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Timothy Keller - A Cruz Do Rei

Sep 27, 2015

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Marcoscma

Livro do missionário Timothy Keller sobre o simbolismo presente na Cruz.
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Transcript
  • TIMOTHY KELLERAUTOR BEST-SELLER DO THE NEW YORK TIMES

    TRADUO: MARISA K. A. DE SIQUEIRA LOPES

  • Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)(Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Keller, Timothy

    A cruz do rei: a histria do mundo na vida de Jesus / Timothy Keller; traduo Marisa K. A. de S. Lopes.

    Ttulo original: Kings Cross: the Story of the World in the Life of JesusISBN 978-85-275-0505-5

    1. Bblia N. T. Marcos - Crtica e interpretao 2. Jesus Cristo - Pessoa e misso -Ensino bblico I. Ttulo.

    12-11543 CDD-232

    ndice para catlogo sistemtico:

    1. Jesus Cristo : Pessoa e misso : Cristologia 232

  • TIMOTHY KELLERAUTOR BEST-SELLER DO THE NEW YORK TIMES

    TRADUO: MARISA K. A. DE SIQUEIRA LOPES

  • Copyright 2011, Redeemer CityNet e Timothy Keller Ttulo original: Kings Cross: the Story of the World in the Life of Jesus Traduzido a partir da primeira edio publicada pelaDutton, empresa pertencente ao Penguin grouP, euA.

    1.a edio: 2012

    Publicado no Brasil com a devida autorizao e com todos os direitosreservados por SOCIEDADE RELIGIOSA EDIES VIDA NOVA,Caixa Postal 21266, So Paulo, SP, 04602-970www.vidanova.com.br | [email protected]

    Proibida a reproduo por quaisquer meios (mecnicos, eletrnicos,xerogrficos, fotogrficos, gravao, estocagem em banco dedados etc.), a no ser em citaes breves com indicao de fonte.

    ISBN 978-85-275-0505-5

    Impresso no Brasil / Printed in Brazil

    SUPERVISO EDITORIALMarisa K. A. de Siqueira Lopes

    COORDENAO EDITORIALCurtis A. Kregness

    REVISOMari Madureira Lopes

    COORDENAO DE PRODUOSrgio Siqueira Moura

    REVISO DE PROVASUbevaldo G. Sampaio

    DIAGRAMAOLuciana Di Iorio

    CAPASouto de Crescimento de Marca

    Todas as citaes bblicas, salvo indicao contrria, foram extradas da verso Almeida Sculo 21, publicada com todos os direitos reservados por Edies Vida Nova.

  • A Scott Kauffmann e Sam Shammas, sem os quais este livro no existiria.

    E tambm ao restante do staff da Igreja Presbiteriana Redeemer e ao Redeemer City to City

    o time dos meus sonhos! , sem os quais pouco do nosso atual ministrio existiria.

    Muito obrigado a todos.

  • SUMRIO

    Agradecimentos ...................................................................................9

    Introduo ........................................................................................11

    PARTE 1 O REI

    A identidade de Jesus

    Captulo 1 A dana .....................................................................23

    Captulo 2 O chamado ...............................................................33

    Captulo 3 A cura .......................................................................45

    Captulo 4 O descanso ...............................................................55

    Captulo 5 O poder ....................................................................67

    Captulo 6 A espera ....................................................................79

    Captulo 7 A mancha .................................................................91

    Captulo 8 A aproximao ........................................................ 107

    Captulo 9 A volta .................................................................... 119

    PARTE 2 A CRUZ

    O propsito de Jesus

    Captulo 10 A montanha .......................................................... 137

    Captulo 11 A armadilha .......................................................... 149

  • 8 A CRUZ DO REI

    Captulo 12 O resgate............................................................... 165

    Captulo 13 O templo .............................................................. 181

    Captulo 14 A festa .................................................................. 193

    Captulo 15 O clice ................................................................. 203

