UNIVERSIDADE ANHANGUERA-UNIDERP RENNAN VILHENA PIRAJÁ ANÁLISE GEOAMBIENTAL DA REGIÃO DO IMBIRUSSU, CAMPO GRANDE, MATO GROSSO DO SUL. CAMPO GRANDE – MS 2013
UNIVERSIDADE ANHANGUERA-UNIDERP
RENNAN VILHENA PIRAJÁ
ANÁLISE GEOAMBIENTAL DA REGIÃO DO IMBIRUSSU, CAMPO
GRANDE, MATO GROSSO DO SUL.
CAMPO GRANDE – MS
2013
RENNAN VILHENA PIRAJÁ
ANÁLISE GEOAMBIENTAL DA REGIÃO DO IMBIRUSSU, CAMPO
GRANDE, MATO GROSSO DO SUL.
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-graduação em Meio Ambiente e
Desenvolvimento Regional da
Universidade Anhanguera-Uniderp, como
parte dos requisitos para a obtenção do
título de Mestre em Meio Ambiente e
Desenvolvimento Regional.
Orientação ou Comitê de Orientação:
Prof. Dr. Mauro Henrique Soares da Silva
Prof. Dr.(a). Mercedes Mercante Abib
CAMPO GRANDE – MS
2013
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Anhanguera – Uniderp
Pirajá, Rennan Vilhena.
Análise geoambiental da Região do Imbirussu, Campo Grande, Mato Grosso do Sul. / Rennan Vilhena Pirajá. -- Campo Grande, 2013.
85f.
Dissertação (mestrado) – Universidade Anhanguera - Uniderp, 2013.
“Orientação: Prof. Dr. Mauro Henrique Soares da Silva.” 1. Planejamento urbano 2. Crescimento urbano e meio ambiente I.
Título.
CDD 21.ed. 307.76 363.7
P739a
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais, familiares e amigos pela ajuda e compreensão
nos momentos de ausência e aos professores que direta ou indiretamente
contribuíram com a realização deste trabalho.
SUMÁRIO
1 Introdução Geral.............................................................................................6
2 Revisão de Literatura.....................................................................................8
3 Referências Bibliográficas...........................................................................18
Artigo I..............................................................................................................23
Caracterização morfométrica da microbacia do
Imbirussu..........................................................................................................23
Resumo.............................................................................................................23
Abstract............................................................................................................24
Introdução........................................................................................................24
Material e Métodos...........................................................................................27
Resultados e Discussão..................................................................................32
Conclusão.........................................................................................................42
Referências Bibliográficas..............................................................................43
Artigo II.............................................................................................................47
Análise multitemporal da bacia ambiental do
Imbirussu..........................................................................................................47
Resumo.............................................................................................................47
Abstract............................................................................................................48
Introdução........................................................................................................49
Material e Métodos...........................................................................................52
Resultados e Discussão..................................................................................59
Conclusão.........................................................................................................75
Referências Bibliográficas..............................................................................76
Conclusão Geral..............................................................................................79
6
1 Introdução Geral
Diante da dinâmica das interações homem e natureza, principalmente
com o crescimento populacional, o homem tem cada vez mais se organizado à
medida que sua evolução técnica se desenvolve. No entanto, a pressão sobre
o meio ambiente com a exploração dos recursos naturais e o descarte cada
vez maior e acelerado dos seus produtos, transformam completamente as
paisagens originais num processo de contínua degradação, tornando-se,
portanto, um desafio para a humanidade (CORTEZ, 2011).
Do ponto de vista humanista e frente a atual necessidade em respeitar
as leis da natureza, VIEIRA e WEBER (2000), afirmam que a relação homem-
natureza é a base do processo de transformação da sociedade humana, onde
este é impulsionado por uma dinâmica endógena, no qual depende
fundamentalmente da natureza e de suas inter-relações que são estabelecidas
com outros sub-sistemas (social, cultural e político), sob o plano de fundo das
coações e oportunidades impostas pelo ambiente.
De acordo com SANTOS (2004) a preocupação com a água, com a
poluição e com os impactos sociais, o surgimento dos movimentos
preservacionistas e os avanços da ciência, de Darwin a Gaia, são
acontecimentos que foram se somando ao longo da história, pressionando
mudanças, definindo ideários e determinando um novo paradigma que
incorporasse as questões ambientais, expressas em uma política ambiental.
Assim, muitos conceitos relativos a novos princípios de desenvolvimento
passaram a ser gradativamente incorporados aos planejamentos.
Nesse sentido, com a evolução das diretrizes para a gestão territorial,
sob a égide do conceito de espaços total1, deverão estar calcadas nos
princípios que norteiam o desenvolvimento sustentável, em conformidade com
o que estabelece o conjunto da legislação ambiental. Portanto, as diretrizes
devem ancorar-se no diagnóstico socioambiental quanto às fragilidades e
potencialidades dos sistemas ambientais naturais e antropizados, com vistas à
1 Espaço total: inclui todo o mosaico dos componentes introduzidos pelo homem ao longo da história,
na paisagem de uma área considerada participante de um determinado território. O termo paisagem é usado como o suporte ecológico e bioecológico modificado por uma infinidade variável de obras e atividades humanas (AB’SABER, 1994).
7
adoção de ações de preservação, conservação, recuperação ambiental e
desenvolvimento econômico e social (ROSS, 2009).
Assim, uma das formas de harmonizar a relação sociedade e natureza,
segundo MACEDO (1995), é através do diagnóstico ambiental, que é a
identificação dos quadros físicos, bióticos e antrópica de uma dada região,
mediante seus fatores ambientais constituintes e, sobretudo, as relações de
modo a evidenciar o comportamento e as funcionalidades dos ecossistemas.
Para MOTA (1991) o uso inadequado do solo pelo homem é um fator
agravante da degradação ambiental e do desequilíbrio ecológico. É necessário
que a atuação do homem no ambiente seja planejada e adequada, de modo
que os efeitos sobre o ambiente físico sejam os menores possíveis.
Conforme GUERRA e CUNHA (2010) certos processos ambientais,
como lixiviação, erosão, movimentos de massa e cheias, podem ocorrer com
ou sem intervenção humana. Dessa forma, ao se caracterizar processos
físicos, como degradação ambiental, deve-se levar em consideração critérios
sociais que relacionam a terra com o seu uso, ou pelo menos, com o potencial
de diversos tipos de usos.
Segundo OLIVEIRA et al. (1984) no Brasil, até meados da década de
1990, as aplicações dos estudos com dados orbitais eram pouco utilizados nas
áreas urbanas que em sua maioria eram voltadas para o mapeamento da
expansão urbana caracterizando a identificação do adensamento intraurbano e
tendências de crescimento.
Nesse sentido a análise mulitemporal (com imagens de diferentes datas)
tornou-se um método de extrema importância para o planejamento urbano, pois
auxilia na obtenção de informações referentes ao crescimento de áreas
urbanizadas e a pressão sobre os ambientes naturais.
Assim, com a caracterização física e social de uma porção do território é
possível traçar diagnósticos ambientais que identifiquem as potencialidades e
fragilidades da área de estudo de forma a solucionar possíveis conflitos de uso
e ocupação do solo e direcionar futuras instalações.
Nesse sentido, a origem do termo geoambiental, empregado no título
deste trabalho, partiu da International Union of Geological Sciences – IUGS que
teve como intuito conceituar as atividades dos profissionais ligados às
8
geociências e meio ambiente. Tal conceito relaciona os conhecimentos
técnicos aplicados sobre o meio físico com as diversas relações estabelecidas
entre a sociedade e os sistemas naturais, fazendo uso da cartografia, mais
precisamente do Sistemas de Informação Geográfica (SIG) e de bancos de
dados. Segundo os autores, a incorporação do termo geoambiental amplia o
campo de atuação profissional e favorece a integração de especialistas e de
experiências de áreas afins, podendo ser utilizado na gestão ambiental tanto de
empreendimentos, tais como minerações, hidrelétricas e indústrias quanto em
Plano Diretores Municipais, Zoneamentos e Ordenamentos Territorias e
diversos estudos ambientais (SILVA e DANTAS; 2010).
Portanto, este trabalho justifica-se por colaborar para o debate sobre a
relação entre sociedade e natureza, no qual o efeito da pressão antrópica vem
procurando mitigar os impactos ambientais negativos produzidos sobre os
espaços naturais ao longo do tempo, nas mais diversas escalas, conforme
apresentado neste estudo, no qual foram abordados como base e delimitação
da área os conceitos de região, microbacia hidrográfica e bacia ambiental do
Imbirussu.
A área de estudo corresponde à região urbana do Imbirussu, localizado
na porção oeste da cidade de Campo Grande – MS e caracterizada por
abranger diferentes formas de ocupação do espaço, onde se contrastam
paisagens, rurais, urbanas e industrial, ambas mescladas a fragmentos e/ou
elementos constituintes de paisagens naturais.
O presente trabalho teve como objetivo geral entender a dinâmica dos
fatores físicos e sociais de modo a fornecer propostas de suporte ao manejo na
região, portanto, utilizou-se no primeiro artigo o limite da microbacia do córrego
Imbirussu para realizar a caraterização morfométrica, na qual foram levantados
parâmetros físicos, para que se possa entender a dinâmica natural do sistema
de drenagem da microbacia. Entretanto, no segundo artigo foi utilizado o limite
da bacia ambiental do Imbirussu, proposto pelo zoneamento municipal da
cidade de Campo Grande, para realização de uma análise multitemporal,
utilizando imagens de satélite dos anos de 1985, 1998 e 2010, na qual se
investigou as mudanças ocorridas na paisagem através da evolução do uso e
ocupação do solo.
9
2 Revisão de Literatura
2.1. Crescimento urbano e meio ambiente
No período pós-guerra verifica-se as primeiras manifestações a respeito
da temática ambiental, devido, sobretudo aos problemas relacionados à
humanidade nesse período. A partir da década de 1950, iniciam-se as
preocupações em torno das questões ambientais nos países desenvolvidos,
que crescem gradativamente nas décadas de 60 e 70 com a necessidade de
estabelecer de forma harmônica a relação entre homem e natureza
(MENDONÇA, 2010).
O termo “meio ambiente” foi mencionado pela primeira vez na reunião do
Clube de Roma, em 1968, que ao discutir e analisar os limites do crescimento
econômico, levando em conta o crescente uso dos recursos naturais, detecta
que os problemas mundiais resultavam das seguintes situações:
industrialização acelerada, rápido crescimento demográfico, escassez de
alimentos, esgotamento dos recursos não renováveis e deterioração do meio
ambiente( MEADOWS et al., 1973).
Segundo SANTOS (2004) tais problemas influenciaram a 1º Conferência
das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, em Estocolmo, no ano de
1972, e seu debate tornou-se um marco para a nova proposta de
desenvolvimento a ser vislumbrado no relatório “Nosso Futuro Comum” que
oficializou o termo “desenvolvimento sustentável” em 1987, no qual muitos
governos estimularam, a partir daí, políticas ambientais que refletiam na
elaboração de planejamento dentro de uma nova perspectiva.
A inserção do Brasil na gestão do meio ambiente acontece em fins dos
anos 1970 e início dos anos de 1980. De forma oficial somente a partir de
1981, com a Política Nacional do Meio Ambiente, implementada pela Lei nº
6.938/81, a qual emite diretrizes de avaliação de impactos, planejamento e
gerenciamento, de zoneamentos ambientais, usando como unidade de
planejamento as bacias hidrográficas. Sendo a primeira vez que surgiu,
explicitamente, uma proposta de planejamento ambiental no país, como forma
de orientação de ordenamento territorial (SANTOS, 2004).
Desde então, os estados brasileiros passaram a incorporar uma série de
medidas e programas voltados para a minimização dos problemas ambientais,
10
assim como o conceito de desenvolvimento deixa de estar relacionado ao PIB
(Produto Interno Bruto) para estar ligado ao IDH (Índice de Desenvolvimento
Humano) e a qualidade de vida.
Pois, segundo BUARQUE (1993) o modelo de desenvolvimento
econômico baseado no aumento do PIB era incapaz de gerar mais e melhor
qualidade de vida, pois não levava em consideração a ignorância, a violência, a
pobreza e o meio ambiente que se consolidavam principalmente com o
crescimento acelerado das cidades através do processo de polarização das
indústrias.
Conforme BERTHA e CLAÚDIO (2006) o Brasil se transformou em um
país urbano, em poucas décadas, tendo a indústria o papel central no
crescimento das metrópoles e das aglomerações urbanas, pois fomentou a
formação de uma ampla frente urbana de interiorização correspondente às
grandes capitais estaduais dos Estados do centro-norte, que balizam a
urbanização no interior como pontos de contato e intermediação entre as
bordas da cidade mundial e áreas de avanço da fronteira servindo como
centros regionais e locais que constituem a base logística das frentes de
expansão agropecuárias e minerais.
Entre os fatores que favoreceram o desenvolvimento das indústrias com
predomínio de localização urbana, estão às exigências nas economias
externas, representadas pela qualificação da mão de obra e sua abundância, a
oferta de energia elétrica com a instalação de grandes usinas hidrelétricas,
como Itaipu e Urubupungá, de transportes modernos, os sistemas de
comunicação rápidos e a existência de um terciário mais qualificado tornaram
essas indústrias altamente dependentes das economias urbanas (ROSS,
2008).
