões espontâneas na

região portuária do Rio de Janeiro. Eram, então, negociados fretes de navio e

mercadorias de importação e exportação (BOLSA DE VALORES DO RIO DE

JANEIRO, 2004).

Em 1876, o Estado passou a interferir mais diretamente na atuação dos

corretores daquele nascente mercado, decretando a “Cotação de Títulos em

Pregão”. No ano seguinte, a Lei 6.635 regulamentou o pregão, e marcou o início do

funcionamento da primeira bolsa de valores do Brasil, a Bolsa de Valores do Rio de

Janeiro - BVRJ. Com a regulamentação das operações realizadas, houve alto

crescimento deste mercado – em 1878 houve aumento de mais de 500% nas

transações, e dobrou o número de empresas participantes do mercado (OLIVEIRA,

1980).

No entanto, segundo OLIVEIRA (1980), a regulamentação de 1877 apenas

organizava a atividade dos corretores, e previa a definição, pelo Poder Executivo, de

regulamentação completa a posteriori, a qual foi expedida em 1897 por meio do

Decreto 2.475, mas que dizia respeito apenas ao mercado acionário da então capital

federal.

Durante o período intermediário entre a formalização da BVRJ e sua

regulamentação efetiva, surgia em São Paulo – em 23 de agosto de 1890, a Bolsa

Livre de São Paulo, sob cujo nome funcionou até o fim de 1891, a partir de quando

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teve início a instituição de uma “Bolsa Oficial de Títulos” e, em 1895, passou a

funcionar a “Câmara Sindical dos Corretores Oficiais da Praça de São Paulo”. Em

evolução a esta última, o governo do Estado de São Paulo finalmente criou, em

1897, a “Bolsa Oficial de Títulos de São Paulo” (CARMELLO, 1997).

Em 1934 foi estabelecido o Decreto 24.275, que regulamentava não apenas a

bolsa de valores carioca, mas incluía todas as demais. No entanto, segundo Oliveira

(1980), este novo instrumento regulatório tornou-se efetivo somente em 1939, pelo

Decreto-Lei 1.344. Uma observação adicional feita pelo mesmo autor foi o fato de

que, segundo tais decretos as bolsas de valores continuaram sendo entidades

públicas e, portanto, sujeitas à ingerência das secretarias de finanças dos governos

estaduais.

No mesmo período - 1935, a Bolsa Oficial de Títulos de São Paulo passou a

ser chamada “Bolsa Oficial de Valores de São Paulo” (CARMELLO, 1997)8.

8 Por força da Lei 2479, de 13 de dezembro de 1935.

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2.2. MARCOS REGULATÓRIOS E CONSTITUIÇÃO DO MERCADO ACIONÁRIO

BRASILEIRO ATÉ 1999

Na década de 1960 deu-se a Reforma do Sistema Financeiro Nacional. A Lei

4.595 - chamada Lei da Reforma Bancária, promulgada em 1964, institucionalizou o

Sistema Financeiro Nacional e criou os principais órgãos regulatórios deste sistema:

o Conselho Monetário Nacional e o Banco Central do Brasil – este uma evolução da

Superintendência da Moeda e do Crédito existente desde 1945 (GUERRA, 2004;

BARROS, 2004). Já em 1965 surgiu a denominada Lei do Mercado de Capitais, que

disciplinou este mercado e definiu medidas para seu desenvolvimento.

A Resolução 39 do Banco Central – então recém criado - editada em outubro

de 1966 disciplinou a constituição, organização e o funcionamento das bolsas de

valores brasileiras, e, segundo Carmello (1997), foi marcante, pois significou o

“aperfeiçoamento e desenvolvimento das bolsas de valores brasileiras”9. Naquele

momento, foi estabelecido ainda que o capital social destas fosse formado por

corretoras de valores atuantes - corretoras membro - na respectiva bolsa de valores,

e surgiu a figura do operador de pregão, responsável pela efetivação das

negociações durante o expediente (CARMELLO, 1997).

Em 1967, como reflexo da recente nova governança, a Bolsa Oficial de

Valores de São Paulo tornou-se Bovespa – Bolsa de Valores de São Paulo, e foi

criado o número-índice Ibovespa, a maior referência de volume e desempenho

dessa bolsa desde então. A partir de 1970, a Bovespa passa a adquirir sistemas

eletrônicos de informação, e em 1972 é implantado o pregão automatizado, derivado

da Bolsa de Valores de Toronto – Canadá, que registrava eletronicamente os

índices, volume e quantidades de títulos negociados a cada 15 minutos, o que

permitiu a elevação dos volumes e velocidade das transações. O sistema evolui

gradativamente, e em 1974 deu lugar a uma central de processamento de dados,

que, por sua vez, teve o adendo do sistema em rede, por meio do qual as corretoras

9 CARMELLO, 1997, p.44

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mantinham – como hoje, comunicação direta com a Bolsa continuamente

(CARMELLO, 1997; BOVESPA, 2008) 10.

Em 1970, e até maio de 1970, ocorreu o “boom da bolsa” designação dada à

rápida e contínua alta dos preços de ações no período, e de afluxo de investidores

para o mercado acionário. No entanto, este curto período de expansão culminou em

intensa queda no período imediatamente seguinte, e fuga de investidores das bolsas

de valores (BARROS, 2004). Segundo Oliveira (1980), esse choque foi seguido, em

1973 e 1974 por problemas relativos ao balanço de pagamentos do Brasil, e que,

ainda segundo o autor, expuseram a tendência do setor produtivo da economia do

país operar por meio de dívidas, e não por meio de recursos originários do mercado

acionário11. Até o período descrito, não havia no país órgão algum cuja

responsabilidade específica fosse fiscalizar o mercado de capitais, e principalmente

o mercado acionário.

Para OLIVEIRA (1980), diante da situação gerada pela evidente ausência da

estrutura necessária ao bom funcionamento do mercado acionário, e consciente de

que para o desenvolvimento empresarial era de suma importância um ambiente

regulatório que resguardasse o interesse público, o governo editou, em 1976, a Lei

6.385, que criou a Comissão de Valores Mobiliários, cujas atribuições eram registrar

e fiscalizar os agentes do mercado de títulos e ações e suas atividades (BARROS,

2004). Em completa complementaridade com esta nova lei, foi editada, ainda em

1976, a Lei 6.404, que dispunha sobre as Sociedades Anônimas – S/A.

Em 1984, o Banco Central emitiu a Resolução 922, que revogava a

Resolução 39, de 1966 e ditava as novas normas para as bolsas de valores e

corretoras de valores brasileiras. No entanto, já em 1989 editou-se nova

regulamentação do mercado acionário, contendo diferenças fundamentais com

relação às anteriores, tal renovação deu-se pelas Resoluções 1.655 e 1.656 do

10 O número-índice Ibovespa é constituído por uma carteira teórica de ações, que representam mais de 80% do volume financeiro negociado na Bovespa à vista, e aproximadamente 70% de toda a capitalização bursátil de todas as empresas com ações negociáveis na Bovespa. Representa o valor, em moeda corrente desta carteira, tendo como ponto de partida o dia 02/01/1968, e o valor-base sendo = 100. Desde seu início - por meio de divisões por 10 e por 100, o valor do índice foi dividido, no total, por 1.000.000.000.000, a fim de facilitar seu uso. 11 “Em 1974, a combinação de efeitos da “crise do petróleo” com fatores conjunturais internos (entre eles, a forte expansão dos meios de pagamento já em 1973), reacendeu o processo inflacionário e determinou dificuldades intensas com o balanço de pagamentos do país. Essas duas experiências colocaram em relevo e acentuaram a tendência de nossa economia a operar mais com dívidas do que com capital de risco, isto é, capital dos sócios ou acionistas”. OLIVEIRA, 1980, p.31

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Banco Central, que regulamentavam, respectivamente, as sociedades Corretoras de

Títulos e Valores Mobiliários – CTVM, e as bolsas de valores (CARMELLO, 1997).

