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UFU - UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLANDIA INHIS INSTITUTO DE HISTÓRIA BELLE ÉPOQUE, ESCRITORES, JORNALISMO E MERCADO EDITORIAL BRASILEIRO: MUDANÇAS TECNOLÓGICAS, POLÍTICAS E URBANAS. 1880 1920 LORRAINE DA SILVA DIONISIO 2019
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UFU - UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLANDIA INHIS … fileufu - universidade federal de uberlandia inhis – instituto de histÓria belle Époque, escritores, jornalismo e mercado editorial

Aug 31, 2019

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  • UFU - UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLANDIA

    INHIS INSTITUTO DE HISTRIA

    BELLE POQUE, ESCRITORES, JORNALISMO E MERCADO EDITORIAL

    BRASILEIRO: MUDANAS TECNOLGICAS, POLTICAS E URBANAS.

    1880 1920

    LORRAINE DA SILVA DIONISIO

    2019

  • UFU UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLANDIA INHIS INSTITUTO DE HISTRIA

    BELLE POQUE, ESCRITORES, JORNALISMO E MERCADO EDITORIAL

    BRASILEIRO: MUDANAS TECNOLGICAS, POLTICAS E URBANAS.

    1880 1920

    Monografia apresentada ao Instituto de Histria da

    Universidade Federal de Uberlndia, como

    exigncia obrigatria para a obteno do ttulo de

    bacharel em Histria pela aluna Lorraine da Silva

    Dionisio.

    Orientador: Prof. Dr. Newton Dngelo.

    UBERLNDIA

    2019

  • Dionisio, Lorraine da Silva, 1995

    Belle poque, Escritores, Jornalismo e Mercado Editorial Brasileiro: Mudanas

    Tecnolgicas, Polticas e Urbanas. 1880 1920. / Lorraine da Silva Dionisio Uberlndia,

    2019.

    Orientador: Newton Dngelo.

    Monografia (Bacharelado) Universidade Federal de Uberlndia, Curso de Graduao em

    Histria.

    Inclui Bibliografia.

    1. Modernismo. 2. Impressa. 3. Modernizao.

  • Lorraine da Silva Dionisio

    Banca Examinadora

    Prof. R. Newton Dngelo (Orientador)

    Dr. Diogo De Souza Brito

    Prof Dr Ana Flvia Santana

  • AGRADECIMENTOS

    Este trabalho no seria possvel sem a pacincia do meu orientador Newton Dngelo,

    muito obrigada por todos os momentos que eu no soube por qual direo seguir e o senhor,

    com toda a pacincia do mundo me mostrou as opes possveis.

    A minha me, Maria Aparecida da Silva, que se dedicou de corpo e alma para que eu

    pudesse, no apenas comear uma faculdade, mas que me apoiou em cada vontade e sonho,

    me mostrando que o esforo sim o que nos mantm em p. Obrigada mame. A senhora

    tudo o que eu quero ser quando crescer.

    Aos meus pais, Christopher Dale Poniktera e Lus Carlos Dionisio, que infelizmente no

    viveram o suficiente para me ver neste momento nico, mas que estiveram comigo no

    segundo momento mais importante da minha vida: A minha aprovao para comear este

    curso.

    Aos meus amigos que me ajudaram e apoiaram em cada momento difcil neste curso e

    durante meus anos de graduao, com cada semestre sendo uma temporada, difcil contar

    quem ficou e quem se foi, mas com certeza todos deixaram uma marca nica comigo.

  • RESUMO

    Analisando a Belle poque em seus aspectos culturais, polticos, tecnolgicos entre 1890

    1920, a presente monografia intenciona identificar a mudana de editorial, tipografias, em

    conjunto com a modernizao da cidade e a sua nova influncia quanto as pessoas iletradas

    em relao com a nova narrativa poltica. Uma construo de um imaginrio de Repblica

    para o iletrado e as perspectivas para o homem de letra, trazendo as novas percepes sobre o

    tempo, suas produes e a cidade com o modernismo.

    Palavra-chave: Belle poque, modernizao, peridico.

  • LISTA DE IMAGENS

    Capitulo III.

    Figura 1. Fotografia da Rua do Ouvidor. 1890. Fonte:

    http://fotografia.ims.com.br/sites/#1527248423762_13

    Figura 2. Colagem sobre caricaturas e ilustraes sobre o governo monrquico. Fonte:

    http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=332747&PagFis=2011&Pesq

    Figura 3. Ilustrao do Marechal Deodoro da Fonseca. Fonte:

    http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=103730_02&PagFis=16528&

    Figura 4. Ilustrao do Marechal Deodoro da Fonseca. Fonte

    http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=332747&PagFis=4127&

    Figura 5. Chamada principal da Revista Illustrada, maro de 1891. Fonte:

    http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=332747&PagFis=4472&

    Figura 6. Ilustrao da realizao da Constituio de 1891. Fonte:

    http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=332747&PagFis=4472&

    Capitulo IV.

    Figura. 7. Capa do Jornal do Brasil de 1 de janeiro de 1892. Fonte:

    http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=030015_01&PagFis=13

    Figura. 8. Capa do Jornal do Brasil de 6 de janeiro de 1908. Fonte:

    http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=030015_02&pasta=ano%20190&

    Figura. 9. Capa do Jornal do Brasil, 1 de janeiro de 1920. Fonte:

    http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=030015_04&pasta=ano%20192&

    Figura 10. Capa do Jornal do Brasil, 24 de novembro de 1921. Fonte:

    http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=030015_04&pasta=ano%20192&

    Figura 11. Capa da Gazeta de Notcias, 2 de janeiro de 1889. Fonte:

    http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=103730_02&pasta=ano%20188&

    Figura 12. Capa da Gazeta de Notcias, 1 de janeiro de 1908. Fonte:

    http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=103730_04&pasta=ano%20190&

    Figura 13. Capa da Gazeta de Notcias 2 de janeiro de 1920. Fonte:

    http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=103730_05&pasta=ano%20192&

  • Figura 14. Capa da Gazeta de Notcias, 8 de janeiro de 1921. Fonte:

    http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=103730_05&pasta=ano%20192&

    Figura 15. Capa da Revista Illustrada, 1 de Janeiro de 1876. Fonte:

    http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=332747&PagFis=1

    Figura 16. Capa da Revista Illustrada, 8 de Junho de 1889.

    Fonte:http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=332747&pesq=

    Figura 17. Capa da Revista Illustrada, Rio de Janeiro Junho 1898. Fonte:

    http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=332747&pesq=

    Figura 18. Capa da Revista Kosmos, Janeiro 1904. Fonte:

    http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=146420&PagFis=2675

    Figura 19. Capa da Revista Kosmos, Novembro de 1908. Fonte:

    http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=146420&PagFis=2675

    Figura 20. Capa da Revista Kosmos, Fevereiro 1909. Fonte:

    http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=146420&PagFis=2675

    Figura 21. Capa da Revista Careta, 10 de Julho de 1909. Fonte:

    http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=083712&PagFis=1

    Figura 22. Capa da Revista Careta, 10 de Junho de 1920. Fonte:

    http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=083712&PagFis=1

    Figura 23. Capa da Revista Careta, 1 de Julho de 1922. Fonte:

    http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=083712&PagFis=1

    http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=083712&PagFis=1
  • SUMRIO

    I. INTRODUO.....................................................................................................................1

    II. A BELLE EPOQUE CARIOCA E A CULTURA DAS LETRAS...................................4

    2.1. O MOVIMENTO LITERRIO...............................................................................4

    2.2. ROMANTISMO NO COMEO DA BELLE POQUE.........................................6

    2.3. REALISMO.............................................................................................................6

    2.4. NATURALISMO.....................................................................................................8

    2.5. PARNASIANISMO.................................................................................................9

    2.6. O SIGNIFICADO DO PR-MODERNISMO.......................................................11

    III. MODERNIZAO, CIDADE E POLTICA................................................................16

    3.1. A MODERNIZAO NA ESTRUTURA DA CIDADE.....................................16

    3.2. A CONSTRUO DO IMAGINRIO AO FIM DA MONARQUIA.................21

    3.3. A CONQUISTA E A VISO DA REPBLICA..................................................27

    IV. A MODERNIZAO E O POVO..................................................................................38

    4.1. TEMPO NA PERCEPO DO HOMEM............................................................38

    4.2. A MODERNIZAO NA ESCRITA E NA IMPRENSA....................................41

    4.3. MUDANA NA CIRCULAO.........................................................................52

    4.4. O PBLICO RECEPTOR.....................................................................................53

    4.5. O COMEAR DO VIVER DA ESCRITA........................................................54

    4.6. O DISTANCIAMENTO DA ESCRITA COM A MODERNIZAO................55

    V. CONSIDERAES FINAIS............................................................................................59

    VI. FONTES............................................................................................................................62

    VII. REFERNCIAS BIBLIOGRAFICAS..........................................................................63

  • 1

    1. INTRODUO

    O cotidiano dos homens e mulheres brasi leiros comeou a se modif icar ao f inal do sculo

    X IX , 1890, no apenas no visual e no ambiente, mas tambm no social. A s ruas estavam

    comeando a ser asfaltadas e deixando de ter espaos para carroas e ani mais, comeavam a

    ser tomadas pelos carros automatizados, lustres e grandes prdios, alm das fabricas.

    O modo de viver se modif icava em conjunto com o seu novo modo de trabalhar e seu

    cotidiano. A s fbricas tomavam conta e ditavam o horrio, e assim o homem comum tinha

    uma alterao completa de seu cotidiano e da sua inf luncia na sua produo no trabalho. O

    homem l i terrio tambm sofreu com as mudanas que ocorriam na cidade, ao contrrio do

    pensamento comum.

    Jornais e revistas estavam mudando seu formato de produo drasticamente alm de suas

    periodicidades. Se antes algum destes queriam um formato mais especif ico, necessitava pedir

    a impresso no exterior e ento ela iria ser distribuda no Brasi l , como era o caso da revista

    Kosmos. Com a mudana industrial era, agora, possvel a real izao no prprio escri trio do

    peridico, alm do mesmo sair em nmeros maiores e com uma frequncia mais assdua,

    fazendo assim ser possvel viver da arte de ser escri tor com mais ef icincia.

    A maneira da informao chegar no f inal do X IX tambm estava se modif icando. Com o

    telgrafo as notcias eram mais dinmicas e informantes eram espalhados ao redor do mundo.

    O Brasi l se inf luenciava de maneira mais constante em suas escri tas, com novas maquinas de

    escrever e de transcrio, com as datas de publicaes muito mais prximas com essas

    modif icaes grandes em seu cotidiano de escri ta, principalmente porque com a mudana

    agora seria possvel viver apenas de l i teratura, graas a demanda.

