2 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO VEZ DO MESTRE - A SALA DE ATIVIDADES ESPONTÂNEAS E SEUS “CANTINHOS” - Uma discussão sobre as atividades de livre escolha e o desenvolvimento da criança de educação infantil entre 4 e 6 anos. OBJETIVOS: Analisar os objetivos gerais de Educação Infantil, Segundo o Referencial Curricular Nacional do MEC, confrontando com as habilidades que são desenvolvidas através das atividades espontâneas e comprovando este desenvolvimento através de trabalhos, comportamentos e falas de alunos.
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Uma discussão sobre as atividades de livre escolha e o ... PEQUENO MEIRELLES.pdf · segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, ... INTRODUÇÃO ... O Referencial
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO VEZ DO MESTRE
- A SALA DE ATIVIDADES ESPONTÂNEAS E SEUS “CANTINHOS” -
Uma discussão sobre as atividades de livre escolha e o desenvolvimento
da criança de educação infantil entre 4 e 6 anos.
OBJETIVOS:
Analisar os objetivos gerais de Educação Infantil,
Segundo o Referencial Curricular Nacional do
MEC, confrontando com as habilidades que são
desenvolvidas através das atividades espontâneas
e comprovando este desenvolvimento através de
trabalhos, comportamentos e falas de alunos.
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AGRADECIMENTOS Aos meus pais, Danilo e Cirlene, pelo apoio que me deram ao longo da minha
vida e pela constante preocupação com minha educação e formação.
Ao Alexandre, amigo e companheiro, que sempre me incentivou a querer saber
mais.
Aos meus irmãos, Wellington e Suelen, que estiveram dispostos a me ajudar nas
horas de “sufoco”.
Às minhas colegas de trabalho, que tanto me ajudaram a construir uma outra
prática de Educação Infantil e, conseqüentemente, a me reconstruir como professora.
Aos meus alunos, que me instigam e criam em mim a necessidade de pesquisar,
estudar, aprender para eles e com eles – personagens principais desta monografia.
A Deus, a quem sempre peço forças para persistir em meus objetivos.
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RESUMO Considerando a importância da utilização das atividades espontâneas e
diversificadas no cotidiano da Educação Infantil e entendendo que muitos professores
desconhecem esta dinâmica ou, conhecem apenas de “ouvir falar”, torna-se
indispensável um maior esclarecimento desta prática para que o professor, caso deseje,
possa utilizá-la de maneira segura e consciente.
Estaremos discutindo aqui as várias funções que a pré-escola assumiu ao longo
da História e quais são, nos dias de hoje, os objetivos deste segmento da educação,
segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, do MEC.
Em seguida, estaremos pensando sobre o que são as atividades espontâneas,
como podemos organizar a sala de aula em “cantinhos” e como essas atividades
atendem aos objetivos propostos pelo Referencial do MEC.
Após toda esta discussão serão apresentadas, através de desenhos e descrição de
atitudes e falas infantis, situações vividas pelas crianças e que demonstram, na prática, a
importância do trabalho que conjuga as atividades espontâneas e dirigidas.
Finalmente, a título de contribuição, estão algumas sugestões pertinentes ao
cotidiano da sala de atividades espontâneas, como a planta baixa e as fases do grafismo,
entre outras coisas.
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METODOLOGIA Pesquisa bibliográfica de autores que tratam de Educação Infantil,
desenvolvimento, artes e brincar, além da utilização de trabalhos das crianças em
diferentes fases do grafismo e suas falas e atitudes em diferentes momentos e
atenção, compreensão e respeito às normas, respeito ao outro, atitude, autonomia,
colaboração, liberação de agressividade, concentração, criatividade, curiosidade,
grafismo, desenvolvimento da linguagem e vocabulário, pesquisa e expressão oral e
corporal.
15Não podemos esquecer que, além disso, o ambiente deve estar de acordo com a
faixa etária das crianças, não só por sua condição peculiar de desenvolvimento, mas
também levando-se em consideração seu tamanho, pois livros, jogos, quadro (branco ou
de giz), etc... devem estar ao seu alcance a fim de que nos momentos de atividades
espontâneas estas tenham autonomia e possibilidade de escolha.
Nas salas de Educação Infantil (como já foi mencionado) o trabalho
diversificado e espontâneo, alternadamente com atividades dirigidas é de grande
importância. A sala de atividades espontâneas – ideal para a E.I. - equivale a uma sala
de aula convencional, contudo possui características próprias, onde há vários estímulos
que aguçam a curiosidade infantil e convidam a criança a desenvolver sua criatividade e
compreensão. Esta sala é composta de espaços e mesas (com capacidade de quatro a
seis cadeiras) onde em cada um há uma atividade.
2.3 – Os “cantinhos”
Só de participar de uma sala onde há atividades espontâneas, a criança já está
alcançando um dos objetivos do Referencial, que é atuar gradativamente de maneira
mais independente. Ora, se a criança tem a oportunidade de escolher (ao menos em
algum momento) que atividade deseja fazer, de observar se há lugar disponível no
cantinho desejado, pegar sua folha, escrever seu nome (quando já é capaz), construir o
seu trabalho e ao final colocá-lo no lugar adequado (varal ou caixa), ela está certamente
desenvolvendo sua independência e autonomia.