Segundo as Resoluções editadas em 1989, as bolsas tornaram-se

associações civis sem finalidade lucrativa, consagrando as bolsas como entidades

provadas e as mesmas deixaram de ostentar o título de “bolsa oficial” (CARMELLO,

1997).

O mercado acionário brasileiro consolidou-se, dada sua construção exposta

até aqui, como formado por bolsas de valores, sociedades Corretoras de Títulos e

Valores Mobiliários, investidores, e a CVM, ademais dos órgãos governamentais

cuja edição de normas afeta sua operação – Banco Central e Conselho Monetário

Nacional12.

Por fim, dado que o que foi exposto até este ponto do trabalho, as principais

mudanças do mercado acionário brasileiro até o período estudado, pode-se definir,

de forma sintética, bolsas de valores como organizações responsáveis pela infra-

estrutura e/ou sistema eletrônico de negociação livre e aberta de títulos e valores

mobiliários e pela organização e administração e dos sistemas de registro e

liquidação das operações realizadas. As corretoras de valores membro eram, até o

período estudado, formadoras de seu capital social (CARMELLO, 1997).

Embora as bolsas de valores de valores do Rio de Janeiro e São Paulo

concentrassem a maior parte dos volumes negociados no mercado acionário do

Brasil, ademais das acima citadas, existiam, até 1999, as seguintes bolsas de

valores no Brasil (PINHEIRO, 2006):

Bolsa de Valores do Extremo Sul (BVES);

Bolsa de Valores Bahia – Sergipe – Alagoas (BVBSA);

Bolsa de Valores Minas Gerais – Espírito Santo – Brasília (BOVMESB);

Bolsa de Valores do Paraná (BVPR);

Bolsa de Valores Pernambuco – Paraíba (BVPP);

Bolsa de Valores Regional (BVRg);

12 Uso do termo “investidor” enquanto agente econômico que emprega sua poupança na aquisição de ativos financeiros de renda.

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17

E Bolsa de Valores de Santos (BVSt).

Seguindo em breve definição deste mercado, expõem-se as sociedades

Corretoras de Títulos e Valores – CTVM. Estas são responsáveis por13:

Por operar nos recintos e/ou sistemas das bolsas de valores;

Pelo lançamento público de ações;

Pela administração de carteiras;

Pela instituição e administração de fundos de investimento;

E por operar no mercado aberto, entre outras atribuições que se

estendem até fora do mercado acionário.

Atuam, ainda, no mercado acionário brasileiro, dois grandes grupos de

diferentes tipos de investidores, divididos em investidores individuais, e investidores

institucionais. Os investidores individuais são pessoas físicas ou jurídicas que atuam

por si próprios na compra e venda de ações (Pinheiro, 2006). Segundo Cavalcante

(1998 apud Pinheiro, 2006), os participantes mais relevantes são os institucionais,

graças à movimentação de grandes massas de recursos captados junto a seus

públicos.

Fortuna (2008) reúne os investidores institucionais em três grupos:

Fundos mútuos: constituídos sob a forma de condomínio aberto ou

fechado, representam a reunião de recursos de poupança direcionados à aplicação

em uma carteira de investimentos, que pode ou não ter sua formação restrita apenas

a ações. O objetivo é propiciar um custo operacional mais baixo por investidor, e

obter rentabilidade por meio da valorização das cotas do fundo;

Entidades abertas e fechadas de previdência complementar:

instituições que visam o investimento voltado ao acúmulo de poupança e

rentabilidade, com fim de plano de previdência complementar de um grupo de

contribuintes restrito ou não;

Seguradoras: devem investir, obrigatoriamente - por instrumento legal,

como forma de reserva técnica, e podem incluir em sua carteira, além de ações

negociadas em bolsa, títulos públicos e privados.

13 FORTUNA, 2008.

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Pinheiro (2006) estende a classificação a:

Clubes de investimento: aplicação de um grupo de pessoas em ações,

que pode conter de três a 150 pessoas, que conta com o apoio de uma corretora de

valores para encaminhamento de documentos e registros, e são fiscalizados pela

Bolsa de Valores de São Paulo e a CVM;

Fundos externos de investimento: carteiras formadas por sociedades

de investimento no Brasil, com recursos provenientes de investidores externos, e

são obrigatoriamente formados por bancos de investimentos ou Sociedades

Corretoras de Títulos e Valores Mobiliários.

Uma vez apresentado o ambiente regulatório existente no período anterior a

1999, no capítulo seguinte serão expostas as principais mudanças no mercado

acionário brasileiro até 2008.

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19

3. MUDANÇAS DO MERCADO ACIONÁRIO BRASILEIRO NO PERÍODO DE

1999 A 2008

Como vimos, o período estudado foi rico em mudanças no mercado acionário

brasileiro. Neste capítulo serão apresentadas as principais modificações ocorridas

neste mercado sob os diferentes aspectos aqui relacionados: regulamentação,

operação e constituição. Antes que se prossiga, é importante destacar que, em

2000, a Bolsa de Valores de São Paulo – Bovespa, integrou-se às demais bolsas de

valores em atividade no país – sendo que as demais passaram a atuar como

instituições de fomento e esclarecimento da atividade bursátil (PINHEIRO, 2006;

BOVESBA, 2008). Por tal acontecimento, as mudanças de regulação, operação, e

constituição a seguir representadas - e que, dada a validade a partir de 2000, levam

como pressuposto básico que a única bolsa de valores do país é a Bolsa de Valores

de São Paulo.

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20

3.1. MUDANÇAS REGULATÓRIAS E OPERACIONAIS

Em continuidade aos investimentos em tecnologia iniciados na década de

1970, em 1980 foi implantado um sistema de comunicação chamado Spot – Sistema

Privado de Operações Por Telefone, com 1.500 ramais, que permitiam a interligação

com investidores de outros centros financeiros mundiais (BOVESPA, 2008).

Tais projetos tiveram seguimento e, em 1994, foi implantado o Sistema de

Negociação Eletrônica – denominado CATS, contratado da Bolsa de Valores de

Toronto – assim como o primeiro sistema eletrônico instalado em 1972, que

funcionava simultaneamente ao pregão viva-voz. Por meio desse sistema, “[...]

Todas as ações de empresas listadas na Bolsa passaram a ser negociadas

eletronicamente, seguindo-se o Disque Bovespa, internet, Fax Custódia, Press

Information e Informe Técnico em disquete.” (BOVESPA, 2004).

O pregão eletrônico foi o precursor da plataforma Mega Bolsa, implantado em

1996 - um benchmark do sistema avançado utilizado pela Bolsa de Paris, e que

permitiu que, a partir de 1999, o investidor transmitisse suas ordens diretamente à

Bolsa de Valores de São Paulo – sistema chamado Home Broker, o que deu

agilidade ao sistema, facilidade de inserção de novos investidores no mercado, e

redução dos custos de transação e do spread de negociação. Por meio do Mega

Bolsa, se introduziu ainda a modalidade After Market de operações (BOVESPA,

2008; FORTUNA, 2008) 14 15. Como mostrado adiante, em 2005 o sistema eletrônico

de pregão substituiu por completo as operações viva-voz – como são chamadas as

negociações feitas entre operadores em pregão presencial.