Diante deste contexto, os planejamentos se tornaram de extrema
importância para o processo de ocupação do espaço, de forma a equilibrar as
áreas que potencialmente possam assumir papéis centrais como polarizadoras
da dinâmica de crescimento de uma região, as cidades tendem a crescer
ampliando sua periferia no sentido horizontal e verticalizando as áreas centrais.
11
2.2. Planejamento urbano e ambiental
Conforme ROSS (2008) mesmo tendo diminuído, o crescimento
demográfico no Brasil ainda é elevado, pois, o processo de migração do campo
para a cidade associado à ocupação desordenada das capitais faz com que a
urbanização ainda seja muito acelerada.
Ainda, segundo ROSS (2008) uma das formas de orientar a urbanização
das cidades brasileiras refere-se à morfologia urbana, ou seja, ao estudo do
traçado do plano da cidade, o qual demonstra as relações entre os eixos de
circulação, representados pelas grandes avenidas, e suas ligações com os
traçados das ruas e praças, que formam os quarteirões e estruturam os bairros,
com suas formas específicas de ocupação e formas de uso do solo: comércio,
residências, serviços, etc.
AMADO (2011) comenta que além do meio ambiente natural e cultural,
existe o artificial, integrado pelos bens, fruto da intervenção humana, que não
formam o patrimônio cultural, matéria comum entre Direito Ambiental e
Urbanístico, sendo a cidade o exemplo de patrimônio ambiental artificial dos
mais relevantes, com as normas gerais da Política de Desenvolvimento Urbano
fixadas no artigo 182, da Constituição Federal (BRASIL, 2001).
Visando ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade
e garantir o bem-estar da população, a Constituição Federal de 1988 traz em
seu bojo o plano diretor como instrumento básico da política de
desenvolvimento e de expansão urbana, aprovado por lei municipal, obrigatório
para cidades com mais de 20.000 habitantes. A propriedade urbana cumpre
sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da
cidade expressas no plano diretor (BRASIL, 1988).
Segundo SANTOS (2004) na década de 1980, grupos governamentais
organizaram-se para produzir planejamentos regionais. Porém, poucos
conseguiram, efetivamente, implementar planejamentos ambientais, quase
sempre barrados por dificuldades institucionais. Conforme MARCONDES
(1999) após a década de 1980, o tema ambiental foi incorporado às
formulações urbanísticas, fragmentando-se em torno de projetos, objetivando
megaintervenções urbanísticas em parcerias estabelecidas entre os setores
público e privados.
12
Nessa década, o ambiente e o desenvolvimento já não podiam ser
apresentados isoladamente. Desta forma, o planejamento adjetivado
“ambiental” era visto como um caminho para um desenvolvimento social,
cultural, ambiental e tecnológico adequados.
Porém, Tais intervenções buscavam normalmente a revitalização de
territórios degradados, com a incorporação de elementos naturais presentes no
espaço e com diferentes abordagens e níveis de complexidade (MARCONDES,
1999).
“Na década de 1990, o planejamento ambiental foi
incorporado aos planos diretores municipais. Foi a partir
destes trabalhos que se obtiveram as informações mais
contundentes sobre qualidade de vida, desenvolvimento
sustentável, sociedade e meio ambiente, promovidas pela
preocupação com o ser humano” (SANTOS, 2004, p. 22).
Contudo, a ideia de cidades sustentáveis passou a ser o tema recorrente
a partir da agenda 21, aprovada pela Conferência das Nações Unidas sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento realizada em 1992, em que se estabeleceu
a questão dos assentamentos urbanos, como problema ambiental, assim como
problemas antes já questionados, como saneamento e habitação
(MARCONDES, 1999).
Diante deste contexto, de cidades mal planejadas e as consequências
econômicas, sociais e ambientais da urbanização, o emprego de
geotecnologias têm sido uma importante ferramenta, assim como, objeto de
estudos e discussões, para assessorar os órgãos públicos na tomada de
decisões e na elaboração de novas diretrizes de urbanização em direção ao
desenvolvimento sustentável.
2.3. Geotecnologias aplicadas à análise do uso e ocupação do solo
Para BACANI (2010) uma importante ferramenta para a confecção de
material temático utilizado em análise ambiental seria o uso das
geotecnologias, no sentido da elaboração de diagnóstico e prognósticos
ambientais. Destacam-se os mapeamentos do meio físico e da cobertura
13
vegetal/uso da terra, aliados ás avaliações dos riscos ambientais e da
fragilidade e da vulnerabilidade ambientais como instrumentos que subsidiam a
elaboração de zoneamentos e, consequentemente, ordenamentos do território.
As geotecnologias são o conjunto de tecnologias para coleta,
processamento, análise e oferta de informações com referência geográfica.
São compostas por soluções em hardware, software e peopleware que juntos
constituem poderosas ferramentas para tomada de decisões. Dentre as
geotecnologias as mais utilizadas atualmente são: sistemas de informação
geográfica, cartografia digital, sensoriamento remoto, sistema de
posicionamento global e a topografia (ROSA, 2003).
Conforme PARANHOS FILHO et al. (2008) nos últimos anos,
principalmente com o avanço da informática disponibilizando computadores
cada vez mais poderosos a um custo menor, o uso de geotecnologias tem sido
incrementado nas mais diferentes áreas como meio ambiente, segurança e
saúde pública ou nos serviços de utilidade pública e marketing. Isto porque as
geotecnologias são ferramentas que economizam tempo e otimizam recursos.
Para ROSA (2003) o sensoriamento remoto de base orbital permite uma
cobertura global de toda a área em estudo, ampliando e facilitando a
sensibilidade humana ao interpretar fenômenos globais, tais como a perda de
vegetação em áreas urbanas e a distribuição espacial do uso e ocupação do
solo com o objetivo de auxiliar nos estudos de desenvolvimento de
determinada região.
Segundo PARANHOS FILHO et al. (2008), o uso de imagens de satélite
apresenta vantagens sobre outros tipos de fontes de dados e informações
ambientais e geográficas, tais como:
Custo – normalmente o custo por quilômetro quadrado da utilização de
imagens de satélite é menos do que o de fotografias aéreas ou levantamentos
de campo, tendo em vista a inexistência de levantamentos aerofotogramétricos
de âmbito global e sistemático, como ocorre com o imageamento por satélite.
Disponibilidade – além de muitos satélites contarem com um grande
número de imagens já armazenadas, é relativamente rápido programar a
amostragem de uma determinada região obtendo-se uma imagem atualizada.
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Além disto, os satélites revisitam a mesma área de tempos em tempos, que
pode variar de minutos a dias, facilitando o monitoramento de regiões.
Cobertura – os satélites comerciais possuem uma cobertura de
imageamento praticamente global. Mesmo as regiões de mais difícil acesso
podem ser cobertas por sensores remotos.
Aplicabilidade – existe uma grande variedade de imagens de satélites
para os mais diferentes fins, como meio ambiente, agricultura ou clima. Ou
ainda um mesmo tipo de imagem pode ser aplicado em diferentes tipos de
estudos ou levantamentos.
Formato digital – quase todas as imagens provenientes de sensores
embarcados em satélites são obtidas digitalmente. Isto implica em não haver
necessidade de converter os dados do meio analógico (papel) para o formato
digital. Este tipo de digitalização normalmente implica no investimento em
tempo e dinheiro.
“Com um mínimo de preparação as imagens em formato
digital já se encontram prontas para serem utilizadas por
programas de análise e processamento digital de imagens
ou para o uso em SIG (sistema de informação geográfica)
ou cartografia digital” (PARANHOS FILHO, 2008).
Os sistemas de informações geográficas, conhecidos como SIG’s, não
constituem apenas os software utilizados, outros elementos também fazem
parte deste conceito a ser definido, tais como: hardware, dados, usuários e
metodologias de análise, com o objetivo de tornar possível a coleta, o
armazenamento, o processamento, a análise e a oferta de informação
georeferenciada produzida por meio de aplicações disponíveis, que visam
maior facilidade, segurança e agilidade nas atividades humanas referentes ao
monitoramento, planejamento e tomada de decisão relativas ao espaço
geográfico (ROSA, 2003).
CÂMARA e MEDEIROS (1998) reconhecem os Sistemas de
Informações Geográficos (SIG’s) como instrumentos computacionais do
geoprocessamento que realizam análises complexas assim como geram
produtos como a automatização da produção de documentos cartográficos a
15
partir dos mais diversos temas, tais como: geomorfológicos, pedológicos,
hidrológicos e uso e ocupação do solo.
SANTOS (2004) afirma que o uso e ocupação do solo constituem-se de
um tema básico para se trabalhar com geotecnologias, principalmente quando
se trata de planejamento, pois retratam atividades humanas que podem
significar pressão e impacto sobre os elementos naturais, sendo uma essencial
fonte para análises de poluição e um elo importante entre as informações dos
meios biofísicos e socioeconômicos.
Segundo ROSA (2003), o levantamento do uso do solo é de grande
importância, na medida em que os efeitos do mau uso causam deterioração no
ambiente. Já CRÓSTA (1992) define o reconhecimento dos diferentes tipos de
cobertura do solo como o principal objetivo do sensoriamento remoto, no qual a
imagem classificada pode ajudar o pesquisador a entender os processos que
atuam área de estudo.
2.4. A cidade de Campo Grande e o planejamento urbano
Campo Grande é a capital do Estado do Mato Grosso do Sul, e sofre
influência do setor Comercial, de Serviços e Indústria, basicamente. O
município tem uma área de 8.086,051 Km², que representa 2,27% de toda a
extensão do Estado. A cidade é composta por 74 bairros, divididos em 9
Regiões (Segredo, Prosa, Bandeira, Anhanduizinho, Lagoa, Imbirussu, Centro,
Anhanduí e Rochedinho). Somando-se a outros sete municípios, engloba a
Microrregião Geográfica Centro. A população em 2010 é de 749.7682
residentes em Campo Grande (IBGE, 2012).
Durante as últimas décadas o município experimentou um importante
crescimento populacional, tendo em vista que a população foi multiplicada por
quase cinco vezes entre os censos de 1970 e 2000. A participação da
população do município em relação à do Estado de Mato Grosso do Sul ainda
é elevada, sendo que em 2000 chegou a 31,94%. Ou seja, para cada 100
habitantes do estado, cerca de 30 residem em Campo Grande. No contexto
nacional, Campo Grande é o 23º (vigésimo terceiro) município em volume
populacional (IBGE, 2012).
16
Seguindo o histórico da legislação urbanística de Campo Grande na
década de 1970 é sancionada a lei de uso do solo nº. 1747/78 que reforça a
tendência de fluxo e comércio nas avenidas, sacramentando o aproveitamento
das saídas da cidade e acesso aos novos bairros periféricos com a intenção de
vincular a expansão urbana com o sistema público de transporte (PLANURB,
2012).
“O transporte em particular passa a explicar a
desconcentração regional, a morfologia do
desenvolvimento metropolitano para a geografia urbana e a
dinâmica da economia da localização, sendo inegável para
a compreensão dos processos de estruturação do espaço
com referência a expansão da área urbanizada ao longo
dos sistemas viários” (MARCONDES, 1999).
O marco referencial do planejamento urbano em Campo Grande, foi a
criação da Unidade de Planejamento Urbano- PLANURB, em 1987, órgão
vinculado à Secretaria Municipal de Planejamento, que teve como primeiro
instrumento regulador da expansão urbana a lei 2.567 de 8 de dezembro de
1988 que tratava sobre o ordenamento do uso e ocupação do solo.
Tal lei instituiu o zoneamento da área urbana por categorias funcionais e
por compatibilidade locacional. Utilizando-se dos conceitos de atividade e
empreendimento para vincular os usos à ocupação do solo, áreas de
preservação do patrimônio cultural e de preservação ambiental (PLANURB,
2012).
Em 22 de novembro de 1995 é instituído assim o plano diretor da cidade
de Campo Grande através da Lei Complementar Nº 0.5 e tem como foco
principal a criação de um sistema de planejamento e a gestão democrática da
cidade. Subdividindo, para fins de planejamento, o território urbano de Campo
Grande, em nove regiões, sendo sete no distrito sede e duas outras nos
distritos de Rochedinho e Anhanduí (PLANURB, 2012).
Entre os desafios encarados pelos governos está o de reverter uma
característica marcante das cidades brasileiras, tais como: a segregação
socioespacial. Bairros abastados que dispõem de áreas de lazer,
17
equipamentos urbanos modernos coexistem com imensos bairros periféricos e
favelas marcadas pela precariedade ou total ausência de infraestrutura,
irregularidade fundiária, riscos de inundações e vulnerabilidade das edificações
e degradação de áreas de interesse ambiental (CARVALHO e ROSSBACH,
2010).
Em resposta a tais problemas, é aprovado o Estatuto das Cidades, pela
Lei Federal nº 10.257/2001, como instrumento legal, voltado a estimular o uso
racional e correto do espaço urbano em benefício do conjunto da sociedade,
em regulamentação aos artigos 182 e 183 da Constituição Federal.
O Estatuto das Cidades também traz inovações ao criar novas
obrigatoriedades do plano diretor não previstas constitucionalmente, como: a
promoção de audiências públicas e debates com a participação da população e
de associações que representem a comunidade, garantidos a publicidade e o
acesso às informações, devendo a lei que aprovar o plano diretor ser revista a
cada 10 anos (BRASIL, 2001).