    Captulo 16 A espada ............................................................... 213

    Captulo 17 O fim .................................................................... 225

    Captulo 18 O comeo ............................................................. 245

    Concluso .......................................................................................259

  • AGRADECIMENTOS

    Nenhum livro chegA s mos dos leitores sem o trabalho de mui-tas pessoas alm do autor, algo que aconteceu, sobretudo, com este livro. Quero agradecer a Brian Tart, meu editor, por seu trabalho sempre brilhante de sugerir acrscimos e cortes no texto. Esta obra tambm tem uma grande dvida para com meu agente, David Mc-Cormick que, alm de lidar com maestria com seus deveres de agen-te, tambm foi o arquiteto do acordo para a criao do selo Redee-mer. Este livro o primeiro fruto desse acordo.

    De maneira particular, gostaria de agradecer a Scott Kauffmann e Sam Shammas, pessoas que tomaram a frente dos esforos para o desenvolvimento de contedo do selo Redeemer. Descobrimos que transformar material de pregaes em algo para ser lido no assim to fcil quanto parece ou, pelo menos, no to fcil quanto imaginvamos.

    O livro de Marcos talvez seja o Evangelho que mais estudei e preguei ao longo do meu ministrio. Elaborei duas sries de estudos bblicos para pequenos grupos sobre o Evangelho de Marcos, e tam-bm j preguei pelo menos trs sries de mensagens sobre Marcos, alm de muitos sermes avulsos.

    Assim, quando me sugeriram transcrever e publicar os sermes mais recentes que eu havia feito em Marcos, estava seguro de que o material precisaria de uns meros ajustes para estar pronto para publi-cao. No poderia estar mais enganado!

    O processo de transformao comeou com Laurie Collins, uma velha amiga estengrafa de tribunal, que fez uma transcrio fiel dos meus sermes gravados, tendo completado cada fragmento de orao

  • 10 A CRUZ DO REI

    que, em geral, deixamos pela metade no discurso oral. Depois o tra-balho passou para as mos de uma nova amiga, Ruth Goring, que se dedicou a limpar do texto todos aqueles traos de oralidade que mal notamos quando algum faz um sermo, mas que so profundamente irritantes se presentes na leitura de um texto. O resultado de todo esse processo foi um texto mais limpo, porm sem vida, quando eu deve-ria ter um texto vibrante, repleto da mesma intensidade que Marcos infundiu em seu relato da vida de Jesus.

    E foi somente no ltimo minuto, quando Scott e Sam puseram as mos na massa, pegaram o texto e trabalharam nele noite e dia sem cessar (sob a presso de um prazo final apertado), que o texto veio a assumir a vivacidade que hoje possui. Um simples muito obrigado no suficiente para agradecer os sacrifcios que todas essas pessoas fizeram e a ajuda que me deram; portanto, dedico esta obra a elas, e espero contar com sua parceria em muitos outros projetos no futuro.

  • INTRODUO

    PArA minhA surPresA, nas dcadas recentes a quantidade de ateno que a cultura em geral dispensa ao Jesus histrico tem aumentado. A cada ano, medida que a Pscoa se aproxima, surgem diversos destaques de mdia acerca de Jesus. Nesta ltima Pscoa, a editora da seo de religio da Newsweek, Lisa Miller, explicou que a Pscoa [...] uma celebrao do ato final da Paixo, no qual Jesus ressuscitou de seu sepulcro, em corpo, trs dias aps ser executado. [...] Os Evangelhos insistem na veracidade desse acontecimento so-brenatural. [...] Jesus morreu e ressuscitou para que todos os seus seguidores pudessem, no futuro, fazer o mesmo. Essa histria tem forado a credulidade at mesmo do mais devotado dos fiis. Pois, sinceramente falando, ela no crvel.1

