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Algumas Contribuies da Teoria daAlgumas Contribuies da Teoria
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daAlgumas Contribuies da Teoria da
EstruturEstruturEstruturEstruturEstrutura Retrica do Texto para
Retrica do Texto para Retrica do Texto para Retrica do Texto para
Retrica do Texto para o Ensino dea o Ensino dea o Ensino dea o
Ensino dea o Ensino de
LeiturLeiturLeiturLeiturLeitura e Compreenso de Textos na
Escolaa e Compreenso de Textos na Escolaa e Compreenso de Textos na
Escolaa e Compreenso de Textos na Escolaa e Compreenso de Textos na
Escola
CONTRIBUTIONS OF RHETORICAL STRUCTURE THEORY TO THE TEACHINGOF
READING AND TEXT COMPREHENSION IN SCHOOL
Juliano Desiderato ANTONIO *
Resumo: Este trabalho tem como objetivo argumentar a favor
daimportncia de um trabalho em sala de aula que leve os alunos a
refletirsobre as proposies implcitas que emergem tanto da
combinaoentre oraes quanto da combinao entre pores maiores de
umtexto. Partindo dos pressupostos tericos da RST, analisam-se
doistextos tendo como escopo as relaes retricas cuja compreenso
indispensvel para o estabelecimento da coerncia do texto.
Nasequncia, propem-se algumas atividades de reflexo sobre o
textoque tm por objetivo levar o aluno ao reconhecimento das
relaesretricas.Palavras-chave: Estrutura retrica; RST;
Coerncia;
Abstract: The aim of this paper is to stress the importance of
readingand text comprehension activities in school that focus on
the recognitionof implicit propositions which emerge both in clause
combining andin the combining of text spams which are larger than
clauses. Twotexts are analysed based on the rhetorical relations
that hold theircoherence. Some activities are proposed for these
texts in order tomotivate students to reflect about and recognize
these rhetorical relations.Key-words: Rhetorical structure; RST;
Coherence.
* Doutor em Lingustica e Lngua Portuguesa pela UNESP-Araraquara
(2004).Atualmente docente da Universidade Estadual de Maring.
Contato:[email protected].
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Introduo
A leitura e a compreenso de textos escritos e de textos
oraisdepende, dentre outros fatores, do reconhecimento de
relaesimplcitas que so estabelecidas entre as partes do texto.
Essas inferncias,chamadas proposies relacionais (MANN &
THOMPSON, 1983),permeiam todo o texto, desde as pores maiores at as
relaesestabelecidas entre duas oraes e ajudam a dar coerncia ao
texto,conferindo unidade e permitindo que o produtor atinja seus
propsitoscom o texto que produziu.
Um tratamento adequado a essa questo das proposiesrelacionais
oferecido pela RST (Rhetorical Structure Theory Teoria daEstrutura
Retrica do Texto), uma teoria descritiva que tem por objetoo estudo
da organizao dos textos, caracterizando as relaes que seestabelecem
entre as partes do texto (MANN & THOMPSON, 1988;MATTHIESSEN
& THOMPSON, 1988; MANN, MATTHIESSEN& THOMPSON, 1992). A RST
parte do princpio de que as relaesretricas que se estabelecem no
nvel discursivo organizam desde acoerncia dos textos at a combinao
entre oraes (MATTHIESSEN& THOMPSON, 1988).
Ao tratar das relaes retricas tanto no nvel discursivo quantono
nvel gramatical (combinao entre oraes), a RST demonstra suafiliao
Lingustica Funcional, um grupo de teorias que consideramessencial
para o estudo da lngua a funo dos elementos lingusticosna comunicao
(BUTLER, 2003; NEVES, 1997; NICHOLS, 1984).Mais especificamente, a
RST foi desenvolvida no mbito de outrasduas teorias funcionalistas:
a Gramtica Sistmico-Funcional de Hallidaye o Funcionalismo da
Costa-Oeste dos Estados Unidos (ANTONIO,2009).
Na viso funcionalista, a comunicao no se d por meio defrases,
mas sim por meio do discurso multiproposicional, organizadoem
estruturas que reconhecemos como caracterizando
conversaes,palestras, encontros de comits, cartas formais e
informais dentreoutras (BUTLER, 2003, p. 28, traduo nossa). Alm
disso, os chamadoscomponentes gramaticais da lngua (regras
fonolgicas, morfolgicas,sintticas e semnticas) so considerados
instrumentais em relao sregras de uso das expresses lingusticas
(DIK, 1989), uma vez que o
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correlato psicolgico de uma teoria funcionalista a
competnciacomunicativa do falante (DIK, 1989), termo utilizado por
Hymes (1987)para se referir capacidade que o falante tem no apenas
de produzirenunciados gramaticalmente corretos, mas tambm adequados
situao comunicativa.
