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Distrbios de Linguagem emCrianas Pequenas
Consideraes sobre o Desenvolvimento, Avaliao eTerapia da
Linguagem
Jaime Luiz Zorzi
INTRODUO
Este captulo tem por objetivo abordar os distrbios da lingua-gem
que afetam o desenvolvimento de crianas ainda pequenasque, por
algumas razes, no esto conseguindo desenvolver alinguagem de uma
forma adequada. Embora nossa temticaesteja centrada nestas crianas
que apresentam dificuldadesquanto ao processo de aquisio de
linguagem, iniciaremosabordando a evoluo das demais crianas que,
tambm por umasrie de razes, esto tendo sucesso em desenvolver
suashabilidades lingsticas. A anlise do chamado
desenvolvimentonormal se faz necessria porque pode nos fornecer
elementospara uma melhor compreenso dos distrbios da linguagem
e,conseqentemente, possibilitar a elaborao de um plano tera-putico
mais eficaz.
Falamos em crianas pequenas e em interveno precoce.Sabemos que,
realmente, quanto mais cedo os problemas pude-rem ser detectados e
tratados, maiores sero as possibilidades desuperao dos mesmos.
Porm, infelizmente, temos visto crian-as que s procuram um
atendimento fonoaudiolgico quando jesto com 3 ou 4 anos de idade.
Ora, tambm sabemos que operodo esperado para a aquisio de linguagem
vai de 1 a 2 anosde idade. difcil compreender como, tendo tais
crianas ultrapas-sado os 2 anos sem adquirirem linguagem, chegando
aos 3 ou at
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mesmo aos 4 anos sem terem desenvolvido as habilidadeslingsticas
esperadas, no tenham sido encaminhadas para umexame ou tratamento
fonoaudiolgico. Pediatras e demais profis-sionais que tm
oportunidade de acompanhar a evoluo decrianas deveriam estar muito
atentos quanto s etapas deaquisio da linguagem para poder agir
adequadamente quandosuspeitam de problemas neste sentido.
Creio que o trabalho fonoaudiolgico junto aos bebs conside-rados
de alto risco e o acompanhamento evolutivo que elesnecessitam
possam ajudar o fonoaudilogo a ampliar a possibili-dade de iniciar,
de fato, tratamentos precoces para o desenvolvi-mento da comunicao
quando detectarem que tais bebs apre-sentam riscos ou indcios de
atrasos.
Podemos nos perguntar que fatores esto presentes nestegrupo
numeroso de crianas para as quais adquirir linguagem nose mostra
problemtico, por mais complexa que esta aquisiopossa ser. Elas so
capazes de desenvolver linguagem de umaforma to rpida e natural que
suas capacidades de aprendiza-gem at surpreendem os adultos.
Provavelmente, a maior partedestes pais no saibam nos dizer nem
como, nem quando e,talvez, nem o porqu. Mas sabem que esta aquisio
acontecere assim esperam. E tambm sabem que o surgimento da
lingua-gem um sinal de que seus filhos esto se desenvolvendo
bem.
Muitas crianas, por volta do primeiro aniversrio, comeam
aensaiar suas primeiras palavras. Porm, antes de chegarem aesta
forma verbal de linguagem, desenvolveram uma srie dehabilidades
comunicativas mais gerais num plano pr-lingstico.Para que esse
desenvolvimento comunicativo anterior ao uso daspalavras ocorresse
e fosse garantindo o aparecimento de formaslingsticas mais
evoludas, algumas condies se fizeram neces-srias. Vamos apontar
seis destes fatores determinantes dodesenvolvimento da comunicao
infantil:
1. A criana necessita ter uma razo ou motivo para secomunicar:
uma inteno.
2. H necessidade de se ter algo para comunicar: um contedo.3.
tambm necessrio um meio de comunicao: uma
forma.4. H necessidade de se ter pessoas com quem se comuni-
car: um parceiro.5. H que se ter condies favorveis para a
interao: uma
situao ou contexto.6. A criana tambm necessita ter capacidades
cognitivas
favorveis para atuar sobre o mundo e compreend-lo.
Temos, assim esboados, seis importantes fatores que,
com-binados, asseguram ou criam condies favorveis para o
desen-volvimento de capacidades comunicativas. Como podemos notar,a
comunicao tem, em sua origem, uma funo nitidamente
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Distrbios de Linguagem em Crianas Pequenas 879
social. A criana, interagindo com as pessoas e com as
coisas,organiza experincias, constri conhecimentos, sente desejos,
ouseja, elabora os contedos de sua atividade mental e isto graas
sua atividade cognitiva. So estes contedos que ir comunicar,por
alguma razo: porque deseja um objeto que no est ao seualcance e
quer expressar este desejo para que possa ter acessoao objeto;
porque quer chamar a ateno para algo que estvendo acontecer e quer
partilhar com o adulto ou, ainda, porquequer chamar ateno sobre si
mesma.
Para que tudo isto seja possvel, isto , a fim de que
suasintenes, experincias ou desejos sejam expressos, a
criananecessita lanar mo de alguma forma de comunicao que podeser
um meio verbal, ou no-verbal, dependendo de suas possibi-lidades. A
pessoa ou parceiro com quem a criana quer secomunicar pode ser
algum que est prximo a ela. Mas no bastasimplesmente a criana ter
uma razo para se comunicar e tomara iniciativa. O adulto deve estar
receptivo, atento, tem que estarsensvel aos esforos comunicativos
que a criana est fazendo,tem que ser capaz de atribuir significao
aos mesmos e isto fazparte das condies favorveis para a
interao.
Antes de ser capaz de empregar recursos lingsticos para
acomunicao, a criana desenvolve meios no-verbais e istoacontece
gradativamente graas s experincias interativas quevai tendo com os
outros. Desde seu nascimento, ela tem oportu-nidades de tomar parte
de eventos que possuem um cartercomunicativo, que implicam em
relaes com as pessoas queesto ao seu lado. Como conseqncia de tais
vivncias interativase comunicativas, a criana vai adquirindo formas
de manifestarseus contedos mentais, assim como tambm vai
desenvolvendoestratgias para compreender os desejos e as intenes
dosoutros.
DESENVOLVIMENTO DA COMUNICAO PR-VERBAL
Compreender o processo evolutivo da comunicao, que seorganiza
inicialmente em formas no-verbais para chegar a for-mas verbais ou
lingsticas, de fundamental importncia para oentendimento das
alteraes da linguagem que podem atingir odesenvolvimento
infantil.
De acordo com estudos voltados para a anlise dos
processosinterativos, o desenvolvimento da comunicao pr-verbal
podeser dividido em quatro nveis:
Nvel I Comunicao no-intencional
comportamentos reativos
Este primeiro nvel de desenvolvimento da comunicao cor-responde,
aproximadamente, aos dois primeiros meses de vidado beb. Nesta
fase, seus comportamentos esto caracterizados
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880 Fonoaudiologia Prtica
por reaes determinadas por uma organizao nervosa reflexa.Em
poucas palavras, o beb mais reage ao mundo do que agesobre ele, uma
vez que recursos que permitam aes voluntriasno esto ainda
suficientemente constitudos.
Nesta fase inicial da evoluo, o beb ainda no capaz defazer uma
diferenciao entre ele mesmo e os outros que ocercam. Dito de outra
forma, ele ainda no se constituiu comosujeito. Comunicao implica em
interao social entre parceirosdiferenciados que buscam meios que
possibilitem a relao entreeles. Apesar de tais limitaes, isto , da
criana desta fase aindano ter alcanado tais distines, pode-se falar
em comunicao,porm no intencional.
O beb olha, movimenta o corpo, mostra interesse pelaspessoas e
objetos, procura seguir trajetrias, vocaliza, chora,agarra objetos
que so colocados em sua mo, reage a sons e avozes familiares e
assim por diante. Embora tais comportamentossejam ainda elementares
e resultem desta interao indiferencia-da da criana consigo mesma e
com os fatos do mundo, os adultostendem a interpretar tais reaes
como comportamentos ou atoscomunicativos. Determinadas vocalizaes e
movimentos podemser interpretados como sensaes de conforto e
prazer, enquantooutros comportamentos do mesmo tipo podem ser tidos
comocomunicao de desconforto, de desprazer. A ateno visual dobeb
pode ser tomada como uma tentativa de comunicar.
