UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO “A VEZ DO MESTRE” O BRINCAR E SUA IMPORTÂNCIA NA VIDA DA CRIANÇA Por: Márcia de Santana Moura Professor Orientador: Luiz Claúdio Lopes Alves Rio de Janeiro Junho / 2003
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
O BRINCAR E SUA IMPORTÂNCIA
NA VIDA DA CRIANÇA
Por: Márcia de Santana Moura
Professor Orientador: Luiz Claúdio Lopes Alves
Rio de Janeiro
Junho / 2003
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS - GRADUAÇÃO “ LATO SENSU “
PROJETO VEZ DO MESTRE
PSICOPEDAGOGIA TURMA 482
O BRINCAR E SUA IMPORTÂNCIA
NA VIDA DA CRIANÇA
Objetivos:
A criança e o seu brincar fazem parte desse estudo.
Através de uma abordagem multidisciplinar
estaremos objetivando estabelecer uma relação entre
as brincadeiras e o cotidiano infantil.
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AGRADECIMENTOS
Aos professores e alunos que muito contribuíram para
a realização desse trabalho , especialmente todos
aqueles que acreditam que brincadeira é coisa séria.
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DEDICATÓRIA
À todas as crianças da sala de Ludoterapia
da Associação Fluminense de Reabilitação e aos
alunos da Escola Municipal Francisco M. Brandão.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 6
CAPÍTULO I 8
BRINCADEIRA E COISA SÉRIA (O BRINCAR NO CONTEXTO ESCOLAR). 8
CAPÍTULO II 15
O JOGO E SUA IMPORTÂNCIA NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA. 15
CAPÍTULO III 26
BRINCADEIRAS POPULARES 26
CAPÍTULO IV 36
O BRINCAR E A TERAPIA 36
CONCLUSÃO 49
BIBLIOGRAFIA 51
ANEXOS 53
ÍNDICE 56
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INTRODUÇÃO
Este trabalho surgiu da certeza de que no mundo da criança o espaço para o
brincar é indispensável. A brincadeira é uma parcela importante na vida da criança,
ela adquire experiência brincando. As experiências tanto interna quanto externa
podem ser férteis para o adulto mas para a criança essa riqueza encontra-se
principalmente na brincadeira e na fantasia.
Os adultos contribuem , neste ponto , pelo reconhecimento do grande lugar
que cabe à brincadeira e pelo ensino de brincadeiras tradicionais , mas sem obstruir
nem adulterar a iniciativa própria da criança.
O fundamento básico desse trabalho é acreditar que o brincar é requisito
indispensável para o crescimento e desenvolvimento de nossas crianças. Preservando
o elemento lúdico , tão importante para alimentar a sensibilidade da criança e
condição primordial do desenvolvimento humano, buscamos proporcionar vivências
em que jogos, brincadeiras desempenham função social.
No primeiro capítulo vamos verificar que brincadeira para criança é coisa
séria. E onde a criança passa boa parte do seu tempo ? na escola, logo a escola tem
que se transformar num ambiente onde ela possa se sentir feliz , onde ela possa
aprender brincando e gostar de brincar de aprender.
A escola não pode se transformar num local onde ela vai por obrigação.
Acreditamos que a obrigatoriedade dificulta sua aprendizagem . Ela tem que gostar
de aprender coisas novas , e essa aprendizagem tem que ser algo natural, como então
articular o currículo escolar com o cotidiano das crianças ?
No segundo capítulo vamos passear por Piaget e Vygotsky e o que eles têm a
nos dizer a respeito dos jogos. Como o brinquedo se caracteriza em cada fase do
desenvolvimento ? Os jogos simbólicos podem ajudar as crianças a elaborar seus
conflitos cotidianos ? Permitem que elas realizem seus desejos ? Como esses autores
entendem a brincadeira ?
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No terceiro capítulo vamos trazer de volta as brincadeiras populares e sua
importância na vida da criança . A parlenda , os jogos de adivinhação , as
brincadeiras de roda, é possível através dessas e de tantas outras brincadeiras
desenvolver o pensamento e o comportamento criativo ? E desenvolver a criatividade
da criança deve ser sempre a nossa grande preocupação enquanto educadores ?