Mas, vamos aos cantinhos! São eles:
• Recorte e colagem - sobre a mesa há uma caixa, que a princípio, de acordo com o
estágio de desenvolvimento da criança, possui apenas papéis de diversos tamanhos e
cores, objetivando assim o rasgar. Há também pincéis para a aplicação de cola. Um
papel, tamanho ofício ou A4, servirá de base para o recorte e a colagem, que se
apresentará de forma mais detalhada à medida que a criança for desenvolvendo-se.
Estão também ligados a este desenvolvimento o acréscimo de outros materiais, tais
16como tesoura, lápis de cera ou de cor, fitas, penas, algodão, canudos, palitos, forminhas
de doce, botões, sementes, papéis de bala e tudo mais que a criatividade e a imaginação
precisar. Sua finalidade é a criatividade, desenvolvimento dos pequenos músculos, da
coordenação motora, de hábitos e da linguagem.
• Desenho – sobre a mesa há uma caixa contendo giz de cera grosso. Posteriormente,
esta caixa poderá ser enriquecida com canetas hidrocor grossas e, mais tarde finas, além
de lápis de cor. Sua finalidade é desenvolvimento do grafismo, da linguagem oral, da
criatividade, da percepção visual, dos pequenos músculos, da coordenação motora e
ordenação do pensamento.
• Cavalete – a pintura livre é realizada no plano vertical, o papel (de tamanho duplo
ofício) é fixado ao cavalete. São utilizados tinta guache e pincéis apropriados à
atividade. Sua finalidade é a coordenação motora, hábitos, criatividade, expressão oral e
reconhecimento de cores.
• Técnicas - o professor escolhe a técnica de acordo com o estágio de
desenvolvimento no qual a criança se encontra e com o interesse da turma. Esse
interesse irá determinar também o tempo de permanência desta. Sua preparação também
é tarefa do professor. Nesta mesa é propiciada à criança a criação ou até o mesmo o
enriquecimento do seu trabalho feito em outras mesas. São alguns exemplos o desenho
sobre a lixa, desenho enriquecido com farinha colorida, giz na cola, monotipia, entre
vários outros. Sua finalidade é incentivar a criatividade, extravasar sentimentos,
desenvolver a capacidade de discriminação visual e a percepção tátil (já que há a
oportunidade de exploração e manipulação de diversos materiais).
• Pintura a dedos – é uma massa que pode ser feita na própria escola. Para ser atrativa,
esta deve ser colorida. O desenvolvimento da atividade ocorre da seguinte forma: é
colocada um pouco de massa sobre a mesa e a criança espalha a massa, experimentando
diversas sensações durante o contato com a mesma; com os dedos, a criança descobre
que é capaz de criar desenhos ou formas, quando esta se dá por satisfeita, o professor ou
ela mesma poderá tirar a impressão do que foi criado,. colocando sobre o desenho uma
17folha tamanho duplo ofício. Sua finalidade é a liberação da agressividade, coordenação
motora, criatividade e hábitos de higiene.
• Leitura – os livros são selecionados de acordo com a faixa etária da criança:
gravuras grandes, coloridas e sem exageros na legenda. Também podem fazer parte
deste acervo revistas, gibis, jornais, encartes... Devem ficar dispostos em estantes,
prateleiras ou sapateiras. O ideal é que estejam em lugar bem visível para que estimule o
seu manuseio. Sua finalidade é construção de hábitos, atenção, conservação,
desenvolvimento da linguagem, percepção visual, reconhecimento de portadores de
texto e gosto pela leitura.
• Massa de modelar – a princípio é apresentada à criança apenas a massinha, para que
esta descubra, através do manuseio exploratório, as diversas formas que esta pode
tomar, sua proximidade com o real se dá a partir da concepção que esta tem de mundo e
do seu desejo de criação; com o tempo podem ser apresentados palitos, fôrmas, etc...
que poderão dar a massinha outras novas formas. Sua finalidade é a liberação da
agressividade, desenvolvimento dos pequenos músculos, criatividade.
• Casinha de boneca – composta de mobiliário em miniatura: cama, guarda-roupa,
armário de cozinha, penteadeira, mesa com quatro cadeiras, carrinho de compras,
carrinho de bebê, tábua de passar roupa, sofá, roupas de adulto, frutas de plástico,
panelinhas, pratos, copos e tudo mais que for possível, de forma que a criança possa
sentir como se estivesse em uma casa “encolhida”, dando assim, asas à sua imaginação.
Sua finalidade é criatividade, liberação da agressividade, linguagem oral, socialização e
compreensão do mundo ao seu redor, através de dramatizações que é capaz de fazer da
vida cotidiana.
• Construção - composta por sólidos de madeira em formas de cilindro, triângulo,
quadrado, círculo, retângulo, semi-círculo, de cores e tamanhos variados. Sua finalidade
é socialização, criatividade, coordenação motora e linguagem oral.
18• Jogos – entende-se por jogos, materiais pedagógicos, tais como blocos lógicos,
quebra-cabeça, jogo da memória, jogos de encaixe, jogos de percepção, alinhavo,
dominó, etc... Sua finalidade é criatividade, socialização, raciocínio lógico e respeito a
regras.