    A s transformaes tecnolgicas no alteraram apenas a imagem dos jornais e das revistas,

    mas tambm, como dito anteriormente, sua participao nestes. A s imagens agora no s

    eram mero enfeite e raras, agora fazendo grande parte dos textos; a caricatura, fotograf ia e at

    mesmo charge ajudavam a formar o pensamento e a estrutura do texto, que sempre

    acompanhavam, e como o nmero de leitores no crescia conforme o nmero de lanamentos,

    a imagem se era muitas vezes mais efetiva, proporcionando assim o ensaio da comunicao

    de massa. 1

    1 ELEUTRIO, Maria de Lourdes. IMPRENSA A SERVIO DO PROGRESSO. In: Histria da Imprensa no Brasil. Martins, Ana Luza. LUCA, Tania Regina de. Parte II: Tempos Eufricos da Imprensa Republicana. Editora Contexto. SP. Ed. 2. p.83.

  • 2

    A alfabetizao foi um grande foco de investimento para a Nova Repblica e o

    acompanhamento de imagens nestes peridicos era essencial A evoluo tcnica do

    impresso, o investimento na alfabetizao, os incentivos aquisio e/ou fabricao de papel.

    2 a quantidade de jornais e revistas que eram vendidos tambm era uma forma da Repblica

    que havia acabado de se formar ter uma noo de quantas pessoas eram letradas, ou que

    estavam a caminho de se tornarem de fato assim.

    O debate entre os homens de letras da poca, del imitada entre 1890 e 1923, era assduo,

    mas no quanto a questes polticas da poca e sim as mudanas do cotidiano que os estavam

    afetando. A poltica s aparecia quando o assunto eram as mudanas que ocorriam no

    ambiente poltico e social . Bi lac faz uma anlise que corrobora completamente com as

    fotografias que o jornal passava Que no ser quando da velha cidade colonial,

    estupidamente conservada at agora como um pesadelo do passado, apenas restar a

    lembrana? 3.

    Com o questionamento sobre como se inf luncia uma grande maioria i letrada a no

    apenas acreditar na Repblica como tambm mudar toda a perspectiva que se tem quanto ao,

    ento, monarca busco entender qual a participao deste homem de letras, como o moderno

    o ajudou no apenas a aumentar sua importncia no imaginrio popular como o trouxe como

    celebridade.

    A ssim, busco discutir no primeiro capitulo a Belle poque e todas as transformaes

    l i terrias que a mesma trouxe, modif icou e at mesmo criou no Brasi l , discutindo entre estes

    movimentos l i terrios com algumas representaes de autores para exemplif icar o movimento

    e a sua contribuio para a formao de um ideal poltico Brasi leiro.

    No segundo captulo todo o movimento poltico que a Belle poque trouxe em seu

    discurso por estes autores e sua necessidade de Repblica com a democracia da palavra, em

    conjunto com a vinda da Repblica por parte dos mil i tares.

    No ltimo captulo apresento as mudanas que essa perspectiva modernista trouxe para o

    pas e como ela alterou no apenas a imagem do Rio de Janeiro, como tambm o cotidiano e a

    perspectiva do homem comum e o de letras sobre o moderno4 e sobre as atividades cotidianas

    2 ELEUTRIO, Maria de Lourdes. IMPRENSA A SERVIO DO PROGRESSO. In: Histria da Imprensa no Brasil. Martins, Ana Luza. LUCA, Tania Regina de. Parte II: Tempos Eufricos da Imprensa Republicana. Editora Contexto. SP. Ed. 2. p 84 3 ELEUTRIO, Maria de Lourdes. IMPRENSA A SERVIO DO PROGRESSO. In: Histria da Imprensa no Brasil. Martins, Ana Luza. LUCA, Tania Regina de. Parte II: Tempos Eufricos da Imprensa Republicana. Editora Contexto. SP. Ed. 2. p. 93 4 Relativo ou pertencente poca histrica em que se vive.

  • 3

    e suas responsabi l idades assim como tambm os modernismos 5 que trouxe em jornais em

    revistas.

    5 Tendncias e gostos ao que se moderno.

  • 4

    II. A BELLE EPOQUE CARIOCA E A CULTURA DAS LETRAS

    2.1 O MOVIMENTO LITERRIO

    No f inal do sculo X IX , por volta de 1880, se tornou comum no imaginrio popular de

    que o antigo era ruim. Se observando como base a Europa, que j havia passado por grandes

    transformaes f sicas e estruturais em suas cidades e capitais, comeou a se estimular o

    progresso de todas as formas que se era possvel. O Brasi l precisava passar por uma

    modernizao e se espelhar nas grandes civi l izaes, assim o moderno comeava a se tornar

    necessrio e tambm a tomar as grandes capitais do pas.

    A modernizao do espao pblico em conjunto com a nova imagem de civi l izao a ser

    construda a cada instante no Brasi l , principalmente no Rio de Janeiro.

    A tecnologia trouxe a mudana da cidade, a nova perspectiva de futuro e tudo o que

    poderia proporcionar, trouxe a Belle poque em seu auge ao pas entre o f im de do sculo

    X IX e comeo do sculo X X .

    No aluir das paredes, no ruir das pedras, no esfarelar do barro, havia

    um logo gemido. Era o gemido soturno e lamentoso do Passado, do

    A trazo, do Opprobio. A cidade colonial, immunda, retrgada,

    emperrada nas suas velhas tradices, estava soluando no soluar

    daqueles apodrecidos materiaes que desabavam. M as o hymno claro

    das picaretas abafava esse protesto impotente.

    Com que alegria cantavam el las, - as picaretas, regeneradoras! como

    as almas dos que al i estavam comprehendidam bem o que el las

    diziam, no seu clamor incessante e rythmico, celebrando a victoria da

    hygiene, do bom gosto e da arte! 6

    O moderno estava cada vez mais perto e, quase que, indispensvel. Proveniente da Europa

    que estava passando por uma segunda revoluo industrial e por um forte xodo rural , que

    favoreceu um desenvolvimento urbano que trouxe por consequncia avanos nos meios de

    comunicao e de transporte.

    6 Hemeroteca Digital: Kosmos Revista Artistica, Scientifica e Literaria (1904-1909). Maro de 1904. Disponvel em: < http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=146420&pasta=ano%20190>

    http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=146420&pasta=ano%20190
  • 5

    Expandiu-se a perspectiva altamente positivista7 e otimista, com base no desenvolvimento

    tecnolgico, estimulando assim a cincia e todo um novo mundo poltico, assim como a

    educao em conjunto com a bomia. E o Brasi l sempre vendo a Europa como um objetivo,

    principalmente a Frana, logo se seguiu por este rumo, embora aqui tenha se dado de uma

    forma diferente, j que na Europa j havia indstrias e o tempo de trabalho estava sendo

    remanejado, sobrando assim mais tempo para o cidado, no caso de exemplo francs, ter

    tempo para o entretenimento. O brasi leiro estava comeando a entrar e conhecer a indstria e

    seus malefcios quanto a noo e o valor do tempo.

    Considerando que a Belle poque abrangeu um grande perodo de tempo no Brasi l , 1870

    1931, sendo tratado neste trabalho de 1880 1920, a mesma criou uma grande

    transformao l i terria no pas. Trazendo para o cotidiano do homem de letra brasi leiro a

    crnica como uma das suas principais atividades, alm do trabalho rduo em peridicos como

    jornal istas.

    Os movimentos l i terrios no iam de fato contra a Belle poque mas a construam e

    faziam com que seus autores se identi f icassem em alguma parte de seu processo ou at

    mesmo os criassem.

    A imagem que, algumas vezes poderia acompanhar e complementar a crnica serve tanto

    para mostrar o lado mais tecnicista que comeava a acompanhar os jornais como tambm para

    mostrar a nova af l io do homem de letra quanto ao tempo e a sua nova construo.

    A crnica a primeira parte de contato e idealizao. por ela que os homens de letra vo

    tentar alavancar o dito progresso e por ela que vo difundir o pensamento do moderno.

    por ela que, tambm, vo falar da necessidade da Repblica e toda a sua construo

    ideolgica.

    A crnica faz o leitor ter no presente a perspectiva de um futuro ao mesmo tempo e

    quando se vem as novas tipograf ias e se incrementa fotograf ias, charges, caricaturas ao seu

    lado.

    A crnica passa a informar os ares de mudana no Brasi l .

    V rios autores a uti l izam de uma forma diferente, como por exemplo Bilac, que tenta ser

    efetivo sobre seus pensares e sobre o que tem que ocorrer. J M achado de A ssis tenta trazer

    ao leitor uma perspectiva distante para que o mesmo forme uma ideia crtica sobre o assunto e

    assim ter seu prprio pensar. Eucl ides da Cunha e L ima Barreto tentam repensar o que est

    acontecendo com este novo mundo moderno, sua poltica e sua populao.

    7 Ideia de que o conhecimento cientfico devia ser reconhecido como o nico conhecimento verdadeiro.

  • 6

    2.2 ROMANTISMO NO COMEO DA BELLE POQUE

    Pela del imitao de tempo, uti l izada neste trabalho, da Belle poque (1880 1920), a sua

    l i teratura, est somente proposta a segunda parte do movimento l i terrio dito como

    Romantismo, onde o mesmo nas publicaes de folhetins, jornais e revistas comeavam a

    escolher este tipo de l i teratura para mulheres e para jovens estudantes.

    Tratando das prosas que iriam se tornar a base da crnica devido ao seu esti lo de escrita,

    eram publicadas em folhetins sendo o primeiro meio l i terrio da Belle poque, foi por ele que

    a ideia de Repblica e o sentimento de democracia foi espalhado pelo pas. Passando por

    vrios lugares e perspectivas, o romance em prosa foi o que chamou a ateno a primeiro

    momento, trazendo contedos de assuntos variados, de um romance indianista a um romance

    urbano. De algo nacionalista a um rigor l i terrio. Busca-se quase sempre a mesma coisa: A

    valorizao do nacional por todas as perspectivas que se possvel desenvolver.

    Estas conf iguraes l i terrias e o seu contexto de produes comeam a ser transformadas

    ao f inal do X IX e no comeo do X X , quando o romantismo passa a ser transformado e dele

    surgir outros movimentos l i terrios que vo ajudar, estes l i teratos, a ter uma perspectiva sobre

    a real idade, uma vez que os homens de letra tentam, ao f inal, transformar a l i teratura como

    uma misso de educar, trazer o progresso e uma mudana poltica. Uma nova l i teratura surgia

    da que se era visualizada para educar as mulheres e uma nova estrutura para os jovens.

    2.3 REALISMO

    O Realismo trazia uma ideia de positivismo, muito marcada tambm pelos mil itares.

    Torna o homem uma criatura formada nele mesmo com seus prprios conhecimentos, onde a

    real idade e os fatos apresentados so o suf iciente para se obter a crtica sobre o assunto. De

    uma l inguagem direta e objetiva muitas vezes uti l izada para o cenrio poltico.

    O Realismo era um destes movimentos l i terrios que surgiram do romantismo e muito

    representado por M achado de A ssis que alm de escrever sobre temas nacionalistas, tambm

    tinha o foco de escrever para o homem comum, fortalecendo assim muito da sua narrativa.

