UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE HIPERATIVIDADE – UM OLHAR DIFERENCIADO. Por: Karine Vizzoni da Silva Coelho. Orientadora Profª. Diva Nereida Marques Machado Maranhão. Rio de Janeiro 2005
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
HIPERATIVIDADE – UM OLHAR DIFERENCIADO.
Por: Karine Vizzoni da Silva Coelho.
Orientadora
Profª. Diva Nereida Marques Machado Maranhão.
Rio de Janeiro
2005
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
HIPERATIVIDADE – UM OLHAR DIFERENCIADO.
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como condição prévia para a
conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu”
em Orientação Educacional.
Por: karine Vizzoni da Silva Coelho.
Julho/ 2005
3
AGRADECIMENTOS
A Deus, pois sem ele nada disso seria
possível. E as pessoas que direta ou
indiretamente contribuíram para a
confecção desse trabalho.
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DEDICATÓRIA
Ao meu marido Alexandro, pela
participação efetiva na construção deste
trabalho e incentivo constante na busca
do saber. A minha mãe Maria da Penha,
por estar sempre presente em minha vida,
e pela ajuda na criação da minha filha,
nos momentos que preciso estar ausente.
A minha querida filha Lorena, pela alegria
que trouxe ao nosso lar. E finalmente a
minha amiga Ana Cláudia do Carmo que
acabou nos deixando no meio do curso,
impossibilitada de concluí-lo, devido à
violência monstruosa que se instalou em
nosso país.
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RESUMO
Esta monografia trás de forma clara a demonstração da influência do
diagnóstico e do subdiagnóstico para o desenvolvimento de crianças nos mais
diversos campos de sua vida.
Hiperatividade, isso explica tudo?
É um transtorno na vida de muita gente e ganhou o nome de Déficit de
Atenção. Até aí todos concordam. Mas de um lado estão os que vêem a
criança como portadora do déficit: é ela quem não consegue prestar atenção:
enquanto do outro os que a percebem como vítima da falta de atenção – da
escola, da família, das instituições.
Os primeiros afirmam que o transtorno do déficit de atenção com
hiperatividade (TDAH) ou déficit de atenção (DDA) é subdiagnosticado e
muitas crianças sofrem danos terríveis em sua vida escolar e social por falta de
tratamento (com remédios). Os outros alertam para uma explosão de
diagnósticos de TDAH nos últimos dois anos, com prescrição indiscriminada de
estimulantes como aposta numa solução mágica para as crianças que têm
dificuldade de se concentrar em suas atividades.
É necessária máxima atenção a quantidade de diagnósticos ocorridos
atualmente, são tachados hiperativos todos aqueles filhos ou alunos mais
agitados, rebeldes, estressados. E de acordo com estimativas da Organização
Mundial de Saúde representam cerca de 5% da população as pessoas com
TDAH, diagnosticadas corretamente por especialistas.
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METODOLOGIA
A metodologia utilizada será através do método de pesquisa, ou seja, da
coleta de dados relacionados ao assunto em destaque.
As técnicas aplicadas são:
- Levantamento de informação ao assunto abordado.
- Pesquisas em fontes clínicas.
- Análise de propostas pedagógicas direcionadas ao déficit de atenção e
hiperatividade.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I – A história do TDAH. 09
CAPÍTULO II – As implicações educacionais do TDAH. 25 CAPÍTULO III – O tratamento do TDAH. 35 CONCLUSÃO 52 BIBLIOGRAFIA 54 ANEXOS 56 ÍNDICE 61 FOLHA DE AVALIAÇÃO 63
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INTRODUÇÃO
O Transtorno do Déficit de Atenção/ Hiperatividade (TDAH), é um
problema de saúde mental que tem três características básicas: a desatenção,
a agitação (ou hiperatividade) e a impulsividade. Este transtorno tem um
grande impacto na vida da criança ou do adolescente e das pessoas com as
quais convive (amigos, pais, professores). Pode levar a dificuldades
emocionais, de relacionamento familiar e social, bem como um baixo
desempenho escolar. Muitas vezes, é acompanhado de outros problemas de
saúde mental.
Durante o ciclo do desenvolvimento humano, toda pessoa se depara
com uma série de situações problemáticas que podem abranger desde
grandes crises, tais como uma doença grave e suas conseqüências, até
pequenas dificuldades encontradas no dia-a-dia de todo ser humano.
Em relação ao TDAH os sintomas aparecem freqüentemente cedo na
vida da criança, mas tornam-se graves a partir do ingresso deste na escola,
porque durante o processo de aprendizagem escolar a criança necessita focar
mais a sua atenção e permanecer sentada durante as aulas.
Entretanto, nem todas as crianças apresentam problemas em todas as
áreas, o TDAH pode variar amplamente na diversidade de sua manifestação e
sintomas.
Para aqueles que conseguirem administrar adequadamente e conviver
satisfatoriamente com o portador de TDAH estará aberta uma nova existência,
permitindo-se a capacidade de reagir ativa e positivamente às adversidades e
oportunidades da vida.
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CAPÍTULO I
A HISTÓRIA DO TDAH.
Historicamente, há alusões a respeito desses problemas na infância
em muitas das grandes civilizações. O médico grego Galen foi um dos
primeiros profissionais a prescrever ópio para a impaciência, inquietação e
cólicas infantis. Por volta de 1890, médicos trabalhavam com pessoas que
apresentavam dano cerebral e sintomas de desatenção, impaciência e
inquietação.
Em 1920, Still descreveu um problema em crianças que ele denominou
como defeito na conduta moral. Ele notou que esse problema resultava em
uma inabilidade da criança para internalizar regras e limites, como também em
uma manifestação de sintomas de inquietação, desatenção e impaciência. Still
notificou que esses comportamentos poderiam ser resultados de danos
cerebrais, hereditariedade, disfunção ou problemas ambientais.
Entre os anos de 1917 e 1918, a partir de uma erupção de encefalites,
os profissionais de saúde observaram que havia um grupo de crianças
fisicamente recuperadas das encefalites, mas que apresentavam inquietação,
desatenção e que eram facilmente impacientes e hiperativas, comportamentos
esses não exibidos antes da doença.
Foi então aventado que esses comportamentos resultavam de um
mesmo nível de prejuízo cerebral causado pelo processo de doença.
Esse modelo de conduta foi então descrito como uma desordem pós-
encefalítica (Bender, 1942).
Em 1937, um médico com o nome de Charles Bradley, enquanto
trabalhava com crianças emocionalmente perturbadas em uma clínica
10 psiquiátrica infantil, experimentou as medicações estimulantes. No mesmo ano
Molitch e Eccles investigaram o efeito do benzedrine nas medidas de
inteligência com crianças. Bradley observou uma notável diferença nas
respostas de crianças que estavam administrando o benzedrine. Por um
período de tempo elas ficavam mais calmas, mais positivas, menos
oposicionistas, prestavam mais atenção e pareciam aprender melhor.
Na Segunda Guerra Mundial pesquisadores tiveram a oportunidade de
estudar uma ampla variedade de prejuízos da guerra, incluindo os traumas
cerebrais. Foi descoberto que o prejuízo de qualquer parte do cérebro
freqüentemente resultava em comportamentos de desatenção, inquietação e
impaciência. Nesta mesma época Strauss e colaboradores formularam a
hipótese que o principal problema dessas crianças era a distração. Ainda nesta
época ocorreu um grande uso de medicações psicotrópicas, associadas a
algumas mudanças no currículo escolar, como também algumas mudanças em
sala de aula, pelo professor, como retiradas de decorações excessivas, janelas
fechadas, etc.
Na década de 40 surgiu a designação de Lesão Cerebral Mínima. A
utilização desse termo apoiou-se muito nas evidências que demonstravam
associações de alterações comportamentais, principalmente hiperatividade,
com lesões do sistema nervoso central.
A partir dos anos 60, surgiu a necessidade de definir essa síndrome
sob uma perspectiva mais funcional, dando-se ênfase à caracterização da
hiperatividade como síndrome de conduta.
Na década de 70 a Classificação Internacional das Doenças, o CID-9,
manteve uma denominação semelhante – Síndrome Hipercinética.
Já a partir da década de 80, e com o resultado de diversas
investigações o DSM-III alterou o termo para Distúrbio do Déficit de Atenção,
11 em que foram ressaltados os aspectos cognitivos da definição da síndrome,
principalmente o déficit de atenção e a falta de autocontrole ou impulsividade.
O DSM-III, revisado em 1987, enfatizou novamente a hiperatividade,
alterando o nome do transtorno para Distúrbio de Hiperatividade, com Déficit
de Atenção.
Já em 1993, o CID-10 manteve a nomenclatura como Transtornos
Hipercinéticos.
O Manual Diagnóstico das Doenças Mentais, o DSM-IV, Em 1994,
denominou como Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade, utilizando
como critério dois grupos de sintomas de mesmo peso para diagnóstico: a)
desatenção e b) hiperatividade/ impulsividade.
1-1 Características do Transtorno do Déficit de Atenção.
O DSM-IV define o Transtorno do Déficit de Atenção/ Hiperatividade
como um problema de saúde mental, considerando-o como um distúrbio
bidimensional, que envolve a atenção e a hiperatividade/ impulsividade.
A característica essencial do Transtorno de Déficit de Atenção/
Hiperatividade é um padrão persistente de desatenção e/ ou hiperatividade,
mais freqüente e severo do que aquele tipicamente observado em crianças de
mesma idade que estão no nível equivalente de desenvolvimento.
Barkley (1987) indica algumas características:
a) O surgimento dos sintomas do TDAH nos primeiros anos de vida,
embora atualmente alguns estudos sugiram a possibilidade de aparecimento
dos sintomas em uma idade mais avançada, até por volta dos 12 anos.
12 b) Uma inquietação motora e períodos reduzidos de atenção que ficam
aquém das expectativas da idade da criança.
c) Generalização dos sintomas em diversas situações e/ ou ambientes.
d) Uma discrepância entre o nível do desenvolvimento cognitivo e os
problemas de autocontrole. Essas crianças mostram-se mais imaturas do que
geralmente são.
Para se pensar no diagnóstico de TDAH é necessária a presença de
características em pelo menos dois ambientes diferentes. Por exemplo, em
crianças e adolescentes em casa e na escola. Assim diminuiremos a chance
de considerar que uma criança que apresente desatenção e hiperatividade
apenas na escola devido a inadequação dos métodos de ensino, ou que
apresente tais sintomas apenas em casa devido a dificuldades no
relacionamento familiar, seja erradamente diagnosticada como portadora de
TDAH.
A capacidade de parar quieto e de concentrar-se em uma atividade
não exclui o diagnóstico de TDAH. Algumas crianças e adolescente com TDAH
conseguem ficar por bastante tempo quietas e atentas a um programa de
televisão, jogando videogame ou navegando na Internet. A explicação para
isso é simples: a atenção e o controle motor são muito dependentes da
motivação e de atividades individualizadas. Assim, em atividades em que a
motivação é muito grande e os estímulos são mais individualizados, estas
crianças podem parar quietas e concentrar-se. Entretanto a capacidade de
focar atenção e de controlar a motricidade em ambientes com muitos
estímulos, como uma sala de aula com 30 a 40 alunos, ou em atividades
pouco interessantes, como um tema, pode reduzir-se de forma importante na
presença de TDAH.