• Dramatização – espaço reservado com cortina, fantoches e máscaras para
dramatizações livres. Sua finalidade é desinibição, desenvolvimento da oralidade,
ampliação do vocabulário, criatividade, imaginação, concentração e observação e alívio
de tensões que porventura a criança esteja passando.
• Música – os instrumentos (alguns dos quais podem ser confeccionados junto com os
alunos com material de sucata) ficam dispostos em uma prateleira e podem ser
utilizados para acompanhar variados ritmos ou mesmo músicas folclóricas ou outras de
interesse das crianças. Sua finalidade é desenvolver a atenção, a concentração,
coordenação motora e ritmo. Esta é uma atividade coordenada pelo professor.
• Ciências – é composto por prateleiras que irão acomodar coisas da natureza, que
serão trazidas pelo professor e pelos alunos, como por exemplo conchas, pequenos
animais em formol, casulos, etc... ou até mesmo para a criação de algum animal pela
turma, como um peixinho ou ramster. Sua finalidade é aguçar a curiosidade e
observação das crianças.
Algumas atitudes devem ser tomadas pelo professor a fim de que a utilização
dos cantinhos e a dinâmica da sala corram da melhor maneira possível. São alguns
exemplos:
• O professor precisa esclarecer às crianças as regras e as atitudes necessárias para a
utilização de cada cantinho, como por exemplo, que as peças dos jogos devem ser
separadas antes de guardadas; que a criança precisa vestir o avental antes de ir ao
cavalete ou à pintura a dedos; que precisa guardar a tesoura e lavar o pincel sujo de cola
utilizados no recorte e colagem; que deve arrumar os objetos da casinha (e da sala em
geral) nos locais corretos, que os trabalhos que utilizam tinta e cola ao terminados,
19devem ser pendurados num varal e os desenhos numa caixa própria, etc...Enfim, a sala
deve ficar limpa e organizada da mesma maneira que estava quando chegaram e todos
são responsáveis por isso. Lembremos que outras necessidades surgirão e outras regras
também serão construídas com as crianças ao longo do ano.
• O professor pode eleger (dando oportunidade a todas as crianças) dois ajudantes por
dia, que irão zelar pela higiene da sala e o auxiliarão no término das atividades com a
limpeza das mesas, por exemplo.
• O professor poderá apresentar os cantinhos aos poucos, até que as crianças sejam
capazes de compreender e utilizar de maneira correta todos eles.
• As crianças não precisam utilizar todos os cantinhos em um só dia, mas também
deve-se evitar que insistam em apenas um deles (muitas vezes a casinha é a preferida),
pois assim estarão deixando de desenvolver habilidades particulares de outros
cantinhos.
• As crianças podem, a seu critério ou por sugestão do professor utilizar mais de um
cantinho para um mesmo trabalho. Se fez, por exemplo, uma pintura no cavalete e
deseja enriquecer a figura humana com um retalho de roupa do recorte e colagem.
• É interessante que as crianças auto-avaliem-se e observem o que podem fazer
melhor em seus próximos trabalhos, ressaltando que o respeito à fase do grafismo em
que se encontra a criança é imprescindível, não apenas pelo professor, mas também
pelas outras crianças que não devem desmerecer ou ridicularizar o trabalho de um
colega que esteja numa fase mais inicial do grafismo. Cabe ao professor conscientizar as
crianças que somos diferentes e que se alguém não consegue fazer hoje, conseguirá
mais tarde e que o que eu sei, um colega pode não saber e vice-versa. È possível
observar aqui quão importantes as contribuições de Freinet – que considerava
indispensável a criança saber se auto-avaliar e de Vygotsky – ressaltando a importância
da zona de desenvolvimento proximal.
20Não significa dizer que apenas com estas atividades as crianças irão se
desenvolver, ressaltando que, além delas, há várias outras formas, porém lembrando que
o objetivo do presente trabalho é discutir a contribuição das atividades espontâneas ao
desenvolvimento da criança.
Construir um ambiente assim é de grande valor para o trabalho de EI, contudo,
apenas ele (o ambiente) não é capaz de promover o desenvolvimento e a aprendizagem.
É necessário que o educador esteja comprometido com o trabalho a ser desenvolvido, e
que compreenda o seu papel de interventor na aprendizagem e no desenvolvimento de
seus alunos, pois assim ele será capaz de adaptar o ambiente disponível aos seus
objetivos. Utilizando mais uma vez as sábias palavras de Sonia Kramer (2002:76):
“Neste tipo de trabalho, os professores observam
permanentemente a atuação de cada criança e, ao mesmo
tempo, dos diferentes grupos, a fim de oferecer novos materiais,
desafios ou situações capazes de enriquecer as experiências e
ampliar os conhecimentos em jogo.”
2.4 – Cruzando as habilidades desenvolvidas nas atividades
espontâneas e os objetivos do Referencial Curricular Nacional para a
Educação Infantil
Como foi vimos anteriormente, a possibilidade de participar de uma sala de
atividades espontâneas, já traz em si a busca por um dos objetivos do Referencial, mas
não é só. Vejamos que outras capacidades também são desenvolvidas.