  • 7

    Semelhante a fotograf ia, nele ao contrario de palavras no existe mentira8, pois o real ismo

    tende a trazer e a discutir o que se est marginal izado, discutindo a pobreza e a explorao,

    um movimento l i terrio que vem em completo contraponto ao romantismo e de fci l

    demonstrao pelos textos de M achado de A ssis na Gazeta de Notcias, principalmente na

    srie Bons dias!.9

    M achado busca, na srie narrada por Policarpo, ser um narrador indiferente, que se busca

    no tomar partido de causa alguma nem trazer uma opinio clara sob o assunto, mas sim fazer

    o leitor construir uma opinio sobre o assunto tratado na srie e at mesmo repensar seus

    acontecimentos.

    Inserido no comeo da modernizao no pas e sob uma ideologia positivista, os

    narradores de M achado de A ssis tm uma qualidade de objetividade nica, acompanhados de

    uma prepotncia, tidos como porta-vozes da verdade, claramente trazendo uma verdade um

    pouco turva em determinadas perspectivas, devido ao autor j ter uma ideia e perspectiva do

    que se ocorria, mas sempre deixando bem claro o que al i passa.10

    E diria ento que ser conservador era ser essencialmente l iberal, e

    que no uso da l iberdade, no seu desenvolvimento, nas suas mais

    amplas reformas, estava a melhor conservao. (...)

    O mais di f ci l parece que era a unio dos princpios monrquicos e dos

    princpios republicanos; puro engano. Eu diria: (...) que considerava

    to necessria uma como outra, no dependendo tudo seno dos

    termos; assim podamos ter na monarquia a repblica coroada,

    enquanto que a repblica podia ser a l iberdade no trono, etc., etc. 11

    Como um narrador que no tem opinio, pois busca trazer a crtica para que o prprio

    leitor a julgue, Policarpo frequentemente zomba do momento poltico do pas. M as em sua

    8 NUNES, Radams Vieira. CRNICAS E CRONISTAS NO RITMO DAS MQUINAS. Emblemas: Revista do Departamento de Histria e Cincias Sociais UFG. Gois. V. 9. N. 1. Semestral, 2012. Disponvel em 9 Hemeroteca Digital. Gazeta de Notcias (1890 1909). Disponvel em: . 10 SANTANA, Joo Rodrigo Arajo. A MODERNIZAO DO RIO DE JANEIRO NAS CRNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908). Universidade Federal da Bahia. Salvador, 2013. 11 Assis, Machado de. Apud. SANTANA, Joo Rodrigo Arajo. A MODERNIZAO DO RIO DE JANEIRO NAS CRNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908). Universidade Federal da Bahia. Salvador, 2013.

    https://www.revistas.ufg.br/emblemashttp://memoria.bn.br/DocReader.aspx?-103730_03&PagFis=0
  • 8

    zombaria tambm trs uma real idade sob a perspectiva, por exemplo a citao acima que so

    ideais que pouco se distanciam, mas que tem uma grande diferena no nome que carregam.

    Personagens como o de Policarpo so um tipo de narrador muito presente em toda a sua

    l i teratura, como por exemplo Bentinho em Dom Casmurro ou Brs Cubas de Memrias

    Pstumas de Brs Cubas.

    A s crnicas escritas por que M achado escreve so retratos de uma perspectiva da polti ca

    brasi leira, mostrando os conf l i tos de uma maneira objetiva, mas trazendo um questionamento

    ao seu leitor, uma forma de dizer as coisas sem de fato jog-las na cara do leitor e fazendo

    exercitar o seu pensamento, no apenas sobre a poltica do pas, mas tambm sobre como o

    homem vive e o que ele .

    A o no se posicionar em suas crnicas, trazendo uma escrita de iseno poltica ele acaba

    cri ticando no apenas a nova crnica, mas o que ela deveria representar para o povo. Ele

    conserva o carter crtico-opinativo e documental da crnica, contudo, o faz associado a um

    alto grau de elaborao literria que camufla a crtica social. 12

    2.4 NATURALISMO

    O Natural ismo uma conjuno de vrias coisas que se discutiam, durante a Belle poque

    principalmente em Escolas, sua l i teratura sendo basicamente formada em tentar expl icar que o

    homem modif icado pelo ambiente ao seu redor e que a natureza inf lui na razo, sua

    ideologia de encontro direto com o darwinismo 13.

    Com o pas indo em busca da modernizao em todos os seus setores, homens

    comeavam a ver a modif icao tanto em grandes metrpoles quanto tambm no interior,

    sendo este mais voltado para a produo: A s maquinas agrcolas comeavam a fazer parte do

    cotidiano do homem do interior, a mudana visual em estrutura f sica no era de fci l

    percepo no interior.

    O indivduo, para o Natural ista, de um produto de hereditariedade e seu comportamento

    fruto da educao e do meio em que se vive, focando assim menos nas classes sociais altas,

    e mais nos indivduos marginal izados e no seu comportamento ou estranhamento com o

    moderno que estava surgindo, ou at mesmo com o novo ri tmo que a metrpole estava

    tomando, e em menor proporo no o interior.

    12 SANTANA, Joo Rodrigo Arajo. A MODERNIZAO DO RIO DE JANEIRO NAS CRNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908). Universidade Federal da Bahia. Salvador, 2013. 13 Teoria evolucionista.

  • 9

    O Natural ismo, carregado de todas as perspectivas do real ismo, leva ao mximo suas

    ideologias positivistas e darwinistas, com um discurso de fazer o indivduo ter uma percepo

    sobre si mesmo somente por meio do conhecimento das letras e das tcnicas cienti f icistas.

    Buscando assim incentivar o conhecimento e a crtica social do ambiente por meio de sua

    l i teratura, trazendo o tempo todo ao questionamento ao leitor.

    2.5 PARNASIANISMO

    O parnasianismo uma verso do real ismo em forma de poesia, em suas ideologias e

    conf iguraes participam da mesma estrutura, s sendo produzida em uma estrutura diferente.

    Representado principalmente por Olavo Bilac, o parnasianismo, assim como o real ismo e

    o natural ismo, tem em suas bases a necessidade de ser objetivo e positivista. A ssim podemos

    ter uma perspectiva sobre as escritas de Olavo Bilac e tambm suas preocupaes ao longo do

    tecnicismo sobre como seria para o homem de letra viver neste novo Brasi l onde produzir

    tinha se tornado algo f rentico.

    O parnasianismo foca muito na forma da rima e de sua produo, a arte pela arte, a

    necessidade de ser descritivo, uti l izando at mesmo f iguras de l inguagem, usando sempre

    palavras que pudessem ao mximo trazer riqueza as rimas.

    Compreende que os objetivos pessoais de um autor, mesmo dentro de um tipo l i terrio,

    interferem muito na maneira do mesmo escrever e para quem escrever. M esmo que o

    parnasianismo seja uma verso em poemas do real ismo, Olavo Bilac, ao contrrio de

    M achado de A ssis, queria j trazer pronto ao leitor uma ideia do que se esperar e desejar para

    o futuro, pois para Bilac a l i teratura era uma forma de trazer o homem a conscincia e assi m o

    mesmo poderia de fato ver e fazer o que era melhor para si e para o futuro do pas.

    Para Bilac, a instruo era essencial para a construo de um futuro de progresso social

    para o Brasi l , progresso que era positivista e tecnicista. Sua viso vinha de um ideal Europeu

    e seu espelhamento para a construo do ideal de nao tambm.

    Bilac pblica na Gazeta de Notcias em 1905, quando a Repblica j instaurada falando

    da necessidade de se estimular a instruo a grandes massas:

    Que o leitor saiba escolher com independncia e critrio o seu

    candidato, ou que pref ira dar ou vender um voto a um incapaz, -

    pouco importa! O que importa que todo homem vlido, sabendo ler

  • 10

    e escrever, queira deste modo af irmar a sua vontade de ser eleitor, de

    ser algum 14

    Para a Repblica se manter, para o Brasi l ser de fato um pas revolucionrio se era

    necessrio que o homem conhecesse o valor da Repblica e da democracia em todos os

    mbitos, e s atravs do letramento ele, o homem i letrado, iria conhecer a importncia e iria

    se reconhecer em meio aquela sociedade que estava se formando.

    A aceitao da Republ ica para estes homens de letra s seria completa se as classes mais

    baixas a aceitassem e uti l izassem do advento de novas tecnologias para a sua construo por

    meio de jornais, crnicas e folhetins. A ssim alm de uti l izarem imagens tambm, havia um

    estimulo por meio das imagens a incentivar o leigo a buscar instruo.

    A Repblica tambm s seria e alcanaria seu auge, como na Frana, se ela tambm

    investisse na educao e no letramento dos homens:

    No sei se o regime republicano pode f lorescer e fruti f icar bem, num

    pas que conta no seu seio mais de dez milhes de analfabetos... O

    melhor meio de honrar o regime e honrar quem o fundou, associar a

    memria do fundador obra santa da instruo primria.

    Cada criana, das que daquela casa continuarem a sair sabendo ler e

    escrever, ser mais uma criatura l ivre, capaz de defender, transformar

    esta Repblica, - que, desgraadamente, ainda parece pensar que pode

    merecer o nome de homem um animal incapaz de decifrar os

    caracteres do alfabeto... 15

    Deixando sempre bem claro seus pensamentos e ideologias e uti l izando deles para

    construir um ideal republicano em conjunto, Olavo Bi lac foi, alm de um dos maiores

    entusiastas da Repblica, um crtico do modernismo que comeava a circular em seu ramo de

    trabalho.

    Olavo Bi lac buscava tambm por meio de suas palavras em crnicas e poemas levar a

    instruo para, assim, o pas se desenvolver de fato e poder ser comparado as grandes naes.

    14 BILAC, Olavo. Apud. Montilha, Thiago Roza Ialdo. OLAVO BILAC E A QUESTO DA INSTRUO NO BRASIL (1897 1908). Revista Intellctus. Ano XIV. N 1. Rio de Janeiro, 2015. 15 BILAC, Olavo. Apud.: Montilha, Thiago Roza Ialdo. OLAVO BILAC E A QUESTO DA INSTRUO NO BRASIL (1897 1908). Revista Intellctus. Ano XIV. N 1. Rio de Janeiro, 2015.

  • 11

    2.6 O SIGNIFICADO DO PR-MODERNISMO

    Como muito discutido na nova l i teratura o pr-moderno no se trata diretamente de um

    movimento l i terrio, mas de uma transio. O pr-modernismo pode ser encaixado em todos

    os autores que neste trabalho discutido, principalmente focando em L ima Barreto, Eucl ides

    da Cunha e M onteiro Lobato.

    Suas principais caractersticas, antes do triunfo do moderno, esto na af irmao da

    l inguagem informal, produo l i terria, crnicas, poemas, etc. produo no geral pois sua

    maior preocupao era chamar a ateno do pblico comum.

    Buscando ter em foco o que acontece no Brasi l , o jornal e a revista seriam como lugares

    de informes para o que se ocorria no pas: os problemas sociais eram amplamente discutidos.

    Conf l i tos, misria, a condio da vida em si destas pessoas, ento, marginal izadas e como

    uma maneira de chamar a ateno para elas em todos os aspectos possveis (sociais e

    polticos) para assim ter como uma forma de mudar ou at mesmo de fazer o moderno chegar

    at eles.

