UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO A DIVERSIFICAÇÃO DOS PRODUTOS IMOBILIÁRIOS PRIVADOS RESIDENCIAIS E AS MUDANÇAS CONJUNTURAIS DO SETOR: REGIÃO SUDOESTE DE SÃO PAULO DE 2009 A 2018 ISABELA BARACAT DE ALMEIDA São Paulo 2019
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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
A DIVERSIFICAÇÃO DOS PRODUTOS IMOBILIÁRIOS PRIVADOS RESIDENCIAIS E AS MUDANÇAS CONJUNTURAIS DO SETOR: REGIÃO
SUDOESTE DE SÃO PAULO DE 2009 A 2018
ISABELA BARACAT DE ALMEIDA
São Paulo
2019
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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
A DIVERSIFICAÇÃO DOS PRODUTOS IMOBILIÁRIOS PRIVADOS RESIDENCIAIS E AS MUDANÇAS CONJUNTURAIS DO SETOR: REGIÃO
SUDOESTE DE SÃO PAULO DE 2009 A 2018
ISABELA BARACAT DE ALMEIDA
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito
para obtenção do título de Mestre em Arquitetura e
Urbanismo.
Orientador: Roberto Righi
São Paulo
2019
2
A447d Almeida, Isabela Baracat de.
A diversificação dos produtos imobiliários privados
residenciais e as mudanças conjunturais do setor: região
sudoeste de São Paulo de 2009 a 2018. / Isabela Baracat de
Almeida.
189 f. : il. ; 30 cm
Dissertação (mestrado em Arquitetura e Urbanismo) –
Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2019.
CAPÍTULO 1 – O SETOR IMOBILIÁRIO RESIDENCIAL 1.1 O que é mercado imobiliário...............................................................................17
1.2 A dimensão da economia imobiliária e de seus agentes....................................20
1.3 Políticas públicas e privadas voltadas ao setor imobiliário..................................23
CAPÍTULO 2 – O MERCADO PAULISTANO 2.1 O desenvolvimento da incorporação em São Paulo..........................................31
2.2 O perímetro de estudo como protagonista dos lançamentos imobiliários..........35
CAPÍTULO 3 – 2008 A 2013: PERÍODO DE CRISE OU ASCENSÃO? 3.1 A crise de 2008 e suas repercussões imobiliárias.............................................48
3.2 O mercado imobiliário e o de capitais................................................................52
3.3 O produto financeiro minha casa minha vida.....................................................59
3.3.1 A estruturação do Programa Minha Casa Minha Vida……………….....59
3.3.2 A aceleração do Mercado econômico…………………………………….63
3.4 A produção imobiliária aquecida........................................................................72
CAPÍTULO 4 – 2014 A 2018: A TENTATIVA DE ESTRUTURAÇÃO DE UM NOVO CICLO 4.1 A crise política e a retração imobiliária.................................................................75
4.2 O plano diretor de 2014 e seus impactos na produção........................................80
CAPÍTULO 5 – A DIVERSIFICAÇÃO DO PRODUTO IMOBILIÁRIO RESIDENCIAL 5.1 Mercado imobiliário: produto, tipologia e atuação ...............................................83
5.2 As variações do produto e atuação das empresas na última década.................99
5.3 As inovações como impacto à produção............................................................153
vida-dos-brasileiros.html, acessado em 01 de set de 2019.
16
É importante ressaltar as mudanças significativas do interesse do
consumidor. O sonho da compra do imóvel não representa mais um anseio de vida
para muitos jovens, os quais são ou serão o público-alvo para os agentes
imobiliários. Em contrapartida, as alterações de perfil demográfico são questões que
começam a ser abordadas pelo setor, emergindo uma nova classe de consumidores,
o chamado “mercado grisalho”. Segundo especialista da ONU (Organização das
Nações Unidas), em 2050 o número de pessoas com mais de 60 anos atingirá 2
bilhões em todo o mundo, evidenciando uma das transformações demográficas mais
importantes do século 214. Tal fato tem feito as incorporadoras, ainda que de forma
tímida, despertarem para um novo nicho de produtos.
No intervalo de tempo escolhido ocorreram mudanças na economia
brasileira e, principalmente, no setor imobiliário. Aprofundar o estudo sobre o período
e evidenciar as produções imobiliárias trará uma leitura a respeito da mudança de
atuação de alguns agentes do setor. Muitos deles são responsáveis por conhecer e
explorar as qualidades de uma região, na tentativa de incorporar um produto para
venda. São operadores que possuem impacto direto no desenvolvimento daquela
parcela de cidade no momento da intervenção, identificando e prevendo o segmento
da população atingida.
Para o entendimento e apresentação das mudanças tipológicas dos
produtos imobiliários e suas causas, levanta-se e avalia-se os dados dos
lançamentos de imóveis, feitos entre dos anos de 2009 e 2018 num perímetro de
recorte enquadrado na porção sudoeste da cidade de São Paulo, e identifica-se
suas diferentes configurações espaciais e abordagens compatíveis ao consumidor. A
região recortada é dada em função de sua relevância econômica, mencionada e
classificada por Flavio Villaça como “Região de Grande Concentração das Camadas
de Mais Alta Renda”, a qual concentra diversos bairros com diversas categorias
4 Artigo “População idosa mais do que dobrará até 2050; especialista da ONU pede foco em
direitos” publicado no portal online da ONU – Organizações das Nações Unidas - Brasil em 03 de mai
de 2016. Disponível em https://nacoesunidas.org/populacao-idosa-mais-do-que-dobrara-ate-2050-
especialista-da-onu-pede-foco-em-direitos/, acessado em 01 de set de 2019.
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sociais, detentores das classes de mais alta renda do território municipal.
Claramente, por esse motivo, a atuação de incorporadores tem expressividade
nessa região, que apresenta cerca de 30% dos lançamentos imobiliários da cidade
durante o período estudado.
A base de informações da EMBRAESP – Empresa Brasileira de Estudos do
Patrimônio - que fornece dados de lançamentos imobiliários residenciais desde
1985, é utilizada como principal informação quantitativa na elaboração de gráficos
para análise. A partir dessa base, em formato aberto de Excel, foram filtradas as
informações de acordo com a relevância do trabalho, isto é, empreendimentos
residenciais privados, lançados entre os anos de 2009 e 2018 e enquadrados no
perímetro recortado. São levantados também os principais marcos regulatórios e
episódios históricos que fomentaram ou influenciaram a produção imobiliária na
cidade de São Paulo. Por atuar profissionalmente nesse mercado, o trabalho
contempla visões mercadológicas abordadas em palestras e workshops assistidos
durante o desenvolvimento da pesquisa.
CAPÍTULO 01 - O SETOR IMOBILIÁRIO RESIDENCIAL Os estudos sobre o mercado imobiliário, adensamento e verticalização foram
pilares fundamentais para o desdobramento do presente capítulo, que busca uma
abordagem geral sobre os elementos que permeiam esse universo. Além de
fundamentações teóricas, é trazida uma visão prática e mercadológica a respeito da
incorporação no âmbito residencial e privado. Para isso, compreende-se a
transformação do segmento, a expressividade econômica alcançada com o passar
dos anos, bem como as políticas públicas que influenciam na expansão
mercadológica dos agentes imobiliários.
1.1 O QUE É MERCADO IMOBILIÁRIO
O mercado imobiliário pode ser definido de diversas maneiras e
interpretações, visto que cada afirmação se molda ao objetivo do trabalho discorrido,
porém, aqui, se adotará da menção de Botelho (2005, p.12). Para ele constitui o
18
grupo de atividades relacionadas às diversas etapas de trabalho, englobando o
período anterior, o durante e posterior da construção dos imóveis. Tais atividades
podem ser traduzidas desde o segmento de produção e venda de materiais de
construção, passando pela fase de negócios no momento de aquisição de um
terreno, suas etapas de aprovação em órgãos públicos e incorporação até a fase de
construção e entrega de um empreendimento. Além dos fatores operacionais e
logísticos, o mercado se faz extremamente complexo, unindo diferentes frentes de
trabalho e atuações, e possui relação direta com o espaço (CAMPOS apud
FURTADO, 2017). Outra etapa que acompanha as demais atividades é o trabalho de
marketing e a comercialização das unidades que, muitas vezes, levam algum tempo
até serem liquidadas. Após o empreendimento concluído, inicia-se uma série de
serviços contínuos, tais como manutenções em geral, serviços de limpeza e até
mesmo a administração de edifícios (WISSENBACH, 2012, p.22).
No campo dos investimentos e da economia, o mercado imobiliário pode ser
considerado como aquele em que se realiza negociações referentes a um bem
imóvel, ou seja, um terreno ou área construída sobre ele. O próprio terreno, as
edificações, o trabalho humano realizado sobre ele — como o do setor agrícola —,
elementos naturais próprios do terreno, como árvores e vegetações, são algumas
dessas negociações tratadas no campo imobiliário5.
A cidade de São Paulo recebeu no período entre 2009 e 2017 mais de 1900
novos empreendimentos residenciais6. Essa informação traz consigo a reflexão da
articulação que o território sofre, seja em questão da ocupação de novos espaços ou
a transferência para eles, isto é, transformar uma área pré-existente em um novo
contexto de cidade. Construções antigas deixaram de existir para dar lugar a novas,
processo decorrente da intensificação da produção imobiliária estimulada por
5 Informações retiradas do artigo “Mercado imobiliário: o que é, mercado, tendências para
2019”, Portal online FIA – Fundação Instituto de Administração, acessado em 18 de abril de 2019. 6 Ao mencionar “empreendimentos residenciais” adota-se empreendimentos únicos de
mesmo endereço, isto é, não são consideradas fases ou torres lançadas em diferentes etapas. O
dado foi extraído de análises feitas pela autora a partir do Cadastro de Lançamentos Imobiliários
fornecido pela Empresa Brasileira de Estudos do Patrimônio, a Embraesp.
19
variáveis econômicas favoráveis, impulsionando-se a atuação do agente imobiliário.
Hugo Louro e Silva considera que a distinção entre o mercado imobiliário e
outros mercados se dá por atuar no desenvolvimento local e físico, utilizando do
consumo de uma matéria prima que não se pode repor, a terra. Avançando,
Wissenbach afirma ser um setor que propicia uma alteração permanente na
morfologia urbana e no uso do solo. Além do impacto urbanístico, a expressividade
do setor está também no contexto econômico e social, onde, de acordo com os
dados fornecidos pela CBIC – Câmara Brasileira da Construção Civil, a parcela de
trabalhadores que atua no setor foi de cerca de 8% do total de trabalhadores entre
2012 e 2017, conforme apresentado na tabela 1.
Ano População ocupada População ocupada na Construção Civil
% População ocupada na
Construção Civil2012 89.497 7.481 8%
2013 90.764 7.882 9%
2014 92.112 7.810 8%
2015 92.142 7.507 8%
2016 90.384 7.297 8%
2017 90.647 6.846 8%
*Média anual (em milhares) TABELA 1 - POPULAÇÃO OCUPADA NA CONSTRUÇÃO CIVIL7
O mercado imobiliário é parte do cenário da construção civil, é por meio dele
que se correlacionam diferentes atividades pertencentes ao todo, desde a fabricação
dos materiais de construção até a entrega de um empreendimento. Dessa forma,
embora se discuta a atuação do mercado imobiliário, trata-se de uma atividade de
grande importância na economia e que concebe novos parâmetros e conceitos de
habitação, os quais sempre são reformulados em função de adaptações humanas e
espaciais.
7 Comparativo entre o número de pessoas ocupadas no Brasil e a ampliação para o setor da
construção civil. Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua - PNAD Contínua,
disponibilizado pela Câmara Brasileira da Industria da Construção – CBIC e editado pela autora.
20
1.2 A DIMENSÃO DA ECONOMIA IMOBILIÁRIA E DE SEUS AGENTES
Deve-se considerar que os imóveis são bens de grande valor, que, se
financiados, ocupam parte considerável da renda de uma família e que ainda
representam uma das conquistas de maior anseio de uma pessoa. Por acarretarem
numa expressiva dívida para quem adquire, uma grande “esteira” se forma ao se
comprar um imóvel, devido a disponibilidade de crédito para financiamento e o
tempo que o passivo durará na vida da maioria dos compradores, muitas vezes
medidas em décadas. Trata-se de uma “economia de conexões”, envolvendo
decisões temporais, espaciais e estruturais (IGLIORI, 2016). A temporalidade está
na extensão do período que levará para a construção e entrega de um
empreendimento, muitas vezes durando até 36 meses. A questão espacial se
apresenta pela localidade daquele terreno que receberá o edifício dentro de um
contexto urbano, e quais as conexões que terá com a cidade. Esta questão se dá
pelas características físicas que perfazem um imóvel, como o tipo do produto
imobiliário, com variação de metragem quadrada e os atributos oferecidos pela
construtora.
O mercado conta com frentes de trabalhos distintas e, muitas vezes,
dissociadas, existindo a figura da construtora e da incorporadora. A primeira tem sua
atuação na execução e implementação das etapas de operações de uma obra, não
tendo atribuições no planejamento imobiliário e nas vendas do empreendimento. Já
uma incorporadora é quem desenvolve e implementa um empreendimento
imobiliário, o termo “incorporadora” advém de “incorporação”, que corresponde à
laboração de formalizar o registro imobiliário do condomínio junto ao Oficial de
Registro de Imóveis competente. Nesse sentido, Botelho (2005) ressalta que o
incorporador é definido juridicamente pelo artigo 29 da Lei 4.951, de 1964.
Art. 29. Considera-se incorporador a pessoa física ou jurídica, comerciante ou não,
que embora não efetuando a construção, compromisse ou efetive a venda de
frações ideais de terreno objetivando a vinculação de tais frações a unidades
21
autônomas, em edificações a serem construídas ou em construção sob regime
condominial, ou que meramente aceite propostas para efetivação de tais
transações, coordenando e levando a têrmo a incorporação e responsabilizando-
se, conforme o caso, pela entrega, a certo prazo, preço e determinadas condições,
das obras concluídas. (Lei Nº 4.951, de 16 de dezembro de 19648)
De acordo com a Fipe – Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas – foi
durante a última década que ocorreu o notável aumento da importância do setor da
construção civil para a economia brasileira, onde a maioria das grandes
incorporadoras abriu seu capital na Bolsa de Valores de São Paulo e passaram a
disponibilizar resultados e informações trimestrais para os investidores interessados.
Também nesse período surgiu o primeiro índice dos preços de imóveis com
apuração periódica, o Índice FipeZap de Preço de Imóveis anunciados9. Embora não
houvesse indicadores abrangentes que trouxessem informações consolidadas do
comportamento das empresas relacionadas ao setor, a Associação Brasileira de
Incorporadoras Imobiliárias – ABRAINC - firmou um acordo com a FIPE para a
consolidação dos dados, devido a importância desse tipo de análise em momentos
de crises econômicas. Dessa forma, ainda que as informações não compreendam a
totalidade do período estudado, nesta dissertação são apresentados alguns
indicadores que contribuem para o entendimento do comportamento dos agentes
imobiliários nos anos recentes.
A CBIC – Câmara Brasileira da Indústria da Construção – trabalha os dados
referentes ao setor da construção civil e fornece informações por agrupamentos de
atividades econômicas, tais como: incorporação de empreedimentos imobiliários;
construção de edifícios; construção de rodovias, ferrovias, obras urbanas e obras de
arte especiais; obras de infraestrutura para energia elétrica, telecomunicações, água,
esgoto e transporte por dutos; construção de outras obras de infraestrutura;
8 Lei Nº 4.951, de 16 de dezembro de 1964. Disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L4591.htm, com acesso em 28 de nov de 2018. 9 Informações retiradas dos Indicadores ABRAINC/ FIPE do Mercado Imobiliário, publicado
em agosto de 2015 pela FIPE – Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas.
22
demolição e preparação do terreno; instalações elétricas, hidráulicas e outras; obras
de acabamento; outros serviços especializados para construção. No que tange o
mercado imobiliário, com a atividade de incorporação e construção de edifícios, a
soma do percentual de representatividade de ambos é de 48% sobre todas as
atividades, conforme mostrado na tabela 2.
Incorporação de empreendimentos imobiliários 17408 9%Construção de edifícios 78651 39%Construção de rodovias, ferrovias, obras urbanas e obras de arte especiais 8183 4%Obras de infra-estrutura para energia elétrica, telecomunicações, água, esgoto e transporte por dutos 4625 2%Construção de outras obras de infra-estrutura 10166 5%Demolição e preparação do terreno 8905 4%Instalações elétricas, hidráulicas e outras instalações em construções 28214 14%Obras de acabamento 20272 10%Outros serviços especializados para construção 24292 12%
TOTAL 200716 100%
NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS POR GRUPOS DE ATIVIDADE ECONÔMICA DA CONSTRUÇÃO CIVIL
BRASIL - 2017
TABELA 2 – ESTABELECIMENTOS POR GRUPOS DE ATIVIDADE ECONÔMICA DA CONSTRUÇÃO CIVIL, BRASIL, 2017.
Fonte: RAIS 2016 / mtps. Elaboração: Banco de dados-CBIC. Editado pela autora.
Na tabela 3 são apresentados os números de estabelecimentos enquadrados com
atividades relacionadas à incorporação de empreendimentos imobiliários e a
relevância numérica do estado de São Paulo sobre o todo. As atividades foram
agrupadas em função do CNAE – Classificação Nacional de Atividades Econômicas
– e que tem como objetivo padronizar os códigos de atividades econômicas em todo
o país. Dessa forma, ode-se notar um crescimento intenso até o ano de 2017,
mesmo não tendo a evolução completa da década anterior, conforme mostra a
TOTAL BRASIL 8.969 11.037 12.518 14.289 16.913 18.513 18.928 17.851 17.408
NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS POR GRUPOS DE ATIVIDADE ECONÔMICA DA CONSTRUÇÃO CIVILIncorporação de empreendimentos imobiliários
Grupos de acordo com a CNAE 2.0/IBGE de novembro de 2006.
TABELA 3 - ESTABELECIMENTOS ATUANTES NA INCORPORAÇÃO DE EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS. Fonte:
RAIS 2016 / mtps. Elaboração: Banco de dados-CBIC. Editado pela autora.
24
Localidade 2006 2007 2008Rondônia 27 30 27
Acre 2 2 1
Amazonas 28 28 39
Roraima 6 5 4
Pará 25 38 41
Amapá 4 4 12
Tocantins 17 22 21
NORTE 109 129 145
Maranhão 24 30 31
Piauí 23 27 39
Ceará 150 170 253
Rio Grande do Norte 131 163 219
Paraíba 47 66 89
Pernambuco 194 164 185
Alagoas 24 21 27
Sergipe 10 20 17
Bahia 235 265 311
NORDESTE 838 926 1.171
Minas Gerais 684 674 740
Espírito Santo 137 110 167
Rio de Janeiro 539 554 594
São Paulo 2.260 2.408 2.576
SUDESTE 3.620 3.746 4.077
Paraná 432 451 521
Santa Catarina 352 383 494
Rio Grande do Sul 535 573 757
SUL 1.319 1.407 1.772
Mato Grosso do Sul 54 53 61
Mato Grosso 83 87 90
Goiás 266 282 288
Distrito Federal 150 187 190
CENTRO-OESTE 553 609 629
TOTAL BRASIL 6.439 6.817 7.794
NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS POR GRUPOS DE ATIVIDADE ECONÔMICA DA
CONSTRUÇÃO CIVILIncorporação de empreendimentos imobiliários
TABELA 4 - ESTABELECIMENTOS ATUANTES NA INCORPORAÇÃO DE EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS. Fonte:
RAIS 2016 / mtps. Elaboração: Banco de dados-CBIC. Editado pela autora.
Na tabela 5, observa-se a relevância das atividades de construção civil e
imobiliária, organizadas a partir dos índices de valor adicionado bruto – VAB. O valor
adicionado é o valor que a atividade incorpora aos bens e serviços consumidos no
seu processo produtivo. Trata-se da contribuição ao PIB – Produto Interno Bruto –
pelas atividades econômicas, calculada pela diferença do valor de produção e o
25
consumo absorvido por essas atividades10.