Neste artigo, pretende-se argumentar a favor de um
trabalhoescolar com a gramtica que leve o aluno a refletir sobre as
relaesque se estabelecem entre partes do texto e entre oraes.
Inicialmente,sero apresentados alguns pressupostos bsicos do
Funcionalismo eda RST. Na sequncia, sero apresentadas propostas de
anlise de textosa partir da metodologia da RST com atividades
passveis de seremdesenvolvidas em sala de aula.
1 Pressuspostos bsicos do Funcionalismo
Na viso funcionalista, o objetivo do estudo da gramtica explicar
as funes dos meios lingusticos de expresso, ou seja, explicarcomo
os falantes usam a lngua para se comunicar com xito (IVIR,1987). A
Gramtica Sistmico-Funcional de Halliday (1985), porexemplo,
relaciona as metafunes da linguagem (diferentes modosde sentido
construdos pela gramtica MATTHIESSEN &HALLIDAY, 1997, p. 10) a
sistemas gramaticais pelos quais essasmetafunes so realizadas
linguisticamente. As metafunesapresentadas por Halliday so a
ideacional e a interpessoal, que estorelacionadas a fenmenos
externos lngua, e a textual, que intrnseca lngua.
A metafuno ideacional diz respeito aos recursos
gramaticaisutilizados para construir tanto as experincias
interiores do falante quantoas experincias com o mundo ao seu
redor. O sistema de transitividade um dos principais recursos
lingusticos utilizados para a realizaodessa metafuno. Cada
experincia do falante construda a partirde uma configurao que
consiste de um processo (verbo), dosparticipantes desse processo
(argumentos) e das circunstncias relativasao processo.
A metafuno interpessoal est relacionada aos recursosgramaticais
utilizados pelo falante para interagir com seus
interlocutores,assumindo papis sociais e papis que dizem respeito
situao
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comunicativa. O sistema de modo uma das principais formas
derealizao dessa metafuno, disponibilizando ao falante
estratgiassemnticas tais como adulao, persuaso, seduo, pedido,
requisio,sugesto, afirmao, insistncia, dvida etc.
Por fim, a metafuno textual trata da apresentao do
contedointerpessoal e ideacional na forma de informaes que podem
sercompartilhadas pelo falante e por seus interlocutores em
textosadequados situao de uso. Por meio da funo ideacional,
pode-secriar um referente mental dos argumentos que podem
participar deum determinado processo, pode-se ter idia dos papis
assumidospelo falante e por seus interlocutores (quem d ordens,
quem recebeconselhos, quem faz pedidos, quem autoriza etc), mas a
funo textualque instrumentaliza a apresentao desses contedos por
meio deestratgias que permitem ao falante guiar seu(s)
interlocutor(es) nainterpretao do texto.
Assim, pode-se observar a relevncia da gramtica para aconstruo
dos sentidos do texto. Para Halliday (1985), uma anlisetextual que
no leva em conta a gramtica com a qual esse texto foiconstrudo
representa simples comentrios sobre o texto. Embora otexto seja uma
unidade semntica, os sentidos so realizados por meiode expresses
lingusticas, o que torna relevante a incluso da anlisedos elementos
gramaticais na anlise de um texto. Ainda segundo olinguista
britnico (1985), a anlise lingustica tem duas finalidades nonvel
textual: (i) permite que se explique como e por que o texto diz
oque diz; (ii) permite que se explique por que um texto produz ou
noos resultados pretendidos por seu produtor, uma vez que leva
emconta como as expresses lingusticas de um texto se relacionam
comseu contexto, incluindo as intenes de quem est envolvido na
produodo texto.
A relao entre discurso e gramtica tambm est presente
nostrabalhos dos pesquisadores que compem o grupo funcionalista
daCosta-Oeste. Um bom exemplo que caracteriza essa preocupao
apesquisa de Hopper & Thompson (1980) a respeito da
transitividadena gramtica e no discurso. Ao contrrio da viso
tradicional, queconsidera a transitividade uma propriedade
categrica do verbo, paraesses autores a transitividade uma noo
escalar, contnua, baseadaem 10 parmetros que permitem verificar a
eficincia e a intensidade
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com que uma ao transferida de um participante para outro.
