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1 Luís Henrique Rodriguez de Mattos Gobbo [email protected] INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS NO ESCOPO DE PARADA DE MANUTENÇÃO DE REFINARIA DE PETRÓLEO A Gestão de Projetos na Implantação de Inovações em Refratários RESUMO A melhoria das condições operacionais de Unidades de Processo em Refinarias de Petróleo brasileiras foi fruto de um trabalho de desenvolvimento tecnológico contínuo de processos e procedimen- tos operacionais ajustados às condições do petróleo refinado. Nes- te caso, as paradas de Manutenção de Unidades de Craqueamento Catalítico Fluido (UFCC) tem importância fundamental para a transformação em Unidades de Alta Performance, segundo pa- drões internacionais estabelecidos. As paradas de Manutenção passaram a ser geridas com Metodologias de Gerenciamento de Projeto resultando também em Paradas de Alta Performance, ou seja, feitas em mínimos prazos de interrupção de campanha e com segurança intrínseca para pessoas e instalações. Este trabalho bus- ca relacionar a necessidade de introduzir inovações e melhores práticas em Manutenção buscando resultados positivos de Paradas em contraponto com a disciplina necessária para estabelecimento de escopo de um Projeto de Parada. Palavras-Chave: Novas Tecnologias, Parada de Manutenção, Refratá- rios, gestão de projeto. ABSTRACT The improvement on operational conditions of Brazilians Oil Re- fineries Process Units was made with technological advances and operacional procedures adjusted at brazilian oil conditions. In this case, the shutdowns of Catalitic Cracker Units (UFCC) has im- portance to be change at High Performance Units. Turnarounds has been managed with Project Management rules, making High Performance Turnarounds too., with minimum production stopped and high safety intrinsically made. This paper wants to related the technological advances and best Maintenance pratices in refractory linings looking for better results with the necessary rules of scope construction. Keywords: New Technologies, turnaround, refractory linings, pro- ject management Anhanguera Educacional S.A. Correspondência/Contato Faculdade Anhanguera de Campinas Unidade 2 Rua Pedro Gianfrancisco, 301 Campinas, São Paulo CEP. 13.065-195 [email protected]
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Um caso de Gestão de Projetos em Paradas de Manutenção€¦ · ção, a indústria petroquímica é mais conservadora na introdução de novas técnicas e materiais. (GOBBO et

Aug 25, 2020

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Page 1: Um caso de Gestão de Projetos em Paradas de Manutenção€¦ · ção, a indústria petroquímica é mais conservadora na introdução de novas técnicas e materiais. (GOBBO et

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Luís Henrique Rodriguez de Mattos Gobbo [email protected]

INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS NO ESCOPO DE PARADA DE MANUTENÇÃO DE REFINARIA DE PETRÓLEO

A Gestão de Projetos na Implantação de Inovações em Refratários

RESUMO

A melhoria das condições operacionais de Unidades de Processo em Refinarias de Petróleo brasileiras foi fruto de um trabalho de desenvolvimento tecnológico contínuo de processos e procedimen-tos operacionais ajustados às condições do petróleo refinado. Nes-te caso, as paradas de Manutenção de Unidades de Craqueamento Catalítico Fluido (UFCC) tem importância fundamental para a transformação em Unidades de Alta Performance, segundo pa-drões internacionais estabelecidos. As paradas de Manutenção passaram a ser geridas com Metodologias de Gerenciamento de Projeto resultando também em Paradas de Alta Performance, ou seja, feitas em mínimos prazos de interrupção de campanha e com segurança intrínseca para pessoas e instalações. Este trabalho bus-ca relacionar a necessidade de introduzir inovações e melhores práticas em Manutenção buscando resultados positivos de Paradas em contraponto com a disciplina necessária para estabelecimento de escopo de um Projeto de Parada.

Palavras-Chave: Novas Tecnologias, Parada de Manutenção, Refratá-rios, gestão de projeto.

ABSTRACT

The improvement on operational conditions of Brazilians Oil Re-fineries Process Units was made with technological advances and operacional procedures adjusted at brazilian oil conditions. In this case, the shutdowns of Catalitic Cracker Units (UFCC) has im-portance to be change at High Performance Units. Turnarounds has been managed with Project Management rules, making High Performance Turnarounds too., with minimum production stopped and high safety intrinsically made. This paper wants to related the technological advances and best Maintenance pratices in refractory linings looking for better results with the necessary rules of scope construction.