Total Construção Civil Total Atividades imobiliárias2010 27,4 6,3 67,8 8,3
2011 27,2 6,3 67,7 8,4
2012 26,0 6,5 69,1 8,8
2013 24,9 6,4 69,9 9,2
2014 23,8 6,2 71,2 9,3
2015 22,5 5,7 72,5 9,7
2016 21,2 5,1 73,1 9,7
PARTICIPAÇÃO (%) NO VALOR ADICIONADO BRUTO (a preços básicos) - SEGUNDO AS ATIVIDADES
ServiçosIndústriaAno
TABELA 5 - VAB CONSTRUÇÃO CIVIL E ATIVIDADES IMOBILIÁRIAS - BRASIL11. Fonte: Informações disponíveis no portal
online CBIC e fornecidas pelo IBGE. Elaborado pela autora.
10 VAB – Valor Adicionado Bruto. Fonte: IPEADATA – Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada. 11 VAPbp ou Valor Adicionado Bruto (a preços básicos) é o resultado final da atividade
produtiva na duração de um período determinado. Informações disponíveis no portal online CBIC –
Câmara Brasileira da Industria da Construção – e fornecidas pelo IBGE.
26
1.3 POLÍTICAS PÚBLICAS E PRIVADAS VOLTADAS AO SETOR IMOBILIÁRIO
Com o grande crescimento das cidades no Brasil entre os anos 1970 e 1980,
num cenário desprovido de políticas urbanas que acompanhassem de forma
adequada essa expansão, resultou-se em impasses e desequilíbrios sociais,
econômicos e de ocupação nas cidades. Neste período, e lideradas por movimentos
populares, surgem discussões sobre as reformas urbanas e a função social da
propriedade (FIGUEIREDO; MOURA; RODRIGUES, 2016). A Constituição de 1988
trouxe temas inerentes à política de desenvolvimento urbano realizada no plano
municipal, como o caso do Plano Diretor e seu papel como instrumento básico de
desenvolvimento urbano. Concomitantemente se discutiam o conceito de solo
criado, nomenclatura que evoluiu já na década de 1990 para Outorga Onerosa do
Direito de Construir, celebrada pela Lei Federal 10.257/ 2001 (REZENDE, 2009).
Juntamente com a outorga onerosa, as operações interligadas e as
operações urbanas também utilizaram o princípio de solo criado. Como objetivos da
utilização desses instrumentos estão os seguintes: a obtenção de recursos para o
financiamento do desenvolvimento urbano, a recuperação de uma valorização
imobiliária causada por intervenções públicas, a realização de obras de
infraestrutura, o fomento ao adensamento, a preservação de patrimônios históricos e
a produção de habitação social (FIGUEIREDO; MOURA; RODRIGUES, 2016).
A idéia da parceria público-privada não surge no Brasil, assim como não é
originário daqui o próprio instrumento da Operação Urbana. Já na década de 70,
inicia-se na Europa e nos EUA um processo paulatino de déficit de arrecadação
do Estado, devido a problemas como o aumento do desemprego, o alto custo de
manutenção do Estado-Providência e a crise fiscal, todos relacionados com
as transformações paradigmáticas geradas pela reestruturação produtiva e o
esgotamento do modelo fordista-taylorista. (MARICATO; FERREIRA, 2002)
Representa assim um instrumento legal para intervenção de espaços e
ampliação de infraestrutura urbana, visando a intensificação do uso e ocupação do
solo, se apropriando da parceria entre o poder público e iniciativa privada. Para se
buscar o interesse privado, é preciso traçar uma estratégia capaz de ser atrativa aos
seus interesses. Embora o Estatuto da Cidade e a Constituição Federal, art. 182 e
27
183, estabeleçam que a legislação urbanística deva alcançar a cidadania garantindo
a função social e o bem-estar dos habitantes, os projetos de renovação urbana
acabam se voltando aos interesses privados, seja do mercado imobiliário, fundiário
ou financeiro (PESSOA; BÓGUS, 2008).
A operação urbana consorciada é definida como conjunto de
intervenções e medidas coordenadas pelo poder público municipal, com
a participação dos proprietários, moradores, usuários permanentes e
investidores privados, com o objetivo de alcançar em uma área
transformações urbanísticas estruturais, melhorias sociais e valorização
ambiental. (SOMEKH, 2008)
Na cidade de São Paulo, o conceito de Operação Urbana foi inicialmente
discutido pela Secretaria Municipal de Planejamento (SEMPLA) entre 1983 e 1985,
conforme proposta de Plano Diretor feita durante a gestão do prefeito Mário Covas
(SILVA, 2015). O mecanismo, conforme mencionado, pressupõe parcerias entre o
poder público e o setor privado, sendo este último interessado na permissão de
construir área adicional (SALES, 2005). Assim, o instrumento de Operação Urbana
foi incluído no Plano Diretor em 1988 e, durante a gestão de Luísa Erundina, em
1991, quando foi desenvolvida a Operação Urbana Anhangabaú, com foco na área
central e na finalização do Vale do Anhangabaú. Com o prefeito Paulo Maluf
aprovou-se a Operação Urbana Faria Lima, em 1995, voltada para a região
sudoeste da cidade e que proporcionou valorização para o setor imobiliário (SILVA,
2016).
§1º Considera-se operação urbana consorciada o conjunto de intervenções e
medidas coordenadas pelo Poder Público municipal, com a participação dos
proprietários, moradores, usuários permanentes e investidores privados, com o
objetivo de alcançar em uma área transformações urbanísticas estruturais,
melhorias sociais e valorização ambiental. (SALES apud Estatuto da Cidade, Lei
nº 10.257 de 10/07/2001)
Diante do ocorrido, as Operações Urbanas são muito criticadas pela
sociedade civil, com opiniões e posições divergentes sobre a efetividade das
propostas e o favorecimento do setor imobiliário e concentração de renda.
28
As Operações Urbanas são uma das faces mais perversas dos projetos de
requalificação urbana em São Paulo. Elaboradas a partir de mecanismos que
legitimam e intensificam a concentração de renda e a expulsão da população de
menor renda para áreas mais distantes da metrópole, as Operações Urbanas são
um “mecanismo de exceção” que “costuram” grande parte da cidade de acordo
com as conjunturas mais favoráveis aos agentes do mercado imobiliário.
(FIORAVANTI, 2012)
Embora existam opiniões contrárias e questionamentos sobre a função social
das Operação Urbanas, é inegável que seja o ponto de intersecção entre o mercado
imobiliário e o plano público. Pode-se afirmar que por meio dos CEPACs -
Certificados de Potencial Adicional de Construção -, isto é, títulos mobiliários que
permitem a venda e a revenda do potencial construtivo adicional previsto na
operação, pode haver uma maior flexibilidade mercadológica diante das viabilidades
oferecidas aos empreendimentos financeiros. Tudo isto permite a adoção de um
maior potencial construtivo, maior o número de unidades vendidas e,
consequentemente, proporcionando maior retorno ao incorporador.
No perímetro de estudo adotado nesta dissertação, ressalta-se duas
Operações Urbanas pertinentes e que movimentaram a produção do setor imobiliário
local, a Operação Urbana Faria Lima e a Água Espraiada. A primeira foi aprovada
em 1995 e contemplava uma área de 650 hectares entre a avenida Faria Lima e a
Marginal Pinheiros. O projeto visava, como prioridade, aliviar o fluxo viário na porção
sudoeste da cidade por meio da ampliação da avenida Faria Lima com adequação
de infraestrutura urbana e desapropriações de trechos da área, bem como a
reurbanização do Largo da Batata e a urbanização de favelas localizadas no
perímetro (PMSP, 2010). Por outro lado, a Operação Urbana Consorciada Água
Espraiada, aprovada em 2001, tinha como principais diretrizes a revitalização da
região por meio de intervenções no sistema viário, transporte coletivo, habitação
social e criação de espaços públicos. Tais intervenções compreenderiam, dentre
outras, a construção da ponte Otavio Frias Filho, a Ponte Estaiada, a implantação de
conjuntos habitacionais destinados à população atingida pelas obras, o
prolongamento de vias como a avenida Jornalista Roberto Marinho e a Chucri
Zaidan, bem como o incremento no transporte coletivo, que incluía o Metrô (PMSP,
2010).
29
FIGURA 1 - LOCALIZAÇÃO OPERAÇÃO URBANA FARIA LIMA12
FIGURA 2 - LOCALIZAÇÃO OPERAÇÃO URBANA ÁGUA ESPRAIADA13
Em síntese, as Operações Urbanas têm seu papel fundamentado na
reestruturação urbana e social de uma determinada região, porém, de acordo com
Pessoa e Bógus (2007), no caso das Operações Faria Lima e Água Espraiada, o
mercado imobiliário foi a parte interessada que se beneficiou.
12 Localização do perímetro da Operação Urbana Faria Lima. Fonte: Gestão Urbana SP, Prefeitura de São Paulo. 13 Localização do perímetro da Operação Urbana Faria Lima. Fonte: Gestão Urbana SP, Prefeitura de São Paulo.
30
Essas intervenções proporcionam e reforçam uma reestruturação social e espacial
nas grandes cidades, mas por outro lado, também provocam um novo
ordenamento territorial, acirrando as exigências competitivas do mercado
imobiliário que procuram impor seus interesses nas grandes transformações
urbanísticas, arquitetônicas e de infra-estrutura. (PESSOA; BOGUS, 2007)
As autoras ainda apontam que houve um incremento na valorização de uma
área em que, por conta da criação de centros de concentração de riquezas, foram
favorecidos os investimentos públicos e privados de acordo com os interesses do
mercado imobiliário. A “nova centralidade” surgiu permeando a Av. Faria Lima em
seu prolongamento, e a Av. Luis Carlos Berrini, trazendo consigo um mercado ávido
por expansão.
31
CAPÍTULO 2 – O MERCADO PAULISTANO
2.1 O DESENVOLVIMENTO DA INCORPORAÇÃO EM SÃO PAULO
Durante a última década, o mercado imobiliário brasileiro esteve aquecido,
tanto pela expressividade numérica de lançamentos, como pelo crescente preço de
venda dos imóveis (MENDONÇA; SACHSIDA, 2012). A estabilidade dos preços, a
diminuição das taxas de juros, a ampliação da concessão de crédito e o investimento
em obras públicas foram alguns dos impulsos que contribuíram para o embasamento
deste ocorrido. Porém, o processo de transformação do espaço urbano promovido
pela incorporação residencial tem suas raízes no século XX. A cidade teve sua
configuração alterada, e o mercado imobiliário se apropriou e fomentou essa
mudança longa e constante. A área urbana se dispersou em função dos loteamentos
que surgiam, já que o centro não apresentava mais uma vocação residencial,
detendo inúmeros estabelecimentos comerciais. Novas formas de morar foram
surgindo numa ocupação que estabelecia novas vocações para cada porção de
cidade (VILLA, 2006).
A partir de 1911, a Companhia City iniciou a compra de grandes extensões de
terra na cidade, visando executar loteamentos, originando bairros-jardim e, nas
décadas seguintes, incorporou glebas segundo os mesmos padrões paisagísticos
e urbanísticos na cidade de São Paulo, gerando os novos bairros do Anhangabaú,
City Butantã, Alto da Lapa, Bela Aliança, Pacaembu, Alto de Pinheiros, entre
outros. Este tipo de zoneamento funcional e social inspirou uma série de
incorporadores paulistanos que, anos mais tarde, foram formando uma mancha
mais ou menos contínua de bairros semelhantes na região sudoeste da capital
paulista. (VILLA, 2006, n.p)
Embora os edifícios habitacionais sejam formas de moradias usuais, a história
dos conjuntos residenciais verticais na cidade de São Paulo é recente, pois os mais
antigos de tais conjuntos datam dos anos 1920 – possuindo configurações espaciais
características, decorrentes da apropriação da morfologia das mansões do início do
século XX (LEMOS, 1972). Apesar da verticalização ganhar força apenas nas
décadas subsequentes, já era possível notar iniciativas dessa nova concepção de
habitar, de forma que os prédios já possuíam a configuração de térreo e mais quatro
32
pavimentos. Tal configuração seguia uma tendência da época, cujas habitações
eram predominantemente voltadas ao mercado rentista, que demandavam
edificações luxuosas, assemelhando-se a “mansões sobrepostas” (GALVÃO, 2007).
Os anos de 1930 trouxeram reflexos da crise americana de 1929 para o setor
habitacional, cujos problemas foram ainda agravados pelo rápido crescimento
populacional da cidade de São Paulo, pois o número de habitantes, que em 1900
era de 240.000, saltou para mais de um 1.000.000 em 1933. Mesmo com a edição
de leis voltadas a resolução dos problemas habitacionais, as dificuldades com a falta
de moradia e a agressividade do mercado rentista persistiram, o que fez com que o
governo populista de Getúlio Vargas promulgasse a Lei do Inquilinato em 1942. Esta
lei tinha como objetivo o congelamento dos preços dos aluguéis por dois anos. Isto,
somado aos desdobramentos da Segunda Grande Guerra, acabou por gerar a
retirada quase que total do capital privado aplicado na produção habitacional
(GALVÃO, 2007).
Em meio às discussões habitacionais sobre a participação do poder público,
surgiram em São Paulo os condomínios e incorporações, ambos resultantes do
parcelamento jurídico do terreno, que possibilitou a existência de diversos
proprietários independentes em um mesmo terreno ou loteamento. Tal fato, aliado
ao superávit da balança comercial do pós-guerra, propiciou o retorno do capital
privado à produção habitacional, intensificando-se assim a verticalização na cidade.
Os anos de 1950 representaram uma profunda transformação da cidade, tem
razão tanto de seu crescimento urbano, que a tornava cada vez mais uma moderna
metrópole, quanto da acelerada industrialização, que impulsionava a entrada de
capital estrangeiro na economia. Na década de 1950, ocorreu um movimento de
exaltação e progresso, devido às festividades do IV Centenário da capital paulista
em 1954, que acompanhou impressionante crescimento do setor imobiliário. O
chamado “Centro Novo”, quadrilátero compreendido pelas ruas Xavier de Toledo,
Av. Ipiranga, Av. São João e Av São Luiz, teve grande crescimento imobiliário em
razão de possuir concentração de comércio, cultura, lazer e residência, que o
caracterizavam como uma região privilegiada da cidade. Embora o setor imobiliário
estivesse em seu apogeu, o problema habitacional ainda era alarmante, pois a
massa de trabalhadores continuava habitando cortiços no centro velho da cidade ou
adquirindo terrenos em loteamentos irregulares da periferia, espaço ocupado
predominantemente por construções precárias. A intensa verticalização que ocorria
33
teve ainda mais impulso com a liberação do gabarito máximo dos edifícios
(SOMEKH, 1987).
A verticalização é um dado eloquente e mais do que qualquer outro atestava a
mudança, a vitalidade do processo econômico e a modernidade metropolitana.
Entretanto, é a complexidade funcional que fornece a dimensão exata do
processo. (MEYER, 1991, p.31)
A valorização da região do Centro Novo não era apenas residencial, mas
também comercial, cultural e intelectual, pois nos pavimentos térreos de muitos
edifícios funcionavam galerias que abrigavam, dentre outros serviços, lojas de luxo,
bares ou restaurantes. Desta forma, o comercio era um dos grandes propulsores do
Centro Novo na década de 1950 (ALEIXO, 2005). Assim, a presença de diferentes
usos na área central e a busca cada vez maior por novos estabelecimentos criaram
um vínculo entre a função comercial e a verticalização (ALEIXO, 2205). Novas
tipologias de habitação começaram a ganhar espaço, a exemplo do caso das
kitchenettes que, mais do que expressar os conceitos modernistas transformadores,
multiplicavam-se para atender uma demanda do mercado por pequenas unidades
em boas localizações, ou seja, no centro novo de São Paulo (GALVÃO, 2007).
Mesmo durante seu apogeu, já se falava sobre o possível declínio do Centro
Novo, uma vez que já se teriam atingidos os seus limites econômicos e físicos de
saturação. O crescimento dos congestionamentos e a insuficiência de infraestrutura,
aliados ao grande crescimento do número de automóveis – que passaram a
demandar novos locais para estacionamento e a exploração de novos polos de
comércio na cidade –, levaram, consequentemente, à desvalorização imobiliária da
região. A partir dos anos de 1960, os investimentos no Centro Novo diminuíram e o
comercio sofisticado migrou para outras regiões, como a Avenida Paulista e a Rua
Augusta (GALVÃO, 2007). Um exemplo marcante de empreendimento imobiliário na
década de 1960 foi o edifício Copan, que se tornou um marco da verticalização
paulistana no centro novo, com elevados índices de adensamento urbano.
34
FIGURA 3 - MATERIAL PROMOCIONAL DO EDIFÍCIO COPAN NA ÉPOCA DE SEU LANÇAMENTO14
A partir desta realidade complexa foram criados grupos de trabalho no âmbito
municipal para discussão e elaboração de planos de ação, com destaque para o
Grupo Executivo de Planejamento, o GEP. O grupo foi criado em 1967 pela
Prefeitura Municipal de São Paulo objetivando a elaboração de um plano urbanístico
para a cidade, e que conduziu as ações até os anos 1990 por meio da SEMPLA –
Secretaria Municipal de Planejamento. Foi proposta a criação de sub-centros na
cidade, como em Itaquera, na Zona Leste e em Santo Amaro, na Zona Sul. Tais
estudos serviram como mapeamentos que levariam futuramente à formação de um
outro sub-centro, localizado na Av. Nações Unidas (DINIS, 2009).
14 Material promocional do edifício Copan na década de 1960. Fonte: GALVÃO, Walter J. F.
Copan: A trajetória de um mega empreendimento, da concepção ao uso. Estudo compreensivo do
processo com base na Avaliação Pós-Ocupação. Dissertação de mestrado. São Paulo: Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo, USP, 2007.
35
2.2 O PERÍMETRO DE ESTUDO COMO PROTAGONISTA DOS LANÇAMENTOS IMOBILIÁRIOS
Para avaliar a porção sudoeste da capital é preciso encarar São Paulo como
“cidade global” e símbolo brasileiro da modernidade, abrigando as maiores
empresas multinacionais e, consequentemente, fomentando a produção imobiliária.
Para que se apresente o perímetro recortado para esta dissertação, faz-se um
resumo do desenvolvimento econômico e politico frente à atuação do mercado
imobiliário paulistano.
A porção sudoeste da capital é traduzida emblematicamente pela região às
margens do Rio Pinheiros, motivo da atuação da Companhia City desde os anos
1930 e ocupada tardiamente na década de 1970. A região se caracterizava por
grandes hiatos em meio às áreas edificadas com construções de baixo custo e com
potencial voltado para o setor industrial. Porém, oportunamente, o setor terciário se
expandiu para essa região em virtude da superelevação dos preços dos imóveis na
região central, como é o caso da Av. Paulista e do antigo trecho da Av. Faria Lima
(DINIS, 2009).
Os anos 1980, no contexto nacional, foram marcados pela redemocratização
e a tentativa do restabelecimento da economia diante da segunda crise do petróleo.
Também fundamental foi a promulgação da nova Constituição em 1988, responsável
por traduzir, de forma inédita objetivos do Estado Brasileiro (COSTA, 2009). No final
desta década, as políticas econômicas brasileiras já visavam integração do país ao
mercado internacional, mesmo que de forma tímida, priorizando a estabilidade
econômica diante dos efeitos negativos ocasionados, principalmente, pelos altos
índices inflacionários.
Além dos preços imobiliários competitivos que a região praticava, um outro
atrativo para a formação dessa nova centralidade foi a proximidade com o bairro do
Brooklin Velho, o qual se caracterizava como de alto padrão. Os acessos principais
eram feitos pelas avenidas Santo Amaro e Vereador José Diniz, já que a marginal do
Rio Pinheiros ainda não possuía pontes e viadutos para a travessia de uma margem
à outra. Posteriormente ocorreram as construções das pontes da Av. Morumbi, Av.
João Dias e Transamérica, permitindo que o fluxo de automóveis migrasse para a
Av. das Nações Unidas (DINIS, 2009).
36
Naquela época, a região margeada pelo Rio Pinheiros começou a se
desenvolver e a alterar sua vocação inicial, voltando-se às atividades empresariais e,
mais tarde, de lazer e residencial. Para tanto, foi marcante a construção do Centro
Empresarial São Paulo do outro lado do rio Pinheiros, numa aposta audaciosa de
Alfredo Mathias15 durante o milagre econômico brasileiro, hoje ocupado por grandes
expoentes dos negócios multinacionais. Começavam a apontar os novos edifícios na
avenida Luís Carlos Berrini, via paralela à marginal do rio Pinheiros, desenvolvidos
pelo escritório Bratke Collet (FIX, 2001). Este escritório incorporou as novas
necessidades espaciais, de mudanças e flexibilizações, exigidas pelas grandes
empresas, projetando edifícios com planta livre de mais de 500 metros quadrados.