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Pesquisas recentes mostram que existem três tipos de TDAH:
a) TDAH com predomínio de sintomas de desatenção. As crianças
que apresentam este tipo de TDAH têm muitos sintomas de desatenção e não
apresentam ou têm poucos sintomas de hiperatividade/ impulsividade. Este
tipo parece ser mais comum em meninas e estar associado a maiores
dificuldades de aprendizagem.
b) TDAH com predomínio de sintomas de hiperatividade /
impulsividade. As crianças que apresentam este tipo de TDAH têm, ao
contrário, muitos sintomas de hiperatividade/ impulsividade e não apresentam
ou têm poucos sintomas de desatenção. Este tipo parece ser mais comum em
crianças menores e estar associado a maiores dificuldades de relacionamento
com os amigos e colegas e a mais problemas de comportamento.
c) TDAH combinado. As crianças que apresentam este tipo de TDAH,
têm ao mesmo tempo, muitos sintomas de desatenção e de hiperatividade /
impulsividade. Este tipo parece estar associado a prejuízos globais maiores na
vida da criança.
1-2 A manifestação dos sintomas de desatenção,
hiperatividade e impulsividade.
1.2.1 Desatenção.
A criança, com sintomas de desatenção não presta muita atenção a
detalhes, como por exemplo, na escola, não copia do quadro uma frase
completa, não acentua palavras corretamente, não pinga o i e não corta a letra
t. Ao fazer contas de somar faz de subtrair. Não porque não saiba, mas porque
14 não prestou atenção no sinal. Pode apresentar, também, o trabalho escolar
confuso e desorganizado, realizado sem meticulosidade, nem consideração
adequada. Escreve no caderno do final para o começo, pula folhas, passa o
conteúdo de história na parte que é de português, e seus cadernos,
geralmente, não têm capas e as folhas destes possuem “orelhas”. Os hábitos
de trabalho são desorganizados, os materiais para realização da tarefa em
geral ficam espalhados, manuseados com descuido, ou se perdem e se
danificam. Os pais não sabem mais quantos lápis, borrachas, óculos, blusas,
etc já compraram e foram perdidos em algum lugar pela criança. Sua mochila
escolar, assim como seu guarda-roupa, está sempre uma “bagunça”. Nunca
encontra o que procura.
Evita atividades que envolvam a atenção, como leitura ou brincadeiras
com jogos de tabuleiro (dama, xadrez), pois considera difícil persistir em uma
mesma tarefa até o seu término, dá a impressão de estar com a mente em
outro lugar, ou de não escutar o que acabou de ser dito, sempre estão
perguntando; O quê? O que você falou mesmo? Também apresenta
freqüentes mudanças de uma tarefa inacabada para outra, começa na
ginástica e pára, inicia o curso de teclado e desiste, é considerado pelos pais
como o famoso “fogo de palha”. Não atende as solicitações de pais e
professores, por mais simples que sejam. Dificilmente consegue terminar o
trabalho escolar, alega que não há tempo suficiente para acabar de copiar a
lição do quadro, ou que o colega da frente conversou muito e acabou
atrapalhando.
Essas crianças evitam atividades que exigem esforço mental
constante, pois são vivenciadas por elas como desagradáveis acentuadamente
aversivas. Em razão disto, essas crianças evitam, ao máximo, deterem-se em
atividades que exijam dedicação, organização e concentração. Tais crianças
evitam também atividades que tenham que “perder” tempo para “pensar”,
parecem ter “preguiça mental”. Distraem-se facilmente com estímulos sem
importância e interrompem as tarefas que estão realizando por dar atenção
15 aos barulhos e ruídos alheios, que são facilmente ignorados por outras
crianças, como, por exemplo, a buzina de um carro, uma conversa ou barulho
no fundo da classe, o barulho da TV, ou o latido do cachorro. Elas tendem a
esquecer coisas nas atividades diárias, esquece-se de levar o lanche, de levar
o material necessário para a escola, de entregar os trabalhos do dia da prova e
de dar recados importantes. Parecem estar sempre no “mundo da lua”.
Nas situações sociais, a desatenção é marcada por freqüentes
mudanças de assunto, falta de atenção sobre o que os outros dizem, distração
durante as conversas e em relação a detalhes ou regras em jogos ou
atividades.
1.2.2 Hiperatividade (atividade motora excessiva).
A atividade motora que caracteriza as crianças hiperativas, e que por
sua marcante presença deu o nome ao distúrbio, manifesta-se por meio de
uma atividade corporal excessiva e desorganizada, geralmente sem ter um
objetivo concreto. É exatamente essa ausência de finalidade que permite
diferenciá-la da superatividade observada no desenvolvimento normal da
criança, em certas situações. Juntamente com essa atividade motora
desordenada que faz com que se considere a criança como “uma zona móvel
de desastre”, , como aponta Herbert (1978), costumam surgir dificuldades em
nível de motricidade grossa (por exemplo, dificuldades de coordenação visual-
manual), observando-se, movimentos involuntários de dedos (sincinesias) que
interferem na realização de certas tarefas.
A hiperatividade pode manifestar-se por meio de inquietação, ou seja,
remexer-se na cadeira, não permanecer sentado quando deveria, correr ou
subir excessivamente em coisas (quando isto é inapropriado), dificuldades em
brincar ou ficar em silêncio durante as atividades de lazer, parece estar a “todo
vapor” ou “cheio de gás”, ou, ainda, falar em excesso. Note-se que as crianças
em idade escolar apresentam comportamentos similares, mas em geral com
16 menor freqüência ou intensidades daquelas acometidas pelo transtorno. Na
adolescência e na fase adulta, os sintomas de hiperatividade assumem a
forma de sensações de inquietação e dificuldades para envolver-se em
atividades tranqüilas, sedentárias e rotineiras.
1.2.3 Impulsividade ou falta de autocontrole.
O comportamento de toda criança é inicialmente controlado pelos
adultos, segundo certas normas, que com freqüência, vão contra seus desejos.
Entretanto, tais normas internas ou impostas acabam sendo internalizadas
pela criança no decorrer de seu desenvolvimento, de forma que o controle
externo dá lugar ao autocontrole. Esse processo encontra-se alterado nas
crianças hiperativas, em que a conduta impulsiva constitui um dos aspectos
relevantes do distúrbio, observando-se uma tendência à satisfação imediata de
seus desejos e pouca tolerância à frustração.
A impulsividade pode manifestar-se no comportamento de uma
criança, como impaciência, dificuldade para protelar respostas, responder
precipitadamente, antes que as perguntas tenham sido completadas,
dificuldade para aguardar a vez em uma fila, Poe exemplo, interrupção
freqüente ou intrusão nos assuntos de outros, a ponto de causar dificuldades
em contextos sociais, escolares ou profissionais, ou ainda dificuldades para se
expressar adequadamente. Esse tipo de criança faz comentários inoportunos,
interrompendo demais os outros, interferindo em assuntos alheios, pegando
objetos dos outros, mexendo em coisas que não deveria tocar e fazendo
“palhaçadas”. A impulsividade também pode levar a acidentes, como, por
exemplo, derrubar com facilidade objetos das mãos, não olhar por onde anda,
tropeçar em objetos e colidir com pessoas e ao envolvimento em atividades
perigosas, sem consideração quanto às possíveis conseqüências. Não tem
medo de perigo. Geralmente não pensam antes de agir. Crianças assim,
podem reagir emocionalmente a algum estímulo com choro, birra ou explosão
17 de raiva. Ás vezes sob forma de agressão direta ou atacando o outro
verbalmente.
As manifestações comportamentais geralmente aparecem em
múltiplos contextos, incluindo a própria casa, a escola ou situações sociais. É
raro o indivíduo apresentar o mesmo nível da disfunção em todos os contextos
ou dentro do mesmo contexto, em todos os momentos. A criança oscila muito
em suas atitudes: um dia parece estar bem, e, no outro pode ter dificuldades
consideráveis com a mesma tarefa, ela mostra-se inconsistentes em suas
respostas.
Os sintomas tipicamente pioram em situações que exigem atenção ou
esforço mental constante ou que não possuem um apelo ou novidade
intrínseca (por exemplo, escutar professores, fazer lições, na escola e deveres
de casa, escutar ou ler materiais extensos ou trabalhar em tarefas monótonas
e repetitivas). Os sinais do transtorno podem ser mínimos ou estarem ausentes
quando o indivíduo se encontra sob um controle rígido em um contexto novo,
envolvido em atividades muito interessantes, ou ainda em uma situação a dois
(no consultório ou com a professora particular, por exemplo).
Dessa forma, os sintomas parecem intensificar-se mais nitidamente em
situações de grupo.
1-3 Causas do Transtorno de Déficit de Atenção/
Hiperatividade.
Tem sido proposto que o TDAH deve ser visto muito mais como um
transtorno da adaptação do que como uma doença estática. Em outras
palavras os sintomas de desatenção, hiperativadade e impulsividade destas
crianças colocam-se em desvantagem em ambientes, onde a focalização da
atenção e o controle motor e dos impulsos são necessários para o adequado
funcionamento. Infelizmente a sociedade moderna ocidental coloca-nos muitas
18 vezes em tais ambientes. Vale lembrar também, entretanto, que algumas
características bastante comuns em pessoas com TDAH – como a alta carga e
emocional e de energia colocada em suas ações, a espontaneidade e a
criatividade – podem representar vantagens em ambientes que requerem
menor estruturação, como no meio artístico, por exemplo.
Recentemente, alguns pesquisadores, como o Profº Russel Barkley, da
Universidade de Massachusetts, têm definido uma teoria que busca explicar
uniformemente os sintomas clássicos deste transtorno. Eles acreditam que o
TDAH se caracteriza por um déficit básico no comportamento inibitório. Assim,
determinadas áreas do cérebro teriam a função de comandar uma espécie de
“freio de inibição”. Devido ao prejuízo no funcionamento deste “freio”, as
crianças com o transtorno apresentariam maior hiperatividade e impulsividade.
Mas como explicar, então, a desatenção característica destas
crianças? Na verdade, o problema básico delas não é o de prestar atenção,
mas sim o de manter a atenção focalizada e por períodos mais longos,
principalmente em tarefas que lhes pareçam menos interessantes. Em um
estudo clássico, pesquisadores norte-americanos da Universidade de Kentucky
acompanharam crianças com e sem TDAH enquanto elas assistiam televisão.
Quando nenhum brinquedo estava disponível no ambiente, as crianças com
TDAH assistiam a um show na televisão tanto quanto as sem TDAH e eram
tão capazes quanto as últimas em responder a perguntas sobre o que estavam
assistindo. Quando brinquedos eram colocados no ambiente, as crianças sem
TDAH continuavam a assistir ao programa. Entretanto, as crianças com TDAH
passavam a entreter-se mais com os brinquedos e interessavam-se menos em
assistir ao programa na televisão. Passando-se de uma comédia para um
programa educacional, as diferenças tornavam-se mais marcantes, ou seja: as
crianças com TDAH mostravam-se menos aptas a responder corretamente às
perguntas sobre o conteúdo do que estavam assistindo. Fica claro, nesse
exemplo, que a capacidade de manter a atenção focalizada e sustentada em
19 uma tarefa depende de uma capacidade de inibição sustentada. Em outras
palavras, é necessário que a criança mantenha em funcionamento o “freio
inibitório” para os outros estímulos do ambiente. Isto é muito difícil para os
indivíduos com TDAH, em especial em tarefas que as motivem fortemente.
