Instituto Superior de Psicologia Aplicada O ESTADO DE ESPÍRITO E O COMPORTAMENTO ECONÓMICO: INFLUÊNCIA NO JOGO DO ULTIMATO Hugo Manuel Antunes Alves Tese submetida como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Psicologia Aplicada Especialidade em Psicologia Clínica 2008
Psychology and Economics are two scientific areas who have walked different paths concerning the understanding of human behavior, many times with conflicting results. In this study we analyzed how mood, measured in it’s valence, affects economic behavior. For that we used the Ultimatum Game (UG), an economic decision game, played by Proposers and Receivers, in which concerns about fairness and self interest conflict. The results, although, not statistically significant, indicate that mood is an influence factor in the decisions made in the UG. Proposers in a positive mood show a greater proportion on unfair offers than Proposers in a negative mood, while Receivers in a negative mood are more willing to accept an unfair offer than Receivers in a positive mood. These results are in line with the mood theories that postulate mood as a mediator in the choice of cognitive processing mode, heuristic or systematic, and with the theories that view mood as a signal of the environment, that serves as a regulator of available resources.
Welcome message from author
This document is posted to help you gain knowledge. Please leave a comment to let me know what you think about it! Share it to your friends and learn new things together.
Transcript
Instituto Superior de Psicologia Aplicada
O ESTADO DE ESPÍRITO E O COMPORTAMENTO ECONÓMICO: INFLUÊNCIA NO JOGO DO ULTIMATO
Hugo Manuel Antunes Alves
Tese submetida como requisito parcial para a obtenção do grau de
Mestre em Psicologia Aplicada
Especialidade em Psicologia Clínica
2008
Instituto Superior de Psicologia Aplicada
O ESTADO DE ESPÍRITO E O COMPORTAMENTO ECONÓMICO: INFLUÊNCIA NO JOGO DO ULTIMATO
Hugo Manuel Antunes Alves
Dissertação orientada por Professora Doutora Ana Cristina Monteiro Quelhas
Tese submetida como requisito parcial para a obtenção do grau de
Mestre em Psicologia Aplicada
Especialidade em psicologia clínica
2008
Dissertação de Mestrado realizada sob a orientação da Professora Doutora Ana Cristina Monteiro Quelhas, apresentada no Instituto Superior de Psicologia Aplicada para obtenção do grau de Mestre na especialidade de Psicologia Clínica conforme o despacho da DGES, nº 19673/2006 publicado em Diário da República 2ª série de 26 de Setembro de 2006
Agradecimentos
Gostaria de agradecer ás seguintes pessoas pelo contributo, idiossincrático obviamente,
que cada um teve no apoio à realização deste estudo e do meu percurso académico em
geral:
-À minha Avó. Serás sempre a minha luz e orientação. Esta é para ti!
-À minha Madrinha, por tudo, tudo... Sem ti seria impossível...
-Ao meu Pai, porque estiveste sempre lá, e pelo orgulho que tens demonstrado em mim.
-À minha Mãe, pelo amor que me tens, e porque mostramos que é possível avançar.
-Às minhas colegas, companheiras e, mais que tudo, amigas: Joana e Sofia. Por tudo.
-Ao Nico. Pelo estímulo, pelas nossas conversas. Muitas virão ainda.
-Ao Ricardo. Pela ajuda preciosa que foste.
-À Sarah. Pelas angústias e medos quase sincronizadas que partilhámos.
-À Professora Doutora Ana Cristina Monteiro Quelhas pelo investimento, orientação,
apoio, à vontade e confiança que sempre mostrou.
-Ao Dr. Csongor Juhos. Pela força e orientação que me deste, e pelo extraordinário
suporte que foste na altura de maior angústia.
-À Prof. Doutora Teresa Garcia-Marques pelo apoio e disponibilidade que demonstrou.
-À João. Por tudo.
-Ao Vítor, à Joana e ao Jorge. Porque estiveram sempre ao meu lado e porque a vida
não é só escola.
-À Rita. Pela orientação que foste para o “caloiro” e pela amizade, sempre.
-À Maria. Pela amizade, inquebrável.
-À Ana.
Resumo
Psicologia e Economia são duas disciplinas cientificas que trilharam caminhos
diferentes com relação ao estudo do comportamento humano, muitas vezes com conclusões
incompatíveis. Neste estudo analisámos de que forma o estado de espírito, medido na sua
valência, tem influência no comportamento económico. Para isso foi usado o Jogo do
Ultimato (JU), um jogo de decisão económica, constituído por Proponentes e Decisores, em
que preocupações de justiça e de interesse próprio se opõem. Os resultados, apesar de não
serem estatisticamente significativos, indicam que o estado de espírito é um factor de
influência nas decisões do JU. Os Proponentes em estado de espírito positivo exibem uma
maior proporção de ofertas injustas que os Proponentes num estado de espírito negativo,
enquanto os Decisores num estado de espírito negativo estão dispostos a aceitar uma maior
percentagem de propostas injustas que os Decisores num estado de espírito positivo. Estes
resultados estão em acordo com as perspectivas teóricas que defendem que o papel do
estado de espírito é o mediar o uso de heurísticas ou o uso de processamento sistemático e
também com as teorias que postulam o estado de espírito como sinalizador do meio
envolvente, servindo como orientador para a gestão dos recursos disponíveis.
Palavras-chave: Economia, Estado de espírito, Jogo do Ultimato, Processos
afectivos
Abstract
Psychology and Economics are two scientific areas who have walked different paths
concerning the understanding of human behavior, many times with conflicting results. In this
study we analyzed how mood, measured in it’s valence, affects economic behavior. For that
we used the Ultimatum Game (UG), an economic decision game, played by Proposers and
Receivers, in which concerns about fairness and self interest conflict. The results, although,
not statistically significant, indicate that mood is an influence factor in the decisions made in
the UG. Proposers in a positive mood show a greater proportion on unfair offers than
Proposers in a negative mood, while Receivers in a negative mood are more willing to accept
an unfair offer than Receivers in a positive mood. These results are in line with the mood
theories that postulate mood as a mediator in the choice of cognitive processing mode,
heuristic or systematic, and with the theories that view mood as a signal of the environment,
that serves as a regulator of available resources.
Tabela 1: Valores dos quartis da variável estado de espírito nos grupos positivo e negativo..................................................................................................................................45 Tabela 2: Distribuição do tipo de oferta dos Proponentes por género dos participantes e por estado de espírito induzido...................................................................................46 Tabela 3: Distribuição do tipo de oferta mínima, justa ou injusta, por género dos participantes e por estado de espírito induzido...........................................................48
IV
Lista de figuras:
Figura 1: Árvore de decisão de um Jogo do Ultimato..................................................13 Figura 2: Distribuição das idades dos participantes.....................................................40
Figura 3: Médias do estado de espírito nos 3 grupos (positivo, neutro e negativo) antes e depois da realização da tarefa.........................................................................................44 Figura 4: Médias do estado de espírito dos dois novos grupos (positivo e negativo) antes e depois da realização da tarefa........................................................................46 Figura 5: Percentagem de ofertas justas e injustas no grupo de Proponentes em estado de espirito positivo........................................................................................................47 Figura 6: Percentagem de ofertas justas e injustas no grupo de Proponentes em estado de espírito negativo.......................................................................................................47 Figura 7: Percentagem de ofertas mínimas justas e injustas no grupo de Decisores em estado de espírito positivo. .............................................................................................49 Figura 8: Percentagem de ofertas mínimas justas e injustas no grupo de Decisores em estado de espírito negativo. ............................................................................................49
V
Lista de Anexos:
Medidas de Controlo...............................................................................................................63
Estatísticas descriptivas dos valores médios do estado de espírito dos 3 grupos iniciais.....................................................................................................................................66
ANOVA para comparação dos valores do estado de espírito dos 3 grupos iniciais...............67
Teste t-student para comparação das médias do estado de espírito nos dois grupos criados. ................................................................................................................................................68
Teste t-student para comparação dos valores médios das ofertas dos dois grupos de Proponentes em estado de espírito positivo e negativo.........................................................69
Teste qui-quadrado para comparação das proporções das ofertas dos dois grupos de Proponentes. .........................................................................................................................70
Teste t-student para comparação dos valores médios das ofertas dos dois grupos de Decisores em estado de espírito positivo e negativo. ...........................................................71
Teste qui-quadrado para comparação das proporções das ofertas mínimas dos dois grupos de Decisores. .........................................................................................................................72
ANOVA do tipo 2 (Positivo e Negativo) x 2 (Proponente e Receptor) para análise da variação do estado de espírito entre antes e depois da tarrefa............................................................73
VI
1 1.
O modelo económico clássico prevê que os indivíduos se comportem,
consistentemente, de forma a maximizar os seus possíveis ganhos ou lucros. Contudo
são vários estudos têm demonstrado que tal não acontece. Vários têm sido os
instrumentos desenvolvidos para estudar as diversas variáveis que de alguma forma
explicam a diferença entre as decisões e comportamento observados e aqueles
previstos pela teoria clássica. Contudo, pouca atenção tem sido posta nas
componentes afectivas que estão envolvidas nessas decisões e comportamentos. O
presente estudo vem tentar contribuir para um melhor conhecimento da influência dos
processos afectivos nesse domínio. Nomeadamente, pretendemos estudar a influência
de estados afectivos de baixa intensidade, como o estado de espírito, em decisões que
envolvem a divisão de uma quantia de dinheiro.
O objectivo do presente estudo foi então perceber de que forma o estado de
espírito regula o comportamento no Jogo do Ultimato (JU). O JU é uma ferramenta
experimental desenvolvida com o intuito de estudar decisões económicas. No JU o
experimentador dá um determinado valor, o pote, ao primeiro jogador, chamado
Proponente, e pede-lhe que divida esse valor com um outro jogador, o Receptor. Se o
segundo jogador decidir aceitar a oferta, cada um ficará com o valor que o primeiro
jogador dividiu. Se o Receptor não aceitar a divisão, nenhum dos jogadores recebe
nada. Os jogadores não se conhecem e são mantidos anónimos um do outro para
assegurar que se excluem os efeitos derivados da reciprocidade.
De acordo com o modelo do estado de espírito-como-informação (Schwarz,
2001) e com as perspectivas evolutivas sobre a função do estado de espírito (Nesse,
1991, 2000) as pessoas usam o seu estado de espírito como pista para avaliar a
situação presente: em estado de espírito positivo, isso informa-as de que a situação
não apresenta problemas e que não há necessidade urgente de proteger ou reunir
recursos podendo ter uma atitude mais descontraída e arriscada; em estado de espírito
negativo, isso significa que a situação é problemática ou perigosa, necessitando uma
análise mais profunda para que seja possível garantir a manutenção ou o aumento dos
seus recursos.
Desta forma, prevemos que os Proponentes em estado de espírito positivo
perceberão a situação como sendo segura, aumentando a sua confiança de que a
oferta será aceite e ignorando a hipótese de rejeição por parte do Receptor.
Esperamos assim que proponham valores mais baixos para o Receptor seguindo o seu
interesse próprio focando-se no valor que conservam para si, tentando ganhar o
máximo possível do pote, quando comparados com os participantes em estado de
espírito negativo. Proponentes em estado de espírito negativo devem perceber a
2 1.
situação como mais problemática, focando-se assim na hipótese de rejeição e fazendo
dessa forma ofertas mais equitativas que as efectuadas pelos participantes em estado
de espírito positivo. Em relação à justiça da oferta, definida como injusta quando
menos de metade do pote e justa ou altruista quando metade ou mais, esperamos que
os participantes em estado de espírito positivo façam uma maior proporção de ofertas
injustas que os participantes em estado de espírito negativo, visto o seu estado de
espírito lhes transmitir a informação de que a situação é segura ignorando a hipótese
de rejeição por parte do Receptor.
Em relação aos Receptores, propomos que a quem foi induzido estado de
espírito positivo perceberão a situação como mais segura e estarão mais confiantes,
exigindo assim um valor mais elevado que os participantes em estado de espírito
negativo, não considerando a hipótese de o Proponente fazer ofertas baixas e que os
Receptores a quem foi induzido o estado de espírito negativo perceberão a situação de
forma mais problemática, e tentarão maximizar as suas hipóteses de ganhar algum
dinheiro, definindo valores mais baixos, que os definidos pelo grupo em estado de
espírito positivo, para as ofertas que estão dispostos a aceitar. Com relação à justiça
da oferta, esperamos que os Receptores em estado de espírito negativo estejam
dispostos a aceitar uma maior proporção de ofertas injustas, menores que metade do
pote, que os Receptores em estado de espírito positivo.
Para este estudo iremos apresentar uma revisão de literatura que irá focar-se
essencialmente nos tópicos da Psicologia Económica e dos construtos e teorias
associadas ao estudo dos processos afectivos.
Psicologia Económica
O presente estudo partilha da recente tentativa de reforçar a ligação entre
duas disciplinas (Zwick, Erev & Budescu, 1999), a Psicologia e a Economia, que têm
como objecto de estudo e ponto de intersecção o comportamento humano, mais
especificamente o comportamento económico. Um dos filósofos que, de forma mais
marcante, tentou perceber o comportamento humano na sua componente mais
económica, foi Adam Smith (Barracho, 2001). Duas das suas obras são essenciais na
compreensão da história e da ligação entre Psicologia e Economia. Elas são: “A
Riqueza das Nações”, a sua obra mais famosa e “Tratado dos Sentimentos Morais”, o
seu primeiro livro.
Em “A Riqueza das Nações”, Adam Smith (1999 [1776], pag. 95) afirma:
Não é da bondade do homem do talho, do cervejeiro ou do padeiro que
3 1.
podemos esperar o nosso jantar, mas da consideração em que eles têm o seu
próprio interesse. Apelamos, não para a sua humanidade, mas para o seu
egoísmo, e nunca lhes falamos das nossas necessidades, mas das vantagens
deles.