    A descrio do ambiente tambm era importante para a formalizao e demonstrar o que

    de fato est se passando, com as novas tipograf ias as fotograf ias, charges, desenhos e

    caricaturas muitas vezes vindo em conjunto com o escrito para demonstrar ou reforar a

    imagem do que era discutido e narrado.

    M as o Brasi l Repblica no se formou exatamente da maneira que os homens de letra

    haviam idealizado ao longo de sua formao. Conf l i tos sociais, reprovaes e contestaes de

    algumas novas leis, tudo isso fazia o homem de letras se questionar em sua escrita o que

    estava sendo vivido ou consideravam mudar como misso:

    Da caracterizar os seus textos essa concepo de um mundo

    brumoso, quase mergulhado nas trevas, sendo unicamente perceptvel

    o sofrimento, a dor, a misria e a tristeza a envolver tudo, tristeza que

    nada pode espantar ou reduzir. H nos seus l ivros um roteiro de

    busca, no s da sol idariedade perdida, mas de uma nova que o futuro

    prometia. 16

    16 SEVCENKO, Nicolau. In: Literatura como Misso: Tenses Sociais e Criao Cultural na Primeira Repblica. Ed. Companhia das Letras: So Paulo. 2 Ed. 2003. p. 144.

  • 12

    Fazer o homem compreender o outro poderia trazer ao Brasi l aquilo o que a Repblica

    estava, de certa forma, ignorando. A conscincia do homem sobre o outro homem poderi a

    sim, fazer o pas um lugar melhor, tanto ideologicamente quanto socialmente.

    A Repblica de alguma forma parecia ter causado uma degenerao cultural, sobretudo no

    jornal ismo, com a velocidade de circulao da escrita, e com isso buscando questionamentos

    por meio do pbl ico i letrado, ento marginal izado.

    Estes autores buscavam ento ao mximo para fazer com que as suas histrias fossem f ies

    e retratando o que de fato ocorria, distinguindo-se assim em duas possveis vertentes: uma de

    renovao e a de resistncia ao que al i estava proposto.

    Eucl ides da Cunha era um destes autores que no s retratou o homem marginal izado

    como uti l izou das reas marginal izadas como cenrio de seus romances, explorando

    momentos reais como a Guerra de Canudos, quando o mesmo escreve Os Sertes.

    Eucl ides tambm passou por uma grande decepo com a Repblica e seus ideais, uma

    vez que ia contra o que o mesmo aprendeu e vivenciou na A cademia M il i tar e passou por

    dentro dela, por vrios cargos. duas idades que se opunham pela prpria raiz da sua

    identidade: o sculo X IX l i terrio, romntico e idealista; e o sculo X X , cientf ico, natural ista

    e materialista. 17

    Trouxe cri ticas a Republica por meio de suas obras, considerando uma obra que poderia se

    relacionar com vrias coisas: geogrf icas, histricas. Suas crticas nesta obra trazem

    questionamentos sobre suas crenas cienti f icas e f i losf icas que circularam durante o

    movimento Republicano.

    uma seleo natural invertida: a sobrevivncia dos menos aptos, a

    evoluo retrgada dos alei jes, a extino em toda a l inha das belas

    qualidades de carter, transmutadas numa incompatibi l idade vida, e

    a vitria estrepitosa dos fracos sobre os fortes incompreendidos...

    Imaginai o darwinismo pelo avesso aplicado histria... 18

    L ima Barreto tambm busca em suas crnicas um personagem que marginal izado pela

    modernizao, o homem do interior que vai a capital em busca de uma nova vida, que no

    17 SEVCENKO, Nicolau. Literatura como Misso: Tenses Sociais e Criao Cultural na Primeira Repblica. Ed. Companhia das Letras: So Paulo. 2 Ed. 2003. 18 CUNHA, Euclides da. Apud.: SEVCENKO, Nicolau. Literatura como Misso: Tenses Sociais e Criao Cultural na Primeira Repblica. Ed. Companhia das Letras: So Paulo. 2 Ed. 2003.

  • 13

    entende o que est acontecendo ao seu redor. O homem que no tem onde morar, ou at

    mesmo que se v sem perspectiva poltica sobre tudo o que se est sendo formado diante dele.

    No sou contra a inovao, mas quero que no rompa de todo com os processos do

    passado, seno o inovador arrisca-se a no ser compreendido19. Toda a sua ideia de

    modernismo o fez buscar solues originais para as suas crnicas e as tornarem mais

    suscetveis a todas as novas formas de se produzir. Produzindo assim crnicas cheias de

    ironias e as justificando logo depois: A ironia vem da dor.20

    E essa dor constante em seus romances, como forma de mal-estar ou at mesmo como

    dor pelo o que seus protagonistas vivem, como Isaias que sofre por sua cor, sofre pela

    si tuao que submetido e causa dor ao autor:

    Despertei hoje cheio de um mal-estar que no sei de donde me veio.

    Nada ocorreu que o determinasse. [ ...] Penso no sei por que que

    este meu livro que me est fazendo mal [...]21

    Sentia-me sempre desgostoso por no ter ti rado de mim nada grande,

    de forte e ter consentido em ser um vulgar assecla e apaniguado de um

    outro qualquer. [ ...] Por que o tinha sido? Um pouco devido aos outros

    e um pouco devido a mim.

    [ ...]

    A nossa humanidade j no sabe ler nos astros os destinos e os

    acontecimentos. 22

    Em suas obras L ima Barreto deixa claro que a real revoluo do Brasi l ou at mesmo a

    formao de uma verdadeira repbl ica s seria possvel se prestar ateno nesta pessoa

    marginal izada, olhar mesmo para o prximo um conjunto de leis no faziam de fato um

    governo ser para todos. Um conjunto de leis para pessoas que viviam sob cus to diferentes

    no resolviam seus problemas, potencialmente, poderia aumenta-los. 23

    19 BARRETO, Lima. Apud.: SEVCENKO, Nicolau. Literatura como Misso: Tenses Sociais e Criao Cultural na Primeira Repblica. Ed. Companhia das Letras: So Paulo. 2 Ed. 2003. 20 SEVCENKO, Nicolau. Literatura como Misso: Tenses Sociais e Criao Cultural na Primeira Repblica. Ed. Companhia das Letras: So Paulo. 2 Ed. 2003. 21 BARRETO, Lima. Apud.: FIQUEIREDO, Carmem Lcia Negreiros. O MAL-ESTAR DE ISAAS: A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO. Pensares em Revista, So Gonalo Rio de Janeiro. N 1. Semestral. 2012 22 BARRETO, Lima. Apud.: FIQUEIREDO, Carmem Lcia Negreiros. O MAL-ESTAR DE ISAAS: A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO. Pensares em Revista, So Gonalo Rio de Janeiro. N 1. Semestral. 2012 23 SEVCENKO, Nicolau. Literatura como Misso: Tenses Sociais e Criao Cultural na Primeira Repblica. Ed. Companhia das Letras: So Paulo. 2 Ed. 2003.

  • 14

    J M onteiro Lobato no era de fato contra a modernizao e, muito menos aos benefcios

    que a mesma poderia trazer em todos os sentidos para a popul ao. O mesmo escreve:

    Oswaldo, Gaspar V iana, Chagas, Neiva, Lutz, A strogi ldo, Chaves,

    V i lela e Belisrio Pena f izeram num lustro o que a legio de

    chernovizantes anteriores no fez num sculo. No que no sejam

    criaturas de exceo, gnios incendiados de fagulhas divinas; mas

    simplesmente porque, aparelhados com os mtodos modernos,

    trabalharam norteados pelo seguro critrio pasteuriano. 24

    M onteiro Lobato mesmo apoiando a modernizao, divulga em suas obras o interior e o

    trabalho no mesmo, usando de descrio do meio rural, do homem caipira que trabalha na

    terra em sua obra, como Jeca Tatu.

    Seguindo o que L ima Barreto e Eucl ides da Cunha j tinham escrito, M onteiro Lobato

    tambm rompe com o passado, apresentando inovaes sobre regionalismo e tambm a

    real idade rural brasi leira, expondo a misria do homem de campo de forma real ista.

    M onteiro Lobato tentava criar com o seu leitor um sentimento de nacionalismo quanto a

    terra e ao pas, demostrando assim uma espcie de denuncias contra ao homem rural, a falta

    de educao, sua marginal izao em um contexto geral.

    Em seu discurso, o pas apenas no se desenvolvia porque o conhecimento no chegava

    neste homem rural, sendo assim ele se tornava mais suscetvel a todo dano possvel causando

    assim o estrago e atraso a nao.

    Este homem do campo, retratado por M onteiro Lobato, no conhecia as alegrias de ser um

    ser poltico e nem se preocupava com isto: O fato mais importante de sua vida sem dvida

    votar no governo25. Diante destas af irmaes e o que o pas passava que M onteiro af irmava

    que faltava civismo neste homem do interior. Trazendo o exemplo para o seu prprio

    personagem Jeca Tatu.

    Jeca, que para o autor tudo de pssimo que o homem pode ser, a comprovao disto,

    uma vez que o mesmo diz que ele cuida de suas doenas por meio de misticismo.

    M onteiro Lobato defendia o progresso do pas e qualquer benef icio que o mesmo

    trouxesse para a nao, principalmente na sade do povo.

    24 LOBATO, Monteiro. Problema Vital, Jeca Tatu e outros textos. Ed 1. So Paulo: Editora Globo, 2010. 25 LOBATO, Monteiro. Problema Vital, Jeca Tatu e outros textos. Ed 1. So Paulo: Editora Globo, 2010.

  • 15

    O M odernismo e o Progresso eram to rpidos e velozes que L ima Barreto mesmo iria

    cri ticar que, no se tinha tempo nem ao mesmo para classif icar os tipos l i terrios e como eles

    ocorriam ou quais suas separaes.

    Ns no temos mais tempo nem o pssimo critrio de fixar

    rgidos gneros l i terrios, moda dos retricos clssicos com

    produes do seu tempo e anteriores. Os gneros que herdamos e que

    criamos esto a toda hora a se entrelaar, e se enxertar, para variar e

    atrair. 26

    A l i teratura e a sua formao andam em conjunto com os ideais que todo o movimento

    cultural e poltico da Bel le poque construiu e desenvolveu, com autores participando para o

    seu desenvolvimento ao longo de sua formao, conseguindo compreender os problemas

    sociais e polticos alm de todos os questionamentos que este moderno trs tanto para o

    homem comum, quanto para esses escri tores e tambm suas angustias e esperanas.

    26 BARRETO, Lima. Apud.: SEVCENKO, Nicolau. Literatura como Misso: Tenses Sociais e Criao Cultural na Primeira Repblica. Ed. Companhia das Letras: So Paulo. 2 Ed. 2003. p. 194.

  • 16

    III. MODERNIZAO, CIDADE E POLTICA

    3.1 A MODERNIZAO NA ESTRUTURA DA CIDADE

    O Brasi l ao f inal do sculo X IX passava por uma grande reforma urbana, que

    modernizaria a ento capital . A modernizao passa em todos os mbitos possveis: sanitria,

    social e econmica. A grande reformulao econmica era a que, a primeiro momento,

    possibi l i taria a restaurao econmica e assim possibi l i taria de fato a entrada da

    modernizao, afastando as pessoas de baixa renda para as margens e mudaria toda a estrutura

    da cidade.