Embora a criana ainda no tenha condies de comunicaralgo
intencionalmente, a tendncia dos adultos de atriburem a elatal
capacidade constitui-se um fator relevante para o desenvolvi-mento
posterior na medida em que a criana, aos poucos vaipodendo perceber
que sua expressividade vocal, corporal, temum efeito sobre o outro
at que chegar um dia em que ela, demodo proposital, ir empregar
tais recursos com fins comunica-tivos.
Nvel II Comunicao no-intencional
comportamentos ativos
Em termos cronolgicos, o segundo nvel de desenvolvimentoda
comunicao abrange, aproximadamente, dos 2 aos 8 mesesde idade. Se
observarmos, neste intervalo de tempo, todas asaquisies ou novas
aprendizagens que vo ocorrendo na vida dobeb, constataremos que ele
se torna cada vez mais ativo, ouseja, cada vez mais capaz de
organizar procedimentos paraexplorar o mundo ao seu redor.
Passada a fase inicial das reaes reflexas e, principalmenteaps
uma srie de coordenaes sensoriomotoras, como a coor-denao mo-boca,
a coordenao viso-audio e, principal-mente, a coordenao da atividade
manual com a atividade visual,os bebs vo demonstrando um interesse
crescente acerca detudo o que est ao alcance. As coisas que so
vistas despertam
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Distrbios de Linguagem em Crianas Pequenas 881
o desejo de pegar, as coisas que so pegas tambm devem servistas,
ouvidas e sentidas pela boca e assim por diante. A crianaest
receptiva para o mundo e quer experiment-lo, atuar sobreele de
todas as formas.
Pessoas e coisas tornam-se centros de grande interesse
deexplorao e de conhecimento para a criana. Podemos acres-centar
ainda que os progressos de ordem motora, como conseguirvirar o
corpo, permanecer sentado, aproximar o corpo de objetos,deslocar-se
pelo cho arrastando-se ou engatinhando, permitemuma expanso da rea
de ao da criana.
Maior interesse pelos objetos e pessoas, maiores recursospara
interagir e maior domnio motor compem caractersticasimportantes
desta etapa. Porm, apesar de todas estas habilida-des, a criana no
se mostra capaz de organizar procedimentoscomunicativos
intencionais, uma vez que tambm a diferenciaodela mesma como
sujeito ainda no est consolidada.
Por outro lado, apesar de tais limitaes, vai ficando cada
vezmais facilitado para o adulto o papel de atribuir valores
comunica-tivos aos comportamentos dos bebs, na medida em que
elestentam sistematicamente atuar sobre a realidade. No difcilpara
um adulto, por exemplo, ao presenciar seu filho sentado nocho,
esticando o brao com a mo aberta, dobrando o corpo paraa frente e
olhando atentamente para objeto que est um poucodistante de seu
campo de preenso, concluir que seu filho desejao objeto. O adulto,
ento, pega o objeto e d para a crianadizendo Quer a bolinha? Toma a
bolinha.
A criana queria pegar o objeto diretamente. No era suainteno
mostrar para o adulto qual era o seu desejo. Porm, oadulto foi
capaz de atribuir um significado comunicativo ao seucomportamento e
agir de acordo com sua suposio. Podemosimaginar que fatos como
este, ocorrendo de forma regular,repetitiva, vo criando na criana
expectativas de que certoscomportamentos produzem determinados
resultados. Ela podecomear a prever resultados e a descoberta de
suas potencialida-des expressivas pode resultar, mais tarde na
comunicao inten-cional, usando recursos gestuais e vocais.
Nvel III Comunicao pr-lingstica
intencional elementar
Este terceiro nvel de comunicao pr-verbal est caracteri-zado
pelo aparecimento de condutas comunicativas novas e querevelam a
intencionalidade da criana. Isto , motivada poralguma razo, a
criana busca meios de comunicar alguma coisapara algum.
Comportamentos deste tipo comeam a ser obser-vados a partir dos 8
meses de idade, sendo que tal fase seprolonga at aproximadamente os
12 meses.
A criana dirige comportamentos comunicativos intencionaisa
outras pessoas tendo a noo de que pode us-las como
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agentes para atuar sobre as coisas. Para tanto, emprega
algunsrecursos ainda elementares para poder agir sobre o outro.
Porexemplo, a criana pode ficar olhando alternadamente para oobjeto
que deseja e para o adulto que est prximo, procurandodesta forma
deliberada expressar seu desejo de ter acesso aoobjeto; pode
esticar a mo em direo quilo que quer e ficarolhando alternadamente
para o adulto e para o objeto; podemanipular fisicamente o adulto
empurrando sua mo na direodo objeto que deseja e assim por diante.
Tais comportamentostendem, muitas vezes, a ser acompanhados de
vocalizao medida que a criana tambm vai compreendendo suas
possibi-lidades de utilizar recursos vocais na comunicao e
verificar osefeitos que elas produzem em suas tentativas de
comunicar.
Como pode ser observado, o incio da intencionalidade marcado por
alguns indcios: a criana dirige atitudes comunica-tivas aos outros
procurando dar incio interao ou respondendos tentativas dos outros;
persiste no comportamento comunicati-vo at que o adulto responda e
fica aguardando que o outroresponda aos seus esforos.
Algumas funes tm sido atribudas s atitudes comunicati-vas das
crianas:
1. Comportamentos com funo regulatria, ou seja, compor-tamentos
que tm por objetivo a obteno de algo ou a satisfaode uma
necessidade. A criana pode estar solicitando uma aoou um objeto por
parte do adulto, assim como pode estar querendoevidenciar que
deseja encerrar uma ao.
2. Comportamentos ou atitudes comunicativas que tm umafuno
social, ou seja, cujo objetivo atrair a ateno do outrosobre si
mesmo, ou manter tal ateno. Fazem parte destacategoria
comportamentos exibicionistas e, mais tarde, atitudesdestinadas a
solicitar permisso e cumprimentar as pessoas.
3. Atitudes comunicativas cuja funo a de garantir umfoco de
ateno conjunta, isto , o objetivo da criana o dechamar a ateno do
outro para algo que desperta sua prpriaateno, buscando partilhar
tal experincia. como se a crianaestivesse fazendo um comentrio da
situao, embora pormeios no-verbais. A atitude de pedir informaes
sobre ascoisas, que surge mais tarde, tambm faz parte desta funo
deobter ateno conjunta. Desenvolver habilidades no sentido deentrar
em sintonia com as outras pessoas e, juntamente comelas, focalizar
a ateno sobre um mesmo objeto ou situaosobre a qual iro agir
alternando aes de um modo coordena-do, corresponde a padres de
interao social primrios. Dificul-dades de ateno, poucos recursos
para interao com osobjetos e dificuldades na realizao de aes
conjuntas sofatores que se apresentam como agravantes dos atrasos
nodesenvolvimento da comunicao.
Estes avanos no plano do desenvolvimento comunicativono ocorrem
isoladamente. Paralelamente a tais progressos e
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Distrbios de Linguagem em Crianas Pequenas 883
interligando-se aos mesmos podemos observar tambm progres-sos
significativos no aspecto cognitivo. A esta faixa etria, emtermos
da formao da inteligncia da criana, corresponde quarta fase
sensoriomotora.
A quarta fase do desenvolvimento sensoriomotor est
ca-racterizada pelo aparecimento das chamadas condutas
inteli-gentes ou instrumentais, ou seja, a criana procura
meiosadequados para atingir objetivos que no podem ser diretamen-te
alcanados. Tendo, por exemplo, interesse em pegar umobjeto que est
fora do seu alcance, mas compreendendo queele est sobre seu
cobertor, a criana puxa o cobertor paratrazer o objeto para perto
de si. Ou, observando que umbrinquedo caiu e rolou para debaixo de
uma almofada, batenesta almofada, afastando-a, para poder ter
acesso ao brinque-do desejado. H, nestes casos, uma coordenao bem
elabora-da de aes: para chegar a um determinado objetivo, a
crianasabe que deve agir de determinadas formas.