Finalmente o quarto capítulo onde apresentamos o brincar como forma de
terapia e como uma oportunidade dada a criança de se libertar de sentimentos e
problemas. O que é ludoterapia ? Quais as contribuições da Psicanálise ?
Portanto, a criança e o seu brincar fazem parte desse estudo . Através de uma
abordagem multidisciplinar , estaremos objetivando estabelecer uma relação entre as
brincadeiras e o cotidiano.
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CAPÍTULO I
Brincadeira é coisa séria
(O Brincar no contexto escolar)
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O brinquedo é uma atividade que pode determinar o desenvolvimento infantil.
As experiências vividas pelas crianças nos jogos não desaparecem com o tempo,
evoluem. É muito comum que as crianças inventem personagens durante as suas
brincadeiras solitárias e coletivas.
A maioria das pessoas diria que as crianças brincam porque gostam de o
fazer, e isso é um fato indiscutível. As crianças tem prazer em todas as experiências
de brincadeira física e emocional. Podemos ampliar o âmbito de suas experiências
fornecendo materiais e idéias , mas as próprias crianças são capazes de encontrar
objetos e inventar brincadeiras com muita facilidade , e isso dá-lhes prazer.
Normalmente , é na escola que a criança passa boa parte do seu tempo , logo ,
a escola tem que se transformar num ambiente agradável , num ambiente onde a
criança se sinta feliz.
Porém , a escola coloca o ensino , ou melhor , os conteúdos programados de
forma tão cansativa , com certa obrigatoriedade , a criança tem que aprender por
obrigação , com isso negligencia o poder de aprender de uma outra forma , mais
natural .
Aprender através de outros meios, que não sejam os tradicionais como , por
exemplo , através de uma linguagem gestual , das imagens , da música , nos jogos ,
no brincar , assim , ler e escrever podem ser uma gostosa brincadeira desde que seja
apresentada de forma divertida , prazerosa .
Se uma criança dramatiza , desenha , modela , dança , canta ela vai ler e
escrever melhor. Essas atividades transportam alegria para a escola . Expõem e
apuram a sensibilidade existente em cada um , provocam a descontração , estimulam
a interação entre criança , jovens e adultos e valorizam diferentes processos culturais.
Não há , portanto , como negar a brincadeira papel significativo no projeto
educacional. Uma das maneiras de articular o currículo escolar como o cotidiano das
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crianças é trabalhar exatamente , como já foi dito , com jogos e brincadeiras que
fazem parte de sua vida fora da escola .
O professor deve observar do que elas brincam na hora do recreio e
transformar suas atividades em assuntos de estudo. Sem tirar o seu caráter lúdico , é
evidente . Mas fazendo exatamente o contrário , que é tornar o ensino prazeroso.
O brinquedo é parte integrante da vida da criança . Ao brincar ela organiza
seu pensamento , faz uso da linguagem e da sua criatividade.
Através da brincadeira , ela se apropria de conhecimentos que possibilitarão
sua ação sobre o meio em que se encontra. É através da brincadeira que as crianças
manifestam a sua subjetividade.
A maioria das pessoas já devem ter reparado que em determinado momento
de sua vida as crianças são muito fantasiosas. Contam histórias fantásticas como se
fossem reais. Não estamos sugerindo aqui que a escola ensine a mentir, mas que
brinque com a imaginação, essa será uma valiosa experiência para a criança.
A visão da criança como ser integral é contraditória à visão
compartimentalizada do conhecimento , proposta pela escola , na sua prática . A
escola propõe horas determinadas para que sejam realizadas atividades de
coordenação motora , outras para trabalhar a expressão plástica , outras para brincar
sob a orientação do professor e outras sem a orientação do professor.
Essa segmentação do conhecimento não favorece a formação integral da
personalidade da criança nem das suas necessidades, os meios físico e social
contribuem de maneira determinante para o desenvolvimento (Maranhão, 2002,
p.54).
A brincadeira , o uso de formas e artes e a prática religiosa tendem , por
diversos mas aliados métodos , para uma unificação e integração geral da
personalidade. As brincadeiras servem de elo entre , por um lado , a relação do
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indivíduo com a realidade interior , e , por outro lado , a relação do indivíduo com a
realidade externa ou compartilhada.
Cientes de que precisamos buscar meios para tornar eficiente e atraente a
relação ensino-aprendizagem , precisamos fazer com que os conteúdos
programáticos tenham aplicabilidade prática.