    Em seu artigo para o jornal The Times (publicado no Reino Unido), Myth or History: The Hard Facts of the Resurrection [Mito ou histria: os difceis fatos da ressurreio], Geza Vermes prope a se-guinte questo: No corao da mensagem do cristianismo, encontra- se a ressurreio de Jesus. O principal arauto dessa mensagem, So Paulo, proclama de forma bem direta: se Cristo no ressuscitou, a vossa f intil. De que modo essa afirmao, reforada por dois mil anos de reflexo teolgica, se compara com aquilo que os Evangelhos nos dizem sobre a primeira Pscoa? Trata-se de um mito ou contm um fundo de verdade?2

    1Lisa miller, Newsweek, 25/10/2010. 2Geza vermes, Myth or History: The Hard Facts of the Ressurrection, Times of

    London, 06/04/2009.

  • 12 A CRUZ DO REI

    Nanci Hellmich, escrevendo para o USA Today, disse que Dois pesquisadores analisaram os tamanhos dos pratos e das pores de co-mida em 52 das mais famosas pinturas da ltima Ceia e descobriram que o tamanho das pores nas pinturas aumentou de forma dramtica ao longo do ltimo milnio.3 A imprensa tem muito a dizer sobre Jesus.

    E, evidentemente, eles no so os nicos. No seria um exagero dizer que o tema Jesus em si mesmo um gnero que aparece em obras como biografias resultantes de cuidadosas pesquisas, coment-rios acadmicos do texto bblico, obras de crtica histrica, de fico especulativa, antimitologias, e tudo que se possa imaginar entre uma ponta e outra desse amplo espectro.

    Nessa corrente aparentemente inesgotvel de palavras e pensa-mento acerca de Jesus, eu cautelosamente insiro este livro. Trata-se de uma extensa meditao sobre a histrica premissa crist de que a vida, morte e ressurreio de Jesus constituem o evento central da histria humana e csmica, assim como o princpio organizador central da vida de todos ns. Dito de outra forma, toda a histria do mundo e o modo como ns nos encaixamos nela mais claramente compreen-dida quando analisamos de forma direta e atenta a histria de Jesus. Meu propsito aqui tentar mostrar, por meio das palavras e atos de Jesus, a forma maravilhosa como a vida dele d sentido nossa vida.

    UMA VERDADEIRA HISTRIA DE VIDA

    Se pretendemos investigar sua vida, a fim de esclarecermos se Jesus real-mente viveu, morreu e ressuscitou, para saber se a histria da Pscoa contm mesmo um fundo de verdade ou, quem sabe, contm a chave para a histria, precisamos nos voltar para os Evangelhos, os documen-tos histricos que contam a histria de Jesus. Eles foram intitulados de acordo com os nomes de seus autores: Mateus, Marcos, Lucas e Joo.

    Grande parte desse recente gnero sobre Jesus consiste de discus-ses acerca de os Evangelhos serem ou no registros confiveis da vida de Jesus. H duzentos anos alguns estudiosos comearam a dizer que

    3Nanci helmich, USA Today, 23/03/2010.

  • INTRODUO 13

    os Evangelhos eram tradies orais que foram embelezadas com vrios elementos lendrios ao longo de geraes, e no foram escritos seno mais de cem anos aps os fatos da vida de Jesus.4 Ao longo dos anos, essas alegaes tm convencido muita gente de que no podemos sa-ber quem Jesus realmente foi. Friedrich Nietzsche, filsofo alemo, e George Eliot, escritor ingls, perderam a f crist, em grande parte de-vido leitura da ctica obra Life of Jesus Critically Examined [A vida de Jesus examinada de forma crtica], escrita por David Strauss, e a cada ano milhares de estudantes veem suas convices balanadas do mesmo modo pela tpica matria de faculdade, a Bblia como literatura.