Tais inovações abordadas no Estatuto das Cidades já haviam sido
propostas na agenda 21, em 1992, sendo contempladas no plano diretor de
Campo Grande de 1995. Pois, conforme EBNER (1999) ao estudar
intervenções nos vazios urbanos de Campo Grande observa que no período de
1960 a 1994, os planos elaborados para Campo Grande foram feitos de forma
autoritária, sem consulta a população e os segmentos da sociedade civil, onde
vigorava a crença de que um plano tecnicamente perfeito resultaria em cidades
organizadas.
Em 06 de setembro de 2005 entra em vigor uma nova Lei
Complementar, Nº 74, que dispõem sobre o ordenamento do uso e da
ocupação do solo revogando a Lei n 2567/88 e suas alterações. Esta nova lei
trouxe em seu bojo o zoneamento da cidade, com a criação de 74 bairros,
servindo de base para o planejamento municipal (GUARIROBA, 2007).
Após algumas alterações, a exemplo da lei complementar Nº 76 de
novembro de 2005 que inova ao apresentar um anexo com as classificações
das Categorias de Uso e ocupação do solo, dividindo-o em: “Uso Industrial”,
“Comercial Atacadista”, “Comercial Varejista”, “Serviço”, “Residencial e
Especial”. A referida lei mantem a orientação do crescimento da cidade em
18
função da estrutura urbana, ou seja, associando a o uso do solo ao sistema
viário e de transporte, em plena concordância com o Plano Diretor municipal de
1995 (GUARIROBA, 2008).
Contudo, com a aprovação do Estatuto das Cidades em 2001, e da
necessidade de incorporação das suas diretrizes no planejamento das cidades,
surge à iniciativa de reformulação do plano diretor de Campo Grande e em 06
de outubro de 2006 é aprovada a lei complementar Nº94 que institui a Política
de Desenvolvimento e o Plano Diretor de Campo Grande, adequando a lei
complementar Nº 05/95 e ao Estatuto das Cidades, mantendo as nove regiões
urbanas existentes e definindo as macrozonas: de Adensamento Prioritário-
MZ1; de Adensamento Secundário-MZ2 e de Adensamento Restrito- MZ3.
Foram ainda instituídas áreas de interesse coletivo como: Zona Especial
de Interesse Cultural- ZEIC; Zona Especial de Interesse Urbanístico- ZEIU;
Zona Especial de Interesse Social- ZEIS e a Zona Especial de Interesse
Ambiental- ZEIA (PLANURB, 2012).
Segundo EBNER (1999) o fenômeno da aglomeração urbana possibilita
números e graus diversificados de relações entre as atividades da cidade.
Assim, o solo urbano não é somente o suporte das atividades produtivas e da
vida na cidade, é também a possibilidade de acesso a esta rede de relações
tão necessárias à sobrevivência e ao desenvolvimento das atividades, inclusive
das atividades econômicas.
Nesse sentido, VIEIRA (2003), ao pesquisar a degradação ambiental
causada pela implantação de loteamentos em Campo Grande – MS, concluiu
que a legislação urbanística carece de normas e critérios mais específicos que
atuem na prevenção de impactos ambientais causados pela implantação de
loteamentos, assim como, a sua fiscalização assegure a aplicação de normas
em todas as fases do processo.
Assim, o principal aspecto da deterioração do ambiente são os impactos
causados pela infraestrutura urbana, principalmente pela rede viária, pois, sob
a pavimentação das vias não há o sistema de drenagem pluvial dimensionado
de forma a contemplar toda a bacia de contribuição e a devida condução e
lançamento em drenagem natural com dissipadores de energia e demais obras
necessárias (VIEIRA, 2003).
19
Conforme GUTIERREZ et al. (2010) a análise sobre a problemática da
impermeabilização do solo interfere diretamente no planejamento e
ordenamento do território, onde princípios de sustentabilidade, tais como: a
preservação e ampliação das áreas verdes e o controle do escoamento
superficial por técnicas compensatórias em drenagem urbana, deveriam ser
incorporadas as políticas públicas do município. Pois, os problemas agravam-
se em função da urbanização desordenada.
Ao comparar os índices de 1984 e 2007, GUTIERREZ et al. (2010)
verificaram o aumento das áreas impermeabilizadas e as mudanças na
paisagem em Campo Grande. A pesquisa também demonstrou que as altas
taxas de impermeabilização do solo da cidade estão associadas às enchentes,
que acontecem em todo o período chuvoso (outubro a março) e que estão se
intensificando a cada ano, devido ao acelerado crescimento de Campo Grande,
principalmente nas periferias e, nos últimos 10 anos, com intensa ocupação
dos vazios urbanos da cidade.
Nesse contexto, verifica-se consequências ambientais, algumas já
abordadas por ANTONIO (2012) em sua análise sobre políticas públicas no
atendimento às famílias atingidas pelas enchentes e inundações na região do
Imbirussu, na cidade de Campo Grande, no qual a autora retrata a ocupação
do ambiente urbano e seus reflexos para a vida das pessoas.
Assim como, PANIAGO (2003) ao pesquisar os comodatos e a proteção
ambiental dos fundos de vale na Área de Especial Interesse Ambiental,
também na Região Urbana do Imbirussu afirma que a agressão à mata de
galeria antecedeu a ocupação urbana.
Outro exemplo também é apresentado por LIMA (2012) ao ressaltar que
só no período de 2006 e 2011 ocorreu um aumento significativo do grau de
ocupação do solo na microbacia do córrego Imbirussu e que esta ocupação
está relacionada com a qualidade da água, e, ainda que programas de
revitalização deveriam prever e estimar eventuais impactos oriundos da
urbanização.
20
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25
ARTIGO I
CARACTERIZAÇÃO MORFOMÉTRICA DA MICROBACIA HIDROGRÁFICA
DO CÓRREGO IMBIRUSSU - CAMPO GRANDE, MS.
Rennan Vilhena Pirajá¹
¹Mestrando do Programa de Mestrado em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional
da Universidade Anhanguera – Uniderp.
Resumo
O presente trabalho tem como objetivo realizar a caracterização morfométrica
da Microbacia do Córrego Imbirussu obtida através de procedimentos de
geoprocessamento em Sistema de Informações Geográficas. Para a obtenção
dos dados morfométricos apresentados neste trabalho utilizou-se imagem
SRTM (Shuttler radar topography mission); a metodologia citada por VILLELA e
MATTOS (1975) para o cálculo do coeficiente de compacidade, fator de forma,
densidade de drenagem e sinuosidade do curso d’água; a metodologia citada
por CHRISTOFOLETTI (1980) para a análise hipsométrica; a classificação
citada pela EMBRAPA (2006) para a obtenção do mapa de declividade e a
classificação de STRAHLLER (1952) para hierarquia fluvial. A Microbacia do
Imbirussu possui uma área de 119,2 km² e um perímetro de 67 km. A
densidade de drenagem obitida foi de 0,3 km/km², assim como, o coeficiente de
compacidade foi de 1,71 e o fator de forma de 0,29. A amplitude topográfica da
microbacia é de 185 m e sua declividade permitiu classificar o relevo como
plano/praticamente plano (0 a 3%) e suave ondulado (3 a 8%). A microbacia foi
classificada com uma hierarquização fluvial de 3º ordem, o córrego Imbirussu
percorre um trecho de 24,7 km até atingir seu exutório, no Rio Anhandui. A
análise dos dados morfométricos demonstrou que do ponto de vista natural a
microbacia apresenta baixa probabilidade de enchentes, que a área possui fácil
permeabilidade, pois em condições naturais há boa capacidade de absorção.
Portanto, os impactos ambientais ocasionados por enchentes na região urbana
do Imbirussu estão associados à impermeabilização do solo, principalmente na
área de confluência do córrego Imbirussu com o córrego Serradinho onde
concentra-se o maior fluxo de água acumulado dentro da área urbana.
Palavras - chave: Estudos morfométricos; Uso e Ocupação do solo; Impactos
ambientais.
26
Abstract
The present study aims to conduct a morphometric characterization of the
Watershed Imbirussu Stream obtained through procedures in GIS Geographic
Information System. To obtain the morphometric data presented in this paper
was used SRTM image (Shuttler radar topography mission) ; methodology and
VILLELA cited by Mattos (1975 ) for calculating the coefficient of compactness ,
form factor , drainage density and sinuous course water , the methodology cited
by CHRISTOFOLETTI (1980 ) for the hypsometric analysis, rankings cited by
EMBRAPA (2006 ) to obtain the map of slope and rating of STRAHLLER (1952
) for fluvial hierarchy. The Watershed of Imbirussu has an area of 119.2 km ²
and a perimeter of 67 km. The drainage density getting was 0.3 km / km ², and
the coefficient was 1.71 and the compact form factor of 0.29. The topographic
amplitude of the watershed is 185 allowed me a slope rating relief as flat /
mostly flat (0-3 %) and soft wavy (3-8 % ) . The watershed was classified as a
river ranking of third order stream Imbirussu traverses a stretch of 24.7 km to
reach its discharge in Anhanduí River. The analysis of morphometric data
showed that the natural point of view the watershed has low probability of
flooding, the area has easy permeability, because in natural conditions there is
good absorption capacity. Therefore, the environmental impacts caused by
flooding in the urban area of Imbirussu are associated with impervious surfaces,
especially in the area of confluence of the stream Imbirussu with Serradinho
stream which concentrates the greater flow of water accumulated within the
urban area.
Key - words: morphometric studies; Land use; environmental impacts.
27
1.Introdução
Uma bacia hidrográfica pode ser considerada como um espaço drenado
por um rio principal, seus afluentes e subafluentes permanentes ou
intermitentes. Segundo SANTOS (2004) seu conceito está associado à noção
de sistema, nascentes, divisores de águas, cursos d’água hierarquizados e foz.
Os eventos que acontecem em uma bacia hidrográfica sejam eles de origem
antrópica ou natural refletem na dinâmica desse sistema, assim como na
quantidade de água dos cursos e na sua qualidade.
O comportamento das condições naturais e das atividades humanas
desenvolvidas nas bacias hidrográficas traduz-se em mudanças significativas
em qualquer dessas unidades e podem gerar alterações, efeitos e/ou impactos
a jusante e nos fluxos energéticos de saída (descarga, cargas sólidas e
dissolvida) (GUERRA, 2010).
A bacia hidrográfica tem certas características essenciais que a torna
uma unidade muito bem caracterizada e permitem a integração multidisciplinar
entre diferentes sistemas de gerenciamento, estudo e atividade ambiental.
Tendo como uma de suas principais vantagens a sua unidade física com
fronteiras delimitadas que podem estender-se por várias escalas espaciais
desde as grandes bacias hidrográficas até as microbacias (TUNDISI, 2011).
Para ANASTÁCIO (2004) a microbacia é a unidade básica de
planejamento para a compatibilização da preservação dos recursos naturais e
da produção agropecuária. As microbacias hidrográficas possuem
características ecológicas, geomorfológicas e sociais integradoras, o que
possibilita a abordagem holística e participativa, envolvendo estudos
interdisciplinares para o estabelecimento de formas de desenvolvimento
sustentável inerentes ao local e região onde forem implementados.
Diante deste contexto, a caracterização morfométrica torna-se um dos
mais importantes levantamentos realizados em análises hidrológicas ou
ambientais devido ao fato de apresentar dados importantes para o melhor
entendimento da dinâmica ambiental local e/ou regional (TEODORO et al.,
2007).
Segundo IBGE (2009) o conjunto das análises morfométricas é de
fundamental importância para o reconhecimento da espacialidade do sistema,
28
entre outros, quanto às características de área e da rede de drenagem, pois
possibilitam gerar informações passíveis de utilização em generalizações em
bacias hidrográficas e suas aplicações podem ser útil principalmente no
planejamento e gestão de bacias em áreas urbanas.
A cidade de Campo grande está praticamente toda assentada sobre as
microbacias tributárias do Rio Anhanduí que de acordo com a Secretaria de
Planejamento Urbano do Município (SEMADUR) é composta por 10
microbacias existentes no perímetro urbano/rural e que apresentam impactos
ambientais ocasionados por alterações antrópicas (PLANURB, 2011).
Estando a microbacia hidrográfica do Córrego Imbirussu localizada na
porção oeste do município de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, na qual o
córrego Imbirussu é o seu curso principal e tributário do Rio Anhandui.
A microbacia do Imbirussu é caracterizada por ser uma bacia bastante
impactada, com problemas de poluição hídrica, devido às atividades de origem
antrópica e os processos de uso e ocupação do solo, no qual sua porção à
montante é ocupada pela área urbana, por um polo empresarial e um distrito
industrial. Segundo a PLANURB (1991) a forma de ocupação relacionada com
suas características físicas de relevo e solo apresentam problemas como
alagamentos localizados em função das dificuldades de escoamento das águas
pluviais nas áreas urbanizadas de baixa declividade (menor que 3%).
Conforme Antonio (2012) 45% dos episódios de enchentes e inundações
registrados pela Defesa Civil, no ano de 2007, na área urbana da cidade de
Campo Grande ocorreram na região do Imbirussu.
Estando a cidade de Campo Grande praticamente toda assentada sobre
as microbacias contribuintes do Rio Anhanduí, este trabalho justifica-se por
colaborar para um melhor entendimento da dinâmica dos processos físicos e
antrópicos em bacias hidrográficas.
