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Temas em Psicologia do Envelhecimento (Vol.I) REVISTA E-PSI REVISTA ELETRÓNICA DE PSICOLOGIA, EDUCAÇÃO E SAÚDE http://epsi-revista.webnode.pt/ Ano 3, Volume 1 Dezembro 2013
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Temas em Psicologia do Envelhecimento - Vol.I [Volume Temático]. Revista E-Psi, 3(1).

Jan 24, 2023

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Temas em Psicologia do

Envelhecimento (Vol.I)

REVISTA E-PSI

REVISTA ELETRÓNICA DE

PSICOLOGIA, EDUCAÇÃO E SAÚDE

http://epsi-revista.webnode.pt/

Ano 3, Volume 1

Dezembro 2013

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Coordenação: Pedro Armelim ALMIRO Catarina MARQUES-COSTA
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Corpo Editorial/ Editorial Board

Editores-Fundadores & Diretores Editoriais/

Founding Editors & Editors-in-Chief

Pedro Armelim ALMIRO (PT) Catarina MARQUES-COSTA (PT)

Editores Associados/ Associate Editors

Hudson F. GOLINO (BR) Octávio MOURA (PT)

Editora Assistente/Assistent Editor

Silvana MARTINS (PT)

Conselho Científico/ Scientific Board

Joana ARANTES, PhD. (Univ. do Minho, PT)

Catarina do Vale BRANDÃO, PhD. (Univ. do Porto, PT)

Joaquim Luís COIMBRA, PhD. (Univ. do Porto, PT)

Michael Lamport COMMONS, PhD. (Department of Psychiatry, Harvard

Medical School, US)

James Meredith DAY, PhD. (Univ. Catholique de Louvain, BE)

José FERREIRA-ALVES, PhD. (Univ. do Minho, PT)

Ana Paula Couceiro FIGUEIRA, PhD. (Univ. de Coimbra, PT)

Miguel GALLEGOS, PhD. (Univ. Nacional de Rosário, AR)

Cristiano Assis GOMES, PhD. (Univ. Federal de Minas Gerais, BR)

Margarida Rangel HENRIQUES, PhD. (Univ. do Porto, PT)

Helena MARUJO, PhD. (Univ. de Lisboa, PT)

Joana Vieira dos SANTOS, PhD. (Univ. do Algarve, PT)

Pierre TAP, PhD. (Univ. Toulouse-Le-Mirail, Professeur Emérite, FR)

Editores/Editors

Margarida Paiva AMORIM (PT)

Sofia CAMPOS, PhD. (PT)

Cláudia CANDEIAS, M.Sc. (PT)

Marcello DELLA MORA, M.Sc. (AR)

Cláudia GOMES, M.Sc. (PT)

Jorge SESARINO, PhD. (BR)

Mariana TELES, M.Sc. (BR)

Leigh Adams TUCKER, M.Sc. (ZA)

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Índice

Editorial: Três Dimensões do Processo de Envelhecimento

JOSÉ FERREIRA-ALVES ......................................................................................................... 1

Importância do Rastreio Cognitivo na População Idosa

SANDRA FREITAS, LARA ALVES, MARIO R. SIMÕES, & ISABEL SANTANA.......................... 4

O TeLPI e o seu Papel na Identificação do Declínio Cognitivo

LARA ALVES, SANDRA FREITAS, CRISTINA MARTINS, ISABEL SANTANA,

& MÁRIO R. SIMÕES .......................................................................................................... 25

Adultos Idosos Como Agentes – O Projeto W2P

MANUEL ORTEGA CABALLERO, MARGARIDA PEDROSO DE LIMA, JOSÉ JOAQUIM COSTA,

& CESAR SOLANO GALVIS ................................................................................................ 48

Influência da Frequência de uma Universidade Sénior no Nível de Solidão,

Autoestima e Redes de Suporte Social

JOANA GONÇALVES, & FÉLIX NETO ................................................................................. 69

Perceções de Envelhecimento e Regulação do Self

ANTÓNIO M. FONSECA, DIOGO DUARTE, & SANDRA MOREIRA ........................................ 93

Perspetivas da Morte e Personalidade em Idosos

CATARINA MARQUES-COSTA, & JOSÉ H. BARROS DE OLIVEIRA .................................... 118

REVISTA E-PSI

REVISTA ELETRÓNICA DE PSICOLOGIA, EDUCAÇÃO E SAÚDE

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Editorial

Três Dimensões do Processo de Envelhecimento

Vivemos atualmente o melhor tempo histórico de sempre quanto às descobertas

das mudanças relacionadas com a idade nas condições biopsicossociais dos adultos e

dos adultos idosos. Dizer que é o melhor tempo de todos, não é o mesmo que dizer que

se tem avançado de forma completamente satisfatória; muitas das respostas necessárias

a muitas perguntas inquietantes tardam e, por outro lado, muito daquilo que já se sabe

tem tido um impacto pobre nos planos da prática profissional.

Estudar e conhecer as mudanças associadas com a idade leva a que se compreenda

que o envelhecimento não é só declínio mas, também, mudança e desenvolvimento

como chamavam a atenção Vaillant e Mukamal, já em 20011, a propósito do

entendimento do conceito de envelhecimento bem-sucedido. Todos os menus teóricos e

empíricos são necessários para dar sentido à diversidade, à comunalidade e à

excecionalidade das trajetórias individuais.

Este Volume Temático da Revista E-Psi [Temas em Psicologia do

Envelhecimento (Vol.I)] é genericamente dedicado à apresentação de artigos (teóricos e

empíricos) relevantes no domínio da Psicologia do Envelhecimento, que se centram na

identificação de algumas das problemáticas inerentes às mudanças de idade,

contribuindo assim para uma melhor compreensão das mesmas.

Os seis artigos presentes nesta edição exploram importantes facetas do

conhecimento e das respostas atualmente necessárias na intervenção junto de uma parte

importante de adultos idosos.

Em primeiro lugar, temos dois trabalhos que, muito possivelmente, virão a ser

marcos importantes na nossa capacidade de avaliar precocemente o défice cognitivo em

1 Vaillant, G.E., & Mukamal, K. (2001). Successful aging. American Journal of Psychiatry,

158(6), 839-847.

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pessoas idosas e, por isso, de nos capacitar mais para o planeamento de intervenções

otimizadas para cada caso; um apresenta uma versão breve do prestigiado instrumento

de avaliação cognitiva de origem Canadiana, cujo acrónimo é MoCA e cuja versão

completa estava já adaptada para Portugal (Artigo 1: FREITAS, ALVES, SIMÕES, &

SANTANA) e, outro, que discute a utilidade de um outro instrumento, cujo acrónimo é

TeLPi, na avaliação da inteligência pré-mórbida para que se diferencie o declínio

cognitivo normal do patológico na população portuguesa (Artigo 2: ALVES, FREITAS,

MARTINS, SANTANA, & SIMÕES). Salientaria, assim, nestes dois trabalhos, o esforço dos

seus autores para oferecerem aos profissionais da prática e a outros investigadores um

instrumento breve de despiste de défice cognitivo, tão útil quanto necessário e,

paralelamente um instrumento que permite conhecer os precedentes cognitivos do

declínio cognitivo ou a sua “linha base”, muito útil, igualmente, tanto na investigação

(conhecimento da velocidade do declínio, por exemplo) como na intervenção.

Seguidamente temos um trabalho que nos fornece dados preliminares de um

estudo que usou a fotografia como instrumento central do estudo e da prática da

reminiscência (Artigo 3: ORTEGA CABALLERO, LIMA, COSTA, & SOLANO GALVIS).

Como sabemos que esta capacidade está especialmente desenvolvida em idade

avançada, parece de inegável importância o desenvolvimento e a inovação nas formas

como se pratica e usa a reminiscência. E este trabalho parece, pelo menos entre nós, ter

características inovadoras; além disso e, talvez, ainda mais importante, é o facto de

aparecer um trabalho que desoculta a prática da reminiscência, indicando os seus

procedimentos e os seus resultados diferenciados. Porventura, também, este trabalho

pode ser um exemplo de participação, de contribuição social e de ligação com a

comunidade mais ampla, da população idosa.

