-
7/23/2019 Terapia Comunitria Integrativa_uma Construo Coletiva
Do Conhecimento
1/345
TERAPIA COMUNITRIA INTEGRATIVAUMA CONSTRUO COLETIVA DO
CONHECIMENTO
-
7/23/2019 Terapia Comunitria Integrativa_uma Construo Coletiva
Do Conhecimento
2/345
Direitos desta edio reservados :EDITORA DA UFPBCaixa Postal 5081
Cidade Universitria Joo Pessoa Paraba BrasilCEP 58.051-970
Impresso no BrasilPrinted in Brazil
Foi feito o depsito legal
T315 Terapia comunitria integrativa: uma construo coletiva do
conhecimento / Maria de Oliveira Ferreira Filha, Rolando
Lazarte, Maria Djair Dias, organizadores.--Joo Pessoa:
Editora Universitria da UFPB, 2013.
346p.
ISBN: 978-85-237-0691-3
1. Terapia de grupo(Assistncia social). 2. Terapia
comunitria integrativa. 3. Sade mental. I. Ferreira Filha,
Maria de Oliveira. II. Lazarte, Rolando. III. Dias, Maria
Djair.
UFPB/BC CDU: 364-785.24
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARABAReitora
MARGARETH DE FTIMA FORMIGA MELO DINIZ
Vice-reitorEDUARDO RAMALHO RABENHORST
EDITORA DA UFPBDiretorIZABEL FRANA DE LIMA
Vice-diretorJOS LUIZ DA SILVA
Supervisor de editoraoALMIR CORREIA DE VASCONCELLOS JUNIOR
Supervisor de produo
JOS AUGUSTO DOS SANTOS FILHO
Editorao e capaRILDO COELHO
-
7/23/2019 Terapia Comunitria Integrativa_uma Construo Coletiva
Do Conhecimento
3/345
Maria de Oliveira Ferreira FilhaRolando Lazarte
Maria Djair DiasORGANIZADORES
TERAPIA COMUNITRIA INTEGRATIVA
UMA CONSTRUO COLETIVA DO CONHECIMENTO
Editora da UFPBJoo Pessoa
2013
-
7/23/2019 Terapia Comunitria Integrativa_uma Construo Coletiva
Do Conhecimento
4/345
-
7/23/2019 Terapia Comunitria Integrativa_uma Construo Coletiva
Do Conhecimento
5/345
Autores
Adalberto de Paula Barreto. Mdico. Doutor em medicina pela
Universit deParis V (Ren Descartes) (1982) e em antropologia pela
Universit Lumire Lyon 2(1985). Graduado pela Universidade Federal
do Cear (1976), Filsofo e Telogograduado pela Universit Catholique
de Lyon et Pontificia Universitas St. Tomas deAquino (1983).
Docente da graduao e ps graduao da Faculdade de Medicinada
Universidade Federal do Cear (UFC). Coordenador do Projeto 4
Varas/Movimento Integrado de Saude Mental Comunitria do Cear -
MISMEC/CE.
Criador da Terapia Comunitaria Integrativa.
[email protected]
Ana Lcia da Costa Silva.Psicloga. Mestre em Sade da
Famlia-Unesa-RJ,
com especializao em: Sade Mental-Fundao Osvaldo Cruz-(Fiocruz),
Centro
de Pesquisa Lenidas & Maria Deane, Terapia Cognitiva
Comportamental-
Falculdade Martha Falco-AM, Teoria e Clinica Psicanalitica-Gama
Filho,
Recursos Humanos- UFAM-Am, e Formao em Terapia Comunitria.
acosta.
[email protected]
Amilton Carlos Camargo., Psiclogo Clnico, Terapeuta Comunitrio
formadopela Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo (PUC-SP),
Doutorando em
Polticas Pblicas (Cincias Sociais Aplicadas) pela Universidade
Federal do
Maranho, Especialista em Psicologia da Sade e Psicoterapia
Psicodinmica
para os Transtornos de Personalidade pela Universidade Federal
de So Paulo,
Mestre em Psicologia Social - Universidade So
Marcos.SP.camargoam@uol.
com.br
Antonia Oliveira Silva. Enfermeira, graduada pela Universidade
Federalda Paraba (1975). Especialista em enfermagem psiquitrica.
Mestra em
Psicologia (Psicologia Social) pela Universidade Federal da
Paraba (1991);
Doutora em Enfermagem pela EERP/USP (1998). Ps-Doutorado em
PsicologiaSocial pelo ISCTE/Portugal (2003). (1978). Pesquisadora
lder do Grupo de
Estudos e Pesquisa em Envelhecimento e Representaes Sociais e
bolsista de
produtividade em pesquisa do CNPq. [email protected]
-
7/23/2019 Terapia Comunitria Integrativa_uma Construo Coletiva
Do Conhecimento
6/345
Eliane Carnot de Almeida. Psicloga, graduada pela Universidade
Gama Filho(1981), Doutora em Sade Coletiva pelo Instituto de
Medicina Social - IMS,Universidade do Estado do Rio de Janeiro UERJ
(2005), Mestre em Sade
Coletiva pelo Instituto de Medicina Social / UERJ (1998).
Professora Titular daUniversidade Estcio de S.
[email protected]
Dayse Gomes Sousa de Oliveira. Fisioterapeuta graduada pelo
Centro Universitriode Joo Pessoa - UNIP (2003). Mestre em
Enfermagem pela Universidade Federalda Paraba -UFPB (2008),
Especialista em Sade Pblica pela FACISA
(2005)[email protected]
Edlene de Freitas Rocha. Fisioterapeuta graduada pela
Universidade Estadual
da Paraba (1996), Mestre em Enfermagem pela UFPB, Terapeuta
Comunitria.UAKTIARA/SP. Especialista em Cinesioterapia pela
Universidade Federal daParaba (2002) e Sade Pblica pela Faculdade
de Cincias Sociais Aplicadas(2005) e tambm em Fisioterapia
Traumato-ortopdica
Funcional(2008)[email protected]
Fbia Barbosa de Andrade. Enfermeira graduada pela Universidade
Federalda Paraba. Doutora do Programa de Ps-Graduao em Cincias da
Sade daUniversidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Mestrado
em Enfermagempela Universidade Federal da Paraba (2009).
[email protected]
Fernanda Lcia de Sousa Leite Morais. Mdica, graduada pela
UniversidadeFederal da Paraba- UFPB (1981). Mestre em Enfermagem
pela UFPB (2010);Especialista em Gesto e Poltica de Recursos
Humanos para o SUS, pelo Centrode Pesquisas Aggeu Magalhes, da
Fundao Oswaldo Cruz (1993); TerapeutaComunitria formada pelo IBDH e
Secretaria Municipal de Sade de JooPessoa/PB (2007). Docente da
Faculdade de Ciencias Mdicas da Paraba.
[email protected]
Fernanda Jorge Guimares. Enfermeira graduada pela Universidade
Federal daParaba (2004). Doutoranda da Universidade Federal de
Pernambuco. Docentedo Ncleo de Enfermagem do Centro Acadmico de
Vitria da UniversidadeFederal de Pernambuco, Especialista em
Enfermagem do Trabalho. Mestre em
-
7/23/2019 Terapia Comunitria Integrativa_uma Construo Coletiva
Do Conhecimento
7/345
Enfermagem pela UFPB (2006), Terapeuta Comunitria formada pelo
MISMEC/CE. [email protected]
Francisdo Arnoldo Nunes de Miranda, Enfermeiro graduado pela
UniversidadeEstadual do Cear. Doutor em Enfermagem pela Escola de
Enfermagem deRibeiro Preto, Universidade de So Paulo, Mestre em
Enfermagem Psiquitricae Cincias Humanas, Docente do Programa de Ps
Graduao em Enfermagem,Universidade Federal do Rio Grande do Norte e
Lder do Grupo de Pesquisa: Aespromocionais e de ateno a sade de
grupos humanos em Sade Mental e SadeColetiva (Diretrio de Grupos do
CNPq). [email protected]
Iris do Ceu Clara Costa. Odontloga, graduada pela Universidade
Federal
do Rio Grande do Norte (1977). Doutora em Odontologia Preventiva
e Socialpela Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita
Filho-Araatuba (2000),Especializao em Ativao no processo de mudanas
na formao profissionalem sade pela Escola Nacional de Sade
Pblica/Rede Unida/Ministrio da Sade(2006). Mestre em Odontologia
Social pela Universidade Federal Fluminense(1981). Ps Doutorado em
Psicologia Social pela Universidade Aberta de Lisboa-Portugal
(2007-2008). Professora Associada II da Universidade Federal do
RioGrande do [email protected]
Luci Leme Brando Lazzarini. Psicloga graduada pela Pontifcia
UniversidadeCatlica de So Paulo - PUCSP em 1979; Especialista em
Terapia Familiar e deCasal formada pela Pontifcia Universidade
Catlica de So Paulo - PUCSP em2007. Terapeuta Comunitria formada
pela Pontifcia Universidade Catlica de SoPaulo - PUCSP em 2004;.
[email protected]
Lucineide Alves Vieira Braga. Enfermeira graduada pela
Universidade Federalda Paraba (1989. Mestre em Enfermagem na Ateno
Sade pelo Programa
de Ps-Graduao em Enfermagem da Universidade Federal da Paraba
(2009),Especialista em Sade Publica, Obstetrcia, Sade da Famlia e
Formao Pedaggicaem Educao Profissional na rea de sade: Enfermagem -
PROFAE. Docente doCentro Universitrio de Joo Pessoa - UNIP e
Faculdade de Cincias Mdicas daParaba - FCM. Terapeuta Comunitria.
Membro do Grupo de Estudo e Pesquisaem Sade Mental Comunitria da
UFPB. [email protected]
-
7/23/2019 Terapia Comunitria Integrativa_uma Construo Coletiva
Do Conhecimento
8/345
Maria de Oliveira Ferreira Filha. Enfermeira. Doutora em
Enfermagem,formada pela Universidade Federal do Cear (2002). Mestre
em Enfermagem pelaUniversidade Federal da Paraba (1994). Graduada
pela Universidade Federal da
Paraba (1981). Especialista em Enfermagem Pisiquitrica pela UFPB
(1982),Docente do Programa de Ps Graduao em Enfermagem PPGENF/
UniversidadeFederal da Paraba/ UFPB, vinculada ao e ao Departamento
de Enfermagem deSade Pblica e Psiquiatria. Pesquisadora e Lder do
Grupo de Estudos e Pesquisaem Sade Mental Comunitria (cadastrado no
CNPq). Terapeuta comunitria,formada pelo MISMEC Cear. e membro do
Grupo de Enfermeiras Experts noEnsino de Enfermagem em Sade Mental
das Amricas - OPS/OMS, desde [email protected]
Maria Djair Dias. Enfermeira graduada pela UFPB. Doutora em
Enfermagempela Escola de Enfermagem da Universidade de So Paulo -
SP, Especialista emEnfermagem Obsttrica. Mestre em Enfermagem pela
UFPB. Docente Associado IIdo Departamento de Enfermagem Sade
Pblica, e do Programa de Ps-Graduaoem Enfermagem da UFPB; Terapeuta
Comunitria - MISMEC - Ce. [email protected]
Mrcia Rique Caricio.Enfermeira graduada pela Universidade
Federal da Paraba(1989). Mestre em Enfermagem pela UFPB(2010).
Sanitarista, Especialista emObstetrcia, em Sade da Famlia e em
Gesto de Servicos de Sade e do Cuidado.Docente da Escola de
Enfermagem de Natal (UFRN). [email protected]
Maura Vanessa Silva Sobreira.Enfermeira graduada pela
Universidade Federal daParaba (2008). Mestre em Enfermagem pela
Universidade Federal do Rio Grandedo Norte (2009), Especialista em
Polticas e Gesto do Cuidado em Sade. DocenteAssistente II do
Departamento de Enfermagem da Universidade Estadual do RioGrande do
Norte-Campus Caic-RN. [email protected]
Marilene Grandesso. Psicloga. Doutora em Psicologia Clnica.