O objetivo deste trabalho, portanto, foi realizar a caracterização dos
aspectos morfométricos da Microbacia do Córrego Imbirussu, no qual foram
levantados alguns parâmetros físicos, tais como: área da bacia, perímetro,
densidade de drenagem, coeficiente de compacidade, fator de forma, perfil
longitudinal do córrego Imbirussu, hierarquia fluvial, amplitude topográfica,
curva hipsométrica e declividade da bacia. Através da análise destes dados
29
pretende-se contribuir para fins de planejamento e para o melhor conhecimento
da dinâmica de microbacias hidrográficas.
2.Materiais e Métodos
2.1.Área de estudo A área de estudo refere-se à Microbacia do Córrego Imbirussu (Figura 1)
localizada na porção oeste da cidade de Campo Grande – MS, a qual está
inserida na sub-bacia do Rio Anhanduí, que por sua vez faz parte da Bacia
Hidrográfica do Rio Paraná.
A área da microbacia é composta por alguns canais de drenagem, que
abrangem dentro do perímetro urbano cinco bairros (José Abrão, Panamá,
Popular, Nova Campo Grande e Núcleo Industrial) e parte de sete outros
bairros (Nasser, Santo Amaro, Santo Antônio, Sobrinho, Taveirópolis, São
Conrado e Caiobá) além da área rural fora do perímetro urbano.
A microbacia tem como canal principal o córrego Imbirussu, que tem
como nascentes, uma lagoa localizada dentro de um condomínio residencial e
a segunda um afloramento de água que, segundo órgãos governamentais, já é
prejudicada pelo desmatamento por implantação de lavouras e pastagens no
local, além de, ao longo de seu curso receber efluentes domésticos e
industriais (PMCG, 2010).
O solo predominante na região é o Latossolo, seu relevo é composto por
platôs e colinas, com áreas praticamente planas e suave onduladas com
embaciamentos localizados. Sua base litológica é formada por basaltos e
arenitos intertrapianos da formação Serra Geral com níveis d’água variando de
4 a 7 m de profundidade na margem esquerda e em grande parte da margem
direita muito próximo a superfície com até 3 metros de profundidade
(PLANURB, 1991).
O clima da microbacia, segundo a classificação de Köppen para a
cidade de Campo Grande, situa-se na faixa de transição entre o sub-tipo Cfa–
mesotérmico úmido sem estiagem – em que a temperatura do mês mais
quente é superior a 25ºC, tendo o mês mais seco mais de 30 mm de
precipitação e o sub-tipo Aw – tropical úmido com estação chuvosa no verão e
seca no inverno. Cerca de 75% das chuvas ocorrem entre os meses de outubro
30
e abril, quando a temperatura média oscila em torno de 24ºC. Os meses de
menor precipitação são: junho, julho e agosto e a temperatura média é de
20ºC. Os déficits hídricos ocorrem com maior intensidade nesses meses, onde
a média das temperaturas mínimas é abaixo de 15ºC. O mês mais seco é o
mês de agosto (PLANURB, 2007).
31
Figura 1. Mapa de localização da microbacia do Córrego Imbirussu, Campo
Grande - MS.
Conforme LIMA (2012) ao pesquisar a qualidade da água do córrego
Imbirussu identificou que o elevado índice de coliformes fecais é indicativo de
32
um possível lançamento clandestino de esgoto na área urbana e que na região
do Pólo Empresarial Oeste e Núcleo Industrial as indústrias da região utilizam o
córrego para o descarte de efluentes, recebendo uma grande quantidade de
dejetos, os quais deveriam ser previamente tratados. No entorno da região há
extensas áreas com atividade agropastoris no qual o manejo inadequado do
ambiente e a grande quantidade de poluentes descartados no córrego,
detectadas nas amostras avaliadas, torna não recomendável o uso da água do
córrego Imbirussu para irrigação de plantas consumidas cruas e para
dessedentação de animais.
Portanto, a microbacia do córrego Imbirussu pode ser caracterizada
como uma bacia de uso e ocupação do solo bastante dinâmica pelo fato de
possuir grande parte a sua montante ocupada pela área urbana de Campo
Grande e um trecho em sua margem direita ocupada pelo Polo Empresarial
Oeste e pelo Distrito Industrial Indubrasil, no qual, a partir destes pontos
observam-se as mudanças na paisagem para um ambiente rural com
resquícios de vegetação nativa apenas na mata de galeria do córrego
Imbirussu.
.
2.2.Levantamento fisiográfico da microbacia do imbirussu
As características físicas dimensionais da Microbacia do Imbirussu, tais
como: área e perímetro, assim como, comprimento do canal principal,
comprimento total dos rios e os mapas de declividade, hipsométrico e de fluxo
de acumulação de água foram determinados a partir de uma base cartográfica
SRTM (Shuttler Radar Topography Mission), que são imagens captadas por
sensores de visada vertical e lateral capazes de produzir três dimensões
espaciais do relevo: atitude, longitude e altitude (x, y, z) e que são importantes
instrumentos para estudos quali/quantitativos (CARVALHO e BAYER, 2008).
Para o presente estudo utilizou-se da carta sf-21-x-b fornecida pelo
banco de dados geomorfométricos do projeto TOPODATA (VALERIANO,
2005), a partir da qual foram extraídas as características físicas de área,
perímetro e comprimento dos canais fluviais da microbacia em um Sistema de
Informações Geográficas utilizando-se o software Arcgis 10 fornecido pelo
laboratório de geoprocessamento da Uniderp-Anhanguera.
33
Para a obtenção dos dados morfométricos apresentados neste trabalho
utilizou-se a metodologia citada por VILLELA e MATTOS (1975) para o cálculo
do coeficiente de compacidade, fator de forma, densidade de drenagem e
sinuosidade do curso d’água; a metodologia citada por CHRISTOFOLETTI
(1980) para a análise hipsométrica; a classificação citada pela EMBRAPA
(2006) para a obtenção do mapa de declividade e a classificação de
STRAHLLER (1952 apud VILLELA e MATTOS, 1975) para hierarquia fluvial.
A seguir são apresentadas as características morfométricas utilizadas
neste trabalho, organizadas segundo TONELLO (2005):
Características geométricas:
Área da BH (A) – segundo VILLELA e MATTOS (1975) a área de
drenagem de uma bacia é a área plana inclusa entre seus divisores
topográficos, sendo o elemento básico para o cálculo das outras
características físicas. Ressalta-se que neste trabalho a área foi
delimitada automaticamente através das curvas de nível geradas no
software Arcgis 10 e expressa em km².
Perímetro da BH (P) – comprimento ao longo dos divisores de água.
Fator de Forma (Kf) - É a relação entre a largura média e o comprimento
axial (La) da bacia. A largura média da bacia é obitida pela área da bacia
dividida pelo comprimento da bacia. Este fator constitui um índice
indicativo de tendências a enchentes correlacionando a bacia a uma
forma retangular e foi obitido pela equação: Kf = A/L²
Coeficiente de Compacidade (Kc) – é a relação entre o perímetro da
bacia e a circunferência de um círculo de área igual a da bacia. Quanto
mais distante da unidade menor a possibilidade de enchentes. O índice
do Kc foi obitido utilizando-se a equação: Kc=0,28 x P/√A
Características da rede de drenagem:
Comprimento do canal Principal (L) – é o comprimento do rio principal
que se estende desde a sua nascente até a sua foz, expressa em km.
Comprimento total dos rios (Lt) – determinado pela soma do
comprimento de todos os canais da bacia, expressa em km.
34
Densidade de Drenagem (Dd) - a densidade de drenagem correlaciona o
comprimento total dos canais ou rios com a área da bacia hidrográfica.
Quanto maior sua densidade de drenagem, mais rapidamente o volume
d’água originada pelas chuvas chegará ao final da bacia. A densidade
de drenagem foi obtida pela equação: Dd = Lt/A
Sinuosidade do curso d’água (Sin) - é a relação entre o comprimento do
rio principal (L) e o comprimento do talvegue (Lt) (19,9 km) (o
comprimento do talvegue é a medida em linha reta do ponto inicial ao
ponto final do curso d’água principal), obtido pela equação: Sin = L/Lt
Número total de segmentos (Nr) - é a quantidade total de canais de
drenagem.
Ordem da Microbacia - Reflete o grau de ramificação ou bifurcação
dentro de uma bacia.
Características de relevo:
Mapa hipsométrico – Segundo CHRISTOFOLETTI (1980) a hipsometria
preocupa-se em estudar as inter-relações existentes em determinada
unidade horizontal de espaço no tocante a sua distribuição em relação
as faixas altitudinais, indicando a proporção ocupada por determinada
área da superfície terrestre em relação às variáveis altimétricas a partir
de determinada isoípsa base.
Curva hipsométrica – É a curva construída pela relação entre o
percentual de áreas existentes entre cada faixa altimétrica,
representadas em um gráfico e tem a finalidade de exprimir a maneira
pela qual o volume rochoso situado abaixo da superfície topográfica está
distribuído desde a base até o topo (CHRISTOFOLETTI, 1980)
Amplitude altimétrica (Hm) - Diferença entre a altitude da
desembocadura e a altitude do ponto mais elevado situado em qualquer
lugar da divisória topográfica.
Declividade da microbacia – a declividade dos terrenos de uma bacia
controla em boa parte a velocidade com que se dá o escoamento
superficial, afetando, portanto, o tempo que leva a água da chuva para
35
concentrar-se nos leitos fluviais que constituem a rede de drenagem das
bacias (VILELLA e MATTOS, 1975).
3.Resultados e Discussão De acordo com a metodologia utilizada foi possível realizar o
levantamento das características físicas da Microbacia do Córrego Imbirussu
que são apresentadas no Quadro 1.
Quadro 1. Características físicas da Microbacia do Córrego Imbirussu.
Características Físicas
Resultados Unidade
Área (A) 119,24 km² Perímetro (P) 67 Km
Comprimento total dos cursos fluviais (Lt)
36,46 Km
Comprimento do Córrego Imbirussu (L)
24,74 Km
Sinuosidade do Córrego Imbirussu (Sin)
1,23 -
Densidade de drenagem (Dd)
0,30 Km/km²
Coeficiente de compacidade (Kc)
1,71 -
Fator de forma (Kf) 0,29 - Ordem da microbacia 3º -
Amplitude altimétrica(Hm)
185 M
Declividade média da bacia
3 % -
A microbacia do Imbirussu possui formato alongado, o qual influencia no
tempo de escoamento superficial de forma que o fluxo de água tende a se
concentrar lentamente no exutório principal, tal característica geométrica da
microbacia pôde ser inferida através do coeficiente de compacidade de 1,71 e
do fator de forma de 0,29.
Para VILELLA e MATTOS (1975) o coeficiente de compacidade
relaciona a proximidade da bacia com um círculo que possui um coeficiente
igual a 1 e que quanto maior o Kc haverá menor probabilidade de enchentes na
bacia. Nesse mesmo sentido, o fator de forma relaciona-se com um retângulo,
36
ou seja, a área da bacia com o comprimento axial do curso d’água principal,
pois, quanto mais distante da unidade (Kf=1), ou seja, estreita e longa for a
bacia, haverá menor probabilidade de enchentes.
Portanto, levando-se em conta apenas essas informações e os dados
apresentados pelo coeficiente de compacidade e fator de forma da microbacia
do Imbirussu é possível afirmar que em condições naturais, ou seja, sem
intervenções antrópicas, em sua área há menor probabilidade de enchentes.
SANTOS et al. (2012) ao obterem o coeficiente de compacidade de 1,27
e fator de forma de 0,51 na bacia hidrográfica do rio São José, Cascavel,
Paraná, que possui área de 143,17 km² e perímetro de 54,41 km, constataram
que a bacia possui formato alongado, indicando que a forma da bacia, de modo
geral, não favorece uma rápida concentração do fluxo de acumulação de água.
Já, TEODORO et al. (2007) ao obterem o coeficiente de compacidade
de 1,03 e fator de forma de 1,07 na microbacia hidrográfica do córrego
Marivan, Araraquara, SP, que possui área de 2,11 km² e perímetro de 5,37 km,
constataram que o perímetro da bacia aproxima-se a um círculo, favorecendo
os processos de inundação (cheias rápidas), pois há maiores possibilidades de
chuvas intensas ocorrerem simultaneamente em toda a sua extensão,
concentrando grande volume de água no tributário principal.
O estudo realizado na bacia hidrográfica do rio Cubatão do Sul, Santa
Catarina, de 742,9 km² de área e 159,3 km de perímetro, ao obter o coeficiente
de compacidade de 1,6 e fator de forma 2, CURTARELLI (2009) constatou que,
apesar da bacia possuir formato alongado, a análise sistêmica dos parâmetros
morfométricos indicou que a bacia é suscetível a enchentes acentuadas.
Contudo o coeficiente de compacidade e o fator de forma da bacia são
apenas características geométricas, importantes indicativos do comportamento
do sistema hidrológico de uma bacia hidrográfica, porém o que indica se a
bacia é muito ou pouco propensa a picos de enchentes é a análise sistêmica
dos dados morfométricos que estão associados às características do relevo e
ao sistema de drenagem.