Keywords: New Technologies, turnaround, refractory linings, pro-ject management

Anhanguera Educacional S.A.

Correspondência/Contato

Faculdade Anhanguera de Campinas

Unidade 2 Rua Pedro Gianfrancisco, 301 Campinas, São Paulo CEP. 13.065-195 [email protected]

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Inovações Tecnológicas no Escopo de Parada de Manutenção de Refinaria de Petróleo 2

1. INTRODUÇÃO

A Indústria de Petróleo, especialmente a que cuida do seu refino e produz seus deri-

vados, depende intimamente em seus processos industriais, do desempenho de mate-

riais refratários e Isolantes térmicos instalados em equipamentos e tubulações, quer se-

ja para conservação de energia, como para garantir resistência às diversas solicitações

como temperatura, ataques abrasivos, entre outros.

As Paradas de Manutenção em refinarias de petróleo são eventos necessários para res-

tabelecimento de condições operacionais das Unidades de Processo, normalmente após

campanhas regulares de produção, ou para modernizar os equipamentos visando no-

vos perfis de produção e aumentar a confiabilidade ou para sanar defeitos extemporâ-

neos, em paradas emergenciais. Segundo VERRI, (2008, p. 15) “Parada de Manutenção

(ou “Turnaround” em inglês) é um evento especialmente importante em plantas de

processamento contínuo(...). Após um determinado tempo de operação, denominada

“campanha”, a Planta toda para, e é submetida à uma grande Manutenção, que coloca-

rá os equipamentos e os sistemas aptos para mais uma campanha”

Em um passado não muito remoto (se considerarmos que a grande expansão do par-

que do refino brasileiro ocorreu há pouco mais de 30 anos), muitas das paradas de ma-

nutenção ocorriam de forma não programada, em emergência ou não, em função do

desgaste ou falha prematura no revestimento refratário de seus principais equipamen-

tos, como reatores de Unidade de Craqueamento Catalítico Fluido (UFCC) e fornos de

Processo.

No planejamento de paradas de manutenção dos equipamentos de uma refinaria de

petróleo tem-se percebido a necessidade de buscar outras soluções tecnológicas para a

Manutenção, existentes e disponíveis no país ou não, de forma a obter melhoria nos re-

sultados finais do “Projeto Parada” quanto aos (mínimos) prazos de interrupção das

plantas industriais, dos resultados de Segurança, Meio Ambiente e Saúde e visando

Confiabilidade para nova campanha.

Este trabalho busca perceber a introdução de inovações tecnológicas em materiais re-

fratários, utilizando metodologias de Gestão de Projeto, como podem interferir no es-

copo de uma Parada e a importância de uma atitude inovadora na cultura da organiza-

ção, focando especificamente em experiências desenvolvidas pela PETROBRAS, na Re-

finaria de Paulínia, em paradas de Unidades de Craqueamento Catalítico.

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Algumas tecnologias ainda não utilizadas estão disponíveis no mercado, porém sua in-

trodução é afetada por aspectos culturais da organização, pois são inovações para a or-

ganização, mas não para o mercado. Em outros casos a necessidade de uma solução di-

ferenciada para desempenho ou aplicação de refratários, introduz, no projeto da Para-

da, modificações no escopo de tal monta que quebram paradigmas não só na organiza-

ção como no mercado, entre fornecedores, parceiros e concorrência.

