1 O PAPEL DO BIBLIOTECÁRIO COMO MEDIADOR DO O PAPEL DO BIBLIOTECÁRIO COMO MEDIADOR DO O PAPEL DO BIBLIOTECÁRIO COMO MEDIADOR DO O PAPEL DO BIBLIOTECÁRIO COMO MEDIADOR DO LETRAMENTO INFORMACIONAL NA LETRAMENTO INFORMACIONAL NA LETRAMENTO INFORMACIONAL NA LETRAMENTO INFORMACIONAL NA BIBLIOTECA PÚBLICA, ESCOLAR E UNIVERSITÁRIA: ALGUMAS REFLEXÕES BIBLIOTECA PÚBLICA, ESCOLAR E UNIVERSITÁRIA: ALGUMAS REFLEXÕES BIBLIOTECA PÚBLICA, ESCOLAR E UNIVERSITÁRIA: ALGUMAS REFLEXÕES BIBLIOTECA PÚBLICA, ESCOLAR E UNIVERSITÁRIA: ALGUMAS REFLEXÕES Andréa Pereira dos Santos Andréa Pereira dos Santos Andréa Pereira dos Santos Andréa Pereira dos Santos 1 Janaina Ferreira Fialho Janaina Ferreira Fialho Janaina Ferreira Fialho Janaina Ferreira Fialho 2 1 INTRODUÇÃO INTRODUÇÃO INTRODUÇÃO INTRODUÇÃO Pictogramas, escrita mnemônica, escrita cuneiforme, escrita ideográfica (hieróglifos), escrita fonética, invenção do alfabeto. Essa linha de desenvolvimento das formas de escrita se deu de forma muito lenta. Da escrita cuneiforme até a invenção do alfabeto pela civilização egeia no século VI a.C. foram cerca de 4 mil anos (MARTINS, 2001). A informação, desde os tempos pré-históricos, sempre foi o ponto de aproximação entre o saber ou prática constituída e os indivíduos que posteriormente viriam a nascer naquele grupo. De tempos em tempos a forma de transmissão foi se aprimorando até ao que conhecemos hoje. A partir da consolidação da escrita, foram se aprimorando os suportes empregados na escrita. Pedra, ouro, argila, chumbo, bronze foram alguns dos suportes utilizados nas sociedades antigas. Posteriormente foram utilizados os pergaminhos (feitos de pele de animais) e o papiro (uma planta de fibra resistente) mais maleável (MARTINS, 2001). Depois vemos surgir a imprensa de Gutenberg por volta do ano de 1450. Foi uma grande conquista no que diz respeito à difusão e barateamento da informação, uma vez 1 Professora Assistente do Curso de Biblioteconomia da UFG. Especialista em Docência Universitária, Mestre em Comunicação e Doutoranda em Geografia. Contato: [email protected]2 Professora Adjunta do Curso de Biblioteconomia da UFG. Doutora em Ciência da Informação. Contato: [email protected].