    Contudo, h um movimento contrrio a tudo isso. H 150 anos as pessoas afirmavam com a maior confiana que jamais houve Evangelho algum antes da terceira dcada do segundo sculo d.C. No entanto, ao longo do sculo passado, tornou-se irrefutvel a evidncia de que os Evangelhos foram escritos muito antes disso, ou seja, durante o pero-do em que viveram muitas das testemunhas oculares da vida e morte de Jesus.5 Isso levou a inverses de f, como nos casos bastante co-nhecidos de Anne Rice e A. N. Wilson. Este ltimo, um bigrafo, escreveu Jesus: A Life [ Jesus: uma vida], em 1992, obra que tinha como pressuposto a tese de que os Evangelhos eram quase que inteiramente lendas. No entanto, em 2009 ele revelou como havia voltado para a f crist aps anos de atesmo, em que escrevia livros que atacavam o

    4Dois bons estudos panormicos sobre como esse ceticismo acerca dos Evangelhos se desenvolveu podem ser encontrados em Ben Witherington, The Jesus quest: the third search for the Jew of Nazareth, 2 edio. Downers Grove: IVP, 1997. Tambm em N. T. Wright, Who was Jesus. Londres: SPCK, 1992.

    5Para estudos de nvel mais popular, veja C. Blomberg, The historical reliability of the Gospels. Downers Grove: IVP, 1987. Craig A. Evans, Fabricating Jesus: how modern scholars distort the Gospels. Downers Grove: IVP,2008. Veja tambm a obra mais antiga e popular de F. F. Bruce, The New Testament documents: are they reliable? Eerdmans: reeditado em 2003 com um prefcio escrito por N. T. Wright. Para anlise das ba-ses filosficas de muitos desses estudos bblicos cticos, veja C. Stephen Evans, The historical Christ and the Jesus of faith. Oxford University Press: 1996. Veja ainda Alvin Plantinga, Two (or more) kinds of Scripture Scholarship. In: Warranted Christian Belief. Oxford, 2002.

  • 14 A CRUZ DO REI

    cristianismo.6 Anne Rice, uma escritora de romances, havia perdido a f nos tempos de faculdade, mas quando comeou a ler as obras de renomados estudiosos da Bblia, ela veio a descobrir que:

    Toda a tese em prol de um Jesus no divino que foi parar em Jerusalm e de algum modo acabou crucificado por ningum, esse Jesus que nada teve a ver com a fundao do cristianismo e que ficaria horrorizado com ele se o conhecesse todo esse panorama que era veiculado nos crculos liberais que eu como ateia frequentei por trinta anos , essa tese no vingou.7

    Richard Bauckham, em sua obra Jesus and the Eyewitenesses [ Jesus e as testemunhas oculares], apresenta o argumento mais conclusivo de que os Evangelhos no eram tradies orais que se desenvolveram ao longo do tempo, mas sim histrias orais que foram escritas a partir dos relatos das prprias testemunhas oculares, as quais ainda estavam vivas e atuantes na comunidade.

    Ele cita extensas evidncias de que por dcadas aps a morte e ressurreio de Jesus as pessoas que foram curadas por ele falavam de suas experincias, como o homem paraltico que foi baixado at Jesus atravs do teto de uma casa; a pessoa que carregou a cruz para Jesus, Simo de Cirene; as mulheres que assistiram Jesus ser colocado na tumba, como Maria Madalena; e os discpulos que haviam andado com Jesus por trs anos, como Pedro e Joo enfim, todas essas pessoas que participaram da vida de Jesus repetiam constante e publi-camente esses episdios com riqueza de detalhes. Por dcadas, essas

    6A. N. Wilson, Why I believe again, The New Statesman, 02/04/2009. Diferen-temente de Rice, o retorno de Wilson f no veio tanto de uma anlise dos estudos bblicos, mas das fraquezas que ele viu nas objees filosficas ao cristianismo. Contu-do, a publicao The New Statesman acompanha seu artigo sobre seu retorno f com uma caricatura irnica de Wilson carregando seu ctico livro sobre Jesus, lanado em 1992, s que agora olhando para cima, para o cu.