    O Rio de Janeiro aproveitava de todo o seu novo espao poltico e econmico mundial

    (com cafezais) para a suas modif icaes, a construo de ferrovias e ampliao das mesmas

    junto com a maior faci l idade para a comunicao com outros estados do pas e regies em

    conjunto com novos grupos sociais, principalmente, os burgueses se expandindo. O Rio de

    Janeiro abria espao cada vez mais para a instalao de indstrias e outros mercados que

    consomem mos de obra.

    Para se comparar com outras grandes capitais do mundo o Rio de Janeiro precisava

    tambm cuidar de sua imagem fsica. Com a grande migrao por todo o pas para a cidade

    que era muito maior do que a cidade suportava, trouxe ento um lado negativo para a imagem

    do Rio com a criao de favelas e com vrios moradores de rua. O resto do mundo precisava

    acreditar que o pas era de fato prospero e a imagem que a capital passava era apenas de

    desconforto, imundcie e promiscuidade27.

    Os homens de letra, novamente, se demonstravam de vrias formas contra e a favor dessa

    nova movimentao para a higienizao da cidade do Rio de Janeiro, na seguinte citao de

    Olavo Bi lac (1881 1922) podemos ver:

    O Brasil entrou e j era tempo em fase de restaurao do

    trabalho. A higiene, a beleza, a arte, o conforto j encontraram

    quem lhes abrisse as portas desta terra (...). O Rio de Janeiro,

    27 SEVCENKO, Nicolau. A INSERO COMPULSRIA DO BRASIL NA BELLE POQUE. In: Literatura como Misso: Tenses Sociais e Criao Cultural na Primeira Repblica. Ed. Companhia das Letras: So Paulo. 2 Ed. 2003. p. 41.

  • 17

    principalmente, vai passar e j est passando por uma transformao

    radical. A velha cidade, feia e suja, tem os seus dias contatos. 28

    Os cronistas consideravam isso uma regenerao da prpria cidade pois afetava tudo que

    nela coexistia desde os moradores que, os que no tinham renda, subiam os morros e assim se

    estruturava de fato as favelas do Rio, quanto aos que tinham de fato a renda e modif icava as

    estruturas antes colnias para agora modernas, no aceitando mais a lembrana f sica da

    Repblica. De fato tudo se modif icava, inclusive as lembranas culturais se chegava a

    condenar at hbitos l igado a cultura tradicional.

    Durante muito tempo o pas esteve l imitado a escolhas da metrpole, Portugal, sendo

    assim por muitos anos a imprensa peridica se v limitada e sob vigilncia e represso das

    autoridades29. A imprensa comeou a ser mais dispersa apenas com a chegada da Corte.

    A s mudanas no eram apenas na ideologia do povo, grandes mudanas eram percebidas

    nas ruas de maneira estrutural e de hbitos: A s fbricas, a Rua do Ouvidor, as modif icaes

    do cotidiano comeavam al i e toda a mudana pol tica tambm, quem quisesse saber o que de

    fato estava ocorrendo i ria naquele beco e ento descobriria os novos hbitos, gostos,

    prof isses, poltica, tudo o que o homem moderno achava que precisava.30 O novo cultural do

    pas.

    Por esse beco sujo que resumia a vida nacional transitavam

    capital istas, polticos, jornal istas, l i teratos, damas da sociedade,

    funcionrios pblicos, mas tambm cocottes, moas do subrbio,

    moleques vendedores de jornais, comerciantes, caixeiros, empregados,

    operrios e os famosos bomios. (MELLO, 2007) 31

    28 Olavo Bilac, Revista Kosmos, 1 janeiro de 1904. Apud: SEVCENKO, Nicolau. A INSERO COMPULSRIA DO BRASIL NA BELLE POQUE. In: Literatura como Misso: Tenses Sociais e Criao Cultural na Primeira Repblica. Ed. Companhia das Letras: So Paulo. 2 Ed. 2003. p. 43. 29 MOREL, Marco. OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA. In: Histria da Imprensa no Brasil. Ed. Contexto. So Paulo, 2013. p. 23. 30 MELLO, Maria Tereza Chaves. NO OLHO DA RUA: VALORIZAO E AMPLIAO DO ESPAO PBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DCADA DE 1880. In: A Repblica Consentida: Cultura democrtica e cientfica do final do Imprio. Ed. FGV. Rio de Janeiro, 2007. p. 58. 31 MELLO, Maria Tereza Chaves. NO OLHO DA RUA: VALORIZAO E AMPLIAO DO ESPAO PBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DCADA DE 1880. In: A Repblica Consentida: Cultura democrtica e cientfica do final do Imprio. Ed. FGV. Rio de Janeiro, 2007. p. 58

  • 18

    Figura 1. Fotograf ia da Rua do Ouvidor em 1890

    Imagem 1: Fotografia de M arc Ferrez. 1890. Publicao uma co-edio Steid/IM S. Disponvel em: <

    http://fotografia.ims.com.br/si tes/#1527248423762_13>

    A diversidade de frequentadores era ntida. A Rua do Ouvidor aumentou a sua

    visibi l idade, no apenas para quem ali existia. Seu dia era completamente f ludo contendo a

    todo o momento em todos os horrios movimentao do mais varivel grupo possvel: No

    primeiro horrio do dia era abastecida pelos al imentos, leiteiros e verdureiros, logo aps as

    donas de casa simples, as oito os funcionrios pblicos e em seguida os estudantes. As 10

    horas a Rua do Ouvidor atingia o seu pblico mximo: Patres e capital istas. O mundo

    burgus comeava a se apossar da Rua.

    http://fotografia.ims.com.br/sites/#1527248423762_13
  • 19

    A Rua do Ouvidor havia se transformado na alma do Rio de Janeiro, sendo al imentada por

    todos que al i viviam e passavam, de bomios a donas de casas que queriam gastar o dinheiro

    de seus maridos capital istas, de empregados de fbrica aps o expediente a artistas de teatro.

    O que al i acontecia todo o pas f icava sabendo, os jornais que al i residiam eram vendidos em

    todo o pas, a Rua do Ouvidor em si era notcia.

    A Revista I l lustrada32, em seu nmero 434 de 19 de junho de 1896 tem uma crnica sobre

    a Rua do Ouvidor:

    A Rua do Ouvidor, pois, sem ter os elementos para ser o

    melhor ponto de reunio da populao, falta de melhor com esse

    monopl io.

    A pouco e pouco, as suas lojas e estabelecimentos, foram-se

    reformando, com certa elegncia, ostentando vistosas vitrines, aonde

    aparecem as novidades.

    (...)

    Tudo isso, que se vae vendo de passagem junto ao encontro, a

    cada passo, de um amigo que nos diz uma ba palavra, de um

    conhecido que nos aperta a mo, de outra pessa a quem presisavamos

    perguntar qualquer coisa, faz com que a Rua do Ouvidor se imponha,

    quer queiram, quer no.

    (...)

    A ssim, todos os habitos de elegancia e exibio esto

    transtornados. 33, 34

    A Rua do Ouvidor crescia conforme o Rio de Janeiro se desenvolvia, como uma simbiose.

    Jornais clamavam por reformas governamentais, comeava a se formar uma intensa e enorme

    atividade poltica e cultural, dando assim espao para a propaganda republicana.

    E toda a importncia que se dava a Rua do Ouvidor era o fci l acesso que a modernizao

    trouxe. O bonde se tornou comum para ir e voltar da cidade e a rua como uma grande amostra

    do que o moderno poderia oferecer, acabava se tornando o destino f inal de muitos,

    principalmente da faml ia, em busca de compras, diverso ou apenas das fofocas do dia. 32 Revista Abolicionista e Republicana que teve sua origem no Rio de Janeiro, circulada entre 1876 1898. 33 Todas as palavras foram mantidas iguais a do artigo. 34 Hemeroteca Digital: Revista Illustrada (RJ) 1876 1898. N 434. Anno 11. Rio de Janeiro, 19 de Junho de 1886. p. 6. Disponvel em:

    http://memoria.bn.br/DocReader.aspx?bib=332747&PagFis=3093&Pesq=
  • 20

    A fci l circulao, fazia os assuntos serem mais fceis de serem espalhados e tambm

    trazia importncia a quem os produzia, no caso os homens de letra, ganhando assim a

    popularidade e tambm a relevncia que eles necessitavam para divulgar as suas ideias, se

    tornavam fci l celebridades onde, qualquer um que tivesse acesso a um jornal ou revista,

    queria a ateno, na Rua do Ouvidor, eram verdadeiros astros.

    Logo a Rua do Ouvidor era claramente o corao do pas onde se entrava, de certa forma

    leigo ou sem participar de fato da vida tanto do pas em questes gerais quanto do prprio Rio

    de Janeiro, e se saia completamente cheio de informao e de vrios carteres diferentes: de

    conhecimento poltico a de l i teratura, do ltimo pronunciamento do M onarca quanto a

    prxima cor da estao, de uma pessoa completamente sem vcios a uma que conhecia todos

    eles pois a rua era isso: A presentadora da vida.

    Todos sentem em sua existncia um grande vcuo. a falta da Rua

    do Ouvidor35

    Uma vez que se participava de tal cenrio que a Rua oferecia com seus cafs, hotis,

    l ivrarias, lojas, teatros e principalmente das pessoas que al i circulavam, j se fazia de certa

    forma parte de, alm de todo um novo mundo, da formao de um novo lugar. A Rua sempre

    se modif icava e modif icava a todos, principalmente devido ao grande f luxo de pessoas que se

    migravam para a cidade, aumentando ainda mais a diversidade cultural.

    A s grandes lojas de renome, em todos os aspectos, em conjunto com aquela rua apertada,

    com pouca luz faziam as histrias e as fofocas circularem al i naquele meio que apesar dos

    pesares era o corao da cidade e dos homens todo este conjunto trazia assim, l i teralmente,

    todos os tipos de pblico para aquele lugar especif ico do Rio de Janeiro.

    Cercada de atividade econmica ela se f lua tambm, a nova demanda da Europa por

    matrias primas aproximava o Rio de Janeiro cada vez mais a modernizao, o que em

    conjunto com os pedidos dos jornais pela democracia, se tornou um problema para o Regime

    Imperial Brasi leiro que comeava a sofrer presses de todos os lados possveis mostrando sua

    35 Hemeroteca Digital: Revista Illustrada (RJ) 1876 1898. N 434. Anno 11. Rio de Janeiro, 19 de Junho de 1886. p. 6. Disponvel em:

    http://memoria.bn.br/DocReader.aspx?bib=332747&PagFis=3093&Pesq=
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    impotncia em mais dos diversos assuntos logo se viu incapaz de se adaptar e de responder s

    exigncias do progresso.36

    3.2 A CONSTRUO DO IMAGINRIO AO FIM DA MONARQUIA

    A construo de todo um imaginrio por meio das novas tecnologias que chegavam ao

    pas contribuiu para a queda da monarquia, e para que a Republica fosse aceita pelo cidado

    comum, mesmo que o imperador D. Pedro I I tenha tido de fato uma boa imagem, o que

    circulava sobre ele de fato no era to positivo assim.