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Texto Bibliotecário como Mediador do Letramento Informacional
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O PAPEL DO BIBLIOTECÁRIO COMO MEDIADOR DOO PAPEL DO BIBLIOTECÁRIO COMO MEDIADOR DOO PAPEL DO BIBLIOTECÁRIO COMO MEDIADOR DOO PAPEL DO BIBLIOTECÁRIO COMO MEDIADOR DO LETRAMENTO INFORMACIONAL NA LETRAMENTO INFORMACIONAL NA LETRAMENTO INFORMACIONAL NA LETRAMENTO INFORMACIONAL NA
BIBLIOTECA PÚBLICA, ESCOLAR E UNIVERSITÁRIA: ALGUMAS REFLEXÕESBIBLIOTECA PÚBLICA, ESCOLAR E UNIVERSITÁRIA: ALGUMAS REFLEXÕESBIBLIOTECA PÚBLICA, ESCOLAR E UNIVERSITÁRIA: ALGUMAS REFLEXÕESBIBLIOTECA PÚBLICA, ESCOLAR E UNIVERSITÁRIA: ALGUMAS REFLEXÕES
Andréa Pereira dos SantosAndréa Pereira dos SantosAndréa Pereira dos SantosAndréa Pereira dos Santos1111
CriançasCriançasCriançasCrianças � Público complexo – exige atenção e assistência individual, entretanto é um
público fácil de estimular o gosto pela leitura
� Para esse público a biblioteca deve ser um espaço lúdico
� Acervo deve ser atrativo
� O atendimento deve ser além do mero escolar
� O acervo deve possibilitar o exercício da arte e do intelecto
� A pesquisa deve ir além da enciclopédia ou da busca simples em sites de
pesquisa
� Ao lado do acervo, outras ações lúdicas e culturais devem ser implantadas
� Deve-se ter mais intermediação e menos técnicana hora de lidar com as crianças
� Acesso mediado a Internet
EstudantesEstudantesEstudantesEstudantes � Adolescência – deve ser acentuado o incentivo a leitura e a pesquisa
� Fase difícil – conflitos e resistência a executar tarefas
� O acervo para adolescentes é menos atrativo. Deve-se trabalhar em acervos de
acordo com o gosto e o perfil
� Acervo juvenil – ir além do infantil sem ser incompreensível
� Deve-se trabalhar com diversos acervos multimídia
� Ir além da leitura convencional
� Não pensar que Internet, cinema e televisão possam diminuir o gosto pela leitura
UniversitáriosUniversitáriosUniversitáriosUniversitários � Prioridade dada ao discurso do professor
� Parte-se do pressuposto que universitários sabem pesquisar
� O foco deve ir além da bibliografia básica dos cursos
� Bibliotecário deve estar bem preparado para pesquisa em grandes bases de dados
� É necessário conhecer os campos de atuação da universidade
� Criar um mapa de fontes de informação segura que podem atender a este
público usuário
CidadãoCidadãoCidadãoCidadão � O tipo de informação necessária não é tão evidente
� O bibliotecário deve indicar o tipo de informação que possa contribuir parao
esclarecimento do cidadão
� Deve-se estabelecer o perfil do público potencial
� Muitas vezes a informação deverá ser traduzida para uma linguagem mais
simples
� Deve-se criar necessidades
� Ouvir o público é bastante importante
� Conhecer a história, tradições e valores do local onde a biblioteca está inserida
� O acervo deve ser motivante e heterogêneo
� O acervo deve ir além do impresso: é importante filmes, exposições, palestras
� Acesso a Internet e a jornais diários
Título: Perfil dos usuários da biblioteca escolar, biblioteca pública e UniversitáriaTítulo: Perfil dos usuários da biblioteca escolar, biblioteca pública e UniversitáriaTítulo: Perfil dos usuários da biblioteca escolar, biblioteca pública e UniversitáriaTítulo: Perfil dos usuários da biblioteca escolar, biblioteca pública e Universitária
Fonte: Quadro criado pelas autoras tendo por base Milanesi (2002)Fonte: Quadro criado pelas autoras tendo por base Milanesi (2002)Fonte: Quadro criado pelas autoras tendo por base Milanesi (2002)Fonte: Quadro criado pelas autoras tendo por base Milanesi (2002)
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Como se percebe no quadro, o público a ser atendido nos diferentes tipos de
biblioteca é bem diferenciado. O processo de letramento informacional em cada uma dessas
instituições deve considerar esse perfil. Nem sempre um mesmo modelo ou processo irá
funcionar em ambos casos. O próprio perfil do bibliotecário é delineado ao tipo de
instituição que trabalha.
O público da biblioteca pública é o mais complexo, pois é bastante diverso e
heterogêneo. Para completar ela ainda carrega a função de biblioteca escolar, por falta
dessas últimas no ambiente educacional. Da mesma forma, muitas vezes vemos que
bibliotecas universitárias atendem também públicos vindos das escolas.
Em relação à biblioteca escolar e aos mediadores, é preciso que as políticas
públicas avancem, para que ambas (escolar e pública) possam atender de forma satisfatória
o público a que se destinam.