Em termos de comunicao intencional, podemos observar quetal
capacidade de coordenar aes passa a ser aplicada tambm noplano das
relaes pessoais, o que fica evidente principalmentequando a criana
usa a comunicao com uma funo regulatria.Em outras palavras,
desejando um objeto que no consegue pegarou, desejando que o adulto
aja sobre um objeto para que ele semovimente ou ainda, desejando
por fim a uma ao, a crianaorganizar procedimentos comunicativos que
serviro como meiopara atuar sobre o adulto que, por sua vez, servir
tambm comomeio para que ela tenha acesso ao objeto, veja o objeto
semovimentando ou presencie o fim de uma ao.
Para chegar a este ponto, a criana necessita desenvolveralguns
conhecimentos que implicam a noo de sujeito, de aoe de objeto: de
algum, capaz de agir sobre os objetos epessoas e produzir
resultados Quanto noo de sujeito, estafase marcada por uma grau
mais evoludo de diferenciaoque a criana faz entre ela mesma e os
outros. Ou seja, aconstruo da noo de eu, de sujeito, est mais
consolidadanesta fase, o que significa que a contraparte, isto , a
noo dooutro tambm se firme. A formao desta noo permite que acriana
atribua aos outros o papel de sujeito, isto , de pessoasque tm a
capacidade de atuar sobre o meio e que podemdesempenhar o papel de
intermedirios entre ela, criana, eseus desejos. Mas para que o
outro possa desempenhar estepapel, a criana precisa tomar a
iniciativa da interao e comu-nicar, de alguma forma, seus desejos
ou intenes.
Como foi apontado, a criana tambm precisa consolidar anoo de
objeto. Construir a noo de objeto significa que ela agora capaz no
s de diferenciar-se dos outros como tambm capaz de diferenciar-se
dos objetos. O mundo se torna ummundo de pessoas e de coisas, sendo
a criana uma pessoadentre as demais. Uma mostra de que a criana
apresenta tal
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884 Fonoaudiologia Prtica
noo pode ser vista quando ela comea a procurar objetos
quedesapareceram de seu campo de percepo. Anteriormente construo da
noo de objeto, toda vez que pessoas ou objetosdeixavam de ser
vistos, tocados ou ouvidos, como se tivessemdeixado tambm de
existir. Porm, nesta fase, os comporta-mentos da criana,
principalmente no sentido de procurar pelosobjetos desaparecidos,
revelam que agora, para ela, o mundocontinua existindo,
independente dela estar vendo as coisas ouno.
Nesta fase, a capacidade de imitar tambm mostra um
grandedesenvolvimento. As crianas comeam a se interessar por
mo-delos novos, isto , sons e movimentos que elas ainda no
sabiamproduzir. Comeam a se interessar tambm por imitar movimen-tos
que no so visveis no prprio corpo, como os que envolvemmovimentos
na regio da face: abrir e fechar a boca, pr a lnguapara fora,
segurar a orelha, tocar o dedo no nariz e assim pordiante. O
interesse pelas coisas novas vindas dos outros ajuda acriana a
fazer correspondncias entre o prprio corpo e o corpodos outros e a
descobrir possibilidades de expresso que seroempregadas com fins de
comunicao.
Nvel IV Comunicao pr-lingstica
intencional convencional
Este nvel de desenvolvimento da comunicao corresponde aum
desdobramento da fase anterior. J sendo capaz de organizaratitudes
comunicativas intencionais, mas de modo ainda elementar,a criana
comea a incorporar novas formas ou atos comunicativosque tm carter
convencional. Ou seja, a criana, a partir dasobservaes que vai
fazendo acerca dos comportamentos comuni-cativos dos outros, passa
a usar os mesmos gestos e expresses.Deste modo, comea a utilizar
atitudes comunicativas que sode uso comum entre as pessoas, o que
garante o aspecto deconvencionalidade. O gesto de apontar comea a
ser usado siste-maticamente; balanar a cabea para expressar negao;
movi-mentar a cabea para expressar afirmao; fazer movimento
dechamar com as mos; gesto de bater, fazer tchau, etc.
Estescomportamentos comeam a ser observados aproximadamente apartir
dos 12 meses, idade que tambm corresponde ao incio daquinta fase
sensoriomotora e que vai at os 18 meses.
A inteligncia dos bebs, nesta etapa, est caracterizadapor um
grande interesse que eles manifestam pelas coisasnovas e por levar
adiante formas diversificadas de manipulaodos objetos. Estas
atitudes levam o nome de experimentaesativas e revelam o prazer
muito grande que eles encontram aoexplorar os objetos de vrias
maneiras e estudar o que acon-tece com os mesmos. Por exemplo,
bater um objeto em outrosvariando batidas fortes e fracas, colocar
os objetos uns dentrodos outros, empilhar e assim por diante.
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Distrbios de Linguagem em Crianas Pequenas 885
O comportamento imitativo, como foi apontado, segue amesma
tendncia. O interesse pelas novidades intenso e ascrianas querem
imitar tudo o que vem. As crianas parecemquerer espelhar o que os
outros fazem, imitando-os. Estatendncia imitativa acaba por
despertar nas crianas tambmum interesse na imitao de novos sons que
observam aspessoas produzindo. Inclusive palavras. Alm de comearem
aimitar gestos e expresses convencionais que os outros empre-gam na
comunicao, passam tambm a mostrar tentativas deimitar o uso de
palavras. As crianas parecem que, de fato,adquiriram a capacidade
de identificao e isto implica emquerer ser igual ao outro e, ser
igual significa agir da mesmamaneira, inclusive falando.
Muitas crianas iniciam o uso da linguagem nesta fase
dedesenvolvimento (12 a 18 meses), inaugurando a primeira etapado
desenvolvimento lingstico propriamente dito, que correspon-de fase
dos enunciados de uma s palavra. O uso de comunica-o, agora tambm
verbal, acaba se mesclando com as formasno-verbais de comunicao e
enriquecendo-as. A criana au-menta seu poder de comunicar.
Porm, embora a linguagem seja uma conduta simblica,isto , se
caracterize pelo uso de smbolos verbais, ou signifi-cantes, que
representam realidades ausentes, ou significados,nesta fase de
desenvolvimento ela ainda no atingiu um grau desimbolismo
propriamente dito. A linguagem, neste momentoinicial, est ligada
situao presente, dependendo daquilo queainda est no campo da
percepo da criana. Ela pode dizerpapai, quando v o pai chegando em
casa, quando o ouve abrira porta; ela pode dizer au au quando ouve
ou v um cachorrolatindo. Mas, apesar de estar usando palavras,
ainda est nadependncia de indcios concretos para poder utiliz-las:
falasobre o imediato, sobre o que est de algum modo presente.
Alinguagem comear a configurar-se como uma conduta verda-deiramente
simblica medida que vai se consolidando acapacidade representativa
mais geral que anuncia o trmino doperodo sensoriomotor.
A FORMAO DAS CONDUTAS SIMBLICAS
A ltima fase do perodo sensoriomotor, que vai aproximada-mente
de 18 a 24 meses de idade, marcada pelo surgimentode condutas
representativas que revelam o incio da formao deuma nova capacidade
conhecida como funo simblica ourepresentativa. Em outras palavras,
a criana desenvolve a pos-sibilidade de lidar com realidades
ausentes, simbolizando-as dealguma forma. Tal capacidade
manifesta-se nas condutas comu-nicativas, na forma como a criana
brinca ou manipula os objetose no modo como passa a realizar as
imitaes.
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886 Fonoaudiologia Prtica
Brinquedo simblico
No que diz respeito ao modo de brincar, a novidade que,agora, a
criana passa a usar os objetos simbolicamente. Osbrinquedos so
utilizados para representar situaes vividasrotineiramente pela
criana, como o caso do dormir, do alimen-tar-se, do banho: ela faz
de conta que est preparando comidausando uma panelinha e uma
colherinha; esfrega uma esponja noprprio corpo como se estivesse
tomando banho; encosta suacabea numa miniatura de cama como se
fosse dormir e assim pordiante.
Formao hierrquica do simbolismo no
brinquedo
Condutas de transio1. Uso convencional dos objetos2. Esquemas
simblicos3. Aplicao em outros
Condutas simblicas4. Sistematizao da aplicao em outros5.