A introdução de novas tecnologias torna-se, portanto um exercício de modificar as or-

ganizações, métodos, normas, regulamentos, comportamentos e pessoas em prol de

um bem comum (o projeto), sendo desafio dos gestores de projeto, pois requerem de-

senvolvimento de conhecimento técnico (teórico e prático) e principalmente reconhe-

cer a habilidade para influenciar a organização, descrito, segundo o Manual do PMBOK

(2000, v1.0,p. 25), em tradução livre disponibilizada pelo PMI-MG, 2002, como sendo

“(...) a habilidade de ‘conseguir que as coisas sejam feitas’. Isto exige o entendi-mento das estruturas formais e informais de todas as organizações envolvidas – a organização executora, o cliente, empreiteiros e muitos outros. (...) também exige entendimentos dos mecanismos de política e poder”

Dessa forma podemos investir a própria Inovação Tecnológica como detentora de um

poder que precisa da Disciplina e da Metodologia de Gerenciamento de Projetos para

efetivamente cumprir seu papel nos objetivos em que ela será inserida

2. OBJETIVO

O maior desenvolvimento da indústria fabricante de materiais refratários tem

sido, ao longo dos anos, a busca de materiais cada vez mais adequados aos processos

industriais a que são destinados, seja quanto aos níveis de temperatura, gradientes

térmicos, resistência a esforços mecânicos, resistência à erosão, à agentes químicos, etc.

Apesar deste avanço, é inerente ao processo industrial a reabilitação dos equi-

pamentos, de tempos em tempos, às condições originais ou atualizadas de projeto vi-

sando um melhor desempenho do processo, sendo necessária a substituição dos reves-

timentos refratários, em paradas de manutenção.

Percebeu-se, portanto a necessidade de inovações em revestimentos refratá-

rios como sendo fundamental para o aumento da confiabilidade das instalações, com a

adoção de materiais refratários desenvolvidos com tecnologias de vanguarda, mas ao

mesmo tempo, investindo em controle tecnológico das aplicações e desenvolvimento

da mão de obra especializada em aplicação destes novos materiais.

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O Objetivo geral deste trabalho é estabelecer uma relação entre as técnicas de

Gerenciamento de Projeto adotado em Paradas de Manutenção e os aspectos relacio-

nados à introdução de inovações tecnológicas, relatando os avanços obtidos com novos

materiais refratários, em qualificação de pessoal, métodos de aplicação e controle da

qualidade;

Diferentemente das aplicações siderúrgicas, onde se destaca a grande diversidade de materiais, altas taxas de inovação de produtos e ainda novas técnicas de aplica-ção, a indústria petroquímica é mais conservadora na introdução de novas técnicas e materiais. (GOBBO et al, 2007)

Além disso, busca relatar o desafio de difundir e aliar o conhecimento obtido com prá-

ticas de manutenção em relação à cultura da empresa com a necessidade de obediência

a escopos rígidos de projeto na busca de maior confiabilidade nas novas unidades de

processo.

3. METODOLOGIA

A metodologia adotada é o estudo de caso desenvolvido em parada de Uni-

dade de Craqueamento Catalítico (UFCC) da Refinaria de Paulínia, da Petrobras, fa-

zendo-se uma releitura, sobre o enfoque das ações realizadas, típicas de uma gestão de

“projeto dentro de um Projeto”, do desenvolvimento do Concreto Isolante Bombeável,

aplicado na parada de 2006 na ampliação da Unidade U-220A e divulgado nos Anais

do 51º Congresso da Associação Brasileira de Cerâmica.

Uma unidade UFCC é altamente lucrativa, pois se trata de uma unidade de

conversão, onde frações pesadas da Destilação do Petróleo, com baixo valor comercial

em produtos mais nobres, como Gasolina, GLP e no caso específico desta unidade, em

Óleo Diesel, principal produto atendido pelo mercado consumidor.

A modernização tecnológica pela qual passou a Unidade U-220A consistiu justamente

em adequar internamente o Reator (composto basicamente de Riser, Vaso Separador

com Ciclones, Stripper e Regenerador) de forma a adequar o perfil de produção mais

voltado ao atendimento ao Plano Estratégico da Petrobras.

Para tal, uma das ações adotadas foi substituir o Vaso Separador, basicamente compos-

to de um cilindro com calota refratada, onde são montados os ciclones que fazem a se-

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paração do catalisador utilizado da carga processada, orientando-os para a regenera-

ção onde reiniciam o ciclo de processamento.

Figura 1 Montagem de novos componentes do Vaso Separador

Para construção de um novo Vaso Separador Refratado, serviço executado em outras

Unidades da Petrobras, em trabalhos similares de modernização, era este o cenário re-

lativo ao Refratamento,:

•Refratamento do Costado do Vaso Separador feito preferencialmente por

derramamento, para melhorar desempenho quanto ao ataque de coque.