4 4 4 4 LETRAMENTO INFORMACIONAL: CONCEITOS E DEFINIÇÕESLETRAMENTO INFORMACIONAL: CONCEITOS E DEFINIÇÕESLETRAMENTO INFORMACIONAL: CONCEITOS E DEFINIÇÕESLETRAMENTO INFORMACIONAL: CONCEITOS E DEFINIÇÕES
O atual contexto social nos coloca, diariamente, diante de questões desafiadoras
que nos exigem respostas e posicionamentos. Uma destas questões se relaciona a busca,
acesso e uso competentes de diferentes tipos de informações que nos possibilitem gerar
respostas. O uso de informações competentes, por sua vez, fortalecerá conhecimentos já
gerados ou gerarão novos conhecimentos. Assim, a geração de conhecimentos criativos e
renovadores passa necessariamente pelo acesso e uso de informações de qualidade. Neste
contexto, as pessoas necessitam de letramento informacional.
Segundo a Associação Americana de Bibliotecários Escolares (AASL, 2000), o
termo letramento informacional designa habilidades individuais relativas ao
reconhecimento da necessidade, localização, avaliação e uso efetivo da informação. Esse uso
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efetivo significa a transformação dessa em novos conhecimentos que efetivamente
contribuam para a formação política, social e cultural dos indivíduos.
O uso competente da informação é principalmente importante no atual contexto
de rápidas mudanças tecnológicas e de grande fluxo da informação (AASL, 2000).
Oletramento informacional e todo o seu conjunto de habilidades é primordial para qualquer
indivíduo, independente da sua escolaridade e classe social.
A Globalização começou em meados do século XX com o avanço dos meios de
transporte e de comunicação, a qual teve como necessidade o avanço dos mercados e
consequente alimento do capitalismo.
Tal dinâmica permitiu uma maior abertura e expansão das informações geradas
pelo mundo, tornando-se palco de uma grande explosão informacional que requer dos
indivíduos habilidades para reconhecer nessa grande Babel a informação necessária para o
aprendizado pessoal e transformação social.
A abertura dos mercados no final da Guerra Fria nos anos 1980 exigiu cada vez
mais informações que pudessem agregar valores aos produtos (MELO; ARAÚJO, 2007) e
pessoas com competências mais específicas e complexas e não simplesmente qualificação
(MIRANDA, 2004).
Desde a década de 50 os países mais desenvolvidos preocuparam-se em formar
cidadãos hábeis para a sociedade da informação, reconhecendo a importância da educação,
das bibliotecas escolares e dos bibliotecários nesse processo (FIALHO, 2009; MELO; ARAÚJO,
2007). Nos Estados Unidos, o bibliotecário passou a incorporar um papel pedagógico na
escola, fazendo parte do planejamento pedagógico escolar.
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No contexto da Biblioteconomia, Campello (2003) apresenta o serviço de
referência como um antecedente do desenvolvimento do letramento informacional, o qual
foi ampliado com a introdução da educação de usuários. Segundo Campello (2003), a
prática da educação de usuários, introduzida nas bibliotecas americanas nos anos 50, já
designava o forte papel educacional da biblioteca escolar.
O termo information literacy foi utilizado pela primeira vez em 1974,em um
relatório produzido pelo bibliotecário norte-americano Paul Zurkowski, o qual sugeria que
o governo americano se preocupasse em desenvolver as habilidades informacionais junto à
população, permitindo o uso da variedade de produtos informacionais do mercado.
Ponto marcante para a discussão do conceito foi a definição da Associação
Americana de Biblioteconomia (ALA) em 1989:
Para possuir letramento informacional, uma pessoa deve ser capaz de
reconhecer quando uma informação é necessária e deve ter a habilidade de
localizar, avaliar e usar efetivamente a informação [...] Resumindo, as
pessoas que possuem letramento informacional são aquelas que
aprenderam a aprender. Elas sabem como aprender, pois sabem como o
conhecimento é organizado, como encontrar a informação e como usá-la
de modo que outras pessoas aprendam a partir dela (ALA, 1989, p. 1).