Um outro trabalho estudou o impacto da participação de cidadãos seniores num

contexto específico, que foi o de uma universidade sénior. Embora os estudantes de

Universidades Seniores sejam frequentemente solicitados a participar de estudos, menos

frequente é o estudo dos efeitos da frequência desse mesmo contexto no

desenvolvimento e no funcionamento psicológico dos adultos idosos. Este estudo cruza

os domínios da psicologia social e da saúde pelo seu foco em variáveis como a

experiência da solidão, a autoestima e as redes sociais dos adultos idosos; de realçar,

neste estudo, o quanto o contexto pode selecionar e por em ação as melhores forças que

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as pessoas idosas têm – como de resto acontece em qualquer outra idade (Artigo 4:

GONÇALVES, & NETO).

Um outro estudo com participantes entre 60 e 65 anos pretendeu conhecer as suas

expectativas futuras. O interesse científico e prático de conhecer aquilo que as pessoas

projetam e a forma como se compõem a si mesmas no tempo futuro, deixa-nos com um

conhecimento privilegiado tanto das potencialidades deste período “pré-sénior”, como

dos constrangimentos esperados, que condicionarão a adaptação dos indivíduos agora e

no futuro, naquilo que são e naquilo que poderão vir a ser (Artigo 5: FONSECA, DUARTE,

& MOREIRA).

Por fim, mas não em último lugar temos um estudo que descreveu e analisou os

diferentes significados que a morte apresenta para adultos idosos com funcionamentos

de personalidade distintos; à semelhança do estudo anterior, usou como participantes

estudantes de universidades seniores. A linha de investigação seguida pelos autores

parece ser um contributo importante à literatura nesse domínio, pois para além dos

significados culturais e sociais da morte parece haver uma apropriação única, muitas

vezes transcendente das realidades físicas e materiais, por parte de cada indivíduo

(Artigo 6: MARQUES-COSTA, & BARROS DE OLIVEIRA).

Voltando ao início, para terminar, julgo ter sido uma sorte (ou não!) que num

primeiro número de uma revista de psicologia dedicada ao envelhecimento, tenham

aparecido trabalhos que se focaram precisamente nas três dimensões que de acordo com

Vaillant e Makurama são necessárias para entender como o envelhecimento pode ser

bem-sucedido: o declínio, a mudança e o desenvolvimento.

José Ferreira-Alves

Escola de Psicologia

Universidade do Minho

Campus de Gualtar

4710-057 Braga

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Importância do Rastreio Cognitivo na População Idosa*

SANDRA FREITAS1, LARA ALVES

2, MARIO R. SIMÕES

3, & ISABEL SANTANA

4

Resumo

O aumento da esperança média de vida e a redução da natalidade têm conduzido a uma

tendência preocupante de envelhecimento da população, com implicações nos planos social,

económico e de saúde. A idade é o principal fator de risco para o desenvolvimento de

declínio cognitivo e demência. Nesta realidade de uma população cada vez mais envelhecida,

o aumento das taxas de incidência e prevalência das demências com a idade explicam a sua

relevância em termos assistenciais e de saúde pública. Neste contexto, torna-se imperativo

que o declínio cognitivo e a demência sejam detetados o mais precocemente possível e que o

diagnóstico precoce seja uma prioridade. Os testes neuropsicológicos de rastreio cognitivo

breve continuam a ser os métodos com maior potencial para a precocidade da deteção das

condições clínicas de declínio cognitivo. Um exemplo de instrumento de rastreio cognitivo é o

Montreal Cognitive Assessment (MoCA) que tem vindo a ser alvo de um plano de estudos

sistemático para a população portuguesa, reunindo atualmente as condições necessárias

para uma válida avaliação cognitiva breve.

Palavras-chave: envelhecimento; declínio cognitivo; demência; avaliação neuropsicológica;

rastreio cognitivo.

* Este trabalho teve o apoio da Fundação para a Ciência e a Tecnologia do Ministério da Ciência e do Ensino

Superior (S.F., SFRH/BPD/91942/2012). 1 Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC), Universidade de Coimbra. Centro de Investigação do

Núcleo de Estudos e Intervenção Cognitivo Comportamental (CINEICC), Universidade de Coimbra.

Endereço Institucional: Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC), Universidade de Coimbra, Largo

Marquês de Pombal, 3004-517 Coimbra, Portugal. E-mail: [email protected]. 2 Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra. 3 Laboratório de Avaliação Psicológica e Psicometria, Universidade de Coimbra. Centro de Investigação do

Núcleo de Estudos e Intervenção Cognitivo Comportamental, Universidade de Coimbra. Faculdade de

Psicologia e de Ciências da Educação, Universidade de Coimbra. 4 Centro de Neurociências e Biologia Celular, Universidade de Coimbra. Centro Hospitalar da Universidade de

Coimbra (CHUC). Faculdade de Medicina, Universidade de Coimbra (FM-UC).

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Introdução

O presente artigo tem como objetivo global revisitar o tema da importância da avaliação

neuropsicológica, e mais particularmente do rastreio cognitivo breve, no contexto do

envelhecimento cerebral e demência. Este trabalho reflete a problemática do envelhecimento

populacional e do declínio cognitivo, salientando a importância da deteção precoce das

alterações cognitivas patológicas, nomeadamente no espectro da demência. Posteriormente, é

discutido o papel relevante dos testes de avaliação cognitiva global breve neste contexto e,

mais especificamente, a utilidade de dois instrumentos estudados na população portuguesa, o

Mini Mental State Examination (MMSE; M. Folstein, S. Folstein, & McHugh, 1975; versão

portuguesa, Guerreiro, Silva, Botelho, Leitão, Castro-Caldas, & Garcia, 1994; Morgado,

Rocha, Maruta, Guerreiro, & I. Martins, 2009) e o Montreal Cognitive Assessment (MoCA;

Nasreddine et al., 2005; versão portuguesa, Simões, Freitas, Santana, Firmino, C. Martins,

Nasreddine, & Vilar, 2008) na avaliação e distinção do declínio cognitivo normal e patológico

e no diagnóstico precoce de Demência e de Doença de Alzheimer.

Tendência de Envelhecimento da População

O aumento da esperança média de vida e o decréscimo das taxas de natalidade

constituem alterações demográficas marcantes das últimas décadas nos países desenvolvidos.

Estas mudanças traduzem uma preocupante tendência para um envelhecimento da população.

Uma exemplificação desta realidade inquietante encontra-se expressa nas estimativas do

Federal Interagency Forum on Aging-Related Statistics (2000), que assinalam a evolução em

100 anos (1900-2000) da esperança média de vida nos EUA de 49 para 76.5 anos. No mesmo

sentido, mas à escala mundial, Spar e La Rue (2002) mencionam que o número de pessoas

com mais de 65 anos aumentou de cerca de 10 a 17 milhões, em 1900, para 342 milhões, em

1992, e espera-se que para aproximadamente 2.5 biliões (20% da população total) em 2050.

Em Portugal, a esperança média de vida aumentou de 66.7 anos para o sexo feminino e

61.1 anos para o sexo masculino, em 1960, para 82.2 e 75.9 anos, respetivamente, em 2007

(European Commission, 2010). De acordo com as estimativas de população residente de 2004

(Instituto Nacional de Estatística, 2004), a população idosa com 65 ou mais anos de idade

representava já 17% do total da população portuguesa, tendo aumentado aproximadamente

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3% na última década. O Índice de Envelhecimento (IE) da população portuguesa, traduzido

pelo número de idosos por cada 100 jovens, era de 102, em 2000, tendo aumentado para 116,

em 2009 (Instituto Nacional de Estatística, 2009). Projeções recentes indicam que Portugal irá

manter a tendência de envelhecimento, estimando-se que o IE possa atingir os 398 idosos por

cada 100 jovens, em 2050, o que representa mais do triplo do valor de 2009 (Instituto

Nacional de Estatística, 2004). De acordo com esta tendência, estima-se que a população

idosa represente mais de 32% do total da população portuguesa em 2060 (Instituto Nacional

de Estatística, 2009).