Temos de relacionar alguns conteúdos com vivências , de forma que as
crianças possam desenvolver algumas potencialidades , descobrindo aplicações para
o que precisam aprender ( Maranhão , 2002 , p.46 )
De modo geral , é preciso recuperar o verdadeiro sentido da palavra escola :
lugar de alegria, prazer intelectual, satisfação . É preciso também repensar a
formação do professor para que reflitam cada vez mais sobre a sua função e
adquiram cada vez mais competência , não só em busca do conhecimento teórico ,
mas numa prática que se alimentará do desejo de aprender cada vez mais para poder
transformar.
Com a sua atuação , professor , junto às crianças , assumindo na sua prática
o papel de dinamizador de situações em que o conhecimento circule e possa ser
socialmente construído , o que buscamos é formar crianças que não percam-nos
percalços do caminho a sua própria voz .
O jogo é , pois um quebra-cabeça... Não é , como se pensava , simplesmente
um método para aliviar tensões. Também não é uma atividade que prepara a criança
para o mundo , mas é uma atividade real para aquele que brinca. Verdadeiramente ,
brincamos , envolvemo-nos com paixão no jogo , sem precisarmos , em absoluto ,
saber o que ele significa ( Friedmann , 1998 , p.20 ) .
A tarefa é difícil , mas possível . A realidade pode e deve tornar-se a base e a
própria fonte do prazer ao mostrar a contradição entre o dever , a alegria presente e a
aspiração de buscar e aprender sempre.
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Nada será feito em favor do aluno se os professores não se interessarem
diretamente por sua própria formação e se não levarem em conta suas próprias
aptidões e suas capacidades , se não se tornarem livres e criativos para buscar seu
crescimento pessoal .
1.1 – O Brincar como recurso pedagógico
Segundo Rizzi , sempre foi desejo dos professores poder criar na sala de aula
uma atmosfera de motivação que permitisse aos alunos participar ativamente do
processo ensino-aprendizagem.
O brincar é uma atividade normal do ser humano , ainda de acordo com Rizzi,
ao brincar a criança fica tão envolvida com o que está fazendo , que coloca na ação
seus sentimentos e emoções.
O ato de brincar é tão antigo quanto o próprio homem , pois este sempre
manifestou uma tendência lúdica, isto é , um impulso para o jogo . Alguns autores
vão além , afirmando que o brincar não se limita apenas ao próprio homem , pois já
era praticado por alguns animais.
Para Piaget (1971) , a atividade lúdica dos animais é de origem reflexa ou
instintiva (lutas , perseguições , etc.). Nas espécies superiores , como o chimpanzé ,
que se diverte a fazer a água correr , a juntar objetos ou a destruí-los , a dar
cambalhotas e a imitar os movimentos de marcha etc. , e na criança , a atividade
lúdica supera amplamente os esquemas reflexos e prolonga quase todas as ações , o
brincar ultrapassa a esfera da vida humana ( Piaget , 1971 , p.146) .
Sendo parte integrante da vida em geral , o brincar tem uma função vital para
o indivíduo, não só para distensão e descarga de energia , mas principalmente como
forma de assimilação da realidade .
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O espaço reservado ao brincar , seja qual for a forma que assuma , é como se
fosse um mundo temporário e fantástico , dedicado à prática de uma atividade
especial , dentro do mundo habitual e rotineiro do cotidiano .
Segundo Rizzi , o jogo é uma atividade que tem um valor educacional
intrínseco , o jogo corresponde a um impulso natural da criança , e neste sentido ,
satisfaz uma necessidade interior , pois o ser humano apresenta uma tendência
lúdica.
Jogar educa , assim como viver educa: sempre sobra alguma coisa , mas além
desse valor educacional , que lhe é inerente , o jogo tem sido utilizado como recesso
pedagógico ( Leif , 1978 , p. 11) .
A situação de jogo mobiliza os esquemas mentais : sendo uma atividade física
e mental , o jogo aciona e ativa as funções psiconeurológicas e as operações mentais,
estimulando o pensamento.
Segundo Rizzi , brincando e jogando ela aplica seus esquemas mentais à
realidade que a cerca , apreendendo-a e assimilando-a . Brincando a criança reproduz
as suas vivências , transformando o real de acordo com seus desejos e interesses,
através do brinquedo ela expressa , assimila e constrói a sua realidade.
