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UMA REFLEXO SOBRE ALGUNS CONCEITOS DA ANLISE DO DISCURSO DE
LINHA FRANCESA
Vnia Maria Lescano Guerra*
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Resumo: O objetivo deste trabalho estudar a orientao terica da
Anlise do Discurso, a partir dos seus principais conceitos:
sujeito, ideologia e discurso. Palavras-chave: discurso; sujeito;
ideologia.
Abstract: The goal of this research is to study the theoretical
skeleton on the Discourse Analyse, starting from important
concepts: subject, discourse and ideology. Key-words: discourse;
subject; ideology.
Introduo O presente estudo visa reflexo sobre os trabalhos em
Anlise do
Discurso, de perspectiva francesa, a partir dos conceitos-chave
de sujeito, discurso e ideologia. Dessa forma, esperamos provocar
um dilogo entre professores e alunos a respeito desse vasto campo
de trabalho em Lingstica.
Essa orientao terica defende a tese de que a linguagem possui
uma relao com a exterioridade, esta entendida no como algo fora da
linguagem, mas como condies de produo do discurso que intervm
materialmente na textualidade, como interdiscurso, isto , como uma
memria do dizer que abrange o universo do que dito. com esse foco
que a Anlise do Discurso de orientao francesa (AD), estruturada por
Michel Pcheux e outros (a partir do final da dcada de sessenta na
Frana),
* Doutora em Lingstica e Lngua Portuguesa pela UNESP de
Araraquara e docente na UFMS, campus de Trs Lagoas, na graduao e
ps-graduao em Letras.
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situa sua reflexo sobre a relao entre a Lingstica e a Teoria do
Discurso, valendo-se da articulao de trs regies do conhecimento: o
materialismo histrico, com base na releitura que Althusser faz dos
textos de Marx; a Lingstica, como teoria dos mecanismos sintticos
dos processos de enunciao; e a Teoria do Discurso, como teoria da
determinao histrica dos processos semiticos. Importa dizer que
essas teorias so atravessadas por uma teoria psicanaltica da
subjetividade, ou mais especificamente, pela releitura que Lacan
faz dos estudos de Freud.
A Orientao da Anlise do Discurso Nos trabalhos de Michel Pcheux,
elaborados no perodo de 1977 a
1982, o estudioso francs reflete sobre os contextos
epistemolgicos das cincias humanas na Frana, dos anos 50 at o comeo
dos anos 80. Alm de refletir sobre a prpria histria das cincias
humanas, o terico analisa as bases epistemolgicas que
possibilitaram o surgimento da AD. Para tanto, sua tica
centraliza-se no papel da Lingstica no mbito das cincias humanas,
nas suas crises, nas suas conquistas e na contribuio que a cincia
da linguagem traz ao campo da AD. Nesse pensamento, est presente o
que Pcheux chama a tripla entente (SAUSSURE-MARX-FREUD) que
fundamenta toda a sua obra.
Para Gregolin (2001a: 01 ),
[...] esse triplo assentamento traz conseqncias tericas: a forma
material do discurso lingstico-histrica, enraizada na Histria para
produzir sentido; a forma sujeito do discurso ideolgica,
assujeitada, no psicolgica, no emprica; na ordem do discurso h o
sujeito na lngua e na Histria1
1 Olhares oblquos sobre o sentido no discurso, em Anlise do
discurso, interpretao e memria: olhares oblquos (no prelo).
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Com base nessa relao da linguagem com a exterioridade, a AD
recusa as concepes de linguagem que a reduzem ora como expresso do
pensamento, ora como instrumento de comunicao. A linguagem
entendida como ao, transformao, como um trabalho simblico em que
tomar a palavra um ato social com todas as suas implicaes,
conflitos, reconhecimentos, relaes de poder, constituio de
identidade etc (Orlandi, 1998:17).
Na tica da AD, o sujeito atravessado tanto pela ideologia quanto
pelo inconsciente, o que produz no mais um sujeito uno ou do cogito
como em algumas teorias da enunciao, mas um sujeito cindido,
clivado, descentrado, no se constituindo na fonte e origem dos
processos discursivos que enuncia, uma vez que estes so
determinados pela formao discursiva na qual o sujeito falante est
inscrito. Contudo, esse sujeito tem a iluso de ser a fonte, origem
do seu discurso.
Essas questes apontam para o fato de que, na constituio do
sujeito do discurso, intervm dois aspectos: primeiro, o sujeito
social, interpelado pela ideologia, mas se acredita livre,
individual e, segundo, o sujeito dotado de inconsciente, contudo
acredita estar o tempo todo consciente. Afetado por esses aspectos
e assim constitudo, o sujeito (re)produz o seu discurso.