Segundo Nóbrega et al (2000), o mercado de capitais mundial encontra-se em

um estágio de tendência à desintermediação financeira, para a qual os sistemas de

tecnologia da informação têm a contribuir principalmente pela redução de custos

operacionais de transação. No entanto, os autores atentam para a necessidade de

um arcabouço regulatório que desenvolva-se à mesma medida para que tal

14 O termo “spread” é aqui empregado como sinônimo da diferença de preço do mesmo título em uma mesma sessão de negociação. 15 “Estende-se o horário do pregão eletrônico que passa a funcionar após as 18 horas e até as 22 horas, para atender o Home Broker”.FORTUNA, 2008, p.587.

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desenvolvimento seja efetivamente aproveitado, como demonstrado no trecho a

seguir:

O desenvolvimento tecnológico tem condições de proporcionar aos investidores e participantes do mercado um volume de informações antes só disponível através de corretores e/ou com custos elevados. A regulamentação deve acompanhar esse desenvolvimento, de modo a permitir que os ganhos de produtividade possam ser transferidos ao mercado na forma de menores custos. NÓBREGA et AL, 2000, p.35.

Nesse sentido, Barros (2004) concluiu, em seu estudo “O Papel da Legislação

no Desenvolvimento de Capitais” que o período em que seu trabalho foi

desenvolvido, foi parte do o que a autora chamou de “momento ‘especial’ do

mercado de capitais”, dado o crescimento do número de empresas listadas em bolsa

e de emissões primárias, e ressalta que a legislação impacta sobre o

desenvolvimento do mercado de capitais16.

O período aqui estudado conteve alterações regulatórias e operacionais

diversas, provenientes dos órgãos reguladores do mercado acionário e da própria

bolsa de valores. Dentre elas, destacam-se:

A revisão da estrutura e disciplina das bolsas de valores pelas

Resoluções 2690, de 28/01/00 e 2709, de 30/03/00, do Banco Central, alterou

fundamentalmente o mercado acionário ao aumentar a flexibilidade das bolsas de

valores, permitindo que as mesmas abandonassem sua característica de entidade

sem fins lucrativos, obrigatória até então, e permitindo que as mesmas constituíssem

Sociedades Anônimas de capital aberto (FORTUNA, 2008);

Ainda em 2000, a CBLC - Companhia Brasileira de Liquidação e

Custódia, criada em 1998, absorve a CLC - Câmara de Liquidação e Custódia - da

Bolsa de Valores do Rio de Janeiro em março, e passa a constituir a empresa

depositária – clearing, central do mercado de ações do Brasil, que tem como

atividades a prestação de serviços de compensação e liquidação física e financeira

de operações realizadas nos mercados à vista e a prazo, assim como a

16 A autora cita La Porta, Lopes De Silanes & Shleifer (2003), os quais, após analisarem dados do

mercado de capitais de 49 diferentes países chegaram à conclusão de que “Law matters” para o

desenvolvimento dos mercados de capitais. BARROS, 2004, p.3.

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operacionalização dos sistemas de custódia de títulos e valores mobiliários

(FORTUNA, 2008) 17;

Ao fim do mesmo ano de 2000, a Bovespa criou os segmentos de

listagem de empresas “Nível 1”, “Nível 2” e “Novo Mercado”, para empresas que

atendessem requisitos de governança corporativa superiores aos exigidos para a

listagem em bolsa18. Os novos níveis de listagem visavam, segundo SANTANA

(2006), a redução de percepção de risco por parte dos investidores pela diminuição

da assimetria de informações entre controladores/gestores e participantes do

mercado e maiores garantias aos acionistas minoritários. Esta iniciativa foi inspirada

pelo “Neuer Market” do mercado acionário alemão, no entanto, como ressalta

CARVALHO (2003), o Novo Mercado brasileiro foi criado com a diferença

fundamental de que as empresas já presentes em bolsa poderiam mudar de nível de

listagem voluntariamente ao adotarem práticas de governança corporativa adicionais

às exigidas pela legislação brasileira. Em junho de 2001 aconteceram as primieras

adesões, e a partir de 2002 todas as distribuições públicas deveriam, no mínimo,

atender às exigências do “Nível 1” (SANTANA, 2006);

A Nova Lei das S.A. – Lei 10.303/01, estabeleceu uma série de

mudanças nas relações entre as sociedades por ações e os acionistas19. Regula a

emissão de determinados títulos, i.e., ficou vedada a emissão de partes beneficiárias

para empresas de capital aberto, e foi mantida a possibilidade de sua emissão por

empresas de capital fechado. A nova lei impede movimentos de alto risco para os

acionistas, e estabelece novos direitos para os mesmos, com novas vantagens para

17 O termo “clearing” define o órgão ou departamento do mercado acionário responsável por garantir o cumprimento de todos os negócios realizados em bolsa. 18 O “Nível 1” implica, em síntese, a necessidade de divulgação de demonstrações contábeis mais freqüentes; o “Nível 2” exige - além dos requisitos do nível anterior, a apresentação de dados contábeis em acordo com padrões técnicos internacionais, e a garantia de maiores direitos aos acionistas; já, no “Novo Mercado”, além das exigências anteriores, é necessários que todas as ações emitidas pela empresa sejam ações ordinárias. 19 Segundo Mendonça de Barros et al (2000), a Lei que até então regia as S/A – Lei

6.404/76 era falha em dois aspectos principais: “Permitia que a companhia emitisse até 2/3 de ações sem direito a voto; [e] admitia que, como recompensa pela subtração do direito de voto, fosse assegurada prioridade de reembolso de capital. Entretanto, esta era uma falsa vantagem dado que ela só se materializaria no momento de dissolução da sociedade ou seja, quando, na maioria dos casos, a sociedade emissora dos títulos já se encontrasse em estado terminal”. BARROS et al, 2000, p.50.

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titulares de ações preferenciais, e assim obteve maior equilíbrio entre os títulos

ordinários e os preferenciais (BARROS et al, 2000; FORTUNA, 2008) 20;

Instruções 369 e 379 – respectivamente de 11/06/02 e 12/11/02, da

CVM regulamenta o fornecimento de informações junto aos acionistas – regras de

disclosure, em um movimento de aumento da transparência das empresas listadas

em bolsa (FORTUNA, 2008);

Instrução CVM 380 – de 23/12/2002, determina que 98% dos pedidos

de oferta de compra ou venda feitos eletronicamente por clientes das CTVM sejam

atendidos por estas em, no máximo, 5 segundos. Esta instrução ilustra o grau de

uso e potencial de eficiência das ferramentas de pregão eletrônico – Mega Bolsa e

Home Broker, e a preocupação da Bolsa de Valores de São Paulo, por sua auto-

regulação, garantir a qualidade do funcionamento de seu sistema eletrônico

(FORTUNA, 2008);