Essa definição da ALA foi tão importante para o desenvolvimento do conceito,
que é sempre referenciada na literatura nacional e internacional, assim como os “Padrões de
Letramento Informacional para o Aprendizado Estudantil”, documento elaborado pela
Associação Americana de Bibliotecários Escolares (AASL) e pela Associação para Tecnologia
e Comunicações Educacionais no ano de 1998.
Esses padrões descrevem as habilidades que o estudante deve possuir para estar
inserido no universo do letramento informacional, tais como reconhecer a necessidade de
informação, formular questões, identificar e localizar fontes, solucionar problemas, produzir
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novos conhecimentos, aprender a pensar, dentre outros. Torna-se interessante uma consulta
integral a esses parâmetros, que são referência para estudos do campo3.
4.2 LETRAMENTO INFORMACIONAL NO BRASIL
O movimento do letramento informacional despontou no Brasil por meio de
estudos de bibliotecários brasileiros para estudos de usuários (MELO; ARAÚJO, 2007). Eles
ganharam maior visibilidade nos anos 2000 a partir de publicações do Grupo de Estudos em
Biblioteca Escolar (GEBE), da Escola de Ciência da Informação da Universidade Federal de
Minas Gerais, sobretudo da professora Bernadete Campello.
Não há consenso entre os autores sobre a tradução do termo no Brasil.
Inicialmente traduzido para competência informacional no ano de 2002 por Campello
(2003), o termo teve ampla aceitação pelos pesquisadores brasileiros, que o utilizaram em
seus estudos. No entanto, a própria Campello (2009) evoluiu em suas pesquisas e chegou a
uma definição que, segundo a pesquisadora, é mais adequada ao contexto da educação, o
letramento informacional.
A ideia foi desenvolvida com base na teoria do letramento proveniente da área
da Educação, desenvolvida por Magda Soares. Nessa concepção, ser letrado é muito mais do
que saber ler e escrever, mas é formar uma visão ampla e aberta do mundo, ter capacidade
de crítica e interpretação. Gasque (2012)4 também utiliza o termo em sua pesquisa,
trazendo em seu recente livro um arcabouço teórico e conceitual do tema.
3 Disponível integralmente em: <http://www.ala.org/ala//mgrps/divs/aasl/aaslarchive/pubsarchive/informationpower/InformationLiteracyStandards_final.pdf>. Acesso em: 10 Maio. 2012. 4 GASQUE, Kelley Cristine. Letramento informacional: pesquisa, reflexão e aprendizagem. Universidade de Brasília, 2012. Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/87596264/Letramento-Informacional-pesquisa-reflexao-e-aprendizagem>. Acesso em: 13 Maio 2012.
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O conceito de letramento informacional tem sido muito bem contextualizado no
universo educacional, no qual se reconhece, por exemplo, que um estudante é capaz de
formar uma visão mais ampla e crítica do mundo a partir da busca e uso da informação. Os
estudos de letramento informacional estão bastante evidentes, principalmente no contexto
da biblioteca escolar, pois se considera que bibliotecas e bibliotecários escolares sejam
fundamentais para o incentivo do hábito de leitura e ensino da prática da pesquisa.
Há também grande discussão e trabalhos que abordam oletramento
informacional na biblioteca universitária e poucos que fazem essa abordagem na biblioteca
pública. Dessa forma, é importante que essa reflexão seja feita nesses três tipos de biblioteca
e que se reflita também sobre o papel do bibliotecário.
4.3 LETRAMENTO E LEITURA
A leitura é parte fundamental do processo de letramento informacional. É por
meio das práticas de leitura que os indivíduos aumentam sua capacidade de reflexão e de
entendimento daquilo que está a sua volta.
Muito se questiona sobre as práticas de leitura atuais devido à quantidade de
informações e mídias existentes hoje em dia. A todo momento e em todos os lugares a leitura
está presente: nas placas indicativas, nos supermercados, bancos, outdoors e assim por
diante. O indivíduo que não sabe ler passa por grandes dificuldades, uma vez que quase
tudo que se pensa ou vá fazer depende do saber ler.