Do ponto de vista da AD o sujeito constitui-se numa posio limite
entre o que pertence dimenso enunciativa e o que pertence dimenso
do inconsciente, sem se limitar a nenhum dos dois aspectos, pois
nesse lugar que se inclui o que de dimenso ideolgica. Resumindo,
enquanto algumas teorias da enunciao se constituem em teorias
subjetivas da linguagem, a AD se constitui numa teoria no-subjetiva
que concebe o sujeito no como o centro do discurso, mas como um
sujeito cindido, interpelado pela ideologia, dotado de inconsciente
e sem liberdade discursiva. Recusa-se a tese idealista de algumas
teorias lingsticas que defendem a existncia de uma relao direta
entre a lngua e o objeto por
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ela designado. Do ponto de vista discursivo, o que existe a
relao entre lngua e objeto que sempre atravessada por uma memria do
dizer, e essa memria a que determina as prticas discursivas do
sujeito. Em outras palavras, para a AD, o dizer do sujeito
determinado sempre por outros dizeres, ou todo discurso determinado
pelo interdiscurso.
Para a AD a noo de memria discursiva no se confunde com a noo de
memria da Psicologia (repositrio de informaes adquiridas ao longo
do tempo), pois diferentemente desta aquela diz respeito s formas
significantes que levam uma sociedade a interpretar-se e a
compreender-se atravs dessa interpretao (Gregolin, 2001a: 21).
Dessa forma, no campo da AD, o discurso se constitui sobre o
primado do interdiscurso: todo discurso produz sentidos a partir de
outros sentidos j cristalizados na sociedade. Ento, pode-se
conceber a memria discursiva como sendo esses sentidos j
cristalizados, legitimados na sociedade e que so reavivados no
intradiscurso. Este , muitas vezes, apagado pela ideologia, para
produzir o efeito de homogeneidade discursiva, espao de
deslocamentos, de retomadas, de conflitos, de regularizao.
Importa observar que nos desenvolvimentos da AD, durante as
transies tericas e polticas das dcadas de 80 e de 90, as propostas
de Pcheux aproximam-se de outros pensadores. Ele vislumbra diversas
aberturas, para a reflexo sobre outras trajetrias, mostrando outros
percursos para a AD. De Michel Foucault surge a questo a respeito
da cincia histrica, suas descontinuidades, sua disperso que
implicar na abrangncia do conceito de formao discursiva, na
discusso das relaes entre os saberes e os micropoderes, na
preocupao com a leitura, a interpretao e a memria discursiva. De
Bakthin surge a questo da heterogeneidade, do dialogismo e dos
contextos scio-histricos inerentes discursividade. De Michel de
Certeau surge a preocupao com a anlise dos discursos cotidianos e
da prtica ordinria do homem.
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Dessa perspectiva, a AD vai deslocar-se da primazia sobre o
discurso poltico, sobre a materialidade escrita, para encontrar
outras formas materiais, outros regimes de materialidade. Disso
decorre a preferncia de Pcheux, em seus ltimos escritos, em falar
de anlise de discurso em vez da frmula tradicional anlise do
discurso, ao mesmo tempo em que o leva a pensar na anlise da
materialidade no-verbal e a vislumbrar aproximao com os estudos
semiticos. Gregolin (1995:13) considera que
[...] empreender a anlise do discurso significa tentar entender
e explicar como se constri o sentido de um texto e como esse texto
se articula com a histria e a sociedade que o produziu. O discurso
um objeto, ao mesmo tempo, lingstico e histrico; entend-lo requer a
anlise desses dois elementos simultaneamente.
No intuito de entendermos melhor a orientao da AD, necessrio que
faamos consideraes a respeito dos conceitos-chave que constituem a
sua base terica.
1. Sujeito O sujeito no a fonte absoluta do significado, do
sentido, no a
origem, pois ele se constitui por falas de outros sujeitos.
Assim, o sujeito resultante da interao de vrias vozes, da relao com
o scio-ideolgico, portanto tem carter heterogneo. Vale lembrar que,
contrapondo-se a uma filosofia idealista da linguagem (que concebe
o sujeito como fonte e origem de tudo o que diz e o sentido como
algo j existente), Pcheux & Fuchs (1975) afirmam que o sujeito
afetado por dois tipos de esquecimento.
Segundo Pcheux (1988), o esquecimento n 1 aquele em que o
sujeito se coloca como origem de tudo o que diz. Esse esquecimento
de natureza inconsciente e ideolgica: o sujeito procura rejeitar,
apagar, de modo inconsciente, tudo o que no est inserido na sua
formao discursiva,
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o que lhe d a iluso de ser o criador absoluto de seu discurso.