Mariana Fix (2009) cita Carlos Bratke ao apontar que a facilidade de acesso, a
possiblidade de expansão em função do zoneamento e a ausência de indústrias na
região, facilitando as desapropriações, foram os fatores que levaram aos
investimentos realizados. O escritório Bratke&Collet catalisou a produção imobiliária
na região, lançando uma série de edifícios de escritórios na área remanescente da
retificação do rio, feita na década de 1970, que originou Av. Luís Carlos Berrini. O
escritório produziu quarenta e cinco edifícios na região durante a década de 1980,
abrindo espaço para outros mega-projetos ali se implantassem nos anos seguintes
(DINIS, 2009).
A migração dos escritórios das empresas da avenida Paulista para a nova
região permitiu a ocupação de novos edifícios, mais amplos e tecnológicos. No
entanto, com o passar dos anos os primeiros prédios da Berrini foram se tornando
ultrapassados, trazendo a necessidade de uma área de laje maior e com mais vagas
para estacionamento de veículos, além de redes de infraestrutura adequadas (FIX,
2001).
15 Alfredo Mathias fundou a construtora de mesmo nome na década de 1950 e se tornou um
dos maiores nomes na inovação do setor da construção civil em São Paulo. Foi responsável pela
construção do Shopping Iguatemi, o primeiro Shopping center da capital, e do condomínio de edifícios
residenciais Portal do Morumbi. Fonte: Artigo “Prédios de São Paulo: Portal do Morumbi”, publicado
pelo portal online Estadão, disponível em https://acervo.estadao.com.br/noticias/acervo,predios-de-
sao-paulo-portal-do-morumbi,10490,0.htm. Acesso em 10 de dez de 2018.
37
“Entre os empreendimentos mais avançados estão o da Birmann, uma
incorporadora brasileira que formou uma joint venture com a norte-
americana Turner Construction Corporation, uma das maiores
construtoras do mundo, responsável por obras como o Madison Square
Garden e o Lincoln Center, em Nova York. No edifício Birmann 21, por
exemplo, localizado na Marginal Pinheiros, próximo à ponte Eusébio
Matoso, foram utilizadas algumas das inovações [...]. Cada um dos trinta
pavimentos tem uma área útil entre 750 e 1250 metros quadrados. ”
(FIX, 2001, p. 16)
A região se tornou polo dos centros comerciais e empresariais, não
recebendo apenas edifícios de escritórios, mas um leque de equipamentos voltados
às atividades empresariais, como centros de convenções, hotéis, shopping centers,
casas de espetáculo e restaurante, tendo como um dos empreendimentos mais
significativos o World Trade Center (FIX, 2001). Nesta linha, o complexo pertencente
ao grupo internacional, WTC Association, com outras unidades implantadas no
mundo, tinha como objetivo fomentar a “internacionalização dos negócios”.
38
FIGURA 4 - MAPA DE DESLOCAMENTO DO SETOR TERCIÁRIO NA METRÓPOLE16
Já do outro lado do rio Pinheiros, na margem esquerda, um outro
empreendimento de alto padrão se desenvolveu nos anos 1990, o Panamby.
Desenvolvido pela Panamby Empreendimentos Imobiliários, construtora que integra
uma das maiores multinacionais argentinas, o projeto contou com uma área de 715
mil metros quadrados e foi desenvolvido para que sua ocupação seguisse padrões
internacionais de “qualidade de vida” para os executivos que ali viveriam (FIX, 2001).
O empreendimento foi financiado por meio de um fundo de investimentos
imobiliários, “aplicação financeira que permite a um investidor aplicar seus recursos
no mercado imobiliário, tornando-se sócio de um empreendimento por meio da
compra de cotas” (FIX, 2001, p.19). O retorno da aplicação por parte dos
investidores veio com a vendas dos lotes para as construtoras e incorporadoras.
Junto ao aglomerado de prédios que ali se iniciou, surgiu também um importante
16 Fonte: MEYER, Regina M. P.; GROSTEIN, Marta D. A leste do centro: territórios do
urbanismo. São Paulo: Imprensa Oficial, 2010
39
equipamento urbano, vendido pelos agentes imobiliários como refúgio em meio à
cidade, o Parque Burle Marx.
O desenvolvimento urbano na região estudada foi exponencial, fomentando
positivamente negócios dos mais diversos, desde o incorporador, o comerciante e e
as grandes empresas, refletindo numa porção de cidade com características
próprias. A região concentra uma pequena parcela da população, com a maior renda
per capita da cidade de São Paulo, que continua a se destacar das demais regiões
pelo custo do terreno que é notavelmente superior às demais. Dessa forma,
consequentemente a viabilidade de um empreendimento a ser implantado sofre com
os altos preços dos terrenos e precisa se viabilizar desenvolvendo produtos de alto
padrão. Tomás Wissenbach (2008) ressalta que os empreendimentos imobiliários
representam a força dos interesses privados na apropriação das riquezas
produzidas, e destaca um caráter especulativo que se apropria da falta de uma
política urbana eficaz. Embora a parcela de cidade estudada tenha recebido
intervenções pautadas pelas discussões a respeito da questão urbana no Brasil, em
que se evidencia o direito à cidade e à moradia digna, ressalta-se a eficiência
dessas ações do ponto de vista da apropriação de vantagens pelo setor privado. O
chamado quadrante sudoeste da cidade de São Paulo sediou as Operações
Urbanas Faria Lima e Água Espraiada, intervenções públicas que, conforme
abordado anteriormente, acabaram por valorizar áreas antes degradadas,
transferindo a população que ali residia e se tornando o chamariz para lançamentos
imobiliários comerciais e residenciais. Atualmente, a região representa o novo centro
de negócios para a capital, abrigando muitos dos agentes financeiros e econômicos
responsáveis por grande parte da geração de renda do país, e atraindo o agente
imobiliário na produção de novos empreendimentos.
O perímetro estudado compreende uma determinada região delimitada por
13 distritos administrativos, onde se concentra a população com alto poder de renda,
baseada no IDH – Índice de Desenvolvimento Humano, e número de lançamentos
imobiliários expressivos. Os distritos classificados estão enquadrados na listagem de
Desenvolvimento humano muito elevado, com média de 0,954, sendo: Alto de
Pinheiros, Butantã, Campo Belo, Itaim Bibi, Jardim Paulista, Moema, Morumbi,
Pinheiros, Santo Amaro, Saúde, Vila Andrade, Vila Mariana e Vila Sônia, como
mostram as tabelas 6 e 7.
40
Subprefeitura Distrito IDH BairroAlto de PinheirosBoacavaSumarezinhoVila IdaVila MadalenaButantãC dos BandeirantesCaxinguiConjunto Residencial ButantãInst de PrevidenciaJardim BonfiglioliJardim RizzoVila ButantãVila GomesVila IndianaVila PirajussaraCidade JardimJardim EverestJardim GuedalaJardim LeonorJardim PanoramaJardim Panorama D OesteJardim SilviaJardim VianaMorumbiPaineiras do MorumbiReal ParqueVila MorumbiVila ProgrediorFerreiraJardim AlvoradaJardim CelesteJardim ColomboJardim das VertentesJardim JussaraJardim Lar São PauloJardim LondrinaJardim Monte KemelJardim OlympiaJardim Peri PeriJardim TaboãoJardim TrussardiJardim VazaniResidencial MorumbiVila InahVila MorseVila SoniaVila SuzanaBrooklin PaulistaCidade MonçõesItaim BibiJardim das AcaciasVila CordeiroVila GertrudesVila Nova ConceiçãoVila OlímpiaCerqueira CesarJardim PaulistaJardim AméricaJardim das BandeirasJardim EuropaJardim PaulistanoPinheiros
Pinheiros Pinheiros 0,98
Pinheiros Itaim Bibi 0,971
Pinheiros Jardim Paulista 0,975
Butantã Morumbi 0,938
Butantã Vila Sonia 0,902
Lapa Alto de Pinheiros 0,972
Butantã Butantã 0,928
Tabela 6 - DISTRITOS E BAIRROS CLASSIFICADOS PARA ESTUDO E SEUS RESPECTIVOS IDH – PARTE 1. Fonte: Atlas
do Trabalho de desenvolvimento do município de são paulo 2007. Elaborado pela autora
41
Subprefeitura Distrito IDH BairroChacara FloraChacara Monte AlegreChacara Santo AntonioGranja JulietaJardim CaravelasJardim dos EstadosJardim PetropolisSanto AmaroVarzea de baixoVila CruzeiroVila ElviraVila São FranciscoBrooklin NovoCampo BeloJabaquaraJardim AeroportoParque ColonialParque JabaquaraVila AlexandriaVila CongonhasIndianópolisJardim LuzitaniaJardim AureliaJardim da GloriaJardim Vila MarianaParaísoVila ClementinoVila MarianaChacara InglesaMirandópolisParque ImperialPlanalto PaulistaSão JudasSaúdeVila do BosqueVila Monte AlegreJardim AmpliaçãoJardim Fonte do MorumbiJardim Parque MorumbiJardim Santo AntônioJardim Vitória RégiaPanambiParaíso do MorumbiParaisópolisParque Bairro do MorumbiParque do MorumbiRetiro MorumbiVila AndradeVila ErnestoVila PalmasVila PlanaVila Suzana
Vila Mariana Saúde
0,95
Campo Limpo Vila Andrade 0,855
Vila Mariana Moema 0,981
Vila Mariana Vila Mariana
0,97
Santo Amaro Santo Amaro 0,958
Santo Amaro Campo Belo 0,932
Tabela 7 - DISTRITOS E BAIRROS CLASSIFICADOS PARA ESTUDO E SEUS RESPECTIVOS IDH – PARTE 2. Fonte: Atlas
do Trabalho de desenvolvimento do município de são paulo 2007. Elaborado pela autora
Este perímetro também abriga destacada presença resulta de implantação
de novos produtos imobiliários, justamente pela concentração das classes média-
42
alta e alta que, além de possuir elevado poder de renda frente ao restante da cidade,
constitui-se no perfil de demanda buscado pelos empreendedores de alto nível.
Estes desenvolvem diversas ações em função de uma oportunidade de mercado,
despendendo tempo, investimentos e esforços17.
É importante considerar que os distritos administrativos são divisões
administrativas formadas por um ou mais bairros, subordinados à sua respectiva
prefeitura regional. Foram estabelecidos em 199218 a partir de estudos elaborados,
tendo em conta fatores demográficos, físico territoriais, econômicos, político-
administrativos e urbanísticos. A Prefeitura de São Paulo conta com 96 distritos
administrativos distribuídos em 32 subprefeituras, mostrados nas figuras 5 e 6.
17 Conteúdo da apostila da disciplina de Empreendedorismo do curso EAD de Empreendedorismo e
Novos Negócios da Universidade Católica Dom Bosco em parceria com o Portal Educação. 18 Os distritos administrativos foram estabelecidos pela Lei nº 11.220/1992, tendo o seu último ajuste
feito em julho de 2015. Fonte: Dados abertos da Prefeitura Municipal de São Paulo,
http://dados.prefeitura.sp.gov.br/pt_PT/dataset/distritos, acesso em 15 de nov de 2018.
43
FIGURA 5 - DISTRITOS ADMINISTRATIVOS DA PMSP LOCALIZADOS NA FERRAMENTA GOOGLE MAPS19
19 Distritos administrativos da Prefeitura Municipal de São Paulo. Fonte: MDC – Mapa Digital
da Cidade, PMSP, 2012.
44
FIGURA 6 - DISTRITOS ADMINISTRATIVOS DE SÃO PAULO20
Entre os anos de 2009 e 201821 foram lançados 2044 empreendimentos
imobiliários residenciais22 na cidade de São Paulo, sendo 683 apenas no perímetro
de recorte desta dissertação, representando uma média de 34% sobre o total,
conforme mostram os gráficos 1 e 2. A expressividade da região no âmbito
imobiliário pode ser ainda mais evidenciada quando se relaciona esse percentual de
20 Distritos administrativos identificados de São Paulo em 2007. Fonte: Centro de Estudos
da Metrópole, disponível em http://web.fflch.usp.br/centrodametropole/597, acessado em 15 de nov
de 2018. 21 As informações referentes ao ano de 2018 serão complementadas assim que forem
disponibilizadas pela Embraesp. 22 Considera-se para esta análise os empreendimentos lançados em endereços únicos.
Dessa forma, não foram segmentados por etapas de aprovação, lançamento ou torres individuais.
Fonte: Relatórios anuais Embraesp com edição pela autora.
45
lançamentos em toda a cidade com concentração em 13 distritos, que representam
apenas 13% de sua totalidade, conforme demonstrado na figura 7.
FIGURA 7 - DEMARCAÇÃO DO RECORTE DE DISTRITOS PARA ESTUDO23
Trata-se de uma região ainda em transformação, e que durante a última
década teve sua paisagem alterada. Para que essas mudanças fiquem evidentes, os
números levantados consideraram apenas lançamentos em endereços únicos, ou
seja, desconsidera as eventuais fases de lançamento ou torres num mesmo
empreendimento, destacando as novas ocupações.
23 Demarcação dos distritos administrativos para estudo. Fonte: Portal GeoSampa, PMSP,
com edição da autora.
46
GRÁFICO 1 - LANÇAMENTOS IMOBILIÁRIOS NA CIDADE DE SÃO PAULO. Fonte: Lançamentos imobiliários no perímetro
recortado para estudo. Fonte: Relatórios anuais Embraesp, editado pela autora
GRÁFICO 2 - LANÇAMENTOS IMOBILIÁRIOS NO PERÍMETRO RECORTADO PARA ESTUDO. Fonte: Relatórios anuais
Embraesp, editado pela autora
47
GRÁFICO 3 - LANÇAMENTOS IMOBILIÁRIOS NA CIDADE DE SÃO PAULO E PERÍMETRO RECORTADO. Fonte: Relatórios
anuais EMBRAESP, editado pela autora.
48
CAPÍTULO 03 - 2008 A 2013: PERÍODO DE CRISE OU ASCENSÃO? 3.1 A CRISE DE 2008 E SUAS REPERCUSSÕES IMOBILIÁRIAS
Embora tenha sido um pouco mais singela, o mercado imobiliário brasileiro
não escapou da crise imbiliária dos Estados Unidos de 2008. A concentração dos
bancos nacionais, diferentemente de outros mercados, se apresentou inicialmente
como um diferencial para diminuir os abalos que perturbaram o sistema financeiro
internacional24. A crise americana interrompeu o crescimento global que se iniciou
em 2003, marcado como o maior ciclo econômico da história mundial (ALBERINI;
BOGUSZEWSKI, 2008).
A crise de 2008 apresentou-se de uma maneira diferente das demais
recessões, tratando da inovação no mercado de derivativos versus as taxas de juros
a curto e a longo prazo na economia americana. As baixas nas taxas de juros
provocaram nos investidores a busca por outras fontes de retorno, diversificando os
ativos e voltando suas atenções para inovações financeiras. Foi então que o
mercado imobiliário residencial norte-americano se apresentou como alternativa de
investimento (ALBERINI; BOGUSZEWSKI, 2008).
O mercado de hipotecas norte americano costumava ser dominado por regras
rígidas de avaliação de crédito e limites do valor a ser financiado, chamado
segmento prime. Porém, além desse segmento, existem outras duas categorias de
crédito: a alt-a – classificação anterior entre a prime ou primeira linha – e o subprime
– também conhecido como terceira linha. Os mutuários do subprime podem possuir
um histórico de crédito ruim ou capacidade de renda baixa para o valor das
prestações.
Neste período, a securitização, novidade que gerou oportunidades de curto
prazo além de flexibilização aos bancos, permitiu que estes pudessem fornecer altos
níveis de empréstimos hipotecários de baixa qualidade. Com esse processo, os
24 POZZI, Sandro. Bolha imobiliária: dez anos do gatilho da crise que parou o mundo. Artigo
publicado na página digital da revista El País, em 07 de ago de 2017.
49
bancos compram as hipotecas subprimes das financeiras e agrupam-nas em
carteiras com diversos títulos, que são divididos em fatias, cada uma com diferentes
classificações de risco e taxas de juros. A securitização permitiu que os bancos
juntassem vários créditos de diferentes riscos em um único instrumento negociável,
e também permitiu que vendessem parte do seu risco de crédito para outros bancos
e investidores. Quando houve o aumento da inadimplência e queda nos preços no
mercado imobiliário norte-americano, todas essas estruturas começaram a ruir,
comprometendo todo sistema bancário, restringindo a liquidez e levando milhares de
americanos a insolvência (ALBERINI; BOGUSZEWSKI, 2008).
Os efeitos dessa crise foram mundiais. No Brasil, a Bolsa de Valores de São
Paulo – BOVESPA - encerrou 2008 com queda de 41,22%, a segunda maior queda
histórica25. Buscando uma alternativa para aquecer a economia, em 2009, o governo
baixou os juros, de 13,75% para 8,75% ao ano, reduziu a alíquota de impostos para
automóveis, materiais de construção e produtos de linha branca, além de liberar
bilhões de reais em depósitos compulsórios para os bancos, buscando estimulos
para que o setor financeiro concedesse mais crédito. De acordo com a Associação
Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança – ABECIP -, em 2011 o
acréscimo no volume de financiamentos para compra de imóveis (493 mil unidades,
17% a mais que o ano anterior) e construção foi 42% maior do que em 2010 (volume
de R$ 79,9 bilhões). Justamente neste pós-crise foi que a economia brasileira
começou a apresentar sinais de progresso e o mercado imobiliário seguiu na mesma
direção26. Na figura 8 é possível verificar um resumo comparativo da variação do
valor das ações das principais empresas do mercado imobiliário de 2007 a 2009. Já
na figura 9 vê-se o comportamento detalhado de cada empresa de capital aberto no
período máximo de visualização de cada uma das ações.
25 POZZI, Sandro. Bolha imobiliária: dez anos do gatilho da crise que parou o mundo. Artigo publicado
na página digital da revista El País, em 07 de ago de 2017. 26 Artigo publicado no portal online G1, disponível em http://g1.globo.com/especial-
imobiliario-em-uma-decada.html. Acesso em 21 de nov de 2018. Editado pela autora. 32 Dados fornecidos pela Fipezap, calculados pela Fipe, Fundação Instituto de Pesquisas
Econômicas, com base nos anúncios de apartamentos prontos publicados na página do ZAP Imóveis
e em outras fontes da Internet, formando uma base de dados com mais de 500.000 anúncios válidos
por mês. A partir dessa base, são calculados os preços representativos de cada uma das cidades
contempladas e monitorados ao longo do tempo. Elaborado pela autora.
55
GRÁFICO 5 - ÍNDICE FIPEZAP DE VALORIZAÇÃO DE IMÓVEIS (EM PERCENTUAL). Fonte: FIPEZAP, elaborado pela
autora.
Nota-se que o mercado imobiliário foi muito impulsionado pelas soluções
criadas pelo mercado de capitais. Porém, com a crise de 2015, a mais grave da
história do país, o setor foi um dos mais afetados. Naquele ano, o crescimento real,
descontado a inflação, do mercado foi de -8,48%, com valorização nominal de
1,32% no ano, 0,57% em 2016 e -0,53% em 2017, a primeira queda nominal do
índice. Tais oscilações são impactadas por diversos produtos financeiros que se
articulam para a movimentação da economia. Na sequência são elucidados os
chamados CRIs, Certificados de Recebíveis Imobiliários e o FII, Fundo Imobiliário.
CRI De acordo com a BM&FBOVESPA, o Certificado de Recebíveis Imobiliários
– CRI - é um título de renda fixa que gera um direito de crédito ao investidor. Ou
seja, o mesmo terá direito a receber uma remuneração, geralmente juros, do
emissor e, periodicamente, ou quando do vencimento do título, receberá de volta o
valor investido, chamado de “principal”.