Fundadora ecoordenadora do INTERFACI - Instituto de Terapia:
Famlia, casal, comunidadee indivduo. Professora e supervisora de
Terapia familiar e de casal do NUFAC-PUC-SP; Fundadora e
coordenadora do plo formador em TCI - INTERFACI.Coordenadora do
Certificado Internacional em Prticas Colaborativas.
-
7/23/2019 Terapia Comunitria Integrativa_uma Construo Coletiva
Do Conhecimento
9/345
Coordenadora de Grupos de estudo de Prticas narrativas desde
2006. [email protected]
Ricardo Franklin Ferreira. Psiclogo. Doutor em Psicologia
Escolar e doDesenvolvimento Humano pela Universidade de So Paulo.
Professor AdjuntoII, na rea de Psicologia Social, do Departamento
de Psicologia da UniversidadeFederal do Maranho (UFMA).
[email protected]
Rolando Lazarte. Socilogo. Doutor em Sociologia pela
Universidade de SoPaulo/USP. Mestre em Sociologia pelo Instituto
Universitrio de Pesquisas do Riode Janeiro (IUPERJ). Licenciado em
Sociologia pela Universidad Nacional de Cuyo(UNCuyo), Mendoza,
Argentina. Bacharel em Cincias Polticas e Sociais pela
Escola de Sociologia e Poltica de So Paulo (ESPSP). Membro do
Grupo de Estudose Pesquisas em Sade Mental Comunitria (cadastrado
no CNPq), vinculado aoPrograma de Posgraduao em Enfermagem da UFPB.
Terapeuta Comunitriodo Plo Formador em Terapia Comunitria do
MISC-PB, Movimento Integradode Sade Comunitria da Paraba. Primeiro
Diretor de Comunicao Social daABRATECOM-Associao Brasileira de
Terapia Comunitria. [email protected]
Tlio Batista Franco.Psiclogo. Graduado em Psicologia pela PUC-MG
(1985),Doutor em Sade Coletiva pela UNICAMP (2003) e Mestre em Sade
Coletivapela UNICAMP (1999). Docente do Programa de Ps-graduao em
SadeColetiva da Universidade Federal Fluminense (UFF). Lder do
Grupo de Pesquisa;Laboratrio de Estudos do Trabalho e Formao em
Sade; LETFS/CNPq. Filiado Association Latine pour lAnalyse des
Systmes de Sant (ALASS), Barcelona,Espanha. Filiado Rede
Ibero-Americana de Pesquisa Qualitativa. [email protected]
Viviane Rolim Holanda.Enfermeira graduada pela Universidade
Federal da Paraba(UFPB). Doutoranda em Enfermagem pela Universidade
Federal do Cear (UFC).Mestre em Enfermagem pela UFPB (2006).
Docente do Curso de Graduao emEnfermagem da Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE) lotada no CentroAcadmico de Vitria (CAV).
[email protected]
-
7/23/2019 Terapia Comunitria Integrativa_uma Construo Coletiva
Do Conhecimento
10/345
-
7/23/2019 Terapia Comunitria Integrativa_uma Construo Coletiva
Do Conhecimento
11/345
SUMRIO
PREFCIO
...........................................................................................................13
APRESENTAO
................................................................................................17
PARTE I CONHECENDO A TERAPIA
COMUNITRIAINTEGRATIVA...................................................................................................23
1. Uma Introduo Terapia Comunitria Integrativa: conceito,bases
tericas e mtodo.Adalberto de Paula Barreto e Rolando Lazarte
......................................................... 24
PARTE II A TERAPIA COMUNITARIA INTEGRATIVA COMOINSTRUMENTO DE
TRANSFORMAO...........................................................45
2. Tempo de falar e tempo de escutar: a produo de sentido em
grupo teraputico.Amilton Carlos Camargo e Ricardo Franklin.
.......................................................... 46
3. Minha vida tem sentido toda vez que venho aqui: significado
atribudo TerapiaComunitria pela famlia do participante.Luci Leme
Brando Lazzarini e Marilene
Grandesso...............................................66
4. Terapia Comunitria e Resilincia: histria de
mulheres.Lucineide Alves Vieira Braga, Maria Djair Dias, Maria de
Oliveira Ferreira Filha eAdalberto de Paula
Barreto.....................................................................................
84
PARTE III A TERAPIA COMUNITRIA INTEGRATIVA NA ESTRATGIASADE DA
FAMLIA/SUS: MUDANAS DE
PRTICAS...............................107
5. A Terapia Comunitria e as Mudanas de Prticas no SUS.Edlene de
Freitas Rocha e Maria de Oliveira Ferreira Filha
....................................108
6. Terapia Comunitria: um encontro que transforma o jeito de ver
econduzir a vida.Mrcia Rique Carcio, Maria Djair Dias, Tlio Batista
Franco e Maria de OliveiraFerreira Filha.
.....................................................................................................
132
-
7/23/2019 Terapia Comunitria Integrativa_uma Construo Coletiva
Do Conhecimento
12/345
7. Rodas de Terapia Comunitria: espaos de mudanas para
profissionais daestratgia sade da famlia.Fernanda Lucia de S. Leite
Morais e Maria Djair Dias .........................................
159
8. A Terapia Comunitria e suas repercusses no processo de
trabalho da EstratgiaSade da Famlia: um estudo
representacional.Maura Vanessa Silva Sobreira e Francisco Arnoldo
Nunes de Miranda .................... 188
PARTE IV A TERAPIA COMUNITRIA INTEGRATIVA COM
GRUPOSESPECIFICOS....................................................................................................207
9. Terapia Comunitria como abordagem complementar no tratamento
da
depresso: uma estratgia de sade mental no PSF de Petrpolis.Ana
Lcia da Costa Silva e Eliane Carnot de Almeida
.......................................... 208
10. A Contribuio da Terapia Comunitria para o enfrentamento das
inquietaesdas gestantes.Viviane Rolim Holanda, Maria Djair Dias e
Maria de Oiveira Ferreira Filha ........ 231
PARTE V - AVALIAO DA TERAPIA COMUNITRIA
INTEGRATIVA
.................................................................................................253
11. A Histria da Terapia Comunitria na ateno bsica de sade em
Joo Pessoa/PB: uma ferramenta de cuidado.Dayse Gomes Sousa de
Oliveira e Maria Djair Dias
..............................................254
12. A Terapia Comunitria como instrumento de incluso da sade
mental naateno bsica: anlise da satisfao dos usurios.Fbia Barbosa
de Andrade, Maria de Oliveira Ferreira Filha, Antonia Oliveira
Silva,Iris do Cu Clara Costa
........................................................................................281
13. Repercusses da Terapia Comunitria no cotidiano de seus
participantes.Fernanda Jorge Guimares e Maria de Oliveira Ferreira
Filha ............................... 320
-
7/23/2019 Terapia Comunitria Integrativa_uma Construo Coletiva
Do Conhecimento
13/345
13
Prefcio
Vrios so os caminhos que conduzem ao conhecimento e
conferemcompetncia a quem por eles caminha. A grande estrada da
qualificaoprofissional tem sido as escolas, as universidades e as
academias: instituiesdetentoras de saber, formadoras de
profissionais, com seus rituais de iniciao,seus ttulos, suas
teorias, suas teses.
Uma outra fonte de produo do saber a vivncia pessoal de
indivduose de grupos sociais apreendida ao longo da vida. Os
obstculos, os traumas,as carncias e os sofrimentos superados
transformam-se em sensibilidade e
competncia, levando-nos a aes reparadoras de outros sofrimentos.
Essacompetncia e essas habilidades construdas a duras penas so
transmitidas, degerao a gerao, pela tradio oral do ouvi dizer e vi
fazer constituindoum capital scio cultural indispensvel a todo e
qualquer desenvolvimentotanto individual como coletivo.
Por isso afirmamos, minha primeira escola foi minha famlia emeu
primeiro mestre foi a criana que fui. Geralmente atribumos
nossascompetncias a livros que lemos, cursos que fizemos e jamais a
algo que
vivenciamos. Como poderemos nos empoderarse deixarmos de lado o
saberproduzido no contexto familiar, na escola da vida? Seremos
meros marionetesprontos para sermos manipulados, colonizados e,
portanto, alienados de nossopotencial criativo.
S nos empoderamos, quando compreendemos e aceitamos ser
sujeitoativo, aprender com nossa histria e no ter vergonha de
nossas origens tnicase dos nossos valores culturais, construdos em
contextos diferentes, por nossosancestrais.
Na academia, ns incorporamoso saber cientfico que nos confere
umdiploma que legitima uma identidade profissional e nos garante um
salriofinanceiro. No entanto, muitas vezes, esta incorporao feita
em detrimentoda identidade cultural. Ela exige a morte do ndio, do
negro que vive em cadaum de ns. Desta forma, reproduzimos o drama
vivido no filme do Robocop,onde a dimenso humana fica eclipsada,
reprimida por uma parafernliatecnolgica. Tudo se passa como se a
condio para sermos um profissional
-
7/23/2019 Terapia Comunitria Integrativa_uma Construo Coletiva
Do Conhecimento
14/345
14
eficiente, cientista, fosse combater a dimenso afetiva,
cultural, prpria do serhumano.
Na experincia de vida, as carncias e os sofrimentos, quando
superados, transformam-se em sensibilidade e competncia,
levando-nos aaes reparadoras de outros sofrimentos, nos conferindo
um salrio afetivo.
O sofrimento que vivi me anima a restaurar aquilo que j conheo.,
portanto, minha antiga dor que se torna fonte de competncia
sanadora.Desta forma, cuidando do outro, eu restauro a minha prpria
histria pessoale familiar.
Podemos, assim, afirmar que a carncia gera competncia.
Geralmenteensinamos melhor aquilo que mais precisamos aprender e
damos melhor aquilo
que no recebemos. Por exemplo: se fui rejeitado torno-me
acolhedor.Ns necessitamos destas duas formas de conhecimento: o
tcnico-
cientfico e o conhecimento produzido pela experincia de
vida.Usando uma metfora para melhor compreendermos estes dois
saberes,
so como duas mos que se chocam, produzindo inicialmente barulho
esofrimento, e aos poucos, se do conta que podem produzir msica,
ritmos,melodias que demonstram a alegria de viver. Portanto, so
saberes que sechocam, se interpelam, num choque criativo e jamais
destrutivo, no qual um
novo saber quer eliminar o outro, seguindo a lei do mercado que
faz com queo surgimento de um novo produto, sempre provoca a
destruio do outro.Seria uma perda inestimvel se a diversidade dos
saberes no permitisse a co-habitao, de forma respeitosa, desta
diversidade. Ora, a sociedade compostade contextos os mais diversos
e, por isso, precisamos compreender que ummodelo nico, uma leitura
nicaser sempre parcial. Um ponto de VISTA, sempre a VISTA de um
ponto. A compreenso da realidade social exige leituras,abordagens
as mais variadas e plurais possveis para atender a complexidade
dos diversos contextos. Um modelo uma construo sempre provisria.
Ummodelo aplicado para fazer uma leitura num determinado contexto,
pode noservir para compreender um outro contexto. A realidade uma
universidade.Ela nos ensina a cada momento a relativizarmos o nosso
saber, para podermosincluir, articular outros saberesconstrudos em
outros contextos.
A Terapia Comunitria Integrativa - TCI, como toda
abordagemintegradora ou holstica, sabe que possvel transformar o
choque e a dor
-
7/23/2019 Terapia Comunitria Integrativa_uma Construo Coletiva
Do Conhecimento
15/345
15
deste confronto em ritmo, em batucada, em algo criativo que no
negue, masintegre. Na Terapia Comunitria, aprendemos a construir
juntos.