Seqncias de aes simblicas6. Uso de smbolos
Uso convencional dos objetos
Aproximadamente, a partir dos 12 ou 13 meses de idade, osbebs
comeam a demonstrar um interesse crescente em usar umasrie de
objetos de uma forma convencional, isto , do mesmo modoque observa
as demais pessoas fazendo. Uma esponja de banho esfregada pelo
corpo, o pente passado na cabea, uma colherinhafica sendo mexida
dentro de uma xcara e assim por diante. Por meiode condutas
imitativas, ou seja, querendo agir da maneira que asoutras pessoas
agem, a criana vai desenvolvendo novas aes edescobrindo a
finalidade dos objetos.
Esquemas simblicos
Estas condutas marcam o aparecimento de um simbolismo,ainda
elementar, no brincar infantil. Corresponde reproduofictcia, pela
criana, daquelas aes que so rotina em sua vida. Acriana faz de
conta que come, que toma banho, que dorme, etc.Todo o simbolismo
est ainda centrado no prprio corpo da criana.
Aplicao das aes em outros
A criana comea a brincar de faz-de-conta com outrosparceiros,
que podem ser os adultos ou bonecos. Estes parceiroscomeam a
participar, esporadicamente, do brinquedo sendoento banhados,
alimentados, etc.
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Distrbios de Linguagem em Crianas Pequenas 887
Sistematizao da aplicao de aes em outros
As aes eventuais de atribuir aos adultos e aos bonecos opapel de
participantes ou atores do brinquedo simblico tornam-se, agora,
sistemticas. Este acontecimento evidencia progres-sos na formao do
simbolismo. medida que a criana atribuiaos outros uma capacidade de
agir anloga sua, ocorre umdesligamento ou descentrao da atividade
simblica em relaoa si mesma.
Seqncias de aes simblicas
As aes simblicas comeam a se coordenar na forma deseqncias.
Situaes rotineiras, at ento representadas isola-damente passam a se
combinar em seqncias mais complexase mais prximas da realidade. H
uma espcie de planejamentoe antecipao das aes. Em vez de colocar
diretamente umboneco na sua caminha, a criana primeiro coloca o
colcho,depois o travesseiro, coloca em seguida o boneco e, depois
detudo, ainda procura um pano para cobri-lo. Chegando a esteponto,
onde capaz de organizar seqncias, a criana tende aaumentar seu
tempo de manipulao dos objetos com os quaisest brincando.
Uso de smbolos
A criana comea a usar substitutos simblicos dos objetoscriados
por ela mesma. Ela se mostra capaz de transformar umobjeto no
representante de outro. Ao invs de ficar limitada a usarminiaturas
como smbolos dos objetos reais, a criana cria, elamesma, novos
smbolos. Por exemplo, pondo seus bonecos paradeitar em miniaturas
de camas, constata que um deles ficou semcama. Para resolver tal
problema, recorre, por exemplo, a umapea de bloco de construo
retangular e a utiliza como se fossea cama faltante para deitar seu
boneco. tambm comumobservar, neste ponto, o uso das palavras para
simbolizar objetosausentes. Por exemplo, pegando um boneco a criana
diz vaitom banho e, com sua mo, faz o gesto de abrir uma
torneiradizendo lig chuveru.
Imitao
Quanto imitao, ao invs de limitar-se a imitar aquilo queest
presenciando diretamente, ou seja, modelos perceptveis,a criana
comea tambm a imitar pessoas ou situaes ausen-tes, isto , coisas
que j ocorreram e que, para serem imitadas,dependem de uma
possibilidade de evocao. Desta forma, porexemplo, tendo presenciado
uma cena qualquer pela manh e,sem t-la reproduzido nesta situao, s
vem a imitar a mesmacena pela noite, parecendo evocar, via imitao,
o fato jpassado.
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888 Fonoaudiologia Prtica
Esta capacidade simblica geral tem um efeito marcantesobre o
desenvolvimento da comunicao. Por um lado, a lingua-gem verbal
comea a desempenhar uma funo representativapropriamente dita. A
criana comea a usar a linguagem paradescrever aes que est
realizando ou que est vendo aconte-cer. Da mesma forma, passa tambm
a usar a linguagem parafazer referncias a um passado e a um
presente imediatos,relatando fatos recm-finalizados assim como
fatos que ir reali-zar em seguida. Por exemplo, brincando de dar
banho em umboneco, a criana diz banho, descrevendo a ao que
estrealizando. Em seguida, antes de colocar o boneco deitado emuma
miniatura de cama, diz vai nan e, pouco tempo depois deter colocado
o boneco deitado, retira-o da cama dizendo nano.Esta capacidade da
linguagem representar no s o momentopresente, mas comear a fazer
referncia ao passado e aopresente tende a aumentar
progressivamente. Principalmenteaps os 2 anos de idade, comum
assistirmos cenas nas quais acriana relata, verbalmente, algo que
aconteceu com ela numasituao passada como, por exemplo, quando
conta para o pai,que estava ausente, que tinha cado e batido a
cabea.
Comunicao simblica
Tambm a comunicao no-verbal comea a incorporaratitudes
simblicas.
Gestos simblicos, que representam aes ou objetos, soincorporados
s formas mais elementares de comunicao no-verbal, at ento limitadas
a gestos indicativos. A criana pode,por exemplo, solicitar algo
para tomar fazendo o gesto de beber,pode solicitar uma boneca
fazendo o gesto de ninar e assim pordiante.
O surgimento das condutas simblicas por volta dos 2 anosde idade
marca o trmino do perodo sensoriomotor e o incio deuma nova etapa
de desenvolvimento denominada perodo re-presentativo que, como o
prprio nome sugere, marcado pelacapacidade que a criana vai
adquirindo de lidar com realidadesausentes.
AVALIANDO CRIANAS PEQUENAS
No incio deste artigo, foram apontadas algumas
condiesfundamentais para a aquisio da linguagem a partir do
desenvol-vimento pr-lingstico: alguma razo para comunicar; algo a
sercomunicado; uma forma de comunicao; parceiros; contextoadequado
e uma capacidade simblica para dar conta da forma-o de
conhecimentos a serem comunicados e do domnio dosmeios de
comunicao.
Podemos ilustrar estas condies, integrando-as em trsgrandes
reas, da seguinte forma:
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Distrbios de Linguagem em Crianas Pequenas 889
Aspectos a serem avaliados
Trs grandes aspectos ou reas de desenvolvimento mos-tram-se como
importantes para serem avaliadas. No estaremosnos limitando a uma
avaliao de linguagem, propriamente dita,pois poderemos estar
lidando com crianas que ainda no chega-ram a um nvel lingstico de
desenvolvimento. Parece maisapropriado falarmos em uma avaliao
global de processosligados ao desenvolvimento:
capacidades cognitivas; habilidades sociais; nveis de
comunicao.
Material empregado na avaliao
Crianas pequenas interessam-se, principalmente, por mate-riais
tridimensionais como miniaturas, recipientes com tampas,canecas de
encaixe e blocos de construo. este tipo dematerial que deve ser
oferecido para que as crianas manipuleme que servem de contexto
para nossa interao com elas:
miniaturas: objetos da casa como cadeira, mesa, cama,privada,
panela, televiso, sof, colher, mamadeira, prato,armrio, caixa de
fsforos vazia, etc.;
canecas de encaixe e recipientes com tampas; objetos sem uso
definido: pedao de papel, pedao de pano,
bloquinhos de madeira ou plstico; bonecos e bichinhos; blocos de
madeira para jogos de construo.
Situao de avaliao
Primeiramente, o fonoaudilogo pode oferecer os brinquedospara
que a criana os manipule. Sem assumir uma atitude diretiva,
LINGUAGEM
cognio
comunicaopr-verbal
interaosocial
-
890 Fonoaudiologia Prtica
o examinador deve incentivar a criana a explorar os objetos e
aassumir atitudes comunicativas. O examinador deve adotar
umapostura de observador, ouvinte e de aguardo de manifestao deatos
comunicativos por parte da criana, devendo responder demaneira
natural a tais comportamentos.
Num segundo momento, ou at mesmo inicialmente, se ne-cessrio, o
fonoaudilogo pode pedir aos pais, ou ao acompa-nhante, que brinque
com a criana. Os pais devem ser orientadosno sentido de que
brinquem com ela do modo como estoacostumados a fazer, procurando
agir de forma natural, comoprocedem em casa nas ocasies em que esto
interagindo comseus filhos.
