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71 www.actamedicaportuguesa.com ARTIGO ORIGINAL Acta Med Port 2009; 22: 71-82 RELAÇÃO ENTRE NEUROCOGNIÇÃO E QUALIDADE DE VIDA EM PESSOAS COM ESQUIZOFRENIA Recebido em: 14 de Fevereiro de 2008 Aceite em: 20 de Janeiro de 2009 Os défices neurocognitivos na Esquizofrenia constituem uma das suas mais marcantes características. Investigações recentes têm procurado estabelecer uma relação causal entre os défices neurocognitivos na Esquizofrenia e a resposta funcional. Os estudos até agora realizados, sobretudo os que se centraram no estudo da qualidade de vida, têm evidenciado tantas associações claras, como associações pouco robustas, ou até mesmo inexistentes. Assim, este estudo teve como objectivo identificar os constructos neuro- cognitivos que se apresentam de modo diferencial como preditores de dimensões especí- ficas da qualidade de vida. A amostra final foi constituída por 37 participantes com Esquizofrenia. Todos os partici- pantes foram avaliados com uma bateria de testes neurocognitivos. A avaliação da quali- dade de vida foi realizada através da versão portuguesa do WHOQOL-Bref. Foram reali- zadas análises correlacionais entre todos os factores neurocognitivos e os diferentes domínios de qualidade de vida e análises de regressão com recurso ao método stepwise para obter os modelos preditores. Os resultados evidenciaram a existência de correlações significativas entre a maior parte dos constructos neurocognitivos e a qualidade de vida. Os modelos preditores encontra- dos explicam entre 21% e 49% da variância nos domínios de qualidade de vida considera- dos, tendo sido identificados os seguintes preditores neurocognitivos: para o Domínio Físico, as funções executivas; para os domínios Psicológico e Relações Sociais, a atenção e a organização visuo-espacial; para o domínio Ambiente, a atenção e a função executiva. Estes resultados sugerem a importância das funções neurocognitivas básicas (relaciona- das com a capacidade de responder adaptativamente às mudanças e ao feedback ambiental, com a aptidão de manter o foco de atenção e com a aptidão de organizar correctamente os elementos perceptivos), para a determinação da qualidade de vida das pessoas com Esquizofrenia THE RELATIONS BETWEEN NEUROCOGNITION AND QUALITY OF LIFE IN PEOPLE WITH SCHIZOPHRENIA Neurocognitive deficits constitute an important and significant characteristic of Schizo- phrenia. Recent investigations tried to establish a causal relationship between neuro- cognitive deficits and functional outcomes. However, in studies that used quality of life as the primary functional variable, mixed results were found. In some studies associations with neurocognition were strong, but in others, the associations were week or inexistent. The purpose of this study was to identify neurocognitive constructs that seems to be differential predictors of distinct quality of life dimensions. R E S U M O S U M M A R Y N.R, A.M.: Laboratório de Rea- bilitação Psicossocial. Escola Superior de Tecnologia da Saú- de, Instituto Politécnico do Porto. Porto C.Q., S.A.: Laboratório de Reabilitação Psicossocial. Fa- culdade de Psicologia e de Ciên- cias da Educação da Universi- dade do Porto. Porto M.P.H.: Laboratório de Psico- logia Médica. Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Lisboa © 2009 CELOM Nuno ROCHA, Cristina QUEIRÓS, Susana AGUIAR, António MARQUES, Maria Purificação HORTA
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[The relations between neurocognition and quality of life in people with schizophrenia]

Apr 08, 2023

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○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ARTIGO ORIGINALActa Med Port 2009; 22: 71-82

RELAÇÃO ENTRE NEUROCOGNIÇÃOE QUALIDADE DE VIDA

EM PESSOAS COM ESQUIZOFRENIA

Recebido em: 14 de Fevereiro de 2008Aceite em: 20 de Janeiro de 2009

Os défices neurocognitivos na Esquizofrenia constituem uma das suas mais marcantescaracterísticas. Investigações recentes têm procurado estabelecer uma relação causalentre os défices neurocognitivos na Esquizofrenia e a resposta funcional. Os estudos atéagora realizados, sobretudo os que se centraram no estudo da qualidade de vida, têmevidenciado tantas associações claras, como associações pouco robustas, ou até mesmoinexistentes. Assim, este estudo teve como objectivo identificar os constructos neuro-cognitivos que se apresentam de modo diferencial como preditores de dimensões especí-ficas da qualidade de vida.A amostra final foi constituída por 37 participantes com Esquizofrenia. Todos os partici-pantes foram avaliados com uma bateria de testes neurocognitivos. A avaliação da quali-dade de vida foi realizada através da versão portuguesa do WHOQOL-Bref. Foram reali-zadas análises correlacionais entre todos os factores neurocognitivos e os diferentesdomínios de qualidade de vida e análises de regressão com recurso ao método stepwisepara obter os modelos preditores.Os resultados evidenciaram a existência de correlações significativas entre a maior partedos constructos neurocognitivos e a qualidade de vida. Os modelos preditores encontra-dos explicam entre 21% e 49% da variância nos domínios de qualidade de vida considera-dos, tendo sido identificados os seguintes preditores neurocognitivos: para o DomínioFísico, as funções executivas; para os domínios Psicológico e Relações Sociais, a atençãoe a organização visuo-espacial; para o domínio Ambiente, a atenção e a função executiva.Estes resultados sugerem a importância das funções neurocognitivas básicas (relaciona-das com a capacidade de responder adaptativamente às mudanças e ao feedbackambiental, com a aptidão de manter o foco de atenção e com a aptidão de organizarcorrectamente os elementos perceptivos), para a determinação da qualidade de vida daspessoas com Esquizofrenia

THE RELATIONS BETWEEN NEUROCOGNITION AND QUALITY OF LIFEIN PEOPLE WITH SCHIZOPHRENIA

Neurocognitive deficits constitute an important and significant characteristic of Schizo-phrenia. Recent investigations tried to establish a causal relationship between neuro-cognitive deficits and functional outcomes. However, in studies that used quality of lifeas the primary functional variable, mixed results were found. In some studies associationswith neurocognition were strong, but in others, the associations were week or inexistent.The purpose of this study was to identify neurocognitive constructs that seems to bedifferential predictors of distinct quality of life dimensions.