A TCI apia-se nas competncias dos indivduos e nos saberes
produzidos pela experincia. Seus participantes so considerados
verdadeirosespecialistas na superao do sofrimento. Suas histrias de
vida os tmtornado especialistas na superao de obstculos e na produo
de um saber,geralmente ignorado pela academia.
No se trata de rejeitar o saber acadmico, mas, sim, resgatar
esta outrafonte geradora de competncia. Trata-se de permitir que um
mtodo de cunhocientfico possibilite ao outro mtodo de cunho mais
intuitivo e culturaltomar corpo, conscincia, consistncia e
reconhecimento de habilidades
adquiridas por outras vias que no as convencionais. Trata-se de
reconhecerque a cultura tem tambm seus processos e mtodos geradores
de habilidadese competncias.
A Terapia Comunitria Integrativa vem adotando o Mtodo de
pesquisa-ao-participativa (RAP em francs), definido como rejeio do
monopliouniversitrio sobre a produo do conhecimento, e fazendo
apelo tambma outras maneiras de produzir conhecimentos como a
histria oral, queprioriza a experincia do vividoda base, na base e
para a base. Os resultados
tm sido encorajadores. O que resulta do dilogo entre as
diferentes formas deproduo de conhecimento tem permitido
compreender a importncia dever o outro como um parceiro possuidor
de recursos ocultos que precisam sermobilizados, levados em conta
em um trabalho de desenvolvimento humanoe comunitrio. Assim, tem
sido possvel relativizar os mtodos e estar aberto auma colaborao
transdisciplinar e transcultural.
Do contrrio, o sofrimento sem crescimento, sem transformao
emcompetncia, transforma-se num fatalismo aniquilador de esperanas,
gerando
comodismo. No adianta fazer nada. Se correr o bicho pega e se
ficar o bichocome. E, aos poucos, vamos perdendo a confiana em ns
mesmos, em nossopotencial e vamos alimentando atitudes de fracasso,
de auto-desvalorizao edependncias as mais diversas, provocando o
que chamo de a sndrome damisria psquica. Se, por um lado, este
adgio popular sugere conformismo,nos convida a deixar as coisas
como esto. Por outro lado, neste mesmoprovrbio, podemos descobrir
uma outra mensagem oculta, transformadora,
-
7/23/2019 Terapia Comunitria Integrativa_uma Construo Coletiva
Do Conhecimento
16/345
16
mobilizadora desde que acrescentamos uma frase. Ou seja, se a
gente se juntar,o bicho quem corre, a gente pega e mata o bicho da
corrupo, da violncia,dos preconceitos...
O sofrimento a matria prima da TCI, na medida em que
podemostransform-lo em crescimento. Para compreendermos melhor, me
permitamuma outra metfora: o sofrimento como o excremento, a merda
quepode ser transformada em estrume, em alimento para as plantas
crescerem eproduzirem flores e frutos. O foco de nossa reflexo
centrada no sofrimentoe a pergunta chave : O que tenho feito de
meus excrementos de minhas merdas de meus traumas? J aprendi a
transform-los em adubo ou apenas aexalar odores insalubres e
poluentes de vidas?
Neste livro, so relatadas algumas experincias da escola da
vida,
onde os grandes especialistas do cuidado souberam lidar com
estaalquimia. Transformar sofrimento em sensibilidade, em energia
reparadora,possibilitando a construo de uma nova ordem social, a
construo coletivado conhecimento.
A forma de conhecimento que se recupera na prtica da
TerapiaComunitria, bastante complexa. Compreende a capacidade do
indivduovir a se observar e a observar os outros, bem como as aes
de que faz parte,como parte de um contexto. Aponta para que a
pessoa recupere a condio deagir, isto , a de ser um ator, e no
algum que meramente reage. Procura ajudar
a que o indivduo recupere o valor da sua prpria experincia como
uma fontede conhecimentos e de uma capacidade para se desenvolver
no mundo. Isto uma simbiose entre o saber popular, experiencial, e
o conhecimento cientfico.Estas so apenas algumas pinceladas do
processo essencial de recuperao doser que ocorre na TCI ou, melhor
dizendo, desencadeado por ela. Cada ume cada uma ir descobrir por
si os traos desta caminhada de volta para simesmo ou si mesma.
A revoluo que a TCI propicia na vida das pessoas e
comunidadesconduz, como dissemos mais atrs, a um empoderamento, a
uma re-fundaoda vida e da experincia. Esperamos que estes estudos,
e mais, a experinciade cada um e de cada uma neste caminho que aqui
se prope, qual seja, o depesquisar constantemente em si mesmo e na
circunstncia de que somos parte,leve muitos e muitas a este
re-descobir o sentido de uma vida plena, feliz, livree
criativa.
Adalberto de Paula Barreto
-
7/23/2019 Terapia Comunitria Integrativa_uma Construo Coletiva
Do Conhecimento
17/345
17
Apresentao
A pesquisa sobre a Terapia Comunitria Integrativa TCI, ainda
umarea de conhecimento relativamente nova no Brasil, embora o seu
objeto de estudotenha uma existncia superior aos 20 anos. A
defasagem entre o surgimento doobjeto de estudo e o seu estudo,
contudo, no deve de per si chamar a ateno.
O fato de que um conjunto de prticas, de modos de ser e de
fazer, depensar e de sentir, em suma, o que mile Durkheim chama de
fato social, demoreem atrair a curiosidade dos acadmicos, dos
gestores, da populao nos seusdiversos atores sociais, pode at ser
considerado normal.
Para que esse conjunto de prticas venha a ter efeitos que
despertem a
ateno dos estudiosos, essas prticas devem j ter provocado
conseqncias tais,pela sua aplicao e disseminao, que seja inevitvel
que as instituies de ensinoe pesquisa se voltem para o novo fenmeno
em expanso.
Tal o que ocorre no Brasil com os estudos sobre a Terapia
ComunitriaIntegrativa, em parte, reunidos nesta coletnea. A ideia a
de oferecer aos leitores,de maneira sucinta, um breve estado das
artes, se que esta afirmao no demasiado pretensiosa. O que foi
pesquisado, ao menos no circuito acadmico,no mbito universitrio.
Quais so as avaliaes das repercusses da aplicaodesta tecnologia de
cuidado e de reduo do sofrimento mental que muito mais
do que uma ao em sade ou pela sade. um fenmeno social, um
movimentosocial, e como tal, o que aqui apresentamos, como que a
ponta de um iceberg.
A TCI um processo, uma prtica social e pessoal complexa, e como
tal,tem dado lugar a pesquisas e estudos tanto sobre ela mesma,
quanto sobre os seusefeitos sobre as pessoas e comunidades. Este um
campo vasto de investigao,que compreende desde os fundamentos da
TCI at as suas diversas aplicaesem Equipes de Sade da Famlia,
comunidades, instituies. Aqui apresentamosvrios destes estudos.
A pesquisa em TCI no dispensa o sujeito: o terapeuta comunitrio
est
constantemente investigando sua prpria vida e a vida ao redor,
na trama da rededa qual faz parte. A prtica da pesquisa em TCI
envolve ento o pesquisador e apopulao pesquisada. sempre uma
pesquisa participante, uma pesquisa ao.E tambm uma pesquisa em que
o conhecimento sempre transformador, nuncamera informao ou
interpretao.
A primeira parte introdutria e o capitulo elaborado por
Adalberto dePaula Barreto, criador da terapia comunitria, e Rolando
Lazarte, colaborador,
-
7/23/2019 Terapia Comunitria Integrativa_uma Construo Coletiva
Do Conhecimento
18/345
18
apresenta uma viso da terapia comunitria para os leitores, dando
nfase discusso das bases tericas, conceitos fundamentais, mtodo, e
os resultadosque se alcanam com esta prtica, em termos da recuperao
da pessoa humana,
a sua auto-estima e noo de si, a sua identidade e histria, a
trama social depertencimento e a estrutura valorativa. Nesse
capitulo, se entrecruzam visessobre este novo fenmeno social desde
os ambitos disciplinares da antropologiae a sociologia.
Na segunda parte, apresentamos estudos sobre a TCI e os seus
efeitosna vida das pessoas que participam dos encontros de TCI, bem
como nos seusfamiliares. O texto deAmilton Carlos Camargo e Ricardo
Franklin,Tempo de falare tempo de escutar: a produo de sentido em
grupo teraputico, um estudoexploratrio que buscou, atravs da
narrativa de mulheres, ampliar a compreensodos sentidos atribudos
ao sofrimento a partir da participao dessas mulheresnas rodas de
Terapia Comunitria. Os autores trazem uma reflexo centrada
napercepo do sujeito inserido no coletivo, evidenciando como as
apropriaes dafala do outro, produzem um novo sentido para as
experincias vividas.
Minha vida tem sentido toda vez que venho aqui: significado
atribudo terapia comunitria pela famlia do participante, de autoria
de Luci Leme BrandoLazzarini e Marilene Grandesso, um estudo ondese
mostra como a participaode um membro da famlia nas rodas da TCI,
repercute positivamente na sua
transformao pessoal, tanto quanto na da famlia da qual faz
parte. As autorasutilizaramm o genograma para oferecer ao leitor
uma maior compreenso sobre aconstituio das famlias pesquisadas.
O texto, Terapia Comunitria e Resilincia: histria de mulheres
deLucineide Alves Vieira Braga, Maria Djair Dias, Maria de Oliveira
Ferreira eAdalberto de Paula Barreto, discute a resiliencia, um dos
pilares tericos da TCI,e nesse estudo buscou-se conhecer as
estratgias resilientes utilizadas por umgrupo de mulheres
participantes de rodas de TCI. uma pesquisa que priorizouo mtodo da
histria oral temtica, para revelar histrias de lutas e superao
da vitimizao. Os autores discutem as caractersticas resilientes
presentes nasmulheres, e constatam que a TCI propiciou o aumento da
autoestima e dacapacidade de mobilizao social e comunitria.
Na terceira partedo livro, a nfase recai sobre estudos
desenvolvidos sobrea insero da Terapia Comunitria Integrativa na
Estratgia Sade da Famlia-ESF. Os trs primeiros estudos, tiveram
como mtodo de investigao a histriaoral temtica. Coloca-se o foco
nas mudanas que ocorreram nas prticas dos
-
7/23/2019 Terapia Comunitria Integrativa_uma Construo Coletiva
Do Conhecimento
19/345
19
profissionais da ESF que se formaram terapeutas comunitrios. O
texto de Edlene
de Freitas Rocha, Maria de Oliveira Ferreira Filha e Maria Djair
Dias, intitulado
A Terapia Comunitria e as Mudanas de Prticas no SUS, traz um
retrato do
processo de formao em TCI realizado no municpio de Pedras de
Fogo/PB, e
aborda a TCI como uma prtica de humanizao do cuidado em sade,
conforme
preconizada pelo SUS. Atravs dos relatos dos participantes do
curso, focaliza a
contribuio da TCI para o autoconhecimento como um processo de
educao
permanente, e compara a TCI com a poltica de Educao Permanente
para o
Sistema nico de Sade SUS, no contexto da consolidao de um
modelo
comunitrio de sade mental.
A contribuio deMrcia Rique Caricio, Maria Djair Dias, Tlio
BatistaFranco e Maria de Oliveira Ferreira Filha, Terapia
comunitria: um encontro
que transforma o jeito de ver e conduzir a vida, mostra atravs
da histria oral,
as repercusses da TCI em profissionais da Estratgia de Sade da
Famlia. Do
ponto de vista da perspectica de Gilles Deleuze, Os autores
comparam a TCI
como um encontro potente onde as pessoas so afetadas mutuamente
pelas
histrias vividas e narradas nas rodas. Eles trazem uma inovao no
campo
epistemolgico, e mostram como a terapia temtica, que uma das
variantes
da TCI, pode ser utilizada como tcnica de produo de material
emprico, nos
estudos qualitativos que requerem a expresso da subjetividade
representada pelo
vivido, pelo experienciado.