Para esse autor, com o esquecimento n 2, de carter pr-consciente ou
semi-consciente, o sujeito privilegia algumas formas e apaga
outras, no momento em que seleciona determinados dizeres em
detrimento de outros. Com o esquecimento n 2, o sujeito tem a iluso
de que o que diz tem apenas um significado. Ele acredita que todo
interlocutor captar suas intenes e suas mensagens da mesma forma.
Os outros do discurso que determinam seu dizer no so percebidos
pelo sujeito, assim como ele no pode ter controle total sobre os
efeitos de sentido que seu dizer provoca, precisamente porque
sentidos indesejveis so mobilizados.
A concepo de um sujeito marcado pela idia do centro, da unidade,
da fonte ou origem do sentido constitui uma iluso necessria, na
formao do sujeito, de acordo com Pcheux, a fim de que o sujeito
continue a produzir discurso. O sujeito como centro e origem do
sentido passa a ser questionado, j que ele situa o seu discurso em
relao aos discursos do outro.
Para a AD, o sujeito essencialmente ideolgico e histrico, pois
est inserido num determinado lugar e tempo. Com isso, ele vai
posicionar o seu discurso em relao aos discursos do outro, estando
inserido num tempo e espao socialmente situados. No imbricamento
entre o lingstico e o social, a enunciao passa a ser um fator
relevante para a interpretao2, para a constituio do significado.
Aliado a esse fato, mobilizaremos a noo de Pcheux (1997), que
afirma que a interpretao um gesto3, isto , um ato no nvel simblico.
o lugar prprio da ideologia em que a interpretao materializada pela
histria.
Para Orlandi (1996:15), o espao de interpretao, no qual o autor
se insere com seu gesto e que o constitui como autor deriva da sua
relao
2 Interpretao tomada, discursivamente, como a necessidade da
relao da lngua com a histria, ideologicamente construda. (ORLANDI,
1996:146). 3
Gestos aqui est sendo usado no sentido da AD. A interpretao um
gesto, um ato no nvel simblico. Para compreender esta noo confira
Gestos de Leitura, Orlandi et alii, 1997.
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com a memria4, isto , com o saber discursivo, o interdiscurso. A
analista do discurso afirma que o autor carregado pela fora da
materialidade do texto, cujo gesto de interpretao historicamente
determinado pelo interdiscurso. Nessa mesma direo, o sentido no est
j fixado como essncia das palavras, nem tampouco pode ser qualquer
um: h a determinao histrica. Ainda um entremeio5 (op.cit.:27).
Convm dizer que, quando afirmamos que h determinao histrica dos
sentidos, no estamos pensando a histria como evoluo e cronologia: o
que importa no so as datas, mas os modos como os sentidos so
produzidos e circulam no interior de uma dada formao
discursiva.
no domnio da questo da historicidade6, o saber discursivo que
foi se constituindo ao longo da histria e produzindo dizeres, que
vamos inscrever a reflexo sobre a questo da materialidade da
linguagem, que considera dois aspectos: o lingstico e o histrico,
como indissociveis no processo de produo do sujeito do discurso e
dos sentidos que o significam, o que possibilita afirmar que o
sujeito um lugar de significao historicamente constitudo.
Pela noo de interpretao desenvolvida e pela considerao de que
sujeito e sentido so constitudos pela ordem significante na
histria, ficam visveis as relaes entre sujeito, sentido, lngua,
histria, inconsciente e ideologia (Orlandi, 1996).
Importante dizer que o trabalho de Foucault (1985) provocou o
descentramento da identidade e do sujeito graas noo de poder
disciplinar, noo essa que no pode ser confundida com opresso ou
poder estatal. Trata-se de um poder preocupado, em primeiro lugar,
com a
4Uma interao verbal desenvolve-se no tempo e, desse fato,
constri-se progressivamente uma memria intratextual: a cada
momento, o discurso pode enviar a um enunciado precedente
(MAINGUENEAU, 1998). 5 Para Orlandi, A AD trabalha no entremeio,
fazendo uma ligao, mostrando que no h separao estanque entre a
linguagem e sua exterioridade constitutiva (1996 :25). 6 Segundo os
estudos foucaultianaos, historicidade no implica a histria
refletida no texto mas em sua materialidade, isto , o acontecimento
do texto como discurso, o trabalho dos sentidos nele.
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regulao, a vigilncia e o governo da espcie humana ou de populaes
inteira e, em segundo lugar, com a regulao do indivduo e do corpo:
disciplinar o corpo para disciplinar a mente; afinal, a corpo dcil
corresponde mente dcil. Tal poder encontra-se localizado nas novas
instituies que se desenvolveram ao longo do sculo XIX e que
policiam, controlam e disciplinam as populaes modernas (idem,
op.cit:106).
com base nessa viso de sujeito descentrado, clivado, heterogneo,
perpassado por vozes que provocam identificaes de toda sorte que
abordaremos, a seguir, a questo da ideologia e do discurso,
fundamental para o entendimento do percurso da AD.