•Método tradicional era executado em etapas (montagem de lance de forma

durante o dia e refratamento no turno da noite)

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•Grande demanda de mão de obra para refratamento, utilizando baldes e vi-

bradores de imersão para espalhamento do concreto nas formas.

Considerando a definição divulgada pelo Project Manangement Institute – PMI, de

que Projeto é um esforço temporário empreendido para criar um produto, serviço ou

resultado exclusivo (PMBOK, 2002), as principais ações adotadas para o refratamento

por bombeamento, que serão detalhadas neste trabalho foram:

• A Integração dos projetos, com a identificação da oportunidade de me-lhoria do processo de construção de um novo reator, alterando o mé-todo de aplicação manual do concreto tradicionalmente adotado para um método de bombeamento mecanizado;

• A construção do Escopo, incluindo a busca de fornecedores e prospec-ção de tecnologia (desenvolvimento de materiais e equipamentos);

• O Planejamento e Seqüenciamento das tarefas no tempo, de forma a serem adequadamente incorporadas ao Planejamento do Projeto Glo-bal da Parada;

• A Gestão dos Riscos, com sua identificação (riscos conhecidos e riscos ‘descobertos’), o planejamento e mitigação de eventos indesejáveis;

• O desenvolvimento de um modelo alternativo de Contratação (forne-cimento de material e assistência técnica de aplicação);

• A busca pela Qualidade com o desenvolvimento de protótipo para qualificação do material e dos procedimentos de aplicação;

• O Aprimoramento dos Recursos Humanos com o treinamento e a conscientização dos trabalhadores para a nova tecnologia, quanto aos benefícios de qualidade e segurança;

• As ações de Comunicação e Divulgação dos resultados desta inovação na cultura da organização, inclusive nas empresas aplicadoras e forne-cedores (mudança de paradigma).

Não serão detalhados os custos envolvidos, por tratar-se de informação reser-

vada da Petrobras.

4. DESENVOLVIMENTO

Embora o uso de materiais refratários na Indústria Petroquímica seja relativamente

baixo - cerca de 2% do total de produtos produzidos no Brasil - estes possuem um pa-

pel importante no desempenho das refinarias, sejam:

a) Na preservação da integridade física primordial aos processos;

b) Na minimização das perdas térmicas dos diversos equipamentos.

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Devido a aspectos de padronização, procedimentos e principalmente aos altos cus-tos envolvidos nas paradas para reparos e ou substituição total dos revestimentos, a introdução de novos produtos neste segmento de mercado é lenta e não raro exis-tirem produtos desenvolvidos há mais de 15 anos. (GOBBO et al, 2006)

Ao idealizar a adoção da técnica do Bombeamento de Concreto, o principal desafio foi

justamente viabilizar o desenvolvimento deste material junto aos fabricantes nacionais,

o que começou a ser feito com dois anos de antecedência,

4.1. Integração do Escopo

A Modernização Tecnologia da Unidade de Craqueamento Catalítico (U-220A) reque-

reu a adoção das melhores práticas de paradas, de forma a obterem-se resultados me-

lhores de Segurança e Confiabilidade também nas atividades de Manutenção, quer seja

com a troca de vários equipamentos, o uso de novas ferramentas e procedimentos dife-

rentes dos usuais.

É neste caso que se insere, portanto, o desenvolvimento de um novo método de refra-

tamento, pois como o escopo dos trabalhos de modernização incluía a substituição de

todo o conjunto do Vaso Separador, a utilização de concreto bombeado seria uma mu-

dança de paradigma pelo ineditismo da tarefa e melhoria nos resultados quanto ao

tempo de aplicação e qualidade esperada.

Algumas ações adotadas para atingir este objetivo:

•Efetivo envolvimento e integração, desde a fase de planejamento, entre to-

das as áreas (Manutenção, Operação, Segurança Industrial, Engenharia e Apoio Lo-

gístico).

•Deflagração das providências com antecedência adequada (12 a 18 meses),

viabilizando a elaboração de um planejamento confiável e a otimização dos recursos

próprios e contratados;

•Minimização dos serviços em parada, buscando a redução do tempo de ces-

sação de produção, ou seja, “fazer em parada o que realmente é de parada”.