Esta visão do ser humano como alguém apenas preocupado com o seu ganho
tornar-se-ia um dos conceitos centrais na teoria económica posterior. Esta
simplificação, embora por vezes útil no sentido de construir hipóteses testáveis, é o
primeiro assomo do homo economicus que dominou o paradigma económico a partir
John Stuart Mill (Barracho, 2001).
Contudo, em “Teoria dos Sentimentos Morais” a visão do homem apresentada
por Smith (1999 [1759], pág. 64) é bastante diferente e complementar da oferecida
anteriormente:
Por muito egoísta que seja o homem, há evidentemente alguns princípios na
sua natureza que o fazem interessar-se pela sorte dos outros e precisar da
felicidade deles, embora nada ganhe com ela para além do prazer de os ver
felizes. É deste tipo a pena ou compaixão, emoção que sentimos em relação à
infelicidade dos outros, quando a observamos ou somos levados a pensar nela
de forma muito realista. Que ficamos tristes com a tristeza dos outros é facto
óbvio demais para necessitar provas, porque este sentimento, tal como outras
paixões originais da natureza humana, não se limita de forma alguma aos
virtuosos ou humanitários, embora eles possam experimentá-las através de
uma sensibilidade mais refinada. Nem o pior rufião nem o criminoso mais
endurecido estão completamente isentos dela.
Neste livro, Smith lança a semente dos modelos de processamento dual que
são agora centrais no estudo do comportamento humano. Para ele, a generalidade dos
comportamentos dependem de dois factores, as paixões, que englobam a fome, o
sexo, emoções como raiva e medo, e sensações como a dor; e aquilo a que chamou o
“espectador imparcial”, que garantiria a capacidade de adiar as recompensas imediatas
em prol de ganhos a longo prazo. Seria ele que seria responsável pela “...auto
negação, auto governo e pelo comando das paixões...” (Smith, 1999 [1759]).
Decouvieres (1998; cit. por Barracho, 2001) considera a “Teoria dos
sentimentos morais” o primeiro estágio da Psicologia Económica.
Num artigo recente, Ashraf, Camerer e Loewenstein (2005) enunciam cinco
áreas exploradas por Smith na sua primeira obra, que são coincidentes com linhas de
investigação actuais, algumas delas ligando comportamento económico com
pressupostos psicológicos. Elas são: aversão ao risco, escolha inter-temporal, auto-
controlo, excesso de confiança, altruísmo e justiça (fairness).
4 1.
A partir de Adam Smith, e em parte devido ao impacto que “A Riqueza das
Nações” teve na doutrina económica da época e à pouca atenção que a “Teoria dos
Sentimentos Morais” recebeu, a perspectiva do comportamento humano como dirigido
pelo maximizar do lucro e guiado pelo puro interesse próprio tomou conta do
pensamento económico, que considerava que estas condições eram suficientes para o
mercado se auto-regular, a chamada “mão invisível”, e tornou-o relativamente
insensível à investigação efectuada na área da psicologia.
Segundo Bruni e Sugden (2005), outro dos responsáveis por esta separação
foi Vilfredo Pareto, que no início do século passado, argumentou que a economia, não
só não necessitava da psicologia como esta devia ser activamente ignorada. Esta
asserção baseava-se no pressuposto de que as escolhas efectuadas representavam as
preferências reais dos indivíduos não sendo necessário inferir motivações ou
componentes psicológicas. Contudo, reconhecia que este pressuposto apenas se
verificava em situações que se repetissem, pois dependiam de aprendizagem. Logo
aqui se verifica uma vulnerabilidade como teoria geral, devido ao carácter único e
definitivo de muitas das decisões económicas, o que torna difícil a aprendizagem por
tentativa e erro (Camerer, 2005).
Apesar da asserção de Pareto, algumas figuras do pensamento económico
tinham continuado a introduzir, de forma mais ou menos consciente, noções
psicológicas na forma de estudar o comportamento económico. Uma delas foi Daniel
Bernoull (1738; cit. por Kahneman, 2003a, 2007), que introduziu a noção de utilidade
esperada. Entendia Bernoulli que, numa situação de risco, a medida a ser usada para
avaliar as preferências de cada indivíduo deveria ser o prazer ou felicidade ele obteria
de cada uma das opções, multiplicada pela probabilidade associada a cada uma delas.
Nesta visão, o Receptor do JU valoriza os resultados financeiros como se fossem
níveis de riqueza e ordena as opções através da utilidade esperada de cada um
desses estados de riqueza (Kahneman, 2003b). A sua escolha é assim independente
do seu nível de riqueza anterior e deve ser guiada, exclusivamente, pelo desejo de
aumentar a sua riqueza.
Stanley Devons foi o responsável pelo aparecimento do conceito de utilidade
marginal, fundando assim a escola marginalista, em conjunto com Karl Menger e que
durante o fim do século XIX e no inicio do Sec XX dominou o pensamento económico
(Barracho, 2001). Utilidade marginal é definida como (Nunes, 2007):
…o acréscimo de utilidade que se verifica quando é consumida mais uma unidade
do bem. Enquanto não é atingida a saciedade, a utilidade marginal é sempre
positiva, ou seja, existirá sempre algum acréscimo de utilidade quando é consumida
mais uma unidade do bem. Contudo, devido à Lei das Utilidades Marginais
5 1.
Decrescentes, este acréscimo de utilidade é cada vez menor. Por exemplo, quando
se consome a primeira maçã, é retirada uma determinada utilidade; ao consumir a
segunda maçã a utilidade total aumenta mas o incremento é inferior ao que se
verificou com o consumo da primeira maçã; quando se consome a terceira maçã,
supondo que ainda não se atingiu a saciedade, a utilidade volta a aumentar mas o
incremento volta a reduzir-se.
Em 1899, Thorstein Veblen publica “Theory of Idle Class”, no qual afirma que o
impulso básico do homem é em direcção ao status, sendo que são a época e as
condições sociais que medeiam os meios usados para o alcançar. Criticou também a
teoria da racionalidade visto pensar que as paixões e emoções eram determinantes na
orientação do comportamento humano (Barracho, 2001).
No início, a Psicologia Económica estava mais ligada às noções de
propriedade e posse, tendo evoluindo posteriormente para a análise de outras
componentes do comportamento económico, como os limites do processamento
humano.
Herbert Simon (1967) propõe uma abordagem ao estudo da emoção centrada
na noção de racionalidade confinada (“bounded rationality”), como reacção à noção de
utilidade esperada desenvolvida no âmbito das teorias económicas da tomada de
decisão. A proposta de Simon é que as representações e processos mentais são
diferentes das assumpções da racionalidade clássica, na qual um agente conhece a
informação exacta que necessita para computar, em princípio, qualquer utilidade que
deseje. A sua ideia é que os organismos estão adaptados ao seu ambiente de tal
modo, que a capacidade cognitiva de um organismo é suficiente para lhe permitir
sobreviver nesse ambiente. Não importa que o organismo viole as normas da
racionalidade desde que consiga encontrar comida e consiga evitar o perigo. Ou seja,
um organismo satisfaz um determinado nível de aspiração, no sentido de encontrar
uma solução suficientemente boa perante as condições em que se encontra, em vez de
maximizar, no sentido de tentar encontrar a solução óptima (Simon, 1956; Simon,
1967). Isto implicava a necessidade de heurísticas que impedissem um impasse
quando as possibilidades a analisar ultrapassassem as capacidades cognitivas.
O reconhecimento do facto que os organismos são limitados em termos de
recursos, quer físicos (como energia e tempo), quer cognitivos (como capacidade de
processamento e de memória), é um dos pontos de partida para a proposta seguinte,
que consiste na possibilidade da emoção desempenhar um papel importante para a
racionalidade, num contexto de limitação de recursos (Simon, 1967). De acordo com
Simon, sendo o sistema nervoso limitado em termos de capacidade de processamento
e de memória, um evento no ambiente, uma memória ou uma motivação deve poder
6 1.
interromper o processamento actual. Por exemplo, a presença de um predador pode
originar novos objectivos no sentido de lidar com a situação, entre outras
possibilidades, gerando uma resposta do tipo lutar ou fugir (“fight or flight”). Outros
efeitos da interrupção através de um estímulo incluem a mobilização fisiológica
(“arousal”) e a produção de sensações emocionais.
Simon estava principalmente interessado no processo de interrupção de
objectivos, com a consequente mudança de comportamento, em vez de nos fenómenos
fisiológicos ou subjectivos. Ou seja, a interrupção é necessária para garantir os
requisitos de comportamento em tempo-real de um organismo. No entanto, Simon
(1967) distingue entre interrupção adaptativa e não adaptativa. Os estímulos
emocionais são considerados essencialmente interrupções adaptativas, ajudando o
organismo a concretizar os seus objectivos. No entanto, em certos casos onde existe
persistência ou intensidade excessiva, considera que poderá ser não adaptativa.
Outro momento importante no estudo dos processos de tomada de decisão, e
que vem construir em cima da utilidade esperada de Bernoulli, é a Teoria Prospectiva
de Kahneman e Tversky (1979, 2007). São três os aspectos centrais da teoria: a
aversão ao risco, a não-linearidade das preferências e o enquadramento. A aversão ao
risco significa, de forma simplificada, que tem mais valor para nós evitar a perda de 10
euros do que ganhar 10 euros. A não-linearidade das preferências está ligada com a
propriedade da transitividade. Se A é preferido a B e B é preferido a C, então se as
preferências fossem lineares, A deveria ser preferido a C, contudo isto nem sempre se
verifica quando testado experimentalmente. A forma como as opções são apresentadas
é outro dos factores que se descobriu ser essencial na tomada de decisão. Está muitas
vezes ligada à aversão ao risco, pois enquadrar as opções como uma perda ou como
um ganho reverte a decisão, sem que a estrutura abstracta do problema seja diferente.
Estes princípios vão contra a consideração clássica do Homem económico.
Numa análise histórica, Farr (1996) defende que ancestrais são as figuras do
passado que criaram ou analisaram ideias essenciais no corpo de uma disciplina,
enquanto fundadores podem ser descritos como aqueles que para além das ideia são
também responsáveis por lhes dar uma forma mais institucional, procurando sintetiza-
las num corpo coerente e estruturado. Neste sentido considera Adam Smith e John
Stuart Mill com sendo ancestrais, figuras precursoras de uma forma de pensar a
economia mais ligada à psicologia e Gabriel Tarde e Thorstein Veblen como aqueles
que mais se aproximam da imagem de fundadores pela sua tentativa de sistematizar a
abordagem a estas temáticas e pelo impulso de investigação que deixaram depois de
si.
A expressão Psicologia Económica foi cunhada por Gabriel Tarde num artigo
7 1.
de 1881 para a revista Filosófica. Além disso, Gabriel Tarde é considerado o pai da
Psicologia Económica como disciplina definida. A publicação do curso - que ministrava
no Colégio de França – deu-se em dois volumes com o nome de Psicologia
Económica. Era seu objectivo explicar o lado subjectivo dos fenómenos económicos.
Para isto, propunha ser necessário estudar 3 mecanismos que considerava essenciais:
a imitação, a repetição e a inovação (Barracho, 2001).
Assumpções da Teoria Económica Clássica
Rabin (2002) enuncia 7 assumpções da Economia que as verificações
experimentais provaram ser falsas. Para a teoria económica clássica, as pessoas:
- São processadores baieseanos de informação.
- Têm preferências estáveis e bem definidas.
- Maximizam a sua utilidade esperada.
- Aplicam desconto exponencial quando reflectem sobre o bem-estar actual e
futuro.
- São orientadas pelo interesse próprio, no sentido estrito da noção.
- Têm preferências sobre resultados, não sobre alterações.
- Têm apenas uma apetência funcional ou instrumental pelas crenças e pela
informação.
Estas premissas constituem o perfil geral do que se convencionou chamar de
Homo Economicus (Thaler, 2000).
Diferenças entre as Duas Disciplinas
Segundo Zwick et al. (1999), as várias áreas nas quais se centram as
diferenças de perspectiva que mantêm a grande massa destas duas disciplinas
separadas são:
- Escassez: segundo a visão económica, a escassez existia ao nível dos
recursos do meio, sendo a gestão desses recursos a dimensão de maior interesse,
enquanto na visão psicológica a escassez existe ao nível de recursos internos,
nomeadamente cognitivos.
- Normatividade vs. Descriptividade: os mesmos autores afirmam que, embora
seja tentador afirmar que a ênfase da perspectiva económica está na normatividade,
ou seja, como se deviam comportar os indivíduos, enquanto a da perspectiva
8 1.
psicológica a descriptividade, ou seja como se comportam os indivíduos, esta divisão
não é linear como aparenta pois os estudos efectuados em ambas as áreas
reconhecem a importância de ambas as dimensões.
-Importância relativa da generalização e precisão: Reconhecendo à partida
que todos os cientistas procuram que os seus modelos cumpram ambos os conceitos,
Zwick et al. (1999) afirmam que a sua importância relativa difere conforme a área de
estudo. As teorias económicas tradicionais dão prioridade à generalização dos
modelos, esforçando-se para que um pequeno número de princípios gerais, sejam
aplicáveis ao maior número possível de situações. As teorias psicológicas à muito
deixaram de perseguir teorias gerais do comportamento humano, tendo-se focado em
domínios específicos da cognição e do comportamento, tentando estabelecer quais os
factores contextuais e variáveis inter e intra-pessoais, que afectam esses domínios.
Esta discriminação ao nível de análise dos factores de influência reflecte a
preocupação das teorias psicológicas com a precisão, e a importância atribuída à
coincidência das previsões teóricas com os resultados experimentais.
- Racionalidade: enquanto os psicólogos adoptam uma visão mais maleável da
racionalidade, para os economistas esta visão é estrita. Ambos concordam, de forma
geral, que a racionalidade consiste em que o indivíduo procure cumprir os seus
objectivos e metas de forma consistente. Embora este ponto comum, aquilo que é
considerado racional na perspectiva económica presume que o indivíduo dispõem de
toda a informação sobre a situação, tem recursos cognitivos ilimitados e motivação
para processar essa informação e usa de axiomas lógicos nesse processamento,
dando especial importância ao papel das escolhas conscientes. Já a perspectiva
psicológica põem ênfase nas limitações, quer a nível de recursos, quer a nível do papel
dos processos conscientes e inconscientes na tomada de decisão. Para os psicólogos,
as emoções e outros processos que ultrapassam a análise, baseada apenas em
pressupostos lógicos, proposta pelos economistas, são determinantes nos
julgamentos, escolhas e decisões que efectuamos.