Assim,uma orao no transitiva ou intransitiva, mas, dependendo no
nmerode parmetros de alta ou baixa transitividade, uma orao
temtransitividade mais alta do que outra orao. Em sua pesquisa,
Hopper& Thompson (1980) verificaram que a transitividade exerce
funodiscursiva. Oraes com transitividade alta geralmente compem
aestrutura bsica do texto, chamada figura. Por outro lado, oraes
comtransitividade baixa compem o fundo, partes do texto que
trazeminformaes que subsidiam a compreenso da figura.
As observaes a respeito da Gramtica Sistmico-Funcionalde
Halliday e as consideraes a respeito da anlise da transitividade
naperspectiva do Funcionalismo da Costa-Oeste vo ao encontro
daposio de Votre e Naro (1989), que propem uma anlise lingusticano
discurso, e no do discurso.
2 A Teoria da Estrutura Retrica do Texto (RST)
Como j foi dito anteriormente, a RST tem por objeto de estudoa
organizao dos textos, descrevendo as relaes que se estabelecementre
as partes do texto. O pressuposto bsico da RST que, alm docontedo
proposicional explcito veiculado pelas oraes de um texto,h
proposies implcitas, as chamadas proposies relacionais, que
surgemdas relaes que se estabelecem entre pores do texto.
Para Mann e Thompson (1983), o fenmeno das proposiesrelacionais
combinacional, definido no mbito textual, ou seja, asproposies
relacionais so resultantes da combinao de partes dotexto. Essas
combinaes podem ser estabelecidas tanto entre oraes,como entre
pores maiores de texto. Uma outra observaoimportante diz respeito
natureza das relaes. Quando duas poresde texto se relacionam, alm
do contedo proposicional expresso porcada uma das pores h tambm um
contedo implcito, a proposiorelacional.
Os pressupostos tericos nos quais a RST se baseia so
osseguintes:
a) os textos so formados por grupos organizados de oraesque se
relacionam hierarquicamente entre si de vrias formas;
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b) as relaes que se estabelecem entre as oraes podem
serdescritas com base na inteno comunicativa do enunciador ena
avaliao que o enunciador faz do enunciatrio, e refletem asescolhas
do enunciador para organizar e apresentar os conceitos.
Uma lista de aproximadamente vinte e cinco relaes
foiestabelecida por Mann e Thompson (1987a) aps a anlise de
centenasde textos, por meio da RST. Essa lista no representa um rol
fechado,mas um grupo de relaes suficiente para descrever a maioria
dostextos. 1
No que diz respeito organizao, as relaes podem ser dedois
tipos:
a) ncleo-satlite, nas quais uma poro do texto (satlite)
ancilarda outra (ncleo), como na figura 1 a seguir, em que um
arcovai da poro que serve de subsdio para a poro que funcionacomo
ncleo.
b) multinucleares, nas quais uma poro do texto no ancilar
daoutra, sendo cada poro um ncleo distinto, como na figura 2a
seguir.
1 Uma lista com as relaes e suas definies pode ser encontrada no
site http://www.sfu.ca/rst/07portuguese/definitions.html.
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Figura 1 Esquema de relao ncleo-satlite
Figura 2 Esquema de relao multinuclear
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No diagrama 1, observa-se um exemplo da formalizao deuma anlise
textual por meio da RST. Nesse exemplo, 2 observa-seque as relaes
se estabelecem tanto entre oraes quanto entre poresde texto maiores
do que a orao. Inicialmente, observa-se que a porotextual formada
pelas unidades de 5 a 6 um satlite que justifica o atode fala
composto pelas unidades de 1 a 4. No interior dessa porotextual,
estabelece-se uma relao multinuclear de contraste entre aspores
formadas pelas unidades 1 e 2 e pelas unidades 3 e 4. Entre
asunidades 1 e 2, por sua vez, estabelece-se uma relao de causa
entre oncleo (unidade 1: orao nuclear) e o satlite (unidade 2: orao
causal).No caso das oraes 3 e 4, estabelece-se uma relao de
condioentre o ncleo (unidade 4: orao nuclear) e o satlite (unidade
3: oraocondicional). Por fim, entre as unidades 5 e 6,
estabelece-se uma relaode causa entre o ncleo (unidade 6: orao
nuclear) e o satlite (unidade5: orao causal).
Diagrama 1 Exemplo de formalizao de anlise textual pormeio da
RST
2 O exemplo do diagrama 1 foi retirado de uma elocuo formal do
tipo aulapertencente ao corpus do Funcpar (Grupo de Pesquisas
Funcionalistas doNorte/ Noroeste do Paran).