É implementado pela Bovespa, em 09/01/2003, o mercado a termo

flexível. Nesta nova modalidade de negociação, é permitido que o comprador - sem

que encerre o contrato, substitua as ações-objeto do contrato a termo21. A

substituição pode ser feita vendendo as ações-objeto iniciais no mercado à vista, e

com os recursos daí provenientes comprar ações de outra empresa (que tornam-se

então as ações-objeto), ou manter os recursos junto à CBLC, ainda que sem

qualquer remuneração. Segundo Fortuna (2008), este novo formato de negociação

permite aproveitar oportunidades de lucro derivadas de variações de preço dos

ativos que ocorram entre a pactuação do contrato e a realização do mesmo

(FORTUNA, 2008);

Instrução 384 da CVM, de 17/03/03, autoriza a atividade do formador

de mercado - Market Maker, que tem a obrigação de ser a contraparte nas ofertas

de compra e venda de ações de determinada empresa. A Bovespa regulamentou a

atividade pela resolução 293, de 22/07/03, e a lançou oficialmente em 24/09/03;

20 Pela Lei 10.303/01, ficou estabelecido aos titulares de ações preferenciais o direito de recebimento prioritário de ao menos 25% do lucro líquido da S.A.; prioridade no reembolso de capital - com ou sem prêmio; o direito ao recebimento de dividendo pelo menos 10% maior que o distribuído às ações ordinárias; e o tag along - direito de recesso nas operações de reestruturação societária. 21 “Com um termo, o usuário compromete-se a comprar ou vender um ativo [no caso do mercado acionário, uma determinada quantidade de uma ação, chamada então de ação-objeto] a um preço específico em uma data pré-combinada.” PINHEIRO, 2006, p.329.

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A Instrução 387 da CVM, de 28/04/03, normatiza os procedimentos

relativos à negociação;

Em adendo às Instruções 010 e 268 da CVM – respectivamente de

1980 e 1997, a Comissão de Valores Mobiliários edita, em 08/07/03, sua Instrução

390, contendo regras sobre a aquisição de ações de sua própria emissão;

No dia 1° de outubro de 2005 aconteceu o fim do pregão viva-voz. A

partir desta data, todas as transações passaram a acontecer por meio

completamente eletrônico. O novo funcionamento virtualmente eliminou a

possibilidade de fazer arbitragem com diferença de preços entre o fechamento de

uma operação e sua confirmação. Tornando a formação e tomada de preços

imediata elevou-se a eficiência de mercado em termos de uniformidade no acesso a

informações e oportunidades para os agentes. Conseguiu-se, por meio da medida,

acrescentar maior velocidade às negociações, o que implica a possibilidade de

maior volume de negócios realizados no mesmo período (FORTUNA, 2008);

Circular 82 da Bovespa determina que o sistema online das corretoras

fique disponível aos clientes 95% do tempo dos pregões por mês, e que a corretora

deve avisar imediatamente a Bolsa caso haja falha que cause suspensão do sistema

por mais de 30 minutos. Esta circular foi fruto da então vigente necessidade de dar

maior eficiência ao sistema das corretoras, de forma a não penalizar investidores

com problemas na realização de suas operações (BOVESPA, 2007; FORTUNA,

2008).

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3.2. MUDANÇAS DA CONSTITUIÇÃO DOS ÓRGÃOS DO MERCADO

ACIONÁRIO

Em 28 de agosto de 2007, a Bovespa deixou de ser uma entidade sem fins

lucrativos e tornou-se Bovespa Holding, uma sociedade por ações – S.A., sendo que

a entidade que surgiu tem como subsidiárias integrais a Bolsa de Valores de São

Paulo (BVSP) e a Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia (CBLC), ambas

sociedades de capital fechado. Nesta nova estrutura, a Bovespa continuou sendo

responsável pelas operações dos mercados de bolsa e de balcão organizado, e a

CBLC prestando serviços de liquidação, compensação e custódia dos títulos

negociados em bolsa. Com a desmutualização, as corretoras deixaram de ter títulos

patrimoniais e passaram a possuir ações da Bovespa Holding (BOVESPA, 2007).

Em 1986 teve início a operação – regulada pela CVM, da Bolsa Mercantil e de

Futuros - BM&F, instituição responsável pelo ambiente de negociação de contratos

derivativos agropecuários, commodities e demais derivativos financeiros. A BM&F

fundiu-se, em 1991, com a Bolsa de Mercadorias de São Paulo – BMSP, esta

fundada em 1917. Surgiu da união das mesmas a Bolsa de Mercadorias e Futuros –

BM&F (PINHEIRO, 2006; CVM, 2008).

A função e objetivo social declarados da BM&F são o desenvolvimento,

organização e operacionalização de mercados para negociação de títulos e/ou

contratos que possuam como referência ativos financeiros, índices, indicadores,

taxas, mercadorias e moedas, nas modalidades a vista e de liquidação futura. Para

tanto, esta bolsa efetua o registro, a compensação e a liquidação, física e financeira,

das operações realizadas em pregão de viva voz ou em sistema eletrônico (CVM,

2008; FORTUNA, 2008).

A Bovespa Holding, e a BM&F abriram, de forma independente entre si, seu

capital em 2007, e ambas obtiveram captações vultosas, tendo tido a BM&F o maior

número de participantes em um IPO já registrado no mercado de capitais brasileiro.

A abertura de capital ampliou as possiblidades de crescimento das instiruições

enquanto empresas, e assim, no dia 25 de março de 2008, ambas anunciaram sua

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fusão, declarando na ocasião a expectativa de melhora de rentabilidade enquanto

fruto de ganhos de sinergia iguais a 25% das despesas operacionais totais até 2010

(BOVESPA, 2008). A empresa fruto desta fusão recebeu o nome provisório de Nova

Bolsa – BM&F Bovespa S.A..

A fusão celebrada pela bolsas tornou a bolsa resultante na terceira maior

bolsa do mundo em valor de mercado, e ilustrando a de forma evidente a expansão

do mercado de capitais brasileiro no período, e especialmente sua recém adquirida

posição global de destaque22.

Este capítulo buscou expor, sucintamente, as principais mudanças no

mercado acionário brasileiro abarcadas pelo período que entende-se de janeiro de

1999 a junho de 2008. O capítulo seguinte tem a atribuição de expor a evolução dos

principais indicadores deste mercado, e sua relação com indicadores

macroeconômicos selecionados.

22 A Nova Bolsa era sobrepujada em valor de mercado, na data de sua formação, somente pelas bolsas de valores de Chicago, nos EUA, e Frankfurt na Alemanha.

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4. EVOLUÇÃO DE INDICADORES DO MERCADO ACIONÁRIO BRASILEIRO

NO PERÍODO DE 1999 A 2008

O mercado acionário brasileiro experimentou vertiginosa expansão no período

de janeiro de 1999 a junho de 2008 – o Índice Ibovespa mostrou variação positiva de

936,6% entre janeiro de 1999 e junho de 2008. Entre janeiro de 1999 - 6.491,99

pontos, e seu ponto máximo em maio de 2008 - 73.153,23 pontos, o Ibovespa

passou por uma valorização que superou de 1026,8%, e em 2007 quebrou 43

recordes. No primeiro semestre de 2008 apenas, o índice superou-se novamente por

10 vezes.

Segundo SÁ (2007), no período aqui estudado, “O mercado de capitais

brasileiro atingiu uma nova dimensão. Sua perspectiva futura é de desempenhar o

papel de principal agente de desenvolvimento nacional e de redistribuição da

propriedade no país”23.