Estes indicadores têm vindo a ser alvo de uma crescente atenção por parte dos

especialistas e autoridades, não só pelas diversas implicações a nível social (nomeadamente

pela atual inexistência de estruturas sociais de resposta aos cuidados que serão necessários

prestar a uma numerosa população envelhecida), mas também a nível macroeconómico e na

esfera específica da gestão dos cuidados de saúde. A gravidade da situação e a preocupação

crescente por todas as autoridades e grupos de interesse compreende-se porque o

envelhecimento da população portuguesa tem vindo a ser consensualmente caracterizado

como uma tendência crónica, isto é, uma alteração demográfica para a qual não existe

perspetiva de alteração.

Envelhecimento e Declínio Cognitivo

De modo consensual, a idade tem sido considerada como o principal fator de risco para

o desenvolvimento de demência, nomeadamente da Doença de Alzheimer (DA) (Seshadri et

al., 1997; Chen, Lin, & Chen, 2009; Herrera-Rivero, Hernández-Aguilar, Manzo, & Aranda-

Abreu, 2010) e, mais recentemente, do Défice Cognitivo Ligeiro (DCL) (Luck, Luppa, Briel,

& Riedel-Heller, 2010). Numerosos estudos epidemiológicos indicam um aumento da

incidência da DA com a idade e um padrão aproximadamente exponencial das taxas de

prevalência, que duplicam a cada cinco anos após os 60 anos. De facto, se nesta década a taxa

de prevalência estimada é de cerca de 0.7%, alcança os 38.6% aos 90 anos (Jorm, Korten, &

Henderson, 1987; McDowell, 2001; Santana, 2003; Barranco-Quintana, Allam, Castillo, &

Navajas, 2005; Ferri et al., 2005).

Aproximadamente um século depois da primeira descrição clínica por Alzheimer, em

que a DA foi apresentada como uma doença rara e de indivíduos jovens, assiste-se atualmente

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a um crescimento abrupto e continuado do número de casos desta forma de demência

degenerativa, que se tornou numa das causas mais importantes de morbilidade nos idosos. De

acordo com as estimativas mundiais, calcula-se que a DA afete cerca de 24 a 25 milhões de

pessoas, com cerca de 4.6 milhões de novos casos todos os anos (um novo caso a cada 7

segundos) (Wimo, Winblad, Aguero-Torres, & von Strauss, 2004; Ferri et al., 2005). Por

outro lado, a manter-se o cenário de ausência de estratégias preventivas ou tratamentos

eficazes, estima-se que o número de pacientes com demência duplicará a cada 20 anos,

aproximando-se dos 42 milhões em 2020 e dos 81 milhões em 2040 (Ferri et al., 2005). As

estimativas para Portugal, calculadas a partir dos estudos do Sul da Europa, sugerem que em

2010 existiam aproximadamente 153 mil pacientes com demência (Alzheimer Europe, 2010).

Importância da Deteção Precoce do Declínio Cognitivo

O envelhecimento demográfico e o drástico aumento das taxas de incidência e

prevalência das demências com a idade explicam a sua enorme relevância em termos

assistenciais e de saúde pública a nível mundial (Bassuk, Wypij, & Berkman, 2000; Comas-

Herrera et al., 2011; Langa et al., 2001; Rice et al., 2001). Em 2006, a DA foi considerada a 5ª

causa de morte mais frequente (Federal Interagency Forum on Aging-Related Statistics,

2010), posição que provavelmente seria superior caso tivessem sido contabilizadas todas as

formas de demência.

Talvez mais relevante do que a mortalidade atribuída à demência seja a morbilidade que

lhe está associada. Neste sentido, estima-se que a demência contribua com mais de 11.2% dos

anos vividos com incapacidade nas pessoas acima dos 60 anos, valor superior ao calculado

para os acidentes vasculares cerebrais (9.5%), para as doenças cardiovasculares (5.0%) ou

para todas as formas de cancro (2.4%) (World Health Organization, 2003). Para além disto,

diversos custos diretos (associados ao tratamento, honorários profissionais, exames clínicos,

hospitalizações, serviços de terceiros no apoio aos cuidados quotidianos do paciente, entre

outros) e indiretos (abandono precoce da atividade profissional por parte do doente,

diminuição da assiduidade laboral ou mesmo abandono da atividade profissional dos

cuidadores informais, aumento da morbilidade nos prestadores de cuidados, entre outros)

devem ser considerados no impacto que a demência tem na economia das famílias, nos

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sistemas de saúde e na economia nacional (Bassuk et al., 2000; Rice et al., 2001; Lurders, &

Storani, 2002).

Contudo, ainda que a importância da deteção precoce do declínio cognitivo, em especial

na faixa de população idosa vulnerável seja consensual, ao nível dos cuidados primários esta

tarefa é nos dias de hoje claramente deficitária, verificando-se uma baixa acuidade diagnóstica

das patologias no espectro da demência (Löppönen, Räihä, Isoaho, Vahlberg, & Kivelä, 2003;

Kostopoulou, Delaney, & Munro, 2008; Rait et al., 2010).

Em Portugal, a necessidade e o reconhecimento da “extraordinária importância” de uma

deteção precoce dos casos de DCL encontra-se explicitamente contemplada no Plano

Nacional de Saúde 2004/2010. Neste documento do Ministério da Saúde está formulada a

previsão de 70 mil casos de DA, em Portugal, em 2010; existe uma chamada de atenção para

a prioridade na deteção e seguimento de casos de DCL; as demências são sinalizadas como a

principal causa de gastos na saúde acima dos 65 anos, esperando-se que estes gastos

dupliquem nos próximos 10 anos; é reconhecida a sobrecarga que o doente com demência

representa para as famílias, bem como a necessidade de dados epidemiológicos para uma

estimação mais precisa desta problemática.

Neste contexto, compreende-se o imperativo para que o declínio cognitivo e a demência

sejam detetados o mais precocemente possível e que o diagnóstico precoce se imponha como

uma prioridade assistencial. Na atualidade, a intervenção terapêutica já permite estabilizar ou

melhorar alguns défices cognitivos, potencializar as capacidades funcionais e controlar os

sintomas psicológicos associados, sendo que a eficácia terapêutica se encontra associada à

precocidade da sua implementação. No seu conjunto, estas intervenções aumentam

significativamente período de funcionamento relativamente preservado e já têm um grande

impacto na qualidade de vida dos pacientes e dos seus cuidadores (Sánchez, & Sayago, 2000;

Cummings, 2003/2004; Kopman, 2003/2004; Schimitt, & Wichems, 2006). Num futuro

próximo, espera-se que as estratégias de intervenção preventivas e curativas, tenham impacto

ainda mais relevante, pelo que a deteção e intervenção precoce venham a ser mais cruciais.

Instrumentos de Rastreio Cognitivo e Avaliação Neuropsicológica

No âmbito da prática clínica e da investigação em Neuropsicologia, a avaliação

neuropsicológica assume um papel fundamental. Tendo como objetivo principal a

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determinação da integridade estrutural e funcional dos sistemas cerebrais (Simões, 1997), a

avaliação neuropsicológica consiste «essencialmente num conjunto de procedimentos de

exame clínico (…) e pode ser considerada como um aperfeiçoamento e alargamento da

observação clínica que assenta na descrição mais precisa e fiável dos desempenhos do

paciente, através de instrumentos e procedimentos de teste específicos, que suscitam tipos de

desempenho que não são acessíveis à observação clínica» (Benton, 1991, p.507).

A centralidade e relevância da avaliação neuropsicológica são bem exemplificadas na

amplitude e diversidade dos seus objetivos, que podem incluir: 1) a caracterização das

capacidades cognitivas e a determinação das modificações em relação a um nível pré-

mórbido; 2) a predição das capacidades funcionais; 3) a análise dos sintomas e sinais

presentes e identificação das patologias subjacentes; 4) a recolha de informação útil ao

estabelecimento do diagnóstico diferencial; 5) a recolha de evidências para a análise da

etiologia do quadro clínico; 6) o planeamento de procedimentos terapêuticos e preventivos

adequados; 7) a monitorização da evolução da situação clínica; 8) a avaliação da eficácia de

um procedimento terapêutico; 9) a identificação de populações de risco; 10) a avaliação do

impacto cognitivo de patologias de foro extra neurológico; entre outros e para além dos fins

de investigação, nomeadamente ao nível da operacionalização das hipóteses e objetivos dos

estudos na área (Morris, & Kopelman, 1992; Dastoor, & Mohr, 1996; Lezak, 2003;

Bartolomé, & Ardila, 2005; Guerreiro, 2005; Krishnan, 2007; Sobral, 2006; Veríssimo, 2006).