Avaliando aspectos cognitivos
Quando observamos as crianas manipulando os objetos, po-demos
obter indcios importantes acerca de como elas conseguemorganizar
sua atividade para explorar as caractersticas dos objetos(se
produzem sons, se pulam, qual a consistncia, perspectivasespaciais,
etc.), que tipos de significaes est atribuindo aosmesmos e que
tipos de relaes est estabelecendo entre eles.
As crianas pequenas tendem a manipular objetos um a um:reviram
na mo, afastam e aproximam dos olhos, chupam, apal-pam, batem,
esfregam, arranham, puxam as partes, balanam eassim por diante. Por
volta de 11 ou 12 meses, comeam amanipular dois ou mais objetos ao
mesmo tempo: batem um nooutro; esfregam um no outro; utilizam um
objeto para afastar ouaproximar outro; empilham objetos; escondem
debaixo de outros;pem e tiram partes dos objetos; pem um objeto
dentro do outro,etc. Nestes casos, dizemos que os significados que
as crianasatribuem aos objetos so prticos, ou seja, utilizam os
objetos deacordo com funes que elas prprias atribuem aos
mesmos.
No decorrer do segundo ano, como j foi apontado, ao ladodestas
aes sensoriomotoras ou prticas, comeam a surgirformas novas de
manipular os objetos e a atribuio de novassignificaes a eles.
Quando as crianas passam a usar os objetosda mesma forma que vem as
demais pessoas fazendo, estoatribuindo aos mesmos significados
convencionais. Quando come-am a us-los de modo representativo, como
na brincadeira de faz-de-conta, esto atribuindo significados
simblicos aos mesmos.
Observar:
a) Como a criana manipula e interage com os objetos
Esquemas de interao explora os objetos um a um: que tipos de aes
realiza com
eles; atua sobre 2 ou mais objetos ao mesmo tempo
relacionan-
do-os: que tipos de aes e que tipos de relaes; interesse pelos
objetos;
-
Distrbios de Linguagem em Crianas Pequenas 891
persistncia ou no na atividade quando encontra
algumobstculo;
explora os objetos de modo diversificado, agindo de diferen-tes
maneiras sobre eles;
explora os objetos a partir de poucas aes, de modo rpidoe
superficial.
Nvel de desenvolvimento do simbolismo uso convencional dos
objetos; esquemas simblicos; uso de bonecos no brinquedo simblico;
aes simblicas em seqncia; uso de objetos substitutos.Atribuio de
significados prticos; convencionais; simblicos.
b) Habilidades de imitao vocal e motora
Imitao vocal/sonora som de tosse; som de raspar a garganta
(rrr); pa pa; ta ta ta ta; ca ca ca; mame; nen; au au; papai; abrir
e fechar a boca estalando os lbios.Imitao de movimentos no visveis
no prprio corpo tocar na orelha com uma das mos; pr a mo na testa;
segurar o cabelo; tocar com o dedo indicador na ponta da lngua;
tocar nas faces alternadamente com o dedo indicador.Imitao de aes
com os objetos tampar e destampar alternadamente uma caixa; cobrir
um objeto com um leno; balanar um objeto amarrado a um barbante;
empilhar um bloco de madeira sobre outro e derrubar.Solicitao de
reproduo de modelos ou situaes ausentes como faz para comer? como
faz para dormir? como faz para pentear o cabelo? como a mame faz
quando fica brava?
A avaliao destes itens permite caracterizar que recursos
ascrianas esto utilizando para interagir com os objetos paramelhor
conhec-los, assim como quais so as habilidades deimitao que j
desenvolveram. Desta forma, podemos ter ind-cios a respeito de que
fase de desenvolvimento cognitivo elaspodem estar atravessando:
sensoriomotoras (Fases I a V); fasede transio entre o perodo
sensoriomotor e o perodo represen-tativo (Fase VI) ou se j
atingiram caractersticas tpicas doperodo representativo
propriamente dito.
-
892 Fonoaudiologia Prtica
Avaliando habilidades interativas/sociais
a) Verificar se h presena de indcios de
comportamentos interativos intencionais
dirige comportamentos aos outros, no-verbais ou verbais,com a
finalidade de iniciar interaes ou mesmo pararesponder s tentativas
de interao dos outros;
continua insistindo nos comportamentos comunicativos quandoos
outros no reagem de imediato s suas tentativas de interao;
adota uma postura ou comportamento de quem espera umaresposta do
outro s suas atitudes comunicativas.
b) Identificar as funes dos comportamentos
comunicativos
funo regulatriasolicita objetos;solicita aes;protesta (solicita
encerramento de uma ao).
funo de atrair ou manter a ateno sobre si mesma; funo de
garantir a ateno conjunta.
Caracterizando o grau de desenvolvimento da
comunicao
a) Nveis de desenvolvimento
nvel I atitudes comunicativas no-intencionais reativas; nvel II
atitudes comunicativas no-intencionais compor-
tamentos ativos; nvel III atitudes comunicativas intencionais
elementares; nvel IV atitudes comunicativas intencionais
convencio-
nais ; faz uso de comunicao lingstica caracterizar a fase de
desenvolvimento de linguagem; faz uso de comunicao simblica
no-verbal.
b) Recursos expressivos empregados na comunicao
gestuais no-simblicos; vocais no-simblicos (vocalizaes que no tm
o carter
de palavras); gestuais simblicos; vocais simblicos
(principalmente onomatopias); verbais.
Observando as atitudes comunicativas dos pais
a) Atitudes diretivas controladoras
adulto prope temas e situaes; mantm o controle e a direo da
interao;
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Distrbios de Linguagem em Crianas Pequenas 893
linguagem diretiva: grande nmero de imperativos e pergun-tas a
fim de verificar capacidades ou ensinar coisas;
trunca ou quebra a interao com sucessivos julgamentosde valor:
no assim; parabns; muito bem, etc.;
iniciam a maior parte dos tpicos de interao; falam em excesso;
no sabem aguardar ou limitam as possibilidades de respos-
tas espontneas das crianas; tendem a ignorar ou a no aproveitar
adequadamente as
iniciativas das crianas; no conseguem compreender ou responder
aos esforos
comunicativos que as crianas fazem.
b) Atitudes no-diretivas facilitadoras
aguardam iniciativas por parte das crianas; procuram adequar seu
nvel de linguagem ao nvel da criana; buscam proximidade fsica para
facilitar interao; interpretam atos no-intencionais como se fossem
intencio-
nais; esto atentos aos esforos comunicativos por parte das
crianas; do oportunidades de ao para as crianas; imitam
comportamentos das crianas; ficam aguardando respostas por parte
das crianas.
DISTRBIOS DE LINGUAGEM
A denominao distrbios de linguagem diz respeito a
com-prometimentos no curso evolutivo da aquisio da linguagem.
Osdistrbios que mais comumente afetam o desenvolvimento dacriana
pequena so os chamados retardos de aquisio dalinguagem.
Crianas apresentando condies evolutivas favorveis ten-dem a
adquirir linguagem no decorrer do segundo ano de vida,entre 1 e 2
anos de idade. Algumas crianas j comeam a ensaiaras primeiras
palavras por volta do primeiro aniversrio. Outrascomeam mais
tarde.
Podemos observar, portanto, diferenas quanto poca emque as
crianas comeam a utilizar a linguagem. H uma srie defatores que
podem ser apontados como determinantes de taisdiferenas: ritmo de
desenvolvimento de cada um, estimulaoem geral e mais
especificamente, de linguagem, condies emo-cionais e maturidade
social, hereditariedade, doenas e outrosfatores que possam afetar o
tempo de aquisio.
Um dos parmetros que podem ser utilizados para a caracte-rizao
dos retardos de linguagem diz respeito idade. Crianasque chegam
faixa etria dos 2 anos sem terem adquiridolinguagem merecem uma
ateno especial, pois podem estar
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894 Fonoaudiologia Prtica
revelando dificuldades quanto ao desenvolvimento lingstico.Neste
caso, o critrio que est sendo empregado refere-se prpria linguagem,
ou seja, um possvel atraso s estar sendoconsiderado depois de ter
sido ultrapassada a idade em quecomumente as crianas adquirem
linguagem.