    7Anne rice, Christ the Lord: out of Egypt. Nova York: Ballantine, 2005, p. 332. Embora a relao de Rice com a igreja e o cristianismo institucionalizado continue complicada, ela voltou a crer que a Bblia nos d um retrato fiel de Jesus.

  • INTRODUO 15

    testemunhas oculares contaram as histrias do que havia acontecido com elas. Mateus, Marcos, Lucas e Joo registraram essas histrias por escrito e, ento, temos os Evangelhos.

    Bauckham tambm observa que os Evangelhos so por demais con-traproducentes em termos de contedo para serem lendas. Por exemplo, espantoso o fato de que, nos prprios documentos que deram origem igreja crist, tivssemos um registro de que um dos grandes lderes da igreja, Pedro, tivesse cometido uma falha enorme, chegando mesmo a negar Jesus em pblico. A nica fonte crvel para o relato da negao de Pedro e traio de Jesus seria o prprio Pedro: ningum mais poderia ter conhecimento dos detalhes que nos so fornecidos. E ningum na igreja primitiva teria a ousadia de chamar a ateno para a fraqueza de um de seus lderes mais importantes e respeitados com tamanha franqueza a menos que essa fraqueza em si fosse uma parte importante da histria. E a menos, lgico, que o relato fosse verdadeiro.

    O EVANGELHO DE MARCOS

    Para o propsito deste livro, senti que a melhor maneira de explorar a vida de Jesus no era fazer um panorama de todos os Evangelhos, mas sim analisar uma nica e coerente narrativa: uma narrativa que se con-centrasse intencionalmente nas verdadeiras palavras e atos (especial-mente nos atos) de Jesus. E isso me levou ao Evangelho de Marcos.

    Quem foi Marcos? A fonte de resposta mais antiga e importan-te vem de Papias, bispo de Hierpolis at o ano de 130 d.C., que disse que Marcos havia atuado como secretrio e tradutor de Pedro, um dos primeiros entre os doze discpulos ou seguidores de Jesus, e que escreveu acuradamente tudo quanto ele [Pedro] se lembrou. Esse testemunho de singular importncia, uma vez que h evidncia de que Papias (que viveu de 60 a 135 d.C.) conheceu pessoalmen-te Joo, outro dos primeiros e mais prximos discpulos de Jesus.8 A

    8Veja D. A. cArson e Douglas J. moo, An introduction to the New Testament. Grand Rapids: Zondervan, 2005, p. 173.

  • 16 A CRUZ DO REI

    obra de Bauckham demonstra que, de fato, Marcos menciona Pedro proporcionalmente mais do que qualquer dos outros Evangelhos. Se voc folhear o livro de Marcos, ver que nada acontece sem que Pedro esteja presente. Todo o Evangelho de Marcos, portanto, quase que certamente o testemunho ocular de Pedro.

    H outra razo para basearmos nossa investigao da vida de Jesus no Evangelho de Marcos. A leitura de Marcos no d a impresso de ser uma histria rida. A narrativa escrita no presente, e usa com frequncia palavras como imediatamente para encher o relato de ao. impossvel deixar de notar a velocidade abrupta da narrativa que chega a nos deixar sem flego. Portanto, o Evangelho de Marcos transmite algo importante sobre Jesus. Ele no apenas uma figura histrica, mas uma realidade viva, uma pessoa que fala conosco, nos dias de hoje. J na primeira sentena de seu Evangelho, Marcos nos conta que Deus entrou no curso da histria. Seu estilo comunica um sentido de crise, de que o status quo foi rompido. No podemos mais pensar na histria como um sistema fechado de causas naturais. No podemos mais pensar em nenhum sistema, tradio ou autoridade humanos como inevitveis ou absolutos. Jesus veio; tudo pode acon-tecer agora. Marcos quer que vejamos que a vinda de Jesus pede uma ao decisiva. Jesus visto como um homem de ao, que se move de acontecimento para acontecimento de forma rpida e decisiva. No Evangelho de Marcos h relativamente pouco do ensino de Jesus nele vemos, principalmente, Jesus em ao. Portanto, no podemos continuar em cima do muro; temos que responder de forma ativa.