2. Ideologia Segundo Chau, (1981:22), o termo ideologia
apareceu, pela primeira
vez, em 1801, no livro de Destutt de Tracy (lments dIdeologie)
que o definiu como algo que se referia cincia da gnese das idias; o
autor pretendia analisar, nessa obra, as origens sensoriais das
idias. Segundo a autora, a ideologia, como teoria, passa a ter um
papel de comando sobre a prtica dos homens, que devem submeter-se
aos critrios e mandamentos do terico antes de agir.
Para Brando (1995), a palavra ideologia ainda hoje uma noo
confusa e controversa. Nos trabalhos de Marx & Engels, por
exemplo, encontramos esse termo impregnado de uma carga semntica
negativa, uma vez que eles condenam a forma de ver abstrata e
ideolgica dos filsofos alemes que, perdidos na sua fraseologia, no
buscam a ligao entre a filosofia alem e a realidade alem; o lao
entre sua crtica e seu prprio meio material (1965:14). Esses
estudiosos identificam ideologia com a separao que se faz entre a
produo das idias e as condies sociais e histricas em que so
produzidas. Ento tomam como base para suas formulaes apenas dados
possveis de uma verificao emprica e o
claro que existe uma ligao entre a histria externa e a
historicidade do texto mas essa ligao no
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que as ideologias fazem, segundos eles, colocar os homens e suas
relaes de cabea para baixo, representa o desvio do percurso que
consiste em partir das idias para se chegar realidade.
na seqncia dessas consideraes que Chau (1981) chega caracterizao
da ideologia segundo a concepo marxista. Ela um instrumento de
dominao de classe porque a classe dominante faz com que suas idias
passem a ser idias de todos, eliminado-se as contradies entre fora
de produo, relaes sociais e conscincia. Dessa forma, o termo
ideologia parece estar reduzido a uma simples categoria filosfica
de iluso ou mascaramento da realidade social, pois Marx toma como
ponto de partida, para a elaborao de sua teoria, a crtica ao
sistema capitalista e o respectivo desnudamento da ideologia
burguesa, j que para ele conta a ideologia da classe dominante.
Para o filsofo Althusser (1992), a ideologia tem existncia
material, e nessa existncia material que deve ser estudada, e no
como meras idias. Segundo o terico,
[...] trata-se de estudar as ideologias como um conjunto de
prticas materiais necessrias reproduo das relaes de produo. O
mecanismo pelo qual a ideologia leva o agente social a reconhecer o
seu lugar o mecanismo da ssujeio (p. 08).
O conceito althusseriano de sujeio surge como um mecanismo de
duplo efeito: agente que se reconhece como sujeito e se assujeita a
um sujeito absoluto. De acordo com ele, a sujeio no est presente
apenas nas idias, porm existe num conjunto de prticas, de rituais
que se encontram em um conjunto de instituies concretas. De acordo
com esse autor, a ideologia no produto do pensamento das pessoas: a
prpria existncia material definindo o que as pessoas pensam e
incorporando-se
direta, nem automtica.
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na nossa sociedade, naquilo que o estudioso denomina de
Aparelhos Ideolgicos do Estado (AIE).
Partindo dos estudos de Marx, o autor afirma que a reproduo da
fora de trabalho requer no s uma reproduo de suas habilidades, como
tambm, e ao mesmo tempo, a reproduo de sua submisso s regras da
ordem estabelecida. Althusser modifica a teoria poltica marxista no
tocante ao Aparelho do Estado, que passa a ser visto constituindo
instituies aparentemente neutras, tais como o sistema educacional,
as instituies religiosas, a famlia, e no mais apenas instituies
repressivas (Exrcito, sistema presidirio, sistema jurdico, polcia
em que a classe dominante tem o poder e dispe da fora conforme
deseja).
Sabemos que o fenmeno ideolgico tem sido fortemente marcado
pelas idias marxistas. Com relao a isso, Ricoeur (1977:75) adverte
para a existncia de uma tendncia a se construir uma interpretao
redutora do fenmeno ideolgico, a partir da anlise de classes
sociais. Ele atribui ideologia a funo geral de mediadora na
integrao social, na coeso do grupo; a funo de dominao em que o
conceito de ideologia est ligado aos aspectos hierrquicos da
organizao social, cujo sistema de autoridade interpreta e
justifica; e, a funo de deformao que nos faz tomar a imagem pelo
real, o reflexo pelo original.