Os achados científicos têm indicado claramente a presença de
disfunção em uma área do cérebro conhecida com região orbital frontal em
crianças com TDAH. Esta região é situada na parte da frente do cérebro, logo
atrás da testa. É uma das regiões mais desenvolvidas em seres humanos
comparativamente com outras espécies e parece ser a responsável pela
inibição do comportamento, pela atenção sustentada, pelo autocontrole e pelo
planejamento para o futuro. Tais achados provêm de pesquisas com:
a) Pessoas que tiveram traumatismos, tumores ou doenças nessa
região e passaram a apresentar sintomas de hiperativadade, impulsividade e
redução do tempo de atenção sustentada;
b) Animais nos quais se produz uma lesão na região frontal do cérebro,
fazendo com que eles passem a apresentar a sintomatologia característica do
TDAH;
c) Pessoa com e sem TDAH e que se avalia a função cerebral por
meio de exames modernos de neuroimagem e de testes neuropsicológicos que
sugerem consistentemente um funcionamento deficitário da região orbital
frontal nos indivíduos com TDAH.
É importante frisar, entretanto, que o cérebro deve sempre ser visto
como um órgão em que as partes apresentam alto grau de interligação. Assim,
outras áreas que possuem conexão com a região frontal podem não estar
funcionando adequadamente, levando aos sintomas de TDAH.Nesse sentido,
alterações em uma área chamada córtex parietal posterior, bastante
20 relacionada com a atenção, têm sido encontradas em indivíduos com TDAH.
Mesmo alterações nas conexões da região frontal com outras áreas do
cérebro, como as conexões que passam por uma estrutura conhecida como
núcleo caudato até chegarem a uma região mais profunda conhecida como
sistema límbico, podem estar associados ao TDAH. Fica claro, portanto, que
muito provavelmente as alterações responsáveis pelo transtorno podem
ocorrer em diversos pontos interligados do cérebro.
A grande maioria das pesquisas tem demonstrado que existem
alterações no funcionamento de algumas substâncias encontradas nessas
áreas do cérebro e são chamadas de neurotransmissores. Os
neurotransmissores têm a função de “passar informações” entre um neurônio e
outro, permitindo a interligação entre diversas partes de uma área e entre uma
área e outra.
Os neurotransmissores que parecem estar deficitários, em quantidade
ou funcionamento, em indivíduos com TDAH são basicamente a dopamina e a
noradrenalina. Assim, medicações como o metilfenidato (Ritalina), bastante
eficazes na diminuição dos sintomas de pessoas com TDAH, aumentam
claramente a quantidade de dopamina e noradrenalina no cérebro. Entretanto,
pela grande ligação das áreas cerebrais e de seus diversos
neurotransmissores, é pouco provável que a redução de uma ou duas
substâncias cerebrais possa explicar todos os sintomas de TDAH.
Tem-se pesquisado muito sobre este assunto. Infelizmente, sabemos
mais sobre o que não causa o TDAH do que sobre as reais causas do
transtorno. Entretanto, a pesquisa contemporânea tem sugerido algumas
pistas interessantes:
a) Hereditariedade – Esta é uma área crescente de pesquisa que
deverá trazer importantes subsídios para o entendimento do transtorno nos
próximos anos. Estudos realizados com famílias de crianças com TDAH, bem
21 como com gêmeos, têm indicado significativa a participação de um
componente genético na gênese do transtorno. Na prática clínica, não é
incomum que os pais relatem, surpresos, que eles próprios apresentavam na
sua infância os sintomas pesquisados de desatenção, hiperativadade e
impulsividade.
Estudos com famílias têm demonstrado que 25% dos familiares em
primeiro grau de crianças com TDAH também têm o transtorno. Isso significa
uma chance cinco vezes maior do que a encontrada na população em geral
que, como vimos, é cerca de 5%. Estudos com gêmeos idênticos (univitelinos)
mostram que, na presença do diagnóstico em um dos gêmeos, a chance de o
outro também ter o transtorno é de 80% a 90%.
Assim, os estudos avaliados em conjunto parecem indicar que a
hereditariedade explica entre 50% a 92% da variedade de comportamentos
hiperativos e impulsivos encontradas em crianças. Entretanto, é importante
ressaltar que, muito provavelmente, o que é herdado não é o transtorno, e sim
uma vulnerabilidade ou tendência para o mesmo. Esperamos, para os
próximos anos respostas para perguntas intrigantes, tais como: de que essa
vulnerabilidade é passada de uma geração para outra? A transmissão
depende de um gene ou de vários? A pesquisadora Tatiana Roman participa
dos esforços internacionais para elucidar essas questões por meio de um
estudo em andamento (1999) com 60 famílias de crianças com TDAH,
buscando avaliar possíveis marcadores genéticos para a vulnerabilidade ao
transtorno.
b) Problemas durante a gravidez ou no parto – Alguns estudos têm
sugerido que mulheres que tiveram complicações durante a gravidez ou no
parto apresentariam probabilidade maior de terem crianças com TDAH. O tipo
de complicação parece menos importante do que o número total de
complicações, desde que causem sofrimento fetal. Assim, um problema
durante o parto poderia funcionar como um “gatilho ambiental” que
22 desencadearia os sintomas de TDAH em quem já tivesse vulnerabilidade
genética.
Esses estudos indicam uma associação entre complicações durante a
gravidez, o parto e o aparecimento mais tarde de TDAH. Entretanto, não
demonstram uma relação de causa e efeito. Podemos ter um terceiro fator que
cause tanto as complicações na gravidez e no parto quanto o TDAH. Esse
fator poderia ser, por exemplo, a hereditariedade. Mães com TDAH poderiam
apresentar menos cuidados pré-natais e, portanto, mais complicações durante
a gravidez e o parto. A carga genética também seria a responsável pelo
aparecimento do TDAH nas crianças.
Devemos ser muito cautelosos na interpretação de estudos que
avaliam apenas associações.
c) Exposições a determinadas substâncias – Existem algumas
evidências de que altos níveis de chumbo no corpo de crianças possam estar
associados a maior risco de comportamentos de hiperatividade e desatenção.
Para que essa associação exista são necessários níveis altos, dificilmente
encontrados nas crianças; portanto, isso explicaria apenas uma porção muito
pequena e pouco significativa dos casos de TDAH. Da mesma forma, não
existe base científica para qualquer teoria ortomolecular que busque explicar
as causas do transtorno.
Alguns estudos têm indicado associação entre o uso de álcool e de
fumo durante a gravidez e o aparecimento de TDAH mais tarde. Novamente,
vale o que é discutido sobre o cuidado na interpretação de estudos de
associação.
d) Problemas familiares – Algumas teorias sugerem que problemas
familiares, especialmente um estilo parental muito permissivo, seriam
causadores de TDAH. Estudos recentes indicam que o estilo parental (forma
23 de educar os filhos) pode ser conseqüência e não causa do transtorno. Em um
estudo com família de crianças com TDAH que apresentam dificuldades
interacionais entre a mãe e a criança, administrou-se de forma alterada por
alguns dias o metilfenidato (Ritalina) e, em outros dias, placebo (substância
inativa, tipo comprimido de farinha) para as crianças. Nem as mães nem as
crianças sabiam quando as últimas estavam tomando a medicação e quando
estavam tomando o placebo. Avaliou-se a interação entre as duplas. Os
resultados mostraram claramente que o comportamento da criança para com a
mãe no período em que estava recebendo a medicação era significativamente
melhor do que o comportamento nos dias em que recebia o placebo.
Surpreendentemente, o comportamento da mãe para com a criança também
era melhor no período em que a última recebia a medicação. Logo, a presença
de uma sintomatologia mais intensa pode levar a mais dificuldades
interacionais e a alterações no estilo parental.
Algumas características familiares podem funcionar como
desencadeadores inespecíficos de problemas de saúde mental em crianças e
não parecem específicos para TDAH. Muitas vezes, tais características
também funcionam determinando maior gravidade ou persistência para os
sintomas do transtorno. Tais características familiares englobam:
(a) funcionamento familiar caótico;
(b) alto grau de discórdia conjugal;
(c) baixa instrução materna;
(d) famílias com nível socioeconômico mais baixo;
(e) famílias com apenas um dos pais, ou que o pai abandona a família.
Assim, parece ser de bom senso esperar que uma criança com TDAH
irá funcionar pior em uma família com funcionamento caótico, do que em uma
família estruturada.
24 Estudos iniciais têm sugerido que famílias caracterizadas por um alto
grau de agressividade nas interações podem contribuir para o aparecimento de
comportamento agressivo ou de oposição desafiante nas crianças. Nesse
caso, as características familiares levariam ao surgimento de sintomas que
freqüentemente acompanham o TDAH, mas não ao transtorno propriamente
dito.
e) Alimentações – Há alguns anos, várias matérias foram publicadas
na imprensa leiga sugerindo a associação entre uma dieta muito rica em
açúcar ou em alimentos que continham aditivos ou conservantes e o
surgimento de comportamento hiperativo em crianças. Na verdade, não existe
nenhuma evidência científica que indique qualquer associação entre alimentos
e TDAH:
f) Hormônios – Em 1993, foi publicada uma pesquisa mostrando que
pacientes com um tipo raro de deficiência de hormônio tireoideano associada a
fatores genéticos apresentavam uma freqüência alta de TDAH. O hormônio
tireoideano é produzido pela glândula tireóide, localizada no pescoço. Estudos
posteriores não mostraram qualquer associação entre TDAH e níveis alterados
de hormônios tireoideano. Não existe, até o momento, evidência de relação de
TDAH com qualquer alteração hormonal.
Pelas razões expostas, o modelo mais aceito no momento para
explicar as causas do TDAH é o de uma vulnerabilidade herdada ao transtorno
que vai manifestar-se de acordo com a presença de desencadeadores
ambientais. Quanto mais forte a carga genética, menor a importância dos
desencadeadores ambientais.
25
CAPÍTULO II
IMPLICAÇÕES EDUCACIONAIS DO TDAH.
“Como identificar os alunos que
sofrem do distúrbio de atenção e
ajudá-los a continuar aprendendo”.
(Paola Gentile).
Na sala de aula ele é o “pestinha”: Arranca os brinquedos dos colegas,
anda de um lado para o outro, não fica mais de dois minutos sentados no
mesmo lugar. Nunca termina as tarefas solicitadas e sai de sala várias vezes
sem pedir licença. Em algumas ocasiões chega a ser agressivo. Esse
comportamento, geralmente confundido com indisciplina, é característico de
um distúrbio de atenção que atinge cerca de 5% das crianças e adolescentes
de todo o mundo: a hiperatividade. Conhecer os sintomas e aprender a lidar
com esse problema é uma obrigação de qualquer professor que não queira
causar danos a seus alunos. Afinal, a demora em diagnosticar o caso pode
trazer conseqüências sérias para o desenvolvimento da criança.
26 Embora prejudique a capacidade de concentração e atenção, a
hiperatividade é facilmente tratável. Além da medicação, a reorientação
pedagógica na escola ajuda o aluno a não perder o rendimento.
Segundo o psiquiatra Ênio Roberto de Andrade, coordenador do
Ambulatório de Transtornos de Deficiência de Atenção do Hospital das Clínicas
de São Paulo, a hiperatividade só fica evidente no período escolar, quando é
preciso aumentar o nível de concentração para aprender. “O diagnóstico
clínico, no entanto, deve ser feito com base no histórico da criança”, explica.