No capitulo, Rodas de terapia comunitria: espaos de mudanas
para
profissionais da estratgia sade da famlia de Fernanda Lucia de
S. Leite Morais e
Maria Djair Dias, a perspectiva est centrada na compreenso sobre
as mudanas
pessoais e profissionais ocorridas em trabalhadores da Estratgia
de Sade da
Famlia (ESF) a partir da participao deles em rodas de Terapia
ComunitriaIntegrativa. Verificam-se as interrelaes entre o mundo do
trabalho e o mundo
da vida, numa ateno humanizada aos usurios na ateno bsica em
sade. Este
estudo demarca a proximidade da TCI com a educao permanente em
sade
sob dois ngulos: enquanto sujeito de produo das prticas
coletivas da sade e
enquanto objeto da ao transformadora da TCI, quando os
profissionais relatam
-
7/23/2019 Terapia Comunitria Integrativa_uma Construo Coletiva
Do Conhecimento
20/345
20
as mudanas ocorridas no processo de trabalho a partir da
participao deles nasrodas de TCI.
J o captulo Repercusses da terapia comunitria no processo de
trabalho
da Estratgia Sade da Famlia: um estudo representacional, de
autoria deMauraVanessa Silva Sobreira e Francisco Arnoldo Nunes de
Miranda, fundamenta-se na teoria das representaes sociais, na
perspectiva moscoviciana atravs daabordagem sociocognitiva, por
entenderem os autores que esta opo terico-metodolgica favorece uma
reflexo sobre a crtica, sobre o espao onde o sujeitoest inserido,
conferindo um valor influenciado pelo saber do senso comum e
dacincia. O estudo avalia as repercusses da TCI tanto no processo
de trabalho daequipe da ESF quanto no acolhimento e atendimento aos
usurios dos servios
de sade na ateno bsica.A quarta parte, a TCI com grupos
especficos, traz duas pesquisas quetiveram o propsito de investigar
como a TCI poderia potencializar as aesespecficas de cuidado para
grupos com caractersticas homogneas, no que dizrespeito a
problemticas enfrentadas. O captulo Terapia Comunitria
comoabordagem complementar no tratamento da depresso: uma estratgia
de sademental no PSF de Petrpolis, de autoria de Ana Lcia Costa e
Silva e ElianeCarnot de Almeida, mostra como a TCI pode ser
utilizada como uma estratgiacomplementar no tratamento de pessoas
em depresso. Este capitulo uma boa
referencia para queles que pretendem aplicar a TCI em grupos
especficos, comodiabticos, hipertensos, usurios de lcool e drogas,
entre outros.
O captulo A contribuio da Terapia Comunitria para o
enfrentamentodas inquietaes das gestantes, de Viviane Rolim
Holanda, Maria Djair Dias eMaria de Oliveira Ferreira Filha,
objetivou identificar, na fala das mulheresgestantes, as estratgias
desenvolvidas para o enfrentamento das suas inquietaesdo dia-a-dia,
e revelar as contribuies da Terapia Comunitria para o
bomdesenvolvimento do processo da gravidez. Aqui se percebe a
importncia de se ter
nos servios de sade um espao de fala e escuta coletiva, onde
todos so mestrese aprendizes. Esse material direcionador para
prticas coletivas em sade, ondea TCI pode ser mais um espao
educativo, um lugar de tira dvidas sobre mitos emedos relacionados
com a gestao e puerprio.
A quinta parte, estudos que avaliam a TCI, foi inserida nesta
coletneapara despertar o interesse de pesquisadores e
principalmente dos terapeutascomunitrios, para a avaliao da prpria
prtica, seja atravs de tcnicas
-
7/23/2019 Terapia Comunitria Integrativa_uma Construo Coletiva
Do Conhecimento
21/345
21
qualitativas ou de instrumentos quantitativos. Inclui o captulo
A Histria daTerapia Comunitria na ateno bsica de sade em Joo
Pessoa: uma ferramentade cuidado, de autoria de Dayse Gomes Sousa
de Oliveira e Maria Djair Dias.
Neste captulopode-seapreciar a riqueza de narrativas que compem
a histriado processo de implantao da TCI na rede de Ateno Bsica em
Sade nomunicpio de Joo Pessoa, PB. As autoras apresentam aos
leitores uma utilizaodo mtodo da histria oral temtica, trazendo uma
contribuio singular para apesquisa qualitativa, em que o fenmeno
estudado apenas pode ser conhecidoatravs da voz dos colaboradores.
H uma sequencia ntida de narrativas que,cadenciadas, reconstroem
uma histria que at ento era desconhecida.
Por sua vez, o captulo A Terapia Comunitria como instrumento
de
incluso da sade mental na ateno bsica: anlise da satisfao dos
usurios, deFbia Barbosa de Andrade, Maria de Oliveira Ferreira
Filha, Antonia Oliveira Silva,Iris do Cu Clara Costa, teve como
objetivo avaliar a satisfao dos usurios comrelao TCI na Ateno Bsica
em Sade, bem como a contribuio da TCIpara a melhoria nos cuidados
em sade mental no nvel primrio da ateno emsade. um estudo que
utiliza uma escala de avaliao da satisfao dos usuriossobre servios
de sade mental, SATIS-BR, que foi adaptada para este estudosobre
avaliao da TCI, aps quatro anos de sua implantao no municpio deJoo
Pessoa, Capital da Paraba. Esta pesquisa uma referencia para
gestores que
desconheam a repercusso da TCI na ateno bsica de sade e tambm
nasade mental.
Finalmente, o captulo Repercusses da Terapia Comunitria no
cotidianode seus participantes, elaborado por Fernanda Jorge
Guimarese Maria de OliveiraFerreira Filha, um dos primeiros estudos
sobre a TCI publicado em peridicosindexados do sistema qualis da
CAPES. Ele destaca-se pela importncia daintegrao ensino-servio como
propulsora da construo de novos saberes e denovas prticas. Nesta
pesquisa, a histria oral tambm foi utilizada como mtodo
para conhecer as repercusses da TCI no dia a dia das pessoas que
participavamdas rodas de TCI e que tambm frequentavam uma Unidade
de Sade da Famliado municpio de Joo Pessoa, PB. Ele tambm
referencia para os terapeutascomunitrios, uma vez que mostra como
as pessoas concebem esse momentoteraputico, tirando dele, lies para
lidar com situaes conflitivas no cotidiano.
Estas pesquisas que agora apresentamos ao pblico leitor,
constituem aprimeira reunio de estudos sobre a Terapia Comunitria
Integrativa como
-
7/23/2019 Terapia Comunitria Integrativa_uma Construo Coletiva
Do Conhecimento
22/345
22
construo coletiva do conhecimento. Acreditamos que a partir
desta iniciativa,outros pesquisadores possam continuar a contribuir
para que esta tecnologia decuidado, que ao mesmo tempo um movimento
social de promoo da pessoa
humana, uma ao cidad e um mtodo de conhecimento transformador,
continuese expandindo e dando bons frutos, em termos de melhoria da
qualidade de vidade muitas pessoas e comunidades.
O que aqui se apresenta, so pesquisas e estudos com nfases e
objetosespecficos, utilizando metodologias particulares. A ideia
que outrospesquisadores possam ir alm, aprofundadndo e
questionando, gerando novasinterpretaes e perspectivas de
conhecimento e ao. A nossa expectativa a deque esta reunio de
estudos pioneiros sirva para o progresso no campo da pesquisa
e da ao. Os que forem se voltando para estas temticas no futuro,
iro gerandonovos estados das artes, e assim sucessivamente, nessa
construo coletiva que oprocesso do conhecimento.
O tipo de estudos aqui apresentados, enfatiza tanto a
interpretaocomo a compreenso, a captao de sentidos, a descoberta de
novas relaesde conexes. Os leitores tero a oportunidade de conhecer
uma ampla gama deformas de investigao, cujo trao comum :
pesquisa-se a TCI para transformar,prticas sociais para fazer
emergir sujeitos novos, mais atuantes, mais autnomos,mais donos de
si e do seu destino.
A nossa pretenso ao dar a pblico estes escritos a de estimular o
avanodo conhecimento na direo da consolidao do j investigado, bem
comoapontar direes para onde h de se avanar para alm do conhecido,
em direos reas ou aspectos ainda muito pouco explorados.
Nesse sentido, podemos dizer que esta coletnea, que uma produo
doGrupo de Estudos e Pesquisa em Sade Mental Comunitria, registrado
na basede dados do CNPq e vinculado ao Programa de Ps Graduao em
Enfermagemda Universidade Federal da Paraba, pioneira quanto a uma
tentativa de mapear
o conhecido e o por conhecer. Convidamos os leitores, a
mergulharem nestaaventura do conhecimento.
Os organizadores
-
7/23/2019 Terapia Comunitria Integrativa_uma Construo Coletiva
Do Conhecimento
23/345
PARTE I
CONHECENDO A TERAPIA COMUNITRIAINTEGRATIVA
-
7/23/2019 Terapia Comunitria Integrativa_uma Construo Coletiva
Do Conhecimento
24/345
24
UMA INTRODUO TERAPIA COMUNITRIAINTEGRATIVA:
CONCEITO, BASES TERICAS E MTODO.
1Adalberto de Paula Barreto
Rolando Lazarte
TERAPIA COMUNITRIA INTEGRATIVA
A Terapia Comunitria Integrativa (TCI) foi criada no ano de
1987na Favela do Pirambu, Fortaleza, sob a coordenao do psiquiatra,
telogoe antroplogo Adalberto de Paula Barreto, em parceria com a
Associaodos Direitos Humanos do Pirambu e com a Pr-Reitoria de
Extenso doDepartamento de Sade Comunitria da UFC.
A TCI um espao de acolhimento do sofrimento, onde as pessoasse
encontram e se sentam lado ao lado, formando uma roda, para
partilharinquietaes, problemas ou situaes difceis, tanto quanto
alegrias, vitriasou histrias de superao. Na Terapia Comunitria
Integrativa aprende-se apartir da escuta das histrias de vida dos
participantes valorizando o saber decada um, adquirido pela prpria
experincia. Valoriza-se a competncia decada pessoa, no contexto
grupal, uma vez que se entende que todos so co-responsveis na busca
de solues e na superao dos desafios do cotidiano.
O termo terapia de origem grega, therapeia, e significa acolher,
sercaloroso, servir, atender. J comunitria, vem de comunidade que
significacomum + unidade e serve para designar pessoas que tem
caractersticasem comum: excluso e sofrimento, mas que tambm buscam
solues e asuperao das dificuldades em sua vida.
Assim a palavra comunidade, geograficamente falando, compreende
oterritrio, o local onde as pessoas vivem, trabalham, criam seus
filhos e em
-
7/23/2019 Terapia Comunitria Integrativa_uma Construo Coletiva
Do Conhecimento
25/345
25
geral realizam as atividades necessrias para a vida diria. A
comunidade oambiente social onde os riscos so vivenciados e os
apoios so prestados.
A Terapia Comunitria Integrativa uma prtica integrativa
porquevaloriza a diversidade das culturas, do saber fazer e das
competncias individuaise coletivas, lutando contra o isolamento, a
fragmentao e a excluso. Cadapessoa tem um saber que foi produzido
pela sua prpria experincia de vida.Quem descendente de africano,
tem o saber dos pretos-velhos, quem descendente dos ndios tem a
sabedoria das ervas, das garrafadas, dos chs.Quem tem 60 anos tem
um saber produzido pela experincia dos anosvividos. A TCI tambm uma
prtica de carter sistmico, porque considera
que as dificuldades esto relacionadas com o contexto e as
interaes sociais.Os indivduos pertencem a uma rede relacional capaz
de auto-regulao,protagonismo e crescimento.