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importante observar que, na viso da RST, as proposiesrelacionais
surgem no texto independentemente de sinais especficosde sua
existncia: no h necessidade de incluso, no texto, de
elementoslingusticos que tenham por funo indicar as relaes
estabelecidas(MANN & THOMPSON, 1983). Pesquisas tm sido
realizadas nosentido de identificar os meios lingusticos utilizados
pelos falantes paramarcar as relaes retricas (proposies
relacionais). Alguns meios jdescritos so marcadores discursivos,
tempo e aspecto verbais,combinao entre oraes (paratticas/
hipotticas). Outras pesquisastm demonstrado tambm que as proposies
relacionais podem serreconhecidas pelo destinatrio do texto sem ser
necessariamenteexpressas por alguma marca formal (TABOADA,
2006).
o que ocorre no exemplo do diagrama 2 a seguir, 3 em que sepode
observar a relao de causa entre as duas oraes mesmo sem apresena de
um conectivo como porque, pois, uma vez que etc.
Diagrama 2 Relao de causa no marcada por conectivo
Tradicionalmente, a classificao de oraes adverbiais feitacom
base na conjuno que inicia a orao. No entanto, como afirmaDecat
(2001, p. 120), o que importa a relao que existe entre asclusulas.
De acordo com a proposta da RST, como, obviamente, oanalista no tem
acesso mente do produtor do texto, a anlise feitacom base em
julgamentos de plausibilidade, ou seja, o analista julgaque tais
relaes so plausveis com base em seu conhecimento a respeito
3 O exemplo do diagrama 2 foi retirado de uma elocuo formal do
tipo aulapertencente ao corpus do Funcpar.
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do produtor do texto, dos seus provveis destinatrios, das
convenesculturais e do contexto de produo do texto (MANN
&THOMPSON, 1988).
Nos exemplos dos diagramas 3 e 4 a seguir, 4 por exemplo,
oconectivo e no utilizado para introduzir oraes aditivas, sua
funoconsiderada cannica. No caso do diagrama 3, a orao iniciada
peloe estabelece relao de propsito com a orao ncleo. A
parfraseplausvel que o sujeito ser ensinado a emitir a resposta de
presso barrapara receber uma gota de gua. No caso do diagrama 4, a
conjuno emarca relao de contraste entre a unidade 1 e as pores de
texto 2 e3. A parfrase plausvel de ideias contrrias: o rapaz tenta
falar com amoa, mas impedido pelo pai dela.
Diagrama 3 Relao de propsito marcada pelo conectivo e
Diagrama 4 Relao de contraste marcada pelo conectivo e
4 O exemplo do diagrama 3 foi retirado de uma elocuo formal do
tipo aulapertencente ao corpus do Funcpar. O exemplo do diagrama 4
foi retirado deuma narrativa oral pertencente ao corpus do
Funcpar.
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3 Analisando textos com a RST
A estrutura retrica de um texto, representada por um
diagramaarbreo, definida pelas redes de relaes que se estabelecem
entrepores de texto sucessivamente maiores. Segundo Mann e
Thompson(1987a, 1987b), a estrutura retrica funcional, pois leva em
contacomo o texto produz um efeito sobre o enunciatrio, ou seja,
tomacomo base as funes que as pores do texto assumem para que
otexto atinja o objetivo global para o qual foi produzido.
Sero apresentadas, a seguir, propostas para anlises de 2 textosa
partir do modelo terico-metodolgico da RST.
No exemplo do diagrama 5, que representa a anlise da
estruturaretrica do texto publicitrio Felicidade no tem preo, 5
publicadona pgina 17 da revista Manequim, em abril de 2003, pode-se
observarque o objetivo do produtor do texto levar seu interlocutor
a realizaras aes apresentadas nas unidades 3, 4, 5 e 6. A realizao
dessasaes, que deve ser efetuada na sequncia apresentada, torna
ointerlocutor competente para concorrer aos prmios apresentados
nasunidades de 8 a 11. Assim, tem-se a receita da felicidade,
mencionadana unidade 2, ou seja, as unidades de 3 a 6 acrescentam
maiores detalhesao contedo da unidade 2, estabelecendo-se a uma
relao deelaborao. O contedo da unidade 2, por sua vez, comparado
como contedo da unidade 1, mas levando-se em conta as
diferenasexistentes entre eles, motivo pelo qual se estabelece a
relao de contraste.