    O REI E A CRUZ

    Pode ser que voc conhea Kings Cross [a cruz do rei] como uma estao de trem de Londres, Inglaterra, que foi imortalizada nos livros de Harry Potter. No entanto, o nome engloba com tamanha perfeio o sentido da vida de Jesus que no pude resistir a tom-lo emprestado para o ttulo deste livro.

  • INTRODUO 17

    Veja s, o Evangelho de Marcos possui mais uma caracterstica que o torna ideal para nossos propsitos aqui. O relato de Marcos acerca da vida de Jesus nos apresentado em dois atos simtricos: a identidade de Jesus como Rei sobre todas as coisas (nos captulos 1 a 8 de Marcos) e seu propsito em morrer na cruz (nos captulos 9 a 16 de Marcos).

    A estrutura deste livro segue seu ttulo: ele tem duas partes (o Rei e a cruz), cada qual composta de vrios captulos, sendo que cada captulo explora uma parte essencial dessa histria contada no Evangelho de Marcos.

    Todos os livros so seletivos quanto quilo que incluem, inclusive os prprios Evangelhos; Joo termina seu Evangelho com as pala-vras Jesus realizou ainda muitas outras coisas; se elas fossem escritas uma por uma, creio que nem no mundo inteiro caberiam os livros que seriam escritos ( Jo 21.25). Eu optei por concentrar o foco em uma certa quantidade de textos especficos em Marcos, os quais eu acredito que traam melhor a narrativa da vida de Jesus, ou por ampliar o foco em temas acerca de sua identidade e propsito. Isso significa que um punhado de passagens bastante conhecidas no so tratadas em de-talhes neste livro. Confio que voc achar a pessoa de Jesus digna de sua ateno: imprevisvel, embora confivel; gentil, embora poderosa; dotada de autoridade, embora humilde; humana, mas tambm divina. Insisto para que voc pondere seriamente sobre o significado da vida de Jesus em sua prpria vida.

    NOSSA VERDADEIRA HISTRIA DE VIDA

    Embora eu tenha crescido em uma igreja crist, foi somente na fa-culdade que encontrei a f vital em Jesus, que transformou minha vida. Um dos veculos para esse despertamento espiritual foi a Bblia, especialmente os relatos do Novo Testamento. Eu havia estudado a Bblia antes disso. Quando frequentei as aulas de preparao para

  • 18 A CRUZ DO REI

    minha profisso de f na igreja, tive que memorizar as Escrituras. No entanto, durante meus tempos de faculdade, a Bblia ganhou vida de um modo que difcil de descrever. A melhor maneira de dizer isso que, antes dessa mudana, eu estudava a Bblia com toda ateno, questionando-a e analisando-a. Mas depois dessa mudana era como se a Bblia, ou talvez Algum por meio da Bblia, comeasse a me estudar, me questionar e analisar.

    Pouco tempo depois dessa transformao, eu me deparei com uma reportagem de revista intitulada O livro que me entende, escrita por Emile Cailliet, professor de filosofia do Seminrio Teol-gico de Princeton.9 No seu tempo de faculdade, ainda na Frana, ele tinha sido agnstico. Ele terminou a universidade sem nunca ter de fato visto uma Bblia. Ento, ele serviu no exrcito durante a Primeira Guerra Mundial. Sobre isso, ele escreveu: A inadequao de minhas perspectivas a respeito da condio humana me oprimiam por com-pleto. De que adiantam [...] as provocaes filosficas da academia, quando seu companheiro que naquele momento falava para voc da me dele morre bem ali, na sua frente, com uma bala no peito?