Quando está construindo um trabalho no recorte e colagem, no desenho ou no
cavalete, a criança está organizando seu pensamento, imaginando, expressando suas
idéias e sentimentos. No início, na fase de exploração, ela cola muitos papéis, faz
rabiscos..., mas à medida que é instigada a observar outras coisas, trabalhando e
construindo nos momentos de atividades dirigidas, ela começa a perceber essas outras
coisas e ao fazer o trabalho, começa a pensar o que quer fazer, que idéia quer transmitir
21e passa, então, a organizar mentalmente a sua produção e criar uma estória sobre ela. É
possível constatar que o trabalho de vários objetivos está presente aqui, no
aparentemente simples ato de desenhar ou recortar e colar. Além disso, a criança pode e
deve ser estimulada a escrever a estória de seu desenho, pois dessa forma também
estará, além de entrando em contato com a escrita, criando e recriando suas hipóteses
sobre o nosso código lingüístico.
Ao contrário do que muitos professores pensam, as crianças não precisam de
pontinhos para cobrir ou de desenhos prontos para colorir “dentro do limite”; através de
seu desenho livre, certamente ela irá fazer isso (veremos com mais detalhes no próximo
capítulo). Segundo Gilda Rizzo (1988) “Desenho é sintoma, é expressão do que está
organizado internamente e por isso é o desenho livre que vale, é o seu exercício que
desenvolve a criança.”
Freinet também destacava a importância do desenho livre, pois considerava que
assim seria possível conhecer melhor a psique criança. Além disso...
“Defendia também que era preciso compreender o
desenvolvimento do grafismo infantil para se poder descobrir
toda a riqueza contida na criança, desde que, ao se expressar
pelo desenho, ela o fizesse com plena liberdade tanto para
escolher o tema e o material necessário, como para decidir o
seu próprio ritmo de trabalho..”. (SAMPAIO, 2000:53)
Quando escolhe trabalhar no cantinho da técnica, ela está utilizando mais uma
diferente linguagem – das artes plásticas, além de estar em contato e manusear variados
materiais. Podemos apresentar a arte dos índios, o artesanato das rendeiras, etc...
trabalhando assim, a diversidade das manifestações culturais e o respeito que devemos
ter a todas elas. O mesmo pode ser feito com a música (novamente uma outra
linguagem).
22 Na casinha de bonecas, na dramatização, na massinha... as crianças não param
de pensar, criar e recriar. Brincam, expressando mais uma vez suas emoções,
sentimentos, pensamentos, desejos e necessidades e construindo sua compreensão da
realidade do mundo adulto. Vygotsky pesquisou sobre a brincadeira de faz-de-conta e
Marta Kohl ( 2000:67)– estudiosa do autor – afirma que “o que na vida real é natural e
passa despercebido, na brincadeira torna-se regra e contribui para que a criança
entenda o universo particular dos diversos papéis que desempenha.”
O cantinho das ciências é pura exploração e curiosidade, as crianças interessam-
se demais pelos insetos e outros animais encontrados na escola ou fora dela e trazem
empolgadas para este cantinho. Muito pode ser trabalhado também a partir daí: as
características específicas destes e de outros animais, a tomada de consciência de que
somos animais, fazemos parte da natureza e precisamos preservá-la.
O contato com o outro, seja nas atividades dirigidas ou espontâneas está
regularmente presente e isso poderá desenvolver todas as habilidades sociais desejadas:
o respeito, a cooperação, os vínculos, a aceitação da diferença... Isto também depende
muito da atitude do professor, que deve propiciar, através do diálogo a construção de
um ambiente acolhedor e respeitador, onde os alunos reconheçam que são capazes de
fazer algumas coisas e outras não, como todo mundo.
Enfim, foi possível notar que muitas capacidades desejadas pelo Referencial são
construídas e desenvolvidas através do trabalho com as atividades espontâneas. Insisto
em afirmar que apenas elas não são suficientes para um trabalho de qualidade, mas é
certamente um ótimo fio deste entrelaçado que é a educação infantil.
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CAPÍTULO 3 : Implicações Práticas
”Antes eu desenhava como Rafael, mas precisei de toda uma existência
para aprender a desenhar como as crianças.”
Picasso
Muito já foi falado sobre os cantinhos, suas características e habilidades
trabalhadas e desenvolvidas. Não é fácil, nem simples organizar uma sala assim, mas
quem trabalha desta forma certamente não se arrepende.
Depois de tudo que foi dito algumas pessoas que ainda não conheciam a prática
dos cantinhos (e são várias), pensarão que as atividades espontâneas não são tão
importantes assim, outras provavelmente estarão curiosas para saber como, na prática,
as coisas acontecem. Serão apresentados a seguir trabalhos de crianças em diferentes
fases do grafismo e comentários (sempre incríveis) dessas crianças, tentando demonstrar
o desenvolvimento que ocorre quando conseguimos trabalhar conjugando atividades
espontâneas e dirigidas.
Vamos recordar sobre o que foi dito anteriormente em relação às habilidades
desenvolvidas nas atividades espontâneas e os objetivos do Referencial Curricular
Nacional e constatar como isso acontece na prática, observando alguns desenhos,
abstraindo algumas cenas e “ouvindo” algumas falas.
Vamos, então às implicações práticas...
3.1 – ... no Grafismo
O desenho livre desenvolve e por isso é muito significativo para a observação e
avaliação dos alunos. Criado pela imaginação da criança (função intelectual) e dirigido
pelo seu pensamento, este desenho pode nos revelar além da sua vivência, percepção e
coordenação motora, características de sua linguagem, revelada quando é pedido a ela
24que nos conte a história de seu desenho. Com esta forma de expressão, surgirão alguns
subsídios para analisar o desenvolvimento dessas crianças.