5 A anlise desse texto pode ser encontrada em Antonio
(2003).
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No diagrama 6, apresenta-se a anlise da estrutura retrica deum
trecho de uma elocuo formal. 6 No trecho analisado, a relaode
preparao que emerge nas unidades 1, 4 e 9 tem como objetivotornar o
interlocutor mais interessado no contedo do ncleo. Asunidades 2 e 3
e as unidades 8 e 9 estabelecem relao de fundo,aumentando a
capacidade do interlocutor de compreender o contedodo ncleo. Das
pores de texto formadas pelas unidades de 2 a 7 ede 8 a 13 emerge a
relao de lista, que liga elementos comparveis.
6 O exemplo do diagrama 6 foi retirado de uma elocuo formal do
tipo aula docorpus do Funcpar.
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4 As proposies relacionais e o ensino de Lngua Portuguesa
No se defende, neste artigo, que a teoria RST seja ensinada
naescola. No entanto, a difuso dos princpios da RST entre os
professoresde Lngua Portuguesa pode certamente trazer benefcios ao
ensino.
O reconhecimento das proposies relacionais que emergemda
combinao entre oraes e entre pores de texto maiores do quea orao
fundamental para o estabelecimento da coerncia dos textos.Se os
professores partirem desse princpio, podero deixar de lado
aclassificao meramente formal das oraes adverbiais a partir
dosconectivos.
Os professores podem, a partir de textos como os apresentadosa
ttulo de exemplo nos diagramas 5 e 6, elaborar atividades que
levemos alunos a refletir sobre as relaes que se estabelecem entre
as partesdo texto. Assim, partindo de atividades de gramtica
reflexiva, nasquais o conhecimento construdo a partir das reflexes
do aluno(TRAVAGLIA, 1996), os professores podem mediar o processo
dereconhecimento das proposies relacionais dos textos pelos
alunos.A ttulo de exemplo, apresentam-se, a seguir, algumas
propostas deatividades que podem ser realizadas com os textos dos
diagramas 5 e6.
1 Felicidade no tem preo.2 Mas tem receita.3 Pegue 2 rtulos
diferentes de leos Liza,4 acrescente a resposta da pergunta: (Qual
o leo que deixa
sua famlia naturalmente feliz?),5 junte tudo6 e envie para:
Promoo Liza Sua famlia naturalmente feliz.
CEP 05975-960 SP SP.7 Voc vai concorrer a: 1 casa, 1 carro 0 km,
1 kit cozinha ou
ainda a 6 meses de supermercado.
1- Releia as oraes das linhas 1 e 2 do texto.a) Qual dessas
oraes apresenta uma ideia na forma de umaafirmao?
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b) Qual dessas oraes faz uma afirmao a partir de uma
ideiacontrria a uma outra afirmao?c) Que conectivo utilizado para
indicar que as ideias dessasduas oraes esto em contraste?
2- Releia os enunciados das linhas 3 a 6 do texto.Agora, observe
o trecho a seguir de uma receita culinria:
Bolo de mel
Junte 1 xcara de ch de mel, 1 xcara de ch de leite, 2 colheresde
sopa de manteiga derretida.Misture bem.Acrescente 3 xcaras de ch de
farinha, 1 xcara de ch de acar,1 colher de ch de canela em p, 1
colher de sobremesa debicarbonato de sdio em xcara de gua
morna.Bata mo.Asse por 30 minutos.
a) Que semelhanas h entre as formas verbais da receita culinriae
as formas verbais dos enunciados das linhas 3 a 6 do texto?b)
Pode-se afirmar que os enunciados das linhas 3 a 6 do textotambm
constituem uma receita? Se sua resposta for afirmativa,os
enunciados das linhas 3 a 6 do texto podem ser consideradosuma
receita de qu?
3- Observe o enunciado da linha 7 do texto. No h umconectivo
ligando esse enunciado aos enunciados anteriores.Mesmo assim,
possvel saber que esse enunciado apresentauma sano positiva para os
leitores que executarem algumasaes. Quais so elas?
Apresentam-se, a seguir, algumas propostas de atividades parao
trecho da elocuo formal analisado no diagrama 6.
1 .. o homem o que que ele foi fazendo?2 .. o sal .. ele tava l
no mar, .. bem quietinho,
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3 .. todo todo sal que a humanidade ingeria era proveniente
dodos alimentos, .. dos vegetais, .. da prpria carne.