Os Instrumentos de Rasteio Cognitivo são testes de administração fácil e rápida, os

quais fornecem uma caracterização superficial (aproximada) das várias funções cognitivas e

que têm indicação de uso na discriminação entre condição normal e patológica; estes testes

breves também são muito utilizados na prática clínica como primeiros orientadores no

despiste de disfunções cognitivas focais, associadas a lesões cerebrais localizadas, e no

controlo evolutivo de situações demenciais. Os testes de rastreio cognitivo podem ser

incluídos num protocolo de avaliação que integre Baterias de Avaliação Neuropsicológica

Gerais, Fixas ou Flexíveis (constituídas por provas numerosas e diversificadas, cuja

administração requer habitualmente algumas horas e que analisam mais detalhadamente as

várias funções cognitivas) e Testes Específicos (que podem ser utilizados isoladamente ou em

combinações distintas e que permitem o exame mais individualizado e completo de

determinada função cognitiva na qual tenha sido identificada a presença de desempenho

deficitário aquando de uma avaliação global).

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Convém contextualizar mais os termos da distinção entre testes de rastreio cognitivo

breve e testes de avaliação mais compreensiva. Enquanto os testes de rastreio cognitivo breve

são de grande utilidade nos contextos em que é necessária uma breve avaliação cognitiva

global, nomeadamente em contexto de cuidados de saúde primários e de rastreio na população

da comunidade, os testes de avaliação mais compreensiva correspondem a procedimentos de

avaliação especializados, sendo mais utilizados em cuidados de saúde secundários e terciários

(Lonie, Tierney, & Ebmeier, 2009).

No contexto assistencial, uma apropriada seleção dos instrumentos de avaliação

neuropsicológica (número e conteúdo dos testes) constitui condição essencial para a validade

e utilidade do processo de avaliação. Estes testes devem permitir uma avaliação

individualizada e compreensiva, ajustando-se à natureza das queixas do paciente e do pedido

de avaliação, aos dados relativos à situação clínica do indivíduo, às hipóteses diagnósticas

suscitadas pelos desempenhos do indivíduo durante a avaliação, bem como às características

contextuais de natureza social e cultural (Simões, 1997; American Academy of Clinical

Neuropsychology, 2007).

Os Testes de Rastreio Cognitivo como Método de Deteção Precoce do Declínio Cognitivo

O rastreio cognitivo com testes neuropsicológicos breves continua a ser o método mais

utilizado e o que mais tem contribuído para a deteção precoce do défice cognitivo e estados

pré-demenciais, quer no âmbito de estudos populacionais, quer ao nível dos cuidados de

saúde primários (Fabrigoule, Barberger-Gateau, & Dartigues, 2006; Ismail, & Shulman, 2006;

Cullen, O’Neill, Evans, Coen, & Lawlor, 2007). Efetivamente, a capacidade para distinguir

situações “normais” e “patológicas” no continuum entre o processo de envelhecimento normal

e os quadros patológicos é melhorada pela avaliação neuropsicológica (Smith, & Ivnik,

2003/2004). Neste âmbito, Guerreiro (2005) lembra que a avaliação neuropsicológica

constitui um dos exames complementares de diagnóstico que mais incrementa a precocidade

de deteção de quadros demenciais.

Contudo, os resultados das avaliações neuropsicológicas podem ser fortemente

comprometidos pela ausência de instrumentos reconhecidamente considerados de referência

e/ou pela falta de cuidados metodológicos no trabalho de adaptação cultural e linguística dos

mesmos e/ou pela inexistência de estudos de validação psicométrica e clínica robustos. Deste

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modo, compreende-se a importância de instrumentos de avaliação neuropsicológica

devidamente adaptados, validados e normalizados para a população portuguesa, que ao

mesmo tempo sejam sensíveis e precisos na discriminação entre o défice cognitivo patológico

e o declínio cognitivo associado à idade. Em Portugal, esta é uma necessidade ainda mais

relevante dada a escassez de instrumentos representativos, convenientemente adaptados e

aferidos para a nossa população (Guerreiro, 2005; Simões, 1997).

O MMSE (M. Folstein, S. Folstein, & McHugh, 1975) é o instrumento de rastreio

cognitivo breve mais utilizado em contexto clínico e de investigação, mais amplamente

validado para diversas populações e mais referenciado na literatura. Com uma pontuação total

de 30 pontos, esta prova é de administração fácil e rápida (5 a 10 minutos), permitindo uma

avaliação global das funções cognitivas do indivíduo. Na década de 70, esta prova constituiu

um incontestável avanço no contexto da avaliação cognitiva breve. Contudo, atualmente e

nessa indicação, são-lhe apontadas diversas limitações, designadamente na identificação das

formas mais ligeiras de declínio: a baixa sensibilidade; a reduzida complexidade de muitas

das tarefas incluídas na prova; a relativa incapacidade para diferenciar distintas condições

clínicas; e a ausência de tarefas para a avaliação das funções executivas, o que compromete a

sua sensibilidade na identificação de condições clínicas como a demência Frontotemporal

(DFT) ou o défice cognitivo de origem vascular (Ihl, Frölich, Naugle, & Kawczak, 1989; Ihl,

Frölich, Dierks, Martin, & Maurer, 1992; Tombaugh, & McIntyre, 1992; Wind et al., 1997;

Freitas, Santana, & Simões, 2010). Apesar destas limitações, que podem tornar questionável a

utilização desta prova como instrumento isolado de teste de rastreio cognitivo, a sua utilidade

na avaliação das condições clínicas com nível de gravidade moderada a severa encontra-se

bem documentada. Admite-se que o MMSE possa ser a prova mais adequada para a avaliação

cognitiva breve de populações com baixa escolaridade, sobretudo nas idades mais avançadas.

Em Portugal, o primeiro estudo sistemático com o MMSE foi realizado por Guerreiro

(Guerreiro, Silva, Botelho, Leitão, Castro-Caldas, & Garcia, 1994; Guerreiro, 1998) que

efetuou a adaptação transcultural à nossa população e desenvolveu estudos de carácter

psicométrico e normativo. Posteriormente, Morgado e colaboradores (2009) efetuaram uma

atualização dos dados normativos do MMSE para a população portuguesa. Ambos os estudos

normativos do MMSE para a população não contemplaram uma amostra estratificada e

representativa da população portuguesa, sendo as respetivas amostras residentes apenas na

área metropolitana de Lisboa. Por esta razão, foi recentemente conduzido um estudo

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normativo do MMSE para a população portuguesa com recurso a uma amostra estratificada

de acordo com diversas variáveis sociodemográficas e representativa da população portuguesa

(Freitas, Simões, Alves, & Santana, 2013).

Nos últimos anos, perante as limitações que vinham a ser apontadas ao MMSE e numa

tentativa de potenciar a eficácia e precisão do rastreio cognitivo, nomeadamente na

identificação das formas mais ligeiras de declínio cognitivo, foram sendo desenvolvidos

diversos instrumentos de rastreio cognitivo alternativos.

Neste contexto, o Montreal Cognitive Assessment (MoCA; Nasreddine et al., 2005) é

um dos testes de rastreio cognitivo breve mais promissor, tendo sido desenvolvido

especificamente para a avaliação das formas mais ligeiras de declínio cognitivo. O

desenvolvimento desta prova estendeu-se ao longo de cinco anos, tendo sido efetuados

sucessivos aperfeiçoamentos à sua estrutura (por exemplo, exclusão dos itens não

discriminativos, redução do número de domínios cognitivos considerados, ajuste da

pontuação dos itens de modo a valorizar diferenciadamente os itens mais discriminativos). A

versão final deste instrumento afirma-se como um método rápido, prático e eficaz no seu

objetivo fundamental: a diferenciação entre alterações cognitivas devidas ao envelhecimento e

défices cognitivos patológicos.