Outro dos temas ligados a estas diferenças tem a ver com o tipo de
racionalidade estudada pelos economistas e pelos psicólogos. Para os psicólogos essa
racionalidade é avaliada ao nível dos processos empregues, racionalidade processual,
e para os economistas tem a ver com os resultados, racionalidade substantiva.
-Incentivos: o estudo dos incentivos é uma das fundações da teoria económica
comum, sendo prática comum o pagamento de acordo com o resultado das decisões
do participante. Este método facilita a análise dos dados pois reduz a estrutura de
incentivos a uma única medida de variável, sendo assim mais facilmente estudável. Na
psicologia, os incentivos não são unicamente definidos pelo pagamento monetário, e
9 1.
têm muitas vezes como força motriz motivações sociais induzidas, como por exemplo,
pedir ao sujeito que imagine que é um médico ou um gestor que tem de tomar uma
determinada decisão.
-Aprendizagem e Equilíbrio: o tipo de racionalidade que cada abordagem
privilegia, substantiva na economia e processual na psicologia, é reflectido aqui
também. A teoria económica tem maior interesse sobre os estados de equilíbrio, como
definidos pela teoria dos jogos, ou seja, no resultado final de repetidas interacções ou
de uma interacção em que os jogadores têm acesso a toda a informação. A
aprendizagem na teoria económica apenas tem sido estudada com o objectivo de
justificar os conceitos de equilíbrio que surgem nas diversas situações estudadas.
Na psicologia, a aprendizagem recebe muita atenção e os mecanismos ou
processos pelos quais os sujeitos aprendem são centrais para qualquer teoria
psicológica, seja qual for o seu enfoque específico. Embora isto, é de extrema
importância e abordagem comum a forma como os indivíduos se comportam perante
situações novas e de que forma processam essa situação.
-Cognição a quente vs. Racionalidade fria: até recentemente, grande parte dos
estudos, quer na economia quer na psicologia, procuravam a todo o custo a
“neutralidade” dos sujeitos, ou seja, que estes não estivessem em estados afectivos e
emocionais que pudessem alterar o seu procedimento. Grande parte dos estudos
económicos ainda assim é. Embora a tentativa inicial de manter as influências
afectivas fora do laboratório psicológico tenha permitido estudar profundamente vários
fenómenos, foi necessário abrir o espaço experimental a esta componente, que se veio
a revelar uma fonte fantástica de efeitos, muitas vezes paradoxais, sendo hoje uma
das áreas de investigação mais frutíferas ao nível da psicologia (Damásio, 1994).
Dois Novos Tipos de Abordagem da Economia
A economia experimental é um ramo da Economia que estuda as previsões da
teoria económica clássica com actores reais. As experiências realizadas nesta área
são constituídas por três elementos centrais: ambiente que envolva relações de
valor/custo, uma instituição que fixa as regras das trocas e o comportamento dos
participantes (“Experimental Economics”, 2008).
A economia comportamental, por outro lado, centra o seu trabalho na
modelação dos limites à racionalidade, motivação e interesse próprio, procurando a
partir daí introduzir assumpções mais realistas acerca do comportamento humano
(Camerer, 2005).
10 1.
A economia comportamental não é assim um sub campo da economia, mas um
estilo de modelação e uma forma de pensar e entender várias questões e problemas
económicos. Embora os seu trabalho e progresso seja feito através de estudos
experimentais, não é a mesma coisa que economia experimental.
Uma das ferramentas usadas pela economia clássica e hoje também usada,
com diferentes premissas, pela economia comportamental é a Teoria dos Jogos.
Teoria dos Jogos
A Teoria dos Jogos é um ramo da matemática aplicada que procura analisar a
tomada de decisão de agentes, os “jogadores”, que se afectam mutuamente nas suas
interacções. É muitas vezes considerada o corolário da teoria económica clássica pois
presume, na sua forma inicial e numa tentativa de simplificar a análise das interacções,
do interesse próprio absoluto de cada jogador.
Uma definição de jogo é apresentada por Heap e Varoufakis (1995), para estes
autores qualquer interacção entre agentes que seja governada por um grupo de regras
especificando os movimentos possíveis para cada participante e um grupo de
resultados para cada possível combinação de movimentos pode ser considerada um
jogo.
Numa definição menos académica, César das Neves (1995) define um jogo
como:
...situação onde um agente é colocado perante uma situação onde deve
escolher entre várias alternativas mas onde o resultado final de cada uma
dessas alternativas não está predeterminado; ele depende da acção de outros
agentes. Assim, a decisão que cada pessoa toma tem de entrar em conta com
a decisão tomada pelos demais. E como esta situação se verifica para todos
os participantes no “jogo”, então a decisão de cada um influencia as decisões
dos demais e é influenciada por elas, numa teia profunda de inter-relações e
incertezas.
A obra que marca o início desta teoria como disciplina cientifica é “Teoria dos
Jogos e Comportamento Económico” de von Neuman e Morgenstern de 1944 (Neves,
1995). Apesar das limitações iniciais, que lhe garantia aplicabilidade apenas a uma
zona reduzida de situações, estes problemas foram ultrapassados, nomeadamente
através do contributo de John Nash que propôs um critério que permitia avaliar a
consistência mútua das estratégias dos jogadores, o que daria origem à noção de
equilíbrio de Nash. Este equilíbrio refere-se ao momento em que nenhum dos
11 1.
indivíduos, egoisticamente motivados, tem interesse em mudar de estratégia.
Hoje a sua aplicabilidade estende-se desde a Economia, a Biologia Evolutiva,
o estudo dos mercados bolsistas, Ciência Politica, Estratégia Militar, Psicologia ou
Sociologia.
A Teoria dos Jogos permite estudar diversos tipos de interacções, tendo dado
origem a uma série de jogos desenvolvidos para estudar as diversas vertentes do
comportamento humano.
Um dos jogos mais conhecidos e estudados pela teoria dos jogos é o dilema
do prisioneiro. Este jogo pode ser descrito, por exemplo, da seguinte forma: ”Dois
suspeitos de um assalto a um banco são presos e impedidos de comunicar. A polícia,
sem provas suficientes para os incriminar, faz-lhes uma proposta. É dada a
oportunidade a cada um de incriminar o seu companheiro. Se nenhum deles incriminar
o outro, saem ambos em liberdade, visto a policia não ter provas suficientes. Ou seja,
comportamento cooperativo entre ambos os suspeitos contra a policia, não acusando o
outro, fará com que sejam libertos. Se um acusar e o outro não, o que acusar verá a
sua pena reduzida para 2 anos e o que não confessar terá a sua pena aumentada para
10 por se recusar a colaborar com a polícia. Se se acusarem mutuamente terão a pena
habitual para um assalto a um banco, 5 anos.”
A melhor estratégia seria ambos cooperarem saindo assim em liberdade,
contudo nenhum deles sabe qual será a opção do outro. Assim sendo, e excluindo a
estratégia de cooperação mútua, qualquer um fará melhor em acusar o companheiro.
Este dilema aborda o tema da confiança e procura mostrar os mecanismos que estão
por detrás de decisões que dependem não só do da pessoa à qual se apresenta a
escolha mas também das decisões de outros elementos dos quais apenas se pode
inferir o seu comportamento provável. Devido a incorporar a incerteza proveniente da
inferência de estados mentais e de os incluir no nosso processo de decisão, tornou-se
um exemplo clássico da forma da teoria dos jogos abordar os processos de interacção
social ou de decisões que envolvem inferir em relação aos estados mentais e crenças
dos outros elementos envolvidos.
Outros jogos criados pelos investigadores e sobre os quais a teoria dos jogos
faz previsões, partindo das assumpções da teoria clássica, que não se verificam, são o
Jogo do Ultimato, o Jogo do Ditador e o Jogo dos Bens Comuns.
Jogo do Ultimato
O Jogo do Ultimato (JU) é uma situação experimental criada para estudar o
12 1.
desvio do comportamento humano em relação à teoria dos jogos. Esta assume o
interesse próprio como único orientador do comportamento dos jogadores, contudo as
verificações experimentais não corroboram essa perspectiva.
O jogo na sua versão inicial é muito simples. Envolve dois jogadores a quem é
atribuída uma determinada quantia, o pote. Ao primeiro jogador, habitualmente
chamado Proponente, pede-se que efectue a divisão dessa quantia com o segundo
jogador, chamado Receptor. O Receptor pode aceitar ou rejeitar essa divisão, caso a
aceite, o valor em jogo é dividido conforme a proposta do primeiro jogador, se rejeitar a
proposta ambos os jogadores recebem zero. Os jogadores não se conhecem nem
contactam um com o outro de forma directa, o que garante o anonimato; e cada oferta
ou decisão é definitiva, logo não existe possibilidade de negociação. Para além disso
ambos os jogadores têm conhecimento total das regras do jogo (Camerer & Thaler,
1995, Guth, Schmittberger & Schwarze, 1982).
O JU pode ser jogado de duas formas diferentes (Solnick & Schweitzer, 1999):
o método do jogo e o método da estratégia. No método do jogo, as acções são
sequenciais, ou seja o Proponente faz uma proposta, o receptor vê essa proposta e
decide se a aceita ou não. Se a aceitar, cada um fica com o valor proposto, se a
rejeitar, ambos ficam com zero. No método da estratégia as decisões são simultâneas.
O Proponente decide uma divisão e ao mesmo tempo o receptor decide qual o valor
mínimo que está disposto a aceitar. Se o valor da proposta for superior ou igual ao
valor mínimo, dividem o pote de acordo com a proposta. Se for inferior cada um fica
com zero. Foi este o método que escolhemos para o nosso estudo devido à facilidade
com que permite recolher uma grande quantidade de respostas e por nos estudos
anteriores realizados com este método os resultados estarem de acordo com os
resultados obtidos pelo método do jogo, em que os jogadores tomam as decisões em
tempo real.
A previsão efectuada pela teoria dos jogos afirma que, sendo ambos os
jogadores maximizadores de rendimentos, a oferta do Proponente deveria ser a mais
baixa possível e o Receptor deveria aceitar qualquer proposta efectuada. As
verificações experimentais revelaram um quadro muito diferente. A média das ofertas
dos Proponentes normalmente situa-se entre os 30 e os 40 por cento do pote, com a
moda a ser frequentemente uma divisão de 50%-50%. As respostas dos Receptores
também não são coincidentes com a perspectiva prescritiva, tendo como maior desvio,
o facto de habitualmente as ofertas abaixo dos 30 por cento do pote serem rejeitadas. (
Camerer & Tahler, 1995). Na figura 1 mostramos uma árvore de decisão relativa a um
possível JU.
13 1.
Qual o valor que deseja conservar para si?
Figura 1: Árvore de decisão de um Jogo do Ultimato
Jogo do ditador
Um outro jogo usado para estudar o comportamento económico é o Jogo do
Ditador (JD). Este jogo é muito similar ao JU, contudo o segundo jogador nesta
situação não tem o poder de rejeitar a oferta, sendo completamente dependente da
decisão do Proponente. Este jogo foi criado por Kahneman, Knetsch e Thaler (1986)
com o intuito de estudar a possibilidade de o comportamento dos proponentes do JU
ser unicamente condicionado pelo medo de rejeição das ofertas mais baixas. Assim,
retirando a possibilidade de rejeição da proposta, e se as propostas efectuadas no JU
apenas dependessem do medo de rejeição, as propostas no Jogo do Ditador deveriam
ser em conformidade com a teoria clássica económica, que prevê que os indivíduos
sejam unicamente interessados com o aumentar dos seus recursos. Nesta primeira
versão do jogo do ditador, apenas eram dadas duas hipóteses de divisão ao
proponente: 18 dólares para si e 2 dólares para o receptor, ou 10 dólares para cada. A
previsão da economia clássica e da teoria dos jogos não se verificou. Mesmo nesta
situação de anonimato e poder absoluto existia uma preocupação com a justiça da
divisão, e a maioria dos jogadores, 76 por cento, escolheram a divisão equitativa
1 0 2 0 3 0 4 0 5 0 6 0 7 0 8 0 9 0
9 0 8 0 7 0 6 0 5 0 4 0 3 0 2 0 1 0
9 8 1 2 3 4 5 6 7
Oferece:
1 2 9 8 7 6 5 4 3
14 1.
enquanto 24 por cento escolheram a divisão mais lucrativa. Outros estudos realizados
com este jogo reproduzem esta preocupação (Camerer & Thaler, 1995)
Jogo dos Bens Comuns
Um outro jogo bastante utilizado nesta área é o jogo dos bens comuns. Neste
jogo, que envolve vários jogadores e várias repetições, cada um deve decidir como
dividir uma determinada quantia entre si e um pote comum que depois de ter o seu
valor multiplicado por um factor superior a 1 será dividido pelos jogadores. Aqui a
prescrição da teoria dos jogos é de que cada indivíduo contribua, desde o inicio, com o
mínimo possível para esse pote comum, pois se todos estão interessados em aumentar
o seu rendimento não teriam razões para partilhar nada num pote comum, devido ao
risco de que algum jogador não contribua. O que se verificou experimentalmente foi
que nas primeiras rondas os jogadores contribuem para o pote comum, contudo com o
decorrer do jogo essas contribuições diminuem até que se tornam zero. Os
investigadores argumentam que este padrão se deve a uma tentativa inicial de
colaboração por parte dos jogadores, contudo ao verificarem que nem todos
contribuem de forma igual, essa tentativa de colaboração desfaz-se dando origem ao
interesse próprio puro.