Com o advento de tantas tecnologias modernas, o indivíduo necessita de um
mínimo de leitura para saber operar as máquinas, frutos dessa nova era. Precisa também
saber utilizar a diversidade de autoatendimentos, principalmente os disponíveis nos bancos.
Para usar esses equipamentos é preciso saber ler e compreender o que os sistemas indicam.
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Mas o que é ler? Segundo Paulo Freire (1982), a leitura de mundo antecede a
leitura do escrito. Assim, entende-se a leitura como um processo social e cultural adquirido
antes mesmo do processo de alfabetização. Uma vez que esse mundo nos é apresentado pela
família e por nosso grupo social. Só depois é que, na escola, aprendemos a decifrar os
códigos linguísticos.
Para a sociologia das práticas culturais, a leitura é uma arte de fazer que se herda
mais do que se aprende. E por essa razão, ela tem mais frequentemente valor de
sintoma de enraizamento nos grupos sociais que praticam as formas dominantes da
cultura do que valor de instrumento da mobilidade cultural em direção a esses
mesmos grupos (HÉBRARD, 2001, p. 37)
Ler envolve o processo de reflexão e compreensão do mundo. Em nossa
contemporaneidade esse processo envolve uma série de mídias e imagens. É necessário ler
esse todo para que se possa compreender a parte.
Ler envolve um conjunto de relações complexas. Entendendo a complexidade da
forma como exposta por Morin (1990), em que o autor fala da interdisciplinaridade do
conhecimento. Ou seja, é preciso criar uma relação entre os conhecimentos formando assim
um entendimento universal, onde o saber de uma determinada área possa completar e fazer
sentido em outra.
Para Fischer (2006, p. 11) “o ato de ler é variável, não absoluto”. Isso quer dizer
que a interpretação de cada indivíduo depende de seu arquivo cultural e da sua capacidade
de fazer relação com outras leituras. E essa relação com outras leituras, logicamente, só será
possível se ele já trouxer consigo práticas anteriores.
De maneira semelhante a Fischer, Chartier (2001, p. 78) afirma que “uma
história do ler afirmará (...) que as significações dos textos, quaisquer que sejam, são
construídos, diferencialmente, pelas leituras que se apoderam deles”. Assim, para esse autor,
o significado de cada leitura depende do leitor que dela se apodera.
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Martins (2004, p. 17) afirma que “a leitura acontece quando: começamos a
organizar os conhecimentos adquiridos e a estabelecer relações entre as experiências e a
tentar resolver os problemas que nos apresentam”. Entendemos que para a autora, a leitura
nessa afirmação é aquela que traz algum sentido.
É importante nesse contexto demonstrar a aproximação entre o conceito de
letramento informacional e a educação. Para Soares (2002, p. 144) “letramento são as
práticas sociais de leitura e escrita e os eventos em que essas práticas são postas em ação,
bem como as consequências delas sobre a sociedade”. Portanto, o indivíduo letrado é aquele
capaz de agir, transformar uma sociedade.
O conceito de letramento no contexto dos estudos da teoria da educação e da
alfabetização nos mostra que ele está diretamente ligado à definição de letramento
informacional indicando a necessidade latente de aproximação das Ciências da Informação
com a Educação.
Assim podemos compreender que a leitura é o principal meio de sucesso para o
processo de letramento informacional. A leitura é o primeiro passo, pois sem ela não será
possível calcar os passos para que o indivíduo possa ter consciência da informação que
necessita, onde busca-la, como selecioná-la e como transformá-la em um novo
conhecimento.
4.4 LETRAMENTO INFORMACIONAL E O PAPEL DO BIBLIOTECÁRIO
A educação é o principal pilar de sustentação de uma sociedade. É por meio da
educação emancipadora (ADORNO, 2001) que uma sociedade aprende a lidar com o
cotidiano de suas vidas. Até mesmo a saúde pública depende da educação do sujeito a fim de
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prevenir certos males que dependem muito mais de informação e ação do que qualquer
outro elemento.