Como vemos , alguns dos grandes educadores do passado já reconheciam o
valor pedagógico do jogo e das brincadeiras , e tentavam aproveitá-lo como agente
educativo , diz Rizzo .
Segundo Jacquim o jogo é para a criança a coisa mais importante da vida . o
jogo , as brincadeiras no geral , é para o educador , um excelente meio de formar a
criança. Por essas razões , todo o educador , pai ou mãe , professor , dirigente de
movimento educativo , deve não só fazer jogar como utilizar a força educativa do
jogo ( Jacquim ,1963,p.7).
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O êxito do processo ensino-aprendizagem depende , em grande parte , da
interação professor-aluno , sendo que neste relacionamento , a atividade do professor
é fundamental. Ele deve ser , antes de tudo , um facilitador da aprendizagem, criando
condições para que a criança explore seus movimentos , manipule materiais, interaja
com seus companheiros e resolva situações-problema , finaliza Rizzi.
O homem necessita ser essencialmente livre para fazer escolhas .E será
através do desenvolvimento da própria pessoa , e somente assim é que poderá
alcançar a auto-realização . É aperfeiçoando a personalidade que o indivíduo atinge a
plenitude da vida.
No mundo de hoje , de experiências constantes e renovadas , para que o aluno
possa tornar-se pessoa , segundo Rogers , é preciso que o processo educativo perceba
e esteja voltado para o fato de ser o homem fonte de todos os atos. Baseado neste
quadro o processo de aprendizagem deverá necessariamente estar centralizado no
aluno.
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CAPÍTULO II
O Jogo e sua importância
no desenvolvimento da criança
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O jogo e a sua dinâmica são processos importantes para serem utilizados em
qualquer fase da vida da criança . As atividades lúdicas irão favorecer o
desenvolvimento de várias habilidades : motoras , intelectuais , atitudes morais, além
de dar oportunidade e a abrir espaço para o desenvolvimento da criatividade , a
expressão e a integração social .
Com Piaget , podemos pensar sobre os diferentes processos que estão em jogo
na aquisição do conhecimento social. Ele oferece também uma outra lição:
elaborações cognitivas ocorrem em um contexto de relações simétricas , onde o
pensamento não está limitado pelo poder hegemônico.
Na vida da criança , é exatamente na sua relação com outras crianças que está
condição é mais freqüentemente encontrada , de forma que elaborações cognitivas
construtivas no desenvolvimento das representações sociais vão ocorrer mais
claramente na análise da interação da criança com os seus iguais, em situações em
que elas estão livres para inventar , para criar , brincar.
Conforme Vigotsky , a teoria do desenvolvimento está mais afinada com
preocupações psicossociais. Para os desenvolvimentistas , Vigotsky é considerado
como alguém que forneceu uma teoria social da cognição , que pode superar as
presumíveis deficiências sociais de outras formas de teorização sobre cognição.
Não há espaço nesse ensaio para desenvolver uma apreciação sistemática da
relevância do trabalho de Piaget e Vigotsky para uma psicologia do
desenvolvimento, vamos apenas fazer um esboço sobre o trabalho desses dois
teóricos , mas precisamente sobre o que cada um pensa a respeito da importância dos
jogos na vida das crianças e no processo ensino-aprendizagem.
2.1 – Piaget e seus estágios de desenvolvimento
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Podemos conceituar o desenvolvimento , conforme Piaget , como um
processo de equilibração progressiva que tende para uma forma final , qual seja a
conquista das operações formais .
O equilíbrio se refere à forma pela qual o indivíduo lida com a realidade na
tentativa de compreendê-la , como organiza seus conhecimentos ( ou esquemas ) em
sistemas integrados de ações ou crenças , com a finalidade de adaptação.
Ao longo de sua vida Piaget observou que existem formas diferentes de
interagir com o ambiente , nas diversas faixas etárias . A estas maneiras típicas de
agir e pensar , ele denominou estágio ou período.
Assim sendo , podemos dizer , que a determinados tipos de aquisições
mentais e de organização destas aquisições que condicionam atuação da criança em
seu ambiente. A criança irá , pois , à medida que amadurece física e
psicologicamente , que é estimulada pelo ambiente físico e social , construindo sua
inteligência
O crescimento orgânico , a maturidade neurológica e fisiológica geral seja um
dos determinantes fundamentais do desenvolvimento psicológico , mas este não será
dado à criança. Ela é quem irá construir seu crescimento mental.