Teorias de Matriz Evolutiva
As teorias de biologia evolutiva prevêem directamente uma preocupação pelos
interesses dos nossos parentes e na medida proporcional com o património genético
que partilhamos com eles, a que se chama selecção por parentesco. Contudo, cuidar
e/ou ajudar pessoas não relacionadas geneticamente com o próprio, e muitas vezes
até desconhecidas, é uma acção humana comum que exige uma explicação mais
complexa em termos evolutivos (Gintis, Bowles, Boyd & Fehr, 2003).
Várias teorias foram propostas para explicar este fenómeno. Algumas estão
relacionadas com o nível ao qual operam os princípios da selecção natural, com alguns
investigadores a defenderem que ela se efectua ao nível do grupo, ao nível do
indivíduo, ao nível dos genes ou a vários níveis simultaneamente.
Uma dessas teorias é a do altruísmo recíproco. O conceito foi criado por
Robert Trivers em 1971 e desenvolvido por investigadores como Robert Axelrod e W.D
Hamilton (Dawkins, 2003).
15 1.
Altruísmo recíproco é definido como um comportamento cooperativo entre
indivíduos não relacionados (sem relações de parentesco) e em que todas as partes
envolvidas saem beneficiadas. A forma mais usada para estudar este conceito tem sido
o uso de jogos entre dois elementos em que ambos podem adoptar 2 tipos de
estratégias, cooperativa ou competitiva (Cosmides & Tooby, 1992). Neste tipo de jogos
a estratégia mais benéfica para ambos os jogadores a longo prazo é “tit for tat” que
pode ser traduzida para “olho por olho”. Esta estratégia consiste em o jogador cooperar
na primeira jogada e a partir dai ser recíproco em relação à estratégia do outro. Se o
oponente adopta uma estratégia competitiva, é essa a estratégia que o jogador
adoptará também. Se adoptar uma estratégia cooperativa é essa estratégia que
receberá do outro jogador. Richard Dawkins (2003) descreve, em “O Gene Egoísta”, o
seu influente livro que tem por tema a biologia evolutiva, de que forma as estratégias
de este género podem ser evolutivamente estáveis e “escolhidas” pela selecção
natural.
São três as condições necessárias para que o altruísmo recíproco possa surgir
(Trivers, 1989). As condições sociais não podem favorecer o anonimato, visto que a
reciprocidade funciona de forma mais eficaz em grupos pequenos nos quais é mais
fácil detectar quem “anda à boleia” dos outros. Outra das condições é um elevado nível
de dependência mútua entre os membros do grupo. Isto significa que os indivíduos
devem necessitar ajuda uns dos outros para que sejam bem sucedidos. E por fim, não
deve existir uma estrutura hierárquica rígida, para que seja possível a todos os
elementos prestar ajuda aos outros. Se estas condições se verificarem existem
condições no meio para que relações baseadas no altruísmo recíproco se
desenvolvam. Contudo é também necessário que os indivíduos tenham capacidades
cognitivas suficientes para que possam reconhecer os outros elementos do grupo e
recordarem interacções anteriores (de Vos & Zeggelink, 1997) e devem ser capazes de
pensar em termos de custos e ganhos, percebendo os desejos e intenções dos outros
e comunicando os nossos de forma eficaz (Cosmides & Tooby, 1992). Trivers (1971)
afirma que são as emoções sociais como a raiva, o orgulho, a vergonha ou a culpa que
permitiram ultrapassar o problema evolutivo do comprometimento, isto é, foi o carácter
incontrolável destas expressões emocionais que permitiu que as trocas sociais se
desenvolvessem na nossa história evolutiva.
Outra das abordagens evolutivas de este fenómeno comportamental e
alternativa à teoria do altruísmo recíproco é a reciprocidade forte (Gintis, Bowles, Boyd
& Fehr, 2003;). Segundo esta perspectiva o comportamento no JU pode ser explicado
através de uma predisposição para cooperar com os outros e punir aqueles que violam
as normas de cooperação. Esta punição acontece mesmo quando tem custos para o
16 1.
próprio e quando não há perspectivas de uma nova interacção no futuro. Esta
perspectiva contrasta com a do altruísmo recíproco, porque enquanto a última
considera o ser humano como motivado por um ganho a longo prazo e logo é uma
forma de pseudo-altruísmo, a primeira considera o indivíduo guiado por uma moral
embutida na gramática genética.
Na defesa desta perspectiva os autores citam o estudo de Henrich et al. (2001)
que através de recolha de dados em várias sociedades de pequena escala, concluíram
que o comportamento de punição é comum em todas, sendo que em algumas
rejeitavam ofertas consideradas demasiado justas.
Variáveis do Jogo do Ultimato
O JU tem sido objecto de numerosos estudos, em que a manipulação de
diversas variáveis, contextuais ou de personalidade, tem permitido compreender de
forma mais completa os processos por detrás do comportamento económico humano.
Na tentativa de averiguar a influência do tamanho do pote no JU, Slonim e
Roth (1998) conduziram um estudo na República da Eslováquia, em que usaram um
pote de valor equivalente ao ordenado de uma semana. Os experimentadores usaram
uma versão em que o jogo é repetido por várias vezes, o que permite aos jogadores
aprender e assim regular as suas opções em função da resposta do outro jogador.
Neste cenário as ofertas das primeiras rondas apresentam resultados idênticos aos do
jogo com apenas uma ronda. Contudo mesmo nas rondas iniciais, a percentagem de
rejeições é menor que os resultados experimentais anteriores, o que sugere que o
tamanho do pote tem efeito sobre o comportamento do receptor. Um outro dado
interessante diz respeito ao facto de os proponentes, com o passar do tempo e ao
ganharem experiência, terem tendência a baixar o valor proposto. Este resultado é
explicado por Slonim e Roth (1998) com o facto de os proponentes aprenderem que as
ofertas mais baixas não são rejeitadas.
Os resultados de uma análise transcultural, envolvendo dados de 15
sociedades (Henrich et al., 2001), de diferentes continentes, ambientes, base
económica ou padrão de residência, mostram um quadro mais complexo. Em todas as
sociedades, as ofertas consideradas injustas foram rejeitadas, com um número
crescente de indivíduos a escolher punir essas ofertas conforme se aproximavam de
zero. Um dos dados mais inesperados, porque não obtido habitualmente nas
sociedades ocidentais, é a rejeição de ofertas demasiado generosas em 9 das
sociedades estudadas. Este dado parece em consonância com as teorias da equidade,
17 1.
que por vezes têm sido usadas para explicar as ofertas dos proponentes no JU, e que
postulam que o ser humano se preocupa com os ganhos relativos nas interacções e
que a desigualdade é fonte de desconforto e motivação para restaurar uma situação de
equidade (Oxford reference, equity theory).
Contudo numa meta análise conduzida por Oosterbeek, Sloof e van Der Kuilen
(2004) envolvendo 37 estudos que originaram 75 conjuntos de resultados, concluíram
não existir diferenças significativas ao nível do comportamento dos Proponentes em
diferentes contextos culturais. Registaram, sim, diferenças entre o comportamento dos
Receptores, nomeadamente que os asiáticos tinham uma taxa de rejeição
significativamente superior à dos norte-americanos e que dentro dos EUA, os
originários da zona oeste, por comparação com a zona este, estavam dispostos a
aceitar ofertas mais baixas. Os autores tentaram também averiguar se existia alguma
relação entre as variáveis culturais estudadas por Hofstede (1991) e Inglehart (2000) e
o comportamento dos sujeitos. Nesta análise a única diferença encontrada é relativa
aos valores da escala de respeito à autoridade de Inglehart, que está correlacionada
negativamente com o valor das propostas efectuadas, as sociedades mais
caracterizadas por respeito à autoridade são aquelas que apresentam valores mais
baixos nas ofertas.
Solnick e Schweitzer (1999) procuraram perceber que influência a
atractividade física tinha no comportamento dos jogadores. Concluíra que não existiam
diferenças entre as propostas ou no valor mínimo que estavam dispostos a receber,
quando comparando os grupos dos que foram avaliados como mais atractivos e os
menos atractivos, ou seja, a beleza própria não era um factor que distinguisse as
ofertas que fizeram ou o valor que estavam dispostos a aceitar. Contudo quando
analisando as ofertas ou exigências à luz da beleza do par com que tinham sido
emparelhados, foi possível distinguir um padrão, as ofertas feitas a sujeitos
considerados mais bonitos eram significativamente superiores àquelas feitas a sujeitos
menos bonitos e as ofertas feitas a homens significativamente superiores às ofertas
feitas a mulheres. Curiosamente o nível de exigência reproduzia este padrão, no que
diz respeito às diferenças de beleza. Quando na posição de receptor, os sujeitos
também exigiam um valor superior quando estavam emparelhados com alguém mais
bonito que com alguém menos bonito.
Van der Bergh e Dewitte (2006) estudaram o efeito que pistas sexuais, como a
exposição a fotos de mulheres sexy ou o contacto com lingerie, na probabilidade de os
sujeitos rejeitarem ofertas injustas no JU. A previsão dos autores era de que este efeito
se verificaria nos sujeitos com um ratio dos dedos indicador e anelar mais baixo
(2D/4D). Este ratio está ligado à exposição a androgénios pré-natais e a altos níveis de
18 1.
testosterona (Maning, Scutt, Wilson & Lewis-Jones, 1998), e foi já estudado com
preditor de agressividade nos homens (Bailey & Hurd, 2005) ou da dominância nos
homens (Mazur & Booth, 1998). Foi esse o padrão que encontraram. Sujeitos com um
ratio 2D/4D mais baixo rejeitavam menos ofertas injustas, quando no grupo exposto a
pistas sexuais, mas rejeitavam mais ofertas injustas no grupo de sujeitos que não fora
exposto a pistas sexuais. Estes resultados estão em acordo com outro estudo
(Burnham, 2007), em que indivíduos com os níveis mais altos de testosterona tiveram
uma taxa de rejeição de ofertas injustas mais alta. Burnham (2007) infere que tal
comportamento se deve ao passado evolutivo da espécie humana, no qual as
interacções de uma só vez (one shot games) eram raras.
Com relação a variáveis de personalidade, Brandstatter e Guth (2002)
concluíram que a única variável estudada que influencia o comportamento no JU é a
orientação para a reciprocidade, que é preditora de um nível de exigência mais alto
nos Receptores. Com relação ao Jogo do Ditador, a única variável com efeitos
significativos foi a benevolência, que previa ofertas mais elevadas. Num outro estudo
relacionado com variáveis de personalidade, neste caso a orientação pró-self ou pró-
social, e usando também a assimetria de informação entre os jogadores como variável,
van Dijk, de Cremer e Handgraaf (2004) concluíram que a orientação para o self é
preditora de ofertas mais baixas, contudo este efeito apenas se verifica quando a
informação é assimétrica entre os jogadores, ou seja quando o proponente é o único
que sabe que as fichas usadas neste jogo têm mais valor para si que para o receptor,
condição de informação assimétrica. Quando ambos sabem esta informação as
propostas mais comuns reflectem essa diferença de valor, tentando compensá-la,
condição de informação simétrica. Os autores oferecem a imagem de “lobo em pele de
cordeiro” como hipótese explicativa das diferenças obtidas entre as duas condições de
informação, nos sujeitos com orientação pró-self.
A linguagem usada na formulação das alternativas foi outra das variáveis
estudadas. Handgraaf, van Dijk, Vermunt e Wilke (2003) estudaram como formular as
alternativas como 2 escolhas (8 para ele e 2 para si ou 0 para ele e 0 para si) e não
como aceitar ou rejeitar a oferta, aumenta de 33 para 63 por cento a probabilidade de
aceitarem ofertas injustas. Os autores explicam esta alteração do comportamento dos
jogadores por a formulação das instruções não frisar a recusa e por ênfase no conceito
de escolha.
Num estudo conduzido no Japão por Yamamori, Kato, Kawagoe e Matsui
(2004), as ofertas efectuadas pelos proponentes numa versão do jogo do ditador,
dependiam do valor que o receptor dizia que gostaria de receber. As ofertas
aumentavam em função do pedido para valores abaixo dos 50 por cento do pote.
19 1.
Quanto os receptores manifestam vontade de receber mais de 50 por cento, as ofertas
diminuíam, ou seja, quanto maior os pedidos menores as ofertas. Os autores
analisaram ainda a distribuição em clusters destes dados e descobriram que as ofertas
se organizavam em 3 clusters. O primeiro inclui os indiferentes aos pedidos e que
pretendia apenas maximizar o seu lucro e corresponde a 23 por cento dos sujeitos. O
segundo cluster é constituído por aqueles que oferecem a quantia pedida quando ela
se situa abaixo dos 50 por cento e dão 50 por cento quando o pedido é superior a isso,
neste estão 36 por cento dos sujeitos. E por último, os que até 50 por cento satisfaziam
o pedido mas para pedidos superiores ofereciam menos de 50 por cento, castigando a
ganância do receptor.
Os estudos de Falk, Fehr e Fischbacher (2003) tiveram como objectivo
perceber o impacto das opções disponíveis ao Proponente na decisão do Receptor. Os
investigadores criaram 4 jogos diferentes, em que variavam as opções de distribuição
oferecidas ao Proponente. Em 3 dos grupos experimentais, o Proponente apenas tinha
2 divisões possíveis (valores para Proponente/Receptor, 8/2 ou 5/5; 8/2 ou 2/8; 8/2 ou
10/0), no quarto grupo o Proponente era forçado a escolher a divisão 8/2. Assim sendo
a todos os proponentes era dada a hipótese de escolher ficar com 8 e oferecer 2, uma
divisão normalmente considerada injusta, sendo a outra opção a única que variava. Os
resultados mostraram que as taxas de rejeição em cada um dos grupos experimentais
dependiam da opção alternativa do Proponente. Assim as taxas de rejeição da divisão
8/2 foram, aproximadamente, 45% quando emparelhada com a opção 5/5, mais
equitativa, 25% com 2/8, menos equitativa, 20% quando era a única hipótese e 10%
quando a alternativa era 10/0, o que tornava a oferta 8/2 a mais justa. Destes dados
podemos concluir que, não só as pessoas se preocupam com a distribuição relativa,
mas também com o que essa distribuição significa no total das opções disponíveis.