Como atestado por Medeiros & Ramos (2004), trabalhos diversos buscaram

determinar a relação entre variáveis macroeconômicas elementares – com atenção

especial à inflação, produção e à taxa SELIC. Outros trabalhos, como o de Barros

(2004), avaliam a importância da regulação do setor sobe seu próprio

desenvolvimento. Trabalhos como os de Fama (1981; 1990), Chen et al (1986), Lee

(1992) e Levine (1996) buscaram - usando diferentes indicadores macroeconômicos

e do mercado de ações, a relação entre a “atividade econômica real” e o mercado

acionário, sendo que nestes casos, a relação encontrada em geral é positiva,

quando relaciona-se mercado acionário eficiente e crescimento econômico.

Dentre os autores que estudaram a correlação estatística entre

desenvolvimento econômico e crescimento do mercado acionário, destaca-se

Grôppo (2004) e Levine (1996). Grôppo, ao empregar em seu trabalho um modelo

23 SÁ, Thomas Tosta de. O papel do mercado de capitais. Gazeta Mercantil, São Paulo, 28 de junho de 2007.

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VAR multivariado estimou a relação entre o PIB e o mercado acionário, e confirmou

ainda alta correlação inversa entre a taxa SELIC de curto prazo e a o Ibovespa. Já

Levine demonstrou de maneira clara - ao isolar o impacto de diferentes indicadores

do mercado acionário de 32 países com diferentes graus de desenvolvimento, o

impacto positivo da liquidez dos mercados acionários sobre o crescimento

econômico futuro.

Neste sentido – de relacionar as mudanças do mercado de ações no período

com sua expansão e conhecer sua correlação com indicadores macroeconômicos

selecionados, buscar-se-á neste capítulo, a comprovação ou negação da hipótese

de correlação entre as mudanças no arcabouço regulatório e organizacional do

mercado acionário brasileiro, utilizando-se como proxy de evolução deste mercado a

variação do número-índice Ibovespa. Para tanto, as variáveis utilizadas serão:

Ibovespa;

Taxa básica de juros - SELIC24;

Investimento estrangeiro em carteira (IEC) em ações de companhias

brasileiras e em títulos de renda fixa;

Número e volume de emissões primárias;

Volume de negociação diária, capitalização bursátil e número de

empresas listadas em bolsa;

Evolução da Formação Bruta de Capital Fixo;

EMBI+ Brazil;

Os dados aqui utilizados têm como fontes primordiais: a série histórica diária

do Ibovespa - fechamento, desde sua criação – de janeiro de 1968 a junho de 2008,

24 Segundo definição do Banco Central do Brasil, responsável por sua aferição e determinação via Cômite de Política Monetária - COPOM, “A taxa apurada no SELIC (Sistema Especial de Liquidação e de Custódia) é obtida mediante o cálculo da taxa média ponderada e ajustada das operações de financiamento por um dia, lastreadas em títulos públicos federais e cursadas no referido sistema ou em câmaras de compensação e liquidação de ativos, na forma de operações compromissadas”.

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e dados de emissões primárias realizadas no período de 2004 a 2007 – obtidos junto

à Bovespa, no endereço eletrônico www.bovespa.com.br; os dados anuais

consolidados da balança de pagamentos brasileira, e evolução histórica da taxa

SELIC, por meio do Banco Central do Brasil – em seu sítio eletrônico

www.bcb.gov.br e através do Sistema Gerador de Séries temporais – SGS,

disponibilizado pela instituição no mesmo endereço online; a evolução da Formação

Bruta de Capital Fixo – FBCF, trimestral, obtida usando o Sistema IBGE de

Recuperação Automática – SIDRA, disponível no endereço eletrônico do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística - www.ibge.gov.br; e dados históricos diários do

risco-país brasileiro – EMBI+ Brazil, junto a Cbonds Bond Market Information, em

www.cbonds.info/index/search.

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4.1. EVOLUÇÃO DO IBOVESPA

Conforme exposto anteriormente, o Ibovespa sofreu forte crescimento no

período. Segundo autores que dissecaram o mercado acionário brasileiro e sua

relação com fatores de ambientais e suas conclusões, pode-se limitar a poucos os

fatores exógenos ao mercado acionário de impacto crucial sobre o Ibovespa a

poucos, sendo que, sob esta perspectiva, especial atenção é dispensada à taxa

básica de juros de curto prazo da economia – SELIC.

Grôppo obteve, em seu estudo “Causalidade das Variáveis Macroeconômicas

sobre o Ibovespa”, de 2005, a dinâmica do Ibovespa enquanto função das variáveis:

índice de produção industrial; taxa de câmbio real (R$ x US$); preço do barril do

petróleo no mercado internacional; os próprios ativos formadores do Ibovespa; e a

taxa SELIC, sendo que esta última chegou a mostrar-se responsável, em sua

avaliação, por 51,99% de toda a variação do índice do mercado acionário em

questão25.

Para efeito de comprovação busca-se neste trabalho comprovar a correlação

linear entre a meta da taxa SELIC (a.a.), e o Ibovespa no período estudado, estando

ambas as séries representadas no gráfico 1, em que tem-se o valor do Ibovespa ao

fechamento do último dia útil de cada mês, e a taxa de juros SELIC a.a. estipulada

pelo Banco Central e vigente ao último dia útil do mesmo mês.

25 “O sinal positivo da taxa de curto prazo (SELIC), é similar aos obtidos por Mukherjee & Naka (1995) e Maysami & Koh (2000), quando da estimação do vetor co-integrado, refletindo a relação negativa entre a taxa de juros e o Ibovespa, ou seja, um aumento na taxa de juros reflete negativamente na rentabilidade do índice.” GRÔPPO, 2004, p.68.

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GRÁFICO 1. Ibovespa fechamento mensal X Taxa SELIC alvo (a.a). – janeiro/1999 a junho/2008 Fonte: Bovespa; BCB; Elaboração própria.

Buscando-se a correlação entre as duas variáveis expostas, obteve-se o valor

de r igual a -0,61603 e pode-se afirmar, considerando-se os critérios adotados, que

há correlação moderada negativa entre a variação da taxa SELIC alvo, e o Ibovespa.

Tal informação corrobora a hipótese de que quedas da taxa SELIC estimulam

investimentos em ações, uma vez que o risco deste tipo de investimento é

amortizado pela perspectiva de um spread maior de rendimento entre títulos

soberanos de baixo risco e o retorno do investimento em ações26.

26 A respeito do cálculo de correlação e critério de avaliação de nível de colinearidade, ver anexo A deste trabalho.

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GRÁFICO 2. Ibovespa fechamento mensal – janeiro/1999 a junho/2008 Fonte: Bovespa; Elaboração própria.

