TÓPICO I TEXTO: TEXTUALIDADE, GÊNEROS E TIPOS TEXTUAIS Vamos começar este tópico fazendo a revisão de alguns conceitos básicos a respeito da noção de texto, textualidade, discurso e paratextualidade. TEXTO Sequência linguística autônoma, oral ou escrita, produzida por um ou vários enunciadores em uma situação de comunicação determinada. (Dicionário de Maingueneau, 2000). É autônoma por construir um sentido reconhecível por ouvinte/leitor em situações de comunicação. Orienta-se para um propósito discursivo identificável: informar, divertir, persuadir, solicitar, debater, regulamentar, instruir, notificar, avisar, documentar, emocionar, divulgar conhecimento científico, registrar ocorrências, atestar, declarar, formular um convite, certificar, etc. O texto é, conforme esclarece Schmitd (1973), uma unidade de linguagem em uso, cumprindo uma função identificável num dado jogo de atuação sociocomunicativa. Portanto, distingue-se como uma manifestação linguística que se realiza, em práticas sociais de que os falantes da língua participam, para cumprir uma determinada função na vida social. Resumindo: O texto é qualquer ocorrência linguística falada ou escrita, de qualquer extensão, dotada de unidade sociocomunicativa (função social), semântica (unidade de sentido) e formal (relações de sentido marcadas por formas da língua: léxico e gramática). Beaugrande e Dressler (1981) definem texto como uma ocorrência comunicacional que satisfaz critérios interdependentes (coesão, coerência, intencionalidade, aceitabilidade, intertextualidade, informatividade, situacionalidade), também chamados fatores de textualidade. Vamos rever essas noções, sucintamente: Coerência: conexão conceitual-cognitiva. Diz respeito, pois, às relações lógicas das ideias do texto e à compatibilidade entre a rede conceitual (rede de ideias) configurada no mundo textual e o conhecimento de mundo de quem processa o sentido do texto. Coesão: manifestação linguística da coerência. Conexão formal entre as unidades de significação do texto. A coesão contribui para a coerência e é indispensável em certos gêneros de texto, mas pode haver textos sem marcas de coesão sem que isso comprometa a construção de sentidos; nesse caso, o processamento dos sentidos depende especificamente de esquemas cognitivos (modelos de armazenamento de informações na memória). Intencionalidade: empenho do produtor em produzir um texto coerente, coeso, capaz de atender seus objetivos em determinada situação comunicativa, mesmo que ele não tenha, muitas vezes, consciência de que suas escolhas linguísticas são feitas estrategicamente, em vista de alcançar uma resposta de seu interlocutor. Aceitabilidade: expectativa do interlocutor de que o conjunto de ocorrências linguísticas com que se defronta seja um texto, capaz de levá-lo a adquirir conhecimento ou a cooperar com os objetivos do produtor. Mesmo diante de uma ocorrência linguística que, a princípio, possa não fazer sentido, não se pode afirmar que não seja um texto, pois é pressuposto que as
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TÓPICO I
TEXTO: TEXTUALIDADE, GÊNEROS E TIPOS TEXTUAIS
Vamos começar este tópico fazendo a revisão de alguns conceitos básicos a respeito da noção
de texto, textualidade, discurso e paratextualidade.
TEXTO Sequência linguística autônoma, oral ou escrita, produzida por um ou vários enunciadores em uma situação de comunicação determinada. (Dicionário de Maingueneau, 2000). É autônoma por construir um sentido reconhecível por ouvinte/leitor em situações de comunicação. Orienta-se para um propósito discursivo identificável: informar, divertir, persuadir, solicitar, debater, regulamentar, instruir, notificar, avisar, documentar, emocionar, divulgar conhecimento científico, registrar ocorrências, atestar, declarar, formular um convite, certificar, etc. O texto é, conforme esclarece Schmitd (1973), uma unidade de linguagem em uso, cumprindo uma função identificável num dado jogo de atuação sociocomunicativa. Portanto, distingue-se como uma manifestação linguística que se realiza, em práticas sociais de que os falantes da língua participam, para cumprir uma determinada função na vida social. Resumindo: O texto é qualquer ocorrência linguística falada ou escrita, de qualquer extensão, dotada de unidade sociocomunicativa (função social), semântica (unidade de sentido) e formal (relações de sentido marcadas por formas da língua: léxico e gramática). Beaugrande e Dressler (1981) definem texto como uma ocorrência comunicacional que satisfaz critérios interdependentes (coesão, coerência, intencionalidade, aceitabilidade, intertextualidade, informatividade, situacionalidade), também chamados fatores de textualidade. Vamos rever essas noções, sucintamente: Coerência: conexão conceitual-cognitiva. Diz respeito, pois, às relações lógicas das ideias do texto e à compatibilidade entre a rede conceitual (rede de ideias) configurada