Alguns modelos, como o de Fehr e Schmidt (1999), tentam integrar já
preocupações dos jogadores com a distribuição relativa do valor do pote. E outros
como o de Rabin (1993), procuram introduzir, no modelo clássico da teoria dos jogos,
as crenças dos jogadores acerca das acções do outro. Estes modelos são uma
tentativa de ultrapassar as limitações dos modelos clássicos, que estabelecem
utilidade como apenas a maximização das consequências materiais da situação.
Constructos e Teorias Associados ao Estudo dos Processos Cognitivos e Afectivos
Fridja (1993) distingue entre três tipos de estados afectivos: estado de espírito,
emoções e episódios emocionais. A distinção essencial por ele estabelecida concerne
20 1.
as emoções e o estado de espírito e são três os eixos a partir dos quais é feita essa
diferenciação:
- Duração, maior no caso do estado de espírito e menor no caso das emoções.
- Intensidade, maior nas emoções e menor no estado de espírito.
- Difusão, maior no estado de espírito e menor nas emoções, sendo que, uma
característica fundamental da caracterização destas por parte de vários autores, é o
facto de terem um objecto ao qual são direccionadas.
Ainda segundo este autor, uma das características do estado de espírito é
poder ser experimentado de duas formas diferentes. Como um estado não focado de
sensações agradáveis ou desagradáveis, ou como um estado em que o limiar para
avaliar determinada experiência como positiva ou negativa é modificado (Fridja, 1993).
Os episódios emocionais são caracterizados por um envolvimento emocional
com um objecto específico, que se prolonga no tempo e que envolve uma série de
emoções sucessivas.
Num outro artigo, Frijda (1994) reforça a ideia de que a distinção essencial se
deve basear num critério de pendor qualitativo, a existência ou não de um objecto
intencional. No caso do estado de espírito esse objecto não existe, sendo definido
como um estado afectivo não intencional. No caso das emoções esse objecto existe,
sendo ele o foco dos processos associados a essa emoção.
Alguns investigadores utilizam o termo afecto num sentido abrangente, no qual
incluem as noções de emoção e de estado de espírito (Matthews, Zeidner & Roberts,
2002). Em contrapartida, outros investigadores utilizam a noção de afecto para se
referir, especificamente, ao carácter agradável ou desagradável da experiência
subjectiva associada aos fenómenos emocionais (Scherer, 2001).
Numa tentativa de distinguir, com base em premissas funcionais em relação ao
processo de tomada de decisão, a categoria designada por emoções, Pfister e Bohm
(2008) propõem que a distinção entre os diversos estados afectivos se faça tendo em
conta os contributos funcionais efectuados. Os autores não fazem uma análise do
estado de espírito, não usando sequer o termo, preferindo partir da classificação
efectuada por Loewenstein e Lerner (2003) entre emoções antecipadas, que dizem
respeito às emoções que a pessoa crê vir a sentir como resultado da sua decisão e
emoções imediatas que são as emoções sentidas na altura da decisão. Estas últimas
podem ainda ser distinguidas entre emoções incidentais, que não estão relacionadas
com a decisão e emoções antecipatórias, que são causadas pelo problema que exige a
decisão. As quatro funções distinguidas por Pfister e Bohm são: fornecer informação,
aumentar a velocidade de resposta, definir relevância e implementar compromissos.
Os estados afectivos usados com função informativa são o prazer e a dor, o
21 1.
gostar e o desgostar. Estes estados são aquilo que os autores designam de emoções
redutíveis, emoções que possuem apenas valência e não representam uma avaliação
complexa da situação. O indivíduo pode assim usar estas emoções como fonte de
informação acerca do objecto de julgamento, isto acontece mesmo que a origem desse
estado não seja o objecto, mas que seja a ele atribuída, erroneamente, essa origem.
Outra função que alguns estados afectivos desempenham é a de acelerar o processo
de decisão. Os estados incluídos que contribuem para essa função são o medo, a
repulsa ou o impulso sexual. Os autores chamam a este tipo de emoções programas
afectivos e impulsos.
A terceira função é a de estabelecer o foco de atenção do sujeito nos aspectos
mais relevantes da situação tendo em conta os objectivos deste. As emoções que
desempenham esta função de definir a relevância dos diversos aspectos da situação,
são, por exemplo: a inveja, o arrependimento ou o orgulho. A estas o autor chama
emoções discretas. A última função desempenhada pelas emoções neste quadro de
referência é de implementar compromissos. Neste grupo está incluído o amor, a culpa
ou a raiva. Estas funcionam no sentido de fortalecer as relações sociais, servindo
como mecanismo sinalizador de comprometimento.
Clore et al. (2001) fazem a distinção entre 6 termos: afecto, estado, emoção,
estado de espírito, sensação, informação.
-Afectos são entendidos como qualquer coisa que tenha um valor de
positividade ou negatividade, incluindo preferências e atitudes, vistas como
disposições afectivas, e emoções e estados de estado de espírito, vistos como estados
afectivos.
-Estados são definidos como determinadas disposições do organismo,
envolvendo sistemas múltiplos. Incluem-se aqui as emoções e os estados do estado de
espírito.
-Emoções são o termo usado para estados que envolvam avaliações
específicas de positividade ou negatividade em relação a um objecto específico e que
desencadeiam um impulso para acção.
-Estado de espírito é usado para descrever estados similares aos emocionais,
contudo sem um objecto específico, não sendo assim dirigido para uma acção
imediata. Contudo, os autores salientam que, mais que duas categorias estanques, os
termos emoção e estado de espírito fazem parte de um contínuo no que diz respeito à
atribuição da origem do estado a um objecto. É assim possível existir uma emoção com
um objecto pouco definido e um estado de estado de espírito com um objecto
relativamente definido.
22 1.
-Sensações são representações experienciais de valor. Todos os sinais
internos que transmitam qualquer tipo de informação consciente estão abrangidos pela
designação de sensação.
-Informação é fornecida pelos afectos através de sensações. É necessário que
as sensações sejam conscientes para que possa ser retirada informação dos afectos,
contudo esta informação pode ser interpretada como sendo relativa a diversas fontes,
nomeadamente sobre a componente hedónica da tarefa, sobre a perfomance pessoal
ou sobre a estratégia escolhida.
É esta a classificação que iremos adoptar durante este estudo, pois sendo
bastante completa põem ênfase na ausência de um objecto especifico no estado de
espírito e na existência de uma valência especifica de carácter positivo ou negativo
Beedie, Terry & Lane (2005) exploraram as diferenças de representação dos
conceitos de estado de espírito em emoção entre académicos e não académicos. Para
isso puseram a questão, aos sujeitos não académicos: “Qual acredita ser a diferença
entre estado de espírito e emoção?”. Efectuaram depois uma análise de conteúdo das
respectivas respostas. Uma análise de conteúdo foi também efectuada na literatura
académica encontrada sobre tema.
Da análise das respostas não académicas extraíram 16 temas principais,
sendo os 5 mais representados: a causa (65% dos sujeitos), a duração (40%), o
controlo (25%), a experiência (15%) e as consequências (14%). Na literatura revista a
análise de conteúdo revelou 8 temas principais, com os 5 mais referidos sendo:
duração (62% dos autores), intencionalidade (41%), causa (31%), consequências
(31%) e função (18%).
Fica patente, neste estudo, que apesar dos diversos autores que produzem
artigos académicos não concordarem num único critério através do qual distinguir
emoção e estado de espírito, tendem a concordar numa série de critérios comuns para
efectuar essa distinção, sendo muitas vezes as diferenças observadas ao nível do
peso relativo atribuído a cada um dos factores de diferenciação.
Teorias do Estado de Espírito
As diversas teorias que procuram explicar os efeitos do estado de espírito
distinguem-se, por um lado, devido ao facto de umas postularem que as alterações se
dão devido a uma reduzida motivação ou capacidade de processamento durante o
estado de espírito positivo (Mackie & Worth, 1991), outras defendem que os efeitos se
23 1.
devem ao facto de o estado de espírito funcionar como sinalizador da situação actual
(Schwarz & Clore, 1983), e condicionar assim o uso de estruturas mais gerais de
conhecimento como scripts ou esquemas (Bless, 2001), quando positivo e um estilo de
processamento mais analítico de raciocínio, quando negativo.
Partindo do mesmo pressuposto que a teoria anterior, o estado de espírito
como sinalizador da situação actual, está o modelo do estado de espírito como input
proposto por Martin (e.g. Martin, 2001), contudo este atribui uma importância maior ao
contexto e à forma como este condiciona a interpretação da heurística “Como é que eu
me sinto acerca disto?” do modelo do estado de espírito como informação. Erber
(2001) defende a hipótese de reparação do estado de espírito, como sendo explicativa
de muitos dos efeitos do estado de espírito no tipo de processamento efectuado, se
mais heurístico ou mais sistemático, argumentando que essa mediação se faz em
função da congruência do estado de espírito com a situação. Na linha das teorias
envolvendo modelos de processamento dual, Fiedler (2001) defende que o estado de
espírito positivo activa um estado apetitivo estimulando processos de assimilação e
que o estado de espírito negativo promove um estado aversivo que promove processos
de acomodação como definidos por Piaget (1997). Uma das teorias mais integrativas
ao nível de articulação dos diversos efeitos do estado de espírito é o modelo de
infusão dos afectos de Forgas (2001), que postula a existência de 4 estratégias de
processamento e propõem de que forma elas são ou não afectadas pelo estado de
espírito.
Outras teorias realçam o papel que a evolução teve formação da capacidade
de ter um estado de espírito e de que forma isso é importante para o estudo das
modificações do processamento e comportamento causadas por ele (Nesse, 2000).
Por fim, há algumas linhas de investigação que apesar de não abordarem o
estado de espírito de forma directa, são importantes na medida em que salientam a
importância dos estados somáticos, que incluem o estado de espírito, na regulação do
processamento cognitivo e na tomada de decisão.
Passamos a rever as teorias de forma mais aprofundada.
O Estado de Espírito como Informação
Schwarz (2001) afirma que o nosso estado de espírito reflecte o estado do
nosso ambiente. Um estado de espírito negativo assinala que a situação presente é
problemática e necessita de cuidadosa avaliação e decisão e um estado de espírito
24 1.
positivo assinala que a situação benigna ou não problemática. Contudo se ele for
atribuído, mesmo que de forma incorrecta, a um objecto ele perde o seu valor
informativo.
Ainda segundo Schwarz (2001), podemos distinguir entre dois tipos de efeitos
do estado de espírito. Ao nível do julgamento avaliativo, usando da heurística “Como é
que eu me sinto em relação a isto?” e a nível do estilo de processamento, em que o
carácter informativo do estado de espírito assinala a necessidade ou não de um
processamento sistemático.
Segundo Clore et al. (2001), são cinco os princípios centrais na abordagem do
estado de espírito como informação:
1- Princípio da experiência: O modelo estado de espírito como informação põe
especial ênfase na componente experiencial consciente das sensações. Este princípio
é o exemplo disso. Clore et al. (2001) citam, por exemplo, um estudo de Gasper e
Clore (2000) como demonstração do efeito aumentado do estado de espírito em
indivíduos que monitorizam frequentemente as suas emoções. Para que se
compreenda bem a ênfase que este modelo põe na experiência consciente a seguinte
frase será esclarecedora: “One can have an emotion without doing anything or saying
anything, but not without felling anything.”
2- Princípio da informação: Clore et al. (2001) defendem que devido à
natureza, em grande parte, inconsciente dos processos avaliativos, um feedback
possível desse processo pode ocorrer na forma de sensações emocionais, destinadas
a assinalar a relevância de determinada situação tendo em conta os objectivos
pessoais. Cita como exemplo os estudos de António Damásio (1994) com pacientes
com lesões cerebrais, em que a falta de feedback emocional lhes diminui a capacidade
de decisão.
3- Princípio da atribuição: Este principio é fundamental na argumentação de
base do modelo, dado que muitos dos efeitos do estado de espírito que este modelo
procura explicar se devem ao facto dos sujeitos atribuírem a origem do seu estado de
espírito ao objecto do julgamento. Esta atribuição não necessita ser feita de forma
consciente, podendo ocorrer sem a percepção correspondente.
4- Princípio da atribuição constrangida: As atribuições são constrangidas em 2
eixos: um sendo a duração do afecto e o outro a saliência do objecto. Com relação à
saliência do objecto, os estados emocionais mais focados no objecto são as atitudes e
as emoções, sendo as atitudes mais permanentes temporalmente. Os estados mais
25 1.
virados para a situação são o temperamento e o estado de espírito, sendo aqui o
temperamento mais constante a nível temporal.
5- Princípio do imediatismo: As causas dos estados emocionais tendem a ser
imediatamente anteriores a estes. Devido a isto, sensações que não tenham sido
ligadas a um objecto específico podem ser associadas a um outro objecto sobre o qual
se produz uma avaliação. Assim, a informação do estado afectivo é usada, em relação
ao objecto a ser avaliado no momento devido a uma errónea atribuição, inconsciente,
desse afecto a esse mesmo objecto.
Estado de Espírito como Input
No seguimento das assumpções da linha teórica anterior mas com um enfoque
ligeiramente diferente, este modelo procura explicar os efeitos do estado de espírito
tendo em conta o valor informativo do estado de espírito, mas em dependência do
contexto. Martin (2001) afirma que as implicações que o estado de espírito tem nas
avaliações e na motivação são dependentes do contexto geral em que acontecem.
Sentirmo-nos alegres numa situação que seja caracterizada por tristeza, como um
funeral, pode ter diferentes interpretações e consequentes efeitos. Logo, qualquer
estado de espírito funciona como uma outra peça informativa, em que a sua
interpretação, devido à natureza paralela do processo avaliativo, é feita à luz de outras
variáveis do objecto e contextuais, como por exemplo, o comportamento que
Visto o objectivo deste estudo ser estudar a influência do estado de espírito
induzido por excertos de filmes positivos e negativos no comportamento no JU, partindo do
pressuposto da sensibilidade dos participantes ao processo de indução, e dada a
consistência interna do instrumento revelada pela análise factorial e pelo alpha Cronbach,
que mostram que o teste realmente está a medir o construto pretendido, escolhemos
proceder efectuando uma reorganização do desenho experimental seleccionando os
participantes nos quais a indução tinha sido mais eficaz.