Uma vez tendo-se a taxa de juros SELIC como fator externo de maior impacto

sobre o Ibovespa, será feita a seguir uma análise sintética, mas ainda dedicada

apenas à evolução do índice Ibovespa. Para tal análise, convém que a evolução do

mesmo – exposta no gráfico 2, seja cronologicamente assim disposta:

Janeiro de 1999 a janeiro de 2001: Durante este termo o mercado

acionário expandiu-se alavancado pela redução das taxas básicas de juros – SELIC,

que atingiram 42% a.a. em março de 2000, e que passaram por reduções drásticas

no período. O Ibovespa variou de 8.171,56 a 17.672,77 pontos – equivalente a

116%, enquanto a taxa SELIC alvo chegou a 15,25% a.a. em janeiro de 2001. O

período corresponde à recuperação da “crise financeira russa”, quando em 1998, a

Rússia decretou moratória aos seus títulos emitidos anteriormente - que haviam

atraído intensamente recursos estrangeiros no biênio 1996-97, e tornou necessárias

a elevação da taxa básica de juros e a flexibilização do câmbio no Brasil, como

forma de contornar a queda na confiança dos investidores estrangeiros27 28;

27O governo brasileiro formulou mudanças drásticas em sua política econômica em reação à crise desencadeada em agosto de 1998 pela moratória russa, sejam elas: “i) um forte ajuste fiscal; ii) uma política monetária dura – as taxas de juros aumentaram novamente para aproximadamente 40% em meados de setembro –; iii) um pacote de ajuda externa – do FMI, organizações multilaterais e dos Tesouros dos países centrais – de US$ 42 bilhões; e iv) a manutenção da política cambial” fixa “tema

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Janeiro de 2001 a setembro de 2002: Neste período incluí-se sérias

turbulências geradas fora do mercado acionário e que o impactaram intensamente,

embora tais choques tenham tido origens diversas. Pode-se citar como principais

fatores exógenos e que acarretaram perdas ao mercado acionário: os atentados

terroristas aos EUA em 11 de setembro de 2001, a crise dos ativos de empresas de

tecnologia - notadamente no hemisfério norte, que afetaram o desempenho da bolsa

em 2001 e início de 2002; e, em 2002, a insegurança do mercado internacional

frente às eleições presidenciais brasileiras, que culminou em uma breve crise

cambial e elevação da taxa de juros SELIC. Todos estes choques conduziram o

Ibovespa, em setembro de 2002, ao patamar de pontos do início de 1999 - 8.622

pontos ao fim de setembro, menos de 500 pontos acima do patamar de janeiro de

1999;

Outubro 2002 a março de 2003: Ao fim do pleito presidencial, e com a

subseqüente indicação da nova equipe gestora da política econômica pelo candidato

eleito – com compromisso de continuidade da política até então adotada, iniciou-se

processo de queda da taxa básica de juros e arrefecimento de pressões externas,

com retomada da expansão do Ibovespa;

Abril de 2003 a junho de 2008: Durante o período que se seguiu, o

Ibovespa evoluiu em 417,79%. Embora o período tenha incluído alguma volatilidade

- nos períodos entre maio e outubro de 2006, e no primeiro trimestre de 2008, houve

recuperação imediata e contínua da expansão, culminando na obtenção da

classificação de “grau de investimento” – investment grade - do mercado de capitais

brasileiro por duas das três maiores agências mundial de avaliação de risco –

Standard & Poor’s (30 de abril) e Fitch (29 de maio) em 2008 que aqueceu o

mercado acionário, movendo o índice Ibovespa de 63.825 para 72.592 pontos nos

30 dias que sucederam à obtenção da melhoria da avaliação de risco por parte da

primeira agência – uma valorização de 13,74%29.

esse considerado ‘tabu’ pelas autoridades”. AVERBUG & GIAMBIAGI, 2000, A Crise Brasileira de 1998/1999 – Origens e Conseqüências, Rio de Janeiro, p.14. 28 No mês de agosto de 1998 - em que ocorreu a moratória russa, o Ibovespa sofreu variação

negativa superior a 35% (-37,85%, de 10.412,99 para 6.472,15 pontos). 29 A respeito da avaliação de risco de crédito por instituições estrangeiras, ver anexo B deste trabalho.

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Antes que sejam expostos indicadores complementares do desempenho e

evolução da operação da Bovespa no período, pode-se concluir que, embora como

fator preponderante e contínuo de sua evolução no período destaca-se a taxa básica

de juros da economia, os fatores que levaram à sua intensa expansão são variados

e incluem mudanças significativas no ambiente econômico e de expectativas – leia-

se a política econômica adotada e a avaliação de risco do crédito brasileiro pelo

mercado internacional.

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4.2. EVOLUÇÃO DO PERFIL DOS INVESTIDORES

O perfil dos investidores do mercado acionário brasileiro alterou-se em todos

seus estratos no período, como mostra o gráfico 3. Embora as modificações tenham

se dado ao longo do período estudado, e evoluído no mesmo sentido, pode-se

destacar que o grau de mudança foi especialmente intenso entre 2002 e 2003,

quando o percentual de investidores instituições financeiras variou de 32,1% para

18% do total, entre as mudanças dos percentuais dos demais tipos de investidores.

Ao longo de todo o período, as mudanças mais significativas foram – ademais

da queda do percentual de investidores instituições financeiras, o aumento do

percentual de investidores individuais, estrangeiros e institucionais em bolsa.

Segundo SANTANA (2006), a criação do “Novo Mercado” na Bovespa contribuiu

para a atração de recursos externos para o mercado acionário brasileiro, sendo que

mais de 70% dos recursos totais destinados a ofertas públicas neste nível de

listagem até o período da publicação foram provenientes de investidores

estrangeiros. SANTANA (2006) observa ainda que o “Novo Mercado” contribuiu para

a participação dos investidores individuais na bolsa de valores, dado que as

empresas listadas nesse segmento são estimuladas a ter suas ações com alta

dispersão, de forma a aumentar a base acionária e a liquidez após a listagem.

Para o crescimento no percentual de investidores individuais contribuiu

também a existência e consolidação do uso da ferramenta Home Broker da

Bovespa, que permitiu a participação individual no mercado acionário de forma

facilitada. Este sistema foi responsável por 30% do número total de negócios na

Bovespa em junho de 2008, com a participação de 231 mil investidores (BOVESPA,

2008). Pode-se citar ainda como estímulo à participação de pequenos investidores,

a “nova Lei das S.A.” – de 2001, que ao instituir a volta de tag along e maiores

direitos aos acionistas minoritários, diminuiu o risco da aplicação de recursos para

os investidores individuais.

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GRÁFICO 3. Participação dos investidores no volume financeiro total da Bovespa - 2000 a junho de 2008 Fonte: Bovespa; Elaboração própria.

No que diz respeito à participação de investidores estrangeiros no mercado

acionário brasileiro é importante ainda destacar a evolução da avaliação de risco do

mercado brasileiro por instituições estrangeiras de rating, e a queda da taxa de juros

atrelada a títulos públicos – o que implica menor rendimento aos investimentos em

renda fixa no país. Uma vez que, conforme observado no gráfico 4, o saldo de

investimentos estrangeiros em carteira em ações era baixo no início do período e

que, em 2001, o mesmo tornou-se superior aos investimentos estrangeiros em

títulos de renda fixa no país, observa-se que - especialmente a partir de 2004, os

investimentos em ações tornaram-se mais atrativos, o que reflete ainda a queda do

risco-país do Brasil abaixo do patamar de 500 pontos-base no mesmo ano.

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GRÁFICO 4. Evolução da distribuição do saldo líquido anual de Investimentos Estrangeiros em Carteira - IEC x Evolução do EMBI+ Brazil médio anual – 1999 a 2008

Fonte: Banco Central; Cbonds Market Information; Elaboração própria.

No sentido de expor a correlação existente entre a evolução dos

investimentos estrangeiros como fruto principalmente do grau de confiança no

mercado brasileiro – enquanto representado pelo EMBI+ ou risco-país, tem-se o

gráfico 5 que esclarece de forma pungente a ligação inversa entre a evolução do

risco-país e o Ibovespa.

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GRÁFICO 5. EMBI+ Brazil (pontos base) X Ibovespa fechamento mensal – janeiro/1999 a junho/2008 Fonte: Cbonds Market Information; Bovespa; Elaboração própria.