O MoCA (teste) é constituído por um protocolo de uma página, cujo tempo de aplicação

é de aproximadamente 10 a 15 minutos, e inclui um manual onde são explicitadas as

instruções para a administração dos itens e definido, de modo objetivo, o sistema de cotação

do desempenho nos itens. O teste permite atingir uma pontuação máxima de 30 (pontos),

sendo que as pontuações mais elevadas indicam melhores desempenhos. O MoCA avalia seis

domínios cognitivos. As funções executivas são avaliadas através de uma tarefa adaptada do

Trail Making Test B (1 ponto), de uma prova de fluência verbal fonémica (1 ponto) e de dois

itens de semelhanças para a avaliação da capacidade de abstração (2 pontos). A cópia do cubo

(1 ponto) e o desenho do relógio (3 pontos) permitem o exame das capacidades

visuoespaciais. A memória a curto prazo é avaliada através da aprendizagem de uma lista de 5

palavras em dois ensaios não pontuáveis com subsequente evocação diferida após 5 minutos

(5 pontos). A atenção, concentração e memória de trabalho são examinadas através da

repetição de uma sequência numérica em sentido direto (1 ponto) e em sentido inverso (1

ponto), de uma tarefa de cancelamento, e ainda de uma tarefa de subtração em série (3

pontos). A nomeação de três animais pouco familiares (3 pontos), a repetição de duas frases

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sintaticamente complexas (2 pontos) e a prova de fluência verbal fonémica (1 ponto)

contribuem para a mensuração das aptidões de linguagem. Por fim, as quatro questões de

orientação no tempo e as duas de orientação no espaço compõem o domínio da orientação

temporal e espacial. De acordo com os resultados do estudo de Shulman e colaboradores

(2006), este conjunto de itens que constituem o MoCA inclui 5 das 6 tarefas mais

frequentemente usadas no rastreio da demência, o que potencia a rápida familiarização com o

teste por parte dos utilizadores. A única medida não incluída no MoCA é o MMSE que surge,

naquele estudo, como a prova mais frequentemente utilizada neste âmbito de rastreio.

Comparativamente ao MMSE, o MoCA avalia mais funções cognitivas, incluindo itens

para a avaliação das funções executivas, e apresenta um maior nível de exigência e

complexidade das suas tarefas (por exemplo, cópia de desenho tridimensional; inclusão do

desenho do relógio por instrução verbal; menor familiaridade nas tarefas de nomeação; mais

palavras e maior intervalo de tempo precedente à evocação na avaliação da memória; maior

complexidade sintática na repetição das frases; inclusão de uma tarefa de fluência fonémica;

inclusão da repetição das sequências numéricas e de uma prova de cancelamento). Deste

modo, o MoCA proporciona uma avaliação mais completa e mais exigente das funções

cognitivas, potenciando a sensibilidade dos seus resultados aos estádios de défice mais

ligeiros e uma melhor adequação ao rastreio cognitivo dos indivíduos com escolaridade mais

elevada.

Várias publicações internacionais têm comprovado as boas propriedades psicométricas

do MoCA, bem como a sua elevada sensibilidade na identificação precoce de pacientes com

DCL e DA (Nasreddine et al., 2005; Smith, Gildeh, & Holmes, 2007; Lee et al., 2008; Koski,

Xie, & Finch, 2009; Luis, Keegan, & Mullan, 2009; Rahman, & Gaafary, 2009; Fujiwara et

al., 2010; Zhao et al., 2011). Apesar de ter sido originalmente desenvolvido para a avaliação

cognitiva global neste espectro clínico, o sucesso obtido na identificação do declínio

cognitivo mais ligeiro, com resultados consistentemente melhores do que obtidos com o

MMSE, conduziram a um uso crescente do MoCA noutras populações clínicas [ex., Défice

Cognitivo Vascular (Hachinski et al., 2006) e outras condições clínicas cerebrovasculares

(Aggarwal, & Kean, 2010; Pendlebury, Cuthbertson, Welch, Mehta, & Rothwell, 2010);

Doença de Parkinson (Hoops et al., 2009); Doença de Huntington (Videnovic et al., 2010);

perturbações do sono (Gagnon, Postuma, Joncas, Desjardins, & Latreille, 2010); população

oncológica (Olson et al., 2010); HIV (Koski et al., 2011); perturbações de abuso de

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substâncias (Copersino et al., 2009); défice visual (Wittich, Phillips, Nasreddine, &

Chertkow, 2010); entre outras].

Esta comprovada utilidade e eficácia do MoCA a par do reconhecimento de diversas

vantagens face ao MMSE, explicam a sua rápida disseminação e afirmação internacional,

sendo que atualmente o MoCA está adaptado e validado em mais de 36 países. Salienta-se

ainda como um método de avaliação cognitiva global breve de qualidade em vários estudos de

avaliação neuropsicológica comparativa (Lerch, Decker-Maruska, & Fleck, 2010; Zhao et al.,

2011); em estudos de revisão (Levey, Lah, Goldstein, Steenland, & Bliwise, 2006; Jacova,

Kertesz, Blair, Fisk, & Feldman, 2007; Moorhouse, & Rockwood, 2008; Lonie, Tierney, &

Ebmeier, 2009; Zhou, & Zhao, 2009; Appels, & Scherder, 2010; Ismail, Rajji, & Shulman,

2010); e em guidelines dirigidas ao DCL e DA (Gauthier et al., 2006; Chertkow et al., 2007;

Robillard, 2007; Gauthier et al., 2011) e a outras condições clínicas, nomeadamente ao Défice

Cognitivo Vascular (Hachinski et al., 2006) e a patologias cardiovasculares (Arnold et al.,

2007). Deste modo, e de acordo com a opinião expressa por alguns autores, o MoCA parece

assumir um papel de relevo enquanto teste de rastreio cognitivo breve, estando «em boa

posição para se impor uma vez que recolhe a informação necessária através de um

instrumento de rastreio eficaz e prático» (Ismail, & Shulman, 2006, p.525).

O MoCA (versão 7.1) tem vindo a ser alvo de um plano de estudos sistemático para a

população portuguesa. Atualmente esta prova está adaptada transculturalmente para a nossa

população (Freitas, Simões, C. Martins, Vilar, & Santana, 2010) e validada em pacientes com

DCL e DA (Freitas, Santana, & Simões, 2010; Freitas, Simões, Alves, & Santana, 2012a),

Demência Frontotemporal (Freitas, Simões, Alves, Duro, & Santana, 2012) e Demência

Vascular (Freitas, Simões, Alves, Vicente, & Santana, 2012). Para além do estudo normativo

com recurso a uma amostra estratificada e representativa da população portuguesa (Freitas,

Simões, Alves, & Santana, 2011), foram ainda realizados outros estudos psicométricos: o

estudo da influência das variáveis sociodemográficas e de saúde no desempenho no MoCA

(Freitas, Simões, Alves, & Santana, 2012b) e o estudo de validade de constructo (Freitas,

Simões, Marôco, Alves, & Santana, 2012). De salientar que o projeto de investigação de

estudos do MoCA na população portuguesa continua em curso. Brevemente, estarão

disponíveis as versões alternativas do MoCA (7.2 e 7.3) adaptadas à população portuguesa,

outros estudos de validação psicométrica (como por exemplo, a análise da prova com recurso

ao Modelo de Rasch e estudos no âmbito da validade concorrente) e estudos de validação

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clínica com outras patologias (por exemplo: Esclerose Múltipla, Epilepsia, Doença de

Parkinson, Demência com Corpos de Lewy, Traumatismo Crânio-Encefálico, entre outras).

Em Portugal, importa ainda sublinhar que a Direção Geral de Saúde publicou

recentemente uma Norma [053/2011; “Abordagem Terapêutica das Alterações Cognitivas”]

recomendando o uso da versão portuguesa do MoCA para o rastreio cognitivo breve e que as

recomendações da Liga Portuguesa Contra a Epilepsia recomendam igualmente a sua a

utilização. A série Escalas e Testes na Demência, editada pelo Grupo de Estudo de

Envelhecimento Cerebral e Demências (GEECD) integrará o MoCA na sua 3ª edição.