Nos estudos foucaultianos (1980: 131), a construo do ideolgico
pode ser sintetizada a partir da seguinte forma: a verdade est
circularmente ligada a sistemas de poder, que a produzem e a apiam
e a efeitos de poder que ela induz e a reproduzem. Portanto, se
existe uma relao entre verdade e poder, todos os discursos podem
ser vistos funcionando como regimes de verdade. Ao afirmar que
Cada sociedade tem seu regime de verdade, sua poltica geral de
verdade: isto , os tipos de discurso que aceita e faz funcionar
como verdadeiros; os mecanismos e instncias que permitem
distinguir
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entre sentenas verdadeiras e falsas, os meios pelos quais cada
um deles sancionado; as tcnicas e procedimentos valorizados na
aquisio da verdade; o status daqueles que esto encarregados de
dizer o que conta como verdadeiro,
Foucault (1980:131) entende que a verdade (organizada e
convencionada por instituies) estreitamente ligada formao de
sujeitos, bem como sua linguagem. O saber constitudo de um conjunto
de prticas discursivas,7 pressupe relaes que dizem respeito s
instituies, acontecimentos polticos, prticas e processos econmicos,
como determinantes das prticas discursivas (idem, 1973).
Segundo o autor, o poder no um objeto natural, mas sim uma
prtica social e, como tal, constitudo historicamente. Ele
expande-se pela sociedade, assume as formas mais regionais e
concretas, investe em instituies, toma corpo em tcnicas de dominao
(1985). O poder intervm materialmente, atinge ou constitui os
indivduos ideologicamente e penetra em suas atitudes
cotidianas.
E como as idias no existem desvinculadas das palavras, a
linguagem um dos lugares onde se materializa a ideologia (Gregolin,
1988:118). Nessa perspectiva, o poder mostra a alternncia entre uma
positividade e uma negatividade que lhe atribuda, mantendo a idia
de propriedade e exerccio de um nico soberano, ou de uma minoria,
sobre uma maioria. As relaes de poder inserem-se em todos os
lugares, em todos os micropoderes8 existentes na sociedade. No
entanto, preciso ter em mente que:
7 Vale lembrar que, para Foucault, o discurso considerado como
prtica que provm da formao dos saberes. 8 A fim de compreender o
funcionamento do poder em qualquer contexto, precisamos compreender
os pontos particulares por meio dos quais ele passa. Foucault chama
ateno para a necessidade de olhar as microprticas do poder nas
instituies educacionais.
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[...] a partir do momento em que h uma relao de poder, h uma
possibilidade de resistncia. Jamais somos aprisionados pelo poder:
podemos sempre modificar sua dominao em condies determinadas e
segundo uma estratgia precisa (Foucault, 1985:241).
A viso foucaultiana de que o poder se encontra nas relaes
sociais, sob a forma de relaes de fora, pressupe a formao da
resistncia a todo exerccio de poder. E nesse estudioso que
encontramos, ainda, a idia de que o aparecimento dos saberes e das
cincias modernas permeado pelas relaes de poder porque o sujeito
efeito-objeto de relaes de poder. Saber e poder implicam-se
mutuamente. No h relao de poder sem constituio do saber. Todo saber
constitui novas relaes de poder. Todo o exerccio do poder tambm um
lugar de formao do saber.
Para Orlandi (1996:147), no h sentido sem interpretao, e
A interpretao um excelente observatrio para se trabalhar a relao
historicamente determinada do sujeito com os sentidos, em um
processo em que intervm o imaginrio e que se desenvolve em
determinadas situaes sociais. assim que entendemos a ideologia,
nesse percurso que fizemos para entender tambm o que
interpretao.
Fiorin (1990: 29) alerta-nos que todo conhecimento humano est
comprometido com interesses sociais. Tal constatao encerra uma
dimenso mais ampla no que diz respeito ao conceito de ideologia;
ela uma viso do mundo, ou seja, a perspectiva de uma classe social
em relao determinada realidade, o modo como uma classe organiza,
justifica e explica a ordem social.
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Nessa tica, para o estudioso, no h uma separao entre cincia e
ideologia, pois esta, mesmo tomada no sentido de falsa conscincia9,
constri-se a partir da realidade, s que de suas formas fenomnicas.
Cada uma das vises de mundo apresenta-se num discurso prprio.
Embora haja, de acordo com o autor, numa formao social, tantas
vises de mundo quantas forem as classes sociais, a ideologia
dominante a ideologia da classe dominante. No modo de produo
capitalista, a ideologia dominante a ideologia burguesa.
Vimos, portanto, que a ideologia constitui conceito fundamental
neste estudo, j que alia o lingstico ao scio-histrico. A linguagem
passa a ser um fenmeno que deve ser estudado no apenas no seu
sistema interno, mas tambm como formao ideolgica que se manifesta
nesse contexto scio-histrico. Dessa forma, incide profundamente, na
formao dos sujeitos, e mais do que isso, constitui tais sujeitos.