Na busca de comprovação estatística da ligação entre o mercado acionário e

o risco-país, obteve-se r = -0,74315. Por este valor confirma-se a expectativa de

correlação negativa significativa entre o risco-país e a evolução de mercado

acionário, algo corroborado pelo alto percentual de investimentos estrangeiro em

bolsa no período. Uma vez que é conhecido o uso de tal índice como fator de

decisão de entrada e saída do mercado, e que o capital externo forma percentual

relevante do volume investido em bolsa, esperava-se que o Ibovespa tenha

comportamento inverso e correlato a tal índice de risco.

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4.3. CAPITALIZAÇÃO BURSÁTIL, EMISSÕES PRIMÁRIAS E VOLUME DE

NEGÓCIOS

Assim como o Ibovespa, no período estudado os volumes diários médios

negociados em bolsa passaram por enorme expansão – em especial entre 2005 e

2008, variando entre R$1,610 bilhões e R$6,312 bilhões no período – crescimento

igual a 292% (ver gráfico 6). No mesmo período o número de negócios diários

alcançou o número de mais de 220.000, sendo que em 2000, este indicador não

superava 30.000 negócios/dia (BOVESPA, 2008).

Para cálculo da liquidez, utilizada no gráfico 6, o cálculo foi da relação volume

médio diário negociado e a capitalização bursátil, assim como utilizada por LEVINE

(1996). Pode-se notar, segundo o mesmo gráfico, que, embora o período tenha

mostrado clara tendência ao aumento da liquidez, o período de retração de 2002

culminou em desequilíbrio, já que o volume negociado mantido gerou taxa de

liquidez acima do convencional para o período.

Dada a crescente liquidez do mercado e sua própria expansão, tem-se como

conseqüência da atratividade crescente do mercado acionário para agentes

investidores e emissores, refletida em capitalização bursátil em tendência

semelhante a do volume negociado, que conforme ilustra o gráfico 7, sofreu intensa

expansão nos 18 meses compreendidos entre janeiro de 2007 e junho de 2008,

dobrando o valor total de mercado das empresas negociadas – variação de 103%.

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GRÁFICO 6. Volume Médio Diário Negociado na Bovespa (R$ Milhões) x Liquidez Bovespa - 1999 a junho de 2008

Fonte: Banco Central; Bovespa; Elaboração própria

GRÁFICO 7. Capitalização bursátil Bovespa (US$ Bilhões) X N° de empresas negociadas – dezembro/2006 a junho/2008

Fonte: Acionista.com.br ; Elaboração própria.

O período estudado foi, ainda, pródigo em emissões primárias, com especial

intensidade a partir de 2006. Houve, no período compreendido entre 26 de maio de

2004 e 13 de junho de 2008, a oferta inicial pública de ações – IPO, de 110

empresas, sendo que os recursos obtidos em captação primária alcançaram R$

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73.497.583.835,20. Um fato adicional de relevância, discutido anteriormente é o fato

de que 69% de todas as transações envolvendo emissões primárias - follow on e

IPOs – neste período foram efetuadas com capital estrangeiro30 31.

A expansão do mercado acionário, que, conforme mostrado até aqui, refletiu-

se em todos seus indicadores estimulou a abertura de capital de empresas até então

fora da bolsa de valores, e estimulou a emissão de novas ações por parte das

empresas já listadas que buscavam capitalizar-se. Como evidenciado nos gráficos 6

e 7, o período mostrou-se profícuo na captação de recursos.

GRÁFICO 8. Quantidade de emissões primárias/mês X Ibovespa fechamento mensal – maio/2004 a junho/2008 Fonte: Bovespa; Elaboração própria.

O volume total proveniente de negociações em função de tais emissões

alcançou a cifra de R$ 137,367 bilhões – se incluso o volume de negociação

secundária gerada pelas emissões primárias (BOVESPA, 2008), implicando em forte

impulso aos volumes negociados totais. O gráfico 8 expõe a evolução do Ibovespa

frente ao número de emissões primárias por mês entre 26 de maio de 2004 e 13 de

junho 2008, e mostra alta volatilidade na quantidade mensal de emissões primárias,

30IPO, do inglês Initial Public Offering. 31 No caso dos IPO, este percentual é ainda maior. Segundo pesquisa da empresa Thomson Financial, encomendada em 2007 pelo jornal Gazeta Mercantil, “[...] Os estrangeiros têm comprado cerca de 70% a 80% das IPO.” REBOUÇAS, Lucia. Captação de recursos. Gazeta Mercantil, São

Paulo, 5 de julho de 2007, p.B2.

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no entanto com nítida tendência crescente entre 2004 e o segundo semestre de

2008. Com base na relação existente entre volume negociado e crescimento do

índice Ibovespa procurou-se confirmar a existência também de correlação

significativa entre as emissões primárias/mês e a evolução do Ibovespa no período.

A correlação encontrada entre o número de ofertas públicas/mês e o Ibovespa para

o período exposto foi igual a 0,29408, podendo-se afirmar que a correlação

existente,embora positiva, é fraca.

GRÁFICO 9. Volume de captação primária (R$)/mês X Ibovespa fechamento mensal Fonte: Bovespa; Elaboração própria.

Já a correlação ( r ) entre o volume de captações primárias em moeda/mês e

o Ibovespa – evolução mostrado pelo gráfico 9, é igual a 0,45789, e é, portanto,

moderada-baixa e positiva. Isto é fruto de que o Ibovespa tem sua evolução

atrelada - de forma indireta, ao volume envolvido nas ofertas públicas, uma vez que,

ao fim da emissão primária, dá-se a negociação em caráter secundário dos papéis

emitidos, o que tipicamente implica em valorização dos ativos emitidos e do

Ibovespa, dado aumento da atratividade e inversão de recursos na bolsa de valores.

Uma vez que o âmago do mercado acionário eficiente está no direcionamento

de recursos para o setor produtivo, decidiu-se investigar a existência ou não de

correlação significativa entre a Formação Bruta de Capital Fixo - FBCF da economia

e a evolução do Ibovespa no período estudado, ambos expostos no gráfico 10, em

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que - para adequação à série de dados do FBCF obtida - o Ibovespa é representado

por seu valor no último dia útil de cada trimestre.

GRÁFICO 10. Formação Bruta de Capital Fixo Trimestral x Ibovespa fechamento trimestral - 1999 a junho de 2008

Fonte: IBGE; Bovespa; Elaboração própria

De acordo com a metodologia utilizada, obteve-se o valor da correlação entre

a FBCF e o Ibovespa igual a r = 0,92808, o que mostra elevada correlação entre os

dados e confirma a importância do mercado acionário para a captação de recursos e

sua aplicação produtiva.

Pela análise dos indicadores do mercado acionário, e principalmente pela

expansão conjunta de todos os seus principais indicadores de volume operacional,

expostos neste item do trabalho, pode-se afirmar que houve no período intensa

ligação entre a expansão do mercado acionário enquanto parte do mercado de

capitais e suscetível à ação especulativa sem fins produtivos – que seria

representada pela mera expansão do mercado secundário, e o mercado primário,

este de importância central para o financiamento da atividade produtiva.

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CONCLUSÃO

Este trabalhou expôs as principais mudanças regulatórias e operacionais do

mercado acionário brasileiro no período compreendido entre janeiro de 1999 e 2008,

e explorou a expansão deste mercado segundo a evolução de seus indicadores no

mesmo período, buscando relacionar tais indicadores com a expansão do número-

índice Ibovespa – tido no trabalho como proxy da evolução do mercado acionário do

país.