A TCI uma abordagem que facilita o resgate da autoestima,
fortaleceo poder resiliente e o empoderamento, uma vez que
potencializa recursosindividuais e coletivos. um instrumento de
construo de redes de apoiosocial, porque possibilita a criao de
vnculos e a formao de uma teia derelaes facilitadora das trocas de
experincias, do resgate das habilidades e da
superao das adversidades baseada na formao de recursos
scio-emocionais.Na TCI, cada um doutor da sua prpria vivncia, por
isso, cada um
vai falar de si e da sua experincia. Nas rodas, no se discutem
temas tericose sim questes do cotidiano e sempre a partir de uma
situao-problema quepermite s pessoas descobrirem que tambm tm as
solues. Quando isso feito, no final da terapia, se cria ou se
fortalece uma rede de apoio solidria,que no tem como objetivo
resolver os problemas das pessoas, mas criar esuscitar uma dinmica
interativa de identificao. Essa rede comea a se tecer
e as pessoas iro se tornar mais autnomas, menos dependentes dos
remdiose das instituies.
Portanto a TCI uma tecnologia leve de cuidado, que tem dado
respostassatisfatrias aos que dela participam, sendo mais um
instrumento de trabalho,que pode ser utilizado por profissionais da
sade, reas afins, e pela prpriacomunidade, no sentido de construir
e fortalecer vnculos solidrios, levando
-
7/23/2019 Terapia Comunitria Integrativa_uma Construo Coletiva
Do Conhecimento
26/345
26
as pessoas e a prpria comunidade a um processo de (re) construo
e (re)conhecimento da sua identidade, imagem e memria coletiva,
recuperandoas razes comuns, dando um sentido de pertencimento aos
indivduos, sem
perder de vista as suas singularidades.
A TCI caracterizada por trs componentes bsicos: 1) o
engajamentode todos os elementos culturais e sociais ativos da
comunidade para viabilizara discusso e a realizao de um trabalho de
sade mental; 2) o fortalecimentodo coletivo, a fim de promover o
encontro de grupos de crianas, adolescentes,mulheres, homens,
idosos, funcionado como instrumento de integrao social;3) a formao
da identidade social, para que a pessoa cada vez mais
tomeconscincia da misria e do sofrimento humano, facilitando a
descoberta desuas potencialidades teraputicas.
OS CINCO PILARES BSICOS DA TERAPIACOMUNITRIA INTEGRATIVA
A Terapia Comunitria Integrativa se apia em cinco pilares
tericos:a pedagogia de Paulo Freire, a resilincia, a antropologia
cultural, a teoria
da comunicao humana (ou pragmtica da comunicao humana), e
opensamento sistmico. Estes so os pilares que esto explcitos
atualmente naTCI, mas no se h de pensar que no existam nela outros
pilares de maneiraimplcita.
Por se tratar de uma prtica complexa, em que saberes cientficos
epopulares esto entrelaados, a descoberta de outros pilares
contidos nesteafazer multifacetado, poder sempre ocorrer.
Esta possibilidade se coloca como um desafio para os estudiosos
e para
os terapeutas comunitrios que devem ser, eles mesmos, eternos
pesquisadores,eternos redescobridores de um fazer e de um ser, seu
prprio ser, o ser da vida,que nunca est acabado, est sempre
ocorrendo, sempre sendo outra coisa,sempre sendo algo mais.
-
7/23/2019 Terapia Comunitria Integrativa_uma Construo Coletiva
Do Conhecimento
27/345
27
A Pedagogia de Paulo Freire
H vrios aspectos da pedagogia de Paulo Freire que se
encontram
incorporados na Terapia Comunitria Integrativa. Dentre eles,
cabe aquimencionar a criticidade(como oposta viso ingnua, alienada,
do mundo),a contextualizao, a problematizao, o carter dialgico da
construo doconhecimento e da realidade, a noo do opressor interno
(FREIRE, 1987),o opressor introjetado no oprimido, e a noo de que
oprocesso educativo sempre de duas vias: todos aprendem, o educador
e o educando, isto : todossomos educadores-educandos, por um lado,
e, por outro, a noo de que todossomos geradores de saberes e de
vises de mundo irredutveis umas s outras,
em um movimento contnuo de mtua contradio e complementariedade.
Acompreenso de que a vida um processo incompleto, outra das
caractersticasdo pensamento de Paulo Freire
Estas noes so algumas que se apresentam como relevantes.
Podemparecer muito simples, mas talvez como conseqncia dessa
mesmasimplicidade-- o seu efeito libertador nas rodas de Terapia
ComunitriaIntegrativa, e na formao de terapeutas comunitrios toda
terapia comunitriatende a ser um processo constante de
auto-descoberta e libertao.
Ver as coisas em processo, se ver no processo de oposies e
decontradies que a vida. Poder se ver no contexto das
circunstnciasem que cada um foi sendo moldado, passando a ser um
analista de simesmo e das pessoas em redor, e no mais espectador
passivo. Se percebercomo co-responsvel na criao das circunstncias
em que se vive e se luta,nas quais se descobrem recursos prprios e
coletivos para a emancipaodo que oprime, e no mais como vtima. Se
perceber, portanto, comosujeito construtor de modos de vida e vises
de mundo, de relaes sociais
que oprimem mas tambm podem e devem libertar, em outras
palavras,assumir a pessoa que se e que se est sendo, o destino que
se querrealizar. Ou seja: sujeito ativo, criativo, capaz (o eu
posso individual ecoletivo), autor das prprias escolhas e dono da
prpria vida. Tudo istoem movimento, ou seja: no mais a vida como
passividade, submisso,aquiescncia, mas como atividade,
criatividade, compromisso consciente.
-
7/23/2019 Terapia Comunitria Integrativa_uma Construo Coletiva
Do Conhecimento
28/345
28
A pedagogia de Paulo Freire muito mais do que os
procedimentosque costumam ser citados ao se referir a ela. Tal como
a TerapiaComunitria Integrativa, o mtodo Paulo Freire uma forma de
ver omundo, de ler a realidade e a si mesmo, de agir
significativamente emgrupo e individualmente, a partir de valores e
formas de perceber geradasnum encontro mutante com a matriz
sociocultural e histrica a que sepertence.
As tentativas de resumir estes dois grandes movimentos sociais
emboa medida entrelaados e mutuamente implicados a alguns dos
seustraos caractersticos, podem levar a vises estereotipadas
afastadas do
que se quer conhecer, isto : dois grandes movimentos sociais
gerados noNordeste brasileiro, expandidos pelo pas inteiro, em
perptuo processo demudana interna, avanando de maneira lenta, mas
firme, em direo aformas mais humanas de existncia.
O movimento de educao popular de Paulo Freire e a
terapiacomunitria agem pela base, so movimentos sociais, modificam
aconscincia do oprimido em direo sua libertao prtica, no tericaou
ideolgica. Um dos eixos desta ao libertadora, talvez o principal,
a
recuperao da auto-estima de pessoas e comunidades.Esta recuperao
da autoestima, est ligada libertao da pessoa
e das comunidades, dos esteretipos e dos preconceitos
internalizados,que os faziam se repudiar e se desconhecerem a si
mesmos, por teremintrojetado a viso do opressor. Isto fica claro
numa meno que PauloFreire faz emA pedagogia da Autonomia, forma
como um favelado passoua ver a si mesmo, j no mais como uma vtima
ou algum indesejvel, mascomum sujeito vitorioso, vencedor, por
ter-se organizado e mobilizado
coletivamente em favor do bem comum.
Na Terapia Comunitria Integrada, esta mesma recuperao
daauto-estima, ocorre a partir do momento em que as pessoas passam
ase perceberem j no apenas enquanto algum que cumpre obrigaes,papis
sociais, mas como algum com direito a existir, a ser ele mesmo,
a
-
7/23/2019 Terapia Comunitria Integrativa_uma Construo Coletiva
Do Conhecimento
29/345
29
pessoa, o ser humano que , e no que os outros pensam a seu
respeito ouo que os outros querem que a pessoa seja.
A pedagogia de Paulo Freire foi gestada em um contexto
demobilizao social e poltica latino-americana e mundial, no fim dos
anos1950 e comeo dos anos 1960. Era um perodo marcado por
rebeliesestudantis e por mudanas polticas em direo ao
socialismo.
Na Pedagogia do oprimido, Paulo Freire questiona o
revolucionarismo,como oposto radicalidade. No primeiro, se mantm ou
pretende-semanter a tutela sobre os oprimidos, em nome da sua
libertao. A segunda,envolve uma mudana geral, em que todas as
pessoas se mobilizam naconstruo de uma sociedade emancipada.
As advertncias de Paulo Freire resultam profticas,
olhandoretrospectivamente o panorama dos processos polticos das
ltimas dcadasno nosso continente e no mundo. Em particular, o agir
dos movimentosguerrilheiros e dos regimes do chamado socialismo
real, bem como as ditadurascvico-militares e as suas continuidades
neoliberais.
A vigncia e o vigor da sua pedagogia permanecem atuais, na
medidaem que outros movimentos sociais, como a Terapia Comunitria
Integrativa,aprenderam estas lies; cada um de ns o mundo a ser
mudado, e no h
lderes nem partidos ou instituies que possam nos libertar, se no
assumirmosns mesmos a responsabilidade e as conseqncias de termos
tomado a decisode sermos os autores do nosso prprio destino, com
autonomia.
A Teoria da Comunicao Humana
A teoria da comunicao humana um dos pilares bsicos da
TerapiaComunitria Integrada. Formulada por Watzlawick,
Helmick-Beavin eJackson, permite compreender a ao humana como um
comportamento
em que so transmitidas mensagens. Toda a conduta humana
transmissorade mensagens, inclusive quando nos propomos a no
comunicar, estamosdizendo algo: voc no existe, voc no me importa,
voc no de nada. Bemdizem que o contrrio do amor no o dio, mas a
denegao.
Na Terapia Comunitria Integrativa, aprendemos que uma pessoa
deixade ter sentido ou passa a ser ignorada deliberadamente, quando
ela denegada
-
7/23/2019 Terapia Comunitria Integrativa_uma Construo Coletiva
Do Conhecimento
30/345
30
e isto acarreta conseqncias para a sua auto-estima, para a noo
de si, para oseu modo de ser e de se comportar no mundo.
Uma criana que no foi desejada, desde o ventre materno soube
disso,e veio ao mundo preparada para ter que agradar, para dizer
que sim o tempotodo, para aceitar qualquer coisa em troca de um
pouco de afeto. Uma que foiquerida desde a concepo, ao contrrio,
capaz de dizer sim quando quer,e no quando no quer. Estas
constataes aparentemente muito simples,permitem com que a pessoa
comece a ver a si prpria desde outro lugar, desdeuma possibilidade
de auto-conhecimento autntico, sem enganos, verdadeiro.
Muitas vezes, nas terapias ou nas formaes de terapeutas
comunitrios,
os participantes so levados a descobrirem as falsas imagens que
fizeram de simesmos, e que os tem aprisionado durante a vida toda,
ou por longos perodosde tempo. Quando a pessoa comea a se perceber
como algum que venceumuitas batalhas, algum que soube dar a volta
por cima em circunstnciasque poderiam t-la quebrado ou desviado do
seu caminho, o conceito de sicomea a emergir de uma maneira
positiva. O sujeito se descobre capaz dedirecionar sua prpria vida,
de dar um significado ao seu existir, de decidiro que quer que seja
o seu prprio ser. O que voc quer para eu querer
(a criana ou a pessoa boazinha). O que voc quer para eu no
querer (orebelde ou contestatrio) so prises em que a pessoa deixa
de ser ela mesma,perde a sua liberdade, age por automatismos.