no mundo textual e o conhecimento de mundo de quem processa o sentido do texto. Coesão: manifestação linguística da coerência. Conexão formal entre as unidades de significação do texto. A coesão contribui para a coerência e é indispensável em certos gêneros de texto, mas pode haver textos sem marcas de coesão sem que isso comprometa a construção de sentidos; nesse caso, o processamento dos sentidos depende especificamente de esquemas cognitivos (modelos de armazenamento de informações na memória). Intencionalidade: empenho do produtor em produzir um texto coerente, coeso, capaz de atender seus objetivos em determinada situação comunicativa, mesmo que ele não tenha, muitas vezes, consciência de que suas escolhas linguísticas são feitas estrategicamente, em vista de alcançar uma resposta de seu interlocutor. Aceitabilidade: expectativa do interlocutor de que o conjunto de ocorrências linguísticas com que se defronta seja um texto, capaz de levá-lo a adquirir conhecimento ou a cooperar com os objetivos do produtor. Mesmo diante de uma ocorrência linguística que, a princípio, possa não fazer sentido, não se pode afirmar que não seja um texto, pois é pressuposto que as
manifestações linguísticas servem a algum sentido, até mesmo o de criar o efeito de incoerência, de falta de lógica das ideias, ou de confusão mental por parte de um locutor. Informatividade: articulação de informações novas com informações presumivelmente conhecidas. As informações não devem ser inteiramente inusitadas nem totalmente previsíveis, ou seja, o texto deve manter um nível mediano de informatividade (suficiência de dados do texto para ser compreendido com o sentido que o produtor pretende).
a) Informatividade de grau menor Ex.: Dê sua opinião sobre a greve dos professores Os professores fizeram em busca de seus direitos trabalhistas. Porque o salário já não
é justo e o governo queria descontar 80% seria justo que eles fizessem esta greve para protestar contra, estes cidadãos brasileiros.
Para mim são os professores os prejudicados com os salários injustos neste país. Todos nós dependemos dos professores, pois o que seria o povo sem os mestres de ensino. Eu acho que deveriam dar mais valor aos professores deste país principalmente estes que se dizem governantes.
(redação de aluno de 1º ano E.M.)
b) informatividade de grau maior GENÉTICA
Ex.: Elas herdam do pai a arte do bom convívio.
As mulheres têm fama de ser mais sociáveis que os homens. Elas teriam mais facilidade para perceber e respeitar as emoções alheias. Agora, essa fama acaba de ter um indício de confirmação científica, que não deixa os homens tal mal assim. Testes feitos pelo psiquiatra inglês David Skuse, do instituto de saúde infantil, em Londres, indicam que a habilidade social das moças vem de um gene localizado no cromossomo x, mas que só é ativado quando vem do pai. Lembre-se de que a mulher tem dois cromossomos x e um y (...), os meninos ganham o y do pai e, por isso, sempre recebem o x da mãe, neles, portanto, o gene da sociabilidade não é ativado. Já nas mulheres como tem um x vindo do pai e outro da mãe, nascem socialmente corretas, pelo menos o que diz a teoria de Skuse. “Esse mecanismo genético poderia ter sido útil em tempos remoto da humanidade”, explicou à SUPER. É que, naquela época, os homens precisavam mais de aptidões guerreiras do que as meninas.
(Superinteressante, ago. 1997)
Intertextualidade: relação que se estabelece entre um texto e outros. Um texto incorpora, explicita ou implicitamente, outros textos à medida que insere citações de obras literárias, enciclopédicas, trechos de música, provérbios, ditados populares, máximas, trechos bíblicos, etc. O conjunto de textos que podem se relacionar, pela forma ou pelo conteúdo, constitui o que chama intertexto.
Situacionalidade: relação do texto com o contexto sociocomunicativo. O contexto orienta tanto a produção quanto a recepção do texto. Trata-se de um componente extralinguístico (fator pragmático) que define qual o sentido a ser processado. Por exemplo: se alguém numa interlocução disser “Perdi todo o dinheiro que tinha”, é o contexto que vai esclarecer o sentido de “perder”, que poderá ser: 1) em contexto de assalto: roubaram todo o dinheiro no assalto; 2) em um contexto de mesa de jogo: o jogador apostou, sem retorno, todo o seu dinheiro na mesa de jogo; 3) em contexto de apropriação do dinheiro por um Banco: a instituição lançou mão do dinheiro para saldar débitos do cliente. Veja-se também como o efeito de sentido de textos depende do conhecimento do contexto sócio-histórico-cultural, portanto de
determinações exteriores ao texto. É o que se observa, no texto abaixo, na determinação do sentido da expressão “festa de quinze anos”.
Foi quando chegou o amigo do Manuel e o convidou: - Ó gajo! Estou a lhe convidaire para a festa de quinze anos de minha filha. -Está bem, patrício. Eu irei. Mas ficarei no máximo uns dois anos.