“Por isso, a observação de pais e professores é fundamental”.
Geralmente os hiperativos se mexem muito durante o sono quando
bebês. São mais estabanados assim que começam a andar. Às vezes,
apresentam retardo na fala, trocando as letras por um período mais prolongado
que o normal. Em casa, esses sintomas nem sempre são suficientes para
definir o quadro. Na escola, porém, eles são determinantes.
O distúrbio não tem ainda uma causa única comprovada. Sabe-se que
a origem é genética e que seus portadores produzem menos dopamina, um
neurotransmissor responsável pelo controle motor e pelo poder de
concentração, que atua com maior intensidade nos gânglios frontais do
cérebro. Isso explica o fato de os hiperativos não se concentrarem e
esquecerem facilmente o que lhes é pedido. Pela alta incidência em meninos –
cerca de 80% dos casos – acredita-se que o problema pode estar relacionado
também ao hormônio masculina testosterona.
Três fatores principais ajudam distinguir o hiperativo da criança que
tem apenas um distúrbio de atenção mais leve e daquela que busca apenas
chamar a atenção: a contínua agitação motora, a impulsividade e a
impossibilidade de se concentrar, seja em brincadeiras ou em atividades
pedagógicas. Essas atitudes devem ser constantes durante pelo menos seis
meses seguidos.
27
“Os professores que têm alunos hiperativos precisam de paciência e
disponibilidade, pois eles exigem tratamentos diferentes, mais atenção e uma
rotina especialmente estimulante”, afirma Regina Borella, orientadora
pedagógica do Colégio Pueri Domus, de São Paulo.
Nem sempre os pais admitem que o filho é hiperativo. ”Muitos acham
que a criança é esperta demais e, por isso, está sempre interessada em
novidades”. Além disso, eles acreditam que o tratamento pode tirar a
espontaneidade do pequeno.
“Em casos leves, o distúrbio pode ser tratado apenas com terapia e
reorientação pedagógica”, diz o psiquiatra Ênio de Andrade. “Os casos graves
necessitam de tratamento com medicamentos”. O tratamento é feito por um
período mínimo de dois anos, mas deve durar até a adolescência, quando os
sintomas diminuem ou desaparecem, graças ao amadurecimento do cérebro,
que equilibra a produção de dopamina.
Para a psicóloga Mônica Duchesne, da Associação Brasileira do Déficit
de Atenção, outra conseqüência da hiperatividade é a baixa auto-estima das
crianças, que surge quando elas notam que são diferentes das demais – em
alguns casos, são as únicas a não concluir o dever. “Isso pode criar um
estigma que traz repercussões sociais”.
De acordo com Mônica se a hiperatividade não for adequadamente
tratada na infância, pode deixar seqüelas na fase adulta, como desorganização
para executar tarefas e rotinas diárias, distração excessiva, sonolência diurna e
cansaço mental. Além disso, a pessoa corre o risco de se tornar hipersensível
a críticas e irritadiça, apresentar aparente falta de motivação e rancor
exagerado, bem como problemas de memorização.
2-1 As manifestações comportamentais em sala de aula.
28
O pré-escolar jovem move-se rapidamente pela sala, colocando-se em
tudo de uma maneira casual, caótica. Ela escala, salta e corre como que
“impulsionado por um motor”. Em idade escolar, a criança mostra uma ampla
variedade de comportamentos impulsivos e hiperativos. Na classe, a
desatenção predomina, pois a criança, com freqüência, parece não estar
escutando, estar devaneando, e / ou preocupada enquanto se contorce ou se
move inquietamente em sua cadeira. A desatenção pode degradar seriamente
o desempenho acadêmico da criança, evidenciado por caligrafia desleixada,
erros por desatenção e papéis enxovalhados. Em situações de grupo, como na
sala de aula, as dificuldades para realizar atividades independentes, exercem o
maior estresse. Na aula de ginástica, os níveis podem ser mais baixos, uma
vez que crianças com TDAH têm problemas em modular seus comportamentos
para baixo (sala de aula) ou para cima (durante um jogo de futebol) conforme
um ambiente social exige. No pátio, durante o recreio, a criança poderá tornar-
se indistinguível das outras crianças, pois essas crianças descobrem
rapidamente que a impulsividade e a desatenção da criança torna-a uma
companheira inadequada. O comportamento da criança não apenas interferirá
em sua própria atividade, mas também interferirá seriamente nas outras. O
comportamento da criança com TDAH é desigual, imprevisível e não-reativo às
intervenções normais do professor. Isto, muitas vezes, leva a interpretar o
comportamento da criança como desobediente. Assim, o professor pressiona
ainda mais, tendo como resultado a crescente frustração para ele próprio e
para a criança. O comportamento dessas crianças tem um forte impacto sobre
o comportamento do professor em relação à classe como um todo. As crianças
com problemas de atenção/ hiperativadade, muitas vezes, são imaturas e
incompetentes quando se trata de aptidões sociais. Até mesmo os seus
maiores esforços fracassam.
O adolescente é visto em sala de aula, pelo professor, com um
aparente desinteresse e / ou apatia. Nas atividades escolares é desatento
durante as aulas e muitas vezes não cumpre os prazos para a entrega dos
29 trabalhos, esquecendo-se dos dias de provas, dando a impressão de que não
está “nem aí”.
Devido à grande variabilidade da manifestação dos sintomas, a maioria
das crianças em idade escolar não demonstra os sinais cardinais do
Transtorno de Déficit de Atenção / Hiperatividade em todas as situações.
Muitas vezes, os problemas de atenção sem hiperativadade são menos
visíveis do que os problemas de controle de impulsos e atividade. As meninas
podem apresenta-se com mais rendimento, na escola, enquanto os meninos
são encaminhados por problemas comportamentais. Tarefas que são
sedentárias, repetitivas e que requerem auto-instrução (trabalhos de aula ou
deveres de casa) podem produzir os sinais mais intensos do transtorno.
2-2 O papel da escola e do professor.
Um dos passos fundamentais para ajudar a criança com TDAH no seu
ajustamento educacional é a escolha do tipo de escola. Muitas vezes, não há
muitas opções quanto á variedade de escolas em determinadas cidades. Neste
caso deve selecionar aquelas disponíveis e escolher a melhor. A literatura
sobre TDAH aponta alguns aspectos que devem ser analisados quanto á
escolha da escola, entre eles:
• Deve discutir-se com a equipe escolar a respeito da noção que esta tem
sobre TDAH, o que e como a escola faz para receber tais alunos.
• Levar em conta o tamanho da classe. O tamanho ideal é aquele que
comporta entre doze a quinze alunos. Questionar se os professores
recebem treinamento e suporte extra de outros profissionais, como
pedagogos, psicopedagogos e / ou psicólogos.
30 • Verificar qual a posição da escola a respeito do uso de medicação, que
mecanismos a escola utiliza para sua administração, se acredita em seu
benefício ou não.
• Verificar se a escola apresenta uma política para ações disciplinares.
Quais os esforços que a escola poderá fazer para auxiliar a criança a
não cometer erros e não apenas aplicar punições.
• Verificar como se dá a comunicação entre família e escola. Existe algum
meio pelo qual os professores podem advertir os pais diariamente
quanto às principais dificuldades enfrentadas pela criança? Isto pode
dar-se por meios de comentários no próprio caderno da criança, em
uma agenda, ou, ainda, pessoalmente no final da aula. A comunicação
entre família-escola é importante porque mantém pais e professores
informados sobre o desempenho diário da criança.
• Verificar se a escola e os professores são receptivos aos profissionais
que acompanham a criança, a fim de que possam, juntos, discutir sobre
o programa educacional e as possíveis recomendações. Se a escola e
os professores mostram-se defensivos aos outros profissionais, então
deve procurar-se outra escola.
• Deve questionar-se se há outras crianças na classe com outras
dificuldades, como as de aprendizagem, de comportamento ou
emocionais. Se a classe tiver mais de duas ou três crianças com
problemas, deve solicitar-se outra classe, ou ainda, outra escola.
De uma maneira geral, a escola que parece ser a melhor para a
criança com TDAH é aquela que valoriza o desenvolvimento global desta,
reconhece e respeita as diferenças individuais, valoriza e promove o
desenvolvimento da criatividade e da espontaneidade.
31 Para Barkley (1990) ao escolher um professor para a criança com
TDAH, necessitamos avaliar dois fatores importantes: o conhecimento e a
atitude deste.
Infelizmente, poucos professores têm conhecimento sobre o TDAH.
Em muitos casos, eles têm uma percepção errada sobre a natureza, as
causas, as manifestações dos sintomas e o que devem fazer.
2-3 A necessidade de uma específica avaliação e a influência
de seu diagnóstico.
Para que serve o diagnóstico de TDAH? Para facilitar a vida escolar de
uma criança ou para transformá-la num inferno? São freqüentes os casos de
discriminação em relação a alunos que ganham um rótulo, principalmente
quando este é dado a partir de diagnósticos médicos, que não têm esse
objetivo. O TDAH e quaisquer transtornos são em si o menor dos problemas.
Doloroso mesmo será enfrentar o olhar desconfiado dos adultos que a
criança encontra pela frente – pais de seus amigos da escola, familiares e
professores.
Os diagnósticos médicos têm sido mal utilizados pela escola brasileira,
que insiste em lidar com a diversidade humana como um mal familiar,
educacional e social, combatendo-a numa guerra sem fim. Houve um tempo
em que a escola discriminava abertamente. Era fácil denunciá-la. Apoiada
pelas famílias dos demais alunos, impedia o acesso de adolescentes
afrodescendentes ou com deficiência intelectual ou com orientação
32 homossexual, etc. Hoje as discussões sobre diversidade e educação são
corriqueiras, ficou mais difícil de reconhecer e denunciar atos de discriminação
contra estudantes que ocupam o lugar do “diferente”. Lugar que sempre é
falso, porque perceber apenas um ou mais indivíduos como “os diferentes” é
negar a diversidade que nos legitima como espécie. Somos infinitamente
diferentes.
O diagnóstico de um profissional de saúde traz um conforto aos pais
porque encerra uma peregrinação de meses ou anos para entender o que
acontece com o seu filho ou o sua filha. Há a certeza de que, dali para frente,
será mais fácil tratar da saúde dele ou dela e trilhar em paz o dia-a-dia da
escola. Serão todos mais felizes, isto é se o diagnóstico não for mal utilizado.
Com a avaliação médica a escola pode se sentir mais fortalecida na prática
secular de isolar as diferenças. Diz que não está preparada para atender
aquela criança – como se este argumento fosse constitucional – e começa a
tentar provar para a família que aquele ser em formação pode ser melhor
“ajudado” e “protegido” em outras instituições de ensino. Esta é uma atitude de
discriminação travestida de amor e consideração.
Mais preocupante ainda é ver a escola agindo assim com o apoio tácito
dos pais das outras crianças, que não desejam “o diferente” atrapalhando seus
filhos e filhas em sala de aula. Atitude ingênua. Lembra da época de procurar
escola? Raramente chegamos a conhecer bem as instituições visitadas e, ao
decidir levamos em conta vários indicadores. Em geral damos importância a
perspectiva filosófico-pedagógica adotada pela escola, especialmente se esta
valoriza o desenvolvimento ético e as diferenças individuais ou defende o valor
de a criança exercitar precocemente práticas solidárias.