A coordenação motora desenvolve-se ao longo do ano, como podemos observar
na comparação entre o primeiro desenho de Vanessa com outro de alguns meses depois.
Ela não apenas utiliza com facilidade a ponta fina e registra muito mais detalhes
observados, mas também propõe-se a pintar respeitando os limites de sua produção.
Lembremos aqui da falta de necessidade de desenhos prontos que supostamente servem
para a criança “respeitar os limites”.
“Uma bonequinha indo pra praia de carro.” *
25“Uma bonequinha passeando, aí ela foi pegar frutinha e ela comeu e depois foi almoçar.” *
É possível notar também a evolução construída pela criança de seu
conhecimento sobre a figura humana, lembrando sempre que ela desenha o que sabe, o
que tem consciência do que existe e não o que vê, da maneira como as coisas são; seu
desenho não é uma cópia fiel da realidade.
Vejamos os desenhos de Bruno:
“O garoto soltando pipa e o sol vendo ele.” *
26 “O garotinho saiu de casa, aí foi jogar bolinha de gude. Aí apareceu o sol e o avião” *
Continuando a observar os desenhos de Bruno (em particular o primeiro), podemos
acreditar que ainda demonstra pensar que os fenômenos da natureza têm vida como nós
– animismo, segundo Piaget. Isto pode ser caracterizado pelos olhos e boca feitos no sol
e pela própria frase ditada pela criança: “... e o sol vendo ele”.
3.2 – ... na Linguagem e no Pensamento
Nesta fase as crianças vão adquirindo um vocabulário cada vez mais amplo,
principalmente porque na escola aprendem vários novos conceitos. Luiz Felipe
surpreende.
CENA 1: No início do ano, a professora estava explicando que cada jogo (de peças que
são iguais e montam-se entre si) tinha uma caixa e que não podiam ser misturados,
Felipe interfere:
-“É, cada peça tem um formato.”
CENA 2: Em abril, ao trabalhar a Páscoa, a escola busca ressaltar seu sentido religioso,
para além do comercial. Sendo assim, foram utilizadas com as crianças as palavras
ressurreição / ressuscitar. Passados 5 meses, já em setembro, a professora falava sobre a
história da festa do Boi-Bumbá, onde o boi vivia de novo depois do feitiço das bruxas,
Luiz Felipe associa:
- “Ih tia, o boi ressuscitou igual a Jesus Cristo!”
Essa criança não só lembra da palavra e do seu significado, mas também faz com
ela associações, o que permite que ela a utilize em variados contextos. Pode-se dizer
aqui que, segundo Piaget, ele acomodou este conhecimento, já que foi acomodado a
uma nova situação.
27CENA 3: Na mesa do desenho há seis crianças trabalhando e Mariana, em pé, observa o
desenho de Aryelle e critica:
-“Ai, sol não tem olho!”
Alex retruca, defendendo a colega:
-“Que que tem? Pode ter sim! Na historinha sol tem olho, bicho fala...”
Esta é uma pista para pensarmos se quando a criança põe olhos, nariz e boca
numa figura, ela está realmente atribuindo-lhe vida ou está com um pensamento além –
de que na invenção, na história e no faz-de-conta tudo pode ser.
CENA 4: Na entrevista realizada no início do ano, estavam Larissa e sua mãe. Lida a
pergunta “A criança relaciona-se bem com os pais?”, a menina interrompe:
- “Pais, não. Eu só tenho um!”
CENA 5: As crianças estavam sentadas em roda e Lorena estava passando à procura de
um lugar para sentar. A professora chama sua atenção:
- “Lorena, cuidado para não pisar na mão do colega.”
Ela, surpresa, retruca:
- “Colega não, tia. Colego! Ele é menino.”
Com esta fala Lorena nos mostra que vem construindo sua compreensão das
regras da nossa língua com bastante lógica. Se para menina, é menino e para amiga é
amigo, por que para colega não é colego?
28Helen Bee classifica este fato como super-regularização, onde a criança
generaliza uma regra aprendida e a aplica a várias outras situações. Ao longo do ano,
através das conversas e da interação com os colegas e com a professora, Lorena, Larissa
e as demais crianças irão, progressivamente, adquirindo o código lingüístico.
Lançando mão mais uma vez do desenho, podemos observar também o
desenvolvimento da linguagem e do pensamento. Observemos a construção de Alex e
poderemos perceber como sua linguagem e sua compreensão das coisas vem
desenvolvendo-se.
“O garoto foi pra dentro de casa porque ele era de 3 anos e tinha medo que o avião caísse
em cima dele.” *
Está revelada em seu desenho uma forma de abstração, já que não desenhou o
menino, apesar dele estar na história (ressalto aqui que a abstração só é admitida na
teoria de Piaget a partir dos 11 anos). O menino não podia aparecer porque “foi pra
dentro de casa” e por que? “porque ele era de 3 anos” (uma “criancinha” perto de
Alex) “e tinha medo que o avião caísse em cima dele”. Nesta última frase percebemos
que conjugou corretamente o verbo e que utilizou em todo seu enredo uma lógica
bastante coerente, mas que Piaget acreditava ser possível só apenas aos 6 ou 7 anos.