Da perspectiva do emissor, o CRI, emitido por securitizadoras, é utilizado
para captação de recursos que se destinam ao financiamento de transações do
mercado imobiliário, com lastro em créditos imobiliários como financiamentos
56
comerciais, residenciais, para construções, entre outros. Do ponto de vista do
investidor, os títulos são isentos de imposto de renda para pessoa física.
Com o desenvolvimento do mercado de capitais no Brasil, a comercialização
de CRIs se tornou mais simples, em que corretoras oferecem o produto diretamente
em suas plataformas onlines com aplicações iniciais de valores bem acessíveis. O
gráfico 6 apresenta o volume e quantidade de emissão destes certificados nos
últimos anos.
GRÁFICO 6 – EVOLUÇÃO DE EMISSÃO DE CRI’S. Fonte: AMBIMA, acesso http://www.anbima.com.br/pt_br/informar/dados-
de-emissao-de-cri.htm. Disponível em 04 de dez de 2018. Elaborado pela autora.
Fundo Imobiliário De acordo com a BM&FBOVESPA, o fundo de Investimento Imobiliário – FII
- é uma comunhão de recursos destinados à aplicação em ativos relacionados ao
mercado imobiliário. É função do administrador, constituir o fundo e realizar o
57
processo de captação de recursos junto aos investidores por meio da venda de
cotas33. Os recursos captados na venda das cotas poderão ser utilizados para a
aquisição de imóveis urbanos ou rurais, em construção ou construídos, destinados a
fins residenciais ou comerciais, ou para a aquisição de valores mobiliários e títulos
ligados ao setor imobiliário, tais como Certificado de Recebíveis Imobiliários – CRI,
ações de companhias do setor imobiliário, cotas de outros FIIs, Letra de Crédito
Imobiliário - LCI, entre outros. Com o fundo em operação, ocorrerá a aquisição dos
imóveis, dessa forma o mesmo obterá renda com sua venda ou locação. Se o fundo
aplicar em valores e títulos mobiliários, a renda será originada por ganho de capital -
diferença entre o seu preço de compra e de venda - ou dos rendimentos distribuídos
por esses ativos. Estes recursos são distribuídos periodicamente aos seus cotistas.
A constituição do FII ocorre sob a forma de condomínio fechado, no qual não
é permitido resgatar as cotas antes do prazo de duração do fundo. Grande parte dos
FIIs não estabelecem uma data para sua liquidação, ou seja, tem prazo de duração
indeterminado. Nesses casos, caso o investidor decida sair do investimento, poderá
fazê-lo por meio da venda de suas cotas no mercado secundário. Do ponto de vista
do investidor, o FII apresenta algumas vantagens, como permitir a diversificação
entre diferentes ativos do mercado imobiliário, como hotéis, shoppings, galpões
logísticos, edifícios comerciais, entre outros; permitir investimentos de valores muito
inferiores a compra do imóvel em si; possuir cotas com valores acessíveis a grande
maioria dos investidores; gerar recorrência de receita; e não gerar nenhuma tarifa
relacionada a administração do imóvel, como busca dos imóveis, procura de
inquilinos, trâmites de compra e venda, manutenção, impostos, etc. Além desses
fatores, se as cotas do fundo forem negociadas exclusivamente em bolsas de
valores ou no mercado de balcão organizado, possuir no mínimo 50 cotistas, sendo
nenhum deles titular de quotas que representem 10% (dez por cento) ou mais da
totalidade ou cujas quotas lhe derem direito ao recebimento de rendimento superior
33 Fonte: BM&FBOVESPA. Disponível em http://www.bmfbovespa.com.br/pt_br/produtos/listados-a-
vista-e-derivativos/renda-variavel/fundos-de-investimento-imobiliario-fii.htm, acesso em 04 de dez de
2018.
58
a 10% (dez por cento) do total de rendimentos auferidos pelo fundo, as pessoas
físicas serão isentas de Imposto de Renda.
Diante desses fatores, a facilidade de negociação destes produtos vem
atraindo cada vez mais a atenção dos investidores, de acordo com a B334, entre
janeiro e julho de 2018, houve um grande aumento no número de cotistas de fundos
imobiliários, atingindo a marca de 166,5 mil, recorde histórico35.
GRÁFICO 7 - INVESTIDORES EM FII. Fonte: https://www.infomoney.com.br/imoveis/fundos-
imobiliarios/noticia/7498114/fundos-imobiliarios-terao-mais-investidores-que-bolsa-dizem-especialistas. Elaborado pela autora.
34 A B3, nomenclatura dada à Brasil, Bolsa, Balcão, é a bolsa de valores oficial do Brasil.
Surgiu da união das atividades da BM&FBOVESPA – Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros – com
a CETIP SA – Mercados Organizados. Fonte: B3, disponível em
http://ri.bmfbovespa.com.br/static/ptb/perfil-historico.asp?idioma=ptb, acesso em 14 de dez de 2018.
35 Artigo publicado na revista Exame. Disponível em https://exame.abril.com.br/seu-
dinheiro/fundo-imobiliario-bate-recorde-de-cotistas-vale-a-pena/, acesso em 04 de dez de 2018.
59
3.3 O PRODUTO FINANCEIRO MINHA CASA MINHA VIDA
O Programa Minha Casa Minha Vida surgiu em 2009, meses após o estouro
da crise financeira internacional, como medida de fomento à economia brasileira.
Não tratou somente de um plano habitacional, mas de uma política financeira de
apoio ao setor privado e incentivo ao mercado imobiliário (SILVA, 2015). O
Programa Minha Casa Minha Vida, para a temática abordada nesta dissertação,
elucida questões importantes do mercado imobiliário, já que desde sua criação
muitas incorporadoras abriram frentes para essa tipologia de produto. Para este
capítulo busca-se apresentar a criação do programa e o seu impacto na produção
imobiliária na cidade de São Paulo como um todo, refletindo a atuação diferenciada
das empresas em setores distintos do território.
3.3.1 A estruturação do Programa Minha Casa Minha Vida
A questão habitacional brasileira é uma realidade que atinge, principalmente,
a parcela de mais baixa renda da população. O país, em 2015, possuía um déficit
habitacional de 7,757 milhões de moradias, o qual tem suas principais raízes em
famílias que possuem um grande comprometimento mensal com pagamento de
alugueis e famílias que coabitam, isto é, dividem o mesmo teto com outras. O déficit
habitacional teve um aumento de 430 mil moradias desde 2009, representando
cerca de 5,9%36. O estado de São Paulo lidera esse índice absoluto de 1,61 milhão
de moradias, tendo sua maior concentração, como era de se esperar, nas famílias
de baixa renda, aquelas com rendimento de até 3 salários mínimos.
36 Matéria publicada pela revista online Valor Econômico em 03.mai.2018. Os dados foram extraídos
do estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) com base nas informações da Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios (PNAD). Disponível em: <https://www.valor.com.br/brasil/5498629/deficit-de-
moradias-no-pais-ja-chega-77-milhoes>. Acesso em 09.jul.2018.
42 Informações da pesquisa “500 Grandes da Construção” da revista O Empreiteiro sobre as
maiores empresas de construção do país. Disponibilizado pela Câmara Brasileira da Industria da
Construção – CBIC e editado pela autora.
66
Incorporação (S)43. Tal informe pode representar a expressividade que as atividades
relacionadas ao mercado de incorporação tomaram desde 2009, ainda que
influenciados por fatores políticos e econômicos. Abaixo, na tabela 9, o último
ranking, referente à 2017, com os segmentos de atuação selecionados de acordo
com o que o presente capítulo expõe.
Posição Empresa Construtora Brasil Segmento de atuação
1 Construtora Queiroz Galvão outros2 MRV Engenharia P3 Andrade Gutierrez Engenharia outros4 Construtora Camargo Corrêa outros5 Direcional Engenharia QS6 Serveng-Civilsan PQR7 Racional Engenharia QR8 HTB Engenharia e Construção PQR9 Constran outros10 Carioca Christiani Nielsen Engenharia PQS11 Plano & Plano PQRS12 Gafisa PQS13 Construcap outros14 Toniolo, Busnello outros15 Empresa Construtora Brasil outros16 S.A Paulista outros17 Rio Verde Engenharia PQRS18 Construtora Triunfo outros19 Método Potencial Engenharia PQ20 Grupo Pacaembu PR
TABELA 9 - RANKING DAS EMPRESAS DE CONSTRUÇÃO DO ANO DE 201744. Fonte: CÂMARA BRASILEIRA DA INDUSTRIA DA CONSTRUÇÃO – CBIC. Editado pela autora.
43 Os segmentos de atuação contidos no Ranking das construtoras possuem códigos
representados por letras, sendo os códigos P, Q, R e S utilizados no presente trabalho. 44 Informações fornecidas pela Câmara Brasileira da Industria da Construção – CBIC. Editado pela
autora. Os campos com descritivo “outros” tratam dos demais segmentos utilizados pela fonte para a
elaboração dos dados. Para a presente pesquisa busca-se analisar apenas os segmentos
destacados.
67
Dentre as vinte empresas apresentadas na tabela 9, grande parte atua no
segmento residencial, como é o caso da Gafisa. Outro ponto importante é que três
delas têm foco direcionado em produtos enquadrados no Programa Minha Casa
Minha Vida, como a MRV Engenharia, a Direcional Engenharia e a Plano & Plano.
Ou seja, ainda que o preço do produto seja inferior ao médio e alto padrão, isto é,
não possuem o mesmo VGV45 que os demais, não se pode deixar de lado sua
relevância quantitativa.
GRÁFICO 9 - NÚMERO DE CONSTRUTORAS E INCORPORADORAS QUE LANÇARAM EMPREENDIMENTOS DENTRO
DOS PARÂMETROS ADOTADOS – SÃO PAULO. Informações retiradas do cadastro de lançamentos imobiliários da EMBRAESP. Editado pela autora.
O gráfico reforça a crescente atuação das construtoras e incorporadoras no
segmento econômico, ainda que as informações sejam apenas da cidade de São
Paulo. Historicamente, a maior concentração de projetos econômicos está na RMSP,
a qual atrai a atenção dos agentes imobiliários pela demanda do produto e maior
capacidade de viabilidade financeira. Nos gráficos 10 e 11 evidencia-se a trajetória
dos empreendimentos lançados pertencentes à faixa 1 do PMCMV na cidade de São
Paulo e Região Metropolitana.
45 VGV é a sigla dada ao termo “Valor Geral de Venda” utilizado no mercado imobiliário. O VGV é
calculado com base no potencial de venda de todas as unidades de um empreendimento a ser
lançado.
68
GRÁFICO 10 - EMPREENDIMENTOS MCMV FAIXA 1 CIDADE DE SÃO PAULO. INFORMAÇÕES FORNECIDAS PELA
Acessado em 19 de nov de 2018. 51 Fonte: Bank for International Settlements, em português, o BIC – Banco de Compensações
Internacionais. Disponível em https://www.bis.org/about/index.htm?m=1%7C1, acessado em 19 de
nov. de 2018. 52 Entrevista concedida ao portal G1. Artigo “O auge e a queda do mercado imobiliário em uma
década”, disponível em http://g1.globo.com/especial-publicitario/zap/imoveis/noticia/2016/04/o-auge-
e-queda-do-mercado-imobiliario-em-uma-decada.html, acessado em 16 de jun de 2019. 53 O portal Zapimóveis, pertencente ao Grupo Zap, é um portal de classificados de imóveis líder no
segmento. Para o mercado imobiliário, é uma referência na captação de informações e anúncios de
imóveis.
73
compra e construção de imóveis em 2011 comparado ao ano anterior. Além disso,
no mesmo período, o valor dos imóveis subiu 26% de acordo com o Índice FipeZap.
Em relação aos recursos do FGTS - Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, houve
aumento superior a 22% sobre 201054, em que foram fechados 550 mil contratos em
2011 diante dos 450 mil do ano anterior, representando aumento de 22%.
Com o baixo desemprego, visto que a taxa de desemprego em 2011 foi de
4,7%55, baixa indadimplência e crescimento de renda, a economia se manteve
crescente, com isso, a expansão na liberação do crédito imobiliário continuou nos
anos seguintes56. Em 2012, houve um incremento de 3,6% no volume financiado, a
LTV - Loan to Value -, isto é, a relação do valor financiado com valor do imóvel, foi
de 63,8%57. Dessa forma, o comprador participou com 36,2% de recursos próprios
no valor do imóvel na média de operações do ano para complementar o
financiamento concedido pelo agente financeiro. Já em 2011 o LTV foi de 63,0%, e o
de 2010, 62,0%.
Em 2013 o valor financiado atingiu R$ 109,2 bilhões, 32% a mais do que no
ano anterior, representando 529,8 mil imóveis financiados. A inadimplência foi de
1,8% e o LTV foi 64,9%. Ou seja, 35,1% do valor do imóvel foi desembolsado pelo
comprador até a contratação do financiamento. A expansão do crédito imobiliário fez
com que o estoque de valores financiados, envolvendo as diversas fontes de
recursos, alcançasse proporção de 8,1% do PIB - Produto Interno Bruto58. Essa
54 Informações retiradas do balanço anual do Sindicato da Habitação – SECOVI, disponível
em http://balanco.secovi.com.br/2011/, acessado em 16 de jun de 2019. 55 Informações retiradas do balanço anual do Sindicato da Habitação – SECOVI, disponível
em http://balanco.secovi.com.br/2011/, acessado em 16 de jun de 2019. 56 Artigo “O auge e a queda do mercado imobiliário em uma década” publicado no Portal G1,
disponível em http://g1.globo.com/especial-publicitario/zap/imoveis/noticia/2016/04/o-auge-e-queda-
do-mercado-imobiliario-em-uma-decada.html, acessado em 16 de jun de 2019. 57 Balanço do mercado imobiliário 2012. Disponível em
http://old.secovi.com.br/files/Downloads/balaco-mercado-imobiliario-2012pdf.pdf, acessado em 16 de
jun de 2019. 58 Balanço do mercado imobiliário 2013. Disponível em http://balanco.secovi.com.br/2013-
2/index.php, acessado em 16 de jun de 2019.
74
relação foi de 6,8% no ano anterior. De negativo, destaca-se o controverso modelo
de crescimento econômico baseado no estímulo ao consumo que foi adotado pelo
governo.
Em 2014 foram financiadas 538,3 mil unidades, encerrando o ano com
estabilidade e leve aumento de 1,6% em relação a 2013. Na economia a inflação,
medida pelo IPCA - Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - terminou o
ano acumulado em 6,41%, acima da meta estipulada de 4,5%59.
Já em 2015, houve um agravamento no mercado imobiliário do Brasil,
principalmente pelo enfraquecimento na economia nacional e pelas incertezas
políticas. "Se no primeiro momento, em um ciclo econômico crescente havia crédito
imobiliário mais barato e uma demanda em alta, agora houve uma inversão desses
fatores, já que os juros estão altos e o crédito mais escasso", detalha Eduardo
Zylberstajn, coordenador do Índice FipeZap60. Neste ano, foram implementadas
mudanças nas regras de financiamentos, em que o limite passou de 80% para 50%,
gerando uma obrigação maior do consumidor em relação ao valor da entrada.
Segundo dados da ABECIP, os financiamentos tiveram uma queda de 33%, levando
o mercado imobiliário começar a experimentar o encolhimento dos resultados nos
anos subsequentes.
59 Balanço do mercado imobiliário 2014. Disponível em http://balanco.secovi.com.br/2014/,
acessado em 16 de jun de 2019. 60 Entrevista concedida ao portal G1. Artigo “O auge e a queda do mercado imobiliário em
uma década”, disponível em http://g1.globo.com/especial-publicitario/zap/imoveis/noticia/2016/04/o-
auge-e-queda-do-mercado-imobiliario-em-uma-decada.html, acessado em 16 de jun de 2019.
75
CAPÍTULO 04 - 2014 A 2018: A TENTATIVA DE ESTRUTURAÇÃO DE UM NOVO CICLO 4.1 A CRISE POLÍTICA E A RETRAÇÃO IMOBILIÁRIA
Se, por um lado, a década de 2000 foi marcada pelo apogeu do mercado
imobiliário brasileiro, a década de 2010 é caracteriazada por uma forte retração do
setor. Em 2015, o número de vendas e lançamentos imobiliários foi o menor desde
2004, o estoque de empregos na construção civil foi o mais baixo desde 2008 e a
confiança dos empresários do setor atingiu o menor nível desde o início da série
histórica, em 201061. Entre 2014 e 2015, houve uma queda de cerca de 50% no
número de lançamentos imobiliários e de 31% no número de unidades vendidas62.
Mais do que o reflexo da evolução de um setor específico da economia
brasileira, o período de retração do mercado imobiliário descortina a relação de
extrema interdependência entre o setor, compreendido na sua grande relevância
estratégica63, e as externalidades produzidas por cenários político-econômicos
adversos. Não obstante, o período de retração imobiliária pode ser explicado, em
larga medida, pela confluência de três “crises” de natureza político-econômica: a
crise econômica brasileira, a crise político-representativa e a crise judicial
envolvendo a construção civil.
Quanto à crise econômica brasileira, o debate sobre as suas principais
causas ainda permanece acalorado e inconclusivo. De um lado, nas palavras de Ilan
61 Artigo publicado pela Folha de São Paulo. Disponível em
gargalo-futuro.shtml>. Acessado em 02 de jun de 2019. 62 Informações Cadastro de lançamentos imobiliários EMBRAESP, elaborado pela autora. 63 Estima-se que o setor imobiliário possua uma participação de cerca de 6% no Valor
Adicionado Bruto. Valor Adicionado Bruto (a preços básicos) ou “VAB” é o resultado final da atividade
produtiva na duração de um período determinado. A média de 6% foi calculada de acordo com a
somatória dos índices dos anos de 2009 a 2016. Informações disponíveis no portal online CBIC –
Câmara Brasileira da Industria da Construção – e fornecidas pelo IBGE.
76
Goldfajn, embora a década de 2000 tenha sido um “sucesso” do ponto de vista de
resultados econômicos imediatos64, o seu legado teria consolidado, a partir da crise
financeira internacional de 2008, uma extrapolação na implementação de políticas
econômicas anticíclicas. Isso, com a adoção da Nova Matriz Econômica em 201165,
teria levado a desestruturação do tripé macroeconômico e à produção de
desequilíbrios fiscais66.
De outro lado, há economistas que identificam a gênese da crise econômica
na política de ajuste fiscal adotada a partir de 2015 pelo Governo Dilma Rousseff,
marcada pela implementação de um conjunto de políticas de “choques recessivos”: a
austeridade fiscal (ou “choque fiscal”); a reversão abrupta da política de
represamento de preços públicos administrados (ou “choque de preços
administrados”); o menor intervencionismo cambial (ou “choque cambial”); e o
aumento expressivo da taxa básica de juros (ou “choque monetário”) (ROSSI, 2017).
Independentemente da origem da crise, fato é que a economia brasileira tem
experimentado, na última década, a maior crise recessiva da sua história67, com
uma queda acumulada de cerca de 10% no PIB per capita68, além de apresentar a
64 Segundo Ilan Goldfajn, entre os principais indicadores do “sucesso” da década de 2000
estariam: (i) o crescimento econômico médio de 4,6% ao ano; (ii) a redução da desigualdade de
renda no trabalho; (iii) a queda de 10% do índice de Gini; (iv) a queda de 29% da pobreza; (v) o
processo de redistribuição de renda; e (vi) o crescimento do salário real e do número de empregos
(GOLDFAJN, Ilan, Economia Brasileira: Notas Breves Sobre as Décadas de 1960 a 2020, p. 12, fev.
2018, disponível em <http://iepecdg.com.br/wp-content/uploads/2018/02/180207ECONOMIA-
BRASILEIRA.pdf>, acessado em 02 de jun de 2019). 65 Nas palavras de Armínio Fraga Neto, “Ainda que seja tentador apontar uma ou outra
medida em particular, a verdade é que não foram poucas as escolhas que divergiam do receituário
adotado nos quinze anos anteriores. O conjunto da suposta nova obra era tão único, que ganhou um
nome: a Nova Matriz Econômica” (FRAGA NETO, Armínio, Economia Brasileira: Notas Brever Sobre
as Décadas de 1960 a 2020, p. 12, fev. 2018, disponível em <http://iepecdg.com.br/wp-
content/uploads/2018/02/180207ECONOMIA-BRASILEIRA.pdf>, acessado em 02 de jun de 2019 66 GOLDFAJN, Ilan, Ibidem, p. 13. 67 ROSSI, Pedro; MELLO, Guilherme, Op. cit., p. 1. 68 FRAGA NETO, Armínio, Op. cit., p. 14.