Nenhuma família opta por escolas que professem sua opção pela
exclusão. Quem deixaria seus filhos aos cuidados de violadores confessos de
direitos de jovens que estejam em minoria por qualquer motivo? Desse modo
se a escola solicita uma avaliação médica de um estudante para entender a
33 causa de sua desatenção ou hiperativadade bom seria que os pais desses
alunos e dos outros enxergassem aí uma excelente oportunidade para avaliar
a coerência entre o discurso e a prática da instituição, a partir do uso que fará
do diagnóstico. E, assim, verificar se também eles, pais, estão sendo
coerentes com os valores que os levaram a matricular os seus filhos ali. O
diagnóstico médico terá sempre essa utilidade: testar a nossa ética e a de
quem cerca nossa família.
O diagnóstico de TDAH é clínico, feito por meio de entrevistas com o
paciente e os pais, usando critérios descritivos, ressalta o psiquiatra Rossano
Cabral Lima, o que, portanto implica numa avaliação subjetiva, que tem que
levar em conta a relação da criança com os ambientes em que ela convive.
Segundo Mirta Zbrun, membro da Escola Brasileira de Psicanálise, de modo
geral os pais só buscam ajuda profissional quando a escola relata problemas.
Antes disso negam qualquer anomalia, pois admitir seria reconhecer
que houve falha na educação.
Em toda época há tendência em se falar de novos sintomas. Os de
hoje são de anorexia, bulimia, TDAH. As pessoas tendem a optar pelo que é
mostrado como novo, e o TDAH está na crista da onda. Mas ele não é novo, e
nada mais é do que fruto do relacionamento da criança e seus pais. Deve ser
investigado no contexto familiar e dos vínculos de sociabilidade da criança.
Mas se há comprometimento neurológico, aí é outro caso – afirma Mirta.
Lima tem opinião parecida:
“O TDAH é uma entidade que vai estar presente nesses tempos, e a
Ritalina também. Não tenho restrições ao uso do remédio quando necessário;
o que incomoda é que a extensão dos diagnósticos abarca um número cada
vez maior e expõe crianças ao uso de uma droga que não se sabe exatamente
como vai agir em cérebros em formação”.
34
A psiquiatra Ana Barbosa Silva, do Napades compara a mente de um
hiperativo a um motor de um carro que precisa ser ajustado, porque corre
demais. Mas o acerto só pode ser feito se a criança entrar para equipe de
mecânicos.
“A criança tem que ser ativa no tratamento, porque ela se conhece
neste ritmo melhor do que qualquer outra pessoa – diz”.
Foi este o pacto firmado com Pedro Henrique Costa de Castro, único
paciente para quem a médica pensou em comprar um capacete de motoqueiro
para o tempo na sala de espera:
“Tinha medo de ele se machucar de verdade, bater a cabeça. Durante
três anos, ele foi medicado e fez terapia cognitiva comportamental. Hoje, faz
terapia uma vez por mês, porque quer, e não toma mais remédio há um ano.
No consultório, entretém as crianças mais novas com bombons que trás de
casa e acalma os pais. Antes, não podia chegar perto de outra criança porque
batia. E a rejeição dos amigos é o que mais incomoda o hiperativo”.
Para a neuropediatra Lais de Carvalho Pires, o estilo de vida da
sociedade contemporânea aumenta os sintomas dos hiperativos:
“Pessoas que no passado conseguiram chegar bem onde estão, tendo
TDAH, hoje talvez não conseguissem, porque a cobrança é enorme e o
estresse muito maior, o que aumenta a agitação. A criança fica com baixa
auto-estima”.
Esse “chegar bem onde estão”, para o psiquiatra Paulo Mattos, tem a
ver com os fatores de resistência de cada um: QI elevado, classe sócio-
econômica mais alta e ausência de transtornos de aprendizagem, entre outros.
Mas ele acredita que mesmo os chamados “sobreviventes”, quando olham
35 para trás, vêem uma infância e uma juventude arrasadas, o que poderia ter
sido diferente.
CAPÍTULO III
O TRATAMENTO DO TDAH.
As intervenções precoces podem representar um grande passo para
minimizar o impacto negativo que o TDAH traz à vida da criança, dos pais, dos
seus professores. Este transtorno quando não tratado, pode associar-se as
experiências negativas de ordem social, pessoal, familiar e escolar,
permanecendo durante a adolescência e a vida adulta.
O TDAH necessita do esforço conjunto de várias pessoas, incluindo a
própria criança, os pais e a equipe multidisciplinar (psicólogo, professor,
psicopedagogo, fonoaudiólogo, médico), como também da combinação de
alguns tipos de intervenção. O psicólogo está diante de uma grande tarefa e
responsabilidade que é o de minimizar o sofrimento da criança com TDAH, de
seus pais e de seus professores. Das intervenções necessárias ao controle de
TDAH, podemos citar aquelas que o psicólogo, ou profissional de saúde
mental, poderá conduzir, entre elas: a) orientação aos pais, b) orientação de
36 professores, c) psicoterapia, d) psicopedagogia e e) acompanhamento
medicamentoso (este tipo de acompanhamento é realizado somente por um
médico). A responsabilidade do psicólogo é fazer o encaminhamento, quando
necessário, acompanhae e discutir o caso com o médico regularmente.
3-1 Orientação aos pais.
Os pais muitas vezes se queixam de que o relacionamento com seus
filhos que apresentam TDAH é, por vezes difícil e desgastante. Alguns
momentos de relação prazerosa são entrecortados por inúmeros momentos de
relação tensa e tumultuada. Embora não existam “receitas prontas”, algumas
dicas gerais e estratégias cognitivo-comportamentais específicas para o
manejo de comportamentos freqüentes encontrados nestas crianças podem
ser bastantes úteis no sentido de aliviar essa tensão. Estas “dicas” e
estratégias funcionarão tanto melhor quanto menos problemas os pais tiverem,
quanto melhor for o relacionamento familiar e quanto menos sintomas de
oposição e desafio à criança apresentar. Na presença dessas características,
dificilmente as estratégias propostas funcionarão sem a associação com
intervenções psicoterápicas individuais e/ ou familiares.
Antes de tudo, lembre-se que seu filho está tendo certas dificuldades
não porque ele é ruim ou teimoso, e sim porque o TDAH leva a criança a agir
diferentemente do esperado. É importante compreender os problemas sociais,
escolares e familiares que o seu filho enfrenta e estar disposto a auxiliá-lo
sempre. Ao mesmo tempo, procure refletir sobre como seu filho pode estar se
sentindo quando não consegue corresponder às suas expectativas. De nada
adianta exigir mais do que ele pode lhe dar.
Seguem abaixo algumas dicas úteis aos pais:
• Reforçar o que há de melhor na criança.
37 • Não estabelecer comparações entre os filhos. Cada criança
apresenta um comportamento diante da mesma situação.
• Procurar conversar sempre com a criança sobre como está se
sentindo.
• Dar instruções diretas e claras, uma de cada vez, em um nível
que a criança possa corresponder.
• Ensinar a criança à não interromper as suas atividades, tentar
finalizar tudo aquilo que começa.
• Manter em casa um sistema de código ou sinal que seja
entendido por todos os membros da família.
• Advertir construtivamente os comportamentos inadequados,
esclarecendo com a criança o que seria mais apropriado e
esperado dela naquele momento.
• Usar um sistema de reforço imediato para todo o bom
comportamento da criança.
• Estabelecer uma rotina diária clara e consistente (hora de
almoço, jantar e dever de casa, por exemplo).
• Priorizar e focalizar o que é mais importante em determinadas
situações.
• Manter limites claros e consistentes, relembrando-os
freqüentemente.
• Organizar e arrumar o ambiente como um meio de otimizar as
chances para sucesso e evitar conflitos.
• Preparar a criança para qualquer mudança que altere a sua
rotina, como festas, mudanças de escola ou residência, etc.
• Escolher cuidadosamente a escola e a professora para que a
criança possa obter sucesso no processo ensino-aprendizagem.
• Manter o ambiente doméstico mais harmônico e o mais
organizado quanto possível.
• Reservar um espaço arejado e bem iluminado para a realização
da lição de casa.
38 • Aprender a controlar a própria impaciência.
• Não sobrecarregar a criança com excesso de atividades
extracurriculares.
• Não exigir mais do que a criança pode dar; deve-se considerar a
sua idade.
• Ensinar a criança meia para lidar com situações de conflito
(pensar, raciocinar, chamar um adulto para intervir, esperar a
sua vez).
• Não esperar “perfeição”.
• Ter sempre um tempo disponível para interagir com a criança.
• Incentivar a criança a exercer uma atividade física regular.
• Estimular a independência e a autonomia da criança,
considerando a sua idade.
• Estimular a criança a fazer e a manter amizades.
• Incentivar as brincadeiras com jogos de regras, pois além de
ajudar a desenvolver a atenção, permitem que a criança
organize-se por meio de regras e limites, e aprenda a participar,
ganhando, perdendo ou mesmo empatando.
Deve sempre lembrar aos pais, que estes devem ser otimistas,
pacientes e persistentes com o filho. Não devem desanimar diante dos
possíveis obstáculos.
3-2 Orientação aos professores.
O professor tem papel fundamental no processo de aprendizagem e na
saúde mental de crianças com TDAH. Em primeiro lugar, procure o máximo de
informações a respeito do transtorno. Evite entrar em contato os pais somente
nos momentos de crise. Lembre-se sempre que o sucesso de qualquer
39 estratégia de manejo destas crianças depende de uma boa relação e
comunicação entre a escola e os pais.
Sabemos da complexidade e a dificuldade do trabalho do professor em
sala de aula. Tem vários alunos para atender e ensinar e não somente a
criança com TDAH em questão. Cada um desses alunos tem suas
necessidades, dificuldades e área de potencial. Portanto, é difícil dar a atenção
extremamente individualizada de que estas crianças muitas vezes necessitam.
Além disso, as escolas, especialmente as públicas, com freqüência não
dispõem de ambiente adequado para estas crianças. Em outras situações, a
proposta de ensino da escola deixa pouco espaço para implementação de
qualquer estratégia nova e mais flexível. Freqüentemente o professor recebe
alunos provenientes de família em que as questões de limites não são de
modo adequado manejadas. Isso lhe impõe uma dupla tarefa para cada
criança, ou seja, ensinar e educar.
As sugestões citadas abaixo são estratégias que baseiam-se em bom
senso e podem ser aplicadas em sala de aula, mesmo com alunos que não
apresentam TDAH, no sentido de obter maior qualidade do processo ensino-
aprendizagem:
• Sente com a criança a sós e pergunte como ela acha que
aprende melhor. Freqüentemente ela terá sugestões valiosas.
• Lance mão de estratégias de recursos de ensino flexíveis até
descobrir o estilo de aprendizado do aluno. Isso irá ajudá-lo a
atingir um nível de desempenho escolar mais satisfatório.
• Encoraje uma estrutura para auto-informação e monitorização. A
cada semana, sente com a criança alguns minutos e dê-lhe um
retorno sobre como ele está se saindo em sala de aula. Ouça a
opinião dela sobre os progressos e dificuldades. É necessário
que ela seja um agente ativo do processo de aprendizagem.
40 • Crie um caderno “casa-escola-casa”. Isso é fundamental para
melhorar a comunicação entre os pais e você.
• Assinale e elogie o sucesso da criança tanto quanto for possível.