Correndo o risco de perder poder discriminatório na análise posterior dos
resultados, optamos por não incluir o grupo de controlo, que viu os excertos de conteúdo
neutro e usar os três quartis mais extremos dos dois grupos restantes, positivo e negativo,
obtendo assim dois grupos constituídos pelos participantes nos quais a indução de estado
de espírito (positivo e negativo) tinha sido mais eficaz. Calculou-se os quartis para o grupo
que assistiu aos filmes negativos e para o grupo que assistiu aos filmes positivos, donde se
obteve os valores apresentados na Tabela 1.
3,51 3,31
4,11
3,48 3,36
4,11
Posi-vo Antes
Neutro Antes
Nega-vo Antes
Posi-vo Depois
Neutro Depois
Nega-vo Depois
45 1.
Tabela 1: Valores dos quartis da variável estado de espírito nos grupos positivo e negativo.
Tipo de filmes Quartis
Positivos Negativos
1º 2,33 2,67
2º 3,165 4
3º 4,67 5,5
Tendo em conta que quanto mais alto o valor na nossa escala mais negativo era o
estado de espírito do participante, excluímos o primeiro quartil no grupo que assistiu aos
excertos tristes e excluímos o último quartil no grupo que assistiu aos excertos divertidos.
Desta forma procedeu-se à criação, a posteriori, de dois grupos que incluíam os elementos
com estado de espírito mais negativo daqueles que tinham assistido aos excertos tristes,
estado de espírito medido superior a 2,67, e os elementos com o estado de espírito mais
positivo daqueles que tinham assistido aos excertos alegres, estado de espírito medido
inferior a 4,67.
Foram assim criados dois novos grupos que foram testados de seguida para saber
se as médias do estado de espírito são significativamente diferentes. Para isso usou-se o
teste t-student para amostras independentes comparando a média do estado de espírito do
grupo positivo (M = 2.88, DP = 1.2) com a média do estado de espírito do grupo negativo (M
= 4.59, DP=1.26). Os resultados deste teste, t(58)=5,369, p<.01, confirmam que os grupos
criados diferem significativamente com relação às médias do estado de espírito medido.
Daqui podemos concluir que para um nível de significância de 0.05 existem
diferenças significativas entre os dois grupos na variável estado de espírito, dado que
p<.01.
Com o objectivo de verificar se a realização da tarefa tinha impacto no estado
de espírito dos participantes comparam-se as médias do estado de espírito antes e
depois de realizada a tarefa para ambos os grupos. Realizou-se uma anova de
medições repetidas do tipo 2 (positivo e negativo) x 2 (antes e depois). Os valores das
médias da variável estado de espírito, usados na anova de medições repetidas, para
cada grupo antes e depois da tarefa são apresentados no Figura 4.
46 1.
Figura 4: Médias do estado de espírito dos dois novos grupos (positivo e negativo)
antes e depois da realização da tarefa.
Os resultados da ANOVA de medições repetidas, F (1, 58) = .034, p=.855,
mostram que a realização da tarefa não influencia o estado de espírito, nem interage
com o estado de espírito induzido, mantendo-se este constante ao longo da
experiência. Tendo agora dois grupos com estado de espírito bem diferenciado,
prosseguimos com a análise dos dados relativos às respostas do JU.
Análise das ofertas efectuadas pelos Proponentes
Começando pelos Proponentes, procedeu-se à comparação das ofertas
efectuadas no grupo positivo (M=4.61, DP=0.98) e no grupo negativo (M=4.93,
DP=0.27). O nível de significância foi 0.05. Os resultados do teste t-student para
amostras independentes, t(30)=1.315, p=.20, mostram não existirem diferenças
significativas com relação ao valor médio das ofertas nos dois grupos.
A Tabela 2 apresenta a distribuição das ofertas, justas ou injustas, tendo em
conta o estado de espírito e o género dos participantes.
Oferta Estado de
Espírito
injustas justas Total
Feminino 4 11 15 Sexo
Masculino 0 3 3 Positivo
Total 4 14 18
Feminino 1 11 12 Sexo
Masculino 0 2 2 Negativo
Total 1 13 14
2,88
4,59
2,83
4,51
Posi-vo Antes
Nega-vo Antes
Posi-vo Depois
Nega-vo Depois
47 1.
Tabela 2: Distribuição do tipo de oferta dos Proponentes por género dos participantes e
por estado de espírito induzido.
Olhando para as ofertas divididas pela justiça, ofertas justas ou altruístas
(metade do pote ou mais) e ofertas injustas ou de interesse próprio (menos de metade
do pote), observamos que a proporção de ofertas justas é maior no grupo a quem foi
induzido estado de espírito negativo, como podemos ver nas figuras 5 e 6.
Figura 5: Percentagem de ofertas justas e injustas no grupo de Proponentes em estado
de espirito positivo.
Figura 6: Percentagem de ofertas justas e injustas no grupo de Proponentes em estado
de espírito negativo.
Para perceber se existiam diferenças significativas em relação a estas
proporções, isto é, se os participantes eram mais prováveis fazer uma oferta justa se
num estado de espírito negativo, usou-se o teste de Qui Quadrado, alpha = 0.05. Os
resultados do teste sugerem que a proporção de participantes que fizeram ofertas
justas quando em estado de espírito positivo não difere significativamente da
injustas 22%
justas 78%
injustas 7%
justas 93%
48 1.
proporção desse tipo de ofertas efectuadas pelos participantes em estado de espírito
negativo, X2(1,32) = 1,39, p=0.24. De forma geral, os resultados não mostram existir
diferenças, estatisticamente significativas, em relação ao comportamento dos Proponentes.
Análise das ofertas mínimas exigidas pelos Receptores
Procedemos para a análise do comportamento dos Receptores dos dois grupos em
estado de espírito diferente. Foram calculadas as médias da oferta mínima que cada grupo,
estado de espírito positivo e negativo, estaria disposto a receber (M=4.83, DP=0.39 e M=4,
DP=2.37, respectivamente). Para perceber se as diferenças entre estas médias são
significativas usou-se o teste t-student para amostras independentes. Os resultados deste
teste, t(26)=-1.384, p=.19, indicam que as diferenças entre as médias do valor mínimo
exigido pelos membros dos dois grupos não diferem de forma estatisticamente significativa.
A Tabela 3 apresenta a distribuição das ofertas mínimas, justas ou injustas,
tendo em conta o estado de espírito e o género dos participantes.
Tabela 3: Distribuição do tipo de oferta mínima, justa ou injusta, por género dos
participantes e por estado de espírito induzido.
As proporções das ofertas mínimas que os participantes dos dois grupos estavam
dispostos a receber, quando divididas pela justiça, justas e injustas, são apresentadas nas
figuras 7 e 8.
Oferta minima Estado de
Espírito
injustas justas Total
Feminino 1 6 7 Sexo
Masculino 1 4 5 Positivo
Total 2 10 12
Feminino 4 5 9 Sexo
Masculino 3 4 7 Negativo
Total 7 9 16
49 1.
Figura 7: Percentagem de ofertas mínimas justas e injustas no grupo de Receptores
em estado de espírito positivo.
Figura 8: Percentagem de ofertas mínimas justas e injustas no grupo de Receptores
em estado de espírito negativo.
Tentando perceber se as diferenças nestas proporções são estatisticamente
significativas efectuou-se o teste Qui-Quadrado para a comparação de proporções,
alpha=0.05. O resultado do teste (X2(1, 30) = 2.31, p=.12) indica que as diferenças entre
as proporções de ofertas mínimas justas e injustas dos dois grupos com estado de espírito
diferente são apenas marginalmente significativas.
No sentido de perceber se o estado de espírito dos Proponentes e dos Receptores
se alteraria de forma diferente consoante a posição e o tipo de estado de espírito induzido
foi efectuada uma ANOVA do tipo 2 (estado de espírito induzido) x 2 (posição do jogador)
para analisar a variação do estado de espírito antes e depois da tarefa, alpha=.05. Os
resultados desta análise indicam que nenhum dos efeitos produzidos pelas variáveis
analisadas é significativo. O estado de espírito não se altera de forma significativamente
diferente consoante o tipo de estado de espírito induzido (F(1,58)=.12, p=.73), consoante a
injustas 17%
justas 83%
injustas 44%
justas 56%
50 1.
posição dos participantes no JU (F(1,58)=3,33, p=.07) ou por interacção destes factores
(F(1,58)=1,420, p=.24). Apenas o valor relativo ao efeito da posição do Jogador se aproxima
de valores marginalmente significativos. O que indica que os Receptores têm tendência a
piorar o seu estado de espírito e os Proponentes a melhorá-lo.
Discussão Geral
As hipóteses do nosso estudo propunham que os Proponentes em estado de
espírito positivo se aperceberiam da situação como sendo não problemática e segura, e,
devido a isso, pusessem menos peso na possibilidade de rejeição da sua oferta pelo
Receptor, e logo efectuando ofertas de menor valor que os Proponentes em estado de
espírito negativo.
Os resultados obtidos quer das proporções de ofertas justas e injustas quer da
distribuição dos valores oferecidos, são na direcção das hipóteses propostas, contudo em
ambos os casos o valor de teste não é significativo. Estes resultados podem dever-se á
redução do tamanho da amostra ou ao facto de mais do que um processo de influência do
estado de espírito estar em funcionamento. Embora isto, os dados indicam existir uma
preocupação dos Proponentes em estado de espírito positivo em maximizar os seus
ganhos, não tendo em consideração a hipótese de rejeição da oferta por parte do Receptor.
Este resultado está de acordo com as perspectivas duais do processamento. Os
Proponentes em estado de espírito positivo apenas analisam a situação de forma mais
superficial, centrando-se apenas nos valores concretos da divisão enquanto os Proponentes
em estado de espírito negativo, para além de fazerem essa análise dão também importância
à possibilidade de rejeição da oferta, corrigindo-a assim tendo em conta essa mesma
possibilidade o que dá origem a uma maior percentagem de ofertas justas.
No caso dos Receptores, a percentagem de decisões de aceitação de ofertas
injustas é maior nos participantes a quem foi induzido um estado de espírito negativo do que
naqueles a quem foi induzido um estado de espírito positivo. Estes resultados estão também
de acordo com as hipóteses propostas. Os participantes em estado de espírito positivo
centram-se apenas nos valores envolvidos, tentando maximizar os seus ganhos e exigindo
ofertas mais elevadas. Os participantes em estado de espírito negativo para além dessa
análise, têm também em conta a possibilidade de a oferta possa ser baixa e dessa forma
estarem a rejeitar um possível ganho, que apesar de menor do que pretenderiam, seria
contudo positivo. Tendo isto em conta estão então dispostos a aceitar valores mais baixos
de forma a garantir que terão um saldo positivo no final do jogo.
Ambos os resultados estão também em acordo com as perspectivas do estado de
espírito como sinalizador da situação. Estas postulam que o estado de espírito sinaliza a
51 1.
situação como problemática ou segura, sendo que se problemática o individuo deve tentar
aproveitar todos os recursos disponíveis e se segura pode tentar maximizar os seus ganhos
correndo mais riscos.
O comportamento dos Proponentes pode então ser explicado da seguinte forma.
Quando em estado de espírito positivo, dão uma maior importância ao valor concreto da
divisão centrando-se no seu ganho e descurando a hipótese de rejeição por parte do
Receptor, daí a maior percentagem de ofertas injustas verificadas nos participantes com
estado de espírito positivo. Por outro lado, quando num estado de espírito negativo, a maior
preocupação é que o resultado final da interacção seja diferente de zero, logo têm em conta
a hipótese de rejeição por parte do Receptor e fazem uma maior percentagem de ofertas
justas quando comparados com os Proponentes em estado de espírito positivo.
Quanto aos Receptores, quando em estado de espírito negativo a sua preocupação
é de que o resultado da interacção seja diferente de zero e devido a isso estão dispostos a
aceitar uma maior percentagem de ofertas injustas que os Receptores em estado de espírito
positivo.
Os Receptores quando em estado de espírito positivo centram-se no valor absoluto
que podem ganhar e apesar de correrem o risco da oferta que lhes foi efectuada ser menor
que o valor mínimo definido por eles, fazem uma percentagem maior de exigência de ofertas
justas quando comparados com os Receptores em estado de espírito negativo.
Estes dados podem então ser interpretados da seguinte forma, os participantes
encaram o processo de decisão como sendo constituído por duas fases, uma primeira em
que apenas os valores em questão são considerados, sem ser tido em conta a decisão do
outro jogador e uma segunda fase em que as acções possíveis por parte do outro jogador já
são tidas em conta. Assim, quando em estado de espírito positivo, os participantes têm
tendência a analisar apenas a primeira fase, centrando-se nos ganhos absolutos possíveis.
Quando em estado de espírito negativo, o processo de decisão estende-se para a segunda
fase em que já são tidas em consideração as escolhas possíveis e prováveis do outro
jogador, o que leva à correcção da decisão inicial, intuitiva, e que procurava unicamente o
ganho máximo.
Estes resultados revelam uma dissociação do efeito do estado de espírito no
comportamento dos Proponentes e dos Receptores. Enquanto o estado de espírito positivo
aumenta a proporção de ofertas injustas efectuadas pelos Proponentes, o inverso acontece
quando o mesmo estado de espírito é induzido nos Receptores, visto nestes diminuir a
proporção de valores mínimos injustos exigidos, estando assim menos dispostos a aceitar
ofertas injustas. O inverso acontece quando induzido um estado de espírito negativo. Os
Proponentes efectuam uma proporção maior de ofertas justas que quando em estado de
espírito positivo e os Receptores estão dispostos a aceitar uma maior proporção se ofertas
52 1.
injustas que quando em estado de espírito positivo.