Com essas premissas básicas, todas as ações desenvolvidas para implantação

deste novo método e material de refratamento foram assumidas pela Coordenação da

Parada, integrando este desenvolvimento ao Projeto da Parada.

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4.2. Definição do Escopo

O Escopo do Refratamento com Concreto Bombeável iniciou-se com uma consulta e

um desafio aos principais fabricantes brasileiros de Concreto Refratário: Desenvolver a

formulação do material e disponibilizar tecnologia de aplicação em uma escala inédita

(em termos de planta petroquímica), utilizando como parâmetros básicos os mesmos

do projeto original, ou seja, Concreto Isolante Classe A, da Norma Petrobras N-1728.

A referência Normativa é importante para fornecer parâmetros seguros embasados na

experiência (histórico de falhas) e quanto às propriedades físicas e químicas necessá-

rias para o desempenho operacional esperado para a campanha.

O escopo do desenvolvimento consistiu de duas etapas:

a) Pelos Fabricantes:

• Formulação do material e ensaios laboratoriais

• Ensaios de Qualificação de Material e Procedimento de aplicação

• Ensaios Físicos para homologação de uso.

b) Pela Petrobras

• Acompanhamento de Qualificação

• Elaboração de Licitação para Contratação conjunta de Materiais e As-sistência técnica

• Fornecimento de protótipo para qualificação de Material e procedi-mento,

• Análise Crítica e Implantação de melhorias no Procedimento;

• Aplicação em escala real

4.2.1. Desenvolvimento do Material

Baseado nas premissas estabelecidas pela norma N-1728, foi desenvolvido pe-

lo fabricante vencedor da licitação, um concreto sílico-aluminoso, isolante, auto-

escoante e bombeável a base de argila expandida.

Diversas composições experimentais foram avaliadas tendo como variáveis a distribui-

ção granulométrica, tipos de cimentos aluminosos, agregados refratários e aditivos, vi-

sando adequar suas características físicas como escoabilidade (ou fluidez), tempo de

pega, densidade, resistência mecânica e variação linear dimensional.

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Na Tabela 1 são apresentadas as propriedades físicas e químicas da composi-

ção final.

Teor de água (%) 23

Fluidez (%) 110

Resistência à Compressão à Temperatura Ambiente RCTA (MPa)

110ºC 21

815ºCx5h 18

Massa Específica Aparente - MEA (g/cm3) 110ºC 1,26

815 ºCx5h 1,19

Variação Linear Dimensional VLD (comprimento) (%)

a 110ºC -0,2

a 815ºCx5h -0,4

Análise química (%)

Al2O3 28,0

SiO2 50,3

CaO 8,5

Fe2O3 6,0

Tabela 1: Propriedades Físicas e Químicas do Concreto Bombeável

Esta etapa de desenvolvimento do material iniciou-se 24 meses antes da utilização final

do material, na parada.

4.2.2. Etapas de Qualificação - Protótipo

Dentro dos procedimentos de refratamento, antes das aplicações, a Petrobras adota a

prática de efetuar a Qualificação do Material (para confirmar as características finais

do material com as informações da ficha técnica do fabricante) e a Qualificação do Pro-

cedimento, para apurar e corrigir problemas que possam ocorrer em uma grande apli-

cação, tomando ações preventivas visando a qualidade, produtividade e segurança de

todas as etapas.

Figura 2 Protótipo Montado para simulação de refratamento

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Figura 3 Montagem da Bancada de Refratamento do Protótipo

Figura 4 Aplicação de concreto refratário bombeado

Os principais ganhos desta etapa foram:

• Ajustes no tempo de pega do material para as condições reais de aplicação

• Treinamento da equipe, com definição de pessoal efetivamente necessário para a ta-refa;

• Definição do procedimento de movimentação do mangote de refratamento, distribu-indo uniformemente o material ao longo do costado;

• Medição de produtividade;

• Identificação de gargalos no processo (adição de agulha e água de amassamento)

4.3. Contratação dos Serviços

A aquisição de materiais refratários na Petrobras segue as exigências de Requisitos de

Qualificação Técnica, ou seja, para o fornecimento devem passar por etapa de qualifica-

ção tanto do material quanto do fabricante, atestando a competência técnica Para execu-

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ção dos trabalhos de Refratamento, a Petrobrás já dispunha de mão de obra contratada e

qualificada, porém neste caso houve a necessidade de se propor uma forma de contrata-

ção conjunta da mão-de-obra para assistência técnica conjugada com o fornecimento de

material previamente qualificado e com os equipamentos necessários para o correto de-

sempenho do sistema.