    Com um grande nmero de pessoas que migravam para o Rio de Janeiro em conjunto com

    as novas divulgaes sobre o que acontecia ou deixava de acontecer com a coroa e a sua falta

    de capacidade contriburam para essa ideia do governo monrquico no ser o ideal para o pas

    que estava se formando e muito menos para o seu povo.

    Uma narrativa estava sendo criada ao longo dos anos, uti l izando charges, crnicas,

    notcias e piadas, e cada vez mais essa narrativa entrava no imaginrio do povo e se fazia

    presente no espao pbl ico, que tambm, como j citado, estava aumentando.

    36 MELLO, Maria Tereza Chaves. NO OLHO DA RUA: VALORIZAO E AMPLIAO DO E SPAO PBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DCADA DE 1880. In: A Repblica Consentida: Cultura democrtica e cientfica do final do Imprio. Ed. FGV. Rio de Janeiro, 2007. p. 63, 76.

  • 22

    Figura 2. Charges caoando do M onarca e de suas decises.

    Imagem 2: Colagem. Fonte: Hemeroteca Digi tal : Revista I l lustrada, Rio de Janeiro, 21 de janeiro de 1882. Disponvel em:

    Se criava uma estrutura para se difundir a falha da M onarquia: jornais e escri tores se

    esforavam para alm de l igar a monarquia a algo atrasado, mas para forar a incompetncia a

    imagem do Imperador - no s por palavras, como j dito, mas como em charges e no s

    l igado a imagem dele individual , mas em toda sua estrutura governamental e seus apoiadores.

    A imagem busca um desenvolvimento de uma falta de capacidade do Imprio como a

    rapidez e desenvoltura sobre tudo que estava ocorrendo em conjunto com um pouco da falta

    de crena do poder das publicaes quanto ao povo.

    A s imagens acima tentam construir exatamente esse sentimento de desaprovao quanto

    ao M onarca, uma vez que elas no s caoam de sua aparncia, como tambm de suas

    escolhas polticas. Como dito anteriormente, as charges serviam para auxi l iar a parte do povo

    analfabeta e a conduzir um determinado tipo de pensamento e crtica ao mesmo, no

    necessariamente precisando de legenda, mas contendo-as mesmo assim com uma mensagem

    to expl ici ta quanto a prpria caricatura.

    A s legendas em ordem so:

    http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=332747&PagFis=2011&Pesq
  • 23

    2. As fallas do throno fabricadas pelos nossos governos parecem no ter outro f im

    seno abalar o prprio throno e colocar a monarchia em tristssima posio.

    3. Se a proteco imperial s para ingls, ver, e se a cora est circumscripta por

    um grande zero constitucional.

    4. Ns, que temos pela monarchia todo o respeito e devido acatamento, no podemos

    sem rir, (o que muito feio) ver o nosso Imperial Senhor metido em papos de

    tucano37, ou antes em papos de aranha, obrigado dizer o que no pensa etc e tal

    5. Todos os cidados grandes e pequenos, ricos e pobres, foram de opinio que a tal

    fala, no val ia quatro costados38 e merecia que se lhe atirasse com um gato morto.

    M esmo que a legenda traga em complemento a interpretao da imagem por si s j se

    expl ica o suf iciente e geralmente so feitas seguindo a ordem das notcias ou do que foi o

    mais importante retratado no volume daquele lanamento, podendo ser, assim de variados

    assuntos ou de um principal que no caso desta foi a tristeza das falas de sua Excelncia o

    Imperador sobre a composio da nova cmara em vrios aspectos.

    Histrias falsas sobre a M onarquia eram espalhadas o tempo todo, e at mesmo as reais

    eram constantemente aumentadas ou extremamente divulgadas, dando uma importncia no

    to positiva. A f igura imperial de D. Pedro era constantemente caoada e consequentemente

    perdia sua sacral idade.

    Histrias sobre sua carruagem constantemente quebrar e despencar, histrias sobre o

    monarca ser roubado, e a falta de respeito que o povo tinha com esse roubo, histria esta que

    rendeu at mesmo um drama satrico-burlesco de A rthur A zevedo39 e peas de teatro,

    histrias sobre a vida sexual do monarca dizendo que o mesmo poderia ou era um pedf i lo,

    rendiam pginas inteiras e em vrios segmentos, em jornais de grande circulao na poca

    como Gazeta de Notcias e a Revista I l lustrada.

    O jornal ismo da poca se esforava para retirar o respeito do monarca quanto ao povo e

    demonstrar a falta de capacidade que o mesmo tinha, ou mesmo comeava a ter, se havia um

    esforo para criar um novo sentimento negativo quanto a monarquia, sentimento que a

    republica iria al iviar e no apenas, mas tambm melhorar.

    37 Expresso muito utilizada que significa estar em situao complicada, difcil, emergencial. Mais conhecida I ; SW ;;; go pode ser encontrada de forma variada. 38 Expresso que significa no valer de onde veio, tanto vale para terra ou para grupo familiar. 39 MELLO, Maria Tereza Chaves. NO OLHO DA RUA. In: A Repblica Consentida: Cultura democrtica e cientfica do final do Imprio. Ed. FGV. Rio de Janeiro, 2007. p. 47.

  • 24

    Qualquer mnimo erro do monarca, ou algo que pudesse ser considerado como, podia se

    tornar manchete de jornal e satirizado por charges, como tambm poderia virar pea de teatro,

    no seguinte caso na abertura de uma bibl ioteca a Revista I l lustrada publica:

    Abertas, com as mesmas formalidades da fala do throno e todas as

    maisculas do alfabeto: S.M . no esqueceu nem os papos de tucano,

    nem o congratulo-Me com M de grande de cada ano.

    (...)

    S.M . parece atirar ao l ixo, como umpuras, i l legaes e viciadas, todas as

    camaras que at hoje tem legislado para o paiz, que el le jurou ser a

    menina de seus olhos; no seu puf cmara actual, pouco se lhe d de

    deixar ver claramente que todos os augustos e dignssimos que foram,

    no passaram de falsos eleitos. (...)

    Foi naturalmente ofuscado pelo bri lho dos novos ses do subsidio, que

    S.M ., to pouco enxergou nas necessidades do paiz e nos deu uma fala

    do throno magra e ca como uma chronica sem assumpto.

    Eu nunca vi cora mais genrica, mais l igeira; jamais se vio uma fala

    do throno menos loquaz. Parece que o Sr. D. Pedro segundo nada

    tinha, desta vez40

    A s decises polticas-sociais tambm no estavam chegando a agradar a grande maioria

    da populao, algumas medidas criadas pelo ento governo faci l i tavam na verdade esse

    sentimento de desgosto e contribua para a imagem que alguns jornais republicanos se

    empenhavam em passar, como por exemplo formar o corpo eleitoral por menos de 1% da

    populao de todo o pas.

    Como j citado, as imagens eram o foco principal para esses homens de letra, pois sabiam

    por ela a informao circulava, formando-se assim o principal meio de divulgao do que

    ocorria e da mensagem que deveria ser passada. A inda mais com o conhecimento de que a

    maior parte da populao no ser letrada, com o povo absorvendo as informaes que elas al i

    passavam, se tornavam mais fci l a disseminao do discurso como a aceitao delas em um

    futuro para a criao de sua formao.

    40 Revista Illustrada, 21 de janeiro de 1882, n 283. Disponvel em:

    http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=332747&PagFis=1997&Pesq
  • 25

    A s charges claramente se baseavam em fatos que ocorriam com a monarquia, ti rando

    sarro de suas aes e decises. A ssim, a monarquia passava por uma srie de crticas variadas

    que partiam do popular, com a falta de capacidade que o ex-monarca parecia ter tanto do pas

    quanto de si mesmo. Na Revista I l lustrada de 1 de maro de 1890:

    Tanto mais que no pretendo deitar abaixo bibliotecas, para discutir,

    por exemplo... o caso da situao precria do Sr. D. Pedro de

    A lcantara. (...) Uma vez que o telefrapho nos deu a noticia que o ex-

    imperador luctava com dif iculdades para ocorrer para ocorrer s suas

    despesas e que essa noticia confrageu o corao dos brasi leiros

    mandava o senso commum, que se aguardasse o procedimento do

    governo provisrio, que podia fazer como realmente fez um

    adiantamento por conta do bens daquele, que, alm de outras virtudes,

    teve a de ser sempre, como monarca, um exemplo de probidade e

    houradez Barbadinho.41

    A Repblica que era algo de extrema necessidade para esses jornal i stas e homens de letra.

    No qualquer forma de Repblica, mas aquela que trazia a deciso para o seu povo, aquela

    que levava a l iberdade poltica ao homem comum de decises e questionamentos, decises

    para um lder para o Brasi l que necessitava disto para,42 segundo esses homens, se tornar uma

    grande potncia, como as suas transformaes estavam pedindo. O futuro do Brasi l estava em

    seu grupo, s que em um governo Republicano.

    A Repblica ser sinnimo de l iberdade, com a disseminao dessa ideia de um sentimento

    de mudana e que ele s podia ser completado ou real izado pela mudana governamental:

    A ssim apenas a Repblica tinha essa capacidade.

    A l iberdade era algo essencial para esses homens de letra e reforavam para a populao o

    tempo todo que ela era a essncia de cada um em seu espao: Um homem s era l ivre de fato

    se o seu pas fosse l ivre e um pas s l ivre se a sua imprensa for l ivre.

    M esmo com a l iberdade de imprensa assegurada demorou-se alguns anos para de fato ser

    efetiva. A umentou sim o movimento de imprensa, mas se acrescentava vrias outras

    41 Hemeroteca Digital: Revista Illustrada (RJ) 1876 1894. Nmero 580. Anno 15. Rio de Janeiro, 1 de maro de 1890. p. 6. Disponvel em: 42 CARVALHO, Jos Murilo. UTOPIAS REPUBLICANAS. In: A Formao das Almas, O Imaginrio da Repblica no Brasil. Ed. Companhias das Letras. So Paulo, 1939. Ed. 7. p. 17.

  • 26

    preocupaes nessa nova imprensa l ivre que variavam nos movimentos polticos, mas a

    l iberdade adquirida se era valorizada e reforada sempre que possvel. Cipriano Barata (1762

    1838) entusiasta da Republica e a Independncia do Brasi l , pbl ica em Sentinela da

    L iberdade (1823) 43:

    Toda e qualquer Sociedade, onde houver imprensa livre, est em

    l iberdade; que esse Povo vive fel iz e deve ter aumento, alegria,

    segurana e fortuna; se, pelo contrrio, aquela Sociedade ou Povo, que

    tiver imprensa cortada pela censura prvia, presa e sem l iberdade, seja

    debaixo de que pretexto for, povo escravo, que pouco a pouco h de

    ser desgraado at se reduzir ao mais brutal cativeiro. 44

    A l iberdade era essencial para o povo no viver em estupidez e para isso se era necessrio

    a primeiro momento criar algo em comum com os homens para ento passar a ideia do que de

    fato era a Repblica e a essncia da l iberdade, para depois formar a ideia de nao para estes

    possveis e futuros Republicanos e as Charges e Imagens eram o principal meio de passar a

    ideia no imaginrio de que o governo no era capaz de governar e nem de oferecer este

    objetivo.