R E S U M O

S U M M A R Y

N.R, A.M.: Laboratório de Rea-bilitação Psicossocial. EscolaSuperior de Tecnologia da Saú-de, Instituto Politécnico doPorto. PortoC.Q., S.A.: Laboratório deReabilitação Psicossocial. Fa-culdade de Psicologia e de Ciên-cias da Educação da Universi-dade do Porto. PortoM.P.H.: Laboratório de Psico-logia Médica. Faculdade deMedicina da Universidade deLisboa. Lisboa

© 2009 CELOM

Nuno ROCHA, Cristina QUEIRÓS, Susana AGUIAR,António MARQUES, Maria Purificação HORTA

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Nuno ROCHA et al, Relação entre neurocognição e qualidade de vida em pessoas com esquizofrenia, Acta Med Port. 2009; 22(1):71-82

Sample consisted of 37 individuals diagnosed with Schizophrenia. All subjects wereassessed with a battery of neurocognitive tests. For the assessment of quality of lifewe used the WHOQOL - Bref Portuguese Version. We performed correlational analysisand stepwise multiple regression analysis, in order to determine predictive models ofquality of life.There were found significant correlations between most of the neurocognitiveconstructs and quality of life. Predictive models explained 21% to 49% of the variancein the domains of quality of life that we considered. Significant neurocognitive predictorswere the following: for the Physical domain, the executive functions; for thePsychological and Social Relations domains, attention and visual-spatial organization;for the Environmental domain, the executive functions and attention. These resultshighlight the significance of basic neurocognitive functions to the determination ofquality of life outcomes in persons with Schizophrenia, especially the functions relatedto the ability to adapt to changes and to the environmental feedback, the ability tokeep focused and attentive, and the aptitude to correctly organize perceptual data.

INTRODUÇÃO

As alterações do funcionamento do sistema neuro-cognitivo constituem uma das características nuclearesda conceptualização actual da Esquizofrenia, tendo a suaevidência sido tornada clara desde as descrições iniciaisrealizadas por Kraepelin1, que considerava que a maioriados seus doentes progrediam progressiva e inexoravel-mente para um estado de deterioração mental generaliza-da. Hoje sabe-se que o defeito cognitivo se estende a umgrande número de funções neuropsicológicas discretas,das quais se destacam a memória de trabalho, a atençãosustentada (ou vigilância), a aprendizagem e memória vi-sual e verbal, o raciocínio e a resolução de problemas (oufunções executivas), a velocidade de processamento, alinguagem e a cognição social2-5.

Contudo, e apesar de serem considerados pela maioriados autores como centrais na explicação da vulnerabili-dade associada à doença, alguma polémica tem-se levan-tado quando se trata de associar os défices neurocogni-tivos a outras características marcantes da doença, comoos sintomas negativos, ou quando se procura associá-losde forma simplista aos efeitos secundários da medicaçãoantipsicótica.

No que diz respeito à independência categorial destesdéfices em relação aos sintomas negativos, convém terem consideração que se as fronteiras que demarcam oâmbito dos sintomas negativos se alargarem para incluirsintomas que são cognitivos (e.g., défice no pensamentoabstracto, pensamento estereotipado, diminuição da aten-ção, alogia), ou funcionais (e.g., problemas nos cuidadospessoais, relações sociais, iniciativa no trabalho, interes-ses no lazer), naturalmente a correlação entre os sintomasnegativos e os diversos domínios cognitivos aumentará6.

Isto sucederá pelo facto de que determinadas provascognitivas tenderão a estar mais fortemente correlacio-nadas com os sintomas de natureza cognitiva que foremincluídos na escala utilizada para a avaliação dos sinto-mas negativos (e.g., Scale for the Assessment of NegativeSymptoms; Positive and Negative Symptoms Scale).

Assim, se é indiscutível a existência de uma relaçãomoderada entre os défices cognitivos e os sintomas nega-tivos7 (que inclusive parecem partilhar entre si uma esta-bilidade longitudinal semelhante, maior persistência doque os sintomas positivos, e uma associação clara a umpior prognóstico6) é também indubitável que constituementidades que devem ser tratadas de forma independente,sendo de rejeitar uma ideia de sobreposição conceptual8.De facto, estudos longitudinais sugerem uma dissociaçãona evolução do funcionamento cognitivo e dos sintomasnegativos, com pouca correlação causal entre si ao longodo tempo9.

Quanto ao impacto da medicação antipsicótica no fun-cionamento cognitivo, a investigação sugere que os me-dicamentos (sobretudo os atípicos) podem melhorar a fun-ção cognitiva10-12, reverter assimetrias electrofisiológicas13

e melhorar a activação cerebral em certas zonas corticais14.Vários estudos têm também mostrado, de forma bastanteconsistente, disfunções cognitivas e défices na activaçãodo córtex pré-frontal em indivíduos que nunca tomarammedicamentos ou que interromperam a medicação15-17,sugerindo que estes não aparecem como efeito secundá-rio dos antipsicóticos.