Entendida como o elemento necessrio para a comunicao entre o homem
e a sua realidade (assujeitado ou no), a linguagem o instrumento
essencial do sujeito, e nela que se manifestam as representaes e os
implcitos ideolgicos, sempre dependentes das condies de produo dos
discursos10, incidindo na sua formao, nas suas experincias e em
suas escolhas de vida.
3. Discurso O conceito de Discurso fundamenta-se,
principalmente, em Foucault
(1973), que o define como um conjunto de enunciados regulados
numa mesma formao discursiva. Para ele,
9 Como a ideologia elaborada a partir das formas fenomnicas da
realidade, que ocultam a essncia da ordem social, a ideologia falsa
conscincia. Isso indica apenas que as idias dominantes so
elaboradas a partir de formas fenomnicas da realidade, no
apreendendo, portanto, as relaes sociais mais profundas (FIORIN,
1990). 10 Essa noo, advinda da psicologia social, foi reelaborada,
no campo da AD, por Pcheux, para designar o ambiente material e
instrucional do discurso, alm das representaes imaginrias que os
interlocutores fazem de sua prpria identidade.
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[...] um conjunto de regras annimas, histricas, sempre
determinadas no tempo e no espao que definiram em uma poca dada, e
para uma rea social, econmica, geogrfica ou lingstica dada, as
condies da funo enunciativa (op. cit.:97).
Nesse campo, no parecer de Orlandi, quando uma palavra significa
porque a sua interpretao deriva de um discurso que a sustenta, que
a prov de realidade significativa. na compreenso do que texto que
podemos entender a relao com o interdiscurso11, a relao com os
sentidos. Em outros termos, o texto um objeto lingstico-histrico e,
a partir disso, visto na perspectiva do discurso; ele no uma
unidade fechada, embora como unidade de anlise ele possa ser
considerado uma unidade inteira, pois ele tem relao com outros
textos (existentes, possveis ou imaginrios), com suas condies de
produo (os sujeitos e a situao) e com o que chamamos sua
exterioridade constitutiva.
Maingueneau (2000:55), analisando as idias bakthinianas, diz que
para interpretar qualquer enunciado, necessrio relacion-lo a muitos
outros, pois cada gnero de discurso tem sua maneira de tratar a
multiplicidade de relaes interdiscursivas. Por exemplo, um jornal
no cita da mesma maneira, nem cita as mesmas fontes que uma
propaganda de sabo em p. Isso porque o discurso s adquire sentido
se estiver inserido em um universo de outros discursos: quando
classificamos um texto dentro de um determinado gnero estamos
relacionando-o aos demais textos do mesmo gnero. Segundo o autor,
podemos dividir os gneros de discurso tomando por invariante um
lugar institucional: a cena de enunciao12
que permite articular todas as dimenses discursivas; ela que
desempenha
11 O termo Interdiscurso tomado como um conjunto de discursos
(de um mesmo campo discursivo ou de campos distintos, de pocas
diferentes). 12 Metfora teatral, essa noo utilizada para se referir
maneira pela qual o discurso constri uma representao de sua prpria
situao de enunciao.
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o papel crucial entre a organizao lingstica do texto e o
discurso como instituio de fala e instaurao de um evento verbal no
mundo (2000:229).
Importa-nos, na perspectiva discursiva, no a organizao do texto,
mas o que o texto organiza em sua discursividade, em relao ordem da
lngua e a das coisas: a sua materialidade. Nas palavras de Orlandi
(1996):
Os dados no tm memria, so os fatos que nos conduzem memria
lingstica. Nos fatos temos a historicidade. Observar os fatos de
linguagem vem a ser consider-los em sua historicidade, enquanto
eles representam um lugar de entrada na memria da linguagem, sua
sistematicidade, seu modo de funcionamento. Em suma, olharmos o
texto como fato, e no como um dado, observarmos como ele, enquanto
objeto simblico, funciona (op. cit. :58).
Para Foucault, na Arqueologia do Saber, na disperso13 de textos
(e no na unidade) que se constitui um discurso; a relao com as
Formaes Discursivas em suas diferenas elemento fundamental que
constitui o que estamos chamando de historicidade do texto. O
sentido sempre pode ser outro e o sujeito, (com suas intenes e
objetivos) no tem o controle daquilo que est dizendo.
Tais premissas levam-nos a duas ordens de concluses: a) um
sujeito no produz s um discurso; b) um discurso no igual a um
texto. A partir dessas concluses, a AD prope a seguinte relao:
remeter o
texto ao discurso e esclarecer as relaes deste com as Formaes
Discursivas, refletindo sobre as relaes destas com a ideologia.