    Com essa ideia sendo reforada tantas vezes e com formas diferentes deixa de ser apenas

    um sentimento abstrato ou algo sem formato, agora para esses autores, jornais e futuros

    polticos, a ideia tinha um corpo e uma forma e apenas uma forma de existi r. A L iberdade era

    o sentimento menos abstrato que o homem de letra sentia a necessidade e a ideia mais bem

    formada.

    A Republica era o sinal de que a palavra seria como o governo: Democrtico e l ivre. Sem

    censura e sem l imites para qualquer um que pudesse, ou quisesse usa-la, bastava conhecer a

    palavra, assim como o direito de ser l ivre e poder exercer seu poder poltico.

    Em conjunto a opinio poltica s se era ouvida de fato se o eleitor fosse: homem,

    possuidor de terras, pleno conhecimento de leitura e ortograf ia, assim a grande maioria da

    populao se tornava abstrada das decises polticas, principalmente homens negros.45

    43 MOREL, Marco. OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA. In: Histria da Imprensa no Brasil. Ed. Contexto. So Paulo, 2013. p. 35. 44 BARATA, Cipriano. Apud: MOREL, Marco. OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA. In: Histria da Imprensa no Brasil. Ed. Contexto. So Paulo, 2013. p. 35. 45 CARVALHO, Jos Murilo. UTOPIAS REPUBLICANAS. In: A Formao das Almas, O Imaginrio da Repblica no Brasil. Ed. Companhia das Letras. So Paulo, 1939. Ed. 7.p. 24.

  • 27

    O simblico, com essas ideologias que os jornais levavam em conjunto com as pssimas

    decises polticas e uma falta de zelo que se aparentava ser da M onarquia quanto ao Brasi l

    transformava a necessidade de reforma ainda maior, com mais pessoas querendo direitos e

    igualdade a Repblica vinha com uma nova ideia do que seria o povo brasi leiro.46

    Com uma maior aceitao do grande pblico, a cada crtica que a monarquia recebia por

    essas diversas publicaes se criava uma nova ideologia e um novo ideal de que o novo

    governo deveria ser, um novo progresso civi l izatrio com apoio da grande massa da

    sociedade.47

    Estamparam-se exausto as ideias e imagens do progresso

    pretendidas pela nova ordem. A o lado da poltica, a urbanizao foi

    um de seus grandes temas, veiculado pela festejada modernizao do

    aparelhamento jornalstico, com novas oportunidades tecnolgicas

    para a produo e reproduo do texto e da imagem. 48

    O modernismo, junto com a Repblica, era o futuro e a salvao do Brasi l , a vontade de se

    criar uma prpria cultura brasi leira, fazia com que a portuguesa comeasse a ser um pouco

    desvalorizada e a l i teratura aparecia com este objetivo. Criar algo essencialmente brasi leiro.

    A necessidade da cultura prpria era o primeiro passo para se ter uma cultura brasi leir a, a

    nova l i teratura era distante da portuguesa e com novos personagens e caractersticas, como

    demonstrado no grande clssico da l i teratura brasi leira O Triste fim de Policarpo Quaresma

    de Lima Barreto.

    3.3 A CONQUISTA E A VISO DA REPBLICA

    A importncia do popular, como dito, era de extrema importncia para a aceitao da

    repblica e os mil i tares tinham a simpatia da populao em questes gerais.

    O fato que os republicanos perceberam desde logo a boa

    oportunidade de aproveitar a irri tao dos mil i tares com o governo 46 MELLO, Maria Tereza Chaves. INTRODUO. In: A Repblica Consentida: Cultura democrtica e cientfica do final do Imprio. Ed. FGV. Rio de Janeiro, 2007. p. 11. 47 MELLO, Maria Tereza Chaves. INTRODUO. In: A Repblica Consentida: Cultura democrtica e cientfica do final do Imprio. Ed. FGV. Rio de Janeiro, 2007. p. 11. 48 MARTINS, Ana Luiza. IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPRIO. In: Martins, Ana Luiza; Luca, Tania Regina de. Histria da Imprensa no Brasil. Ed. Contexto. So Paulo. 2 ed. 2013. p. 79.

  • 28

    tanto por ser um grupo de condies de derrubar o regime, quanto

    pelo prestgio que gozavam 49

    O desgosto j estava presente a tempos, desde a Guerra do Paraguai onde se demonstrou

    uma fragi l idade do exercito e acima disto, um sentimento de identidade conf l i tante devido a

    homens, escravos, lutarem ao lado de homens l ivres e a situao poltica de outros pases, os

    fazendo sentir como um grupo social e, tambm, o gasto excessivo, que trouxe severas

    consequncias nos anos de 1870 e 1880.

    Nestas consequncias e situaes os mil i tares acabaram assimilando a ideia de atraso a

    toda Monarquia e a quem dela sugava, como bacharis. Os militares buscavam uma forma

    de valorizar seu trabalho e trazer dignidade e respeito ao of icio, querendo assim um lugar de

    respeito, uma vez que lutavam pelo pas e suas conquistas.

    A A cademia M il i tar era uma boa forma de se ter ascenso intelectual e social , e por conta

    disto uma grande quantidade de jovens de variada origem famil iar acabava ingressando na

    academia, alm de que, os prprios mil i tares colocavam seus f i lhos nestas. Nestas mesmas

    academias se discutia cientssimo e suas atrelaes: matemtica, cincias, f sica.

    Sendo assim, de se imaginar que o imaginrio deles, de certa forma, fosse de encontro

    com estes homens de letra, que se viam tambm como soldados-cidados, mas com uma outra

    perspectiva de combate. A f i losof ia que se era discutida nas academias mil i tares estava de fato

    l igada ao positivismo e todo seu aspecto cienti f ico e metodolgico, considerando assim ainda

    mais a necessidade de se ocupar um lugar de proeminncia.

    Dentro da A cademia M i l i tar se passava o mesmo sentimento dos que lutaram na Guerra

    do Paraguai. A maioria dos que al i se formaram acabavam por ento ter uma l igao com

    engajamento em lutas pol i ticas e tambm com uma relao de pertencimento a uma classe

    totalmente desvalorizada, sendo ela a primeiro momento a mil i tar e posteriormente a de

    intelectual.

    Deste modo crescente o nmero de pessoas que veem uma sociedade onde no se

    possvel crescer nem se desenvolver, com uma falta de pertencimento a classe, e uma ref lexo

    sobre a cultura que a democracia trs atrelada ao pensamento cienti f ico tudo o que o Brasi l

    precisa para mudar esta situao, tanto para os jovens que esto saindo da A cademia M il i tar,

    quanto os homens de letra e os mil i tares j em exerccio.

    49 MARTINS, Ana Luiza. IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPRIO. In: Martins, Ana Luiza; Luca, Tania Regina de. Histria da Imprensa no Brasil. Ed. Contexto. So Paulo. 2 ed. 2013

  • 29

    Os homens de letra e esta mocidade militar, investiram sua energia na proclamao da

    Repblica e eles se viam

    especialmente iluminada para levar o pas ao estgio superior da

    civi l izao, no qual estava inclusa a instalao desse novo regime

    poltico. M ais patriota, mais consciente da cidadania, mais preparada

    que a el i te civi l , tinha, no entanto, em desvantagem a essa, uma

    profisso desprestigiada50

    O que seria modif icado com os peridicos e com o novo imaginrio que estavam formando.

    A hora de entrar a nossa folha no prlo os actos do gabinete 7 de

    junho e a indiferena da cora a tantos abusos deram os seus legtimos

    fructos: foi proclamada a Republica Federal Brazi leira, nico regimen

    que convem nossa patria e que havia ded ser um facto mais hoje

    mais amanh.

    O gabinete demissionrio, precipitou, porm os acontecimentos, e

    hoje em plena paz, no meio regozijo popular sauda-se, de todos os

    lados o novo e fecundo regimen da democracia, do direito e do futuro

    da America.

    (...)

    Realisaram-se nossos, vaticnios, e sentimo-nos fel izes, porque

    isso tenha acontecido, em meio do regozijo e da confraternizao mais

    admirvel que se tem visto entre Povo, Exercito e a A rmada Nacional.

    Honra ao civismo dos Brazileiros! 51

    Ao longo do tempo a Repblica no se deu conforme foi imaginada e ideal izada pelos

    homens de letra, sendo dado a primeiro momento como provisrio pelos mil i tares e at

    50 MARTINS, Ana Luiza. IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPRIO. In: Martins, Ana Luiza; Luca, Tania Regina de. Histria da Imprensa no Brasil. Ed. Contexto. So Paulo. 2 ed. 2013 51 Hemeroteca Digital: Revista Illustrada, 16 de novembro de 1889. Disponvel em:

  • 30

    mesmo pelos jornais e revistas52, embora tenha partido do mesmo imaginrio que a dos

    mil i tares: A Repblica Francesa.

    Declarada em 15 de novembro de 1889 e sendo considerada um golpe poltico-mil i tar,

    muitos ainda tinham a perspectiva positiva sobre a sua declarao, principalmente porque

    partiam da mesma base ideolgica: A Frana que conseguiu sua dita l iberdade pelas mos de

    Danton, como na escrita da Gazeta de Notcias:

    PROCLAMAO

    O governo provisrio publica a seguinte proclamao:

    Concidados O povo, o exercito e a armada nacional, em

    perfeita communnho de sentimentos, com os nossos concidados

    residentes nas provncias, acabam de decretar a a deposio da

    dysnastia imperial, e consequentemente a extino do systema

    monarchico representativo.

    Como resultado imediato desta revoluo nacional, de caracter

    essencialmente patritico, acaba de ser inssti tuido um governo

    provisrio, cuja principal misso garantir com a ordem publica a

    l iberdade e os direitos dos cidados.

    (...)

    Concidados: - O governo privsrio, simples agente temporrio da

    soberania nacional, o governo da paz, da l iberdade, da fraternidade e

    da ordem. 53

    Revoluo Francesa que tinha caractersticas especif icas e que o intelectual desejava e que

    era o seu lema Liberdade, Igualdade e Fraternidade. E o mais importante eram os discursos

    que os homens de letra repetiam: A L iberdade para se escrever sobre o que quiser, a l iberdade

    para o que quiser.

    52 Hemeroteca Digital: Gazeta de Notcias, 15 de novembro 1889. Disponvel em: 53 Hemeroteca Digital: Gazeta de Notcias, 16 de novembro 1889. Disponvel em:

    http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=103730_02&PagFis=16528&
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    Figura 3.: Imagens do M arechal Deodoro da Fonseca.