A criança é vista como agente de seu próprio desenvolvimento. Ela irá
construí-lo a partir dos quatro determinantes básicos: maturação , estimulação do
ambiente físico , aprendizagem social e tendência ao equilíbrio , e este processo é
observado em todas as crianças.
Segundo Piaget , o desenvolvimento da inteligência está voltado para o
equilíbrio , a inteligência é adaptação ao ambiente. Dessa forma podemos entender a
importância do brincar para o desenvolvimento da criança.
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Piaget faz referência ao brinquedo em termos de evolução social e da
inteligência , mostrando como ele se caracteriza , basicamente , em cada período do
desenvolvimento.
No período sensório-motor , onde a interação social da criança é bastante
limitada , predomina o brinquedo isolado , mais de caráter exploratório , onde a
criança parece explorar as potencialidades dos objetos , sem necessidade de se
acomodar a eles. Nessa fase, a criança desenvolve seus sentidos , seus movimentos ,
seus músculos , sua percepção e seu cérebro.
Olhando , pegando , ouvindo , apalpando , mexendo em tudo que encontra a
seu redor , ela se diverte e conquista novas realidades. Em sua origem sensório-
motora , o jogo para ela é pura assimilação do real ao eu e caracteriza as
manifestações de seu desenvolvimento.
Os esquemas que não são utilizados com finalidade adaptativa ( mas que
permanecem no repertório comportamental do sujeito ) podem ser repetidas pelo
simples prazer que provocam no sujeito , prazer este provocado , talvez , por um
sentimento de eficiência ou poder ( no sentido de dominar um determinado objeto ) .
Dessa forma , já podemos perceber um caráter lúdico no segundo subestádio
do período sensório-motor ( entre um e quatro meses de idade ) , quando o bebê
executa as reações circulares primárias , que vão incluir um elemento adaptativo , no
sentido que dão ao bebê uma forma de explorar a si próprio e ao ambiente
circundante , mas que incluem também um elemento lúdico , quando repetidas
muitas vezes , o que se manifesta pelo sorriso ou até mesmo pelo riso , no caso do
bebê mais desenvolvido.
É por volta dos dois anos , fase simbólica , que a criança passa a se definir e a
se estruturar como o diferenciador dos animaizinhos. Os animais mais desenvolvidos
do mundo não ultrapassam essa fase. É uma das mais importantes para a vida da
criança em todos os aspectos.
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Além dos movimentos físicos , ela passa a exercitar intencionalmente
movimentos motores mais específicos , utilizando para isso as mãos. Adora rasgar ,
pegar o lápis , mexer com as coisas , encaixar objetos nos lugares , montar e
desmontar coisas , dando aos exercícios uma intenção inteligente e uma evolução
natural de sua coordenação.
Os exercícios motores dos músculos amplos e finos passam a ser dirigidos e
aplicados segundo uma ordem intencional , provocando-lhe manifestações
psicomotoras. Essas manifestações são expressões de puro simbolismo, representado
na mente.
Ela brinca de casinha , motorista , cavalo de pau , dança, tudo isso como
forma de expressão do mundo que vive , que viu e interiorizou.
O jogo simbólico , do qual a brincadeira de boneca é um exemplo típico ,
oferece à criança não só a oportunidade de atualizar seus instintos maternais ou de
aprender normas culturais de desempenho de papéis femininos , mas também , e
principalmente , oferece a oportunidade de elaborar os conflitos cotidianos por ela
vivenciados ou de realizar seus desejos insatisfeitos.
À medida que desempenha o papel de mãe , poderá trabalhar mentalmente as
angústias , alegrias , enfim , tudo que faz parte de sua experiência no contato com sua
mãe real.
Admite-se que o brinquedo represente certas realidades . Uma representação é
algo presente no lugar de algo . Representar é corresponder a alguma coisa e permitir
sua evocação , mesmo em sua ausência.
O brinquedo coloca a criança na presença de reproduções : tudo que existe no
cotidiano , a natureza e as construções humanas . Pode-se dizer que um dos objetivos
do brinquedo é dar à criança um substituto dos objetos reais, para que possa
manipulá – los ( Kishimoto , 1999 , p.18 ).