4 .. com o passar do tempo o que que o homem fez?5 .. foi l no
mar,6 .. concentrou sal,7 .. e jogou no alimento.8 .. o homem s se
alimentava de leo presente nas castanhas, .. na prpria carne, .. no
no leite.9 .. o que que o homem fez?10 .. pegou a soja,11 .. foi l
na indstria,12 .. concentrou,13 .. agora joga esse leo na
comida.
1- No trecho da aula que estamos estudando, o professor
falasobre dois alimentos. Quais so eles? Quais linhas do texto
tratamde cada um desses alimentos?
2- Observe que h 3 perguntas no texto: nas linhas 1, 4 e 9. Se
oprofessor no espera uma resposta dos alunos, por que, ento,ele faz
as perguntas?
3- Leia novamente os enunciados das linhas 5, 6 e 7. A ordemem
que as aes so expressas nesses enunciados pode seralterada? E os
enunciados das linhas 10-12? A ordem em queessas aes so expressas
pode ser alterada?
4- Agora, vamos tentar transformar esse trecho de aula em
umtexto escrito.a) Que palavras e expresses so informais e/ ou
comuns nalngua falada? Reescreva o texto substituindo essas
palavras eexpresses por expresses mais formais ou tpicas da
lnguaescrita.b) Quantos pargrafos esse texto teria? Lembre-se de
que asoraes que compem um pargrafo devem tratar de ummesmo assunto.
Voc acha que daria certo se as informaes arespeito de cada um dos
alimentos mencionados no texto
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formassem um pargrafo cada? Reescreva o texto, agrupandoas oraes
em pargrafos. Procure adequar a pontuao snormas do portugus
escrito.c) Nos enunciados das linhas 5-7 e 10-12, observamos que
hsequncias de aes. Para indicar que essas aes esto em umasequncia,
dispomos de alguns recursos na lngua, como oselementos depois,
depois disso, depois de, na sequncia, em um momentoposterior, em um
momento seguinte etc. Reescreva o texto utilizandoalguns desses
elementos para indicar a sequncia das aes nosenunciados
mencionados.d) Que ttulo voc daria ao texto? Lembre-se de que o
ttulodeve espelhar o contedo do texto e tambm deve despertar
ointeresse do leitor.e) Voc faria mais alteraes no texto?
Quais?
No texto a respeito do sal e do leo, alm das atividades
quetinham por objetivo levar o aluno ao reconhecimento das
relaesretricas, foram propostas tambm atividades de
retextualizao,entendidas por Marcuschi (2001) como atividades de
transformaode um texto oral em um texto escrito. Como se pode
observar, ao setrabalhar com a lngua em uso, surgem muitas questes
referentes construo do texto (a organizao em pargrafos, por
exemplo),questes referentes a aspectos formais (emprego de
conectivos paraindicar a sequenciao das aes) e questes referentes a
aspectosnormativos (pontuao, adequao do vocabulrio e das construes
modalidade escrita da lngua).
interessante que o professor solicite que os alunos
tragamgramticas e livros que ensinam produo textual, por exemplo,
paraque os alunos possam investigar por conta prpria regras de
pontuao,recursos lingusticos para expressar relaes como a de
sequenciao,etc. Dessa forma, estimula-se o aluno a refletir e a
buscar informaes.O professor deixa de ser o detentor do
conhecimento para ser ummediador na interao entre o aluno, o texto
e a gramtica.
Concluso
Neste trabalho, argumentou-se a favor da importncia de
umtrabalho em sala de aula que leve os alunos a refletir sobre as
proposies
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implcitas que emergem tanto da combinao entre oraes quanto
dacombinao entre pores maiores de um texto. Partindo
dospressupostos tericos da RST, dois textos foram analisados tendo
comoescopo as relaes retricas, cuja compreenso indispensvel para
oestabelecimento da coerncia do texto. Na sequncia, foram
propostasalgumas atividades de reflexo sobre o texto que tm por
objetivolevar o aluno ao reconhecimento das relaes retricas.
Embora a formalizao das anlises RST em diagramas arbreospossa
parecer complexa, importante que os princpios da teoria
sejamassimilados pelos professores, para que o trabalho em sala de
auladeixe de ser meramente classificatrio e formal e passe a
valorizar oreconhecimento das proposies implcitas que ajudam a
garantir acoerncia do texto.
Por fim, espera-se que atividades como as que se propem
aquipossam ajudar na to propagada mas difcil tarefa de integrar o
ensinode gramtica com o ensino de leitura e de produo de
textos.
Referncias
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