Assim, as características de drenagem estão intimamente ligadas aos
parâmetros geométricos da bacia estudada, pois, após a definição do seu
contorno observou-se que o canal principal do Córrego Imbirussu percorre total
37
de 24,74 km conforme o perfil longitudinal apresentado na figura 2. Verifica-se
ainda, que o trecho do córrego Imbirussu que possui maior declividade
encontra-se na porção compreendida pelos 5,5km iniciais, com topografias
entre 530 e 605 m, sendo a variação altimétrica nesse trecho de 75 m.
ELESBON et al. (2011) ressaltam que a velocidade do fluxo de água de
um rio está diretamente ligada a sua declividade. Portanto, nos 19,24 km finais
do perfil longitudinal do córrego Imbirussu, a baixa declividade apresentada
entre as cotas de 455 e 530 m com uma variação altimétrica também de 75m,
indicam que a água escoa em menor velocidade que nos 5,5 km iniciais do
perfil, ou seja, possui uma menor vazão.
Figura 2. Perfil longitudinal do Córrego Imbirussu, Campo Grande – MS.
O Comprimento total dos cursos fluviais da microbacia do Imbirussu
possui 36,46 km, e foi classificada segundo a hierarquia fluvial de STRAHLER
(1957) como de 3º ordem (FIGURA 3), constituindo-se um indicador de que a
área é mais propicia à permeabilidade. Segundo SANTOS (2004) o grau de
ramificação permite ao planejador entender a complexidade do sistema
hidrográfico.
Para CALIJURI e BUBEL (2006) as microbacias são áreas formadas por
canais de 1º e 2º ordem e, em alguns casos, de 3º ordem, devendo ser definida
como base na dinâmica dos processos hidrológicos, geomorfológicos e
biológicos. As microbacias são áreas frágeis e frequentemente ameaçadas por
perturbações, nas quais as escalas espacial, temporal e observacional são
fundamentais.
38
Figura 3. Hierarquia fluvial da microbacia do Córerego Imbirussu, Campo
Grande – MS.
A densidade de drenagem da microbacia do Imbirussu é de 0,3 km/km².
Segundo VILELLA e MATTOS (1975), este índice infere uma bacia com
drenagem pobre, tendo em vista sua classificação que estabelece como
parâmetros para variação pobre, o índice menor que 0,5 km/km², ou seja,
bacias mal drenadas devido à elevada permeabilidade ou precipitação
escassa, tendo o índice maior ou igual a 3,5 km/km² para bacias
excepcionalmente bem drenadas ocorrendo em áreas com elevada
precipitação ou muito impermeável. Segundo CASTRO (2009) quanto maior o
índice menor é a capacidade de infiltrar água, valores baixos indicam que a
região é mais favorável à infiltração contribuindo com o lençol freático.
Portanto, com o resultado da densidade de drenagem é possível afirmar que a
microbacia do Imbirussu em sua dinâmica natural é mais propícia à infiltração
de água, fato que também pode ser observado pelo baixo grau de dissecação
do relevo.
39
Conforme NUNES (2006) a densidade de drenagem de 3km/km²
demonstra que a bacia do rio Atuba possui Dd elevada, ou seja, alta
capacidade de escoamento de suas enchentes. Este coeficiente demonstra
que o alto valor da densidade de drenagem revela uma baixa capacidade de
infiltração no substrato rochoso e um relevo de topografia moderada.
Apresentando um índice de sinuosidade de 1,23, o córrego Imbirussu
pode ser classificado como um tipo de canal sinuoso. Conforme
CHRISTOFOLETTI (1981) os índices de sinuosidade situados entre 1,1 e 1,5
podem ser considerados como sinuosos, sendo esta categoria transicional
entre a dos canais retos e meandrantes, ou seja, à medida que as curvas vão
se tornando regulares, frequentes e de amplitude similar o padrão distancia-se
do retilíneo e aproxima-se do meândrico. Os fluxos de água que alcançam
índices de sinuosidade maior ou igual a 1,5 são considerados meândricos.
O termo meandro é utilizado para designar o tipo de canal fluvial em que
os rios descrevem curvas sinuosas, largas, harmoniosas e semelhantes entre
si, através de um trabalho contínuo de escavação na margem côncava e de
deposição na margem convexa, no qual os materiais erodidos em uma margem
não atravessam o canal, sendo depositadas ao longo da mesma margem, no
entanto, essa afirmação só é válida para o material da carga detrítica do leito,
porque o material detrítico em suspenção pode ser espalhado por toda a seção
e ser depositado nos mais diversos lugares (CHRISTOFOLETTI, 1981).
Conforme TEODORO (2007) o Índice de sinuosidade apresentado pelo
córrego Marivan é de 1,04 indicando que ele possui um canal retilíneo e,
segundo ANTONELI e THOMAZ (2007), esse tipo de canal favorece um maior
transporte de sedimento. No entanto, a bacia do córrego Marivan apresenta
baixa densidade de drenagem, ou seja, apresenta um relevo pouco declivoso
com rampas longas e solos profundos com alta capacidade de infiltração.
A figura 4 ilustra a curva hipsométrica no qual se observa a distribuição
da área da microbacia com relação à altitude referente ao nível do mar. Pode-
se verificar que a maior área da microbacia, com 57,9% da área total, ocorre
entre as altitudes de 515 a 545, onde a declividade da bacia foi classificada
como praticamente plana (Figura 5), ocasionando o aumento do tempo para o
escoamento superficial pluviométrico e do tempo de concentração das águas
40
no córrego Imbirussu, no entanto proporcionando uma maior capacidade de
infiltração.
Figura 4. Curva hipsométrica do Córrego Imbirussu, Campo Grande – MS. A declividade da microbacia do Imbirussu (FIGURA 5) foi classificada de
0 a 3%, segundo EMBRAPA (2006), como um relevo plano/praticamente plano,
em quase toda sua área de drenagem e de 3 a 8% como um relevo suave
ondulado para as áreas de fundo de vale e áreas mais elevadas, entre as cotas
de 560 a 635 m.
41
Figura 5. Mapa de declividade da microbacia do Córrego Imbirussu, Campo
Grande – MS.
Na figura 6 pode-se inferir que a amplitude topográfica é de 185 m e que
a baixa variação de elevação na microbacia do córrego Imbirussu não a torna
susceptível a grandes interferências na temperatura e precipitação. Conforme
VILELLA e MATTOS (1975) a amplitude do relevo influencia não só na perda
do material erodido pelo entalhamento do canal, mas também na temperatura e
precipitação, pois, a variação da precipitação pela amplitude topográfica,
influencia em toda a dinâmica hidrológica da bacia e consequentemente no
microclima.
Além disso, VILLELA e MATTOS (1975) concordam que a magnitude
dos picos de enchente e a maior ou a menor oportunidade de infiltração e
susceptibilidade para a erosão dos solos depende da rapidez com que ocorre o
escoamento sobre os terrenos da bacia a qual está intimamente ligada à
declividade e amplitude topográfica, dentre outras características físicas da
área.
42
Figura 6. Mapa hipsométrico da microbacia do Córrego Imbirussu, Campo
Grande – MS.
Conforme Antonio (2012) um dos principais pontos de enchentes e
inundações registrados na região urbana do Imbirussu ocorreram nos bairros
Popular e Jardim Aeroporto, situados próximo a confluência dos córregos
Imbirussu e Serradinho – P1 (FIGURA 7).
Este tipo de impacto ambiental pode ser interpretado pela forma de
ocupação urbana sem planejamento, principalmente nas proximidades do
fundo de vale, onde a declividade foi classificada como suave ondulada de 3 a
8%, propiciando alto índice de permeabilização do solo, que impedem a
infiltração e aceleram o escoamento superficial diminuindo o tempo de
concentração das águas e fazendo a convergência do fluxo de água para a
confluência dos córregos Serradinho e Imbirussu, o qual não consegue dar
vazão a grande quantidade de água recebida.
No ponto de confluência (P1) também se observa o principal ponto de
ruptura de declive, no qual, a partir daí, o canal principal adquire menor
amplitude topográfica e a velocidade do fluxo de água passa a perder
velocidade.
43
No entanto, no ponto 2 (P2), o córrego Imbirussu ganha volume de água,
conforme indica o mapa de fluxo de acumulação de água, e há um aumento na
área de capitação da microbacia, além da sua declividade ser classificada
como plano/praticamente plano, de 0 a 3%, portanto, a sua futura ocupação
sem o planejamento voltado a sua capacidade de infiltração associada a
eventos climáticos que aumentem os índices pluviométricos na região poderão
acarretar em enchentes e inundações, por diminuírem o tempo para o
escoamento superficial e o tempo de concentração das águas no córrego
Imbirussu.
44
Figura 7. Mapa de fluxo de acumulação de água da microbacia do Córrego
Imbirussu, Campo Grande – MS.
45
4.Conclusões
Com a análise dos dados morfométricos demonstrou-se que a
microbacia do Córrego Imbirussu apresenta baixa probabilidade de enchentes
devido a sua forma alongada, pobre densidade de drenagem, por ser uma
bacia de 3º ordem, ou seja, com baixo grau de ramificação, indicando que a
área é de fácil à média permeabilidade e que a baixa variação de elevação não
a torna susceptível a grandes variações de temperatura e precipitação, assim
como a baixa declividade apresentada em seu perfil longitudinal indica que a
água escoa em baixa velocidade e que por possuir um relevo
plano/praticamente plano na maior porção de sua área conclui-se que o seu
escoamento superficial é lento e que em condições naturais há boa capacidade
de absorção.
A partir destas análises pode-se afirmar que os impactos ambientais
ocasionados por enchentes na região urbana do Imbirussu estão associados à
impermeabilização do solo e a ocupação nas proximidades de fundo de vale,
principalmente na área de confluência do córrego Imbirussu com o córrego
Cerradinho onde concentra-se o maior fluxo de água acumulado dentro da área
urbana.
Portanto, o processo de uso e ocupação do solo na porção a jusante da
microbacia deve ocorrer de forma planejada, ou seja, seguindo diretrizes
urbanísticas que possam garantir o máximo de proximidade da dinâmica
natural do sistema de drenagem da microbacia, mantendo o nível de
permeabilidade do solo e o tempo de escoamento superficial nas vertentes,
pois, consequentemente evitarão problemas relacionados a enchentes e
acúmulo de sedimentos nas proximidades da foz do canal principal.
Os resultados obtidos com a análise dos aspectos morfométricos
associados ao uso das geotecnologias na microbacia do Córrego Imbirussu,
demonstraram-se satisfatórios, pois, de forma rápida e sem despender custos
econômicos foram ilustrados os atuais impactos ambientais e apontados
possíveis futuros impactos ambientais negativos.
46
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50
ARTIGO II
ANÁLISE MULTITEMPORAL DA BACIA AMBIENTAL DO IMBIRUSSU EM
CAMPO GRANDE – MS
Rennan Vilhena Pirajá¹
¹Mestrando do Programa de Mestrado em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional
da Universidade Anhanguera – Uniderp.
RESUMO
Este trabalho tem por objetivo realizar uma análise multitemporal do uso e
ocupação do solo na Região Urbana do Imbirussu em Campo Grande – MS,
através de Sensoriamento Remoto e Sistema de Informações Geográficas.
Foram utilizadas imagens do satélite Landsat 5 (TM) dos anos de 1985, 1998 e
2010, para as quais utilizou-se o processamento digital de imagens para gerar
os mapas de uso e ocupação do solo, assim como as quantificações das áreas
classificadas. Os resultados apontam o aumento da área correspondente aos
espaços urbanos em 88% durante o período analisado, estando relacionado ao
crescimento populacional e ao fluxo migratório ocorrido após a década de
1970. Os espaços industriais também obtiveram crescimento considerável para
as três décadas, influenciados pelo processo de desconcentração industrial
que ocorria nas grandes metrópoles e pelo fomento às indústrias ligadas ao
agronegócio. Em relação aos espaços rurais houve uma diminuição gradativa,
mas não acentuada destes espaços. Para os vazios urbanos houve uma
redução no qual a quantificação das classes e as cartas de uso e ocupação do
solo indicam uma urbanização desordenada da região. Para os espaços
naturais, referente à mata de galeria do córrego Imbirussu, praticamente não
houve evolução da área. Os resultados apresentados demonstram relações
existentes entre sociedade e ambiente assim como as mudanças ocorridas na
paisagem pela dinâmica do espaço, contribuindo como um modelo de análise
das transformações exercidas pelo homem sobre o meio.
Palavras-chave: Uso e Ocupação do Solo, Sensoriamento Remoto, Espaço,
Paisagem.
51
Abstract
This paper aims to conduct a multi-time analysis of the use and occupation of
land in the Urban Region Imbirussu in Campo Grande - MS through Remote
Sensing and Geographic Information System. Images of Landsat 5 (TM) of the
years 1985, 1998 and 2010, for which we used digital image processing to
generate maps for use and occupation, as well as the quantification of the
classified areas were used . The results indicate increased corresponding to the
urban spaces in 88 % during the analysis period, being related to population
growth and migration occurred after the 1970. Industrial spaces also obtained
considerable growth for three decades, influenced by industrial decentralization
process that occurred in the large cities and the fostering of industries related to
agribusiness. Regarding the rural areas there was a gradual decrease, but not
marked these spaces. For urban voids there was a reduction in the
quantification of which classes and letters of use and occupation indicate a
disordered urbanization of the region. For natural areas, referring to the gallery
forest stream Imbirussu practically no evolution of the area. The results show
the relationship between society and environment as well as changes in the
landscape dynamics of space, contributing as a model for analysis of
transformations exercised by man over the middle.