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Precisamos entender a forma de pensamento da criança para podermos
proporcionar a ela os momentos lúdicos necessários , as brincadeiras que ajudarão a
crescer e nos auxiliarão a compreendê-las melhor.
Segundo Piaget , por volta dos quatro anos , aproximadamente , a criança
entra na fase intuitiva , nesse período ela transforma o real em função das múltiplas
necessidades do eu. Os jogos passam a Ter uma seriedade absoluta na vida das
crianças e um sentido funcional e utilitário.
Os jogos de que elas mais gostam são aqueles em que seu corpo está em
movimento. Elas ficam contentes quando podem movimentar-se , e é essa
movimentação do corpo que torna seu crescimento físico natural e saudável .
Da mesma forma que correr, pular , nadar , arremessar são exercícios que
estimulam o desenvolvimento dos músculos amplos , atitudes como pegar , rasgar,
rabiscar , desenhar, pintar, costurar, modelar, amassar desenvolvem e estimulam os
movimentos finos necessários e obrigatórios para o processo de alfabetização que irá
ocorrer.
Segundo Piaget ( 1971 ), quando brinca , a criança assimila o mundo à sua
maneira , sem compromisso com a realidade , pois sua interação com o objeto não
depende da natureza do objeto , mas da função que a criança lhe atribui
(Kishimoto,1999,p.59 ) .
Na fase da operação concreta , ( 6-8 a 11-12 anos aproximadamente ) , a
criança incorpora os conhecimentos sistematizados , toma consciência de seus atos e
desperta para um mundo em cooperação com seus semelhantes.
Observa-se um marcante declínio do egocentrismo intelectual e um crescente
incremento do pensamento lógico. Isto é , em função da capacidade , agora
adquirida, de formação de esquemas conceituais , de esquemas mentais verdadeiros,
a realidade passará a ser estruturada pela razão e não mais pela assimilação
egocêntrica , como ocorria na fase anterior.
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É interessante observar os pontos mais significativos de seu
desenvolvimento. Os exercícios físicos funcionais ao desenvolvimento transformam-
se , aos poucos , em práticas esportivas pois passam a compreender finalidades , por
meio de esforços conjuntos.
Nessa fase os jogos transformam-se em construções adaptadas , exigindo
sempre mais o trabalho efetivo e participativo no processo de aprendizagem , que
começa a sistematizar o conhecimento existente. Nessa idade a criança começa a
pensar inteligentemente , com certa lógica . Começa a entender o mundo mais
objetivamente e a Ter consciência de suas ações , discernindo o certo do errado .
Com a capacidade de lidar com operações como a conservação , a
classificação e a seriação , a criança no estágio operacional concreto finalmente
desenvolveu um sistema completo e muito lógico de pensamento . Esse sistema , no
entanto , ainda está ligado a realidade física . A lógica basea-se em situações
concretas que podem ser organizadas , classificadas ou manipuladas ( Woolfolk,
2000 , p.45 ) .
Na fase operacional –formal , ( 11 anos em diante ) , os jogos tornam-se ainda
mais atraentes aos jovens. Os jogos caracterizam-se como atividades adaptativas ao
equilíbrio físico pois realizam o aperfeiçoamento dos músculos tão comuns e
apreciados e engendram princípios de descobertas , de julgamento , de criatividade
possibilitando o surgimento de relações sociais.
Se no período das operações concretas , a inteligência da criança manifesta
progressos notáveis , apresenta por um lado , ainda algumas limitações. Talvez a
principal delas , que está implícita no próprio nome , relaciona-se ao fato de que
tanto os esquemas conceituais como as operações mentais realizadas se referem a
objetos ou situações que existem concretamente na realidade.
Na adolescência , esta limitação deixa de existir , e o sujeito será então capaz
de formar esquemas conceituais abstratos ( conceituar termos como amor , fantasia ,
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justiça , esquema , democracia , e realizar com eles operações mentais que seguem os
princípios da lógica formal , o que lhe dará , sem dúvida , uma riqueza imensa em
termos de conteúdo e de flexibilidade de pensamento .
Com isso adquire capacidade para criticar os sistemas sociais e propor novos
códigos de conduta , discute os valores morais de seus pais e constrói os seus