Ela já convive com tantos fracassos que precisa de toda a
estimulação positiva que puder obter.
• Procure afixar as regras de funcionamento em sala de aula em
lugar visível. As crianças sentem-se reasseguradas sabendo o
que é esperado delas.
• Lembre-se de que as regras e instruções devem ser breves e
claras. Use uma linguagem adequada para o nível de
desenvolvimento da criança. Evite sentenças muito compridas.
• Sempre que possível, transforme as tarefas em jogos. A
motivação para aprendizagem certamente aumentará.
• Com um adolescente, estimule que ele tome nota dos pontos
mais importantes do conteúdo e o que estão pensando. Isso irá
ajudá-lo a organizar-se melhor.
• Escrever a mão é difícil para muitas destas crianças. Considere
a possibilidade de uso de alternativas, como digitação no
computador.
• Elimine ou reduza a freqüência de testes cronometrados.
Dificilmente, na vida real, a criança terá que tomar decisões tão
rápidas. Estes testes apenas reforçam a impulsividade destes
alunos.
• Avalie mais pela qualidade e menos pela quantidade das tarefas
executadas. O importante é que os conceitos estejam sendo
aprendidos.
Mantenha o esquema de trabalho o mais constante e previsível
possível. Estas crianças precisam de ambientes para estruturar externamente
o que elas têm dificuldades de estruturar internamente. No início da aula,
planeje com elas as atividades e tarefas que irão ser desenvolvidas. Antecipe.
Previna a criança quando for acontecer qualquer transição ou mudança do
41 esquema de trabalho, como, por exemplo, troca de tarefa, de sala de aula, ou
mesmo de método de ensino .
3-3 O papel da psicoterapia, psicopedagogia e da medicação.
As crianças com TDAH necessitam, na maioria das vezes, de algum
acompanhamento psicoterápico. A decisão do tipo de intervenção a ser
utilizada deve ser sempre tomada pelo profissional de saúde mental que
estiver atendendo a criança e sua família. Muitas vezes o transtorno é
acompanhado de sintomas de ansiedade, de depressão, de baixa auto-estima.
Nesses casos, é importante que o profissional possa lançar mão de estratégias
de apoio e de compreensão das dificuldades pelas quais a criança esteja
passando.
Cerca de 25% a 30% das crianças com TDAH apresentam problemas
de aprendizagem secundários ou associados ao transtorno. Nesses casos a
intervenção psicopedagógica é fundamental. É importante ressaltar que a
maioria das crianças com transtorno são diagnosticadas tardiamente. Logo, já
existem lacunas de aprendizagem que necessitam ser abordadas por meio de
um trabalho de reconstrução das habilidades e conteúdos. Tal reconstrução
deve ser realizada por um profissional especializado (psicopedagogo ou
fonoaudiólogo), pois o tratamento sintomatológico ou de reforço de conteúdo
não resolve as seqüelas de aprendizagem que ficaram para trás. Em conjunto
ou após o atendimento psicopedagógico, às vezes, é necessário um
atendimento pedagógico, feito pelo professor, que ajude a prevenir novas
lacunas na aprendizagem.
Em relação a medicação, só são indicados para os casos em que o
TDAH traz prejuízos graves ao portador, ou na área social ou na vida
acadêmica. A médica Ana Beatriz Barbosa Silva é contra a indicação de
remédios para crianças antes dos 6 ou 7 anos, a não ser em casos muito
graves. E ainda assim em pequenas doses, porque o cérebro é mais sensível.
42 Par a criança ser medicada, o diagnóstico de TDAH deve ser preciso e dado
por equipe médica interdisciplinar, após rigorosa avaliação clínica do paciente
e com dados de sua história familiar.
3-3-1 A psicoterapia.
Smith (1986) aponta que os problemas decorrentes do TDAH em
crianças não resultam somente de uma interação entre desenvolvimento
fisiológico e fatores ambientais, mas também em razão ao desenvolvimento do
Ego da criança. Esse mesmo autor sugere que os prejuízos cognitivos da
criança e os sintomas decorrentes do TDAH requerem que os psicólogos
modifiquem as técnicas psicoterápicas infantis habituais, em razão de sua
orientação terapêutica. O tratamento deve envolver uma abordagem integrada
que utilize outros tipos de intervenções, relacionados às outras abordagens
terapêuticas que são adicionadas à psicoterapia.
Pesquisas recentes indicam que as intervenções com base em
estratégias cognitivo-comportamental são as estratégias psicoterápicas que
promovem os melhores resultados para o controle dos sintomas de TDAH,
entretanto, como aponta Ross & Ross (1979), essas estratégias são úteis
embora não possam cobrir todos os aspectos e a demanda da criança com
TDAH.
A experiência clínica tem mostrado que o melhor modelo de
psicoterapia para crianças com TDAH é modelo integrado. As estratégias
cognitivo-comportamentais somadas aos recursos de outras estratégias
psicoterápicas parecem atingir bons resultados. A psicoterapia individual
parece ser uma intervenção efetiva dentro do plano de tratamento.
Os problemas decorrentes do TDAH não requerem psicoterapias a
longo prazo. Entretanto, algumas crianças vivem histórias sucessivas de
fracassos, que as colocam em grande risco para desenvolverem baixa auto-
43 estima, sentimentos de inferioridade, ansiedade, depressão, comportamento
desafiador oposicional, transtorno de conduta e dificuldade para entenderem
porque não conseguem corresponder às expectativas do ambiente. Quando as
comorbidades estão presentes, uma psicoterapia com prazo mais longo pode
fazer-se necessária. O profissional deverá estar bem treinado e inteirado sobre
o TDAH, bem como às suas conseqüências.
Independentemente da orientação psicoterapêutica do profissional de
saúde mental, há algumas questões básicas que devem ser tratadas com as
crianças de todas as idades. Primeiro, é importante que a criança compreenda
o porquê de estar apresentando dificuldades de atenção, impulsividade e
outros problemas que fazem com que ela fracasse frente às expectativas do
ambiente. É importante que a criança entenda algumas noções básicas do que
é TDAH e que consiga identificar suas dificuldades diárias. Isto ajuda a criança
a observar a maneira pela qual seu temperamento causa problemas em casa e
na escola. Pode explicar-se também à criança que não deve usar o TDAH para
justificar tudo o que faz de errado. Este é um dos objetivos da conscientização.
O mais importante é que ela compreenda o conceito de diferenças individuais,
que cada ser humano apresenta um ritmo próprio e que geralmente as
pessoas têm alguma dificuldade para realizar algumas coisas e facilidade para
outras. Pode esclarecer-se o fato de que algumas crianças passam pela
mesma situação.
Há algumas estórias que podem ser contadas ou lidas pela criança, em
que esta poderá identificar o que está vivendo e salientar o que é diferente na
vida dela. A estória do Pedro (Rohde & Benczik, 1999), por exemplo, ilustra e
relata sentimentos, pensamentos, dificuldades e soluções para as crianças
com TDAH, e é um instrumento interessante para o profissional utilizar com as
crianças nessa fase de conscientização.
Todo período de conscientização da criança deve ser feito por meio de
uma linguagem clara e com um vocabulário adequado e compatível à idade
44 desta. É necessário que a criança se torne um participante ativo no processo
de tratamento.
A psicoterapia também é importante porque oferece a oportunidade de
esclarecer duvidas quanto às dificuldades específicas, como, por exemplo,
dificuldades sociais e de aprendizagem. A psicoterapia promove também o
desenvolvimento de habilidades sociais, habilidades essas que muitas vezes a
criança hiperativa carece.
O profissional pode focalizar dificuldades específicas da criança, em
termos das habilidades sociais, criando um espaço e situações para
desenvolvê-las, por meio da interação com a criança e por intermédio de
qualquer atividade lúdica. A criança poderá desenvolver as habilidades como:
• Saber ouvir.
• Iniciar uma conversa.
• Olhar nos olhos para falar.
• Fazer perguntas e dar respostas apropriadas.
• Oferecer auxílio.
• Brincar cooperativamente.
• Sugerir outras brincadeiras.
• Falar obrigado (agradecer).
• Pedir, por favor.
• Responder a um cumprimento.
• Manter-se sentada por um período.
• Esperar a sua vez para falar ou jogar.
• Mostrar-se interessada por algum assunto.
• Ser amigável e gentil.
• Respeitar o outro como um ser diferente que possui suas
próprias opiniões e sentimentos.
• Saber posicionar-se a respeito de uma opinião ou assunto.
• Dar atenção aos outros.
45 • Saber perder, entender que não se ganha sempre. Às vezes
ganha-se, outras perde-se, e ainda em outras empata-se.
Outro ponto, ainda crítico, da psicoterapia é que a criança possa sentir-
se aceita pelo psicólogo, que possa sentir o espaço seguro para ser
exatamente como é, que possa expressar os sentimentos mais profundos sem
sentir-se ameaçada. Uma experiência desse tipo é vital para a criança que está
acostumada a ser um estorvo na vida dos outros.
3-3-2 A psicopedagogia.
A criança hiperativa, muitas vezes, pode estar atrasada, em termos de
conteúdo teórico, quando comparada com as outras crianças da sua classe.
Sabemos que os sintomas do TDAH, como a desatenção e a falta de
autocontrole, podem promover dificuldades específicas na aprendizagem.
O acompanhamento psicopedagógico é importante já que auxilia no
trabalho, atuando diretamente sobre a dificuldade escolar apresentada pela
criança, suprindo a defasagem, reforçando o conteúdo, possibilitando
condições para que novas aprendizagens ocorram.
As técnicas psicopedagógicas mais utilizadas são os jogos de
exercícios sensório-motores, como a amarelinha, bola de gude ou de bolas, ou
de combinações intelectuais, como damas, xadrez, carta, memória, quebra-
cabeça, etc.
46 Esses jogos, com regras permitem à criança além do desenvolvimento
social quanto a limites, a participação, saber ganhar, perder, o
desenvolvimento cognitivo, e possibilidade a oportunidade para a criança
detectar onde está, o porquê e o tipo de erro que cometeu, tendo chance de
refazer, agora, de maneira correta.
Outras técnicas, como as atividades que envolvem a expressão escrita,
como escrever um livro e ilustrá-lo, podem despertar o interesse da criança em
produzir algo seu e admirar o trabalho final, podendo isso ser estendido às
lições em sala de aula.
Assuntos e temas de grande interesse da criança podem despertar o
gosto pela leitura e a curiosidade por conhecer livros, gibis, revistas novas.
Utilizar os contos de fadas pode ser um recurso a mais. Podem ser
utilizadas desde a fase do diagnóstico até a fase de intervenção educativa,
adaptando-se às tarefas, em razão de nível de aprendizado em que a criança
se encontra. Essa técnica permite ao psicopedagogo coletar tanto dados
cognitivos quanto psicanalíticos.
3-3-3 A medicação.
O uso da medicação é provavelmente o tópico mais debatido e
publicado em relação ao tratamento do TDAH. Estudos mostram que os
estimulantes, os antidepressivos tricíclicos e a clonidina (droga usada para
tratar hipertensão em muitos adultos) podem ser grande ajuda para os
pacientes com TDAH. Cerca de 75% dos casos com TDAH apresentam
melhoras significativas com o uso de alguma medicação. A literatura
claramente apresenta os estimulantes como as medicações de primeira
escolha para o TDAH. Nos últimos vinte anos, vários estudos bem
desenhados, controlados com placebo, estabeleceram a eficácia terapêutica
dos estimulantes no tratamento dos sintomas da síndrome de hiperativadade,
47 como alterações comportamentais, acadêmicas e de ajustamento social.