No desenho abaixo – de Caroline – é possível notar como vem construindo suas
hipóteses sobre a língua escrita, observando as letras que escreveu no seu uniforme. E
29como está atenta ao mundo ao seu redor, pois além de pintar a blusa de coral (que
retrata a cor real), tenta escrever “Prefeitura” e utiliza algumas das letras que compõe
esta palavra.
“Eu indo pra escola. Estava sol e eu estava feliz.” *
Para mais ilustrações, são apresentados dois desenhos de Kelly. Um de 2002,
quando entrou na escola aos 4 anos e um de 2003, o último na Educação Infantil.
Novamente é possível observar o desenvolvimento do grafismo e da linguagem.
No primeiro desenho seu grafismo está na fase da célula, caracterizada por formas
arredondadas que ora pode ser um sol, ora uma boneca, ou qualquer coisa que a criança
deseje no momento.
“A bola, a menina e a florzinha.” *
30
Neste segundo desenho, já na fase da cena completa, Kelly expressa através de
seu trabalho espontâneo uma cena com detalhes, revelando aperfeiçoamento na
coordenação motora, organização de pensamento, frases coordenadas e a intenção de
transmitir uma idéia.
1
“A minha irmã ‘tava passeando, aí ela foi pra casa da minha tia.” *
3.3 – ... na Construção como Sujeito Social
Além do desenho e da brincadeira livres, a fala das crianças também revela
muito de suas impressões – aquelas que traz consigo e “reimpressões” – aquelas que
constrói a partir da relação com os outros. Observando suas conversas podemos
conhecer suas atitudes de ajuda, companheirismo, solução de problemas... e também
seus conflitos e preconceitos e intervir quando for necessário. É nessa dialética que as
crianças vão socializando-se e construindo-se como sujeitos sociais.
CENA 6: As crianças entram na casinha de bonecas e o primeiro problema é “quem será
a mãe/o pai?” Todos desejam ser a figura de autoridade.
Lorena reclama:
-“Eu nunca sou a mãe!” * Frases relatadas pelas crianças quando perguntadas sobre a história do desenho. Foram transcritas, já que a redução das imagens desfocou o que havia sido escrito.
31 Aline concorda: -“Tá bom, tá bom... então eu sou a filha.
Luiz Felipe escolhe: -“Eu sou o pai!”
E Mateus obedece: -“Eu sou o neném.” Resolvido o problema, o faz-de-conta começa. A mãe anda pra lá e pra cá, faz
comida, arruma a casa..., a filha brinca, o pai sai para trabalhar e o bebê não pára de
chorar!
Recordemos aqui como, para Vygotsky, esse movimento é importante para a
criança compreender os papéis sociais.
CENA 7: Bruno e Ana Carolina colocam os óculos escuros e ficam de pé na entrada da
casinha de bonecas, com braços cruzados e uma expressão facial bastante séria.
- “Somos seguranças!”.
Essas crianças mais que imitar os seguranças, percebem também a necessidade
de uma proteção no mundo tão violento que vivemos hoje. E que observação aguçada,
pois não convivem diretamente com a figura do segurança (já que são alunos de escola
pública), mas vêem possivelmente em filmes, novelas, noticiários de TV e,
eventualmente, quando vão ao shopping.
CENA 8: Lucas, Lucimara, Natanael e Vanessa brincam na casinha. Lucas pega a
boneca no colo e Lucimara começa a rir, dizendo que menino não brinca de boneca.
Neste momento, a professora intervém:
-“Seu pai pega você e sua irmãzinha, que é bebê, no colo?
Pensativa Lucimara responde:
32
-“Pega.”
E a professora continua:
-“Assim como o pai pega o bebê no colo, os meninos também podem brincar de boneca.
já que Lucas é o pai e a boneca, o bebê.”
Lucimara parece aceitar a situação. Alguns dias se passam e a mesma cena
repete-se, mas desta vez quem dá toda a explicação de que menino pode sim brincar
com boneca, é a própria Lucimara!
Neste momento, a professora precisou intervir para questionar um argumento
preconceituoso que há na sociedade e que essa criança havia aprendido, já que “pelo seu
caráter aleatório, a brincadeira também pode ser o espaço de reiteração de valores
retrógrados e conservadores, com os quais a maioria das crianças se confronta
diariamente”
CENA 9: Na mesa da massinha estão Talita, Camila, Evelyn e Glenda brincando de
ourives. A produção está a todo vapor e Talita pergunta:
-“Vamos fazer uma surpresa pra tia?"
Todas concordam.
A professora finge não perceber nada e elas fazem cordões, pulseiras, brincos e
anéis. De repente as quatro vem cantando “Parabéns pra você” e entregam as jóias de
presente. Enfeitam a professora de massinha e Talita comenta:
- “Ih tia, vai ficar rica, hein?!”
CENA 10: Colhidos os tomates plantados há alguns meses, a professora propôs às
crianças que entregassem à merendeira para serem utilizados na merenda escolar. Aline
discorda e apresenta uma nova proposta:
33
- “Não tia, vamos fazer uma saladinha de tomates!”
Diante do conflito, Luiz Felipe sugere:
- “Vamos fazer uma votação!”
A votação foi feita e venceu a “saladinha de tomates”, que foi servida junto com
a merenda.