77
maior taxa de aumento do desemprego entre todas as grandes crises econômicas
na história brasileira69.
Quanto à crise político-representativa, o cenário político brasileiro – ao
mesmo tempo consequência e propulsor de grande parte dos problemas
econômicos da última década – caracterizou-se por um processo de
convulsionamento contínuo que, costurando um ambiente institucional de extrema
insegurança político-social, culminou na maior ruptura legal que uma democracia
representativa possa sofrer: o impeachment da presidente Dilma Rousseff,
encerrado em 31 de agosto de 2016.
Longe de representar um fato político isolado no tempo, é possível identificar
as raízes do impeachment na profusão de movimentos sociais a partir do começo da
última década, que passaram a consolidar a instabilidade político-social que tem
marcado o país nos últimos anos, e para cuja origem o fato social mais emblemático
foram as manifestações de 2013 – batizadas de “jornadas de junho”70.
Inicialmente convocadas pelo “Movimento Passe Livre” para protestar contra
o aumento das tarifas de ônibus na cidade de São Paulo, as manifestações
rapidamente se tornaram descentralizadas e difusas, com um aumento exponencial
dos seus participantes e passando absorver pautas que, embora até mesmo
contraditórias do ponto de vista ideológico, tornaram-se ponto de inflexão na agenda
político-social do país (SCHERER-WARREN, 2014).
Tomando um espaço cada vez maior na agenda político-social brasileira, as
manifestações estenderam-se durante a realização da Copa das Confederações de
2013 e da Copa do Mundo de 2014 e intensificaram-se após as eleições
presidenciais de 2014, por meio das quais a presidente Dilma Rousseff foi reeleita
para um novo mandato.
Diante da crise econômica que se agravava a partir de 2014, da paralisia do
69 ROSSI, Pedro; MELLO, Guilherme, Op. cit., p. 2. 70 Termo amplamente utilizado pela impensa brasileira. Ver reportagem da Folha de São
Paulo, disponível em <https://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/03/1602961-protestos-de-junho-de-
2013-atrairam-1-milhao-no-auge.shtml>, acesso em 02 de jun de 2019.
78
governo reeleito diante da oposição – que passou a ocupar a presidência das duas
casas legislativas – e do avanço das investigações da chamada “Operação Lava-
Jato”71, o Brasil experimentou, entre os anos de 2015 e 2016, as maiores
manifestações de rua da sua história72, todas mobilizadas em torno do impeachment
da presidente Dilma Rousseff e que, capitalizadas por grande parte da classe
política, consolidaram o ambiente de incerteza institucional em que tem vivido a
política brasileira.
Por fim, quanto à crise judicial envolvendo a construção civil, a “Operação
Lava-Jato” produziu impactos significativos na evolução do setor, haja vista que,
além de atingir diretamente o núcleo de parte das principais empreiteiras do país,
implicou uma contração considerável do número de obras públicas e, por
conseguinte, dos processos de contratação pelo poder público de tais empresas73 –
que mobilizam um volume expressivo de mão-de-obra, e dos investimentos
realizados no setor. Nesse sentido, estima-se que a “Operação Lava-Jata” tenha
causado um impacto negativo, em 2015, da ordem de R$ 142 bilhões, o que
71 Nome atribuído à operação, conduzida pelo Ministério Público Federal e pela Polícia
Federal, destinada a investigar um esquema de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo
empreiteiras que, organizadas na forma de um cartel, pagavam propinas a altos executivos da
Petrobrás e a agentes políticos de diversos partidos. Ver nota do Ministério Público Federal, “Entenda
o Caso”, disponível em <http://www.mpf.mp.br/grandes-casos/caso-lava-jato/entenda-o-caso>,
acessado em 02 de jun de 2019. 72 Ver Matéria publicada na revista Época, “Manifestação anti-Dilma entra para a história”.
Disponível em https://epoca.globo.com/tempo/noticia/2015/03/bmanifestacao-anti-dilmab-entra-para-
historia.html, acessado em 25 de nov de 2018; e Matéria publicada na Folha de São Paulo, “Paulista
reúne maior ato político desde as Diretas-Já, diz Datafolha”, Disponível em
diretas-ja-diz-datafolha.shtml, acessado em 25 de nov de 2018. 73 Ainda em 2014, a Petrobrás vetou contratos com 23 empresas investigadas na “Operação
Lava-Jato”. Ver matéria de “O Globo”, Petrobrás Veta Contratos com 23 Investigadas na Operação
Lava-Jato, disponível em <https://oglobo.globo.com/brasil/petrobras-veta-contratos-com-23-
investigadas-na-operacao-lava-jato-14932437>, acessado em 02 de jun de 2019.
79
representaria cerca de 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB) naquele ano74.
Dessa forma, o setor da construção civil, aliado ao baixo índice de confiança
do consumidor, mergulhou em um período delicado, tendo seus canteiros de obras
paralisados e muitos de seus profissionais demitidos. Tal setor, de grande peso e
representatividade na economia brasileira, teve seu encolhimento de 20,5% entre
2014 e 201875
74 Matéria publicada no “Valor Econômico”, ‘O Efeito da Lava-Jato se Confirmou’, diz Gesner
Oliveira, disponível em <https://www.valor.com.br/valor-investe/casa-das-caldeiras/4672327/o-efeito-
da-lava-jato-no-pib-se-confirmou-diz-gesner-olivei>, acessado em 02 de jun de 2019. 75 Artigo publicado no portal online da revista Exame, disponível em <
4.2 PLANO DIRETOR DE 2014 E SEUS IMPACTOS NA PRODUÇÃO IMOBILIÁRIA
A Lei 16.050/14 promulgou o novo Plano Diretor Estratégico da cidade de São
Paulo (PDE). A lei tem caráter municipal e é responsável por estabelecer
orientações pertinentes ao desenvolvimento e crescimento da cidade a partir do uso
e ocupação do solo. Tal instrumento possui relação direta com o comportamento e
os resultados do mercado imobiliário.
Embora de interesse direto dos agentes imobiliários, o Plano Diretor,
mecanismo ligado ao Estatuto da Cidade, tem por objetivo estabelecer normas de
ordem pública e interesse social em benefício da segurança, do bem-estar coletivo e
do equilíbrio ambiental. O Estatuto da Cidade, instrumento urbanístico e objeto da
Lei Federal Nº 10.257, de 2001, trouxe complemento às pautas urbanísticas
presentes na Constituição de 1988, consagrando a função social da propriedade e
obrigatoriedade de planos diretores aos municípios com mais de vinte mil habitantes.
Tal necessidade se apresentou como um grande desafio para os municípios, em
especial à cidade de São Paulo, que já contava com instrumentos de ocupação
urbana, mas que deveria se adequar às novas normas e instrumentos a fim de
amparar o controle público do território e não impedir os avanços do setor imobiliário
e construção civil (SILVA, 2015).
No ano de 2002, sob a gestão da Prefeita Marta Suplicy, o Poder Executivo
paulistano aprovou na Câmara Municipal um novo Plano Diretor, por meio do
Decreto Nº 13.430. Este plano, dirigido por Jorge Wilheim76, apresentou alguns
importantes complementos vinculados ao Estatuto da Cidade de 2001, tais como:
parcelamento, edificação e utilização compulsórios; direito de preempção; outorga
onerosa para o direito adicional de construção e previsão das áreas de intervenção
urbana e operações urbanas (SILVA, 2015).
76 Jorge Wilheim (1928-2014) foi arquiteto e urbanista e expoente figura no poder público nacional e,
principalmente, na cidade de São Paulo.
81
Conforme prescreve a Constituição Federal, O Plano Diretor Estratégico do
Município de São Paulo se apresenta verdadeiramente como um instrumento
básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana, prevendo o
cumprimento da função social da propriedade. (Trechos extraídos da contra-capa
da publicação Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo 2002 – 2012,
Editora Senac - parceria com a Prefeitura de São Paulo, 2004.77)
Também no PDE de 2002 se previu, na cidade de São Paulo, o
estabelecimento das ZEIS – Zonas Especiais de Interesse Social, que são definidas
como áreas de ocupação de solo, com perímetros determinados, destinadas à
regulamentação fundiária, recuperação urbanística e à produção de habitação de
interesse social – HIS – ou de mercado popular (HMP). Atualmente, tais áreas são
de grande atenção por parte do incorporador para o desenvolvimento de
empreendimentos enquadrados ao Programa Minha Casa Minha Vida.
O PDE - Plano Diretor Estratégico - de 2014 visa o planejamento do
desenvolvimento da cidade, englobando as regiões que demandarão mais
transformações e investimentos por parte do poder público, para os 13 anos
seguintes. Em complemento ao PDE, em 2016 houve a revisão da Lei de
Zoneamento, a LPUOS – Lei Municipal 16.402/16, que tem como responsabilidade
definir parâmetros básicos sobre a construção e ocupação no espaço urbano. Foi
revisada para se adequar aos novos parâmetros do PDE.
As zonas foram divididas em três classificações: Territórios de transformação,
áreas em que se promove o adensamento construtivo e populacional com
diversificação das atividades; territórios de qualificação, isto é, áreas que se prevê a
manutenção de usos não residenciais existentes e com adensamento populacional
moderado; territórios de preservação, em que se visa a preservação de bairros
consolidados de baixa e média densidades e preservação. O instrumento também
prevê dimensões máximas de lotes e quadras, de modo que lotes acima da
77 Citação extraída da página online Jorge Wilheim, disponível em
http://www.jorgewilheim.com.br/legado/Projeto/visualizar/1668. Acesso em 20 de nov. de 2018.
82
metragem estipulada sejam tratados como loteamentos, necessitando na abertura
de vias, áreas verdes e parcela institucional (ATALA; ALENCAR, 2016).
Com relação ao coeficiente de aproveitamento do lote, o instrumento de
outorga onerosa sofreu alteração para alguns terrenos de determinados bairros. A
atualização do quadro permite que o incorporador utilize apenas parte do potencial
construtivo do terreno, sendo o restante atribuído ao poder público. Esse mecanismo
faz com que o valor da terra estivesse atrelado aos movimentos de mercado,
gerando discussões entre a classe imobiliária (ATALA; ALENCAR, 2016). Outra
característica da LPUOS que afetou diretamente o desenvolvimento do produto
imobiliário até então comercializado, foi a adoção de métricas para o
estabelecimento do parcelamento de solo com base em alguns princípios,
destacando-se o favorecimento de fruição pública, fachada ativa e alargamento do
passeio público (Art. 4º, parágrafo VIII da Lei Nº 16402 – LPUOS).
No entanto, a Lei de Zoneamento passa por discussões para promoção de revisão
em seu texto, que, de acordo com a prefeitura, deve-se enquadrar a legislação à
“cidade real”. O Sindicato da Habitação – SECOVI – também se mobilizou ao
defender a redução da taxa de outorga onerosa, responsável pela contenção de
lançamentos de produtos imobiliários em função de suas viabilidades financeiras.
Flavio Amaury, presidente da entidade, ressalta que esse fator tem efeito negativo
tanto para o mercado quanto para o poder público, que deixa de arrecadar
impostos78. A proposta também prevê a flexibilização das áreas mínimas destinadas
à construção de HIS-1, isto é, Habitações de Interesse Social de faixa 1 (renda
familiar de 0 a 3 salários mínimos) nas áreas de ZEIS. Atualmente a exigência é de
60% da área destinada à HIS-1, sendo a proposta pautada na redução para 50%.
Tal alteração permitiria maior rentabilidade ao incorporador79.
78 Artigo “Revisão da Lei de Zoneamento deve levar em conta a ‘cidade real’”, de 18 de jul
de 2018. Disponível em https://secovi.com.br/noticias/revisao-da-lei-de-zoneamento-deve-levar-em-
conta-a-cidade-real/13724, acessado em 18 de jun de 2019. 79 Artigo “O que muda com a proposta de revisão da Lei de Zoneamento?”, de 04 de abri de
2018. Disponível em https://www.machadomeyer.com.br/pt/inteligencia-juridica/publicacoes-
83
CAPÍTULO 5 – A DIVERSIFICAÇÃO DO PRODUTO IMOBILIÁRIO RESIDENCIAL 5.1 MERCADO IMOBILIÁRIO: PRODUTO, TIPOLOGIA E ATUAÇÃO
O produto imobiliário é o objeto do mercado, concebido para satisfazer as
necessidades e os desejos do consumidor, sem deixar de respeitar características
específicas frente a outros mercados, como a imobilidade, sua durabilidade e os
altos investimentos necessários à sua produção e, naturalmente, de atender às
determinações da legislação pertinente, inclusive posturas municipais. (MORAES,
2013, p. 131)
Ao definir um produto imobiliário, discute-se o valor agregado a uma porção
de terra, buscando a formatação de uma mercadoria para a venda destinada à um
determinado perfil de demanda. Nesse aspecto, há a abordagem tanto do contexto
edilício quanto urbanístico. Um edifício não deve ser entendido como um
acontecimento isolado na cidade, mas sim como parte integrante das relações
espaciais presentes no espaço urbano. A forma de um edifício busca traduzir um
conjunto de questões urbanas, como circulação, insolação e ocupação, e
mercadológicas, atendendo às viabilidades financeiras e critérios funcionais
(CARVALHO, 2008). Tais questões são apropriadas pelo mercado imobiliário para o
desenvolvimento do produto que será vendido, e este, constantemente sofre
alterações em busca da melhor adequação entre inserção na cidade - do ponto de
vista mercadológico - tipologia a ser vendida e o público-alvo.
Em cada parcela de cidade o produto passa a se distinguir por seu valor
agregado, isto é, os atributos do entorno, local de inserção, fácil mobilidade e outros
fatores que acabam por interferir no preço final de um imóvel. A inserção urbana, isto
é, a localização de um edifício dentro da cidade promove seu caráter único no
espaço e detém parte substancial de suas características e qualidades.
ij/imobiliario/o-que-muda-com-a-proposta-de-revisao-da-lei-de-zoneamento, acessado em 18 de jun
de 2019.
84
FIGURA 10 - PLANTA CONCEITUAL DO EMPREENDIMENTO CONQUISTA AMARALINA 1ª FASE DAS
INCORPORADORAS DIRECIONAL E TRISUL. Fonte: https://www.trisul-sa.com.br/apartamentos/sao-paulo/jardim-amaralina/conquista-amaralina. Acesso em 19 de abr de 2019
FIGURA 11 - PLANTA CONCEITUAL DO EMPREENDIMENTO STATE IBIRAPUERA DA INCORPORADORA TRISUL. Fonte:
https://www.trisul-sa.com.br/apartamentos/sao-paulo/vila-clementino/state-ibirapuera. Acesso em 19 de abr de 2019
Como é possível observar nas figuras 10 e 11, as plantas dos
empreendimentos são de metragens similares, sendo 43,95 e 43,51 metros
quadrados respectivamente. O produto Conquista Amaralina, representado pela
figura 10, foi incorporado em 2016 pelas empresas Direcional e Trisul e é
enquadrado no Programa Minha Casa Minha Vida. Está localizado no distrito do
85
Butantâ e possui seu preço total em R$ 199.900,0080. Já a figura 11 traz o produto
State Ibirapuera, localizado no distrito da Vila Mariana, próximo ao parque do
Ibirapuera. Foi lançado em 2018 também pela incorporadora Trisul e seu preço total
é de R$ 578.858,0081. O segundo empreendimento tem seu valor 66% maior que o
primeiro, e tal diferença pode ser explicada pelas amenidades do condomínio e,
principalmente pela localização.
O impacto da localização na classificação de um produto é uma questão que
se observa desde que as incorporações e condomínios começaram a surgir. A partir
das últimas décadas do século XIX, a cidade de São Paulo se expandiu pelas
várzeas, além dos limites da “colina”. O centro se transformava num conglomerado
comercial e de serviços enquanto novos bairros se formavam, como os industriais
Brás, Mooca, Barra Funda, e o bairros burgueses, como Campos Elíseos, Avenida
Paulista e, mais tarde, o Jardim América (SAMPAIO, 2010). O processo de
periferização se iniciou na década de 1950, promovido pela diminuição dos salários
e crescente especulação imobiliária, influenciada pela aceleração industrial.
Parte das camadas mais ricas e da classe média, que ainda conseguiram manter
seu padrão de vida, deixaram algumas áreas mais tradicionais, em direção à
segurança dos condomínios fechados. (SAMPAIO apud BOTELHO, 2007, p. 151).
Sampaio (2010) ainda cita Caldeira (2000) ao mencionar que os condomínios
existem desde o início do século XX, e que só nos anos 1970, com as mudanças
que facilitaram os financiamentos imobiliários, é que os mesmos começaram a
perder a imagem de cortiços. Tanto para os profissionais do mercado quanto para os
compradores, os condomínios são classificados em duas versões, os horizontais,
que abrigam casas com acesso controlado e muro no perímetro, e os verticais que,
por ocuparem terrenos menores, acabaram por adensar a parte central da cidade.
Alphaville, localizado no município de Barueri, é um exemplo de empreendimento
80 Dados retirado da base de Cadastro de lançamentos imobiliários da EMBRAESP. 81 Dados retirado da base de Cadastro de lançamentos imobiliários da EMBRAESP.
86
horizontal e o Ilhas do Sul, localizado na zona oeste de São Paulo, como
condomínio vertical e pioneiro nesse segmento (SAMPAIO, 2010). Outro exemplo de
empreendimento vertical que ainda hoje é referência, e fez com que outros
incorporadores aproveitassem o ensejo da região, foi o Portal do Morumbi em 1976.
Construído pela construtora Alfredo Mathias, o projeto se apoderava do conceito de
marketing baseado em “oferecer de volta a infância dos seus filhos”, elucidando
ações de convívio familiar como andar de bicicleta, correr com o cachorro e brincar
livremente dentro de um condomínio que oferecesse segurança82.
FIGURA 12 - MATERIAL DE DIVULGAÇÃO DO EMPREENDIMENTO PORTAL DO MORUMBI83
82 Fonte: Artigo “Prédios de São Paulo: Portal do Morumbi”, disponível em
imobiliários, públicos-alvo e abordagens de marketing, que buscam explorar as
informações corretas para cada tipologia.
No mercado imobiliário quando se trata de apartamento e do conceito que
será adotado, invariavelmente, se fala da tipologia do mesmo, isto é, suas
dimensões, seus atributos e suas características. O termo tipologia é utilizado para
denominar a forma-base dos edifícios, ou seja, sua concepção espacial interna
(BRANDÃO, 2003). Brandão levanta que as tipologias se definem em níveis
diferentes, e ressalta uma matéria publicada na Revista Projeto, em 2001, em que
Serapião expõe quinze categorias de edifícios. São citados os edifícios “residenciais
unifamiliares; residenciais multifamiliares ou habitação coletiva; institucionais;
comerciais; administrativos; industriais; religiosos; hospitalares; antigos de valor
histórico; para eventos, esporte e lazer; culturais; escolas; hotéis; restaurantes; e
terminais de transporte” (BRANDÃO, 2003, p. 37). Um outro nível de detalhamento
enfoca na planta do apartamento, na unidade habitacional, e que vai além do
programa básico – número de dormitórios, banheiros, cômodos existentes e
serviços. Outros atributos que podem ser evidenciados são os critérios de
distribuição em planta, a forma geral do apartamento e sua circulação interna
(BRANDÃO, 2003).
Muitas vezes, num mesmo condomínio se apresentam diferentes tipologias
para atender a diferentes públicos, tanto na divergência de custo por metro
quadrado quanto em anseios e preferências de moradia. O emprego das tipologias
das residências verticais vem desde os insulae88 do Império Romano e Idade Média,
e se modificou ao longo do tempo. Hoje, um espaço residencial se divide
basicamente em área social, serviços e área íntima, ainda que os apartamentos
modernos e os atuais busquem por uma planta mais livre (COSTA et al., 2012). Tal
88 Durante o Império Romano as habitações se dividiam em dois tipos, as domus, para os
cidadãos de mais alta classe social, e as insulae. As insulae eram construções de muitos pavimentos
com um grande número de cômodos e construídos por especuladores imobiliários. Fonte: SANTOS,
Maria F.; BATTISTELLE, Rosane A. G.; VARUM, Humberto. Habitações e meio ambiente. Vitruvius,
2013.