A contratação seguiu os trâmites normais conforme o Manual de Procedimentos Contra-

tual da Petrobras, e realizado apenas com fornecedores que comprovadamente demons-

traram, em testes preliminares, a capacidade técnica de bombeamento do material con-

forme os parâmetros previstos.

KARDEC e CARVALHO (2002, p. 37) recomendam que, dentre as diretrizes de

uma adequada política de manutenção, seja considerada a contratação de empresas ca-

pacitadas técnica e gerencialmente, observando-se os aspectos de economicidade, quali-

dade, buscando contratos o mais próximos possível da parceria, através, dentre outras,

as seguintes práticas:

• · Exigência de empregados qualificados e certificados (...).

• · Contratação que garanta a multifuncionalidade, a otimização de méto-dos e de recursos e a minimização das interfaces.

Apesar de bem sucedida, a contratação foi realizada fora do Planejamento de Contrata-

ções da Parada, pelo fato de ter sido aprovado o material após o fechamento do Plano

Plurianual de Contratação.

4.4. Recursos Humanos - Aprimoramento da Mão de Obr a

A utilização desta nova tecnologia de refratamento trouxe a necessidade de aprimora-

mento conjunto da mão de obra. Primeiramente, com o aprendizado técnico relativo a um

novo material e as características físico-químicas diferentes da usual, com necessidade de

controle de novos parâmetros e o inicio de uma mudança cultural.

Schein, 1992 apud Migueles, Lafraia e Souza, 2006, conceitua a Cultura Organizacional

como sendo :

“um padrão de pressupostos básicos compartilhados que o grupo aprendeu confor-me resolvia seus problemas de adaptação externa e integração interna, e que funci-onou bem o suficiente para ser considerado válido e, portanto, ser ensinado aos no-vos menbros como uma maneira correta de perceber, pensar e sentir em relação a esses problemas (SCHEIN, 1992 apud MIGUELES; LAFRAIA; SOUZA, 2007, p.24):

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A adoção desta nova tecnologia de refratamento afeta portanto a cultura ao introduz um

temor inicial nos executantes sobre uma possível perda de emprego pelo uso intensivo da

mecanização. Se por um lado a redução da exposição humana a situações de risco é dese-

jada, o risco de ser “substituído pela máquina” somente passou a ser ignorado após pales-

tras explicativas sobre melhoria da qualidade obtida e da maior qualificação profissional

requerida.

Figura 5: Leitura do Procedimento – “Conversa ao pé do equipamento”

Antes de cada aplicação, sempre havia uma “conversa ao pé do equipamento” quando o

procedimento era explicado e a equipe tinha liberdade para propor melhorias, uma vez

que era um aprendizado conjunto.

4.5. Qualidade

Durante os testes de protótipo percebeu-se a necessidade de aprimoramento do Controle

da qualidade do processo, pois nas primeiras aplicações houve variações nos resultados

dos ensaios físicos. Isto de certa forma já era esperado, pois se tratava de um novo materi-

al e um novo tipo de aplicação, porém houve a decisão de se executar reuniões de análise

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crítica após cada teste realizado, buscando a causa de cada tipo de anormalidade obser-

vada e fazendo-se as alterações necessárias.

Figura 6: Execução de Teste de Fluidez do Material

5. RESULTADOS

Neste período passou por uma fase de testes em laboratório e aplicações-modelo nos

próprios fabricantes, até que tecnicamente a houvesse confiança no material e no mé-

todo para possibilitar uma contratação por Licitação do material e do sistema de bom-

beamento.