13 Em um texto no encontramos apenas uma formao discursiva, pois
ele pode ser atravessado por vrias formaes discursivas que nele se
organizam em funo de uma dominante. Segundo Foucault, o discurso
uma disperso de textos e o texto uma disperso do sujeito
(1987).
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Interessa-nos o texto no como objeto final de sua explicao, mas
como algo que nos permite ter acesso ao discurso. O discurso no
pode ser concebido fora do sujeito e nem este fora da ideologia,
uma vez que esta o constitui. Inevitavelmente, essa ideologia
incide, tambm, na formao profissional do sujeito.
com a linguagem que o sujeito se constitui e tambm nela que ele
deixa marcas desse processo ideolgico. O discurso o ponto de
articulao dos processos ideolgicos e dos fenmenos lingsticos. E a
linguagem como interao um modo de produo social, que no neutra nem
natural, sendo o local privilegiado da manifestao da ideologia,
isto , das formaes ideolgicas que esto diretamente ligadas aos
sujeitos.
Podemos dizer que no se parte da ideologia para o sentido, mas
procura-se compreender os efeitos de sentido a partir do fato de
que no discurso que se configura a relao da lngua com a
ideologia.
Orlandi considera que, ao dizer que o inconsciente e a ideologia
esto materialmente ligados, Pcheux (1988) coloca a necessidade da
noo de discurso para se chegar ordem (funcionamento, falha) da
lngua e da histria (equvoco, interpretao), ao mesmo tempo que no
pensa a unidade em relao variedade (organizao) mas como posio do
sujeito (descentramento). Tal postura leva-nos idia da
incompletude14 do sistema (abstrato) em que a ordem significante
capaz de equvoco, de deslize, de falha, sem perder seu carter de
unidade, de totalidade.
Para a estudiosa, se a relao com o inconsciente uma das dimenses
do equvoco que constituem o sujeito, sua contraparte est em que o
equvoco que toca a histria, a necessidade de interpretao, o que
constitui a ideologia. Para Foucault (1986), o discurso altamente
disciplinador e fabrica indivduos. A disciplina a tcnica especfica
de um poder que toma os indivduos, ao mesmo tempo, como objetos e
como instrumentos de seu exerccio. O sucesso do poder disciplinar
se deve sem
-
dvida ao uso de instrumentos simples: o olhar hierrquico, a
sanso normalizadora e a sua combinao num procedimento que lhe
especfico, o exame (p.153).
Na viso foucaultiana, a disciplina uma arma que o sujeito
utiliza com a finalidade de atingir um objetivo eficiente. Nessa
perspectiva, o exame o instrumento fundamental para o exerccio do
poder:
A disciplina o conjunto de tcnicas pelas quais os sistemas de
poder vo ter por alvo e resultado os indivduos em sua
singularidade. o poder da individualizao que tem o exame como
instrumento fundamental. O exame a vigilncia permanente,
classificatria, que permite distribuir os indivduos, julg-los,
medi-los, localiz-los ao mximo. Por meio do exame, a
individualidade torna-se um elemento pertinente para o exerccio do
poder (1986 :105).
Nos termos do autor, "Deve-se considerar o poder como uma rede
produtiva que atravessa todo o corpo social muito mais do que uma
instncia negativa que tem por funo reprimir" (op. cit.:08). Nessa
perspectiva que as produes de sentido, que circulam na sociedade e
que regulam os comportamentos, identificam e distribuem os papis
sociais, a partir de relaes hierrquicas apreendidas no interior dos
cotidianos ritualizados. Esse ritual15, por sua vez, tem o
imaginrio social como legitimador das relaes de poder, implicando o
sujeito, suas concepes e relaes .
A heterogeneidade da linguagem No intuito de estudar algumas
teorias da AD, recorremos relao
entre sujeito, ideologia e discurso a partir da heterogeneidade.
Para abord-
14 Para a AD, a condio da linguagem a incompletude. Nem sujeitos
nem sentidos esto completos, j constitudos definitivamente.
Constituem-se e funcionam sob o modo do entremeio. 15 Termo
inicialmente introduzido por Goffman, parte do princpio de que, nas
sociedades, h seqncias de aes verbais fortemente rotineiras, em que
o ego em parte um objeto sagrado, que convm tratar com o cuidado
ritual que se impe.
-
la fundamental conhecer esses trs elementos que existem
interligados, um dependente do outro.
As investigaes propostas por Authier-Revuz (1982 e 1984) apontam
para dois tipos de manifestao de heterogeneidade enunciativa no
processo de constituio do discurso, a mostrada e a constitutiva. Na
perspectiva bakhtiniana de linguagem, pode-se dizer que todo
discurso dialgico por natureza, o que corresponde, na viso de
Authier-Revuz (1998), heterogeneidade constitutiva, j que esta
equivale ao funcionamento real do discurso sem, entretanto,
explicar a alteridade na subjetividade. J na heterogeneidade
mostrada, a projeo do outro deixa-se revelar no discurso,
modificando a dissimulada homogeneidade do sujeito.