(Possenti, 1991) DISCURSO Atividade de sujeitos inscritos em contextos determinados, realizada por meio da associação do texto a seu contexto de produção. (Dicionário de Maingueneau, 2000). Nas palavras de Travaglia e Koch (1989):
“O discurso é toda atividade comunicativa de um locutor, numa situação de comunicação
determinada, englobando não só o conjunto de enunciados por ele produzido em tal situação – ou os seus e os de seu interlocutor, no caso do diálogo – como também o evento da enunciação. O texto será entendido como uma unidade linguística concreta (perceptível pela visão ou audição), que é tomada pelos usuários da língua (falante, escritor/ ouvinte, leitor) em uma situação de interação específica, como uma unidade de sentido e como preenchendo uma função comunicativa reconhecível e reconhecida, independentemente da sua extensão”.
PARATEXTO Conjunto dos enunciados que contornam um texto: título, subtítulo, prefácio, posfácio, encarte, sumário etc. (GENETTE, 1987). Distinguem-se paratexto autoral (nome do autor, epígrafe, dedicatória, prefácio, nota de pé de página etc.) de paratexto editorial (contracapa, catálogo etc.). Distinguem-se ainda peritexto e epitexto. O peritexto é parte inseparável do texto (título, sumário etc.); o epitexto é a parte que circula fora do texto (publicidade, catálogos) ELEMENTO PARALINGUÍSTICO (OU PARAVERBAL) Aquele que se articula com o linguístico (verbal) como traço distintivo ou de relevo: altura (entonação), pausa, intensidade articulatória (acento de intensidade), duração do som. Pertence ao estrato fonológico da língua. ATIVIDADE I O TIME DO BANCO DO BRASIL: “Percorra o Brasil. Na sede, nas agências ou nos postos avançados de crédito rural, os profissionais do Banco estão à sua disposição. Por onde cresça o Brasil, eles vão junto. Modernos bandeirantes da Economia Nacional a descobrir potencialidade e a valorizar desempenhos rurais, comerciais e industriais. Este é o time do Banco do Brasil. São técnicos e consultores, gerentes e superintendentes, caixas e assessores. Prontos para atender à corrida rumo ao desenvolvimento. Peritos em servir ao Brasil. A alta qualidade exigida é um pré-requisito humano e social, além da habilitação. Bom para quem é selecionado, ótimo para o Banco, excelente para os clientes. Dentro da estrutura de atendimento do Banco do Brasil há especialistas de nível em todos os campos: rural, fundos de fomentos, comércio exterior, crédito pessoal, entre tantos. Quando você consulta um funcionário do Banco do Brasil, pode ter certeza de que está à frente do homem certo. Esta grande equipe defende com firmeza todas as áreas do desenvolvimento nacional. E ataca numa única direção: a conquista de novas riquezas para os clientes do Banco do Brasil e para o
País. Cada expediente é uma grande atuação deste conjunto treinado para a função e pela própria experiência no setor. Com este time, você só tem a ganhar. Você reconheceu a capacidade do time do Banco do Brasil?” (Ciência Hoje, 5/25, 1986).
No texto acima, os argumentos são categóricos; há listagens bastante exaustivas de lugares, para sugerir a totalidade: na sede, nas agências, nos postos avançados; também há uma extensa lista de profissionais bancários, novamente implicando a universalidade: técnicos consultores, gerentes, superintendentes, caixas, assessores; também os diversos níveis de especialização são amplamente exemplificados: rural, fundo de fomento, comércio exterior, crédito pessoal. Há ainda o uso explícito de expressões universais: todas as áreas de desenvolvimento, por onde cresça o Brasil, cada expediente. A universalidade na excelência é necessária numa argumentação que procura o apelo universal. Por esse motivo, também, os adjetivos usados são expressões que argumentam numa direção positiva, mas que podem significar muitas coisas diferentes para diferentes leitores: excelente para um cliente pode ser o serviço rápido no caixa, enquanto que para outro pode ser a obtenção de um crédito, para um terceiro pode ser o fácil acesso às agências, e assim sucessivamente. Há ainda um uso acentuado de sentenças curtas (por onde cresça o Brasil, eles vão juntos. Esse é o time do Banco do Brasil. Com esse time você só tem a ganhar) e ainda incompletas (prontos para atender a corrida rumo ao desenvolvimento, peritos em servir ao Brasil), que, por analogia formal com provérbios e truísmos (ao bom entendedor, poucas palavras) parecem ter a força daqueles, isto é, parecem expressar verdades universais, por todos aceitas. Responda:
a) Qual a função sociocomunicativa desse texto?
b) Que discurso está construído por meio do texto em questão?
c) Identifique a presença de intertextualidade na construção desse texto.
d) Como uma das estratégias persuasivas, o texto fez uso de metáfora (conexões entre
dois diferentes domínios do mundo). Explique qual a metáfora construída no texto.