Porm, podemos falar tambm em retardos de desenvolvimen-to da
comunicao, atingindo a evoluo de nveis pr-lingsticosantes de se
manifestar em nveis verbais. O diagnstico, nestescasos pode ser
feito atravs da observao e anlise dos nveis dedesenvolvimento
pr-lingstico, social e cognitivo do beb aindapequeno. Estas so
condies mais ideais para diagnstico etratamento dos distrbios da
comunicao em crianas.
Classificando os retardos de linguagem
A classificao dos retardos de aquisio da linguagem podeser feita
tomando-se como referncia as dificuldades encontradase sua
abrangncia. Podemos dividir os retardos em dois grandesgrupos,
sempre considerando que, embora possam estar sendoclassificadas num
mesmo grupo, as crianas divergem entre siquanto ao grau de
dificuldades e extenso das mesmas. Estaclassificao leva em conta a
existncia de dificuldades especfi-cas quanto aquisio da linguagem
ou dificuldades globais dedesenvolvimento e se aplica a crianas que
no adquiriramlinguagem na idade esperada.
Grupo I Retardo de linguagem fazendo parte
de atraso global do desenvolvimento
Subgrupo A Crianas apresentando ausncia de condu-tas simblicas,
com comportamentos organizados a nvelsensoriomotor.
Esquemas de interao com os objetos
modo de manipulao de objetos tipicamente sensoriomotor; ausncia
de condutas simblicas; conjunto de aes pouco evoludas tendendo
repetio
sem variao; poucas formas de explorar e manipular os objetos;
dificuldades de ateno e tempo de concentrao reduzi-
dos; ausncia de atividade construtiva elaborada; ausncia de
brincadeira de contedo simblico.
Imitao
dificuldades maiores, em geral, para imitar sons e movimen-tos
no-visveis no prprio corpo;
dificuldades para imitar aes com os objetos; no conseguem imitar
modelos ausentes.
-
Distrbios de Linguagem em Crianas Pequenas 895
Habilidades interativas / sociais
crianas com atrasos mais importantes podem no apresentar,ainda,
comportamentos intencionais para garantir a interao;
quando presentes, a funo dos comportamentos comuni-cativos tende
a ser predominantemente regulatria;
dificuldades para manter ateno conjunta;
Graus de desenvolvimento da comunicao
crianas com atrasos mais acentuados podem ainda noestar
apresentando comportamentos comunicativos inten-cionais Nveis I e
II;
no fazem uso de comunicao lingstica; no apresentam outras formas
de comunicao simblica,
mesmo no verbais; podem apresentar comportamentos comunicativos
tpicos
dos Nveis III e IV; recursos expressivos empregados na comunicao
limita-
dos a gestos e vocalizaes no-simblicos.
Atitudes comunicativas dos pais
tendem a ser diretivas e pouco adequadas, de forma geral.
Subgrupo B Crianas com atraso global do desenvolvimen-to e que j
apresentam algum grau de simbolismo em suascondutas que, apesar de
presentes, esto defasadas em relaoao esperado para a idade.
Esquemas de interao com os objetos
manipulam os objetos alternando entre formas sensoriomo-toras e
simblicas, tendendo a um predomnio da explora-o sensoriomotora;
atribuem significados prticos, convencionais e simblicosaos
objetos;
brinquedo simblico presente, elementar, com graus vari-veis de
simbolismo podendo ser constatados;
manipulao dos objetos tende a ser breve e superficial; tempo de
ateno curto; tendem a desistir com facilidade quando surge algum
obs-
tculo na manipulao; atividade construtiva pouco
desenvolvida.
Imitao
dificuldades para imitar sons em geral e movimentos novisveis no
prprio corpo;
imitao de modelos ausentes ocorrendo de forma elemen-tar, pouco
precisa;
maior facilidade para imitar aes sobre objetos.
-
896 Fonoaudiologia Prtica
Habilidades interativas / sociais
apresentam comportamentos intencionais para garantir
ainterao;
a funo dos comportamentos comunicativos tende a
serprincipalmente regulatria;
dificuldades para manter ateno conjunta e alternar aesnuma
atividade a dois.
Graus de desenvolvimento da comunicao
apresentam algum domnio de linguagem, estando pormdefasados em
relao ao esperado para a idade cronolgica;
podem apresentar formas de comunicao simblica no-verbais;
podem estar empregando recursos simblicos na comuni-cao, que
tendem a ser mais elementares.
Atitudes comunicativas dos pais
tendem a ser diretivas e pouco adequadas s caractersticasdas
crianas.
Grupo II Retardo simples de linguagem
A prtica clnica tem demonstrado ser comum encontrarmoscrianas
apresentando dificuldades ou impedimentos mais acen-tuados no que
diz respeito aquisio da linguagem. O problemaconfigura-se como mais
especfico, sendo que outros aspectos dodesenvolvimento esto menos
comprometidos, ou seja, estoevoluindo dentro dos limites do que
considerado normalidade.
Este tipo de problema encontrado, por exemplo, em crianascom
deficincia auditiva que, devido a um impedimento fsico, tmum
comprometimento quanto ao domnio da linguagem. Porm,tal tipo de
problema no est restrito ao deficiente auditivo.Crianas sem
distrbios da audio podem tambm apresentar taltipo de defasagem.
No caso de crianas ouvintes possvel considerarmos esteproblema
como um retardo especfico, ou simples, de linguagem.Correspondem a
um grupo de crianas que, embora j possamestar revelando um
desenvolvimento mais avanado em condu-tas simblicas, como o
brinquedo de faz-de-conta e a imitaodiferida, no apresentam uma
evoluo correspondente no planoda linguagem. Embora possam revelar
uma boa compreenso delinguagem, a capacidade expressiva pode estar
ausente, ou emfases mais elementares do que a esperada para a idade
e odesenvolvimento geral que a criana apresenta.
Um dos fatores que podem estar agravando ou interferindoneste
tipo de atraso diz respeito vivncia, por parte da criana,de situaes
ou ambientes pouco favorveis para o desenvolvi-mento da linguagem e
at mesmo de habilidades comunicativas
-
Distrbios de Linguagem em Crianas Pequenas 897
mais gerais. Sabemos que o domnio da linguagem pela criana
altamente dependente da qualidade das situaes de interaocom os
outros. Habilidades sociais, habilidades comunicativas eestilos de
interao dos adultos devem ficar bem caracterizadosna avaliao.
Caractersticas gerais comumente encontradas
nas crianas com atrasos simples de linguagem
Esquemas de interao com os objetos
desenvolvimento sensoriomotor sem alteraes; habilidades para
jogos de construo podem estar bem-
desenvolvidas; brinquedo simblico revela que a criana tem
capacidade
para lidar com smbolos, que consegue representar conhe-cimentos
e experincias atravs de brinquedos e gestos, omesmo no acontecendo
com a linguagem;
significados convencionais e simblicos so atribudos
aosobjetos;
tendem a apresentar formas variadas de manipulao dosobjetos e
tempo mais prolongado de explorao.
Imitao
podem no apresentar dificuldades para reproduzir movi-mentos
no-visveis no prprio corpo;
em geral, no apresentam dificuldades para reproduziraes
realizadas com objetos;
podem no apresentar problemas para imitar modelos au-sentes;
tendem a apresentar maior dificuldade, ou at mesmodesinteresse,
na imitao de sons e palavras.
Habilidades interativas/sociais
algumas crianas podem apresentar dificuldades para orga-nizar
comportamentos comunicativos intencionais;
algumas crianas tendem a atuar diretamente sobre o meio,buscando
a interao com os outros de modo pouco siste-mtico;
a funo dos comportamentos comunicativos tende a
serprincipalmente regulatria;
tendem a apresentar pouca habilidade para garantir a aten-o
conjunta e desenvolver atividades com outros.
Graus de desenvolvimento da comunicao
podem apresentar algum domnio de linguagem, estando,porm,
defasados em relao ao esperado para a idadecronolgica;
-
898 Fonoaudiologia Prtica
podem apresentar formas de comunicao simblica no-verbais gestos
simblicos;
podem estar empregando formas de comunicao vocais egestuais
no-simblicas;
apesar de j apresentarem uma capacidade para lidar comsmbolos, a
comunicao pode estar limitada a formas nosimblicas como as
encontradas nos Nveis III e IV dacomunicao pr-lingstica.