94
configuração em tripartições – estar, íntimo e serviços – já aparecia nos edifícios do
ínicio século XX, com as funções presentes da habitação burguesa. Moraes (2013)
levanta que os edifícios datados entre 1910 e 1920 tinham caráter eclético e
obedeciam uma ocupação que respeitava os alinhamentos tanto frontal quanto
lateral. Embora a configuração interna de cada edifício fosse diferente, quase
sempre tinham a parte térrea destinada ao comércio e uma escadaria independente
que dava acesso às unidades habitacionais nos pisos superiores.
Nesse período, os edifícios limitavam-se a quatro pavimentos e seus interiores
apresentavam semelhança com o sobrado colonial: voltado para a via pública
ficava o gabinete de trabalho e também a sala de visitas, os quartos eram
centralizados e abriam-se para o vestíbulo, enquanto outros quartos ficavam
abertos para o pátio interno de ventilação. (MORAES, 2013, p. 264)
Para Villa (2006, n.p):
No que se refere à organização interna dos apartamentos analisados, notamos
certa mescla de referências durante as primeiras décadas. De um lado, temos
uma incipiente referência francesa quando observamos, em outros casos, certa
setorização das áreas íntima, social e de serviços, alguma estanqueidade de
cômodos e, em alguns casos, já uma idéia de modernidade da habitação através
do uso de equipamentos e serviços na casa e da forma de utilização dos espaços.
Por outro lado, as referências coloniais parecem persistir na ordenação dos
espaços, quando observamos uma distribuição dos cômodos muito semelhantes à
casa colonial. A maioria dos apartamentos estudados das décadas de 1910 e
1920 são uma versão reduzida dos palacetes, com um programa menos extenso.
Em relação ao número de dormitórios, que variava de 1 até 6, a pesquisa mostra
que existiam diferentes propostas de habitação. Na maioria dos casos, variava-se
o tipo de unidade do edifício, e conseqüentemente o programa dos apartamentos.
Os edifícios dessa época, conforme tratado no capítulo 2, possuíam caráter
rentista e, embora fossem construídos para assimilarem-se à palecetes empilhados,
não eram voltados para a moradia de seus proprietários. Por isso, era comum a
variação das tipologias das unidades habitacionais, para que fosse possível atender
a quem ali fosse morar. Villa (2006) ressalta que a partir dos anos 1930 era comum
se deparar com apartamentos de um dormitório ou até mais compactos, como sala-
quarto. Os apartamentos dessa época já sinalizavam a imagem de progresso
95
técnico, promovendo a racionalização dos espaços. Tendo os edifícios o caráter
para fins lucrativos, Moraes (2013) aponta que um mesmo conjunto poderia
apresentar uma diversidade de soluções espaciais, com apartamentos de um, dois
ou três dormitórios num só pavimento.
Mesmo nesse início de verticalização e fomento do mercado imobiliário, já se
notava a preocupação com o atendimento das necessidades do consumidor, isto é,
a adaptação do espaço habitacional em função das configurações familiares e
anseios de quem ali residisse. Moraes (2013) ressalta que algumas unidades, as de
tamanho reduzido com um dormitório e banheiro, deixaram de apresentar as
dependências de serviço, e cita que, de acordo com Lemos (1976), a intenção era
atender à homens solteiros ou viúvos que faziam suas refeições em
estabelecimentos próximos.
No final da década, nota-se um quadro bastante claro das principais tipologias na
cidade de São Paulo. Foram idealizados apartamentos dos mais diferentes tipos e
formatos, para os mais diversos clientes, demonstrando o interesse em adequar o
projeto às necessidades habitacionais da população e que respondessem
igualmente às determinantes dos proprietários rentistas e da legislação, com o
aproveitamento máximo de áreas. (MORAES, 2013, p. 270)
A década de 40 foi marcada pela Lei do Inquilinato, conforme abordada no
capítulo 2, sendo tal episódio responsável pela mudança na vocação dos
proprietários de imóveis. Antes o foco era a construção voltada para o mercado
rentista, e a partir de então passa-se para a incorporação. Na questão tipológica
começa a se introduzir alguns novos elementos para as unidades habitacionais,
como mais de um acesso, este para serviço, a varanda e o banheiro em tamanho
maior, para que fosse possível acomodar uma banheira. No âmbito do condomínio,
começam a surgir os equipamentos de lazer, como os playgrounds, garagens
subterrâneas e áreas ajardinadas. Também se adotou os recuos laterais, em função
das exigências legais, e com isso os pavimentos foram redesenhados com unidades
mais compactas, já que se tinham 4 faces para iluminar e ventilar os ambientes
(MORAES, 2013).
Sob a ótica da formulação de uma “cidade ideal” (KREBS, 2000), industrializada,
cosmopolita e moderna, São Paulo dos anos de 1950 e 1960 construía seus
96
apartamentos como símbolo de seu poder cultural e econômico, refletindo novos
hábitos e referências (MEYER, 1991). A sociedade paulistana referenciava-se
claramente nos padrões norte-americanos de viver, abandonando gradativamente
os padrões europeus (SOMEKH, 1997): era o american way of life que soprava
nos trópicos (BODY-GENDROT, 1992). (VILLA, 2006)
Nos anos 1970 a cidade de São Paulo já caminhava para se tornar uma
megalópole, e a produção de novos edifícios foi intensa. As tipologias e
particularidades dos apartamentos variavam em padrões de acabamentos, área,
equipamentos de lazer, e reforçavam um modelo de habitação já bem aceito pela
população. Já o incorporador buscava estimular ainda mais essa demanda por meio
de anúncios e conceitos publicitários. Para os projetos mais caros os atributos do
apartamento apresentavam grandes halls, living, paredes curvas, copa, suíte e
dormitórios reversíveis. Porém, nas tipologias mais simples era evidente a repetição
de um programa, o qual já vinha sendo apresentado nas décadas anteriores: sala
para dois pequenos ambientes, cozinha, área de serviço, dependencias de serviços,
dois ou três dormitórios, banheiro social e acesso independente à unidade (VILLA,
2006).
97
FIGURA 16 - PLANTA TIPO DO PROJETO EXECUTIVO DO EMPREENDIMENTO PORTAL DO MORUMBI, 1973.
FONTE: SANTOS, Demósthenes M. A história da construtora Alfredo Mathias 1950-1985. Dissertação de mestrado, FAUUSP, 2013. Editado pela autora.
A figura 28 traz o projeto executivo, com a planta tipo, do empreendimento
Portal do Morumbi, lançado em 1973 pela construtora Alfredo Mathias, conforme
tratado nesse mesmo capítulo anteriormente. Caracterizando o programa de
apartamento abordado até então, é possível verificar:
1. Cozinha;
2. Área de serviço
3. Dependências de serviço;
4. Dormitório 1;
5. Dormitório 2;
6. Suíte;
7. Banheiro social;
8. Acesso independente à unidade;
98
Villa (2006) analisa que durante as últimas décadas se viu quatro tipologias
bem definidas nos produtos imobiliários, sendo: apartamentos de um dormitório ou
kitchenettes; apartamentos de dois ou três dormitórios, que se subdividem em
metragens menores com ambientes mais compactos, e em apartamentos maiores,
com metragens mais amplas e incrementos, como suítes; e o apartamento com
quatro dormitórios ou mais, que detém de um programa espacial mais abrangente. A
partir da década de 80 também foi possível notar diminuição das áreas dos
apartamentos e a oscilação do foco no desenvolvimento de produto, que épocas se
voltavam à alta renda e em outras à média. Uma outra mudança significativa que
veio com o período foi a forma como os empreendimentos eram ofertados, com uma
abordagem pautada nos acabamentos e itens de luxo, como interfone, armários
embutidos, revestimentos em madeira e elevadores; e agora evidenciando os
equipamentos de lazer, que poderiam agregar no status social do morador (VILLA,
2006).
Os anos 1990 trouxeram a flexibilização e sofisticação dos espaços, os quais
no entendimento do incorporador e profissionais de marketing permitiam a
adaptação a diferentes momentos de vida do comprador. Espaços com nomes
estrangeiros surgem para agregar valor ao produto, como duplex, penthouses, free
space89, double suíte e living com lareira, que se unem à suíte máster com
hidromassagem, a despensa, rouparia e a suíte da empregada (MORAES, 2013).
Quanto à flexibilização, embora seja o ponto alto do marketing, ela acontecia
limitando-se a alguns cômodos, com alterações de posição de portas ou substituindo
paredes, mas mantendo a configuração tradicional em três partes, social, íntimo e
serviços (VILLA, 2006).
89 Nome dado aos espaços que podem ser closet, escritório ou dormitório de serviços.
Fonte: MORAES, Sandra R. C. de. O arquiteto e o mercado imobiliário residencial na cidade de São
Paulo no século XXI (2000 – 2001). Tese de Doutorado. Universidade Presbiteriana Mackenzie, São
Paulo, 2013.
99
Novas fórmulas de habitação foram-se delineando por iniciativa do mercado
imobiliário que, auxiliado pelos profissionais de marketing, estava atento às
transformações em curso do perfil dos usuários. O número de descasados,
solteiros, DINKs (Double Income No Kids), casais com mais idade cujos filhos já
saíram de casa e idosos que viviam solitariamente havia aumentado
significativamente nas últimas décadas, principalmente nos grandes centros
urbanos e o mercado tratou de contemplá-los, segmentando seus projetos. Em
meio às configurações convencionais, vieram os flats, Lofts, Butler-services e uma
valorização das antigas kitchenettes. (VILLA, 2006, n.p)
5.2 AS VARIAÇÕES DO PRODUTO E ATUAÇÃO DAS EMPRESAS NA ÚLTIMA DÉCADA
Criando coisas novas com conceitos velhos, o mercado, hoje, diz saber o que os
clientes querem e precisam: uma arquitetura de fachada que estimula o gosto pela
inovação constante, entretanto sem alterações conceituais. Esta receita garantida,
que vende bem, pode realmente atender às novas demandas dos novos modos de
vida da sociedade? (VILLA, 2006)
Criando novos conceitos para novos produtos ou readaptando os existentes
para uma nova abordagem, o mercado imobiliário atua constantemente na tratativa
entre o que se constrói e o consumidor. A cidade de São Paulo, conforme abordado
anteriormente, detém um mercado efervescente, que atua tanto em novos vetores
de crescimento quanto na ressignificação de alguns bairros.
No recorte temporal para esse estudo, de 2009 a 2018, a metrópole recebeu
4197 novos lançamentos imobiliários, sendo o perímetro estudado detentor de 1581,
isto é, 37% dos lançamentos90. Para que se tenha uma leitura da ocupação
territorial, isto é, dos novos empreendimentos que a cidade recebeu durante o
90 Dados retirados do Cadastro de lançamentos imobiliários da EMBRAESP.
100
período, usou-se a base de dados da EMBRAESP – Empresa Brasileira de Estudos
do Patrimônio – apenas os lançamentos com endereços únicos, que excluem as
eventuais etapas de vendas ou novas torres, prática comum no mercado imobiliário.
Dessa forma, a figura 29 aponta esse raciocínio que, durante o período, o perímetro
de estudo recebeu 1581 novos lançamentos, sendo 752 endereços.
FIGURA 17 - FUNIL DE LANÇAMENTOS IMOBILIÁRIOS NA CIDADE DE SÃO PAULO. Fonte: Cadastro de lançamentos
imobiliários EMBRAESP. Elaborado pela autora.
Visando elucidar as mudanças de oferta dos produtos imobiliários ao longo da
última década e o impacto financeiro e mercadológico, isto é, os players91 que
surgiram ou como se comportaram, estabeleu-se determinados agrupamentos de
tipologias. Levantar o número de dormitórios de um apartamento pode trazer
algumas suposições, como a metragem quadrada que aquele núcleo teria, ou então
a configuração familiar que ali viveria. No campo da atuação das incorporadoras,
pode-se fazer uma leitura do público que elas buscam e do seu impacto no volume
de VGV, dado relevante para seus investidores e acionistas. VGV significa Valor
Geral de Vendas, que é a soma do valor potencial de venda de todas as unidades
91 Nomenclatura utilizada pelo mercado imobiliário ao mencionar empresas que atuam
nesse segmento.
101
de um empreendimento. É um termo muito utilizado no mercado imobiliário para
identificar a performance de um empreendimento, de uma empresa e do mercado
como um todo. O gráfico 16 traz o comportamento do VGV durante a última década,
no qual se verificam as oscilações do mercado diante de fatores externos já
dissertados anteriormente.
GRÁFICO 16 - VGV LANÇAMENTOS 2009 A 201892. Fonte: Cadastro de lançamentos imobiliários EMBRAESP. Elaborado
pela autora.
O período entre 2009 e 2018 compreendeu mais de 179 bilhões de reais em
lançamentos imobiliários, sendo 74,7 bilhões somente na região estudada,
representando 41% do total93. De acordo com a base de Cadastros imobiliários da
EMBRAESP, foram 1.581 lançamentos imobiliários inseridos na região, com o total
de 86.879 unidades. A média de VGV por lançamento foi de R$ 47.248.576,85, e,
92 Valores atualizados pelo IPCA – Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo. 93 Dados elaborados com base no Cadastro de lançamentos imobiliários da EMBRAESP e
com valores atualizados pelo IPCA.
102
por unidade, de R$ 859.816,53. Trazendo essa média de valor para
empreendimentos e unidades na cidade de São Paulo, se tem R$ 42.720.991,18 e
R$ 631.769,59, respectivamente.
GRÁFICO 17 - VALOR POR M² POR ANO. Fonte: relatórios anuais EMBRAESP. Elaborado pela autora.
A partir dos valores levantados no parágrafo anterior e no gráfico 17, reforça-
se o fato de a região deter a classe de mais alta renda da cidade, visto que seu valor
médio por unidade de imóvel é de 36% maior que na cidade de São Paulo. E,
conforme dissertado no começo deste subcapítulo, para se ter uma visão ampla da
atuação do mercado durante a última década se faz necessário trazer análises sobre
as tipologias que figuraram e como os agentes imobiliários atuaram. O gráfico 18
expõe o comportamento do mercado com relação às tipologias lançadas dentro do
perímetro estudado. Filtrou-se por empreendimentos de até 1 dormitório, 2, 3 e 4 ou
mais.
103
GRÁFICO 18 - TIPOLOGIAS DE APARTAMENTOS POR ANO NO PERÍMETRO DE ESTUDO. Fonte: Relatórios anuais
EMBRAESP – Empresa Brasileira de Estudos do Patrimônio. Elaborado pela autora.
Conforme histórico, é possível verificar a mudança da busca por tipologia de
apartamentos em São Paulo e o recorte temporal ilustra esse movimento de forma
rápida, visto que até 2011 era notável a presença de apartamentos acima de 3
dormitórios. Já nos anos seguintes houve uma maior diversificação de tipologias,
migrando para os apartamentos compactos e inseridos em empreendimentos com
mais de uma planta para venda. Em 2009, apenas 5% dos lançamentos no
perímetro de estudo eram de 1 dormitório contra 29% em 2018. É válido ressaltar as
mudanças e até a descontinuidade do crescente número de lançamentos em função
dos episódios sofridos na economia, conforme tratado nos capítulos anteriores.
Ainda que existam inúmeras empresas e empreendedores individuais
atuantes no mercado imobiliário, vê-se a predominância de atuação de
determinadas empresas, ainda mais relevantes no perímetro de estudo na porção
sudoeste de São Paulo. Por ser a região de concentração de classe alta e de maior
poder aquisitivo, o preço do terreno acompanha essa tendência, influenciando
diretamente a viabilidade financeira do empreendimento. No gráfico 19 são
apontados os principais incorporadores que atuaram na região entre os anos de
2009 e 2018, e quais foram seus focos do ponto de vista de produto imobiliário e
tipologia para lançamento.
104
GRÁFICO 19 - COMPORTAMENTO DAS INCORPORADORAS FRENTE AO PRODUTO IMOBILIÁRIO NO PERÍMETRO DE
ESTUDO. Fonte: relatórios anuais EMBRAESP. Elaborado pela autora.
É possível verificar que, assim como é mostrado no gráfico 19, a tipologia de
até 1 dormitório tem tido expressividade na gama de lançamentos dos principais
players atuantes na região. Ressalta-se a Vitacon, empresa fundada em 2009,
jovem comparada às demais, que já surgiu junto ao propósito de atuar com plantas
compactas. No entanto, incorporadoras tradicionais, como o caso da Gafisa ou
Cyrela, também diversificaram seus produtos e tipologias. A atratividade dos
apartamentos menores, de 1 ou 2 domitórios ou os chamados estúdios ou lofts, que
não possuem divisão entre área íntima e social, atendem à um perfil de demanda
específico - de jovens executivos, pessoas que vivem sozinhas ou um casal sem
filhos. Para essa região, trabalhar com metragens quadradas menores não significa
atender a uma outra classe social, como o caso dos produtos encaixados no
Programa Minha Casa Minha Vida, mas sim estabelecer opção de compra para um
nicho de público específico e de alto poder aquisitivo.
No gráfico 20 é possível verificar o preço médio por metragem quadrada em
cada tipologia, em que se verifica que apartamentos menores possuem seu preço
por metro quadrado ainda mais alto. Alexandre Lafer Frankel, presidente da Vitacon,
cita que unidades cada vez mais compactas estão associadas à uma bandeira de
105
vida mais simples, com preços proporcionalmente mais acessíveis e localização
privilegiada94. Esta afirmação parece contradizer os dados pesquisados e coletados,
porém a referência que o executivo faz é com relação ao preço total do imóvel e não
o unitário por metro quadrado. Dessa forma, quanto menor o apartamento, menor o
preço total do mesmo proporcionalmente, ainda situado numa localização
privilegiada.
GRÁFICO 20 - VALOR POR M² DAS TIPOLOGIAS DE APARTAMENTOS. Fonte: Relatórios anuais EMBRAESP.Elaborado
pela autora95.
Os números do mercado confirmam que os apartamentos desse segmento
deixaram de estar associados à ideia de habitação mínima e barata, como foram
as quitinetes em décadas passadas, direcionando-se agora a um público com
maior poder de compra e localizando-se, muitas, vezes, nos bairros mais
valorizados. (MORAES, 2013, p. 258)
94 Artigo publicado na página online da revista Construção e Mercado, em abril de 2016.
Disponível em http://construcaomercado17.pini.com.br/negocios-incorporacao-
lancamentos-de-sp-entenda-a-tendencia.ghtml, acesso em 11 de mar de 2019. 99 Foram considerados os 10 distritos com maior número de lançamentos entre os anos de
2009 a 2018.
110
GRÁFICO 25 - EMPREENDIMENTOS COMPACTOS POR DISTRITOS NO PERÍMETRO DE ESTUDO. Fonte: Relatórios
anuais EMBRAESP. Elaborado pela autora.
Para reafirmar o apelo de compactação em regiões valorizadas, os bairros
descritos no gráfico 26 possuem alto custo médio por metro quadrado, conforme a
seguir. E, no gráfico 27, a variação anual de preços, que mostra a volatilidade do
mercado e a influência recebida de fatores externos.
111
GRÁFICO 26 - PREÇO MÉDIO POR M² DE APARTAMENTOS COMPACTOS NO PERÍMETRO DE ESTUDO POR BAIRROS.
Fonte: Relatórios anuais EMBRAESP.Elaborado pela autora
GRÁFICO 27 - PREÇO MÉDIO POR M² POR ANO DE APARTAMENTOS COMPACTOS NO PERÍMETRO DE ESTUDO.
Fonte: Relatórios anuais EMBRAESP.Elaborado pela autora100.
100 Valores atualizados pelo IPCA – Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo.
112
Para o incorporador, além da atratividade do preço e mobilidade para o cliente
morador, há também vantagens para o investidor. Em entrevista ao portal G1,
Alexandre Frankel, CEO da Vitacon, ressalta que é um tipo de produto que possui
muita liquidez, sendo dessa forma, fácil de vender e com facilidade para locação101.
O índice FipeZap apontou que unidades menores possuem rentabilidade maior para
locação, de 0,40%, enquanto apartamentos de 4 dormitórios têm retorno de
0,31%102.
Outro fator que contribuiu para que o mercado imobiliário apostasse em
unidades compactas foi a alteração de regras do zoneamento, que trouxe uma
delimitação rigorosa para o gabarito dos prédios, impactando diretamente na
viabilidade do empreendimento. Embora se busque um menor valor total de venda, o
custo de construção de um apartamento compacto acaba sendo maior que o usual.