É possível constatar aqui que, assim como deseja o Referencial Curricular
Nacional para a Educação Infantil do MEC, as crianças estão tornando-se capazes de
“estabelecer e ampliar cada vez mais as relações sociais, aprendendo aos poucos a
articular seus interesses e pontos de vista com os demais, respeitando a diversidade.”
Enfim... no espaço da sala de atividades espontâneas as crianças estão livres para
desenvolverem-se. Pode ser construindo aviões, robôs ou comidinhas com a massa de
modelar; recortando e colando papéis que transformam-se em produções maravilhosas;
pensando sobre a leitura e a escrita com os livros; dramatizando com os fantoches;
fazendo de conta na casinha ...
34
CAPÍTULO 4: Sugestões pertinentes à sala de atividades
espontâneas
”Brincar com criança não é perder tempo, é ganhá-lo.”
Carlos Drummond de Andrade
Aqui estarão descritas algumas sugestões de aspectos relevantes à prática da sala
de atividades espontâneas.
Em primeiro lugar, para que o professor possa organizar o ambiente
diversificadamente, de modo a desenvolver múltiplas habilidades nas crianças,
apresenta-se a seguir uma sugestão para arrumação da sala de aula, que irá ser adaptada
às condições disponíveis do momento:
4.1 – Planta baixa
354.2 – Algumas Técnicas de Artes
• Desenho desbotado
Material: anilina, pincel, cotonete e água sanitária.
A folha de papel é totalmente pintada com a anilina, após a secagem, desenhar
livremente com o cotonete embebido na água sanitária.
• Desenho com giz colorido em aguada de cola
Material: giz colorido e aguada de cola (mistura com 50% de cola branca e 50%
de água)
O giz é molhado na mistura e o desenho feito em papel sulfite.
• Desenho enriquecido com farinha colorida
Material: farinha de mandioca ou areia tingida com anilina, cola, lápis de cor/giz
de cera.
Após desenhar livremente passar cola em alguns detalhes ou em todo seu
contorno e virar no tabuleiro com a farinha colorida.
• Desenho com lápis de cera enriquecido com anilina
Material: giz de cera, pincel e aguada de anilina.
Após desenhar livremente, passar com pincel a aguada de anilina.
• Desenho surpresa
Material: giz de cera ou vela branca, pincel e aguada de nanquim preto
Desenhar livremente com o lápis branco. Em seguida passar a aguada de
nanquim com o pincel sobre o desenho.
• Desenho sobre a lixa
Material: lixa d’água e lápis de cera
Desenhar livremente com o giz de cera sobre a lixa.
36• Pintura com textura
Material: mistura feita com tinta guache (em várias cores), areia, cola e água,
pincel.
Pintar livremente com esta mistura.
• Pintura craquelê
Material: giz de cera ou vela branca, anilina, pincel
Esfregar a vela com força por toda a superfície do papel e amassá-lo. Em
seguida abrir o papel e passar a anilina com o pincel.
• Pintura sobre fundo preto
Material: folha de papel glacê preto (cortada em tamanho ofício), pincel, tinta
guache branca
Pintar livremente com a tinta branca sobre o papel preto.
• Montagem
Material: figuras variadas, cola, hidrocor e lápis de cor.
Construção de uma composição criativa utilizando as figuras. Poderá ser
complementado com o hidrocor e lápis de cor.
4.3 – Massinha
Selecionar um copo medida
5 copos de farinha de trigo
1 colher (sopa) de sal
1 ½ de água morna (misturada com o corante)
½ copo de óleo
Misturar todos os ingredientes em um recipiente.
374.4 – Fases do Grafismo
Em alguns momentos deste trabalho foi falado sobre o respeito à fase do
grafismo do desenho da criança. Aqui serão explicitadas quais são essas fases e suas
características principais:
• Rabiscação descontínua: revela o prazer de manipulação do objeto (lápis,
caneta, ...), porém não há coordenação de movimentos, nem intenção de
transmitir uma idéia.
• Rabiscação contínua: o avanço desta fase em relação à anterior é que neste
momento a coordenação dos movimentos é um pouco mais aperfeiçoada.
• Célula: as linhas se fecham, surgindo a forma arredondada. Apesar de não
haver intenção prévia de transmitir uma idéia, a criança atibui significado à essas
formas que podem ser bola, sol, mamãe... ou o que mais a criança desejar.
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• Garatuja: das células (formas arredondadas) surgem braços e pernas (em
quantidade variável), dando início à figura humana. Após a primeira garatuja,
feita ao acaso, a criança inicia o desenho intencionalmente feito. Ela pensa,
lembra e faz ou tenta fazer o desenho expressando o seu pensamento.
• Figuras Isoladas: a coordenação de movimentos e a percepção de detalhes
evoluem. Há um amontoado de idéias, aparentemente sem relação entre si e o
desenho ainda não forma um conjunto organizado.
39
• Cena Simples: revelam um maior aprimoramento na organização de idéias,
na coordenação motora, na percepção de detalhes (inclusive da figura humana) e
na orientação espacial. Frases curtas, quase independentes, mas continuadas
também caracterizam essa fase.
• Cena Completa: nesta fase, a criança expressa através de seu desenho
espontâneo uma cena rica em detalhes, com organização do pensamento
expresso por idéias inter-relacionadas, frases coordenadas e localização
espacial.