Key-words: Remote Sensing, Land Use, Space, Landscape.
52
1. Introdução
O processo de ocupação do espaço, assim como os planejamentos, são
reflexos de um complexo quadro de acontecimentos históricos e de situações
político-social-econômicas, assim como, ambiental e cultural, peculiar a cada
país ou região. O Brasil, como outros países, sempre idealizou seus
planejamentos em função dessa história e de suas próprias situações e está
dando os primeiros passos no processo de construção teórico sobre
planejamento ambiental, e em contínuo processo de revisão, nestas últimas
décadas (SANTOS, 2004).
Diante deste contexto, a forma de ocupação do espaço, seja rural,
urbana ou industrial exige o planejamento para a implantação de estruturas que
atendam as necessidades da região propiciando o uso dos recursos locais,
quer sejam humanos ou naturais. Muitas vezes, a ocupação se dá de forma
aleatória impactando negativamente não só os sistemas naturais, mas também
a própria população, pois a perda de qualidade ambiental está diretamente
relacionada à qualidade de vida.
Conforme FLORENZANO (2011), no Brasil, o processo acelerado da
urbanização tem provocado impactos negativos ao meio ambiente e a
qualidade de vida da população. As técnicas de sensoriamento remoto
contribuem efetivamente com a análise e elaboração de um diagnóstico que
subsidie o planejamento do uso do solo das áreas urbanas. A expansão da
mancha urbana de uma cidade, ou seja, o crescimento da área ocupada por
essa cidade, bem como a direção (norte, sul, leste e oeste), podem ser
facilmente detectados por meio de imagens de satélites.
“Os sistemas e técnicas de sensoriamento remoto,
estabelecidos a partir do início dos anos 1970, podem
permitir o estudo da evolução ambiental de determinadas
regiões do globo, exibindo, principalmente, as modificações
ocorridas na cobertura do solo” (PARANHOS FILHO et al.,
2008, p.164,).
53
Ao se comparar as características de um mesmo local em diferentes
épocas e se observar as modificações ocorridas, tem-se a análise
multitemporal. Estudos multitemporais já foram conduzidos com resultados
satisfatórios em várias regiões do mundo interessadas em evidenciar
mudanças ambientais (PARANHOS FILHO et al., 2008).
Campo Grande é a capital do Estado do Mato Grosso do Sul, e sofre
influência do setor Comercial, de Serviços e Indústria, basicamente. A cidade
tem uma área de 8.086,051 Km2, que representa 2,27% de toda a extensão do
Estado. Campo Grande é composta por 74 bairros, divididos em 9 Regiões
Urbanas para fins de planejamento (Segredo, Prosa, Bandeira, Anhanduizinho,
Lagoa, Imbirussu, Centro, Anhanduí e Rochedinho) (PLANURB, 2007).
A área de estudo corresponde à Região Urbana do Imbirussu ou Bacia
Ambiental2 do Imbirussu, caracterizada por estar dentro do perímetro urbano
de Campo Grande – MS e abranger diferentes formas de ocupação do espaço,
onde se contrastam paisagens, rurais, urbanas e industrial, ambas mescladas a
fragmentos e/ou elementos constituintes de paisagens naturais. Diante deste
contexto, o planejamento torna-se de extrema importância para a locação de
infraestruturas que atendam a dinâmica de crescimento da região
proporcionando o desenvolvimento sem a perda da qualidade ambiental que
está diretamente relacionada com a qualidade de vida.
Segundo estudo realizado pela PLANURB (2008), dentre as nove
regiões urbanas de Campo Grande, a região do Imbirussu apresentou a quinta
posição no ranking para o Índice de Qualidade de Vida, nos quais foram
utilizados como indicadores na metodologia adotada para o cálculo: educação,
renda e pobreza, moradia e sustentabilidade ambiental, no qual o indicador
sustentabilidade ambiental do bairro Núcleo Industrial apresentou-se como o
menor de todos os bairros da cidade.
2 Bacia ambiental é uma proposta de área de estudo voltada ao ambiente urbano. Caracteriza-
se pelo somatório de unidades territoriais definidas pelas drenagens naturais de águas superficiais, drenagens antrópicas (águas estocadas, servidas e em uso) e áreas de ações socioeconômicas, inclusive considerando-se aquelas que abrangem os espaços de interesse dos principais grupos sociais. É um espaço de conformação dinâmica que valoriza as modificações feitas pelo homem no desenho natural da paisagem e as relações ambientais de sustentabilidade de ordens ecológica, econômica e social (SANTOS, 2004).
54
Este trabalho justifica-se por colaborar para o debate sobre o efeito da
pressão das atividades econômicas e do processo de urbanização (ocupação
do espaço) como modeladores da paisagem.
A pesquisa tem por objetivo principal investigar as mudanças ocorridas
na paisagem da Bacia Ambiental do Imbirussu em Campo Grande, Mato
Grosso do Sul, através de um estudo multitemporal do uso e ocupação do solo,
utilizando imagens de satélite dos anos 1985, 1998 e 2010. A partir da criação
de mapas temáticos pretende-se demonstrar a dinâmica do espaço e a
evolução do uso e ocupação do solo.
55
2. Material e Métodos
2.1. Área de estudo
A área de estudo possui um espaço físico de 57,68 km², é composta por
08 bairros (Sobrinho, Vila Militar, Panamá, Imá, Santo Amaro, Nova Campo
Grande, Núcleo Industrial e Popular) e situa-se na porção oeste da cidade de
Campo Grande – MS, denominada Região Urbana do Imbirussu (Figura 1). O
perímetro delimitado para área de estudo está de acordo com o zoneamento
utilizado pela prefeitura municipal, que foi atribuído à micro bacia do córrego
Imbirussu, para fins de planejamento, ou seja, não leva em consideração os
limites físicos da microbacia.
O clima da bacia ambiental do Imbirussu, segundo a classificação de
Köppen para a cidade de Campo Grande, situa-se na faixa de transição entre o
sub-tipo Cfa–mesotérmico úmido sem estiagem – em que a temperatura do
mês mais quente é superior a 25ºC, tendo o mês mais seco mais de 30 mm de
precipitação e o sub-tipo Aw – tropical úmido com estação chuvosa no verão e
seca no inverno. Cerca de 75% das chuvas ocorrem entre os meses de outubro
e abril, quando a temperatura média oscila em torno de 24ºC. Os meses de
menor precipitação são: junho, julho e agosto e a temperatura média é de
20ºC. Os déficits hídricos ocorrem com maior intensidade nesses meses, onde
a média das temperaturas mínimas é abaixo de 15ºC. O mês mais seco é o
mês de agosto (PLANURB, 2007).
56
Figura 1 – Região Urbana do Imbirussu, imagem Landsat 5 (TM) de
21/10/2010, Campo Grande – MS.
2.2. Processamento digital das imagens
Para o desenvolvimento deste trabalho foram aplicadas técnicas de
interpretação de imagens do satélite Landsat 5 (TM), disponíveis na literatura
pesquisada, em um Sistema de Informações Geográficas para as três datas
escolhidas, 17/11/85, 21/11/98, 21/10/10. O critério de escolha das imagens foi
à proximidade dos meses, ou seja, por estarem dentro da mesma estação do
ano, no qual o aspecto da paisagem natural possui um mesmo padrão, período
em que também foi realizado o registro fotográfico “in loco”, no ano de 2012,
para serem utilizadas como chaves de interpretação das imagens Landsat 5
(TM). O critério de escolha dos anos das imagens está relacionado ao
processo de inserção do tema desenvolvimento sustentável diante do dinâmico
quadro sócio-político-econômico no qual o país se encontrava, assim como
seus reflexos sobre as mudanças ocorridas na paisagem da bacia ambiental do
Imbirussu ao longo das três últimas décadas.
57
As imagens de satélite utilizadas neste trabalho foram fornecidas pelo
sítio do INPE e são recortes das cenas 225-74 (órbita-ponto), com resolução
espacial de 30m, referentes às três datas. Para a realização das correções
geométricas utilizou-se a ferramenta registro de imagens do software SPRING,
versão 5.1.8 fornecido pelo INPE, no qual foi utilizada como referência a cena
de 22/09/2011 e 225-074 (órbita-ponto)3 georeferenciada no Sistema de
Coordenadas Universal Transversa de Mercator (UTM) e Datum WGS84, para
as quais foram estabelecidos 10 pontos de controle com um erro medido em
pixel na imagem menor que 0,5, conforme recomendado por CARVALHO e
LAENDER (2007).
Para a etapa de composição de bandas, foi realizada a composição
colorida, também conhecida por falsa cor, associando as bandas 453 às cores
primárias: vermelho (R), verde (G) e azul (B), pois tal combinação tornou mais
eficiente à interpretação, principalmente quanto ao tipo de vegetação, por
captarem a faixa do espectro eletromagnético referente ao vermelho,
infravermelho próximo e infravermelho médio (IBGE, 2006).
Após as etapas de pré-processamento das imagens, tais como: recorte
da região em estudo, composição de bandas e ampliação linear de contraste,
no software SPRING, foi executada exportação da imagem de 2010 em
formato tif para o software ARCGIS versão 10, fornecido pelo Laboratório de
Geoprocessamento da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, para
confecção dos mapas temáticos com as fotografias registradas “in loco” e
utilizadas como chaves de interpretação da imagem Landsat 5 (TM) de 2010.
A etapa de elaboração dos mapas de uso e ocupação do solo e
quantificação das áreas classificadas foi totalmente realizada no SPRING e
partiu das seguintes etapas: Segmentação, na qual a imagem foi dividida em
regiões espectralmente homogêneas através do método Crescimento de
Regiões, no qual foram determinados os valores 08 para o limiar de
Similaridade e 12 para o limiar de Área, assim como, a opção “Sim” para
Suavização de Bordas; Classificação Supervisionada, no qual foram
selecionadas em classes (Quadro 1), de acordo com os objetivos do trabalho,
as amostras de treinamento que possuem similaridades em suas respostas
3 Em: <www.glcfapp.glcf.umd.edu:8080/esdi/>. Acesso em 03 novembro 2012.
58
espectrais (grupo de pixels) utilizando o algoritmo Battacharya; a quantificação
das áreas classificadas foi obtida através da ferramenta Medidas de Classes e
com auxílio do módulo de confecção cartográfica SCARTA foram editados os
mapas de uso e ocupação do solo para as datas das imagens selecionadas,
segundo IBGE (2006).
Quadro 1. Classes de uso e ocupação do solo na Região Urbana do Imbirussu,
Campo Grande – MS.
Classes Descrição
Espaços
Urbanos
Foram considerados ruas, avenidas, logradouros, praças,
estacionamentos, cemitério, estabelecimentos comerciais e
residências.
Espaços
Rurais
Está relacionada a áreas de pastagem e agricultura.
Espaços
industriais
Abrange toda sua estrutura física incluindo pátios de
estacionamentos, lagoas artificiais e áreas verdes pertencentes
às indústrias.
Espaços
Naturais
Foi considera a Mata de Galeria do córrego Imbirussu e os
remanescentes florestais.
Vazios
Urbanos
É referente a terrenos baldios que não se confundem com a
mancha urbana, de fundamental importância para diferenciar os
espaços rurais de áreas descampadas durante a segmentação.
2.3. Trabalho de Campo
Esta etapa de realização do trabalho, também chamada de verdade
terrestre, consistiu na identificação das características espectrais encontradas
na imagem com os tipos de cobertura e uso do solo existente na região, tendo
iniciado em agosto de 2012. Para a melhor execução deste trabalho foram
utilizados como material de apoio os seguintes materiais: caderno de campo,
GPS (Global Positioning System), imagem reproduzida na escala de 1:60.000
contendo interpretação preliminar via Google Earth, máquina fotográfica,
59
informações sobre a área e roteiro de percurso para observações dos alvos a
serem identificados segundo os padrões de forma, cor, arranjos e texturas.
2.4. Geofotografia da paisagem e interpretação das imagens
Após o trabalho de campo e com base nas informações observadas
aliadas aos registros fotográficos realizou-se o processo de interpretação das
imagens de satélite com mais acurácia, sobretudo no que se refere às
manchas com reflectância espectrais passíveis de interpretação confusa por
parte do classificador necessitando, portanto, de edições mais detalhadas.
Quanto maior a experiência do intérprete e o seu conhecimento, tanto
temático quanto de sensoriamento remoto e sobre a área geográfica
representada em uma imagem, maior é o potencial de informação que ele pode
extrair da imagem. Para FLORENZANO (2011) a relação de interação do
homem com a máquina, o conhecimento sobre o objeto (ou tema) de estudo
(relevo, vegetação, área urbana, etc.) facilita o processo de interpretação e
aumenta o potencial de leitura de uma imagem.
De acordo com os critérios de cor, forma, arranjos e texturas foram
estabelecidas chaves de interpretação4 a partir das geofotografias realizadas
em campo, com o objetivo de obter uma melhor interpretação da paisagem,
como das áreas com maiores níveis de dificuldade, principalmente referentes à
vegetação e elementos antrópicos existentes nos diferentes tipos de uso e
ocupação do solo na área estudada.