    Imagem 3 e 4: Hemeroteca Digital: Gazeta de Notcias, 16 de novembro 1889. Disponvel em:

    Hemeroteca Digital: Revista I l lustrada, 16 de novembro de 1889. Disponvel em

    A representao para com o homem, tambm se era essencial, um governo do povo para

    com o povo. A Repblica estava f inalmente instaurada e o que importava era o futuro que o

    povo brasileiro poderia ter pela frente.

    A Republica foi representada de forma provisria, nos jornais e revistas, que falaram

    sobre o assunto no dia seguinte, 16 de novembro de 1889, passando matrias e fotografias ou

    charges sobre quem estava no comando.

    Nas chamadas de 16 de novembro, na primeira pgina da Gazeta de Noticias se tem as

    seguintes informaes:

    Ministerio do Governo Provisorio

    Chefe do governo. M arechal Deodoro da Fonseca.

    M inistro do Interior Dr. A ristides Lobo.

    M inistro da agricultura, Dr. Demetrio Ribeiro, e interinamente o

    Sr. Quintino Bocayuva.

    M inistro da justia, Dr. Campos Salles, interinamente Dr. Ruy

    Barbosa.

    M inistro da guerra. Dr. Benjamin Constant.

    M inistro dos estrangeiros, Sr. Quintino Bocayuva.

    M inistro da Fazenda, Dr. Ruy Barbosa.

    http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=103730_02&PagFis=16528&
  • 32

    M inistro da marinha, chefe de diviso Eduardo Wandenkolk 54

    Os primeiros anos cercados de boas perspectivas e comemoraes, ainda sob a perspectiva

    de ser algo temporrio aquele governo al i instaurado, quase todos os volumes da Revista

    I l lustrada e da Gazeta de Notcias se tem alguma matria, ou crnica, com os dizeres: A

    republica, que se prepara para a conquista de todas as glorias. Salve a Liberdade!, ou ento

    Vivam os Estados Unidos do Brazil!.

    Com um novo tipo de Governo o Brasi l precisava de novas leis que combinassem e

    entrassem em conjunto com esta nova perspectiva positivista da Repblica, sendo assim em

    no inicio de 1890 comeava a discusso da Consti tuio.

    A s discusses que ocorriam estavam constantemente em todas as pginas dos jornais e

    revistas da poca, reclamando de alguns que participavam do congresso e de outros que eram

    expulsos, ou coisas do gnero, a Gazeta de Noticias chega mesmo a af irmar que naquele

    momento, a Republica, que tanto se pensava que trazia l iberdade para o povo, estava sendo

    mais repressora que todo o Imprio, quando alguns mil i tares chegam a entrar no congresso.

    A Revista I l lustrada tambm comenta o desgosto que o governo republicano anda sendo,

    com uma falta de capacidade administrativa e de orientao poltica, sendo um morde e

    assopra constante: Ao mesmo tempo que esto fel izes pela separao of icial da Igreja e do

    Estado, esto irri tados com decretos como o de continncias mil i tares.

    Em 1891 ainda se acreditava que o governo era provisrio, com as discusses sobre a

    nova consti tuio e o que o congresso nacional e seus congressistas fariam ou no, sempre

    que so citados se vem com o governo provisrio e alguma relao sobre a constituio que

    estava sendo discutida em jornais e revistas desde 1890.

    M as a declarao da Consti tuio no f inal de fevereiro de 1891 trouxe de volta todo o

    animo que a proclamao causou, em seu volume de maro de 1891 da Revista I l lustrada

    mostra:

    54 Hemeroteca Digital: Gazeta de Notcias, 16 de novembro 1889. Disponvel em:

    http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=103730_02&PagFis=16528&
  • 33

    Figura 4.: Chamada da Revista I l lustrada sobre a Constituio

    Imagem 5: Hemeroteca Digital: Revista I l lustrada, maro de 1891. Disponvel em

    Seguindo do texto aqui resumido:

    Aps trs mezes e dez dias de rduo trabalho, o Congresso Nacional

    dotou a Republica Brazi leira com uma Constituio, que um modelo

    de previdncia, e de arrojo patritico.

    M ais adiantada e mais l ivre do que todas as consti tuies at hoje

    outhorgadas ou decretadas, a nova lei fundamental de nossa patria

    recomenda-se pelo seu espiri to altamente democrtico, pela sua frma

    concisa e pela magnitude das concepes, que, de principio a f im,

    garantindo pleno uso da l iberdade, equil ibram os interesses geraes

    com os individuaes, assegurando o bri lhantismo de um futuro de paz e

    de prosperidade.

    (...)

    O Congresso bem mereceu da patria e a posteridade h de honral-o,

    como a uma gloria nacional.

    Trabalho to bem encetado aureolando-se com os fulgores immortaes

    do 15 de novembro, havia necessariamente de ser coroado com os

    nobres actos, que lhe consti turam o deslumbrante epilogo!

    (...)

  • 34

    Hoje, o paiz de posse de todos os seus direitos, descana sombra de

    leis protectoras, tendo sua testa dois homens que foram factores de

    primeira ordem do glorioso movimento de 15 de novembro, que

    l ibertou a nao, que desterrou o imprio, e que integrou a A merica,

    na sua unidade republicana,

    A os ardentes votos que fazemos pela fel icidade do Brazi l e pela

    gloriosa dos nossos concidados mais ilustres, que elevamos destas

    pginas, onde sempre se prestou culto l iberdade e justia, um

    estridente viva ao futuro da patria.

    Viva a Republica! 55

    Os jornais incentivavam o sentimento de renovao que com a Consti tuio de 1891

    voltava ao seu mximo fazendo com que todas as reclamaes fossem deixadas de lado por

    algum tempo e s se falava do quanto o Brasi l estava avanado e tinha em seu futuro coisas

    boas.

    Com uma participao mais ampla do eleitorado, que antes eram homens com mais de 25

    anos em conjunto com uma comprovao de renda mnima anual, agora eram homens com

    mais de 21 anos e letrados.

    No mesmo nmero citado, a Revista I l lustrada dedica toda uma pgina para a

    representao positiva da Consti tuio:

    55 Hemeroteca Digital: Revista Illustrada, maro de 1891. Disponvel em

    http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=332747&PagFis=4127&
  • 35

    Figura 5: O Congresso, a consti tuio e os Estados do Brasi l .

    Imagem 6: Hemeroteca Digital: Revista I l lustrada, maro de 1891. Disponvel em

    A imagem que traz os seguintes dizeres:

    O Brazil gloria-se de haver discutido e promulgado uma

    consti tuio adiantada, com o concurso dos seus f i lhos mais di lectos,

    terminando essa grande obra pela eleio dos principaes factores do

    dia 15 de novembro, para as supremas magistraturas da patria l ivre.

    HONRA AMERICA! VIVA A REPUBLICA! 56

    A Gazeta um pouco mais adiante em seu nmero de 24 de fevereiro j diz que espera

    ansiosa as eleies e que uma vez j aprovada a consti tuio logo se tem as eleies

    presidenciais, e que o congresso nunca teve antes uma seo to importante.

    Com a Consti tuio, Deodoro da Fonseca fora eleito pela A ssembleia Nacional

    Constituinte logo no dia seguinte, 25 de fevereiro, teve um governo cheio de crises

    56 Hemeroteca Digital: Revista Illustrada, Maro de 1891. Disponvel em

    http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=332747&PagFis=4472&
  • 36

    econmicas, principalmente porque passou um decreto sobre permisso de emisso de

    dinheiro sem qualquer exigncia de ouro, a inf lao foi tamanha e isso gerou um golpe de

    estado no mesmo ano.

    Com um golpe em 3 de novembro do mesmo ano, o marechal Floriano Peixoto assumiu o

    lugar de Deodoro tendo as repercusses muito similares na Revista I l lustrada, Gazeta de

    Notcias.

    A Gazeta de Noticias publica em 24 de novembro:

    O marechal Floriano Peixoto, actual chefe do executivo, inspira ao

    paiz a mais plena conf iana.

    No disputou o poder; foi naturalmente chamado a ele. Em taes

    circumstancias, tendo muitas vezes recusado fatervir em actos que

    poderiam revelar ambio de predomnio ou desejo de se impor aos

    seus cidados, no temos seno razes para supor que ser de ordem e

    de respeito lei o seu governo.

    Pelo 2 do art. 1 das disposies transitrias e pelo 4 do art 43 da

    Consti tuio, o S. Ex. governar at 15 de novembro de 1894. 57

    A Revista I l lustrada publica em sua edio de novembro: Apezar da disposio do

    general Deodoro, ex-presidente da Republica, a ordem tem sido mantida com mximo

    rigor58. M as, ao contrrio da Gazeta, conta com a esperana de novas eleies: As eleies

    geraes devero ser brevemente anunciadas59. M esmo que neste volume tenha uma

    reproduo de todos os novos integrantes da nova republica de Floriano.

    A inda no acreditando ao que se formava, a Revista I l lustrada pede em maro de 1892 as

    eleies, - Eleio para um! Tal deve ser o motte de todos os patriotas, na quadra anamola

    que atravessamos. 60 Uma nova eleio s iria acontecer em 1894, elegendo assim Prudente

    de M oraes.

    57 Hemeroteca Digital: Gazeta de Notcias, 24 de novembro de 1891. Disponvel em: 58 Hemeroteca Digital: Revista Illustrada, novembro de 1891. Disponvel em: 59 Hemeroteca Digital: Revista Illustrada, novembro de 1891. Disponvel em: 60 Hemeroteca Digital: Revista Illustrada, maro de 1892. Disponvel em:

  • 37

    A ssim esses escri tores em conjunto com a imprensa, no s discutiam e tramavam em

    suas imagens a grande importncia da Repblica como tambm uti l izavam desta nova

    narrativa para a construo essencial do que se estava vivendo at o momento.

    A narrativa era formada em conjunto com as grandes imagens que enal tecem a Repbli ca,

    como a f igura 5, e a sua imagem, homens de uma aparncia ref inada com o acompanhamento

    de mulheres que representam a nao em todos os seus estados com seus nomes escri tos, com

    a imagem da prpria imagem da Repblica francesa, a nossa prpria Ef igie 61 que para alm

    de representar a nao, por estado em estado.

    61 Uma imagem da Repblica a personificao do regime republicano e de seus Estados. Representada por uma figura feminina.

  • 38

    IV. A MODERNIZAO E O POVO

    4.1 TEMPO NA PERCEPO DO HOMEM

    O Brasi l , segundo os intelectuais e a el i te, precisava acompanhar o resto do mundo, se

    espelhando em grandes pases da Europa, como a Frana, e uti l izando do dinheiro da renda de

    cafezais, estava se modif icando para se l ivrar da imagem insalubre e inseguro. O Brasi l

    uti l izava de toda a sua modernidade e modernizao para mostrar uma imagem de fartura,

    conforto e progresso.

    A cidade com a modernizao, alm de ter uma aparncia e uma necessidade diferente,

    comeou a ter um tempo de vivencia diferente. O ri tmo no se era o mesmo e estava longe de

    ser qualquer coisa antes j vivenciada por qualquer um neste novo momento do Rio de

    Janeiro.

    Deixava-se de se ter carroas e comeava os automveis. A s ruas antes estreitas e sujas

    comeavam a no apenas se alargar