Paralelamente à presença, vastamente documentada,de défices neurocognitivos, numerosas modificaçõesneuroestruturais e funcionais têm também sido demons-tradas em sujeitos com Esquizofrenia, oferecendo indica-dores importantes para a compreensão do substrato orgâ-

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nico das alterações mentais e comportamentais que seobservam. Entre estas modificações destacam-se o aumen-to ventricular total absoluto e a diminuição global do teci-do cerebral (com atingimento preferencial dos lobos tem-poral e frontal)18, a diminuição das estruturas periventri-culares (nomeadamente a amígdala, o tálamo e o hipo-campo)19,20 e as anormalidades do padrão de activaçãopré-frontal (sobretudo perante tarefas cognitivas de me-mória de trabalho ou de controlo executivo, com maiorafectação do córtex pré-frontal dorso-lateral) 21,22, possi-velmente relacionadas com disfunções do circuito fronto-estriado23.

Um dos factores que mais tem motivado a investiga-ção das disfunções do sistema perceptivo-cognitivo naEsquizofrenia prende-se com o impacto que estas apre-sentam ao nível da resposta funcional dos indivíduos24.Se tivermos em consideração que a Esquizofrenia é umadas mais severas e incapacitantes formas de psicopato-logia e está associada a graves limitações no funciona-mento psicossocial, naturalmente que estas questões serevestem de especial interesse. Neste âmbito, alguns dosestudos realizados que tiveram como objectivo a determi-nação de correlatos neurocognitivos da qualidade de vidademonstraram a existência de associações positivas sig-nificativas, havendo no entanto outros onde se encontra-ram apenas associações pouco robustas, ou até mesmoinexistentes25-33. Neste sentido, e considerando a escas-sez de investigações neste domínio no panorama nacio-nal, este estudo tem como objectivo identificar modelosde predição que permitam aferir o impacto das funçõesneurocognitivas em dimensões específicas de qualidadede vida de pessoas com Esquizofrenia.

MATERIAL E MÉTODOS

ParticipantesA amostra deste estudo foi obtida a partir de três insti-

tuições que dão apoio a pessoas com problemas de saúdemental na região Norte do País, cujas direcções e comis-sões de ética consentiram com a realização da investiga-ção. Para a selecção dos participantes definiram-se à partidacritérios de inclusão e de exclusão na amostra, tendo sidoincluídos os sujeitos que apresentaram diagnóstico con-firmado de Esquizofrenia (de acordo com os critérios pre-conizados no DSM-IV-TR), com idades compreendidasentre os 25 e os 55 anos de idade. Foram excluídos todosos sujeitos não compensados do ponto de vista psico-patológico no momento da recolha de dados, com lesãoorgânica cerebral, que apresentavam um nível severo dedeterioração cognitiva (ou mesmo deficiência mental), que

que não sabiam ler ou escrever (devido à natureza dastarefas propostas) e que apresentavam história actual ourecente de abuso de substâncias. A amostra final foi cons-tituída por 37 pessoas com Esquizofrenia.

InstrumentosSeleccionou-se um conjunto de medidas que permitis-

sem operacionalizar a análise dos indicadores considera-dos fundamentais para a consecução do estudo: a quali-dade de vida e o funcionamento neurocognitivo. Duranteo processo de tomada de decisão sobre a escolha dosinstrumentos que se iriam utilizar, houve o cuidado de obtergarantias sobre a sua adequação e validade para avaliaros constructos que se pretendiam mensurar, e da unanimi-dade que reuniam em torno de si em termos da sua apropri-ação para serem utilizados junto da população com as ca-racterísticas dos participantes que constituíram a amos-tra. Privilegiaram-se as medidas de avaliação que apresen-taram melhores características discriminantes, cuja utiliza-ção estivesse mais difundida na investigação e na utiliza-ção clínica, e que estivessem adaptadas (ou em processode validação) para a população portuguesa. Este proces-so envolveu a consulta sistemática da literatura da especi-alidade, e o pedido de parecer a especialistas nacionais einternacionais em avaliação psicológica e neuropsico-lógica.

Qualidade de VidaA perspectiva actual sobre o processo de avaliação de

pessoas com incapacidades psiquiátricas assume, basea-da em dados empíricos, que os dados oferecidos pelosdoentes acerca da sua qualidade de vida são fidedignos econsistentes, devendo por conseguinte ser valorizados34-

36. Classicamente, a qualidade de vida pode ser avaliadacom recurso a instrumentos genéricos, destinados à po-pulação em geral ou a grupos de doentes, onde se colo-cam questões gerais sobre a sua qualidade de vida, e ainstrumentos específicos, com itens dirigidos à mensu-ração dos problemas comuns de dado grupo nosológico.Bobes et al37 reviram a aplicação de alguns destes instru-mentos com pessoas com Esquizofrenia, tendo concluídoque a aplicação de ambos é igualmente útil. Os instrumen-tos genéricos de qualidade de vida têm a vantagem deabordar os domínios que são comuns à vida de qualquerpessoa, afastando qualquer conotação com a suasintomatologia.