De um ponto de vista social os dados obtidos neste estudo podem ser um ponto de
partida para a reflexão. O que parecem indicar é uma tendência dos indivíduos em estado
de espírito negativo estarem preocupados com o seu nível de recursos actuais e de que
forma podem garantir um aumento dos mesmos, estando para isso dispostos a analisar a
situação de forma mais exaustiva. Este dado pode ter várias implicações a nível social,
nomeadamente na análise dos processos de decisão a nível comercial e de negociações.
Os resultados que foram obtidos neste estudo deixam várias questões para futuros
estudos. Futuros estudos poderão então usar uma amostra maior, no sentido de verificar se
a tendência verificada neste estudo se confirma de forma estatisticamente significativa.
Poderão também abordar de que forma outras variáveis são definidoras destes efeitos.
Nomeadamente, seria interessante, por exemplo, estudar o efeito que as variáveis de
personalidade como a auto-estima têm na mediação das respostas do JU, no seguimento
dos estudos na área da memória efectuados por Petty e Smith (1995)
Seria também interessante estudar o efeito do estado de espírito no Jogo do
Ditador, apenas nos Proponentes, de forma a perceber se os resultados obtidos neste
estudo se devem ao facto de os Proponentes terem em conta a hipótese de rejeição das
ofertas ou se existem outras variáveis não analisadas.
Em resumo, os dados obtidos sugerem a necessidade de procurar perceber mais
profundamente de que forma os processos afectivos são influentes nas decisões
económicas e também de que forma podemos tentar organizar a nossa estrutura social para
uma maior satisfação de todos.
53 1.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Adams, J.S. (1965). Inequity in social exchange. em L. Berkowitz (Ed.), Advances in
experimental social psychology, Vol. 2, (pp. 267-299). New York: Academic Press.
Adolphs, R., Tranel, D., & Damasio, H. (2001). Emotion recognition from faces and prosody following temporal lobectomy. Neuropsychology 15, 396-404.
Allan, S., & Gilbert, P. (1997). Submissive behaviour and psychopathology. British Journal of
Clinical Psychology, 36, 467–488. Ashraf, N., Camerer, C. F., & Loewenstein, G. (2005). Adam smith, behavioural economist.
The Journal of Economic Perspectives, 19(3), 131-145. Bailey, A. A., & Hurd, P. L. (2005). Finger length ratio (2D:4D) correlates with physical
aggression in men but not in women. Biological Psychology, 68, 215–222. Barracho, C. (2001). Lições de psicologia económica. Lisboa: Instituto Piaget. Beck, A. T., Epstein, N., & Harrison, R. (1983). Cognition, attitudes, and personality
dimensions in depression. British Journal of Cognitive Psychotherapy, 1, 1–16. Beedie, C.J., Terry, P.C., & Lane, A.M. (2005) Distinctions between emotion and mood.
Cognition & Emotion, 19, 847-878.
Bethwaite, J., & Tompkinson, P. (1996). The ultimatum game and non-selfish utility functions. Journal of. Economic Psychology 17, 259-271.
Blascovich, J., & Mendes, W. B. (2000). Challenge and threat appraisals: The role of affective cues. em J. Forgas (Ed.), Feeling and thinking: The role of affect in social cognition (pp. 59-81). Cambridge: Cambridge University Press.
Bless, H. (2001). Mood and the use of general knowledge structures. em L.L. Martin & G.L.
Clore (Eds.), Theories of Mood and Cognition: A User’s Guidebook (pp. 9-26). NJ: Lawrence Erlbaum Associates, Inc.
Bower, G. H. (1981). Mood and memory. American Psychologist, 36, 129-148. Bower, G. H., Monteiro, K., & Gilligan, S. (1978). Emotional mood as a context for learning
and recall. Journal of Verbal Learning and Verbal Behaviour, 17, 573-585. Brandstatter, H., & Guth, W. (2002). Personality in dictator and ultimatum games. Central
European Journal of Operations Research 10, 191-215. Bruni, L., & Sugden, R. (2007). The road not taken: how psychology was removed from
economics, and how it might be brought back. The Economic Journal, 117, 516, 146-173.
Burnham, T. C. (2007). High-testosterone men reject low ultimatum game offers.
Proceedings of the Royal Society of London: Biological Sciences 274, 2327-2330. Buss, D. M. (1998). Sexual Strategies Theory: Historical origins and current status. Journal of
Sex Research, 34, 19-31.
54 1.
Buunk, B. P., & Brenninkmeijer, V. (2000). Social comparison processes among depressed
individuals: Evidence for the evolutionary perspective on involuntary subordinate strategies? em L. Sloman & P. Gilbert (Eds.), Subordination and defeat: An evolutionary approach to mood disorders and their therapy (pp. 147-164). Mahwah , NJ : Erlbaum.
Camerer, C. (2005). Behavioural Economics. Retirado a 18 de Maio de 2007 de
http://www.hss.caltech.edu/~camerer/worldcongress05v18.doc Camerer, C., & Loewenstein, G. (2004) Behavioural economics: Past, present, future. em
Advances in Behavioural Economics (3-51). Princeton: Princeton University Press. Camerer, C., & Thaler, R. H. (1995). Anomalies: ultimatums, dictators and manners. The
Journal of Economic Perspectives, 9, 209-219. Carlson, M., & Miller, N. (1987). Positive mood and helping behaviour: A test of six
hypotheses. Psychological Bulletin, 55, 211-229. Carver, C. S., & Scheier, M. F. (1998). On the self-regulation of behaviour. New York:
Cambridge University Press. Chepenik, L.G., Cornew, L.A. & Farah, M.J. (2007). The influence of sad mood on cognition.
Emotion, 7, 802-811 Cialdini, R B., & Kenrick, D. T. (1976). Altruism as hedonism: a social development
perspective on the relationship of negative mood state and helping. Journal of personality and social psychology. 34. 5. 907-14
Cialdini, R. B., Darby, B. L., & Vincent, J. E. (1973). Transgression and altruism: A case for
hedonism. Journal of experimental psychology. 9. 6. 502-516 Clark, M.S., & Fiske, S. T. (Eds.). (1982). Affect and cognition. Hillsdale, NJ: Erlbaum. Clark, M.S., & Isen, A.M. (1982). Towards understanding the relationship between feeling
states and social behaviour. em A.H. Hastorf & A.M. Isen (Eds.), Cognitive social psychology (pp. 76-108). New York: Elsevier-North Holland.
Clark, M. S., Ouellette, R., Powell, M. C., & Milberg, S. (1987). Recipient’s mood, relationship
type, and help. Journal of Personality and Social Psychology, 53, 94-103. Clore, G. L., Wyer R. S., Dienes, B., Gasper, K., Gohm, C. L., & Isbell, L. (2001). Affective
feelings as feedback: Some cognitive consequences. em L. L. Martin & G. L. Clore (Eds.), Theories of mood and cognition: A user’s handbook (pp. 27–62). NJ: Lawrence Erlbaum Associates, Inc.
Clore, G.L. & Storbeck, J. (2006). Affect as information about liking, efficacy, and importance.
em J. Forgas (Ed.). Affect in Social Thinking and Behavior (pp. 123-142). New York: Psychology Press.
Cohen, L.H., Towbes, L.C., & Flocco, R. (1988). Effects of induced mood on self-reported life
events and perceived and received social support. Journal of Personality and Social Psychology, 55, 669-674.
55 1.
Cosmides, L. & Tooby, J. (1992) "Cognitive adaptations for social exchange," em Barkow, J., Cosmides, L. & Tooby, J., (Eds) (1992) The adapted mind: Evolutionary psychology and the generation of culture (pp. 163-228) New York: Oxford University Press.
Damásio, A. (1994). O Erro de Descartes. Mem Martins: Publicações Europa-América. Damásio, A. (2000). A second chance for emotion. em R. Lane & L. Nadel, (Eds.), Cognitive
neuroscience of emotion. Oxford: University Press. Dawkins, R., (2003) O gene egoísta. Lisboa: Gradiva. De Vos, H., Zeggelink, E. (1997). Reciprocal altruism in human social evolution: the viability
of reciprocal altruism with a preference for ‘‘old-helping-partners’’. Evolution and Human Behaviour. 18, 261–278.
Drake, R. E., Price, J. L., & Drake, R. E. (1996). Helping depressed clients discover personal
power. Perspectives in Psychiatric Care, 32, 30–35. "equity theory n." A Dictionary of Psychology. Andrew M. Colman. Oxford University Press,
2006. Oxford Reference Online. Oxford University Press. Art Institute of Fort Lauderdale. Acedido em 23 de Outubro de 2007 em http://www.oxfordreference.com/views/ENTRY.html?subview=Main&entry=t87.e2836
Epstein, S., & Pacini, R. (1999). Some basic issues regarding dual-process theories from the
cerspective of cognitive-experiential self-theory. em S. Chaiken & Y. Trope (Eds.), Dual-process theories in social psychology. New York: Guilford Press.
Erber, R. (1991). Affective and semantic priming: Effects of mood on category accessibility
and inference. Journal of Experimental Social Psychology, 27, 480-498. Erber, R., & Erber, M. W. (1994). Beyond mood and social judgment: Mood incongruent
recall and mood regulation. European Journal of Social Psychology, 24, 79-88. Erber, R., & Erber, M. W. (2001). Mood and processing: A view from a self-regulation
perspective. em L. L. Martin & G. L. Clore (Eds.), Theories of mood and cognition: A user’s handbook (pp. 63-84). New Jersey: Lawrence Erlbaum Associates, Inc.
Erez, A., & Isen, A. M. (2002). The influence of positive-affect on expectancy motivation:
Integrating affect and cognition into motivation theories. Journal of Applied Psychology, 87, 1055-1067.
Experimental Economics. (24 de Junho de 2008) em Wikipedia, the free encyclopedia. Retirado a 26 de Junho de 2008, de http://en.wikipedia.org/wiki/Experimental_economics
Falk, A., Fehr, E., & Fischbacher, U. (2003). On the nature of fair behaviour. Economic
Inquiry, 41, 20-26. Farr, R.M. (1996). The roots of modern social psychology. Oxford: Blackwell Fehr, E., & Schmidt K. (1999). A theory of fairness, competition and cooperation. Quarterly
Journal of Economics, 105, 817-868. Fiedler, K. (2001). Afective infuences on social information processing. em J. P. Forgas (Ed.),
56 1.
The handbook of affect and social cognition (pp. 163– 185). Mahwah, NJ: Erlbaum. Fiedler, K., (2001). Affective states trigger processes of assimilation and accomodation. em
L.L. Martin & G.L. Clore (Eds.), Theories of mood and cognition: A user’s guidebook (p. 85–98). New Jersey: Lawrence Erlbaum Associates, Inc.
Fiske, S. T., & Pavelchak, M. A. (1986). Category-based versus piecemeal-based affective
responses. em E. T. Higgins & R. M. Sorrentino (Eds.), Handbook of motivation and cognition (pp. 167-203). New York: Guilford Press.
Forest, D., Clark, M. S., Mills, J. & Isen, A. M. (1979). The influence of mood on perceptions
of social interactions. Journal of Experimental Social Psychology, 20, 497-513. Forgas, J. P. (1998a). Asking nicely? Mood effects on responding to more or less polite
requests. Personality and Social Psychology Bulletin, 24, 173–185. Forgas, J. P. (1998c). On feeling good and getting your way: Mood effects on negotiation
strategies and outcomes. Journal of Personality and Social Psychology, 74, 565–577. Forgas, J. P. (1999b). On feeling good and being rude: Affective influences on language use
and request formulations. Journal of Personality and Social Psychology, 76, 928–939. Forgas, J. P. (2001). The Affect Infusion Model (AIM): An integrative theory of mood effects
on cognition and judgments. em L. L. Martin & G. L. Clore (Eds.), Theories of mood and cognition: A user’s handbook (pp. 99-134). New Jersey: Lawrence Erlbaum Associates, Inc.
Forgas, J. P. (2002a). Feeling and doing: affective influences on interpersonal behaviour.
Psychological Inquiry, 13, 1-28. Forgas, J. P. (2002b). Feeling and doing: The role of affect in social cognition and behaviour.
Psychological Inquiry, 9, 205-210. Forgas, J.P. & Bower, G.H. (1988). Affect in Social and Personal Judgments. em K. Fiedler &
J.P. Forgas (Eds.), Affect, cognition and social behavior (183 - 208). Toronto: Hogrefe. Forgas, J. P., Williams, K. D., & Laham, S. M. (2004). Social motivation: Introduction and
overview. em J. P. Forgas, K. D. Williams, & S. M. Laham (Eds.), Social motivation: Conscious and unconscious processes (pp. 1-20). New York: Cambridge University Press.
Fredrickson, B. L., & Branigan, C. A. (2005). Positive emotions broaden the scope of
attention and thought–action repertoires. Cognition and Emotion, 19, 313–332. Frijda, N.H. (1993). Moods, emotion episodes, and emotions. em M. Lewis & J. Haviland
(Eds.), Handbook of Emotions (pp. 381-403). New York: Guilford Press. Gasper, K., & Clore, G. L. (2000). Do you have to pay attention to your feelings in order to be
influenced by them? Personality and Social Psychology Bulletin, 26, 698 - 711. Garcia-Marques, T. (2004). A mensuração da variável “estado de espírito” na população
portuguesa. Laboratório de Psicologia, (2)1, 77-94. Gilbert, P., & Allan, S. (1998). The role of defeat and entrapment (arrested flight) in
57 1.
depression: An exploration of an evolutionary view. Psychological Medicine, 28, 584–597.
Gintis, H., Bowles, S., Boyd, R., & Fehr, E. (2003). Explaining altruistic behaviour in humans.
Evolution and Human Behaviour, 24, 153-172. Gray, J., Braver, T., & Raichle, M. (2002). Integration of Emotion and Cognition in the Lateral
Prefrontal Cortex. Proceedings of the National Academy of Sciences USA, 99, 4115-4120.