Com este trabalho conseguimos, portanto, superar desafios, canalizando nossas ener-

gias para a inovação, o construtivo e o preventivo e efetivamente auxiliando no desen-

volvimento tecnológico nacional e promovendo o respeito aos aspectos de segurança,

meio ambiente e saúde no trabalho, e os principais ganhos obtidos foram:

5.1.1. Resultados de Segurança, Saúde e Meio Ambien te:

• Redução nos riscos da tarefa:

• Mecanização do sistema pela utilização de bomba ao invés de baldes e Uso de guindas-tes ao invés de carregamento manual do misturador;

• Diminuição de exposição de pessoas ao risco (equipe reduzida e apenas para acompa-nhamento);

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• Redução de poeira em ambiente confinado;

• Possibilidade de trabalhos paralelos, sem interrupção de atividades de outras frentes.

• Redução de resíduos de embalagens (fornecimento a granel);

• Mínimas perdas de material em relação aos métodos tradicionais durante a aplicação;

Figura 7: Refratamento do Costado Cilíndrico do Vaso Separador

Figura 8: Resultado após refratamento final

5.1.2. Resultados obtidos de Qualidade

• Minimização de juntas frias; • Maior uniformidade na mistura e adensamento do refratário; • Maior resistência mecânica obtida; • Menor necessidade de água para produzir a massa; • Melhor controle do processo – diminuição da ação humana no refratamento

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Figura 9 Costado cilíndrico durante montagem e preparação para refratamento

Figura 10 Içamento de novo vaso separador montado e refratado

Destaca-se que a tarefa de substituição do Vaso Separador foi uma das maiores movi-

mentações de carga já efetuadas no hemisfério Sul.

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A introdução de novas tecnologias deve, portanto romper, além da fronteira tecnológi-

ca do próprio produto em si, também “incomodar” de tal forma a organização que sua

implantação seja inserida no detalhamento do escopo e possa ser sistematizada de

forma que seja adotada uma metodologia básica buscando sempre a melhoria contínua

dos processos de implantação, transformando-se de “inovação” em “padrão usual”.

As regras adotadas no Gerenciamento de Projeto servem para disciplinar ati-

vidades bem definidas, que consomem recursos e opera sobre pressões de prazos, cus-

tos e qualidade, e que são realizadas por pessoas, e, conforme Lafraia, Migueles e Sou-

za, 2006, “as regras e procedimentos são um mecanismo de excelência, são meios para

que o aprimoramento continuado ocorra. (...) Os craques de futebol não são impedidos

de expressar os seus talentos porque jogam pelas regras; pelo contrário, é a existência

da regras, e do jogo, o que torna possíveis o desenvolvimento e a expressão desses ta-

lentos”.

REFERÊNCIAS

GOBBO, L.H.R.M ; et al- Aplicação de concreto Isolante Bombeável em Vaso Separador da Unidade de Craqueamento Catalítico e Refinaria de Petróleo, in 51º Congresso da Associação Brasileira de Cerâmica: Anais, Salvador, 2007

MEIRA, G. - Modelo de Análise dos Fatores que Influenciam o Desempenho das Empresas de Caldeiraria nas Paradas Programadas de Manutenção de Unidades da Refinaria LANDULPHO ALVES – RLAM”, Caderno de Pesquisa UFBA, Salvador: disponível em http://www.cadernosnpga.ufba.br/viewarticle.php?id=85&locale=es, acesso em 15/06/2009.

MIGUELES, C.P.; LAFRAIA, J.R.B.; SOUZA, G.C – Criando o Hábito da Excelência – Compreendendo a Força da Cultura na Formação da Excelência em SMS, Rio de Janeiro: Qualitmark, 2007

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PINTO, A.K.; NASCIF, J. – Manutenção – Função Estratégica, Rio de Janeiro: Qualitmark, 2002

Manual do PMBOK 2000, v1.0,pg 25, tradução livre, Belo Horizonte: PMI-MG, 2002

VERRI, L.A. – Sucesso em Paradas de Manutenção, Rio de Janeiro: Qualitmark, 2008

OBSERVAÇÃO DE LUIZ ALBERTO VERRI: Identificamos, neste trabalho do ex colega Luis Henrique, várias das melhores práticas que temos propalado em nossos cursos e palestras. As mais importantes, para nós, estão grifadas em AZUL.

Em novembro/2018