Deste modo, observou-se que na composição RGB para as bandas 453,
a vegetação da mata de galeria do córrego Imbirussu é representada em
vermelho vivo devido a banda 4 (canal do sensor que capta a reflectância do
comprimento de onda referente ao infravermelho próximo) está associada a cor
vermelha. Outro exemplo de como o tipo de vegetação é captada pelo banda 4
e a forma como é representada na composição RGB/453 é a porção de cerrado
pertencente a área militar do exército. Já em plantações de eucalipto podemos
observar a diferença na tonalidade do vermelho com a mata de galeria do
4 Chaves de interpretação consistem na descrição de um conjunto de elementos de interpretação que
caracterizam um determinado objeto. Elas sistematizam e orientam o processo de análise assim como ajudam o interprete na identificação correta de objetos e feições representadas em uma imagem orbital de maneira consistente e organizada (FLORENZANO, 2011).
60
córrego Imbirussu devido à quantidade de biomassa agrupada e a copa do
eucaliptal (Figura 2).
Figura 2. Chaves de interpretação para áreas verdes arbóreas: a) Mata de
galeria do córrego Imbirussu; b) Fragmento de cerrado pertencente a área
militar do exército; c) Plantação de eucalipto, Campo Grande – MS.
A banda 3 (canal do sensor referente ao comprimento de onda do
vermelho) está associada a cor azul, sendo a banda mais utilizada para
determinar a mancha urbana, assim como seus diferentes espaços, tais como:
cemitérios, solo exposto e estradas (Figura 3). Este exemplo pertencente à
classe “espaços industriais” indica um tipo de superfície altamente reflectante
levando os níveis de cinza em todas as bandas a praticamente “255”,
diferenciando-se do índice de reflectância de lagoa artificial utilizada para
tratamento de efluentes do frigorífico que apresenta uma tonalidade preta com
níveis de cinza praticamente “0” devido à falta de sedimentos em suspenção e
a grande absorção da energia eletromagnética.
61
Figura 3. Chaves de interpretação para o ambiente urbano: a) Foto aérea da
área urbana; b) Foto aérea do cemitério Santo Amaro; c) Indústria do Polo
Empresarial Oeste; d) Lagoa artificial para tratamento de efluentes de
frigorífico, Campo Grande – MS.
A banda 5 (canal do infravermelho médio) está associada a cor verde e
apresenta variação de tons misturados tanto com o azul quanto com o
vermelho, dependendo da relação entre o tipo vegetação e o solo, pois esta
banda apresenta sensibilidade ao teor de umidade das plantas. Conforme
observamos os tipos de pasto na figura 4.
62
Figura 4. Chaves de interpretação para tipos de pastagem: a) Pasto
ressecado; b) Pasto apresentando maior concentração de clorofila; c)
Diferença entre a cor esverdeada do pasto sujo e em vermelho, da plantação
de eucalipto ao lado; d) Contraste de tonalidade entre tipos de pasto, a beira
da estrada observa-se um misto de capim braquiária (brachiaria-decumbens)
e capim rabo de burro (Andropogon-Condensatus), Campo Grande – MS.
63
3.Resultados e Discussão
A partir da metodologia selecionada foi possível realizar cartas temáticas
representando a evolução do processo de uso e ocupação do solo de acordo
com a figura 5.
Figura 5. Evolução temporal do uso e ocupação do solo na região
urbana do Imbirussu, Campo Grande – MS.
64
Analisando as cartas de uso e ocupação do solo (Figura, 5), assim
como, a quantificação das áreas estabelecidas na classificação (Figura 6),
observa-se grandes mudanças na paisagem da região realizadas pelo
processo de ocupação do espaço ao longo das três últimas décadas.
Partindo-se do percentual de área dos espaços urbanos de 1985, houve
um aumento, passando de 25% do total das classes em 1985 a 34% em 1998
e 47% em 2010. A classe espaços industriais encontrava-se com 2% em 1985,
aumentando para 6% em 1998, quantificação referente ao núcleo industrial
Indubrasil, instalado em 1977 pela Prefeitura Municipal com 200 hectares, e
aumentando para 11% em 2010. Em relação aos espaços rurais que em 1985
encontrava-se com 44% da área total da região, em 1998 com 39% e em 2010
com 34%. A classe vazios urbanos, que em 1985 encontrava-se com 25%, em
1998 com 16% e em 2010 com 4%. Na classe espaços naturais referente à
resposta espectral da mata de galeria5 do córrego Imbirussu, em 1985
encontrava-se com 4% (2,19 km²), em 1998 com 5% (2,87 km²) e em 2010 com
4% (2,38 km²). Conforme pode ser observado na figura 6.
5 Entende-se como sendo a vegetação florestal que acompanha os rios de pequeno porte e
córregos dos planaltos do Brasil Central, formando corredores fechados (galerias) sobre o curso d’água. Localizam-se nos fundos de vales ou nas cabeceiras de drenagem onde os cursos d’água ainda não escavaram um canal definitivo. Sua fisionomia é perenifólia, não apresentando caducifólia durante a estação seca. Quase sempre é circundada por faixas de vegetação não florestal em ambas as margens e, em geral, ocorre uma transição brusca com Formações Típicas de Cerrado e Campestres. Fonte: Ribeiro e Walter (1998, p. 106).
65
Figura 6. Quantificação das classes de uso e ocupação do solo, Campo
Grande – MS. Organizado pelo autor.
O aumento da classe espaços urbanos justifica-se pelo crescimento
populacional que chegou a até 5,6 vezes entre 1970 e 2010 em Campo Grande
(PLANURB, 2012) (Figura 7).
66
Figura 7. Evolução demográfica de Campo Grande- MS, período de 1970 a
2010. Fonte: PLANURB, 2012. Organizado pelo autor.
Analisando a taxa de crescimento populacional de Campo Grande, no
período de 1970 a 1980 observou-se a maior taxa média geométrica anual,
7,61% desde então a taxa de crescimento demográfico vem desacelerando, em
função da acentuada redução dos níveis de fecundidade e redução do fluxo
migratório (PLANURB, 2012).
Entre 2000 e 2010 a taxa média geométrica de crescimento anual foi de
1,72%, a mais baixa desde o Censo de 1960. Mesmo assim o crescimento
absoluto foi de 123.176 pessoas. O incremento médio anual foi de 12.318
pessoas no período de 2000/2010 contra 15.277 no período de 1991/2000. No
qual se observa o alto grau de urbanização, onde a população urbana
representava 98,66% e a rural 1,34% em 2010, tendo a população do
município em relação à do Estado de Mato Grosso do Sul uma participação
bastante elevada, com 32%, ou seja, para cada 100 habitantes do estado,
cerca de 32 residem em Campo Grande (PLANURB, 2012).
67
O alto grau de urbanização é ilustrado ao se observar a evolução da
classe espaços urbanos, através da quantificação (Figura 6) e da evolução
demográfica da Região Urbana do Imbirussu que em 1991 apresentou 71.015
habitantes, em 2000 89.865 e em 2010 foram contabilizadas 98.752 habitantes
(PLANURB, 2012) (Figura 8) apresentando um incremento médio aproximado
de 13.000 pessoas a cada 10 anos que consequentemente avança sobre as
classes espaços rurais e vazios urbanos, no qual tem-se um menor
adensamento populacional para os bairros mais periféricos (Nova Campo
Grande e Núcleo Industrial), porém com a maior taxa média geométrica de
crescimento populacional (Figura 9).
Portanto, estes dados significam a dinâmica do processo de ocupação
do espaço pelo aumento populacional relacionado à disponibilidade por espaço
e fomentado pela demanda por emprego, no qual se observa o processo de
polarização da urbanização em direção as áreas industriais. Caracterizando a
formação de um distrito industrial6, já característico na configuração territorial
do bairro Núcleo Industrial.
6 Segundo BECATTINI (1990) apud MELO (2006) Os distritos industriais correspondem,
geralmente, a zonas compostas por pequenos e médios centros urbanos, quase sempre possuidores de uma tradição industrial antiga e ligada a uma atividade característica da zona, devendo ser visto como um todo social e económico, havendo relações estreitas entre a esfera social, política e econômica, sendo o funcionamento de uma delas influenciado pelo funcionamento e organização das outras.
68
Figura 8. População residente na Região Urbana do Imbirussu em 2010,
Campo Grande – MS. Fonte: PLANURB, 2012. Organizado pelo autor.
69
Figura 9. Taxa média geométrica de crescimento anual da população na
Região Urbana do Imbirussu de 2007 a 2010, Campo Grande – MS. Fonte –
PLANURB, 2012. Organizado pelo autor.
Segundo MARICATO (2001), o padrão de urbanização brasileiro
apresenta mudanças, a partir dos anos 80, pois, embora as metrópoles
apresentem crescimento maior do que o do país como um todo, seu ritmo
diminuiu. As cidades de porte médio com população entre 100 mil e 500mil
habitantes, crescem a taxas maiores do que as das metrópoles, nos anos 80 e
90 (4,8% contra 1,3%).
Ou seja, as cidades que situadas nas regiões de recepção do fluxo
migratório mais intenso, como é o caso do Centro-oeste, apresentam
crescimento muito superior aos destas. A aceleração extraordinária do
crescimento das cidades de porte médio, de um modo geral, exige mais
atenção devido às consequências socioambientais decorrentes da velocidade
do processo de urbanização (MARICATO, 2001).
Conforme demonstrado, ao analisar a dinâmica do processo de
ocupação do espaço com o aumento populacional, observamos na figura 6 de
70
1985 a grande quantidade de vazios urbanos caracterizados por formas
poligonais irregulares e desordenadas dentro do ambiente urbano, já em 1998
e 2010 pode-se observar o preenchimento desses espaços e o alinhamento da
classe espaços urbanos que se materializa como reflexo da evolução dos
modelos de desenvolvimento adotados para cada década, nos quais envolviam
esforços para inserir e equilibrar conceitos ecológicos, econômicos e sociais.
Em relação à classe espaços industriais pode-se afirmar que houve um
aumento de área entre os anos de 1998-2010 o qual está ligado ao Programa
de Incentivos para o Desenvolvimento Econômico e Social de Campo Grande
(PRODES), implantado em 25 de outubro de 1999, pela Lei Complementa n. 29
(PLANURB, 2012).
Um dos resultados do PRODES foi a criação do Polo Empresarial
Conselheiro Nelson Benedito Netto (Polo Empresarial Oeste) em 2001,
localizado na Região Urbana do Imbirussu, em uma área de 243 hectares,
próximo ao núcleo industrial Indubrasil e dividido em 273 lotes de 5.000 m²,
(PLANURB, 2012).
Para MARCONDES (1999) as interpretações que tem sido utilizadas
para explicar esse processo de reestruturação urbano-industrial firmado na
década de 1980 baseiam-se na noção de desconcentração industrial. Conceito
que se fundamenta na reversão da polarização associadas às deseconomias
de aglomeração geradas com a intensificação da industrialização e da
urbanização registradas na região metropolitana de São Paulo na década de
1980. Segundo a autora a desconcentração é incentivada através de medidas
de politicas públicas reorientadas, com estímulos a atividade industrial em
determinadas regiões.
Segundo SANTOS (1996) o processo de desconcentração industrial no
Brasil se intensifica na década de 1990, com o período técnico-científico-
informacional da história humana ou era da globalização, marcado pela
evolução dos sistemas de transporte, informática e comunicação, os quais
atuam no espaço produzindo um sistema de objetos e um sistema de ações
que se materializam em planos, projetos, programas e atividades de forma a
racionalizar o espaço junto à questão de uma ordem mundial e uma ordem
local.
71
Ao observarmos a instalação do Polo Empresarial Oeste em uma área
de espaço rural percebe-se que o local de escolha da sua implantação refere-
se à disponibilidade de uma maior porção de terra, pela viabilidade de
escoamento da mercadoria, situado próximo a BR-262 e da rede ferroviária, e
pela proximidade do córrego Imbirussu, já impactado por receber a carga de
efluentes do Núcleo Industrial Indubrasil e de esgoto doméstico.
Constatou-se que a instalação do Polo Empresarial Oeste foi realizada
sem a contemplação dos equipamentos urbanos necessários a mitigação dos
impactos ambientais, tais como rede de saneamento básico e estações de
tratamento de esgoto doméstico e industriais. Portanto, sua implantação
caracteriza-se pela dicotomia do desenvolvimento sustentável, presente na
proposta do PRODES, com o desenvolvimento a qualquer custo, fomentado
pelo subsídio Estatal.
Em relação aos espaços rurais, verificou-se uma diminuição gradativa
destes espaços. A classe abrange tanto a agricultura quanto a pecuária, sendo
esta última a mais expressiva, verificada nas visitas de campo, assim como
analisadas nas imagens de satélite (Figura 10).
Seguindo os parâmetros de interpretação de imagens Landsat 5
(EMBRAPA, 2000) observa-se também em relação aos espaços rurais que as
mudanças na paisagem ao longo do tempo estão relacionadas as formas de
emprego da técnica no manejo do pasto.
Na imagem de 1985 (Figura 10) constatou-se parcelas de uma
vegetação indicando a presença de uma maior biomassa, característica de
uma pastagem natural, ora alternando-se com grandes porções de um solo
exposto e de forma irregular, indicando característica de área de pastagem
extensiva.
72
Figura 10. Região Urbana do Imbirussu em 1985, Campo Grande – MS.