Conclusão

No contexto de uma população cada vez mais envelhecida, a avaliação cognitiva breve

dos adultos e idosos com suspeita de declínio cognitivo, assume um papel fundamental, na

medida em que a precocidade da sua identificação influencia significativamente a intervenção

terapêutica e a evolução clínica. Neste sentido, a eficácia do rastreio cognitivo pode ser

comprometida pela inadequada seleção do instrumento de avaliação. É relevante que a prova

esteja adaptada culturalmente para a população portuguesa, que tenha sido alvo de estudos de

validação psicométrica e clínica para a população alvo e, não menos importante, que disponha

de normas de desempenho para o grupo de referência. Pode afirmar-se que o MoCA reúne

atualmente as condições necessárias para uma eficaz avaliação cognitiva breve dos adultos e

idosos portugueses.

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The Importance of the Elderly Cognitive Screening

Abstract

The increased life expectancy and the declining birth rates have led to a worrying trend of

population aging, with implications in the social, economic and health domains. Age is the

main risk factor for the development of cognitive decline and dementia. In this context of an

increasingly aging population, the increase in the incidence and prevalence of dementia

explains its importance in terms of public health and welfare. Hence it becomes imperative

for cognitive decline and dementia to be detected as early as possible and for early diagnosis

to be regarded as a priority. The neuropsychological brief cognitive screening tests remain

the best approach in the early detection of clinical conditions of cognitive decline. An

example of such a screening instrument is the Montreal Cognitive Assessment (MoCA) that

has been the target of a systematic study plan for the Portuguese population, currently

gathering the necessary conditions for a valid global and brief cognitive evaluation.

Keywords: aging; cognitive impairment; dementia; neuropsychological assessment; cognitive

screening.

Como citar este artigo: Freitas, S., Alves, L., Simões, M.R., & Santana, I. (2013). Importância do rastreio

cognitivo na população idosa [Temas em Psicologia do Envelhecimento (Vol.I)], Revista E-Psi, 3(1), 4-24.

Received: November 14, 2013 Revision received: November 24, 2013 Accepted: November 26, 2013

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O TeLPI e o seu Papel na Identificação do Declínio Cognitivo

LARA ALVES1, SANDRA FREITAS

2, CRISTINA MARTINS

3, ISABEL SANTANA

4, &

MÁRIO R. SIMÕES5

Resumo

O envelhecimento demográfico e o marcado aumento das taxas de incidência e prevalência

das demências associadas ao aumento da idade evidenciam a sua enorme relevância em

termos de saúde pública nos países desenvolvidos, incluindo Portugal. A avaliação da

Inteligência Pré-Mórbida (IPM) é considerada não só essencial, mas também como um dos

primeiros passos na avaliação neuropsicológica, constituindo a base a partir da qual se pode

aferir o desempenho atual de um indivíduo. Esta baseline é essencial para que a identificação

e caracterização de um eventual declínio cognitivo seja o mais fiável possível. No entanto,

dados relativos ao funcionamento pré-mórbido raramente se encontram disponíveis, sendo

necessário recorrer a métodos indiretos de estimação.

O presente estudo discute o papel da IPM na avaliação do declínio cognitivo, realizando uma

breve abordagem histórica do desenvolvimento das várias metodologias de estimação desta

medida. Conclui-se que a metodologia mais válida, fiável e promissora para a estimação da

IPM combina, em fórmulas de regressão, a informação relativa à capacidade atual do sujeito

e dados referentes a variáveis demográficas. O TeLPI é um instrumento válido de exame da

IPM e o único disponível para a população portuguesa. Os resultados da investigação

evidenciam a validade do TeLPI para uma definição mais rigorosa do diagnóstico de declínio

1 Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, Universidade de Coimbra (FPCE-UC).

Endereço Institucional: Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, Rua do

Colégio Novo, Apartado 6153, 3001-802 Coimbra, Portugal. E-mail: [email protected]. 2 Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC), Universidade de Coimbra. Centro de Investigação do

Núcleo de Estudos e Intervenção Cognitivo Comportamental (CINEICC). 3 Centro de Estudos de Linguística Geral e Aplicada (CELGA), Universidade de Coimbra. Faculdade de Letras,

Universidade de Coimbra (FL-UC). 4 Centro de Neurociências e Biologia Celular, Universidade de Coimbra. Centro Hospitalar da Universidade de

Coimbra (CHUC). Faculdade de Medicina, Universidade de Coimbra (FM-UC). 5 Laboratório de Avaliação Psicológica e Psicometria, Universidade de Coimbra. Centro de Investigação do

Núcleo de Estudos e Intervenção Cognitivo Comportamental, Universidade de Coimbra. Faculdade de

Psicologia e de Ciências da Educação, Universidade de Coimbra.

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cognitivo normal e patológico em Portugal e a utilidade da sua inclusão nos protocolos de

avaliação neuropsicológica.

Palavras-chave: inteligência pré-mórbida; declínio cognitivo; avaliação neuropsicológica.

Introdução

A projeção do Instituto Nacional de Estatística de 2009 alertou para uma tendência

preocupante de envelhecimento da população portuguesa. Estima-se que a população idosa

represente mais de 32% do total da população portuguesa em 2060 (Instituto Nacional de

Estatística, 2009). Estes importantes indicadores têm vindo a ser alvo de uma crescente

preocupação por parte dos especialistas na área do envelhecimento, devido às suas

implicações ao nível dos cuidados de saúde. De facto, a idade é o principal fator de risco para

as diversas formas de demência, nomeadamente para a Doença de Alzheimer (DA) (Seshadri

et al., 1997; J. Chen, Lin, & Y. Chen, 2009; Herrera-Rivero, Hernández-Aguilar, Manzo, &

Aranda-Abreu, 2010) e para a sua forma prodrómica, o Défice Cognitivo Ligeiro (DCL)

(Luck, Luppa, Briel, & Riedel-Heller, 2010). As referidas doenças neurodegenerativas

representam uma das causas mais importantes de morbilidade nos idosos a nível europeu

(Alzheimer Europe, 2010), agravadas pela quase inexistência de estratégias preventivas ou de

tratamentos curativos eficazes que possam alterar esta tendência (Ferri et al., 2005).

O envelhecimento demográfico e o drástico aumento das taxas de incidência e

prevalência das demências associadas ao aumento da idade evidenciam a sua enorme

relevância em termos de saúde pública (Comas-Herrera et al., 2011). Neste sentido, o Plano

Nacional de Saúde Português de 2004/2010 priorizou a deteção precoce e o seguimento de

casos de DCL de modo a evitar, ou, pelo menos, a minimizar, a enorme sobrecarga de gastos

assistenciais aos doentes e às suas famílias. Assim, torna-se evidente o necessário

desenvolvimento de procedimentos e de instrumentos que permitam uma deteção precoce e

fiável do declínio cognitivo. Será neste ponto que a Avaliação Neuropsicológica, com o

objetivo de determinar a integridade funcional dos sistemas cerebrais, assume um papel de

relevância (Simões, 1997; American Psychological Association, 1998).

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A Avaliação Neuropsicológica permite a identificação e a caracterização de uma

eventual disfunção cognitiva, que, na ausência de procedimentos e de instrumentos de medida

específicos, não seria viável na prática clínica (Benton, 1991). Neste âmbito, a avaliação do

declínio cognitivo patológico ou associado ao envelhecimento representa um objetivo

particularmente saliente e especializado da Neuropsicologia (Lezak, Howieson, Bigler, &

Tranel, 2012), atendendo ao impacto que, no indivíduo afetado, terão, para além da própria

lesão, condicionantes intrínsecas, ambientais, ocupacionais, educacionais e sociais. Estas

variáveis, intimamente ligadas, criam uma combinação extraordinária de particularidades

individuais possíveis que tornam a tarefa de avaliação do declínio cognitivo em contexto

clínico (ou de investigação) particularmente difícil (Schoenberg, Lange, Marsh, & Saklofske,

2011; Lezak et al., 2012).

O desenvolvimento de técnicas de diagnóstico não invasivas, sensíveis e válidas (como,

por exemplo, técnicas de neuroimagem) tem, aparentemente, relativizado a utilidade do papel

da avaliação neuropsicológica como instrumento de diagnóstico (Lezak et al., 2012). No

entanto, em certas condições (por exemplo, no caso de doenças neurodegenerativas) as novas

técnicas de imagem não são de todo suficientes para ultrapassar dificuldades de diagnóstico

inerentes a tais patologias. Assim, a avaliação neuropsicológica assume um papel fulcral no

estabelecimento do diagnóstico, sendo considerada essencial para a identificação e

quantificação do défice e de declínio cognitivo do doente (Ricker, & Zafonte, 2000; Welsh-

Bohmer, Attix, & Mason 2003; Lezak et al., 2012).