Neste estudo utilizou-se o Instrumento de Avaliaçãoda Qualidade de Vida da Organização Mundial de Saúde– Forma Abreviada (WHOQOL-Bref)38. O WHOQOL-Brefcorresponde à versão abreviada do WHOQOL-100 (de 100

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itens), tendo sido criado como forma de se disponibilizarum instrumento de qualidade de vida que demorasse me-nos tempo no seu preenchimento (cerca de 15 minutos),mas que simultaneamente reflectisse as mesmas facetasda versão original (apesar de agrupadas em domínios dife-rentes) e mantivesse padrões psicométricos elevados. OWHOQOL-Bref é constituído por 26 itens, dois dos quaisrelativos à percepção geral de qualidade de vida e à per-cepção geral de saúde, e os restantes associados às 24facetas específicas presentes no WHOQOL-100, que per-mitem avaliar a qualidade de vida a partir de quatro domí-nios distintos: domínio Físico, domínio Psicológico, do-mínio Relações Sociais e domínio Ambiente. Habitualmen-te, a aplicação deste instrumento é feita por auto-preen-chimento, sendo contudo possível, em casos especiais,que o avaliador preencha os dados enquanto questiona oavaliado.

Funcionamento neurocognitivoNo que diz respeito à avaliação neurocognitiva dos

participantes, procurou-se reunir uma bateria de testesbaseada no modelo modular do funcionamento cognitivo,que assenta na premissa de que há uma autonomia e espe-cialização nos diferentes sistemas cognitivos8. Destemodo, incluíram-se os instrumentos considerados (a par-tir das indicações de diversos especialistas e dos racio-nais de organização modular propostos em diferentes tra-balhos) suficientemente sensíveis a domínios específicosdo funcionamento neurocognitivo. Os testes utilizadosforam os seguintes:

Teste de Atenção d239 – Tarefa de cancelamento deletras, na qual os participantes devem assinalar todos osalvos (letras d com dois apóstrofos acima ou abaixo, oucom um apostrofo acima e outro abaixo) de entre váriosdistractores. A cotação foi efectuada com base num cálcu-lo proposto pelo autor, que leva em consideração as res-postas correctas, as omissões e os erros. Este teste é habi-tualmente encarado como uma medida global de atençãoou de concentração e de atenção sustentada, pelo factode mobilizar a capacidade para manter a actividade aten-cional durante um período de tempo considerável39-41.

Figura Complexa de Rey42 – Nesta tarefa é requeridaa cópia de um desenho geométrico complexo, e a sua pos-terior reprodução de memória (sem que a figura seja ob-servada). Considerou-se, para efeitos de pontuação daprova, os critérios definidos para a cotação da riqueza eexactidão do desenho. Segundo os autores da validaçãoda prova para Portugal, o teste da Figura Complexa de Reymede a actividade perceptiva e a memória visual42. De for-ma semelhante, outros autores referem-na como uma me-

dida de fluência ou organização visuo-espacial e de cons-trução, de organização perceptiva, de organização visuo-constructiva (no caso da tarefa de cópia) ou de memóriavisuo-espacial e de retenção de informação visual no casoda reprodução de memória8,32,40,43.

Memória de Dígitos (subteste da versão Portuguesada Wechsler Adult Intelligence Scale 3rd Edition – WAIS-III)44 – Esta prova é composta por duas tarefas, nas quaiso avaliador lê em voz alta uma sequência de números. Adiferença entre as duas tarefas é que na primeira (dígitosem sentido directo) o participante deve reproduzir os nú-meros na ordem lida pelo avaliador, enquanto na segunda(dígitos em sentido inverso) o participante deve repetir osnúmeros pela ordem inversa à apresentada pelo avaliador.Pelo facto das tarefas propostas combinarem a reprodu-ção imediata de informação verbal e a sua posterior mani-pulação mental, este teste é geralmente tido como umamedida de memória de trabalho transitória e de memória detrabalho executiva45,46.

Pesquisa de Símbolos (subteste da WAIS-III)44 – Estatarefa requer que os participantes observem um grupo alvocom dois símbolos e um grupo de pesquisa com cinco sím-bolos. A partir da comparação entre cada um destes grupos,devem decidir se algum dos símbolos do grupo alvo estápresente no grupo de pesquisa. O resultado deste teste écalculado a partir do número máximo de itens respondidosdurante um tempo limite de dois minutos, reflectindo odomínio de velocidade de processamento44, 47-49.

Código (subteste da WAIS-III)44 – Nesta prova, recor-rendo a uma chave que faz corresponder um número a umsímbolo, cada participante deverá desenhar por baixo de cadanúmero da folha de respostas o símbolo correspondente. Talcomo no caso da Pesquisa de Símbolos, este subteste per-mite inferir sobre a velocidade de processamento44, 47-49.

Vocabulário (subteste da WAIS-III)44 – Nestesubteste é proposto aos participantes que definam oral-mente uma série de palavras que devem ser apresentadasimpressas num cartão, e lidas em voz alta pelo avaliador.Com esta prova procurou-se aceder às competências ver-bais e/ou à compreensão verbal dos participantes4,32,43.

Aritmética (subteste da WAIS-III)44 – Nesta prova pede-se aos participantes que resolvam mentalmente um conjun-to de problemas aritméticos e que dêem uma resposta cor-recta dentro de um período de tempo limite estipulado. Es-tes problemas usam na sua maioria elementos comuns àssituações da vida diária. Este teste permite avaliar as com-petências de cálculo e de resolução de problemas, sendopor vezes considerado uma medida de avaliação da aten-ção50,51. Este teste é também habitualmente incluídofactorialmente na dimensão memória de trabalho44,52,53.

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Disposição de Gravuras (subteste da WAIS-III)44

– Consiste em organizar um conjunto de cartões com figu-ras, dispostos de forma incorrecta no início, com o intuitode que a sua sequência final reflicta uma pequena históriacom lógica. Na literatura este instrumento tem sido refe-renciado como medida de raciocínio, conhecimento e re-solução de problemas de natureza social53,54 ou comoinstrumento de avaliação das competências de sequen-ciação mental e de cognição social55,56.