Claros benefícios têm sido documentados não somente quando a medicação é
introduzida, mas também ao longo do período de uso desta. No mercado
brasileiro, o único estimulante encontrado é o metilfenidato.
Estudos que avaliam a eficácia do metilfenidato no tratamento de
TDAH têm demonstrado que a inquietude sem um propósito definido torna-se
mais dirigida a um objetivo, e a atenção sustentada melhora assim como
impulsividade. Visto que há um crescente interesse nas dificuldades que as
crianças têm no funcionamento social, muitos estudos têm avaliado o efeito no
metilfenidato em vários aspectos de uma melhora na atenção sustentada,
assim como no controle inibitório. O interesse crescente nas dificuldades que
as crianças têm no seu funcionamento social tem levado a muitos estudos
sobre o efeito do metilfenidato em vários aspectos de interação social.
Acreditava-se que as crianças recebendo estimulantes socializava-se menos,
porém o oposto foi encontrado. Em doses de 0,6 mg/kg, as crianças
hiperativas mostraram melhoras nas respostas sociais positivas e foram mais
freqüentemente caracterizadas como “melhores amigos, cooperativos e
divertidos”.
Os estimulantes são assim denominados por causa de sua capacidade
de aumentar o nível de atividade do cérebro. Por que então eles não fazem as
pessoas mais hiperativas? Porque parece que a área cerebral que eles ativam
é a responsável pela inibição comportamental e manutenção da atenção.
Assim, aumenta o controle do cérebro sobre comportamento. Os estimulantes
funcionam primariamente aumentando a ação de certas substâncias químicas
que ocorrem naturalmente no cérebro, mas se concentram fortemente na
região frontal, onde se acredita estejam as principais alterações responsáveis
pelo TDAH.
A dose inicial da medicação deve ser de 5 mg/kg uma ou duas vezes
ao dia, aumentando-se gradativamente 5 a 10 mg/kg por semana. A dose
48 diária máxima é geralmente 60 mg/kg. Uma dose adequada normalmente está
entre 0,3 e 0,7 mg/kg. O efeito da medicação dura, em média, três a quatro
horas. Os horários mais freqüentes de administrar são pela manhã e no
almoço. Uma terceira dose da medicação dada no meio da tarde pode ser útil
para algumas crianças.
Não há estudos que definam claramente a associação entre parada da
medicação no final de semana e eficácia e / ou efeitos adversos da medicação.
O uso da medicação nos finais de semana vai depender da intensidade dos
sintomas apresentados em casa. Quando não há um prejuízo acentuado no
funcionamento em casa fica mais clara a indicação de uso somente nos dias
letivos. Tem-se essa mesma forma de administração nos casos de
adolescentes que estão expostos a uso excessivo de álcool nos finais de
semana.
Não há uma definição quanto ao tempo de uso do metilfenidato.
Alguns casos de TDAH com resposta terapêutica positiva mantêm as melhores
mesmo depois da interrupção do medicamento. Pensa-se que o fármaco
poderia ocasionar uma reorganização das funções cerebrais inicialmente
alteradas no TDAH por meio de modificações permanentes nos sistemas de
neurotransmissores. Uma tentativa de retirada da medicação após um ano de
uso parece ser uma boa pratica clínica. Conforme o retorno ou não da
sintomatologia, decide-se a continuidade da medicação.
Os efeitos colaterais mais comuns são diminuição no apetite e insônia
inicial. Algumas crianças apresentam cefaléia ou dores abdominais.
Normalmente esses efeitos adversos respondem favoravelmente a uma
redução na dose e costumam ser passageiros.
Não existem estudos mostrando que as crianças recebendo
metilfenidato estejam expostos a um risco aumentado de abuso dessa
substância ou de outras. Tem-se demonstrado que o paciente com TDAH,
49 quando associado a Transtorno de Conduta, apresenta prevalência aumentada
de uso abusivo ou de dependência a drogas, dando a idéia de uma relação
mais estreita com este último transtorno e não com o TDAH.
Estimulantes eram relatados como diminuindo a velocidade de
crescimento dos pacientes. Viu-se que com paradas da medicação um
crescimento rebote ocorre. A alteração era relatada como dose-dependente e
menos evidente com metilfeidato. Muitos estudos subseqüentes tentaram
confirmar o possível efeito dos estimulantes sobre o crescimento, mas as
conclusões foram inconsistentes. O clínico deve acompanhar a curva de
crescimento do paciente. Se houver uma queda no percentil de crescimento,
deve parar-se a medicação.
Estimulantes resultam em pequenas elevações na freqüência cardíaca
e na pressão arterial sistólica, não sendo normalmente clinicamente
significativas.
Os efeitos de estimulantes na precipitação ou na exacerbação de
tiques ainda não estão claros. Alguns estudos indicam que os estimulantes não
devem ser dados para pacientes com tiques ou história familiar de tiques.
Outros evidenciam inclusive melhoras dos tiques com o uso de estimulantes.
Assim, recomenda-se uso de outra medicação ou o uso cauteloso dos
estimulantes (baixas doses iniciais) em pacientes com tiques ou história
familiar de tiques.
Um efeito colateral muito raro é o surgimento de algum tipo de reação
psicótica. O uso do estimulante deve ser interrompido, estudos mostram que
em nenhum caso a reação psicótica persistiu após a parada da medicação.
Os antidepressivos tricíclicos podem ser considerados como segunda
opção quando os estimulantes não se mostram eficazes ou apresentam efeitos
colaterais que inviabilizam seu uso.
50
Diversos estudos duplos-cegos têm demonstrado a eficácia dos vários
antidepressivos tricíclicos quando comparados com o placebo. A dose deve
ficar entre 1 e 5 mg por cada quilo de peso corporal por dia. Um dos problemas
com essas medicações é a possibilidade de redução de transmissão do sinal
elétrico no coração, causando problemas no ritmo cardíaco. Assim, é
mandatória a realização de um eletrocardiograma previamente ao uso dos
tricíclicos, assim como a cada aumento significativo de dose. Se a criança tem
histórias de convulsões parece mais indicado não usar tricíclicos, pois estes
podem diminuir o limiar convulsivo. Alterações de sono e apetite, boca seca,
tontura, retenção urinária, cefaléia, náusea e vômito podem ocorrer,
principalmente, no início do tratamento. Normalmente esses efeitos adversos
respondem bem a reduções de dose e tendem a ser temporários.
Temos também a Clonidina, essa droga, que freqüentemente é usada
no tratamento de hipertensão em adultos, tem-se mostrado útil para crianças
com TDAH. A clonidina pode reduzir a hiperatividade e a impulsividade vistas
no TDAH e também aumentar a cooperatividade e a tolerância a frustração da
criança. Assim, essa medicação parece melhor indicada em casos de TDAH
com agressividade e comorbidade com transtorno de conduta ou transtorno
oposicional desafiante. Normalmente a dose inicial é de 0,05 mg/ dia,
aumentando-se a cada três dias. Mais 0,05 mg até a dose de
aproximadamente 0,05 mg 3 a 4 vezes ao dia (refeições principais e à noite,
por exemplo). Pode demorar várias semanas para o surgimento dos efeitos
máximos da medicação. Depois de estabelecida uma dose terapêutica
adequada, pode optar-se pelo uso de um adesivo dérmico que tem duração de
mais ou menos cinco dias, facilitando a continuidade do tratamento. Quando a
medicação for interrompida deve-se fazê-lo lentamente para evitar reações
hipertensas e sintomas-rebote de agitação e ansiedade. Os efeitos mais
diversos mais comuns são sedação e cefaléia, mas costumam ser
passageiros. Algumas crianças podem desenvolver depressão, especialmente
51 aquelas com história familiar de depressão. Outro cuidado importante é a
monitoração de pressão sangüínea arterial enquanto a clonidina é usada.
A experiência tem-nos mostrado, certa resistência que muitos pais
apresentam quando se faz necessário um acompanhamento medicamentoso.
Há uma certa resistência por parte de alguns pais em relação ao uso
de medicação para o tratamento de TDAH. Normalmente há preocupação com
os efeitos colaterais, possibilidade de dependência do remédio, interferência
no crescimento e o tempo de manutenção do tratamento. Geralmente, o
esclarecimento destas dúvidas é o suficiente para a tranquilização dos pais.
Algumas advertências de acordo com Holmes (1997) devem ser feitas
com relação ao uso da medicação. Primeiro, deve utilizar-se a medicação
somente se necessário, pois investigações feitas com professores e pais
indicam que aproximadamente 50% de todas as crianças são inquietas,
distraídas ou hiperativas, mas é improvável que todas essas crianças sofram
de TDAH e seria inapropriado medicá-las. Nem a medicação deve ser utilizada
como um substituto para cuidados parentais apropriados e disciplina em sala
de aula. Em segundo lugar, deve tomar-se cuidado com as altas dosagens da
medicação.
52
CONCLUSÃO.
Ao término deste trabalho pude concluir que o TDAH é um distúrbio
que se não diagnosticado precocemente, poderá acarretar problemas sérios
para vida escolar e futura do aluno. A criança que manifesta esses sintomas,
inicialmente na escola, na maioria das vezes, é considerada um aluno
indisciplinado e até mesmo, em algumas ocasiões, chega a ser rotulado como
agressivo.
Este comportamento é característico de um distúrbio de atenção que
atinge crianças e adolescentes de todo o mundo. Conhecer os sintomas e
aprender a lidar com esses problemas passa ser uma obrigação do professor e
do orientador educacional, para não permitir danos maiores a seus alunos.
53 Conscientizando-se que o TDAH prejudica a capacidade de atenção e
concentração torna-se mais fácil o tratamento. Além da medicação, a
reorientação pedagógica na escola, vai ajudar o aluno a não perder o
rendimento e prejudicar a aprendizagem.
O transtorno ainda não tem causa definida. Sabe-se que a origem
pode ser genética e que seus portadores produzem menos uma substância
(dopamina) que é responsável pelo controle motor e pelo poder de
concentração. A alta incidência de hiperativos é nos meninos, cerca de 80%
dos casos pode estar relacionado ao hormônio masculino testosterona.
Fatores importantes ajudam a distinguir os portadores do TDAH que
são: a contínua agitação motora, a impulsividade e a impossibilidade de se
concentrar. Os profissionais que lidam com portadores de TDAH precisam de
paciência e disponibilidade, pois eles necessitam de um tratamento
diferenciado, mais atenção e uma rotina especialmente estimulante.
Outro ponto importante é aceitação da família em admitir que o filho é
hiperativo e que necessita de tratamento diferenciado, e, muitas vezes, até de
medicamentos específicos.
Se tudo isso não for suficiente há mais uma forma de tratamento
complementar que á a utilização de medicamentos, com prescrição médica.
O paciente deve participar da decisão terapêutica, pois sua
conscientização, fará parte do progresso a ser alcançado.
Devemos considerar que o professor é a pessoa que mantém um
contato regular e diário com o aluno. Portanto, suas informações poderão ser
mais fiéis, pois, compara o aluno, com ele mesmo no que se relaciona ao seu
aprendizado. A avaliação dos resultados obtidos só será adequada com a
participação da estrutura escolar.