O desenvolvimento da investigação em Neuropsicologia nas últimas décadas tem

contribuído para o aperfeiçoamento desta tarefa. Com efeito, vários instrumentos de rastreio e

de avaliação de funções cognitivas específicas foram adaptados, validados e normalizados

para a população portuguesa nos últimos anos. Não obstante, e considerando que o conceito

de défice cognitivo pressupõe o conhecimento do nível de funcionamento prévio (ou pré-

mórbido) relativamente ao qual os resultados alcançados nos instrumentos de rastreio possam

ser comparados e medidos (APA, 1998; Mackinnon, Ritchie, & Mulligan, 1999; Lezak et al.,

2012), emerge um claro hiato na metodologia da avaliação do declínio cognitivo. Na verdade,

dados relativos ao funcionamento cognitivo pré-mórbido raramente se encontram disponíveis

(Matsuoka, Masatake, Kasal, Koyama, & Kim, 2006). A ausência de dados relativos ao nível

intelectual pré-mórbido do paciente (ou inteligência pré-mórbida) ou de instrumentos que, em

alternativa, os estimem de um modo fiável potencia o risco de diagnósticos erróneos e de

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planos de intervenção (psicoterapia, aconselhamento, reabilitação) desajustados (Starr, &

Lonie, 2007; Budson, & Soloman, 2012).

O presente artigo pretende demonstrar a importância da medida da Inteligência Pré-

Mórbida (IPM), as suas implicações para a avaliação do declínio cognitivo, bem como dar a

conhecer o TeLPI (Teste de Leitura de Palavras Irregulares; Alves, Simões, & C. Martins,

2012), um instrumento desenvolvido especificamente para a avaliação da IPM e único em

Portugal.

A Avaliação do Declínio Cognitivo

A avaliação da IPM constitui a base a partir da qual se pode aferir o desempenho atual

de um indivíduo. Se os níveis de desempenho cognitivo pré-mórbido forem estabelecidos com

uma segurança razoável, conclusões sustentadas poderão resultar de tal exercício

comparativo, permitindo o estabelecimento de objetivos realistas e a possibilidade de

mensuração e de monitorização do progresso na recuperação de níveis de funcionamento

cognitivo (Powell, Brossart, & Reynolds, 2003; Schoenberg et al., 2011).

O conhecimento da IPM tornou-se num objetivo central de particular complexidade na

prática de avaliação neuropsicológica e tem vindo a ser objeto de investigação nas últimas

duas décadas (Williams, 1997; Griffin, Mindt, Rankin, Ritchie, & Scott, 2002; Baade,

Heinrichs, Coady, & Stropes, 2011; NCS Pearson Corporation, 2011), originando várias

propostas metodológicas com diferentes graus de validade (Lanham, & Misukanis, 1999;

Lezak et al., 2012). A dificuldade associada à avaliação da IPM radica essencialmente na

reiterada ausência de dados objetivos relativos ao funcionamento cognitivo anterior do

indivíduo que permitam a comparação e a análise da eventual discrepância entre o estado de

funcionamento pré-mórbido (por exemplo, através de resultados obtidos numa escala de

inteligência de Wechsler administrada numa fase presumidamente saudável do individuo) e o

funcionamento cognitivo atual identificado a partir de uma avaliação neuropsicológica

recentemente realizada (Lanham, & Misukanis, 1999; Lezak et al., 2012). Assim, torna-se

necessário recorrer a métodos indiretos que afiram as capacidades cognitivas pré-mórbidas de

um modo fidedigno (Lanham, & Misukanis, 1999; Griffin et al, 2002; Powell et al., 2003;

Baade, & Schoenberg, 2004; Schoenberg et al., 2011; Matsuoka et al, 2006).

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Figura 1 – Metodologias de Avaliação do Funcionamento Pré-mórbido.

Através dos métodos indiretos de avaliação da IPM, o neuropsicólogo compara a

prestação atual do sujeito com uma inferência da sua capacidade cognitiva original. Esta

estimativa pode ser obtida através de várias formas, cabendo ao examinador a tarefa de

selecionar a que lhe assegure maior confiança e a que melhor se adeque ao indivíduo em

questão. Embora não exista uma metodologia objetiva universalmente aceite para a estimação

da IPM, várias abordagens indiretas foram sendo propostas (Lezak et al., 2012), constituindo

metodologias combinadas, nomeadamente aquelas que contemplam instrumentos que

interligam a leitura de palavras irregulares e o uso de variáveis sociodemográficas em

fórmulas de regressão (por exemplo, Crawford, & Allan, 1997; Griffin et al., 2002; Miller,

Marks, & Halperin, 2005; Schoenberg et al., 2011), justificando a preferência e a confiança de

clínicos e investigadores (Lezak et al., 2012) (ver Figura 1).

A necessidade objetiva de uma medida de estimação da IPM nos protocolos de

avaliação neuropsicológica, a ausência de uma tal medida validada para a população

portuguesa, a existência, utilidade, validade e frequência de utilização de testes de leitura de

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palavras irregulares em protocolos de avaliação neuropsicológica noutros países e com

resultados fiáveis justificaram a construção, adaptação e validação do TeLPI (Teste de Leitura

de Palavras Irregulares; Alves, Simões, & C. Martins, 2012), um instrumento especificamente

construído para avaliar a IPM na população portuguesa.

Até ao advento do TeLPI (Alves, Simões, & C. Martins, 2012), em Portugal eram

utilizados dois tipos de metodologias para a avaliação da IPM: (i) O julgamento clínico

subjetivo (método qualitativo) e (ii) a utilização da prova de Vocabulário das escalas de

inteligência de Wechsler.

(i) Métodos Qualitativos de Estimação da IPM: Julgamento Clínico, Dados Históricos e

Observacionais

Os dados históricos e observacionais obtidos através da entrevista clínica são uma fonte

de informação através da qual se pode avaliar a IPM (Kareken, & Williams, 1994). Esta

abordagem qualitativa abrange áreas como o nível educacional, registos profissionais,

funcionamento familiar e social, história médica e psicológica (Smith-Seemiller, Franzen,

Burgess, & Prieto, 1997) e possibilita a recolha de informação sobre as modificações

ocorridas na vida do sujeito desde a lesão e decorrentes dela, com base no testemunho da

pessoa examinada e no de informadores próximos (Lanham, & Misukanis, 1999). A

fiabilidade desta abordagem fica, pois, dependente da quantidade e da qualidade dos dados

conhecidos acerca do sujeito a avaliar (Crawford, & Allan, 1997).

Dados referentes à performance académica, às avaliações e à progressão na carreira

profissional parecem ter alguma utilidade, já que estas variáveis se correlacionam com a

inteligência num grau médio a elevado (Baade, & Schoenberg, 2004; Alves, Simões, & C.

Martins, 2012). Ainda assim, estes dados devem ser interpretados com precaução, uma vez

que são várias as condicionantes que podem levar a uma performance inferior à que seria

expectável em função da capacidade intelectual do indivíduo (Lanham, & Misukanis, 1999).

Em resposta à necessidade de uma metodologia válida para estimar a IPM, foram

desenvolvidos métodos indiretos numa vertente mais quantitativa (Smith-Seemiller et al.,

1997).

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(ii) Métodos Quantitativos de Avaliação da IPM

Subteste de Vocabulário das escalas de inteligência de Wechsler

A primeira tentativa de desenvolver uma metodologia quantitativa para estimar a IPM

derivou da observação clínica de que muitos pacientes com comprovado declínio cognitivo

mantinham certas capacidades cognitivas relativamente intactas, contrariamente ao verificado

em relação a funções mais vulneráveis, como a memória, o raciocínio ou a capacidade

numérica (Schoenberg et al., 2011).