Quando aprendemos a decodificar as primeiras mensagens e a l-las
aonosso favor, quebram-se os determinismos da nossa vida. Se algum
se sentiuabandonado, no querido, porque foi esperado menina e era
menino, ou ocontrrio, isto determinou reaes que estiveram fora do
seu controle, da suacapacidade de decidir. Agiu durante anos contra
o mundo, contra as pessoas,por vingana: no me quiseram, no os
quero. Muitos comportamentosagressivos esto animados por uma reao
de quem se sentiu no querido,no amado.
Muitas vezes a agressividade vai direcionada contra a prpria
pessoa,que passa a conviver com um tirano interno, um sabotador da
sua felicidade e
-
7/23/2019 Terapia Comunitria Integrativa_uma Construo Coletiva
Do Conhecimento
31/345
31
do seu direito a viver com alegria e segundo sua maneira nica e
irrepetvel, nomeio aos outros. Nas formaes de terapeutas
comunitrios, um dos exerccios a descoberta do animal com que cada
um se identifica. Formam-se grupos eos coleguinhas que escolheram o
mesmo animal, trocam figurinhas a respeitode si mesmos, dos seus
modos de ser caractersticos.
Isto faz com que cada um descubra sua natureza mais comum
oufreqente, suas formas habituais de ser e de se comportar. Ento, a
pessoadeixa de se condenar e de se comparar com os outros, descobre
sua formanica de ser, e a aceita. As mensagens recebidas (fui
abandonado, no mequiseram) so re-codificadas em funo do contexto
interpretativo que a
interpretao sistmica e integrativa prope, com base nos valores
dos pais eda cultura em volta, e das escolhas prprias da
pessoa.
O que se aprende na Terapia Comunitria Integrada, em termosda
comunicao, a sair ou tentar quebrar as armadilhas da
comunicaoparadoxal, do duplo vnculo e das distorses das mensagens
equvocas queemitimos ou recebemos. Carta certa para pessoa errada,
quando emitimosuma mensagem que correta no seu contedo, mas est
sendo direcionadaa quem no tem nada a ver. Quando a reao
desproporcionada ao fato,
estamos reagindo no ao fato, mas ao que ele nos remete.Estas
chaves nos do elementos para irmos re-programando a nossa
conduta desde uma viso mais atual, mais presente, menos
condicionada pelopassado. O passado visto como o estrume necessrio
para o crescimentoda planta. O presente desponta como um tempo
novo, livre de amarras. Oempoderamento das pessoas e das
comunidades depende em boa medida dadecodificao e re-codificao de
mensagens recebidas e emitidas.
A Antropologia Cultural
Os conhecimentos dessa cincia chamam a nossa ateno para
aimportncia da cultura, esse grande conjunto de realizaes de um
povo ou
-
7/23/2019 Terapia Comunitria Integrativa_uma Construo Coletiva
Do Conhecimento
32/345
32
de grupos sociais, o referencial a partir do qual cada membro de
um grupo se
baseia, retira sua habilidade para pensar, avaliar e discernir
valores, e fazer suas
opes no cotidiano.
Vista dessa maneira, a cultura um elemento de
refernciafundamental
na construo da nossa identidade pessoal e grupal, interferindo,
de forma
direta, na definio de quem somos, de quem cada um de ns. E a
partir
dessa referncia, que podemos nos afirmar, nos aceitar e nos
amar, para ento
podermos amar os outros e assumir nossa identidade como pessoa e
cidado.
Dessa forma, podemos romper com a dominao e com a excluso social
que,
muitas vezes, nos impem uma identidade negativa ou baseada nos
valores de
uma outra cultura que no respeita a nossa.Quando reconhecemos
que, mesmo num nico pas, convivem
vrias culturas e aprendemos a respeit-las, descobrimos que a
diversidade
cultural boa para todos, verdadeira fonte de riqueza de um povo
e de
uma nao. Se a cultura for vista como um valor, um recurso que
deve ser
reconhecido, valorizado, mobilizado e articulado de forma
complementar
com outros conhecimentos, poderemos ver que este recurso nos
permitir
somar, multiplicar nossos potenciais de crescimento e de resoluo
de nossosproblemas sociais e construir uma sociedade mais fraterna
e mais justa.
A Antropologia traz uma viso do universo cultural do ser
humano.
Compreendemos que toda cultura, todo indivduo, tem direito
diferena,
e que a cultura responde a um desejo maior do ser humano: o de
nutrir a
sua identidade. Ser diferente a razo maior de ser humano.
Combater a
diferena um ato de dominao e de empobrecimento da
humanidade.
A viso antropolgica nos diz que somos construdos socialmente,
quecada ser humano se torna quem ele , a partir dos
condicionamentos recebidos
desde a sua gestao, pela vida afora.
Estes condicionamentos so as marcas da cultura, so as definies
que
nos moldam de maneira a virmos a ser membros da sociedade. Este
processo
a socializao, e implica na adoo de padres de comportamento,
de
-
7/23/2019 Terapia Comunitria Integrativa_uma Construo Coletiva
Do Conhecimento
33/345
33
percepo do mundo e de ns mesmos, de relacionamento com os
outros,
com a natureza, a sociedade, etc.
Este processo implica na constante adoo e rechao de valores e
depadres, conforme os ambientes em que a pessoa vai se incorporando
e as
formas de convivncia com as quais a pessoa levada a se
relacionar ao longo
da sua vida. Nesse processo, a pessoa vai formando a sua
identidade, mas por ser
um processo contraditrio, em que o ser humano individual
freqentemente
forado a se negar a si mesmo para poder sobreviver, a identidade
negativa
ou auto-excludente, muitas vezes prevalece sobre a identidade
originria ou
verdadeira, essencial.
A Terapia Comunitria Integrativa promove um reencontro da
pessoaconsigo mesma, a travs de um processo de auto-reconhecimento
em que
as falsas auto-imagens vo sendo descobertas e rechaadas,
substitudas pela
imagem e auto-conceito positivos originrios.
Esteretipos e preconceitos marcam o caminho conflitivo em que
a
identidade se debate para sobreviver. Uns e outros so impostos
por relaes
de poder que marcam a dominao de grupos na sociedade. A pessoa
se
defronta com situaes nas quais deve adotar padres e valores
contrrios aosseus , e isto pode levar negao da prpria identidade ou
ao seu reforo.
Neste ltimo caso, prevalece a resilincia, a auto-afirmao de si
mesmo e dos
prprios valores, em circunstncias de extremo risco de desapario
da prpria
identidade. Isto em circunstncias extremas; em circunstncias
normais, a
pessoa pode escolher entre valores dominantes, os universais da
cultura, ou
as alternativas.
Na prtica da Terapia Comunitria Integrativa, a pessoa levadaa se
tornar terapeuta de si mesma. Isto envolve, entre outras coisas,
um
reencontro profundo com as suas razes, a sua identidade, a sua
origem, o seu
pertencimento.
Uma prtica social torna-se libertadora quando est
profundamente
conectada com as origens, com a histria de vida da pessoa, o que
ela quis ser
-
7/23/2019 Terapia Comunitria Integrativa_uma Construo Coletiva
Do Conhecimento
34/345
34
e o que , o seu passado e o seu projeto de futuro. Do contrrio,
pode- se cair
em prticas mecnicas, sem sentimento, tecnificadas.
No resgate da criana interior, uma das vivncias utilizadas na
formaodo terapeuta comunitrio, o indivduo levado a se reencontrar
com o seu
primeiro mestre, a criana que foi. Isto promove um retorno
pureza original,
que volta a se tornar um fato do dia a dia, um estado de
conscincia habitual.
O Pensamento Sistmico
A origem do pensamento sistmico deve ser buscada nas vises
de
mundo dos povos da antiguidade, tal como se mostram nos textos
dos povos
originrios da nossa Amrica, ou na Grcia antiga. Essas vises
integradas do
mundo, que Werner Jaeger refere em Paidia, tem semelhana com as
do povo
maia, por exemplo, ou na mitologia kogui. Na literatura e na
antropologia,
respectivamente, Octvio Paz e Ramn P. Muoz Soler, entre outros,
aludem
a esse mundo coeso, anterior s rupturas da modernidade e do
racionalismo
utilitarista.
Ao pensarmos em sistema, vm a imagem e o conceito de um
sistema
como o solar, ou o organismo humano, objetos e elementos em
relao
mtua, em delicado e preciso equilbrio, trabalhando ou
funcionando para
uma finalidade comum.
O pensamento sistmico tem-se desenvolvido ao longo de varias
pocas,
com caracteres prprios. No sculo IX, possvel reconhecer seus
traos no
pensamento de mile Durkheim (1974), um dos fundadores da
sociologia,mas ele se encontra tambm, com feies diversas e no
entanto em certos
sentidos convergentes, no pensamento de Karl Marx. Tambm
possvel
reconhecer o pensamento sistmico nas vises de mundo dos
escolsticos da
Idade Mdia, em que cincia e religio convergiam em formas de
conceber e
conhecer o mundo posteriormente dissociadas pelo racionalismo
cientificista.
-
7/23/2019 Terapia Comunitria Integrativa_uma Construo Coletiva
Do Conhecimento
35/345
35
A trajetria desta dissociao traada por Fritjof Capra em O ponto
de
mutao.
Na sociologia moderna, mencionemos Talcott Parsons (1988),
quemantm a concepo durkheimiana, enriquecida com conceitos
weberianos
e da psicologia social, aproximando o conhecimento do macro
(estrutural)
ao micro (individual, pessoal). Nesta linha, encontramos autores
como Agnes
Heller (1985), Ferdinand Braudel (1990), Karel Kosik (2000),
Georges
Gurvitch (1987), e Alfred Schutz (Fenomenologia e relaes
sociais). Neles
encontramos concepes mutantes de realidade social, permeadas
por
conceitos de conscincia e de dinmica social em constante
transformao.Max Weber, para fecharmos esta breve introduo
sociolgica, constri a sua
sociologia a partir de conceitos de objetividade, racionalidade
e ao social,
em que os motivos, as crenas, as idias e imagens, tem valor
preponderante.
Esta integrao de sabores, a interdisciplinaridade, outro dos
traos
do pensamento sistmico. Restaria acrescentar outro destes traos,
qual seja a
concepo da realidade social como construda, em permanente
modificao,
de maneira inter-subjetiva, por contraposio ao objetivismo que
supe existiruma realidade externa e independente dos sujeitos
humanos.
Este aspecto, da criao social e pessoal da realidade, da
maior
importncia, pois vm de encontro ao fatalismo objetivista, que
supe que
apenas poder haver uma humanidade mais feliz e mais plena,
quando
tiverem mudado umas supostas condies objetivas, que
existiriam
independentemente da vontade dos seres humanos. Como no
assim,
como o mundo, e eu como o mundo primeiro, dependem de ns
mesmos,podemos faz-lo nossa imagem e semelhana, isto , de acordo
com a vontades
de cada um. O empoderamento de pessoas e comunidades, o
reencontro
da capacidade criativa ou autopoiese, o resultado final (se que
existem
resultados finais) do processo de emancipao humana, de recuperao
da
autonomia, de fim da alienao e recomeo da vida plena. Levar em
conta
-
7/23/2019 Terapia Comunitria Integrativa_uma Construo Coletiva
Do Conhecimento
36/345
36
os princpios do pensamento sistmico viver mais de acordo com o
que a
realidade . Isto : a incerteza, a intersubjetividade, a
constante mutao de
tudo e de todos, nos levam a existir de um modo mais fluente,
mais do modocomo o Tao dos antigos chineses diz, ou seja, deixar a
vida seguir seu jogo, suaeterna dana de contrrios
complementares.