Segundo Odair Senra, atual presidente do SindusCon-SP103, quanto mais unidades
um empreendimento possuir, maior o número de áreas molhadas e,
consequentemente, maior o investimento com revestimentos104105. No entanto, o
aumento do número de unidades faz com que o aproveitamento do terreno seja
maior e, com isso, o custo do IPTU reduzido por unidade, tornando-se mais um
atrativo para o comprador. Um exemplo expoente dessa compactação recente na
cidade de São Paulo é o empreendimento Nova Higienópolis, da incorporadora
101 “Apartamentos compactos são quase metade dos lançamentos de SP; entenda a
tendência”. Matéria publicada no portal G1, de 27 de ago de 2017. Disponível em
lancamentos-de-sp-entenda-a-tendencia.ghtml, acesso em 11 de mar de 2019. 102 O cálculo da rentabilidade de um imóvel é feito pela divisão do valor de venda pelo preço
do aluguel mensal. 103 Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo. 104 As incorporadoras costumam entregar com acabamentos, isto é, pisos e revestimentos,
apenas as áreas molhadas de um apartamento. 105 “Apartamentos compactos são quase metade dos lançamentos de SP; entenda a
tendência”. Matéria publicada no portal G1, de 27 de ago de 2017. Disponível em
HORIZONTE HOME ago/11 1 152 55,3 101,02 AAM/TOLEDO FERRARI/EMOÇÕES
VOX VILA OLÍMPIA XCLUSIVE mar/12 1 26 32,45 81,58 VITACON
VN CASA DO ATOR abr/13 1 28 28,68 67 VITACON
MAXHAUS VILA OLÍMPIA ago/13 0,5 31 74,7 140 MAXCASA
VN CASA QUATÁ nov/13 1 82 27,31 75,71 VITACON
ONE ELEVEN HOME AND WORK BY HELBOR dez/13 1 88 54,85 108 HELBOR/TOLEDO FERRARI
UBER ITAIM jan/14 1 117 39,93 80 CANOPUS
FORMA ITAIM mar/14 1 114 45,8 101,56 ERC/GR PROPERTIES/HUMA
VN CASA GOMES DE CARVALHO abr/14 1 136 29,52 68,61 VITACON
LOFT JCP set/14 1 32 37,15 75 SOUEN & NAHAS
DOC QUATÁ set/14 1 40 44,38 105,12 GAFISA
CYRELA BY PININFARINA set/14 1 88 48,5 100 CYRELA BRAZIL REALTY
HELBOR NUN VILA NOVA dez/14 1 120 39,09 72 HELBOR/TOLEDO FERRARI
VN CASA FERREIRA LOBO jul/15 1 28 28 72,46 VITACON
VN ALVORADA jun/16 0,5 17 26,36 42 VITACON
FLOAT BY YOO 01/out/18 1 20 63,57 130 CYRELA BRAZIL REALTY Tabela 13 - RELAÇÃO DOS EMPREENDIMENTOS RESIDENCIAIS PRIVADOS LANÇADOS NO BAIRRO DA VILA OLÍMPIA
ENTRE 2009 E 2018. Fonte: Cadatro de lançamentos imobiliários, EMBRAESP. Elaborado pela autora.
120
A partir desses empreendimentos selecionados, objetiva-se a exposição das
diferentes tipologias lançadas para uma comparação mercadológica, tomando como
base suas localizações, metragens, amenidades e público-alvo. Como padrão de
análise para cada empreendimento foi elaborada uma tabela com as informações
básicas de cada projeto, contendo: nome, data de lançamento, incorporadora
responsável, área total e útil comercializada, valores praticados na data do
lançamento e com correção, zona, setor, quadra, número de unidades e pavimentos
e amenidades do condomínio. Na sequência e como complemento dessa tabela, as
plantas das tipologias de cada empreendimento em escala. 23 dos 24
empreendimentos foram agrupados de acordo com suas similaridades de programa
ou tipologias, de acordo com a tabela 14. A ficha técnica do empreendimento Loft
JCP consta como anexo I desta dissertação, visto que suas plantas não foram
disponibilizadas, o quev impossibilitou a análise via agrupamento de características.
Agrupamento Empreendimento
AFFINITY VILA OLÍMPIA - FOR LIVEINDI VILA OLÍMPIAIGLOO VILA OLÍMPIAVOX VILA OLÍMPIA XCLUSIVEVN CASA QUATÁ
DOC QUATÁLOUNGE 161 BENEDITO LAPINMAXHAUS ITAIMVN CASA DO ATORMAXHAUS VILA OLÍMPIAF.L RESIDENCEHORIZONTE HOMEVN CASA GOMES DE CARVALHOONE ELEVEN HOME AND WORK BY HELBORFORMA ITAIMCYRELA BY PININFARINAFLOAT BY YOOHELBOR NUN VILA NOVAVN CASA FERREIRA LOBOVN ALVORADA
VILLA FUNCHAL BAY APARTMENTSLIMITED FUNCHAL - ED LIMITEDUBER ITAIM
Possuem unidades corporativas
Produto com forte apelo de design e forma
Produto com metragem significativa de varanda
Até 3 tipologias de plantas
Tipologias com metragem de até 70m²
Possuem tipologia de 2 dormitórios
Tabela 14 - AGRUPAMENTO DE EMPREENDIMENTOS RESIDENCIAIS NO BAIRRO VILA OLÍMPIA. Fonte: Cadatro de
lançamentos imobiliários, EMBRAESP. Elaborado pela autora.
121
Com semelhança evidenciada pelas metragens ofertadas, os
empreendimentos Affinity Vila Olímpia for Live da incorporadora Vitacon; Indi Vila
Olímpia também da Vitacon, e com participação da Bueno Netto; Igloo Vila Olímpia,
da Gafisa com a BKO; Vox Vila Olímpia Xclusive e o VN Casa Quatá, ambos da
Vitacon, são empreendimentos que se limitam a produtos de até 70m², conforme
figuras 19, 20, 21, 22 e 23 respectivamente. Embora em tal metragem seja possível
explorar um programa mais abrangente, como acontece nos produtos econômicos,
esses empreendimentos se concentram em apenas um dormitório em formato
studio, isto é, sem divisórias entre área social e íntima. Uma outra característica, não
somente desse primeiro agrupamento, mas de todos os apartamentos compactos
recentemente lançados, é com relação à apropriação da varanda na composição de
layout, como parte da área interna do apartamento.
Conforme detalhado nas páginas seguintes a partir fichas técnicas de cada
empreendimento, todos eles, com exceção do VN Casa Quatá, têm seu valor médio
por metragem quadrada entre R$ 6.100,43 e R$ 7.931,85111. Já o VN Casa Quatá
tem seu preço por metro quadrado médio muito superior, com valor de R$
21.420,98, além de possuir a menor metragem de apartamento, com 18m², e a maior
diversificação de plantas disponíveis, com 5 opções, em comparação aos demais.
Os empreendimentos estão expostos em ordem cronológica de lançamento,
desde 2009, e, nessa sequência, também é possível verificar a diminuição das áreas
das tipologias menores. O empreendimento Affinity Vila Olimpia conta com
metragem de 61m², sendo os demais entre 18 e 40m².
111 Os valores por metragem quadrada foram atualizados pelo IPCA – Índice Nacional de
Preços ao Consumidor Amplo.
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Embora o filtro e seleção aplicados aos empreendimentos tenha sido com
base no número de dormitórios, sendo, no caso, de até 1, alguns produtos
apresentam também outras tipologias para oferta. No Cadastro de lançamentos
imobiliários da EMBRAESP, os empreendimentos aparecem apenas com a
denominação até 1 dormitório, o que significa que pode ser de tipologia studio ou
loft, isto é, sem delimitação interna entre os cômodos, o que não configura
propriamente 1 dormitório do ponto de vista espacial, mas sim funcional. No entanto,
ao analisar mais a fundo cada um dos empreendimentos compactos, viu-se que, em
alguns casos, também se apresenta uma diversificação do produto imobiliário, com
tipologias de 2 dormitórios.
Para o incorporador, possuir mais de uma tipologia comercializada num
empreendimento significa ter um leque maior de oferta para seu cliente e,
consequentemente, poder atender um público mais abrangente. Essas vantagens se
apresentam tanto no aspecto do produto em si, havendo diferentes opções
funcionais que podem se encaixar nas necessidades e momentos de vida do
comprador, como também do ponto de vista financeiro. Ter diferentes metragens e
opções de tipologias, se tem diferentes preços por metro quadrado e preços totais,
abrangendo, possivelmente, mais de uma classe social e configuração familiar. O
contraponto dessa equação é com relação às dificuldades operacionais que se
apresentam ao incorporar diferentes metragens, desde a etapa orçamentária até a
operacional e construtiva, que, por muitas vezes, não há uma padronização dos
pavimentos tipo, antes adotados.
O empreendimento Lounge 161 Benedito Lapin lançado em 2010, da Bolsa
de Valores com a Amy, possui seis tipologias de plantas, sendo quatro delas em
formato Studio, sem divisão entre área social e dormitório, e duas com 2 dormitórios
e com metragens de 144 e 238m², conforme figura 24. Embora se concentre em
studios e 2 domitórios, tal empreendimento possui metragem ampla em comparação
aos produtos semelhantes lançados nos anos seguintes. Já os projetos Maxhaus
Itaim e Maxhaus Vila Olímpia, figuras 25 e 26, ambos da incorporadora Maxcasa,
lançados em 2010 e 2013 respectivamente, possuem metragens próximas de 70 a
148m², sendo a tipologia de 2 dormitórios somente das unidades combinadas, ou
seja, com a junção de dois apartamentos.
Os empreendimentos VN Casa do Ator e DOC Quatá, os últimos lançados
nesse agrupamento, sendo em 2013 e 2014 respectivamente e representados pelas
128
figuras 27 e 28, apresentam metragens mais compactas. O VN Casa do Ator tem
como característica, assim como os demais produtos da Vitacon, sua incorporadora,
a oferta de produtos compactos e com um amplo leque de opções de plantas, sendo
19 tipologias diferentes somente nesse projeto. As tipologias variam entre studios,
duplex e tríplex. O empreendimento também se identifica pela valorização das áreas
sociais dentro dos apartamentos, tendo metragens significativamente maiores que
as áreas íntimas. À luz dessa análise, curiosamente a tipologia tríplex, de 140 m²,
não é a unidade que absorve os 2 dormitórios, sendo esta de apenas 45m². Já o
DOC Quatá, da Gafisa, embora compacto, suas unidades vão de 38 a 66m² e
possuem divisórias entre os cômodos, tanto para 1 quanto para 2 dormitórios.
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Embora já presente com força em outras regiões da cidade, a modalidade
multifuncional também tem figurado nessa porção da cidade. No bairro Vila Olímpia,
entre os anos de 2009 e 2018, com unidades habitacionais de até 1 dormitório,
foram lançados quatro empreendimentos com opções de lajes corporativas. Os
empreendimentos lançados foram: F.L. Residence, figura 29, da parceria entre as
incorporadoras Stan, SDI e Bramex; Horizonte Home, figura 30, da AAM, Toledo
Ferrari e Emoções; One Eleven, figura 31, da Helbor e Toledo Ferrari; VN Casa
Gomes de Carvalho, figura 32, da Vitacon. Todos eles têm como característica a
compactação do programa espacial, com studios, 1 dormitório e área ampla de
varandas, evidenciando relevância área social sobre a área ítima.
O F.L. Residence e o Horizonte JK possuem duas tipologias de plantas, com
área máxima de 81m². No caso deste último, por se localizar na Av. Juscelino
Kubistchek, uma das principais avenidas de negócios para a capital paulistana, o
apelo da oferta sobre as lajes corporativas é maior do que a residencial. Já os
empreendimentos VN Gomes de Carvalho e o One Eleven possuem 18 e 6
tipologias de plantas. É importante ressaltar a diversidade de metragens no
empreendimento da Vitacon, iniciando com 26 e indo até 104m², com studios e
duplex.
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Com valor de lançamento por metro quadrado acima dos R$ 22.000,00, os
empreendimentos Forma Itaim, da incorporadora Huma, o Cyrela By Pininfarina, da
incorporadora de mesmo nome, e o Float By Yoo, também da Cyrela, são os
empreendimentos de maior valor dentre todos os selecionados, e são apresentados
nas figuras 33, 34 e 35 respectivamente. Tais projetos foram, e ainda são,
comercializados com o argumento de vendas pautado no conceito e dseign
diferenciados, trazendo escritórios de renome, e até mesmo estrangeiros, para a
concepção do produto e desenvolvimento da arquitetura.
O empreendimento Forma Itaim, tem projeto assinado pelo arquiteto espanhol
Fermín Vázquez, do escritório B720, com sede em Madri e em Barcelona, e é
pautado no edifício como parte da cidade, promovendo mobilidade, segurança e alto
nível estético. Possui plantas de 45 a 90m², sendo as metragens de 66 e 90m²
duplex. Assim como os demais empreendimentos já citados, as plantas são fluídas,
sem muitas divisórias e com a valorização das áreas sociais do apartamento,
integrando e se apropriando da varanda. Não diferente do apelo de marketing
pautado na sofisticação, o empreendimento Cyrela By Pininfarina foi marcado pelo
projeto do escritório italiano que intitula o nome do produto. Com valor de
lançamento em R$ 26.264,00 o metro quadrado e valor por unidade acima de 1
milhão de reais, o empreendimento compreende 16 opções de plantas com
metragens de 48 a 96m². Todas as opções de plantas configuram studio, e, nas
opções duplex, o dormitório se localiza no pavimento superior.
O empreendimento Float By Yoo, também da Cyrela, diferentemente de seu
nome, não tem o projeto de arquitetura do escritório inglês Yoo, que tem como
diretor criativo o designer e arquiteto Philippe Starck, mas sim o projeto de interiores.
A arquitetura ficou por conta do arquiteto brasileiro Ângelo Bucci112. No entanto o
nome do escritório londrino foi adotado no empreendimento como forma de
112 Ficha técnica do empreendimento disponível em
http://www.jmmarques.com.br/pagina/empreendimento/float-by-yoo=1016, acesso em 04 de jun de
2019.
140
valorização. Com metragens de 61 a 128m², o empreendimento disponibiliza quatro
opções de plantas em formato de studio ou 1 dormitório.
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Uma característica arquitetônica que vem crescendo dentre os incorporadores
em seus lançamentos é a área total de varanda, ou terraço, nos apartamentos. As
varandas sempre estiveram presentes nas casas brasileiras, em formato de alpendre
e até mesmo com funções distintas das quais são desempenhadas atualmente,
servindo como o primeiro ambiente ao se adentrar à residência.
A varanda até meados do século XX continua, desta forma, a ser empregada na
moradia brasileira. Como as sacadas e balcões dos sobrados urbanos ou como o
alpendre elevado da casa rural oitocentista, a varanda nos edifícios de
apartamento deixa de ser o filtro de acesso a casa, conseqüência da
verticalização. [...] Espaço esse que nos prédios residenciais da primeira metade
do século XX pode ser o do balcão embutido no corpo da fachada ou o da varanda
em balanço, pode ser o espaço aberto ou o fechado, mas que persiste, mostrando
sua importância como elemento da tradição sócio-cultural. (BRANDÃO, Helena C.
L.; MARTINS, Angela M. M. 2010. p.19)
No município de São Paulo, as varandas e terraços sem fechamento e com
projeção de até 10% da área ocupada no lote não são considerados computáveis113.
O mercado imobiliário, por sua vez, incorpora as áreas de varanda à área total do
apartamento no momento da oferta do mesmo, comercializando uma metragem
maior. Esse fator pode ter ainda mais relevância quando se trata de um
empreendimento compacto, visto que o valor por metro quadrado é mais alto e
qualquer metragem impacta no todo.
Os empreendimentos, dentro do perímetro de ampliação do estudo, que se
destacam por áreas consideráveis de varandas foram lançados entre 2014 e 2016.
São eles: Helbor Nun Vila Nova, figura 36, das incorporadoras Helbor e Toledo
Ferrari; o VN Casa Ferreira Lobo e o VN Alvorada, ambos da Vitacon, representados
113 Revisão da Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo (Lei Nº 13.885/04),
11/08/2014. Disponível em https://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/wp-
nas figuras 37 e 38 respectivamente. Esses projetos englobam a área de varanda ao
programa do apartamento, fazendo da mesmo ambiente de sala de jala de jantar,
estar, escritório ou até mesmo academia. No caso do VN Ferreira Lobo, uma das
unidades, a de 65m² chamada de garden, tem uma área de varanda maior do que a
própria metragem interna do apartamento. O mesmo acontece com as unidades de
73, 91 e 103m², sendo essa última com a metragem de varanda ainda mais
relevante.
Para o comprador, atualmente é comum o fechamento da varanda por meio
de vidros translúcidos retráteis nesse padrão de empreendimento. Muitas vezes, se
aprovado em assembleia e do ponto de vista técnico e legal, ainda é possível a
ampliação do apartamento por meio do nivelamento de piso entre a área interna e
varanda.
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Os empreendimentos Villa Funchal Bay Apartments, apresentado na figura
39, Limited Funchal e Uber Itaim, nas figuras 40 e 41 respectivamente, são os
agrupados com até três tipologias de plantas, sendo, no caso das que possuem três,
uma de apartamento duplex. Tratam-se de projetos que, apesar de serem em
formato studio ou de um dormitório, contam com metragens razoáveis, entre 39 e
130m², diferentemente de outros exemplos vistos anteriormente com 18m².
O empreendimento Uber Itaim, lançado em 2014 pela incorporadora
Canopus, teve seu apelo de vendas pautado no “alto luxo no Itaim Bibi”114. Seu valor
por metro quadrado na data de lançamento foi de R$ 18.660,41 muito superior aos
outros dois empreendimentos. Outro diferencial é com relação aos acabamentos que
são entregues, como revestimento de piso e marcenaria, prática não usual no
mercado. Nas fichas de análise de cada empreendimento, nas próximas páginas, é
possível verificar o valor do imóvel atualizado, evidenciando a similaridade de cada
um deles tanto no ponto de vista de produto imobiliário como quanto de público-alvo.
114 Descrição do empreendimento em seu site, disponível em
http://imoveis.canopus.com.br/imovel/uber-itaim-bibi/#inicio. Acessado em 05 de jun de 2019.
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5.3 AS INOVAÇÕES COMO IMPACTO À PRODUÇÃO IMOBILIÁRIA
Quando se fala em inovação no mercado imobiliário, invariávelmente se
remete a novidades no âmbito da construção civil, com técnicas modernas e
utilizações de softwares que suportem e que otimizem o período de obras de um
empreendimento. No entanto, nos últimos anos, até muito relacionado às facilidades
tecnológicas e de acesso à informação, se questiona ainda mais o modelo de
habitação, o que o consumidor deseja e a forma como ele busca. Muitos
incorporadores apostam que a inovação nada mais é do que a “renovação”, em que
o mercado deve estar atento às mudanças do perfil de demanda e do
comportamento do consumidor. Tais mudanças não se colocam apenas no que se
refere ao produto imobiliário, mas também aos profissionais e tratativas que nele
estão inseridos, para que a abordagem ao cliente esteja em linha com o que ele
anseia.
A mudança constante que o mercado imobiliário busca acompanhar, tem seu
início primeiramente em outras frentes de consumo e segue as tendências e
comportamento do consumidor de forma mais lenta. É inevitável que as empresas
de modo geral tenham que se confrontar com a mudança de perfil de seus principais
clientes, necessitando acompanhar fatores como o envelhecimento populacional, a
busca pela qualidade de vida e o aumento do poder de consumo das classes de
mais baixa renda (VENTURA, 2010).
No âmbito do produto imobiliário, um fator que tem feito com que
incorporadores se lancem em novos nichos ou que adaptem seus produtos é o
aumento expressivo da longevidade no Brasil. A sociedade tem passado por
transformações significativas no perfil demográfico e estrutura etária, em que os
níveis e padrões de fecundidade tiveram mudanças consideráveis, criando desafios
e oportunidades para a população (BORGES; CAMPOS; SILVA in ERVATTI et. al,
2013). O momento se caracteriza pela mudança de um regime com altas taxas de
natalidade e mortalidade para outro com taxas em níveis mais baixos de ambos os
indicadores.