WCST57 – Este instrumento é um dos mais indicadospara proceder à avaliação das funções executivas. Con-siste no emparelhamento de 128 cartões-resposta comquatro cartões-estímulo. No desempenho da tarefa os par-ticipantes procuram dispor os cartões-resposta de acordocom um critério para si desconhecido que deverá ser infe-rido através do feedback oferecido pelo avaliador. Consi-derou-se para efeitos de cotação o número de categoriascompletas e a percentagem de erros perseverativos, cal-culada a partir dos ensaios incorrectos em que os partici-pantes mantiveram o critério de resposta, apesar de tersido dado feedback em contrário. Para além de ser consi-derada uma medida do funcionamento executivo, esta provatambém tem sido referenciada como sendo um indicadorde flexibilidade mental ou cognitiva, de resolução de pro-blemas, e de formação de conceitos (sobretudo no que dizrespeito ao número de categorias completas)27-30,40,48,58.

Teste Stroop59 – Recorreu-se a uma versão deste testeque passa pela realização de três tarefas que devem serconcluídas em 45 segundos cada: leitura de um númeromáximo de palavras (nomes de cores); nomeação da corde conjuntos de quatro letras X seguidas; e nomeação dacor de impressão de palavras com nomes de cores queconflituam com a sua coloração. Foram considerados osscores relativos ao número de palavras lidas na primeiratarefa (palavras); outros dois relacionados com o númerode cores nomeadas na segunda e na última tarefa (cores ecores-palavras); e um último resultado denominado deinterferência, que é calculado com uma fórmula que intro-duz os outros resultados mencionados. Este instrumentopermite avaliar a atenção selectiva através de um proces-so de inibição de respostas4,6,60, o que tem levado algunsautores a considerarem-no uma medida de função executi-va. Os resultados da leitura de palavras da primeira tarefae de nomeação de cores da segunda podem ser interpreta-dos como indicadores de atenção sustentada e de veloci-dade de processamento43,53,61.

Teste IA: Escala Reduzida das Matrizes Progressivasde Raven62 – Este teste foi utilizado como medida de ava-liação da capacidade intelectual geral, e consiste de cincoséries de seis itens cada (30 no total) que contêm um dese-

nho incompleto, e entre seis a oito possíveis modelos deencaixe, dos quais apenas um é susceptível de preenchercorrectamente o desenho. Para efeitos de cotação atribuiu-se um ponto a cada resposta correcta, num máximo possí-vel de 30 pontos.

Análise dos DadosOs dados recolhidos foram tratados com recurso ao

programa SPSS Versão 14.0. Inicialmente obtiveram-secoeficientes de correlação momento produto de Pearsonpara proceder à análise da força e direcção das relaçõesestabelecidas entre as variáveis em estudo. Considera-ram-se os critérios de Cohen63 para classificar a força darelação entre as variáveis, que pode variar entre 0.10 e 0.29para o caso de ser uma correlação baixa, entre 0.30 e 0.49para as correlações moderadas, e entre 0.50 e 1.0 para ascorrelações altas.

De seguida efectuaram-se análises de regressão (re-gressão linear múltipla) para predizer a variância dos do-mínios de qualidade de vida (variáveis dependentes) apartir de combinações lineares das variáveis independen-tes (domínios neurocognitivos), examinando o seu contri-buto na predição dessas variáveis. Para tal, recorreu-se aométodo stepwise, tendo-se incluído como possíveis pre-ditores todas os domínios neurocognitivos que se apre-sentaram significativamente correlacionados com os do-mínios de qualidade de vida considerados, com um nívelde significância estatística α = 0.05 e α = 0.01.

RESULTADOS

A amostra final foi constituída por 37 pessoas comEsquizofrenia, maioritariamente pertencentes ao sexo mas-culino (86,5%), com idades que se situaram entre os 25 eos 53 anos de idade (M = 41,89; DP = 8,47). A maioria dosparticipantes era solteiro (73%) ou divorciado/separado(21.6%), sendo que 51,3% apresentaram um nível de esco-laridade igual ou inferior ao nono ano e 24,3% frequênciade ensino superior (não completo), com uma média totalde aproximadamente nove anos de ensino formal ou deescolaridade. Apenas uma pequena parte dos participan-tes se encontrava a trabalhar (8%), tendo sido considera-dos para esta contagem somente aqueles que tinham umcontrato normal de trabalho. Igual proporção foi encon-trada em relação ao número daqueles que ainda estuda-vam. Por outro lado, registou-se que a grande maioria dosparticipantes (65%) se encontrava a receber pensão soci-al. Do ponto de vista do contexto residencial, constatou-se que 8,1% se encontrava a residir autonomamente, que54% usufruíam de estruturas de apoio residencial e que

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37,8% habitavam conjuntamente com a família de origem(Quadro 1).

Relativamente à relação entre as variáveis neurocog-nitivas e os indicadores de qualidade de vida estudados,observa-se que esta parece ser mais forte nos domíniosPsicológico e Relações Sociais (Quadro 2). Verifica-se queesta associação é semelhante em relação a quase todos osfactores neurocognitivos, onde são excepção a Interfe-rência (apenas significativamente correlacionada com odomínio Psicológico), e a Disposição de Gravuras (signifi-

cativamente correlacionada com as Relações Sociais). Noque diz respeito ao domínio Físico de Qualidade de Vida,verifica-se que este se encontra significativamente corre-lacionado com várias medidas de atenção (nomeadamentecom a tarefa Cores, com a tarefa Palavras-Cores, e com apontuação de Interferência do Teste Stroop), com a orga-nização visuo-espacial (tarefa de Cópia do Teste da FiguraComplexa de Rey), com a velocidade de processamento(conforme avaliada pela Pesquisa de Símbolos) e com asfunções executivas (quer em relação à Percentagem de