A heterogeneidade constitutiva aquela em que o outro constitui o
um, o sujeito, e que este sujeito nem sabe quem . So todos que
passaram pela sua vida, tudo o que leu, estudou. Em seu enunciado
cruzam-se os dizeres de outros. A heterogeneidade mostrada a
manifestao explcita de diferentes vozes: o sujeito, no momento em
que fala, escreve, traz para o seu dizer alguns outros que o
constituem, marcando, assim, distncia entre ele e outros que ele
seleciona de acordo com seus interesses. Esses outros so
representados, na superfcie lingstica, por citaes, aspas,
comentrios, itlicos, metforas, imitao, ironia etc.
por meio da heterogeneidade mostrada que o sujeito enunciador
retoma o discurso do outro e, ao faz-lo, inscreve conscientemente o
outro em seu espao discursivo sob diferentes formas. A
heterogeneidade mostrada tem como efeito de sentido a separao ntida
entre o dizer que pertence ao outro e o prprio dizer. Esse efeito
de sentido vem camuflar a condio heterognea de todo dizer. Partindo
da heterogeneidade constitutiva e da heterogeneidade mostrada,
Coracini (1995) prope uma terceira heterogeneidade reconhecida -
intermediria entre uma e outra: aquela em que o outro se mostra
apenas para aqueles que conseguem
-
reconhec-lo (afinal constitui-se um caso intermedirio entre a
heterogeneidade constitutiva e a mostrada). Como no explicita de
que texto foi extrado o enunciado, ela permanece constitutiva para
aqueles que no a reconhecem e representada, apesar de no constituir
um caso explcito, para os que a reconhecem.
a partir do esquecimento n 1, defendido por Pcheux & Fuchs
(1975), que vemos a possibilidade de se estabelecer articulao entre
o conceito do sujeito que se cr fonte de seu discurso e o conceito
de heterogeneidade constitutiva proposto por Authier-Revuz (1982 e
1984), pelo fato de que, perpassado pela iluso de ser a origem do
seu discurso, o sujeito acaba no percebendo as fronteiras que
delimitam o dizer do outro, cujo dizer passa como sendo
constitutivo do discurso do sujeito que o enuncia.
J a articulao entre o esquecimento n 2 (Pcheux & Fuchs, op.
cit.) e o de Authier-Revuz (1982), no que se refere heterogeneidade
mostrada, pode ser estabelecida em funo da iluso da realidade do
pensamento refletida no discurso que leva o sujeito a demarcar o
outro em seu espao discursivo. Esse sujeito dividido,
indeterminado, mostra-se de vrias formas. Entre elas, citamos as
formas de incorporao do discurso do outro, os mecanismos
metadiscursivos, as formas de oscilao, as formas de abertura do
sujeito no discurso.
A heterogeneidade mostrada a representao que um discurso constri
em si mesmo de sua relao com outro, designando, em meio a um
conjunto de marcas lingsticas, os pontos de heterogeneidade.
Poderamos relacion-la com a intertextualidade. A heterogeneidade
constitutiva trata do duplo dialogismo existente no discurso;
considerando que: a) todo discurso se faz no meio do j-dito16 dos
outros discursos e, portanto, conhecido
16J dito constitui um dos pontos fundamentais da articulao da
teoria dos discursos com a lingstica. o elemento que j estava no
processo discursivo como se colocado para constituir efeitos de
sentido (PCHEUX, 1988 e 1990).
-
pelo seu interdiscurso, e, b) o discurso no existe independente
daquele a quem ele endereado. A viso do destinatrio incorporada e
determina o processo de produo do discurso. Poderamos relacionar a
heterogeneidade constitutiva com a interdiscursividade.
Gregolin (2001b:72) marca bem essa condio ao considerar que:
A ordem do discurso uma ordem do enuncivel. A ela deve o sujeito
assujeitar-se para se constituir em sujeito de seu discurso. Por
isso, o enuncivel exterior ao sujeito enunciador e o discurso s
pode ser construdo em um espao de memria, no espao de um
interdiscurso, de uma srie de formulaes que marcam, cada uma,
enunciaes que se repetem, se parafraseiam, opem-se entre si e se
transforma.
interessante observarmos que mesmo diante de tanta
heterogeneidade as pessoas se entendem, portanto h alguma ordem; e
se buscarmos a justificativa para isso, a encontraremos no fato de
que o aprendizado textual no s sistemtico, aquele que estabelece as
relaes lingsticas, mas tambm construdo com o aprendizado dessa
heterogeneidade.
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