Guth, W., Schmittberger, P., & Schwarze, B. (1982). An experimental analysis of ultimatum
bargaining. Journal of Economic Behaviour and Organizations, 3, 367-388. Handgraaf, M. J. J., Dijk, E. van, Vermunt, R. & Wilke, H. A. M. (2003). The salience of a
recipient’s alternatives: inter- and intrapersonal comparison in ultimatum games. Organizational Behaviour and Human Decision Processes, 90, 165-177.
Heap, S. P. H., & Varoufakis, Y. (1995). Game theory - a critical introduction. London/New
York: Routledge. Henrich, J., Boyd, R., Bowles, S., Camerer, C., Fehr, E., Gintis, H., McElreath, R., (2001). In
search of Homo economicus: behavioural experiments in 15 small-scale societies. American Economic Review, 91, 73–78.
Henrich, J., Mcelreath, R., Barr, A., Ensminger, J., Barrett, C., Bolyanatz, A., et al. (2006).
Costly punishment across human societies. Science, 312, 1767-1770. Holt, C., & Laury, S. (2005). Risk Aversion and Incentive Effects: New Data without Order
Effects. American Economic Review, 902-912.
Isen, A. M. (1972). Effects of feeling good on helping others: Cookies and kindness. Journal of Personality and Social Psychology, 21, 382-388.
Isen, A.M., & Simmonds, S. (1978). The effect of feeling good on a helping task that is
incompatible with good mood. Social Psychology Quarterly, 41(4), 346-349. Johnson, E., & Tversky, A. (1983). Affect, generalization, and the perception of risk. Journal
of Personality and Social Psychology, 45, 20–31. Joormann, J. & Siemer, M. (2004). Memory accessibility, mood regulation and dysphoria:
Difficulties in repairing sad mood with happy memories? Journal of Abnormal Psychology, 113, 179-188.
Josephson, B. R., Singer, J. A., Salovey, P. (1996). Mood regulation and memory: Repairing
sad moods with happy memories. Cognition and Emotion, 10, 437-444. Kahneman, D. (2003a). A psychological perspective on economics. American Economic
Review, 93, 162-168. Kahneman, D. (2003b). Maps of bounded rationality: Psychology for behavioural economics.
The American Economic Review, 93, 1449—1475. Kahneman, D. (2007). A short course in thinking about thinking. Edge Master Class 07
Retirado em 2 de Março de 2008 de
58 1.
http://www.edge.org/3rd_culture/kahneman07/kahneman07_index.html Kahneman, D., & Snell, J. (1990). Predicting utility. em R. M. Hogarth (Ed.), Insights in
decision making - A Tribute to Hillel J. Einhorn (pp. 295-342). Chicago: The University of Chicago Press.
Kahneman, D., & Tversky, A. (1979). Prospect theory: An analysis of decision under risk.
Econometrica, 47, 263-292. Kahneman, D., Knetsch, J.L., & Thaler, R.H. (1986). Fairness and the assumptions of
economics. Journal of Business, 59, 285-300.
Keller, M. C., & Nesse, R. M. (2005). Subtypes of low mood provide evidence of its adaptive significance. Journal of Affective Disorders, 86, 27–35.
Lambert, A. J., Khan, S., Lickel, B., & Fricke, K. (1997). Mood and the correction of positive
vs. negative stereotypes. Journal of Personality and Social Psychology, 72, 1002-1116. Lerner, M. J. (2003). The justice motive: Where psychologists found it, how they lost it, and
why they may not find it again. Personality and Social Psychology Review,7, 388-399. Loewenstein, G. & Lerner J. S. (2003). The role of affect in decision making. em R.
Davidson, H. Goldsmith, & K. Scherer (Eds.), Handbook of Affective Science (pp. 619-642). Oxford: Oxford University Press.
Loewenstein, G., Weber, E. U., Hsee, C. K., & Welch, N. (2001). Risk as feelings.
Psychological Bulletin, 127(2), 267-286. Mackie, D., & Worth, L. (1991). Feeling good, but not thinking straight: The impact of positive
mood on persuasion. em J. Forgas (Ed.) Emotion and Social Judgements (pp. 201-219). Oxford: Pergamon.
Manning, J. T., Scutt, D., Wilson, J., & Lewis-Jones, D. I. (1998). The ratio of 2nd to 4th digit
length: a predictor of sperm numbers and concentrations of testosterone, luteinizing hormone and oestrogen. Human Reproduction, 13, 3000–3004.
Martin, L. L., (2001). Mood as input: A configural view of mood effects. em L. L. Martin & G.
L. Clore (Eds.), Theories of mood and cognition: A user’s handbook (pp. 135-158). NJ: Lawrence Erlbaum Associates, Inc.
Matthews, G., Zeidner, M., Roberts, R. (2002). Emotional Intelligence: Science & Myth.
Massachusetts: MIT Press. Mazur, A. & Booth, A. (1998). Testosterone and dominance in men. Behavioural & Brain
Sciences 21, 353-397. Mills, J. & Clark, M.( 1982) Exchange and communal relationships. In: L. Wheeler (Ed.)
Review of personality and social psychology: Vol. 3 (pp.121-144) Beverly Hill, CA:Sage.
Nesse, R.M. (1991). What is mood for? Psycholoquy, 2. Retirado em 14 de Março de 2007 de http://psycprints.ecs.soton.ac.uk/archive/00000219/
Nesse, R. M. (2000). Is depression an adaptation? Archives of General Psychiatry, 57, 14–
59 1.
20. Nesse, R.M. (2006). Evolutionary explanations for mood and mood disorders. em D. J. Stein
, D. J. Kupfer, & A. F. Schatzberg (Eds.), The American Psychiatric Publishing Textbook of Mood Disorders (pp. 159-175). Washington DC: American Psychiatric Publishing. Retirado a 21 de Abril de 2007 de http://www-personal.umich.edu/~nesse/Articles/Nesse-EvolMood-APAText-2006.pdf
Neves, J. C. (1995). Uma galeria de arte: grandes marcos da História da Economia. Lisboa:
Editorial Verbo. Nunes, P., (2007). Utilidade Marginal. Retirado em 13 de Novembro de 2007 de
http://www.knoow.net/cienceconempr/economia/utilidademarginal.htm Nygren, T. E., Isen, A. M., Taylor, P. J, & Dulin, J. (1996). The influence of positive affect on
the decision rule in risky situations: focus on outcome (and especially avoidance of loss) rather than probability. Organizational Behavior and Human Decision Processes, 66, 59-72.
Oosterbeek, H., Sloof, R. & Van de Kuilen, G. (2004). Cultural differences in ultimatum game
experiments: Evidence from a meta-analysis. Experimental Economics, 7, 171-188.
Parrott, W. R., & Sabini, J. (1990). Mood and memory under natural conditions: Evidence for mood-incongruent recall. Journal of Personality and Social Psychology, 59, 321-336.
Pfister, H. R., & Böhm, G. (2008). The multiplicity of emotions: A framework of emotional
functions in decision making. Judgment and Decision Making, 3, 5–17. Piaget, J. (1997). A Psicologia da Criança. Porto. Asa. Pillutla, M.M., & Murnighan, J. K. (1996). Unfairness, anger, and spite: Emotional rejections
of ultimatum offers. Organizational Behavior and Human Decision Processes, 68, 208-224.
Rabin, M. (2002). A perspective on psychology and economics. European Economic Review,
46, 657-685. Rabin, M., (1993). Incorporating fairness into Game Theory and Economics. American
Economic Review, 83, 1281-1302. Riener, C. R., Stefanucci, J. K., Proffitt, D., & Clore, G. (2003). An effect of mood on
perceiving spatial layout. Journal of Vision, 3. Retirado em 12 de Fevereiro de 2008 em http://www.journalofvision.org/3/9/227/
Rusting, C. L. (1998) Personality, mood, and cognitive processing of emotional information:
Three conceptual frameworks. Psychological Bulletin, 1124, 165-196. Schaller, M., & Cialdini, R. B. (1990). Happiness, sadness, and helping: A motivational
integration. em E. T. Higgins & R. Sorrentino (Eds.), Handbook of motivation and social cognition: Foundations of social behaviour (Vol. 2) (pp. 265-296). New York: Guilford.
Scherer, K. (2001). Construction of the social world: Emotion.Em Hewstone, M., Stroebe, W.
(Eds.) Introduction to Social Psychology. Blackwell Publishers.
60 1.
Schwarz, N. (2001). Feelings as information: Implications for affective influences on information processing.EmL. L. Martin & G. L. Clore (Eds.), Theories of mood and cognition: A user’s handbook (pp. 99-134). New Jersey: Lawrence Erlbaum Associates, Inc..
Schwarz, N. (1990). Feelings as information: Informational and motivational functions of
affective states.EmE. T. Higgins & R. M. Sorrentino (Eds.), Handbook of Motivation and Cognition. Foundations of Social Behaviour (pp. 527-562). New York: Guilford.
Schwarz, N., & Clore, G. L. (1983). Mood, misattribution, and judgments of well-being:
Informative and directive functions of affective states. Journal of Personality and Social Psychology, 45, 513–523.
Schwarz, N., Strack, F., Kommer, D., & Wagner, D. (1987). Soccer, rooms and the quality of
your life: Mood effects on judgments of satisfaction with life in general and with specific life-domains. European Journal of Social Psychology, 17, 69-79.
Simon, H. (1956). Rational choice and the structure of the environment. Psychological Review, 63, 129-138.
Simon, H. (1967). Motivational and emotional controls of cognition. Psychological Review,
74, 29-39. Sinclair, R.C. (1988). Mood, categorization breadth, and performance appraisal: The effects
of order of information acquisition and affective state on halo, accuracy, information retrieval and evaluations. Organizational Behaviour and Human Decision Processes, 42, 22-46.
Slonim, R., & Roth, A. (1998). Learning in high stakes ultimatum games: An experiment in
the Slovak Republic. Econometrica, 66, 569-596. Slovic, P., Finucane, M., Peters, E., & MacGregor, D. (2002). The affect heuristic. em T.
Gilovich, D. Griffin and D. Kahneman (Eds.), Heuristics and biases: The psychology of intuitive judgments (pp. 397-421) New York: Cambridge University Press.
Smith, A. (1999 [1776]). A riqueza das nações, Vol. 1. (pp.97) Lisboa: Edições Calouste
Gulbenkian. Smith, A. (1999 [1975]). A teoria dos sentimentos morais. (pp.34) São Paulo: Martins Fontes. Smith, S., & Petty, R. (1995). Personality moderators of mood congruency effects on
cognition: The role of self-esteem and negative mood regulation. Journal of Personality and Social Psychology, 68, 1092-1107.
Solnick, S., & Schweitzer, M. (1999). The influence of physical attractiveness and gender on
ultimatum game decisions. Organizational Behaviour and Human Decision Processes, 79, 199-215.
Storbeck, J. & Clore, G. L. (2007). On the interdependence of cognition and emotion. Cognition & Emotion, 21, 1212-1237.
Thaler, R.H. (2000). From Homo Economicus to Homo Sapiens. Journal of Economic
Perspectives, 14, 133-141.
61 1.
Tinbergen, N. (1963). On aims and methods of ethology. Zeitschrift für Tierpsychologie, 20,
410- 433. Retirado em 14 de Março de 2008 de www.rockefeller.edu/bard/pdfs/week_02_tinbergen_on_aims_and_methods_of_ethology_zft_1963.pdf
Tompkinson, P., & Bethwaite, J. (1995). The ultimatum game: raising the stakes. Journal of
Economic Behavior and Organization 27, 439–451 Trivers, R. L., (1971). The evolution of reciprocal altruism. The Quarterly Review of Biology,
46, 35-57. Van Den Bergh, B., & Dewitte, S. (2006). "Digit ratio (2D: 4D) moderates the impact of sexual
cues on men’s decisions in ultimatum games." Proceedings of the Royal Society of London: Biological sciences 273, 2091-2095.
Van Dijk, E., De Cremer, D., & Handgraaf, M. J. J. (2004) Social value orientations and the
strategic use of fairness in ultimatum bargaining. Journal of Experimental Social Psychology, 40, 697-707.
Vinokur, A., Schul, Y., & Caplan, R.D. (1987). Determinants of perceived social support:
Interpersonal transactions, personal outlook, and transient affective states. Journal of Personality and Social Psychology, 53, 1137-1145.
Watson, D., & Tellegen, A. (1985). Toward a consensual structure of mood. Psychological
Bulletin, 98, 219-235. Watson, P. J., & Andrews, P. W. 2002. Toward a revised evolutionary adaptationist analysis of
depression: The social navigation hypothesis. Journal of Affective Disorders 72, 1-14. Wegener, D. T., Petty, R. E., & Klein, D. J. (1994). Effects of mood on high elaboration
attitude change: The mediating role of likelihood judgments. European Journal of Social Psychology, 24, 25-44.
Yamamori, T., Kato, K., Kawagoe, T. & Matsui, A. (2007). Voice matters in a dictator game. Experimental Economics. Retirado em 18 de Agosto de 2008 de www.e.u-tokyo.ac.jp/cemano/research/DP/documents/coe-f-44_000.pdf
Yuen, K. S. L., & Lee, T. M. C. (2003). Could mood state affect risk-taking decisions? Journal
of Affective Disorders, 75(1), 11-18. Zajonc, R. B., (1980). Feeling and Thinking: Preferences Need No Inferences. American
Psychologist, 35, 151-175. Zwick, R., Erev, I., & Budescu. D.V. (1999). The psychological and economical perspective in
the study of human decisions in social and interactive contexts. em D.V. Budescu, I. Erev, & R. Zwick (Eds.) Games and Human Behaviour, (pp. 3-20). LEA.
62 1.
Anexos
63 1.
MEDIDAS DE CONTROLO Por favor, preencha o espaço em branco ou assinale com uma cruz por cima da alternativa correcta.
Idade ______
Sexo: Masculino ___ Feminino ___
Qual é a frequência com que tem participado em estudos e/ou pré-testes? 1.........2.........3.........4 Nunca Raramente Algumas Muitas vezes