)PD(M N %

oxeSonilucsaM 23 5.68

oninimeF 5 5.31

edadI )74.8(98.14

liviCodatsE

orietloS 72 0.37

otcaFedoãinU/odasaC 2 4.5

odaicroviD/odarapeS 8 6.12

edadiralocsE

onaº4étA 8 6.12

onaº6-º5 8 6.12

onaº9-º7 3 1.8

onaº21-01 7 9.81

roirepuSonisnEodaicnêuqerF 9 3.42

roirepuSosruC 2 4.5

edadiralocsEedsiatoTsonA )83.4(53.9

larobaLoãçautiS

odagerpmE 3 1.8

odagerpmeseD 7 9.81

laicoSoãsneP 42 9.46

etnadutsE 3 1.8

laicnediseRoãçautiS

airpórPoãçatibaH 3 1.8

megirOedailímaF 41 8.73

adigetorPadiVededadinU 8 6.12

adaiopAadiVededadinU 7 9.81

amonótuAadiVededadinU 5 5.31

oãçacideMocipítAocitócispitnA 82 7,57

lanoicnevnococitócispitnA 9 3,42

açneodadoãçarudedopmeT )16,8(72,61

Quadro 1 – Caracterização sócio-demográfica da amostra

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Erros Perseverativos, quer em relação ao número de Cate-gorias). Quanto às associações estabelecidas com o domí-nio Ambiente, observa-se que este se encontra mais corre-lacionado com indicadores de atenção (Teste d2, Tarefade Cores do Teste Stroop, Tarefa de Palavras-Cores doTeste Stroop e Interferência-Stroop) e de funções executi-vas (Percentagem de Erros Perseverativos-WCST, Cate-gorias-WCST).

Com o objectivo de identificar as variáveis neurocogni-tivas diferenciais com melhores propriedades preditorasda qualidade de vida, realizaram-se análises exploratóriasde regressão, através do método stepwise, tendo sido in-

cluídas como variáveis independentes os factores neuro-cognitivos que se mostraram significativamente correlacio-nados com os diferentes domínios de qualidade de vida.Os Quadros a seguir apresentados sintetizam cada análisede regressão múltipla realizada. Nestas análises encon-tram-se os valores do coeficiente de determinação múlti-plo (R2), a significância estatística da relação entre as va-riáveis dentro do modelo (coeficiente F e o respectivovalor de significância estatística, sig.), os coeficientes deregressão standardizados (β) e sua significância estatís-tica (sig.), os valores do teste t, e o coeficiente de correla-ção semi-parcial (sr2).

ovitingoCetseT )FERB-LOQOHW(adiVededadilauQedsoinímoD

ocisíF ocigólocisP siaicoSseõçaleR etneibmA

2detseTlatoTerocS 982.0 **865.0 **655.0 **134.0

sarvalaP–poortS 302.0 **174.0 **315.0 713.0

seroC–poortS *633.0 **145.0 **554.0 **294.0

seroC-sarvalaPpoortS *983.0 **975.0 **325.0 **514.0

aicnêrefretnIpoortS *283.0 **134.0 223.0 **224.0

aipóC–yeR *693.0 **206.0 **525.0 **444.0

airómeM–yeR 992.0 **424.0 *463.0 082.0

sotigíDedairómeM 503.0 *583.0 *514.0 871.0

solobmíSedasiuqseP *473.0 **375.0 **294.0 **474.0

ogidóC 922.0 **525.0 **105.0 *033.0

oirálubacoV 901.0 *383.0 *083.0 761.0

saruvarGedoãçisopsiD 141.0 602.0 *963.0 432.0

acitémtirA 252.0 **874.0 **844.0 *004.0

sovitarevesrePsorrE% **364.0- **315.0- **634.0- **674.0-

sairogetaC *233.0 **784.0 **134.0 *093.0

AIetseT 731.0 *563.0 *963.0 612.0

Quadro 2 – Correlações de tipo Pearson entre as variáveis neurocognitivas e os domínios de qualidade de vida

* p<0.05 ** p<0.01

( fd ) F .gis R2 βββββ T rs 2 .gis

labolGoledoM 045.9)53,1( **400.0 412.0

serotiderP

sovitarevesrePsorrE% 364.0- 980.3- 412.0 **400.0

Quadro 3 – Resumo do modelo de regressão para predição do domínio Físico da Qualidade de Vida, utilizando o método stepwise

* p<0.05 ** p<0.01

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Assim, no que se refere à predição da qualidade devida no domínio Físico (Quadro 3), o modelo obtido apre-senta uma única variável preditora significativa, a Percen-tagem de Erros Perseverativos no WCST. Na sua globali-dade, este modelo explica 21,4% da variância total dosresultados observados (F[1,35] = 9.54; p < 0.01).

Quanto ao domínio Psicológico da qualidade de vida(Quadro 4), identificaram-se dois preditores significativos,a tarefa de Cópia do Teste da Figura Complexa de Rey e oTeste de Atenção d2, num modelo de regressão que foicapaz de explicar cerca de 48,8% da variância dos resulta-dos neste domínio (F[2,34] = 16,20; p < 0.001).

Os mesmos preditores encontrados no modelo de regres-são que apresentamos anteriormente para a predição do do-mínio Psicológico, integraram também o modelo preditor dodomínio Relações Sociais da qualidade de vida (Quadro 5),apesar de desta vez ter sido o score do Teste de Atenção d2

a dar um maior contributo para o total da variânciaexplicada, que foi neste modelo de aproximadamente 42%.