Em resposta à hipótese do impacto das mudanças endógenas – de regulação

e estrutura institucional - foi esclarecida a ligação e importância entre o setor

produtivo e a bolsa de valores. Observou-se que, pela existência de um arcabouço

sólido, o mercado acionário pôde expandir-se sem gargalos, e levantou volumes de

recursos que de outra forma não seriam direcionados ao setor produtivo, nem

trariam rentabilidade atrativa à poupança privada.

É importante destacar a ligação entre a chamada economia “real” e o

mercado de capitais. Conforme mostraram os testes empíricos, o mercado acionário

depende de fatores voltados em sua origem à regulação macroeconômica – i.e. a

taxa de juros SELIC, e impacta no investimento produtivo, como comprovado pela

alta correlação entre a evolução do mercado acionário e a Formação Bruta de

Capital Fixo32.

O estudo identificou a importância de medidas regulatórias e operacionais

para o estímulo e sustentação do crescimento do mercado acionário, com especial

atenção às medidas que deram maior transparência e menor risco aos investimentos

em bolsa, como a “nova Lei das S.A.” e a inserção de diferentes níveis de listagem

das empresas negociadas de acordo com o nível de governança corporativa das

mesmas. No âmbito regulatório foi especialmente notória a importância da

32 A ligação entre investimento produtivo e o mercado acionário mostrou-se especialmente verdadeira se considerada a intensa atividade do mercado primário no período.

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informatização da operação da Bovespa, que permitiu ganhos de eficiência e

volume, e a maior participação de investidores individuais.

Por fim, notou-se ainda a crescente importância de recursos externos para a

atividade do mercado acionário brasileiro. Esta visão baseia-se no fato de que a

importância relativa dos investidores estrangeiros nos volumes negociados em bolsa

mostrou-se crescente, e que esta participação é ainda mais notoriamente elevada

nas emissões primárias. Notou-se a movimentação dos investidores no sentido de

intensificarem seus investimentos em carteira em ativos brasileiros a partir de 2004,

e a inversão de recursos em maior volume no mercado acionário em detrimento do

mercado de títulos de renda fixa. Tal comportamento foi ratificado e estimulado no

período pela queda do risco-país a níveis historicamente baixos ao fim do período, e

evolução do rating de risco de crédito soberano brasileiro por agências

internacionais de avaliação de risco.

Em conclusão, espera-se ter contribuído para o entendimento do

funcionamento e relações do mercado acionário brasileiro, e pode-se afirmar que o

trabalho confirmou a importância da existência de um mercado acionário eficiente

como forma de alavancagem da economia.

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REFERÊNCIAS

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ANEXOS

ANEXO A - METODOLOGIA DE CÁLCULO DE CORRELAÇÃO LINEAR

ESTATÍSTICA

Para determinação da existência ou não de correlação entre as variáveis

escolhidas e a evolução do Ibovespa no período, foi empregado o método da matriz

de correlação, buscando a existência de algum grau de dependência linear entre o

Ibovespa e as variáveis testadas.

Para medida do grau de correlação foi empregado o cálculo do coeficiente de

correlação de Pearson, como segue:

Em que e são os valores de ambas as variáveis no

tempo. Uma vez que -1 ≤ r ≥ 1, busca-se confirmar a relação por meio de valores de

r diferentes de zero. Como referência do grau de correlação, tem-se:

QUADRO 1. Referência de grau de correlação linear

Valor de r (módulo) Correlação

0,00 a 0,19 Muito fraca

0,20 a 0,39 Fraca

0,40 a 0,69 Moderada

0,70 a 0,89 Forte

0,90 a 1,00 Muito forte

Fonte: LEG/UFPR; Elaboração própria.

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ANEXO B - AVALIAÇÃO DE RISCO

Existem variadas metodologias e agências de avaliação de risco dos

mercados de capitais globais. Os mais relevantes para o Brasil são aqueles

calculados pelas agências de rating – avaliação - de crédito norte-americanas Fitch,

Moody’s e Standard & Poor’s, que medem o risco de inadimplência do órgão

devedor dos títulos emitidos pelo governo federal brasileiro - rating soberano. A

escala a seguir representa os graus existentes na avaliação da agência Fitch.

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QUADRO 2. Escala de avaliação de crédito de longo prazo para títulos públicos33

Grau de Investimento

AAA

Melhor qualidade de crédito. É atribuído apenas em casos de capacidade excepcionalmente elevada de pagamento dos compromissos financeiros.

AA

Qualidade de crédito muito alta.

A

Qualidade de crédito alta.

BBB*

Boa qualidade de crédito.

Grau Especulativo

BB

Especulativo. O rating "BB" indica que há possibilidade do risco de crédito aumentar, particularmente como resultado de mudanças adversas na economia,

ao longo do tempo.

B

Altamente especulativo.

Para emissores e obrigações adimplentes, indica um significativo risco de crédito.

CCC

Para emissores e obrigações adimplentes, a inadimplência é uma possibilidade real.

CC

Para emissores e obrigações adimplentes, algum tipo de inadimplência é provável.

C

Para emissores e obrigações adimplentes, a inadimplência é iminente.

RD

Indica uma entidade que deixou de efetuar os pagamentos devidos (dentro do período de carência aplicável) de algumas mas não todas as suas obrigações

financeiras relevantes.

D

Indica um emissor ou país que deixou de cumprir com todas as suas obrigações financeiras.

Fonte: Fitch Rating; Elaboração própria.

* Grau concedido aos títulos soberanos do Brasil em 29 de maio de 2008 pela

agência Fitch.

33 A escala exposta diz respeito apenas à avaliação de crédito de longo prazo, sendo que há, para os

diferentes riscos avaliados, e para as diferentes categorias de títulos, escalas específicas. As escalas usadas pelas demais agências, embora semelhantes, contêm diferenças, e a acima ilustrada é uma proxy das escalas empregadas pelas demais instituições.

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Há, ainda, outra forma de avaliação de risco endêmico muito empregada na

avaliação de investimento em países emergentes, e em que o Brasil evolui de forma

extraordinária no período. Trata-se do Emerging Markets Bond Index Plus (EMBI+),

calculado desde 1992 pela empresa de serviços financeiros JP Morgan, comumente

chamado de risco-país. Este índice medido em pontos base tem como referência de

risco zero – zero pontos base, os títulos do Tesouro dos Estados Unidos da

América.

Assim, para cada 100 pontos base EMBI+, o país emissor deveria oferecer ao

titular um ponto percentual de rendimento anual a mais em relação à remuneração

do Tesouro norte-americano para ser tão atrativo quanto o mesmo. Uma vez que a

taxa SELIC reflete a rentabilidade dos títulos públicos brasileiros, a atratividade

medida pelo risco-país estabelece qual o nível de taxa de juros da economia

necessária à captação de recursos externos.

O nível mais alto – e portanto pior - atingido pelo EMBI+ Brazil, o chamado

Risco Brasil, foi de 2.436, no período imediatamente anterior à eleição de Luiz Inácio

Lula da Silva para a presidência da República, em 2002. Já o ponto mais baixo

alcançado por este mesmo índice foi 142 pontos base, em maio de 2008.

Ambas as formas de rating são calculadas em função de indicadores sociais e

econômicos dos países avaliados.

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