Nas ltimas dcadas do sculo XX, Fritjof Capra trouxe novamente
atona a questo da integrao de saberes. Vrios dos seus livros,
provocaramuma verdadeira revoluo, no sentido de que trouxeram de
volta a antigaviso unitria, decomposta pelo utilitarismo, o
mecanicismo, o reducionismoe o materialismo. Se as antigas vises no
viram excluso entre esprito ematria, estas vises integradas que
retornam, repem a unidade do saber e
a unidade da vida, enunciadas por muitos pensadores, como Karl
Marx, porexemplo. Embora Marx tenha sido apresentado como
materialista, sua visodo ser humano integrada, como pode ser lido
nos Manuscritos Econmicose Filosficos de 1844. Erich Fromm (1983),
Karl Jaspers (1953), WilhelmReich, Muoz Soler, Edgar Morin,
Maturana e Varela (2004), LeonardoBoff (1999), completam a pliade
de pensadores modernos em que a visointegrada retorna. Cincia e
poesia, religiosidade e objetividade, os opostos secompletam e
determinam na sua interao contnua, o movimento da vida.
No final da dcada de 1930, o bilogo Ludwig Von Bertalanffy,
enunciou a Teoria Geral dos Sistemas, buscando compreender a
inter-relaoexistente entre as partes e o todo.
O pensamento sistmico diz que as crises e os problemas podem
serentendidos e resolvidos quando os percebemos como partes
integradas deuma rede complexa, com ramificaes, que interligam as
pessoas num todo,envolvendo a biologia (corpo), a psicologia (mente
e emoes) e a sociedade(contexto cultural)(Maturana 2004). Esses
aspectos esto interligados de talmodo que cada parte influencia e
interfere na outra. A abordagem sistmica
possibilita entender a pessoa na sua relao com a famlia, com a
sociedade,com seus valores e crenas, colaborando para a compreenso
e a transformaodo indivduo (Barreto, 2008).
importante registrar que, tendo conscincia da globalidade,
aborda-see situa-se um problema sem perder de vista as vrias partes
do conjunto. Porisso se faz necessrio observar o contexto, ou seja,
as circunstncias que estointerligadas e do sentido ao funcionamento
do sistema no qual o indivduo
-
7/23/2019 Terapia Comunitria Integrativa_uma Construo Coletiva
Do Conhecimento
37/345
37
se insere. Igualmente, para compreender como funciona a
sociedade epara entender o comportamento das pessoas e dos grupos
sociais, precisocompreender o sistema como um todo.
Na Terapia Comunitria Integrativa, a aplicao da
abordagemsistmica implica em reconhecer que todo ato de uma pessoa,
a vida dessamesma pessoa, seus valores, atitudes, formas de agir,
est inserido numamatriz. Essa matriz o contexto que d sentido a
esse ato, a essa pessoa, oua alguma das suas atitudes ou
comportamentos. Implica em deixar de julgarseparadamente,
aprendendo a ver as coisas num conjunto, no seu contexto,fora do
qual no fazem sentido.
Esta forma de ver as coisas, aparentemente to simples, envolve
umamudana radical na percepo do terapeuta. O objetivo da TCI que
cada um
seja seu prprio terapeuta. No processo de formao do terapeuta
comunitrio,ele levado a um mergulho em profundidade em si mesmo, na
sua trajetriade vida, suas lutas, os fracassos, os recomeos, o
vai-vm da sua existncia,num conjunto interpretativo do qual fazem
parte seus familiares (a primeiraescola), a famlia que ele
constituiu ou no posteriormente, o ambiente sociale as tradies
culturais de que faz parte. Isto refaz a leitura de si mesmo quea
pessoa fazia entes da formao como terapeuta comunitrio, em que se
viaa si mesmo e aos demais, separadamente. Aprende a se ver e a
compreenderem conjunto, integradamente, da o nome de terapia
comunitria integrativae sistmica.
A Resilincia
Toda carncia gera uma competncia. A resilincia se refere ao
saberque a pessoa adquire ao longo da sua vida, pela experincia, a
luta, as vitriassobre dores que poderiam t-la quebrado ou, de fato,
a quebraram duranteanos.
Quando a pessoa emerge vitoriosa do processo de estranhamento de
simesma, quando ela recupera a sua autoestima, aprende que ela
algum devalor sem igual na sua vida, algum que por ter vencido
todas as batalhas quese apresentaram at o momento atual, dona de um
saber e de um poder queno deve a ningum, mas apenas a si mesma.
Tendemos a valorizar em demasia algo que lemos, uma ajuda
querecebemos, alguma pessoa ou muitas, a quem atribumos valor
enorme na
-
7/23/2019 Terapia Comunitria Integrativa_uma Construo Coletiva
Do Conhecimento
38/345
38
nossa vida. Mas sem a nossa deciso de vencer, teramos sucumbido.
Aspessoas do meio popular valorizam muito o saber aprendido na
escola da vida.
A Terapia Comunitria Integrativa refora esta atribuio de
valor,
enfatizando que cada um doutor na sua prpria experincia. Saber
que seaprende nos livros e nas escolas, o saber tcnico-cientfico,
no substitui, masse complementa com o saber experiencial, o que foi
adquirido no dia a dia, aolongo dos anos, na luta contra
circunstncias adversas, quer seja na famlia, aprimeira escola de
cada um, quer na escola ou no trabalho, na vizinhana, nasdistintas
esferas sociais de atuao.
A pessoa resiliente valoriza os gestos de ajuda que recebeu e
recebe aolongo da vida. Ela se nutre da generosidade, da infinidade
de atos de amor quea acolheram e ampararam ao longo das
vicissitudes que teve de atravessar. Ela
sabe que cada um, cada ser humano, a soma de infindveis atos e
gestos decolaborao que deram por resultado o ser que cada um de ns
agora.
A vida adquire um valor inestimvel desde esta perspectiva, em
quetudo que somos rene os nossos ancestrais, os amigos que fomos
tendo nasdistintas etapas da vida, as lutas que tivemos que
enfrentar, os ambientes eexperincias adversas pelos que tivemos que
atravessar, as vitrias que nos foidado obter. Somos uma soma de
atos de amor.
A pessoa resiliente sabe disto, e age em conseqncia, valorizando
cada
pequena coisa. comum em famlias de imigrantes ou pessoas que
sofreramnecessidades como fome ou escassez, valorizar uma migalha
de po, umagota de gua, um pedao de comida, um olhar de compreenso,
uma escutacalorosa e atenta.
Quando a pessoa se v na trama da vida, na teia da vida,
comocostumamos dizer na Terapia Comunitria Integrativa, ela no
dispensa nada,e o que a faz sofrer, a faz crescer. Ela descobre
isto na sua formao comoterapeuta comunitrio, quando reconhece o
processo do qual resultado. Sese sentiu abandonada, no querida,
torna-se amorosa, sensvel dor alheia,
capaz de se doar sem nada esperar, sabendo da alegria de poder
se integraramorosamente na vida dos outros.
Se foi problema, tende a ser soluo. Se se sentiu um estorvo,
sabeacolher. No processo de se tornar terapeuta comunitrio, a
pessoa aprende a setornar cada vez mais autnoma, senhora de si, na
medida em que sai do papelde vtima para o de vencedor. A
complementao do saber cientfico com oexperiencial, oriundo da vida
e das vivncias que cada pessoa passou e passa,
-
7/23/2019 Terapia Comunitria Integrativa_uma Construo Coletiva
Do Conhecimento
39/345
39
cria essa capacidade resiliente que torna o individuo forte
naquilo em que foimais dbil.
a transformao da fraqueza em fora, e cada ser humano capaz
de
descobrir e descobre que isto ocorre na vida de cada pessoa.
Neste sentido,pode-se dizer que a vitria do ser humano sobre a
adversidade. Eternaepopia infindvel em que todos estamos
involucrados, e que no termina
enquanto h vida.
O Mtodo da Terapia Comunitria Integrativa
Como j foi dito, nos encontros da Terapia Comunitria Integrativa
aspessoas sentam-se lado a lado, em roda, de modo que seja possvel
a visualizao
dos participantes entre si. Tais encontros se desenvolvem em
cinco etapas,
a saber: acolhimento, escolha do tema, contextualizao,
problematizao e
encerramento.
No primeiro passo, acolhimento, o terapeuta acomoda os
participantes
em um crculo, a fim de que todos possam ter a viso do grupo como
um
todo. Nesse momento, so explicitadas pelo terapeuta as regras da
terapia:fazer silncio, para garantir o espao da escuta; falar de si
mesmo e da prpria
experincia; no dar conselhos, no julgar nem criticar,
respeitando a histria
de vida do outro; se no decorrer da terapia algum participante
lembrar de uma
msica, piada, poesia, ou conto que tenha alguma ligao com o
tema, pedir
permisso ao grupo para traz-los a tona. Isso permite a expresso
da cultura,
reveladora de dores e sofrimentos, bem como de estratgias de
superao.
Neste passo, a pessoa recebida de forma calorosa, de tal forma
queo grupo poder vir a ser a sua referncia na comunidade, num
processo de
ruptura do isolamento, do estranhamento, do abandono e do
anonimato.
No segundo passo, escolha do tema, o terapeuta estimula os
participantes
a falarem de forma sinttica, sobre situaes de sofrimento que
eles possam
estar vivenciando. Em seguida, o terapeuta apresenta uma sntese
das situaes
-
7/23/2019 Terapia Comunitria Integrativa_uma Construo Coletiva
Do Conhecimento
40/345
40
verbalizadas pelo grupo, e sugere que o grupo escolha uma delas
como um
tema para ser aprofundado no passo seguinte.
Neste ingresso ao crculo, uma matriz recriada, a pessoa que se
sentia anica no mundo com uma dor to grande que ningum poderia
compreender,
situa-se no meio de outras pessoas que contam as suas dores. A
dor dela no
maior nem menor do que as demais. Mesmo que o tema ou problema
de
outro participante no tenha sido eleito para ser trabalhado no
grupo, ele se
v no problema dos demais, com os quais aos poucos vai se
formando um elo
de simpatia por semelhana ou diferena.
No terceiro passo, contextualizao,so colhidas mais informaes
sobre
a situao temtica escolhida, permitindo a utilizao de perguntas a
fim defacilitar a compreenso e o esclarecimento do contexto onde o
problema ou a
situao se insere. As perguntas formuladas ajudam a pessoa que
est falando
do seu problema a refletir sobre a situao vivida.
O momento em que todos iro comungar da contextualizao do
tema
escolhido algo grandioso, haja vista que o mergulhar no contexto
do outro,
requer dos participantes da roda despojamento e liberdade;
acontece nesse
momento um encontro entre o contexto daquele que est falando de
si na roda,e do outro que apenas ouve, comovendo-se,
fortalecendo-se e se preparando
para contribuir no amenizar daquele sofrimento a partir da
explanao da suahistria de vida.
A escuta ativa abre espao para a ressonncia por semelhana. A
pessoaaprende que nada est isolado, todas as coisas fazem parte de
um sistema deinterconexo e interatividade.
No quarto passo,problematizao, o terapeuta comunitrio apresenta
o
mote,que no mbito da Terapia Comunitria Integrativa significa a
pergunta-chave que vai permitir a reflexo do grupo, e a pessoa que
exps o problemafica em silncio.
Neste momento, as pessoas que vivenciaram momentos semelhantesou
que guardam alguma relao com o tema do mote, passam a refletir
aexperincia vivida, e de que modo foi enfrentada determinada situao
de
-
7/23/2019 Terapia Comunitria Integrativa_uma Construo Coletiva
Do Conhecimento
41/345
41
sofrimento, permitindo o nascimento de estratgias de
enfrentamento usadaspelas pessoas, evidenciando o processo
resiliente.