Para finalizar, a análise de regressão que teve comovariável dependente o domínio Ambiente da qualidade devida (Quadro 6) permitiu a obtenção de um modelo signi-ficativo, capaz de explicar 33,3% da variância total dosresultados do domínio Ambiente. Uma vez mais encon-trou-se uma medida da atenção (tarefa Cores do TesteStroop) como preditora de um resultado de qualidade devida, a que se somam as funções executivas (avaliadaspela percentagem de erros perseverativos no WCST).

Após terem sido realizadas estas análises de regres-são, incluíram-se ainda os factores idade e anos de esco-laridade como variáveis independentes, tendo-se verifi-cado pelas análises efectuadas que estas variáveis não seapresentam como preditoras dos domínios de qualidadede vida anteriormente referidos.

( fd ) F .gis R2 βββββ T rs 2 .gis

labolGoledoM 002.61)43,2( **000.0 884.0

serotiderP

aipóC-yeR 544.0 903.3 561.0 **200.0

2detseTlatoTerocS 783.0 288.2 521.0 **700.0

Quadro 4 – Resumo do modelo de regressão para predição do domínio Psicológico da Qualidade de Vida, utilizando o métodostepwise

* p<0.05 ** p<0.01

( fd ) F .gis R2 βββββ T rs 2 .gis

labolGoledoM 990.21)43,2( **000.0 614.0

serotiderP

2detseTlatoTerocS 014.0 068.2 141.0 **700.0

aipóC-yeR 753.0 194.2 601.0 *810.0

Quadro 5 – Resumo do modelo de regressão para predição do domínio Relações Sociais da Qualidade de Vida, utilizando o métodostepwise

* p<0.05 ** p<0.01

( fd ) F .gis R2 βββββ T rs 2 .gis

labolGoledoM 505.8)43,2( **100.0 333.0

serotiderP

seroC-poortS 853.0 633.2 701.0 *620.0

sovitarevesrePsorrE% 133.0- 361.2- 290.0 *830.0

Quadro 6 – Resumo do modelo de regressão para predição do domínio Ambiente da Qualidade de Vida, utilizando o métodostepwise

* p<0.05 ** p<0.01

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DISCUSSÃO

De um modo geral, os resultados deste estudo permiti-ram encontrar correlações moderadas e altas entre as dife-rentes dimensões de qualidade de vida e a maioria dosconstructos neurocognitivos analisados, tendo-se estasassociações estabelecido com maior força com os domíni-os Psicológico e Relações Sociais de qualidade de vida.Analisando o valor preditor das funções neurocognitivas,verifica-se que estas permitem explicar entre 21,4% e 48,8%da variância total dos níveis de qualidade de vida nasdiversas vertentes consideradas, resultados estes que seenquadram dentro dos anunciados por Green et al24, quereferem uma variação entre os 20% e os 60%.

No que diz respeito ao domínio Físico de qualidade devida, verifica-se que este se encontrou especialmente as-sociado com medidas de atenção, velocidade de processa-mento e funções executivas, tendo tido como único predi-tor significativo uma medida de funcionamento executivorelacionada com a perseveração. Na literatura, as funçõesexecutivas (conforme avaliadas pelo WCST) têm sido vá-rias vezes associadas à qualidade de vida em geral e adimensões da resposta funcional que estão contidas comofacetas no domínio Físico do WHOQOL-Bref, como porexemplo as actividades de vida diária e a capacidade detrabalho24,26-29. Por outro lado, parece ser bastante claroque um maior número de erros de perseveração pode in-terferir significativamente com a capacidade de constru-ção de hipóteses, com a selecção adaptativa de diferentesopções e com o planeamento de acções direccionadas paraa manutenção da qualidade de vida na sua vertente física.

Quanto ao domínio Psicológico da qualidade de vida,para além de se terem registado correlações significativascom quase todas as dimensões neurocognitivas, foramidentificados dois preditores significativos, relacionadoscom a organização perceptiva e com a capacidade de aten-ção. De acordo com o modelo de organização neurocom-portamental de Brenner et al64, a categoria atencional/perceptual de processamento da informação constitui osalicerces de construção de níveis mais elevados de orga-nização funcional nas pessoas com Esquizofrenia. Assim,os dados obtidos neste modelo preditivo sugerem que,para a qualidade de vida em geral, como indicador de pro-ficiência macro-social, e em particular para este domínioespecífico de qualidade de vida, o funcionamento básicoao nível da organização perceptiva (ou visuo-construti-va) e dos recursos atencionais para o exterior (ao invés dedeslocados para experiências auto-focadas), parece ter umcarácter estruturante e organizador da vida psíquica emgeral (que engloba, no âmbito do modelo conceptualizado

para o WHOQOL-Bref, o pensamento, a aprendizagem, amemória e concentração, a auto-estima e auto-imagem, eos sentimentos e crenças pessoais).

Relativamente ao domínio Relações Sociais, regista-ram-se mais uma vez correlações significativas com quasetodas as variáveis neurocognitivas consideradas, tendo-se destacado o facto do teste Disposição de Gravurasapenas se ter correlacionado significativamente com estedomínio de qualidade de vida. Supõem-se que tal terá acon-tecido pelo facto desta prova estar associada às capaci-dades sócio-cognitivas subjacentes ao estabelecimentode relações sociais, como a organização de sequênciassociais e a resolução de problemas de natureza social.