Sendo assim, pessoas informadas e estruturadas dentro de um contexto
educacional têm mais capacidade de escolha, principalmente ao que se refere a escolha
política de um candidato. A busca pelos direitos e deveres sociais também perpassam da
capacidade ou não de cada um e que também depende do seu berço educacional.
A escola é esse berço, mas não só a escola e os professores. Há de se ressaltar que
a educação significa liberdade. Liberdade pela busca de outros pontos de vista, outras
leituras. Essas outras buscas devem ou pelo menos deveriam perpassar pela biblioteca
escolar, pela biblioteca e pela biblioteca universitária. Espaços onde o aluno e cidadão
podem buscar outras fontes e contrastá-las com as adquiridas na sala de aula e fora dela.
A escola tem como missão contribuir para a educação social e cultural do
cidadão. Para isso, a escola precisa de um conjunto de elementos que possibilite a
aprendizagem do estudante em todos os sentidos. Um desses elementos, foco desse projeto, é
a biblioteca escolar, uma vez que essa tem a função, grosso modo, de contribuir para o
aprendizado extraclasse dos estudantes, por meio dos seus recursos informacionais.
Da mesma forma temos a biblioteca pública como aquele espaço voltado para o
cidadão de uma maneira geral que deve abarcar conteúdos voltados para o entretenimento
do cidadão bem como informações úteis ao seu bem estar político e social.
Em outro âmbito, as bibliotecas universitárias devem atender as necessidades dos
pesquisadores e alunos dessas instituições, pois essa instituição é o local onde grandes
descobertas e pesquisas são elaboradas em prol do bem comum.
O papel do bibliotecário nesses contextos é o de capacitar esses usuários,
independente do tipo de biblioteca, no uso competente da informação disponibilizada nos
acervos físicos e virtuais das bibliotecas. Para que isso seja possível, antes de tudo, o
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bibliotecário e aqueles que estão diretamente ligados às bibliotecas devem ser hábeis na
busca e uso da informação.
5 5 5 5 BIBLIOTECA ESCOLAR, BIBLIOTECA PÚBLICA E BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIABIBLIOTECA ESCOLAR, BIBLIOTECA PÚBLICA E BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIABIBLIOTECA ESCOLAR, BIBLIOTECA PÚBLICA E BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIABIBLIOTECA ESCOLAR, BIBLIOTECA PÚBLICA E BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA E E E E
palavras ou termos que representam o assunto; ler para
aprender sobre o assunto
Kuhlthau (2010)
Nessa etapa, à medida que lêem sobre os assuntos, podem começar a ter ideias
para focalizar a pesquisa e a ligar os temas lidos com outros textos presentes na memória.
Considerado pelos estudantes, tanto escolares quanto universitários, como um
dos mais difíceis, pois exige paciência e reflexão. No caso da comunidade, trata-se de um
desafio maior, pois é uma pesquisa que depende mais de uma iniciativa individual de busca
por novos conhecimentos do que um simples cumprimento de tarefa. Assim, três atitudes são
importantes: relaxar, ler, refletir. Depois dessas atitudes é importante anotar idéias e fazer
fichamento das leituras.
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FORMULAÇÃO DO FOCOFORMULAÇÃO DO FOCOFORMULAÇÃO DO FOCOFORMULAÇÃO DO FOCO
ATIVIDADEATIVIDADEATIVIDADEATIVIDADE Definir o foco, usando as informações encontradas
PENSAMENTOSPENSAMENTOSPENSAMENTOSPENSAMENTOS Conjeturar sobre o resultado de possíveis focos; usar critérios de
interesse pessoal, exigências do trabalho, disponibilidade de
material e tempo estabelecido; identificar ideias das quais seja
possível extrair um foco; algumas vezes ocorre um momento
repentino de insight
SENTIMENTOSSENTIMENTOSSENTIMENTOSSENTIMENTOS Otimismo, confiança na capacidade de completar a atividade
AÇÕESAÇÕESAÇÕESAÇÕES Ler lista para identificar possíveis focos
ESTRATÉGIASESTRATÉGIASESTRATÉGIASESTRATÉGIAS Fazer levantamento nas listas; anotar possíveis focos e descartar
outros
Kuhlthau (2010)
O foco é um caminho a percorrer, identificação de algum aspecto que gostaria
de explorar/aprofundar. Às vezes acontece num momento de insight que pode ocorrer tanto
com estudantes quando com a comunidade.