Atitudes comunicativas dos pais
tendem a ser diretivas e pouco adequadas s caractersticasdas
crianas.
PLANEJANDO UM TRABALHO DE INTERVENO
FONOAUDIOLGICA
A pergunta que sempre nos fazemos diz respeito a como
tratarcrianas com retardos de aquisio da linguagem. Porm, como
possvel constatar, no podemos falar de uma maneira nica oude um
procedimento padro para trabalhar do ponto de vistafonoaudiolgico.
Na realidade, falamos em retardos de aquisioda linguagem, o que
implica em configuraes diversificadas, comproblemas variando em
termos de profundidade e graus deextenso. Isto significa que
devemos adequar o trabalhofonoterpico ao perfil de desenvolvimento
de cada criana.
Atuarmos com uma criana que apresenta um atraso globalde
desenvolvimento e ausncia de condutas simblicas poderequerer um
tipo de trabalho e estimulao distinto da crianaque esteja
apresentando um retardo simples de linguagem.Uma atividade que pode
ser bastante til e eficiente para umacriana pode ser completamente
ineficaz ou intil para a outra.Foi por esta razo que este artigo
comeou abordando questesligadas ao desenvolvimento normal da
comunicao e suasrelaes com o desenvolvimento de capacidades
cognitivas esociais. Precisamos, antes de mais nada, compreender o
tipo deretardo que a criana apresenta, quais aspectos de seu
desen-volvimento esto mais prejudicados, quais aspectos esto
me-lhor preservados, assim como em que nvel evolutivo se
encon-tram. Um dos preceitos bsicos da interveno teraputica
dizrespeito a entrar em sintonia com a criana para poder
desen-volver nela habilidades interativas e isto implica em
sermossensveis aos seus interesses e capacidades, em sermos
capa-zes de acompanhar detalhes de seu desenvolvimento.
Apontamos trs reas que atuam como determinantes do
desen-volvimento da linguagem: cognio, capacidades
comunicativaspr-verbais e habilidades para interao social.
Avaliando aspectosligados a estas reas, pudemos categorizar dois
grandes grupos deretardos de aquisio de linguagem. O primeiro grupo
apresenta no
-
Distrbios de Linguagem em Crianas Pequenas 899
somente um atraso no desenvolvimento da comunicao, mastambm
problemas quanto aos aspectos cognitivos e sociais. Nesteprimeiro
grupo foram apontados dois subgrupos diferenciados pelofato da
criana apresentar ou no condutas de carter simblico. Astrs reas de
desenvolvimento esto prejudicadas. Obviamente, otrabalho teraputico
deve ser levado a cabo no sentido de estimularo desenvolvimento
comunicativo, social e cognitivo uma vez quetodos estes aspectos
encontram-se com problemas.
O segundo grupo, das crianas consideradas como apresentan-do um
retardo simples de linguagem, evidencia dificuldades maiscentradas
no desenvolvimento de habilidades sociais e comunica-tivas. A
criana pode at ter condies cognitivas e representativaspara
adquirir linguagem mas, ao que tudo indica, a funo comuni-cativa da
linguagem est pouco desenvolvida.
Apesar das diferenas, as crianas dos dois grandes gruposde
retardos de aquisio de linguagem evidenciam, de modogeral,
dificuldades no plano do desenvolvimento de
capacidadescomunicativas e sociais. Recursos interativos pobres
produzemum efeito negativo sobre a comunicao uma vez que esta
umaatividade que implica em relaes sociais. Em razo de taisdficits,
estas crianas muito podem se beneficiar de situaesque busquem dar a
elas melhores condies para uma sintoniamais afinada com as outras
pessoas a fim de que consigammanter um foco de ateno comum e possam
agir e se comunicarde modo coordenado e sincronizado com seus
parceiros.
Algumas estratgias facilitadoras para
terapeutas e pais interagirem com crianas
apresentando atrasos no desenvolvimento da
linguagem
Aguardar, observar e ouvir tudo o que a criana tem
paramanifestar: gestos, vocalizaes e olhares.
No atuar de forma diretiva e controladora, dando oportuni-dades
para a criana manifestar seus desejos, interesses
enecessidades.
Fornecer oportunidades que favoream a comunicao esaber aguardar
uma resposta.
Propiciar situaes de interao com equilbrio de
turnoscomunicativos.
Usar linguagem compatvel com as possibilidades de com-preenso
pela criana.
Interpretar atos no-intencionais como se fossem atos
co-municativos intencionais.
No dar automaticamente as coisas para a criana: aguar-dar que
ela tome iniciativas para solicitar os objetos.
Conhecer as capacidades comunicativas tpicas de cadacriana e
saber que com este recurso que se pode contarno momento da interao
com elas.
-
900 Fonoaudiologia Prtica
Solicitar pouco de suas capacidades ou exigir acima do queela
pode responder significa possvel quebra da interaopor falta de
sintonia entre os interlocutores.
Garantir a proximidade fsica e o contato face a face:
aproximidade facilita o intercmbio comunicativo.
Imitar sistematicamente o que a criana faz uma formaeficiente de
chegar ao seu nvel: como sintonizar namesma estao em que ela
opera.
Dar nome s coisas, de modo natural. Nomear sistematica-mente
objetos e aes aumenta a possibilidade de compreen-so assim como
conduz ao uso de palavras novas.
As situaes do dia a dia devem ser adaptadas de modo quelevem a
criana a usar a linguagem como um meio privile-giado de ao.
Criar pequenos problemas cujas solues impliquem ematos
comunicativos: por exemplo, dar a mamadeira vazia nahora de tomar o
leite; apresentar uma caixa sem o contedoque habitualmente a criana
encontra dentro dela e assimpor diante. Aguardar as atitudes da
criana para resolversituaes como esta.
ATENO Quando as necessidades das crianas so atendidas sem
ser preciso qualquer esforo de comunicao por partedelas, ou
quando o ambiente est estruturado para queconsigam diretamente tudo
o que pretendem, encontramossituaes pouco favorveis para que elas
iniciem comunica-o e compreendam suas funes.
Crianas com dificuldades de linguagem tm, em geral,pouca
iniciativa e desistem com facilidade quando surgealgum obstculo s
suas tentativas de ao. Quandoterapeutas e pais respondem
prontamente a tais tentativaspodem estar dando-lhes mais confiana e
aumentando suainiciativa na medida em que elas sentem que podem
secomunicar.
IMPORTANTE Aprender a observar e dar sentido aos comportamentos
das
crianas um dos pontos fundamentais de uma
propostateraputica.
Aprender a observar e analisar os prprios comportamentosao
interagir com as crianas um segundo ponto-chave dotrabalho
fonoaudiolgico.
O fonoaudilogo deve ser preparado adequadamente a fimde promover
estratgias favorveis para o desenvolvimentodas capacidades
comunicativas de crianas com problemasde linguagem. Curiosamente,
as atitudes inadequadas quecomumente observamos nos pais ao
interagirem com seusfilhos com dificuldades de comunicao tambm
podemos
-
Distrbios de Linguagem em Crianas Pequenas 901
observar em nossas terapias de linguagem. Nossa tendn-cia, em
geral, de dirigir e controlar. Mas no este tipo deatitude que pode
beneficiar estas crianas. Elas necessitamde atitudes
facilitadoras.
EVITAR Tomar sistematicamente a iniciativa da comunicao. Ficar
testando as capacidades das crianas com ordens e
perguntas. Ficar dirigindo a ao da criana dizendo como ela deve
agir
ou proceder. Interromper os silncios que correspondem ao tempo
de es-
pera que se deve dar para que a criana tome a iniciativa
dacomunicao.
Ficar falando no lugar da criana. Falar em excesso sem dar tempo
para a criana responder
ou tomar a iniciativa. Muitas das crianas que j atingiram nveis
simblicos de
comunicao podem at ser capazes de responder pergun-tas ou seguir
instrues mas, em geral, no so capazes deusar a linguagem para fins
de comunicao espontnea.No este o objetivo da terapia
fonoaudiolgica.