Na imagem de 1998 (Figura 11) constataram-se áreas com
características rurais de áreas parceladas, devido às diferenças espectrais em
forma de polígonos, alternando-se em solos expostos de coloração escura que
caracterizam um solo com adição de corretivos para plantação e áreas de
pastagem em diferentes estágios, caracterizando uma cultura de rotatividade.
73
Figura 11. Região Urbana do Imbirussu em 1998, Campo Grande – MS.
Na imagem de 2010 (Figura 12) constatou-se tanto na imagem de
satélite quanto na pesquisa “in loco” os vários tipos de pasto, principalmente
com a utilização da braquiária, no qual foram constadas algumas espécies,
principalmente a margem esquerda da BR-262, sentido oeste, com o sistema
de pastejo rotativo de gado, utilizado como campo experimental da EMBRAPA
gado de corte.
74
Figura 12. Região Urbana do Imbirussu em 2010, Campo Grande – MS.
As espécies consideradas invasoras, como Brachiaria decumbens Stapf
e B. brizantha são amplamente empregadas na formação de pastagens, pois
resistem bem ao pisoteio pelo gado e formam cobertura contínua, inclusive em
terrenos de baixa fertilidade. Seu plantio é bastante estimulado pelos órgãos de
fomento agropecuário, principalmente em função da rusticidade, porém, reflete
em grande parte com a perda de fertilidade das pastagens brasileiras, e com a
falta de estímulos para práticas sustentáveis relativas a qualidade do solo
(NASCIMENTO-JÚNIOR et al., 1999).
Segundo SEPLAN (1990) a pecuária no Brasil sempre ocorreu de forma
extensiva (áreas abertas, oferecendo possibilidade de livre movimentação do
gado), aproveitando as pastagens naturais existentes principalmente na região
fitoecológica da savana, porém, atualmente vem se transformando em pecuária
intensiva com implantação de pastagens artificiais (gramíneas exóticas), com
espécies de Brachiaria sp.
Conforme SANTOS (1996) com a globalização, a especialização rural
baseada na ciência e na técnica inclui o campo modernizado em uma lógica
competitiva que acelera a entrada da racionalidade em todos os aspectos da
75
atividade produtiva, segundo o autor o mundo rural torna-se uma criação onde
cada gesto e cada resultado devem ser previsto, de modo a assegurar a maior
produtividade e a maior rentabilidade possível, sendo plantas e animais
criaturas da biotecnologia.
Contudo, entende-se até aqui que houve uma diminuição gradativa mas
não acentuada dos espaços rurais na bacia ambiental do Imbirussu, tornando
um indicativo de que os espaços urbanos, portanto, praticamente aumentaram
sobre a classe vazios urbanos e não exclusivamente sobre os espaços rurais.
Os vazios urbanos surgiram com a expansão da malha urbana da cidade
que se deu de forma descontínua com a criação de áreas urbanizadas
entremeada de glebas não loteadas e desligadas da trama urbana (Figura 13).
A partir de 1960 grandes porções do terreno começam a ser loteados para
abrigar a população menos favorecida que imigrava para Campo Grande,
tendo intensificado na década de 1970 fazendo com que parte do adensamento
da cidade se concentrasse nas saídas da cidade, acompanhando o sistema
viário (PLANURB, 2007).
Figura 13. Evolução dos loteamentos aprovados na Região Urbana do
Imbirussu, Campo Grande – MS. Fonte: PLANURB, 2012. Organizado pelo
autor.
76
Considerando o espaço temporal existente entre Campo Grande e uma
cidade pertencente à região metropolitana de São Paulo, conforme FREITAS
(2005), em seu estudo sobre a Aplicação de técnicas de geoprocessamento na
avaliação dos vazios urbanos existentes na cidade de São José dos Campos,
SP, em 2000, constatou que a exemplo do que ocorreu em outras cidades
médias brasileiras, a cidade de São José dos Campos experimentou, a partir
da década de 50, um crescimento urbano intenso e desordenado, atrelado à
implantação e consolidação do pólo técnico-científico-industrial.
A especulação imobiliária acaba por ser uma das causas do processo de
ocupação desordenado do espaço. Pois as áreas ociosas dentro do perímetro
urbano diminuem a oferta de terra útil, gerando o aumento do preço da terra e
empurrando os mais pobres para áreas periféricas fomentando o processo de
segregação social e espacial ao tornar a cidade cada vez mais espraiada
(FREITAS, 2005).
Segundo a pesquisa de ROSA (2008) sobre Vazios urbanos como
vazios de preservação e a pesquisa de CARVALHO (2009) sobre Áreas verdes
e vazios urbanos como proposta sustentável de urbanização a visão sobre os
vazios urbanos ganham outra interpretação. Segundo os autores, os espaços
vazios, sejam públicos ou privados, são de valiosa importância para a
reorganização das cidades, pois podem adquirir novas funções quando
associados a políticas públicas relativas ao planejamento do uso e ocupação
do solo com o objetivo de harmonizar o meio ambiente urbano.
Na classe espaços naturais observa-se praticamente a não evolução
dessas áreas, sendo possível afirmar que o pequeno aumento em 1998 deve-
se ao crescimento de vegetação secundária em áreas de vazios urbanos junto
a mata de galeria do córrego, gerando uma pequena anexação entre a
vegetação arbórea e a mata secundária durante a segmentação.
Além disso, a redução dessa classe em 2010 é referente à ocupação
destes espaços vazios com a área construída associada à criação do Parque
Linear Imbirussu entre 2006 e 2011.
Para fins de discussões referentes a essa classe temática analisada
para a região urbana da bacia do Imbirussu é possível uma divisão em dois
trechos: o primeiro é referente ao trecho compreendido entre a Avenida Duque
77
de Caxias e a Avenida Euler de Azevedo onde se encontra implantado o
parque linear do complexo Imbirussu/Serradinho construído entre 2006 e 2011,
e o segundo é referente ao trecho compreendido entre a Avenida Duque de
Caxias e o Rodo Anel Viário que pode ser classificado como uma área
impactada (Figura 14).
Figura 14. Mapa temático da Bacia Ambiental do Imbirussu, Campo Grande –
MS. Fonte: Digitalizado e editado pelo autor.
No parque linear do Imbirussu observa-se a intervenção antrópica em
sistema hidrográfico de ambiente urbano através de uma nova relação de uso
dos espaços naturais, contemplando a relação harmônica entre
desenvolvimento e meio ambiente, atendendo aos princípios da
sustentabilidade (Figura 15).
78
Figura 15. Parque Linear Imbirussu, Campo Grande – MS.
Com o intuito de combater e prevenir problemas ambientais faz-se
necessário a adoção de novos paradigmas que garantam o melhor
funcionamento das bacias de drenagem urbanas. Segundo BOTELHO (2011),
atualmente, as estratégias de manutenção do equilíbrio hidrológico e do bom
funcionamento das bacias hidrográficas urbanas estão centradas na
recuperação de áreas de infiltração, no aumento da capacidade de retenção
das águas, na capitação de águas da chuva e seu aproveitamento, no reuso de
suas águas servidas e na renaturalização dos rios urbanos.
Portanto, observa-se que a criação de parques lineares, além de servir
como espaços de contemplação da natureza e centros de educação ambiental,
tornam-se de extrema importância não só para a obtenção da qualidade de
vida em ambiente urbano, mas também, do ponto de vista ecológico, reforça a
manutenção do sistema hidrológico e da biodiversidade ao conservar espécies
nativas da flora e servir como corredores ecológicos para a fauna silvestre
desde que se faça com plano de manejo.
O Núcleo Industrial e o Polo Empresarial Oeste, ainda isentos de
assistência ambiental, as únicas intervenções antrópicas ocorridas dizem
respeito ao uso deteriorante, entrando em contradição com o primeiro trecho
79
analisado, isso se dá devido ao fomento da ocupação industrial sem a real
preocupação com o meio ambiente, conforme constatado em alguns pontos
que servem como escoadouro de efluentes industriais tanto do Polo
Empresarial Oeste quanto do Núcleo Industrial, sendo, portanto zonas
industriais ainda precárias em infraestrutura básica, as quais segundo
PLANURB (2012) cobertas apenas por infraestrutura básica de revestimento
primário em todas as vias, drenagem pluvial e áreas para serviços públicos.
Contudo, juntamente com o córrego Anhanduizinho, o córrego Imbirussu
é um dos principais contribuintes para a poluição do rio Anhanduí (MS),
apontado no Relatório da Agência Nacional das Águas (2009) como um rio de
alta disponibilidade hídrica, porém com baixa capacidade de assimilação de
cargas de esgotos em consequência da elevada carga orgânica associada à
densidade populacional e de atividades industriais (BOTELHO, 2009).
Conforme LIMA (2012) ao pesquisar a qualidade da água do córrego
Imbirussu, constatou que nas regiões de amostragem em que não há cobertura
de rede de esgoto, há aumento de coliformes termotolerantes, principalmente
na região do Pólo Empresarial Oeste e do Núcleo Industrial Indubrasil onde
está localizada a estação de tratamento de efluentes de um frigorífico e de um
curtume e que tais valores elevados desta variável evidencia alguma falha na
eficiência do tratamento dos efluentes destas atividades já relatadas nos
relatórios de índice de qualidade de água de Campo Grande divulgado pela
SEMADUR nos anos de 2009, 2010 e 2011 (CAMPO GRANDE, 2009; 2010;
2011).
Assim como no ponto de coleta próximo ao Núcleo industrial, as
indústrias da região utilizam o córrego Imbirussu para o descarte de efluentes,
recebendo uma grande quantidade de dejetos, os quais deveriam ser
previamente tratados, porém, o aspecto escuro e espumoso forma uma pasta
gordurosa que exala forte odor, como um cheiro do preparo de sabão caseiro,
o que não indica tais procedimentos de tratamento adequados (LIMA, 2012).
80
4. Conclusões
Os resultados apresentados demonstram que as relações existentes
entre sociedade e ambiente assim como as mudanças constatadas na
paisagem ocorreram de forma dinâmica na Região Urbana do Imbirussu em
Campo Grande – MS.
Essa dinâmica do espaço retrata a relevância da realização de estudos
multitemporais sobre o uso e ocupação do solo como forma de interpretar e
conduzir o desenvolvimento regional sustentável, contribuindo como um
modelo de análise das transformações exercidas pelo homem sobre o meio.
A utilização de imagens de satélites orbitais trabalhadas em um Sistema
de Informação Geográfico - SIG possibilitou a análise e interpretação das
mudanças ocorridas na região através das formas de uso e ocupação do solo,
baseado também em documentos, fatos históricos e pesquisa de campo.
Os resultados demonstraram um grande crescimento da urbanização,
assim como da zona industrial, principalmente na última década analisada
(1998-2010), e que problemas de impermeabilização do solo e poluição hídrica
estão associados não apenas a má gestão do planejamento e ordenamento
territorial, mas também, em vontades políticas.
Ressalta-se, ainda, que foi de suma importância metodológica a
associação das mudanças que ocorreram na Região Urbana do Imbirussu com
as políticas de desenvolvimento e tentativas de planejamento urbano adotado
pelos responsáveis do poder público na cidade de Campo Grande ao longo do
período analisado.
81
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84
Conclusão Geral
Com a análise dos dados morfométricos da microbacia hidrográfica do
Imbirussu e a análise multitemporal da bacia ambiental do Imbirussu
demonstrou-se que o processo de ocupação aconteceu de forma aleatória,
sem o devido planejamento que contemplasse o equilíbrio ambiental, e que os
atuais impactos socioambientais negativos são reflexos de um modelo de
relação predatória entre homem e natureza. Assim como, as atuais tentativas
de mitigação destes impactos são os efeitos da incorporação dos princípios do
desenvolvimento sustentável nas novas metodologias de planejamento.
Pode-se observar nesse estudo que a relação do homem com a
natureza não se desponta de forma igual no espaço e no tempo. De uma forma
geral, são constatados momentos distintos desta relação: no qual temos um
processo de ocupação aleatório e outro no qual à medida que há o aumento do
fluxo populacional sobrecarregando o espaço total, observa-se a necessidade
de racionalização e as tentativas de restituição dos ambientes impactados,
mesmo que de forma ainda incipiente.
A partir destas análises pode-se afirmar que as alterações na dinâmica
natural da microbacia do Imbirussu foram ocasionadas pela forma de ocupação
do espaço, no qual os impactos ambientais ocasionados por enchentes, assim
como, assoreamento e poluição hídrica estão associados à impermeabilização
do solo e a ocupação nas proximidades de fundo de vale da área urbana e
industrial.
Portanto, o processo de uso e ocupação do solo na porção à montante
da microbacia sem o planejamento adequado, ou seja, seguindo diretrizes
urbanísticas que pudessem garantir o máximo de proximidade da dinâmica
natural do sistema de drenagem da microbacia sugere a ocorrência de
prejuízos ambientais à jusante, de acordo com os dados apresentados nas
análises realizadas.
O dinamismo encontrado na região do Imbirussu retrata a relevância da
realização de estudos de análise integrada sobre o uso e ocupação do solo
levando-se em consideração as suas características físicas como forma de
interpretar e conduzir o desenvolvimento regional sustentável, portanto,
contribuindo como uma proposta de suporte para o manejo não só da região do
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Imbirussu, mas também, de outras regiões da cidade de Campo Grande – MS,
que continua em intenso processo de expansão.