No caso de estudantes é preciso critérios para definir o foco: O foco é
interessante? O foco está de acordo com as exigências estabelecidas pelo professor? As
informações podem ser reunidas e organizadas para apresentação no tempo disponível?
Existem informações suficientes sobre o foco?
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COLETA DE INFORMAÇÕESCOLETA DE INFORMAÇÕESCOLETA DE INFORMAÇÕESCOLETA DE INFORMAÇÕES
ATIVIDADEATIVIDADEATIVIDADEATIVIDADE Reunir informações que definam, ampliem e apoiem o foco
PENSAMENTOSPENSAMENTOSPENSAMENTOSPENSAMENTOS Procurar informações para apoiar o foco; definir e ampliar o
foco; reunir informações pertinentes; organizar as anotações
SENTIMENTOSSENTIMENTOSSENTIMENTOSSENTIMENTOS Percepção da extensão do trabalho a ser feito; confiança na
habilidade de realizar a tarefa; aumento de interesse
AÇÕESAÇÕESAÇÕESAÇÕES Usar a biblioteca para coletar informações pertinentes; solicitar
fontes específicas ao bibliotecário; tomar notas detalhadas,
incluindo referências e citações bibliográficas
ESTRATÉGIASESTRATÉGIASESTRATÉGIASESTRATÉGIAS Usar termos de busca adequados para encontrar informações
pertinentes; fazer busca em vários tipos de material, por
exemplo: livros de referência, revistas, biografias, índices;
procurar ajuda do bibliotecário
Kuhlthau (2010)
O foco pode ser redefinido e refinado nessa fase, a biblioteca e o bibliotecário
devem ter participação intensa nesse momento.
É necessário instrução acerca das fontes de informação, instruções sobre as
fontes eletrônicas, qualidade da informação na Internet, diretórios, bases de dados,
periódicos científicos, repositórios, pesquisa simples e avançada, uso dos catálogos (virtuais e
locais).
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PREPARAÇÃO PARA APRESENTAÇÃO DE TRABALHOSPREPARAÇÃO PARA APRESENTAÇÃO DE TRABALHOSPREPARAÇÃO PARA APRESENTAÇÃO DE TRABALHOSPREPARAÇÃO PARA APRESENTAÇÃO DE TRABALHOS
ATIVIDADEATIVIDADEATIVIDADEATIVIDADE Terminar a busca de informações
PENSAMENTOSPENSAMENTOSPENSAMENTOSPENSAMENTOS Identificar necessidade de informações adicionais; levar em
consideração o limite de tempo; observar redundância crescente;
observar redundância decrescente; esgotar os recursos
SENTIMENTOSSENTIMENTOSSENTIMENTOSSENTIMENTOS Sentimento de alívio; às vezes satisfação; às vezes
desapontamento
AÇÕESAÇÕESAÇÕESAÇÕES Checar novamente o material anteriormente negligenciado;
conferir as informações e as referências; elaborar esquema;
redigir rascunho; redigir a versão final com bibliografia
ESTRATÉGIASESTRATÉGIASESTRATÉGIASESTRATÉGIAS Voltar às fontes de informação para fazer uma última busca
Kuhlthau (2010)
Nessa fase chega-se ao encerramento da busca de informação. No caso da
pesquisa acadêmica e escolar encerra-se o tempo da pesquisa. Aqui considera-se que todo o
material útil foi consultado; que foi feito esforço suficiente na busca reflexão e seleção do
material; foram feitos citações, resumos, esquemas; definidos ordem e a conexão entre as
ideias. Chega-se também na parte da redação do trabalho; respeito às normas da ABNT e por
fim pensar na forma de comunicação dos resultados da pesquisa (normalmente já pré-
definidos).