Ocorre, ento, a complementariedade das diferentes realidades, a
partir
da partilha de situaes semelhantes, onde as riquezas emergidas
de cadaidentidade passam a se fazer presentes, ali naquele meio
coletivo, onde todosouvem, alguns falam, mas o coletivo se
fortalece com a partilha de vida decada pessoa. Desse modo a pessoa
que teve seu problema escolhido elege asestratgias mais adequadas a
serem utilizadas na resoluo do seu problema.Isto promover a
cidadania e fortalecer o empoderamento no meio social.
O quinto e ultimo passo, concluso/encerramento, se d com todos
osparticipantes unidos atravs da juno das mos, em um crculo com
rituais
prprios como cantos religiosos ou populares, oraes, abraos e o
relatode cada um da experincia adquirida naquele encontro. A execuo
dessemomento permite a construo de redes sociais solidrias, que
unem entresi, todos os indivduos da comunidade. O trmino da sesso o
comeo paraa utilizao dos recursos que a comunidade dispe para a
resoluo dos seusproblemas.
SINTETIZANDOA Terapia Comunitria Integrativa configura um ramo
do voluntariado,
dando lugar a um novo ator social: o terapeuta comunitrio. Esta
umaatividade exercida por profissionais da sade (mdicos,
enfermeiras, psiclogos,odontlogos, agentes comunitrios de sade,
dentre outros), pedagogos,mobilizadores sociais, ativistas
polticos, agentes pastorais, que nela encontramuma ferramenta para
criar e fortalecer vnculos sociais positivos. A TCI realizada em
espaos pblicos como praas, embaixo de uma rvore, em clubes,
igrejas, associaes de moradores. Os resultados so o
fortalecimento do tecidosocial, em termos de reconhecimento mtuo de
relaes de pertencimento, derespeito s diferenas, de aumento da
autoestima das pessoas a partir de umreencontro profundo com elas
mesmas, uma valorizao da prpria histria devida, uma identidade e
memria pessoal e coletiva reavivadas. Os resultadosda TCI vem sendo
objeto de estudos e pesquisas cientficas no Brasil e emoutros
pases, como Uruguai, Frana e Argentina.
-
7/23/2019 Terapia Comunitria Integrativa_uma Construo Coletiva
Do Conhecimento
42/345
42
REFERNCIAS
BARRETO, Adalberto. Terapia Comunitria passo a passo. 2 ed.
Fortaleza: LCR, 2008.
BERGER, Peter L., BERGER, Brigitte. Socializao: como se tornar
um membro da sociedadeIn: FORACCHI, M. M., MARTINS, J.S.(Orgs.).
Sociologia e sociedadeRio de Janeiro:Livros Tcnicos e Cientficos,
1977.
BERTA, M. El Dios vivo. Montevideo, Coleccin Psicoterapia
Abierta, 2007.
BOFF, L. Saber cuidar.10 ed. Petrpolis: Vozes, 1999.
BRAUDEL, F. Historia e Cincias SociaisLisboa: Editorial Presena,
1990.
CAPRA, F. O ponto de mutao. So Paulo: Editora Cultrix, 1999.
DURKHEIM, E. As regras do mtodo sociolgico. 26. ed. So Paulo:
CompanhiaEditora Nacional, 1974.
FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia18. ed. So Paulo: Paz e Terra,
2001.
______ Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1987.
FROMM, E. O medo liberdade14 ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 1983.
GURVITCIH, Georges. Dialtica e sociologia. So Paulo:
Vrtice-Editora Revista dosTribunais, 1987 122 p.
HELLER, A. O cotidiano e a HistriaRio de Janeiro, Paz e Terra,
1985.
JAEGER, W. Paidia 4. ed. So Paulo: Martins Fontes, 2001.
JASPERS, K. Balance y perspectiva: Discursos y ensayosMadrid:
Revista de Occidente,
1953.
KOSIK, K. Dialtica do concreto. 7 ed. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 2000. 230 p.
LAZARTE, R. Max Weber: cincia e valores. 2. ed So Paulo: Cortez,
2001.
LINTON, R. Estudio del hombreMxico DF: Fondo de Cultura
Econmica, 1967.
-
7/23/2019 Terapia Comunitria Integrativa_uma Construo Coletiva
Do Conhecimento
43/345
43
MARX, K.Manuscritos econmico-filosficos de 1844InManuscritos
econmico-filosficose outros textos escolhidos. 2 ed. So Paulo:
Abril Cultural, 1978.
MATURANA, Humberto e VARELA, Francisco.A rvore do conhecimento -
As basesbiolgicas do conhecimento humano. So Paulo: Ed. Palas
Athena, 2004.
MORIN, E. Cincia com conscinciaMem. Martins: Publicaes
Europa-Amrica, s. d.268p.
MUOZ SOLER, R.P.Antropologa de sntesisBuenos Aires: Ediciones
Depalma, 1980.
______ Universidad de SntesisBuenos Aires: Ediciones Depalma,
1984.
______ Transfiguracin social del VerboBuenos Aires: Arcana
Ediciones, 2009.
______ RevelacinRe-velada. In:Trada Buenos Aires: Arcana
Ediciones, 2008.
PARSONS, T. El sistema socialMadrid: Alianza Editorial,
1988.
REICH, W. O que conscincia social?
WAGNER, H. Fenomenologia e relaes sociais. Textos escolhidos de
Alfred SchutzRio de Janeiro: Zahar Editores, 1979.
WATZLAWICK, P.; HELMICKBEAVIN, JACKSON Pragmtica da
comunicaohumana So Paulo: Cultrix, 1967.
WEBER, M. La objetividad cognoscitiva de la ciencia social y de
la poltica socialin: Ensayossobre metodologa sociolgica (Buenos
Aires: Amorrortu Editores, 1973.
______ Economia e Sociedade: Fundamentos da Sociologia
Compreensiva: So Paulo:Imprensa Oficial, 2009.
-
7/23/2019 Terapia Comunitria Integrativa_uma Construo Coletiva
Do Conhecimento
44/345
-
7/23/2019 Terapia Comunitria Integrativa_uma Construo Coletiva
Do Conhecimento
45/345
PARTE II
A TERAPIA COMUNITRIA INTEGRATIVACOMO INSTRUMENTO DE
TRANSFORMAO
-
7/23/2019 Terapia Comunitria Integrativa_uma Construo Coletiva
Do Conhecimento
46/345
46
TEMPO DE FALAR E TEMPO DE ESCUTAR:A PRODUO DE SENTIDO EM
GRUPO
TERAPUTICO*
2Amilton Carlos CamargoRicardo Franklin Ferreira
INTRODUO
Bater a mo, bater o p para entrar na casa do Z. Bater a mo,bater
o p para entrar na comunidade. Assim comeam, muitas vezes, assesses
de terapia comunitria atravs da msica e assim comeo a abordara
temtica das atribuies de sentido terapia comunitria por alguns
deseus participantes, desenvolvida num contexto de comunidades.
Em 2003 entrei em contato com a terapia comunitria atravs
daparticipao em um workshoprealizado num hotel fazenda, localizado
nacidade de Itapecerica da Serra, em So Paulo. A partir de ento
percebi,enquanto psiclogo, que aquela abordagem poderia ser
utilizada comoinstrumento de trabalho voltado a grupos nas
comunidades, pois osprocedimentos e a tcnica ali demonstrados
ajudavam a organizar e aconduzir tais atividades, mesmo com grande
nmero de participantes,como o que ali se apresentava, com cerca de
90 pessoas.
Aps participar de algumas rodas de terapia comunitria,
interessei-me profundamente pelo tema e comecei a desenvolver minha
dissertaode mestrado. Em princpio, comecei a realizar um
levantamento a respeitodo que a terapia comunitria, acerca de seus
pressupostos, objetivose alcances, o que se mostrou invivel, dada a
precria fundamentao
* Este trabalho foi produzido a partir de resumo da dissertao de
mestrado de mesmo ttulo, realizada noprograma de ps-graduao
stricto-sensu da Universidade So Marcos-SP, no ano de 2005, sob a
orientao doProf. Dr. Ricardo Franklin Ferreira.
-
7/23/2019 Terapia Comunitria Integrativa_uma Construo Coletiva
Do Conhecimento
47/345
47
epistemolgica e metodolgica que, nessa poca, sustentava e
buscavasistematizar essa prtica. Desse modo, voltei-me para as
manifestaesdo fenmeno emprico vivenciado pelos participantes
durante as rodas
de terapia comunitria, pondo em segundo plano os
pressupostosfilosficos e tericos que sustentam sua aplicao, sem com
isso abrirmo da prxis da decorrente.
No ano de 2004, passei a freqentar o curso de formao emTerapia
Comunitria Integrativa (TCI),promovido pela PUC-SP, bemcomo
participei do II Congresso de Terapia Comunitria, realizado
emBraslia / DF.
Em funo do curso de formao como terapeuta comunitriopassei a
realizar rodas de terapia comunitria, juntamente com o meu
orientador da dissertao, na Universidade So Marcos-SP, atendendo
spessoas da fila de espera da clnica-escola de psicologia.
Nas rodas de terapia comunitria que realizei, pude perceber
queaparentemente h uma grande mobilizao emocional dos
participantes,seguida, muitas vezes, de relatos apaixonados e
calorosos com relao stransformaes que as pessoas percebem em si
mesmas aps sua passagempelo grupo.
A partir de tais experincias, nesta pesquisa pretendi
compreendera atribuio de sentido terapia comunitria realizada por
alguns deseus participantes, sem perder de vista que vivemos em um
pas deacentuada desigualdade social, no qual a ateno sade privilgio
depoucos e a psicoterapia comumente produto de compra reservado
selites. fato notrio que a realidade social brasileira apresenta
inmerassituaes de adversidadescomplementares aos sujeitos e famlias
debaixo poder aquisitivo, frente s questes referentes
alimentao,habitao, educao, cultura, violncia, etc., se comparados a
outrossujeitos e famlias que tm seus poderes sociais, econmicos e
financeiros
garantidos.Neste mesmo contexto brasileiro retratado pela
riqueza excessivade alguns pequenos grupos sociais, encontra-se uma
parcela majoritriada sociedade que vive em situao de misria
absoluta, fome e desamparo.
Como aponta Santos (2000, p.24):
[...] s a rea de produo de soja no Brasil daria para alimentar40
milhes de pessoas se nela fossem cultivados milho e feijo. Mais
-
7/23/2019 Terapia Comunitria Integrativa_uma Construo Coletiva
Do Conhecimento
48/345
48
pessoas morreram de fome no nosso sculo que em qualquer
dossculos precedentes. A distncia entre pases ricos e pases pobrese
entre ricos e pobres no mesmo pas no tem cessado de aumentar.
Frente a essa realidade, surgem algumas prticas
interventivas
comunitrias, como a Terapia Comunitria, que se propem ao
enfrentamento
e reverso dessa situao de incluso perversa1a que os sujeitos
economicamente
desfavorecidos esto submetidos. A TCI tem sido desenvolvida e
aplicada nas
comunidades, e s vezes em outros tipos de grupos, h 23 anos.
A seqncia de procedimentos propostos para a realizao de uma
sesso de terapia comunitria parece ter certa proximidade com a
propostado mtodo de Paulo Freire, que prope como procedimentos:
investigao
temtica, tematizao, problematizao, leitura do mundo,
compartilhando
o mundo lido, reconstruo do mundo lido. Enquanto que a
terapia
comunitria prope: acolhimento, escolha do tema,
contextualizao,
problematizao, rituais de agregao e conotao positiva,
apreciao.
Freire (1987) prope que somente a partir do exerccio do
dilogo
e da ao-reflexo-ao, o indivduo pode ser capaz de fazer uma
leitura
crtica do mundo, constituindo-se enquanto sujeito consciente
com
possibilidades de transformao de sua prpria histria.
Considerando que essa pesquisa est sen