Situaes desfavorveis para uma comunicao eficaz tmpor efeito
afastar a criana da linguagem. Quando no temoportunidades para
iniciar comunicao, ou quando seusesforos para conseguir a interao
no tm efeito, a crianano tem oportunidades de experimentar suas
capacidadesde comunicar.
O que enfatizar no trabalho teraputico:
diretrizes gerais
O objetivo, neste momento, o de apresentar uma srie desituaes
que, em virtude do nvel de desenvolvimento alcan-ado por cada
criana, podem despertar a ateno dasmesmas e motiv-las para a ao
sobre o meio. Estas situa-es podem servir de contexto para as
interaes e trocascomunicativas entre o terapeuta e a criana,
seguindo os prin-cpios apontados anteriormente e, ao mesmo tempo,
estimularsua atividade cognitiva.
A) Crianas apresentando um retardo de aquisio de
linguagem como parte de um atraso global do
desenvolvimento: comportamento tipicamente em nvel
sensoriomotor, com ausncia de condutas simblicas
Estimular a atividade de explorao sensoriomotora: ointeresse
deste grupo de crianas est centrado em nvelsensoriomotor com
atribuio de significados prticos (at
-
902 Fonoaudiologia Prtica
a Fase IV sensoriomotora) e convencionais (a partir daFase V)
aos objetos. A ateno est mais voltada amanipular os objetos a fim
de conhecer suas propriedadesfsicas (apalpar, puxar, balanar,
esfregar, bater, por naboca) e, no caso de crianas que j atingiram
a Fase IV,estabelecer relaes entre eles (empilhar, encaixar,
baterum objeto no outro, etc.)
Desenvolver condutas imitativas ligadas a:movimentos visveis no
prprio corpo;movimentos no visveis no prprio corpo (a partir daFase
IV);vocalizaes;aes diversas sobre os objetos, tomando como
modeloinicial as aes que a criana j realiza com os objetos.
Facilitar o desenvolvimento de procedimentos
comunicati-vosestimular o surgimento de condutas comunicativas
intencio-nais, caso ainda no estejam presentes;favorecer o
aparecimento de condutas comunicativas con-vencionais caso a criana
j apresente comportamentoscomunicativos elementares (a imitao um
importantemeio para que isto acontea);favorecer o desenvolvimento
de condutas verbais paraaquelas crianas que j chegaram ao uso de
gestos conven-cionais e que esto apresentando condies de imitar
mo-delos sonoros.
B) Crianas apresentando um retardo de aquisio de
linguagem como parte de um atraso global do
desenvolvimento presena de condutas simblicas
Propiciar atividades sensoriomotoras: principalmente ex-plorao
de relaes espaciais entre os objetos e jogos deconstruo.
Estimular comportamentos imitativosmovimentos visveis no prprio
corpo;movimentos no-visveis no prprio corpo;aes diversas sobre os
objetos;vocalizaes, onomatopias e palavras;imitao de modelos
ausentes.
Brinquedo simblico. Atitudes comunicativas
uso de linguagem verbal;uso de formas simblicas no-verbais de
comunicao.
C) Crianas apresentando atrasos simples de
linguagem
Estimular situaes propcias ao brinquedo simblico. Estimular
atividades ligadas a jogos de construo.
-
Distrbios de Linguagem em Crianas Pequenas 903
Estimular o desenvolvimento de comportamentos
imitativosvocalizaes em geral, onomatopias e palavras;imitao de
movimentos no-visveis no prprio corpo;imitao de modelos
ausentes;imitao de aes diversas sobre os objetos.
Comportamentos comunicativosuso de linguagem;uso de formas
simblicas no-verbais.
Como j foi apontado anteriormente, a imitao desempenhaum papel
fundamental no desenvolvimento infantil, tanto do pontode vista
social e comunicativo quanto do ponto de vista cognitivo.Criar
condies que promovam a evoluo do comportamentoimitativo de
primordial importncia para a obteno de progres-sos na criana.
Alguns procedimentos para tornar a imitao umaconduta facilitada e
sistemtica podem ser:
1. Imitar sistematicamente os comportamentos da criana afim de
estabelecer uma identidade de aes e o reconhe-cimento de que o
outro um parceiro que se comporta demodo familiar, reconhecvel.
2. Fazer da imitao uma forma sistemtica de garantir inte-raes
com a criana.
3. Fazer com que a imitao se torne uma conduta recproca:a criana
imita o outro assim como prope modelos paraserem imitados.
4. Fazer com que a imitao possa ser um meio que promovauma maior
diversificao de modos de agir da criana:
inicialmente imitar, de modo idntico, aes que a crianarealiza
com os objetos a fim de comear a obter sua atenopara a ao que
estamos reproduzindo;
medida que a criana comece a ficar atenta e a seinteressar pela
imitao que estamos fazendo, por reconhec-la como familiar, comear a
propor mudanas para queagora a criana imite o que estamos dando
como modelo:promover variaes sobre a mesma ao que a crianaestava
realizando: por exemplo, bater fraco, bater comfora, bater uma vez,
bater vrias vezes;manter a ao que a criana estava realizando e
fazer variaros objetos: por exemplo, bater no cho, bater numa
caixa,bater na barriga e assim por diante;manter o objeto sobre o
qual a criana agia e fazer variar asaes a serem aplicadas sobre o
mesmo: por exemplo, se elaestava sacudindo um chocalho, propor
outras aes como esfre-g-lo no cho, bat-lo numa caixa, apalp-lo,
escond-lo, etc.
Como podemos considerar o sucesso na
terapia?
Para finalizar este artigo creio ser de fundamental
importnciaabordar a questo do que o sucesso da terapia de crianas
com
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retardos de aquisio de linguagem. O sucesso, para muitos,pode
corresponder a atingir o objetivo de fazer a criana falar, isto,
usar a linguagem oral. De fato, esta deve ser nossa meta que,s
vezes, pode estar prxima de ser atingida. Porm, comocostuma
acontecer com muita freqncia, tal meta pode estarlonge do alcance
imediato da criana e isto significa que se tornarum objetivo, que,
se possvel, poder ser atingido a mdio oulongo prazo.
Quando no conhecemos de perto os caminhos do desenvol-vimento
infantil e as etapas que ele deve percorrer, no consegui-mos pensar
a mdio e longo prazo. Queremos resultados imedia-tos. Uma boa
terapia criana falando e um bom terapeuta aquele que faz a criana
falar. Mas, apesar de todos os nossosesforos, o tempo pode passar e
a criana no desenvolver alinguagem. Vem a ansiedade: no somos bons
terapeutas. Acen-tua-se nossa tendncia diretiva e controladora.
Precisamos fazercom que ela aprenda, precisamos provar nossa
competncia.Acabamos falando pela criana, o tempo todo. E vem a
sensaode insucesso que, muito provavelmente, no ser s nossa.
Estasensao, seguramente, poder estar sendo partilhada pelaprpria
criana que no viu seus esforos comunicativos, por maissimples ou
elementares que fossem, terem qualquer efeito sobreo outro.
Acrescente-se a isso tudo a sensao de que noconsegue agradar ao
outro porque no corresponde aos seusdesejos ou expectativas. O
outro, nestes casos, podemos ser nsmesmos realizando, na realidade,
uma antiterapia.
Qualquer meta s pode ser atingida quando se percorre umcaminho
para chegar at ela. O sucesso da terapia fonoaudiol-gica composto
de pequenos sucessos que representam peque-nos passos em direo a
comportamentos mais elaborados oucomplexos. O objetivo da terapia
deve ser sempre um prximopasso, por menor que seja ou por mais
elementar que possaparecer. Uma criana que no estava apresentando
atitudescomunicativas intencionais e que passa a ser capaz de
organizarcomportamentos comunicativos intencionais elementares
est,efetivamente, obtendo um grande sucesso em seu
desenvolvi-mento. Quando comear a variar suas formas de
comunicardescobrindo, por exemplo, as possibilidades de
utilizarvocalizaes, estar obtendo mais sucessos. Chegar ao uso
degestos convencionais para comunicar-se representar mais
su-cessos. Portanto, devemos considerar como sucesso, ou pro-gresso
na terapia, toda e qualquer mudana que implique noaparecimento de
novas condutas que possibilitem formas maiseficazes de
comunicao.
Leitura recomendada
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Deficincia Auditiva 1