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AVALIAÇÃO DO PROCESSOAVALIAÇÃO DO PROCESSOAVALIAÇÃO DO PROCESSOAVALIAÇÃO DO PROCESSO
ATIVIDADEATIVIDADEATIVIDADEATIVIDADE Avaliar o processo de pesquisa
PENSAMENTOSPENSAMENTOSPENSAMENTOSPENSAMENTOS Aumentar o autoconhecimento; identificar problemas e êxitos;
planejar estratégias de pesquisa para trabalhos futuros
SENTIMENTOSSENTIMENTOSSENTIMENTOSSENTIMENTOS Sentimento de realização ou de desapontamento
AÇÕESAÇÕESAÇÕESAÇÕES Procurar evidência do foco: avaliar o uso do tempo; avaliar o uso
das fontes de informação; refletir sobre a ajuda do bibliotecário
ESTRATÉGIASESTRATÉGIASESTRATÉGIASESTRATÉGIAS Esboçar linha do tempo; fazer fluxograma; discutir com o
professor e com o bibliotecário; redigir síntese
Kuhlthau (2010)
Avaliar com os estudantes e, no caso da comunidade, o processo de pesquisa e
não apenas o produto final. As técnicas que podem ser utilizadas são: linha do tempo,
fluxograma, reuniões e redação da síntese. Devem-se levar em consideração os seguintes
elementos da avaliação: evidência do foco; uso do tempo; uso das fontes de informação e
auxílio do bibliotecário.
CONSIDECONSIDECONSIDECONSIDERAÇÕES FINAISRAÇÕES FINAISRAÇÕES FINAISRAÇÕES FINAIS
Diferente do que alguns pessimistas pensavam ou até mesmo pensam, o papel da
biblioteca e do bibliotecário continuam cada vez mais importantes na sociedade,
principalmente por conta do volume de informações disponíveis nas mais diversas mídias
existentes. Esse profissional é importante, pois é ele que irá contribuir para a capacitação dos
usuários da informação quanto à disponibilização, busca, acesso, uso e transformação das
informações.
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Em meio a tanto informação, a filtragem se torna cada vez mais necessária e
importante para o uso efetivo da informação. Atualmente, mais do que em qualquer outra
época, reconhecer, acessar e transformar a informação não é uma tarefa simples.
Primeiramente é necessário saber utilizar as ferramentas de busca e depois ter uma
capacidade de reflexão e síntese apreendidas com as práticas de leitura. Assim será possível
encontrar, em meio a um oceano de dados, aquelas informações que realmente poderão
contribuir não só para o crescimento intelectual e social do indivíduo como também para
uma prática transformadora para melhorar a qualidade de vida da sociedade de uma forma
geral.
Uma reflexão final merece atenção: porque os estudos sobre letramento
informacional se concentram tão intensamente nas bibliotecas escolares e universitárias?
Qual será a realidade das bibliotecas públicas brasileiras quanto às ações do letramento
informacional? Existem políticas, programas em andamento? As metodologias utilizadas nas
bibliotecas escolares e universitárias são viáveis para as bibliotecas públicas? Diante de
tantas questões, percebe-se que o campo de pesquisa para as bibliotecas públicas é fértil e
está em aberto. Os profissionais precisam compartilhar suas práticas, publicá-las e fertilizar
o campo do letramento informacional com suas ideologias e metodologias, pensando sempre
naquele que é o elemento central para o funcionamento de qualquer biblioteca: o usuário.
Uma das vertentes de pesquisa do letramento informacional é o pressuposto de
que as bibliotecas podem ser úteis para ajudarem as pessoas na vida cotidiana, para resolver
questões pessoais como escolha de estilos de vida, sexualidade, decisões políticas, problemas
relacionados à saúde, alimentação e outros. Muitas publicações têm sido editadas com esse
fim e essa arena pode ser um campo fértil de pesquisa para as bibliotecas públicas, que
ajudam a formar cidadãos pensantes e transformadores, capazes de melhorar sua própria
qualidade de vida e a de outras pessoas.
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