Apesar de já estar implícita em teorias desenvolvidas no Século XIX, a ideia de
transição nos padrões demográficos foi retomada pelo economista francês
Adolphe Landry (1874-1956), em 1909, e apresentada de forma mais elaborada
154
por Thompson (1929), baseada na interpretação das mudanças observadas nos
países industrializados. (BORGES; CAMPOS; SILVA in ERVATTI et. al, 2013, p.
140)
Ainda segundo Borges, Campos e Silva, a transição demográfica tem por
consequência alterações substanciais na sociedade, e um dos principais fenômenos
decorrentes desse fator é o chamado “bônus demográfico”. Tal consequência é
caracterizada pelo período em que existem mais pessoas em faixa etária
potencialmente ativa do que àquelas consideradas dependentes, isto é, maior
número de adultos frente a crianças e idosos. Embora se relacione tal proporção à
um desenvolvimento econômico, o bônus demográfico não é determinado apenas
por condições demográficas, mas também por um conjunto de fatores políticos e
sociais. Dessa forma, vê-se o bônus demográfico como uma oportunidade, de modo
que, mesmo o fonômeno não garantindo as mudanças sociais desejadas, as
favoreça. O Brasil está inserido no grupo de países que vivenciam uma transição
demográfica acelerada, com uma queda acentuada nos níveis de fecundidade e que
experimentam um acelerado envelhecimento demográfico. O formato triangular da
pirâmide, com altas taxas de nascimento e mortalidade, vem dando espaço à uma
pirâmide de população envelhecida, com o aumento proporcional de adultos e
idosos.
GRÁFICO 29 - RAZÃO DE DEPENDÊNCIA (JOVENS, IDOSOS, TOTAL) 2010 - 2060 NO BRASIL. Fonte: Projeção da
população do brasil e das unidades da federação, IBGE, disponível em https://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/. Acessado em 08 de dez de 2018.
155
GRÁFICO 30 - RAZÃO DE DEPENDÊNCIA (JOVENS, IDOSOS, TOTAL) 2010 - 2060 NO ESTADO DE SÃO PAULO. Fonte:
projeção da população do brasil e das unidades da federação, IBGE, disponível em https://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/. Acessado em 08 de dez de 2018
O segmento etário que mais cresce no Brasil é o de idosos, visto que a
população com mais de 60 anos de idade passou de 14,2 milhões no ano de 2000
para 19,6 em 2010, e com projeções ainda mais significativas para as próximas
décadas, devendo atingir 73,5 milhões em 2060. No gráfico 29 verifica-se a razão de
dependência115 entre jovens e idosos, isto é, a mudança entre a futura população
economicamente ativa e não ativa no Brasil, que será invertida em meados de 2040.
Já no estado de São Paulo, o mesmo ocorrerá na década de 2030, de acordo com o
gráfico 30 (BORGES; CAMPOS; SILVA in ERVATTI et. al, 2013). Tais dados tem
implicações profundas na sociedade e impõem importantes desafios, haja visto o
aumento da preocupação com condições necessárias para manutenção da
qualidade de vida.
Em meio a esse cenário da longevidade e aproveitando-a como oportunidade,
o mercado imobiliário começou a se atentar ao chamado “mercado grisalho”. Focado
num perfil de demanda futuro de idosos em busca de experiências, justamente por
terem vivido numa época de farto acesso à informação, o mercado se adequa tanto
a manter um produto alinhado com tais expectativas como um atendimento e canal
115 Razão de dependência é o termo utilizado para apresentão a razão entre o segmento
etário da população definido como economicamente dependente – menores de 15 anos e maiores de
60 anos de idade – e o segmento etário potencialmente produtivo – entre 15 e 59 anos. Tal medição
serve para se entender a relação do contingente populacional que deveria ser sustentado pela
população economicamente ativa. Fonte: IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
156
de compra adaptados a essa evolução116. De acordo com a matéria publicada no
portal online da Fecomercio SP – Federação do Comércio de Bens, Serviços e
Turismo do Estado de São Paulo117 – e baseada em informações coletadas pelo
Grupo Zap Viva Real, 17% dos acessos ao portal Zap Viva Real118 na cidade de São
Paulo são de pessoas acima de 55 anos. Já na cidade de Santos, no litoral paulista,
esse percentual salta para 28%. Dessa forma, vê-se claramente o crescimento do
interesse da população por moradias que atendam a certos cuidados necessários à
idosos ativos e não dependentes. Ainda no mesmo artigo publicado pela
Fecormercio, Caio Calfat, vice-presidente de Assuntos Turísticos e Imobiliários do
Sindicato de Habitação de São Paulo – SECOVI SP, os dados apontam para um
novo nicho de mercado, que “seria a evolução do asilo e da casa de repouso para
um empreendimento mais estruturado, voltado a esse tipo de público com serviços e
profissionais adequados” e completa que os empreendimentos devem ser uma
mistura entre prédio residencial, hotel e hospital.
Além da tendência de adaptação dos principais incorporadores a esse
mercado, surgem também empresas focadas no atendimento do público da terceira
idade, como é o caso da BSL – Brazil Senior Living. A empresa conta com três
produtos, o Assist Care, serviços de internação domiciliar, o Cora Residencial
Senior, residencial para a terceira idade dotado de recursos e cuidados necessários,
116 Artigo “Futuro do setor imobiliário: como atender bem aos idosos?”, publicado no portal
online Ingaia e disponível em http://www.ingaia.com.br/mercado-futuro-do-setor-imobiliario-como-
atender-bem-aos-idosos/. Acesso em 09 de dez de 2018. 117 Artigo “Envelhecimento populacional causa mudanças no setor imobiliário”, publicado no
portal online da Fecomercio - Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São
Paulo e disponível em http://www.fecomercio.com.br/noticia/envelhecimento-populacional-causa-
mudancas-no-setor-imobiliario. Acessado em 09 de dez de 2018. 118 O portal Zapimóveis, pertencente ao Grupo Zap, é um portal de classificados de imóveis
líder no segmento. Para o mercado imobiliário, é uma referência na captação de informações e
anúncios de imóveis.
157
e o Sainte-Marie, residencial especializado em serviços de reabilitação crônica e
longa permanência119.
FIGURA 42 - PÁGINA INICIAL DO SITE DO RESIDENCIAL CORA, DA BSL. Fonte: Site residencial Cora, disponível em
https://coraresidencial.com.br/, acessado em 25 de abr de 2019.
A figura 42 mostra a página inicial do site do residencial Cora, mostrando o
apelo à qualidade de vida para pessoas da terceira idade. Assim como no mercado
imobiliário residencial vertical, o apelo de marketing também é pautado no bem-
estar, qualidade de vida e segurança. No Cora é possível optar por períodos
diferentes de hospedagem, isto é, o cliente pode residir ali por tempo indeterminado,
pode passar uma temporada, muitas vezes em função de uma recuperação de
cirurgia, ou então o chamado day-use, que permite que a estadia seja feita por dia.
119 Informações retiradas do site da BSL – Brazil Senior Living. Disponível em
https://brasilseniorliving.com.br/, acessado em 09 de dez de 2018.
acessado em 26 de abr de 2019. 121 Artigo “Setor imobiliário em 2019: Vitacon espera ano de expansão”, publicado no portal
GRIHub em 14 ded jan de 2019. Disponível em https://www.griclub.org/news/real-estate/setor-
imobiliario-em-2019-vitacon-espera-ano-de-expansao_333, acessado em 26 de abr de 2019. 122 Artigo “A tecnologia está mudando o mercado imobiliário e construção”, publicado no site
da StartSe em 22 de jan de 2018. Disponível em https://www.startse.com/noticia/nova-
O objetivo da presente dissertação foi abordar a produção imobiliária no
espaço urbano de um determinado perímetro do quadrante sudoeste da capital
paulistana, suas transformações e articulações com o mercado imobiliário. Trata-se
de uma região que sofreu significativas alterações morfológicas em seu território
que, unidas às transformações sociais corroboraram na região mais valorizada pelo
mercado imobiliário de São Paulo, detendo os mais altos valores de venda e
concentrando uma significativa produção de novos empreendimentos.
O período aqui abordado experimentou transformações relevantes, que
refletiram no segmento imobiliário, como os episódios políticos, as dificuldades
institucionais e a mudança de perfil do consumidor. Tais fatores, somados à forte
concorrência dentre as incorporadoras e construtoras, fizeram dessa última década
um período intenso, com características muito distintas entre 2009 e 2018. Na seção
política o país saiu de uma economia próspera, com crescimento anual de mais de
7%, para a mais dura recessão já vivida, sendo esse período entre datas marcado
por fortes episódios governamentais e incertezas, os quais, ainda hoje, não
cessaram. Em detrimento das transformações políticas, aqui citadas, a parte
institucional sofreu mudanças conjunturais com redução da concessão de crédito, o
alto índice de desemprego e a baixa taxa de confiança do consumidor. O
consumidor, por sua vez, vivenciou um período de robustas transformações
marcadas pela rápida evolução da tecnologia, mudança de comportamento de
compra e questionamentos sobre a obtenção e financiamento de um imóvel.
Os fatores acima citados caminham juntos e com impactos diretos entre eles,
a exemplo da questão do consumo que também esteve ligada à fraca economia e ao
aumento do desemprego. E esta, no que lhe diz respeito, também esteve
relacionada com as incertezas e episódios políticos. Dessa forma, é claro
compreender que os fatores acima citados se relacionam e trabalham para o
movimento imobiliário que vivemos hoje, uma árdua tentativa dos incorporadores e
construtores em manter suas atividades e resultados em meio a um mercado
extremamente competitivo e cíclico.
A região compreendida para estudo foi cenário de uma intensa produção
imobiliária e o local de testes, pode-se assim dizer, para novos produtos do mercado
imobiliário. Os treze distritos de estudo compreendidos na pesquisa foram
168
classificados com base em seus altos Índices de Desenvolvimento Humano – IDH –
e, por esse motivo, contemplam os maiores valores por metro quadrado de imóveis
lançados. As incorporadoras que ali atuam têm seus negócios voltados, em sua
maioria, para o público de médio, médio-alto e alto padrão, criando um núcleo
característico de renda e comportamento para aquela região.
No entanto, ainda que esses incorporadores se voltem paras as classes mais
altas e de maior renda, a presente pesquisa trouxe que parte deles também
desenvolveram braços de atuação no setor econômico. Por impulsionamento do
governo, o Programa Minha Casa Minha Vida se apresentou como um forte aliado
do setor imobiliário na atuação de empreendimentos de caráter econômico. No
perímetro de estudo, pela característica da região, não houve expressiva produção
deste tipo de empreendimento, assim como cidade de São Paulo, proporcionalmente
às dimensões da mesma, a presença de empreendimentos voltados ao Minha Casa
Minha Vida foi escassa. A produção dos empreendimentos enquadrados ao
programa foi margeada à área central, ocupando a região metropolitana e
reforçando a concepção de setores divergentes para as classes mais e menos
favorecidas.
Após a crise iniciada em 2014 viu-se a retração da economia e o baixo índice de
confiança do consumidor, reduzindo a capacidade de endividamento da população.
Em meio a esse cenário, o Programa Minha Casa Minha Vida se mostrou um
atrativo para as construtoras e incorporadoras que, além de obter facilidades com o
financiamento público, atuariam com clientes que buscavam a “realização de um
sonho” e que traziam a emoção, facilitando o, habitual, duro momento de compra.
Ainda que a capital paulista esteja adquirindo números relevantes de
empreendimentos enquadrados no PMCMV, a recente ampliação do limite de renda
familiar impulsiona esse mercado ainda novato, mas que se firma a cada dia como o
retrato do país e o objetivo do setor imobiliário. Ainda em meio aos apartamentos de,
em média, 40 metros quadrados comercializados no Programa Minha Casa Minha
Vida, na face oposta temos o crescimento de unidades de mesma metragem e com
um perfil bem distinto.
A última década protagonizou o crescimento da oferta de apartamentos
compactos, de até um dormitório, que, muito diferente do que se vinha praticando,
ocupou o espaço de unidades por metros quadrado de maior valor. O incorporador
enxergou um produto para uma nova demanda, alinhado com o novo consumidor,
169
valorizando as áreas comuns do edifício e compactando as áreas privativas, e,
consequentemente e oportunamente, atingindo um valor de mercado acima da
média. Conforme discorrido, de acordo com EMBRAESP – Empresa Brasileira de
Estudos do Patrimônio - no perímetro estudado e no recorte temporal foram 362
novos empreendimentos lançados de apartamentos de até 1 dormitório, sendo 222
em endereços únicos e representando quase 50% dos lançamentos com essas
características em toda a cidade nesse período.
Para uma amostragem dessa produção, ampliou-se os lançamentos dos
produtos realizados no bairro Vila Olímpia, um dos de maior relevância para
apartamentos compactos. O resultado foi uma clara leitura de sua vocação para
empreendimentos de alto padrão, com um perfil de público bem definido e com
diferentes atributos e características de apelo, que foram evidenciadas por meio dos
agrupamentos feitos. O forte convite ao design e à mobilidade, juntamente com
varandas e terraços generosos, foram protagonistas desses projetos, com escritórios
internacionais e localizações supostamente privilegiadas. Tais fatores fazem com
que o incorporador agregue valor à venda e afirme a região como um reduto
imobiliário paulistano de um novo perfil de público e com produtos e tipologias
diversificadas.
170
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e o Banco Nacional da Habitação.
Lei Federal Nº 11.578, 26 de novembro de 2007 – Transferência obrigatória de
recursos financeiros para a execução pelos Estados, Distrito Federal e Municípios de
ações do Programa de Aceleração do Crescimento - PAC, e sobre a forma de
operacionalização do Programa de Subsídio à Habitação de Interesse Social - PSH
nos exercícios de 2007 e 2008.
Lei municipal Nº 13.885/04 – Revisão da Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do
Solo – Ago/2014
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Disponível em https://revista.zapimoveis.com.br/confira-uma-linha-do-tempo-sobre-a-
venda-de-imoveis-no-brasil/. Acesso em 19 de nov de 2018.
184
ANEXO I – Ficha técnica do empreendimento LOFT JCP.
FIGURA 48 - EMPREENDIMENTO LOFT JCP
185
ANEXO II – Conversa via telefone com operador do mercado imobiliário da cidade de São Paulo.
186
Conversa via telefone com Alexandre Lafer Frankel
CEO da incorporadora Vitacon, que teve expoente número de lançamentos com tipologias compactas.
Data: 20 de maio de 2019
___________________________________________________________________ Isabela: Alexandre, qual o propósito de atuação da Vitacon? Alexandre: (Trecho inaudível)...Por último a economia compartilhada como
complemento da casa das pessoas para poder possibilitar que elas morassem em
unidades menores, a próxima grande evolução, eu acredito que vá ser a moradia
como serviço e não mais como consumo e daí ela passa a ser um elemento que tem
como ponto principal a mobilidade, que a pessoa deve começar a mudar de casa
conforme a necessidade do momento, isso vai tanto de momento familiar como onde
fica o trabalho, onde fica a escola e por aí vai. Então você vai ter uma não compra
do ativo e a pessoa vai trocar com muito mais frequência de acordo com a
necessidade, então acredito que o próximo grande desafio é conseguir prover e criar
empreendimentos e sistemas tanto de operação como financeiros que façam
funcionar a moradia como serviço.
Isabela: E hoje a empresa se resguarda em uma determinada região ou a ideia é que ela possa atuar na cidade inteira até nas regiões mais periféricas? Alexandre: Na cidade inteira, inclusive nas regiões periféricas, nosso time de
expansão passa a atuar cada vez mais no segmento popular e atuar
geograficamente por toda a cidade, principalmente em locais próximos ao transporte
público.
Isabela: É uma premissa o empreendimento estrar próximo ao transporte público? Alexandre: Sim, polo de demanda e transporte público, caso não tenha, vamos ter
uma restrição.
Isabela: Fazendo o recorte da região sudoeste que abrange de Pinheiros a Santo Amaro, é uma região em que a Vitacon teve um desenvolvimento muito grande, onde constam mais de 20 empreendimentos no perfil que eu estudo,
187
que são unidades mais compactas, abaixo de 52 metros quadrados. Por que a atuação nessa região? É o metro quadrado mais alto da cidade, é onde temos a maior concentração de renda. A escolha por essa região se deu por esses fatores ou por ser uma região mais provida de serviços? Alexandre: As premissas principais são mobilidade, oferta de emprego e transporte
público, e secundariamente pela maior demanda de moradia na região e pelo preço
elevado oriundo da relação entre oferta e demanda, então acaba sendo uma região
atrativa do ponto de vista econômico, mas para nós esse fator sempre foi
secundário. Primeiro identificamos a demanda, a questão da mobilidade, e por
consequência você tem o fator econômico positivo por conta da demanda dessa
região.
Isabela: Nessa região vocês possuem diferentes produtos, diferentes metragens e tipologias, no seu ponto de vista quais as vantagens dessa diversificação frente as dificuldades operacionais que essa diversificação traz? Acredito que a diversificação acarrete em mais custos para a incorporadora. Alexandre: Sim, mas a diversificação traz alguns benefícios, o principal é a
diversidade, a diversidade traz evolução, traz bons princípios de trocas em uma
cidade densa como São Paulo então talvez esse seja o fator preponderante de
encontrarmos pessoas solteiras, famílias de diferentes idades, entendo isso como
muito positivo. O segundo ponto é a não concentração de uma tipologia única na
unidade você cria um senso de escassez e de maior abrangência, então temos feitos
com frequência empreendimentos com 400, 500 unidades e é importante ter essa
diversidade para não concentrar em uma tipologia única. Acho que esses são os
dois pontos principais na ordem de importância.
Isabela: Seguindo no assunto da tipologia, da diversidade, temos visto voltar e acho que a Vitacon foi uma das precursoras, é a compactação dos apartamentos, que era comum nos anos 70 e agora estamos vendo com maior frequência. Nesse sentido, eu ressalto o empreendimento Vitacon Nova Higienópolis que foi o ápice desta compactação e que trouxe uma grande discussão na academia. Mas gostaria de entender de você qual foi a aceitação do mercado para este produto especificamente? Alexandre: A aceitação foi incrível, tanto que repetimos, não com 10m² mas com 11,
12 e 13m², inúmeras unidades. Existe uma crítica mas temos que entender o ponto
188
de vista do cliente, em nenhum momento os clientes nos relatam que o tamanho
incomoda, o que temos de feedback é que agora eles conseguem ter a casa própria,
conseguem ir andando para o trabalho, muitos relatam que estão mais saudáveis
pois agora possuem tempo para praticar exercícios físicos, para estudar, o que
estamos fazendo é proporcionar uma troca de tamanho por tempo e o tempo
também significa qualidade de vida... As áreas comuns que são a extensão da casa
do morador. Temos que entender que a nova relação entre área privativa e área
comum gera uma nova concepção de espaço, e as possibilidades, o ganho para o
morador é, infinitamente maior que a troca pelo espaço menor.
Isabela: Uma outra bandeira que vocês levantam bastante é com relação a modalidade aluguel. A nova geração tem como característica a não criação de vínculos e o compartilhamento de bens e isso tem se refletido na maneira em que habitamos uma casa. A Vitacon já opera os empreendimentos dessa maneira, e você está desenvolvendo uma Startup, a Housi, que busca atuar nessa modalidade. Você acredita que o mercado está preparado para essa modalidade? Alexandre: Sem dúvidas. Talvez as pessoas ainda não conheçam essa
possibilidade, mas acredito que daqui alguns anos elas irão olhar para o passado e
comentar “lembra que a gente comprava e se endividava por 30 anos em uma casa
única, pagando ITBI e cartório”...a gente era louco, não fazia sentido nenhum”,
acredito que vamos ouvir isso daqui a alguns anos. As pessoas precisam aprender
que existe essa nova possibilidade de morar leve, morar sem estar imobilizado, com
uma liberdade muito maior, sem esse consumismo. Acredito que daqui alguns anos,
a maneira que moramos hoje não terá mais sentido algum.
Isabela: E você acredita que, do ponto de vista do incorporador ou do investidor, isso também é uma vantagem? Alexandre: Sim, acredito que o imóvel tende a ser cada vez mais um produto de
investidores e menos de consumo, e as pessoas irão utiliza-lo de maneiras variadas.