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CONCLUSÃO Como foi mencionado em vários momentos desta pesquisa, o trabalho ideal para
as turmas de Educação Infantil é aquele que é capaz de conjugar as atividades dirigidas
com as atividades espontâneas, já que uma enriquece a outra.
Essa conjunção pode ocorrer em variadas ocasiões. Nos momentos de atividades
dirigidas, por exemplo, o professor poderá estar trabalhando sobre o corpo (assunto
pertinente a qualquer classe de EI) e nos momentos de atividades espontâneas a criança
irá construindo e desenvolvendo sua percepção da figura humana no “cantinho” do
desenho, do recorte, do cavalete, da massinha... O professor poderá estar trabalhando o
nome das crianças com uma infinidade de propostas dirigidas e no desenho ou no
recorte a criança terá a oportunidade de testar suas hipóteses sobre a língua escrita
escrevendo (mesmo que à sua maneira) a estória de seu desenho. Enfim... essas são
apenas algumas das várias possibilidades de unir atividades dirigidas e espontâneas
Não podemos esquecer que o espaço da Educação Infantil deve reconhecer,
respeitar e utilizar os conhecimentos cotidianos que a criança possui e a partir deles,
ampliá-los para os conhecimentos socialmente construídos. A EI precisa ser, acima de
tudo, um tempo de prazer, brincadeira, amizade e múltiplas vivências, afinal:
Tudo o que eu precisava realmente saber, aprendi no Jardim de Infância
Grande parte do que realmente preciso saber sobre a vida, o que fazer e como
ser, eu aprendi no Jardim de Infância.
Não foi na Universidade, nem na Pós-graduação que eu encontrei a verdadeira
sabedoria, e sim no recreio do Jardim de Infância.
Foi exatamente isto que aprendi: compartilhar tudo, brincar dentro das regras,
não bater nos outros, colocar as coisas de volta no lugar onde as encontrei, limpar a
41própria sujeira, não pegar o que não era meu, pedir desculpas quando machucava
alguém, lavar as mãos antes de comer, puxar a descarga do banheiro.
Também descobri que leite é gostoso, que uma vida equilibrada é saudável e
que pensar um pouco, desenhar, pintar, dançar, planejar e trabalhar um pouco todos os
dias nos faz muito bem.
Tirar uma soneca todas as tardes, tomar cuidado com o trânsito, segurar as
mãos de alguém e ficar juntos são boas formas de enfrentar o mundo.
Prestar atenção em todas as maravilhas e lembrar da pequena semente que, um
dia, plantamos em um copo plástico. As raízes iam para baixo e as folhas iam para
cima, ninguém realmente sabia o porque. Mas nós somos assim!
Peixinhos dourados, hamsters e ratinhos brancos; e até mesmo a pequena
semente do copo de plástico, tudo morre um dia... E nós também.
Tudo o que você realmente precisa saber está aí. Faça aos outros aquilo que
você gostaria que fizessem com você.
Amor, higiene básica, ecologia e política contribuem para uma vida saudável.
Penso que tudo seria melhor se todos – o mundo inteiro – tomássemos um leite
todas as tardes e descansássemos um pouquinho abraçados a um travesseiro ou se
tivéssemos uma política básica em nossa nação e colocássemos todas as coisas de volta
ao lugar onde as encontramos, limpando nossa própria sujeira.
E ainda é verdade que, seja qual for a idade, o melhor é darmos as mãos e
ficarmos juntos!
(AUTOR DESCONHECIDO)
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ANEXOS Algumas fotos dos “cantinhos” :
43
BIBLIOGRAFIA ABRAMOVAY, Miriam e outros. O rei está nu: um debate sobre as funções da pré- escola. Cadernos CEDES. São Paulo: Cortez, nº 9, 1987. BASEGGIO, Nádia Antonieta. Educação Artística – pré-escola. Curitiba: Centro de
Excelência em Educação expoente, 1995.
BEE, Helen. A criança em desenvolvimento. São Paulo: Artmed, 1996.
CAVALCANTI, Fernanda Uchôa e FILHO, Audir Bastos. Caixa de colagens. Rio de
Janeiro: DP&A editora, 2003.
E.M.J.I.REPÚBLICA ÁRABE UNIDA. Documentos construídos pelo corpo docente
baseado na prática profissional e em documentos oriundos da SME. Rio de
Janeiro/SME, 1960-2004.
KRAMER, Sonia (org). Com a pré-escola nas mãos. 14ª.ed. São Paulo:editora Ática,
2002.
MARINHO, Heloísa. Vida e educação no Jardim de Infância. 2ª.ed. Rio de Janeiro:
Conquista, 1960.
MEC. Referencial Curricular Nacional Para Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF,
1998.
QUEIROZ, Elida Maria de Melo. Técnicas e Materiais para Educação Artística. São
Paulo, 1995.
REDIN, Euclides. O espaço e o tempo da criança: se der tempo a gente brinca. Porto
Alegre: Mediação, 1998.
44RIZZO, Gilda. Educação Pré-Escolar. 6ª.ed. Rio de Janeiro: Editora Francisco Alves,
1988.
WAJSKOP, Gisela. Brincar na pré-escola. 5ª.ed. São Paulo: Cortez, 2001.