Pelas análises de regressão efectuadas, verificou-seque os preditores neurocognitivos encontrados para estedomínio foram os mesmos que se destacaram no domínioPsicológico, com a diferença de que a sua contribuiçãopara a explicação dos resultados apareceu em ordem in-versa, tendo a atenção explicado maior proporção davariância total do que a organização perceptiva. Para alémdo que já foi referido a propósito destes factores constitu-írem mecanismos básicos de sustentação de sistemas com-portamentais mais complexos64, julga-se não ser por aca-so que para o domínio Relações Sociais seja a atenção oprincipal preditor. Segundo Cornblatt e Keilp65, os déficesde atenção na infância poderão estar por detrás da aquisi-ção deficiente de competências sociais básicas na Esquizo-frenia. A sua presença na infância e na idade adulta podeconstituir uma barreira ao processo normal de aprendiza-gem social por modelagem, que exige por parte dos indiví-duos a capacidade de dar atenção aos aspectos críticosdas competências sociais, imprescindíveis para a sua cor-recta aquisição66.

Neste sentido, encontraram-se também associações sig-nificativas entre a capacidade de atenção e o domínio rela-ções sociais do WHOQOL-Bref na investigação de Alptekinet al25. Noutros estudos, a capacidade de atenção tem sidoassociada à capacidade de resolução de problemas sociaise à aquisição de competências24,40,47, ao funcionamentosocial49, à qualidade de vida geral28,67, e à aptidão paracorrectamente discriminar as expressões faciais dos ou-tros68, tornando-a, pelo seu valor funcional confirmadoneste e em outros estudos, um alvo privilegiado de inter-venção nos processos de reabilitação psicossocial.

Quanto às associações estabelecidas com o domínioAmbiente do WHOQOL-Bref, é interessante observar queeste se encontra especialmente determinado por indica-dores de atenção e de funções executivas. Curiosamente,são precisamente estas as medidas que mais dependem,para o sucesso dos seus resultados, da capacidade de

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aproveitamento de pistas ambientais relevantes e da selec-ção de estímulos externos concorrentes. No ajustamentodos indivíduos ao seu ambiente, estas funções cognitivaspodem surgir como responsáveis pela capacidade de ma-nutenção do foco de atenção nas situações exteriores re-levantes (em contraposição ao direccionamento da aten-ção para experiências pessoais inusuais ou para pistasambientais concorrentes) e pela capacidade de beneficiardo feedback dado pelo contexto. Esta situação torna-semais importante quanto maiores forem as dificuldades queos sujeitos apresentem na integração da informaçãocontextual, que, como sabemos, é uma capacidade que aspessoas com Esquizofrenia tendem a apresentar de formamuito deficitária66, 69,70.

CONCLUSÃO

Os resultados deste estudo corroboram os modelosteóricos e os dados dos estudos que anunciam um tributopreponderante da neurocognição na funcionalidade e naqualidade de vida das pessoas com Esquizofrenia. Curio-samente, foram precisamente as funções cognitivas su-periores (que se revelaram neste estudo como preditoresda qualidade de vida) que se têm também mostrado asso-ciadas às alterações pré-frontais (estruturais e funcionais)típicas da Esquizofrenia. Estas alterações podem estar cir-cunscritas ao córtex pré-frontal, como podem estar tam-bém presentes noutras áreas (como o giro temporal supe-rior), tornando consistente o modelo de implicação de re-des neuronais na patofisiologia da doença71.

O conceito inicial de Kraepelin1 sobre a demência pre-coce estava alicerçado sobre a crença de que esta progre-dia ao longo do tempo até um estado de deterioração ge-neralizada. Contudo, as investigações mais actuais indi-cam que a Esquizofrenia é uma doença incerta na sua evo-lução, variando consideravelmente de pessoa para pes-soa, conforme o próprio Kraepelin chegou mais tarde averificar. Esta variabilidade resulta da própria heterogenei-dade do processo patofisiológico da doença, mas tambémde factores de vulnerabilidade biológica e genética, dedificuldades neurocognitivas, de stressores ambientais, ede factores protectores como o suporte social e as estraté-gias pessoais de coping, conforme conceptualiza o mode-lo de Vulnerabilidade ou Diátese – Stress72.

A mais-valia deste modelo no que concerne à concep-ção de programas de reabilitação psicossocial centra-sena ideia de que os indivíduos não são passivos ou im-potentes para determinar o curso da sua própria vida. Pelocontrário, enfatiza que a potenciação de factores protec-tores e o desenvolvimento de estratégias de coping po-

dem influenciar positivamente os outcomes relacionadoscom a qualidade de vida e a funcionalidade. Deste modo,as intervenções psicossociais constituem um conjunto deabordagens e técnicas que visam desenvolver competên-cias pessoais (nos domínios cognitivo, emocional, sociale psicomotor), potenciar o desempenho em todas as esfe-ras do funcionamento (ao nível das ocupações laborais,participação social, relações pessoais, lazer e cuidados pes-soais), e melhorar a capacidade pessoal de gestão da doen-ça e diminuir o risco de recaída (através de um controlo maisefectivo dos sintomas e de uma melhor adesão terapêutica),com o objectivo de promover a possibilidade de se viveruma vida autónoma, segura, satisfatória e com qualidade,associada a uma participação comunitária efectiva.

Neste sentido, e tendo em consideração que os resul-tados deste estudo colocam a neurocognição com um pa-pel fundamental na determinação dos níveis de qualidadede vida, sugere-se a implementação de programas deremediação cognitiva, integrados nos programas de reabi-litação psicossocial já existentes, centrados no desenvol-vimento das funções neurocognitivas básicas, da capaci-dade de planeamento estratégico e de processamento efi-ciente da informação, bem como do pensamento estraté-gico nas actividade da vida diária.

Conflito de interesses:Os autores declaram não ter nenhum conflito de interesses relati-vamente ao presente artigo.

Fontes de financiamento:Não existiram fontes externas de financiamento para a realizaçãodeste artigo.

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