54
Assim se o TDAH não for tratado adequadamente na infância pode
deixar seqüelas na fase adulta.
A compreensão deste transtorno não torna a criança mais inteligente,
mas permite que ela utilize melhor o seu potencial e consiga se aceitar e ser
aceita, buscando a felicidade.
BIBLIOGRAFIA.
1- BENCZIK, E. B. P. (2002) Transtorno do Déficit de Atenção/ Hiperatividade.
Atualização Diagnóstica e Terapêutica. Um guia de orientação para
profissionais. Casa do Psicólogo.
2- GREENHILL, L. L. (1992) Transtorno do Déficit de Atenção por
Hiperatividade em Crianças. In GARFINKEL, CARLSON & WELLER.
Transtorno psiquiátrico na Infância e Adolescência, 135 – 170. Porto Alegre.
Artes Médicas.
3 - GUARDIOLA, A. (1994) Distúrbio de Hiperatividade com Déficit de
Atenção. Um estudo de prevalência e fatores associados em escolares de 1ª
série de Porto Alegre. Tese de Doutorado, Porto alegre, UFRGS.
55
4 – HOLMES, D. S. (1997) Psicologia dos Transtornos Mentais. Porto Alegre,
Artes Médicas.
5 – ORGANIZAÇÃO Futuro Congressos e Eventos. Temas em Educação I.
Livro de Jornadas. 2002. 2ª Edição Ampliada.
6 – PENNINGTON, B. F. (1946) Diagnóstico de Distúrbio de Aprendizagem.
Um referencial neurológico (PFROMM NETO, S. & cols. Trad) São Paulo:
Editora Pioneiras. (Trabalho original publicado em 1946).
7 – REVISTA NOVA ESCOLA. Maio de 2000 / Edição 132. Déficit de Atenção.
Um diagnóstico que você pode fazer. Agitação e apatia podem ser sintomas de
um mesmo distúrbio. Aprenda a detectá-lo com um teste bem simples. Paola
Gentile p. 28 e 29.
8 – REVISTA NOVA ESCOLA. Maio de 2004 / Edição 172. Editora Abril. São
Paulo. Hiperatividade. Como tratar em classe o distúrbio de atenção. Paulo
Araújo. p. 30, 31 e 32.
56
ANEXOS.
Índice de anexos.
Serão anexados á monografia alguns testes que ajudarão aos profissionais
especializados a fazerem seus diagnósticos.
Eles podem servir para tirar dúvidas sobre o comportamento de crianças,
adolescentes ou mesmo adultos, mas lembre-se que um diagnóstico preciso
só
poderá ser feito por especialistas.
ANEXO 1 – Teste para ajudar no diagnóstico.
ANEXO 2 – Teste: Como avaliar o comportamento da criança.
57
ANEXO 3 – Teste: O passo a passo do diagnóstico.
ANEXO 4 – Dicas de como lidar com a agitação dos alunos.
ANEXO 1
Revista Nova Escola – Edição 132
Indisciplinado ou hiperativo?
Como identificar os alunos que sofrem de distúrbio de atenção e ajudá-
los a continuar aprendendo. (Paola Gentile).
Teste pode ajudar no diagnósticoTeste pode ajudar no diagnósticoTeste pode ajudar no diagnósticoTeste pode ajudar no diagnóstico o site da Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA) diwlga um teste para auxiliar no diagnóstico da hiperatividade. Para o teste ter validade, os sintomas devem aparecer antes dos 7 anos de idade e persistir por pelo menos seis meses, sem que a criança se dê conta deles, e em grau incompatível com o nível de desenvolvimento dela. Há um módulo específico para hiperativos, aquelas
58 crianças que apresentam com freqüência pelo menos seis dos dez sintomas descritos a seguir. O teste serve como auxílio para professores e orientadores na escola, mas é preciso ter em mente que o diagnóstico final deve ser feito sempre por um médico. Por isso, oriente os pais a pedir ajuda especializada quando a criança: . agita mãos ou pés ou se remexe na cadeira; . abandona sua cadeira em sala de aula ou outras sitUações nas quais se espera que permaneça sentada; . corre ou escala em demasia em situações impróprias; . tem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazer; . está sempre "a todo o vapor"; . fala demais; . é impulsiva; . dá respostas precipitadas, antes de ouvir a pergunta inteira; . tem dificuldade de aguardar sua vez; . se intromete na conversa dos outros ou a interrompe.
Maio de 2000.
ANEXO 2
Revista Nova Escola – Edição nº 172
Déficit de atenção. Um diagnóstico que você pode fazer.
Algumas crianças vivem no mundo da lua, outras parecem plugadas na
tomada. Mas nem todas precisam de tratamento. Que tal medir o grau de
TDAH do seu aluno, antes de encaminhá-lo ao psicólogo? Paulo Araújo.
ComComComComo avaliar o comportamento da criança.o avaliar o comportamento da criança.o avaliar o comportamento da criança.o avaliar o comportamento da criança. Se você suspeita que seu aluno seja Se você suspeita que seu aluno seja Se você suspeita que seu aluno seja Se você suspeita que seu aluno seja portador de TDA, observeportador de TDA, observeportador de TDA, observeportador de TDA, observe----o atentamente. o atentamente. o atentamente. o atentamente. O distúrbio pode ser detectado segundo O distúrbio pode ser detectado segundo O distúrbio pode ser detectado segundo O distúrbio pode ser detectado segundo critérios baseados em proposta da critérios baseados em proposta da critérios baseados em proposta da critérios baseados em proposta da Associação Americana de Psiquiatria. Os Associação Americana de Psiquiatria. Os Associação Americana de Psiquiatria. Os Associação Americana de Psiquiatria. Os sintomas podem ser observsintomas podem ser observsintomas podem ser observsintomas podem ser observados a partir ados a partir ados a partir ados a partir dos 7 anos de idade.dos 7 anos de idade.dos 7 anos de idade.dos 7 anos de idade.
Módulo 1Módulo 1Módulo 1Módulo 1 DesatençãoDesatençãoDesatençãoDesatenção Verifique se seu aluno apresenta seis ou mais desses sintomas, por mais de seis meses. Ele freqüentemente... . . falha em dar atenção a detalhes ou comete erros grosseiros nas atividades escolares.
59 . tem dificuldade em manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas. . parece não escutar quando lhe falam diretamente. . não consegue seguir à risca instruções nem terminar tarefas escolares ou atividades domésticas. . tem dificuldade em organizar tarefas e atividades. . evita, não gosta, ou fica relutante ao se engajar em atividades que necessitem de esforço mental contínuo. . perde coisas necessárias para atividades ou trabalhos (brinquedos, lápis, livros, ferramentas, coisas pessoais). . é facilmente distraído por estímulos externos. . se esquece das atividades diárias.
Módulo 2Módulo 2Módulo 2Módulo 2 HiperatividadeHiperatividadeHiperatividadeHiperatividade Verifique se seu aluno apresenta seis ou mais desses sintomas, por mais de seis meses. Ele freqüentemente... . é inquieto, fica com as mãos e pés se mexendo, constantemente, quando sentado.
. deixa o seu assento na classe ou em outras situações quando se espera que permaneça sentado. . corre ao redor, ou trepa nas coisas, em situações em que isso não é apropriado. . tem dificuldade em brincar ou se engajar em atividades de lazer de forma quieta. . está "pronto para decolar" ou age como se estivesse "ligado a um motor" . fala excessivamente. ImpulsividadeImpulsividadeImpulsividadeImpulsividade . responde de forma intempestiva, antes que a pergunta esteja completamente formulada. . tem dificuldade para aguardar pela sua vez. . se intromete ou interrompe os outros (em conversas ou jogos). Tipos de TDA que precisam de Tipos de TDA que precisam de Tipos de TDA que precisam de Tipos de TDA que precisam de tratamentotratamentotratamentotratamento . predominantemente desatento: apresenta seis ou mais sintomas do módulo 1 e alguns do módulo 2. . predominantemente hiperativo/ impulsivo: seis ou mais sintomas do módulo 2 e alguns do módulo 1. . misto: seis ou mais sintomas dos módulos 1 e 2.
Anexo 3
Revista O Globo – Ano 1 / nº 29
Hiperatividade, isso explica tudo?
60
Anexo 4
Revista Nova Escola – Edição nº 132
Como lidar com a agitação dos alunos.´
Crianças hiperativas podem apresentar
melhoras consideráveis em seu
comportamento e desenvolvimento
pedagógico se algumas regras forem
consideradas. Aí vão as sugestões da
psicóloga Mônica Duchesne e do
psiquiatra Ênio Roberto de Andrade:
• trabalhe com pequenos grupos sem
isolar as crianças hiperativas;
• dê tarefas curtas ou intercaladas,
para que elas possam concluí-las antes de
se dispersar;
• elogie sempre os resultados;
• use jogos e desafios para motivá-las;
• valoriza a rotina, pois ela deixa as
crianças mais seguras, mas mantenha
61 sempre elevado o nível do estímulo,
através de novidades no material
pedagógico;
• permita que elas compensem os erros:
sutilmente faça-as pedir desculpas
quando ofenderem os colegas ou
convença-as a arrumar a bagunça em
classe;
• repita individualmente todo comando
que for dado ao grupo e faça-o de forma
breve e usando sentenças fáceis de
entender;
• peça a elas que repitam o comando,
para ter certeza de que escutaram e
compreenderam o que você quer;
• dê uma função oficial às crianças,
como a de ajudante do professor; isso pode
melhorar o relacionamento delas com os
colegas e abrir espaço para que elas se
movimentem mais.
(Maio de 2000)
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 02
AGRADECIMENTOS 03
DEDICATÓRIA 04
RESUMO 05
METODOLOGIA 06
SUMÁRIO 07
INTRODUÇÃO 08
62 CAPÍTULO I
A HISTÓRIA DO TDAH. 09 1.1- Características do Transtorno do Déficit de Atenção/ Hiperatividade 11 1.2- A manifestação dos sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade. 13 1.2.1- Desatenção 13 1.2.2- Hiperatividade (atividade motora excessiva) 15 1.2.3- Impulsividade, ou falta de alto controle. 16 1.3- Causas dos Transtornos do Déficit de Atenção 17 CAPÍTULO II IMPLICAÇÕES EDUCACIONAIS DO TDAH 25 2.1- As manifestações comportamentais em sala de aula 27 2.2- O papel da escola e do professor 29 2.3- A necessidade de uma especifica avaliação e a influência de seu diagnóstico 31 CAPÍTULO III O TRATAMENTO DO TDAH 35 3.1- Orientação aos pais 35 3.2- Orientação aos professores 38 3.3- O papel da psicoterapia, psicopedagogia e da medicação 40 3.3.1- A psicoterapia 41 3.3.2- A psicopedagogia 45 3.3.3- A medicação 46 CONCLUSÃO 52
BIBLIOGRAFIA 54
ANEXOS 56
ÍNDICE 61
FOLHA DE AVALIAÇÃO 63
63
FOLHA DE AVALIAÇÃO
UNIVERSIDADE CÂNDIDIO MENDES.
PROJETO A VEZ DO MESTRE
Pós- graduação “ Lato Sensu “
Título da Monografia:_____________________________________________
Autor:_________________________________________________________
_
64
Data da entrega:_____ de __________ de_________________
Avaliado por:______________________________________ Grau ______
_______________________, ________ de __________ de 200____.
EVENTOS CULTURAIS.
65