    Ento, ele tambm foi atingido por uma bala, e comeou a se re-cuperar durante um longo perodo de internao em um hospital. Ao ler literatura e filosofia, ele comeou a ter um curioso anseio devo confessar isso, por mais estranho que possa parecer eu ansiava por encontrar um livro que me entendesse. E uma vez que ele no co-nhecia nenhum livro desse tipo, decidiu montar um livro assim para si mesmo. Ele lia muito e sempre que se deparava com um trecho que o afetasse de forma especial, que falasse minha condio, ele o copiava em um caderno de bolso com capa de couro. Ele esperava que aquilo fosse me transportar do medo e da angstia, atravs de diversos estgios intermedirios, para expresses supremas de liber-tao e jbilo.

    9Emile cAilliet, The book that understands me. In: Frank E. gAebelein, ed, A Christianity Today reader. Tappan: Fleming Revell, 1968, p. 22.

  • INTRODUO 19

    Um belo dia, ele foi sentar-se debaixo de uma rvore, no jardim de sua casa, para ler sua preciosa antologia. medida que ele lia, um crescente desapontamento se abateu sobre ele. Cada citao fazia com que ele se lembrasse das circunstncias em que ele a escolhera, mas as coisas haviam mudado. Percebi, ento, que todo meu esforo no teria xito, pelo simples fato de que aquilo era obra de minhas mos.

    Praticamente no mesmo instante surge sua esposa, voltando de um passeio com o filho deles no carrinho de beb. Ela trazia consigo uma Bblia em francs que ela havia ganhado de um pastor que tinha encontrado durante o passeio. Cailliet pegou a Bblia e a abriu nos Evangelhos. E continuou a l-la noite adentro. Aos poucos ele come-ou a ter uma percepo: Eis que medida que eu lia [os Evangelhos] Aquele que neles falava e agia ganhou vida aos meus olhos [...] Aquele era o livro que me entenderia.10

    Ao ler aquela reportagem, percebi que o mesmo havia acontecido comigo. Embora quando jovem eu cresse que a Bblia era a Palavra do Senhor, eu ainda no havia tido um encontro pessoal com o Senhor da Palavra. medida que eu lia os Evangelhos, ele se tornou real para mim. Trinta anos mais tarde fiz uma srie de pregaes para a minha igreja, baseadas no livro de Marcos, na esperana de que muitos outros pudessem da mesma forma encontrar Jesus nos relatos dos Evangelhos.

    Este livro se inspirou nessas pregaes, e eu o ofereo aos leitores com esse mesmo desejo e esperana.

    10Ibid., p. 31.

  • PARTE 1

    OREI

    A IDENTIDADE DE JESUS

  • captulo um

    A DANA

    Princpio do evangelho de Jesus Cristo, o Filho de Deus.

    Conforme est escrito no profeta Isaas: Estou enviando tua frente meu mensageiro, que preparar teu caminho; voz do que clama no deserto: Preparai

    o caminho do Senhor, endireitai suas veredas.Assim apareceu Joo Batista no deserto, pregando batismo de arrependimento para perdo dos pecados (Mc 1.1-4).

    mArcos no PerDe tempo em revelar a identidade daquele que o tema de seu livro. De forma abrupta e direta, ele afirma que Jesus o Cristo e o Filho de Deus. Christos um termo grego que significa uma figura real ungida. Era outro modo de se referir ao Messias, aquele que iria vir e aplicar o governo de Deus na terra, salvando Israel de todos os seus opressores e problemas. Ele no seria apenas mais um rei, mas sim o Rei.

    No entanto, Marcos no chama Jesus apenas de Cristo; ele vai mais alm. Filho de Deus um termo incrivelmente ousado que vai alm da compreenso popular acerca do Messias naquele tempo. uma afirmao de total divindade. Marcos, ento, aumenta as apos-tas e faz a suprema declarao. Citando a passagem proftica de Isaas,