Yates (1954) sugeriu que o desempenho obtido no subteste de Vocabulário das escalas

de inteligência de Wechsler seria o mais resistente ao declínio cognitivo, uma vez que é o

subteste que melhor se correlaciona com o Quociente de Inteligência Escala Completa (QIEC)

e com o nível de escolaridade, sendo este último considerado um bom indicador qualitativo da

IPM (Nelson, & Mckenna, 1975; Johnstone, Slaughter, Schopp, McAllister, Schwake, &

Luebbering, 1997). Vários estudos propuseram outros subtestes destas escalas como bons

indicadores da IPM, como o Completamento de Gravuras (McFie, 1975; Krull, Scott, &

Sherer, 1995) ou a Informação (Vanderploeg, & Schinka, 1995), mas as provas de

Vocabulário são as que têm sido mais consistentemente selecionadas para estimar a IPM

(Lezak et al., 2012). Não obstante, as provas de Vocabulário requerem definições verbais e o

consequente acesso ao significado lexical dos itens, sendo, por isso, consideradas vulneráveis

ao dano cerebral (Fuld, 1983; Del Ser, González-Montalvo, Martinez-Espinosa, Delgado-

Villapalos, & Bermejo, 1997), quando comparadas com outro tipo de instrumentos verbais

que visam respostas breves ou que requerem apenas o reconhecimento de palavras (Lezak et

al., 2012). A evidência de que o Vocabulário apresenta, com frequência, declínio após lesão

cerebral (Griffin et al., 2002) e a falta de consistência da investigação científica que apoie que

esta capacidade cognitiva não é afetada pela lesão cerebral (Reynolds, 1997) levaram a que

esta metodologia inicial tenha sido praticamente abandonada (Schoenberg et al., 2011).

Testes de leitura de palavras irregulares

Na tentativa de melhorar os métodos de estimação baseados no Vocabulário, Nelson

(1982) propôs o uso de testes de leitura de palavras irregulares para estimar a IPM através do

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desenvolvimento do National Adult Reading Test (NART; Nelson, 1982; Nelson, & Wilson,

1991; Crawford, Parker, & Benson, 1988; Crawford, Parker, Stewart, Besson, & Delacey,

1989; Crawford, Deary, Starr, & Whalley, 2001). Esta metodologia correlaciona inteligência

geral e aptidão de leitura (Nelson, & Willison, 1991) e apoia-se no pressuposto de que, em

casos de declínio cognitivo, a componente fonológica da linguagem envolvida na leitura em

voz alta de palavras irregulares (isto é, palavras contendo casos em que a relação entre

grafema e fonema não é unívoca) se encontra mais preservada do que a componente léxico-

semântica, uma vez que a primeira parece ser menos dependente da integridade das funções

cognitivas superiores do que a segunda (Bayles, & Boone, 1982). O NART (Nelson, 1982) é

o primeiro instrumento de leitura especificamente desenvolvido para estimar a IPM e a sua

aferição foi realizada simultaneamente com a da Wechsler Adult Intelligent Scale (WAIS).

A tarefa nestes instrumentos consiste na leitura, em voz alta, de cerca de 50 palavras

irregulares apresentadas por ordem de dificuldade. Uma vez que a leitura correta das palavras

não pode ser determinada pelas regras de conversão grafema-fonema, Nelson (1982) defende

que o desempenho nestes instrumentos está mais dependente do conhecimento prévio dos

itens do que da capacidade cognitiva atual do sujeito. Por outro lado, a seleção de itens de

baixa frequência fornece um indicador do nível educacional anterior ou de níveis superiores

de inteligência cristalizada (Strauss, Sherman, & Spreen, 2006), já que a familiaridade com

palavras pouco frequentes numa dada língua tende a aumentar com o nível educacional do

falante. Vários estudos realizados com instrumentos congéneres ao NART comprovam a

validade desta técnica como medida relativamente precisa e estável para estimar a IPM em

pessoas cognitivamente intactas (Wiens, Bryan, & Crossen, 1993; Johnstone, Hogg, Schoop,

Kapila, & Edwards, 2002). Os desempenhos nestes instrumentos possuem correlações

elevadas com o QIEC das escalas de inteligência de Wechsler e explicam uma quantidade

significativa da sua variância (Crawford, Miller, & Milne, 2001; Morris, Wilson, Dunn, &

Teasdale, 2005), como observado na Tabela 1. A predição da IPM baseada nas fórmulas de

regressão do NART (e suas adaptações) tem-se ainda mostrado mais precisa do que a

realizada através da utilização de variáveis demográficas (Grober, & Sliwinski, 1991; Bright,

Jaldow, & Kopelman, 2002).

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Tabela 1 – Exemplos de instrumentos de estimação da Inteligência Pré-Mórbida que utilizam Provas de Leitura de Palavras Irregulares.

Nome País Estandardizado

com

Nº de

itens Métodos Idades α r Teste-reteste

Variância

do QIEC

explicada

Amplitude do

QI Estimado

NART: National

Adult Reading Test 1 Inglaterra1 WAIS1 50

a) TL1

b) VD + TL2 20-701 0.931 0.663

10 Dias = 0.981

1 Ano = 0.894

4 Anos = 0.67-0.725

55%1 69-1311

75-1316

NART-2: National

Adult Reading Test7 Inglaterra7 WAIS-R7 50

a) TL7

b) VD + TL8 16-707 0.937 0.987 10 Dias = 0.989 55%7 80-1207

WAT: Word

Accentuation Test10

Espanha10

Estados Unidos11

Argentina12

WAIS10

Matrizes de Raven11

BWR-R11

30 a) TL10

b) TL + PC11 ND 0.9110 0.8411, 13 30 Dias = 0.9711 77%11 ND

fNART14 França14 WAIS-R14 33 TL14 65-9414 0.8914 0.7714 ND 34.6%14 73-12414

WTAR: Wechsler

Test of Adult

Reading15

Estados Unidos15

Inglaterra15 WAIS-III15 50

a) VD15

b) TL15

c) VD + TL15

16-8915 EU: 0.9315

I: 0.9115 0.9715 0.9215

EU: 63%15

I: 51%15

EU: 73-12115

I: 69-12215

JNART16 Japão16 WAIS-R16 50 TL16 ND 0.9616 0.8816 ND 78%16 75-12416

NART-SWE17 Suécia17 WAIS-III17 50 a) TL17

b) TL + PC17 ND 0.9317 0.7817 1 Ano = 0.9217 39%17 90-12517

TOPF: Test of

Premorbid

Functioning18

Estados Unidos18 WAIS-IV18 66

a) VD18

b) TL18

c) VD + TL18

16-8918 ND 0.7018 21 Dias = 0.9318 63%18 60-14318

HART: Hopkins

Adult Reading Test19 Estados Unidos19 -- 35

VD + TL

+ PC19 ND 0.9619 0.8019

4.5 a 7 Anos

HART-A = 0.9419

HART-B = 0.9219

61%19

73-13119

TOPF-UK: Test of

Premorbid Function -

UK20

Inglaterra20 WAIS-IV20 66

a) VD20

b) TL20

c) VD + TL20

16-8920 ND 0.7220 21 Dias = 0.9320 65%20 60-14320

TeLPI: Teste de

Leitura de Palavras

Irregulares21

Portugal21 WAIS-III21 46 VD + TL21 25-8621 0.9321 0.7321 4 Meses = 0.9521

18 Meses = 0.9821 63%21 66-13121

Nota: Método = Método utilizado nas fórmulas de regressão; α = Alfa de Cronbach; r = Correlação com a versão utilizada da WAIS; QIEC = Quociente de inteligência escala completa; VD = Variáveis demográficas;

TL = Testes de Leitura de Palavras Irregulares; PC = Provas cognitivas; ND = Não disponível; BWR-R = Bateria Woodcock-Munoz-Sandoval – Provas de habilidade cognitiva, versão revista; EU = Estados Unidos;

I = Inglaterra. 1Nelson (1982); 2Crawford et al. (1990); 3Mathias et al. (2007); 4Deary et al. (2004); 5Deary et al. (1998); Kondel et al. (2003); 6Ryan e Paolo (1992); 7Nelson e Willison (1991); 8Willshire et al. (1991); 9O’Carroll (1987); 10Del Ser et al. (1997); 11Schrauf et al. (2006); 12Burin et al. (2000); 13Correlated with BWR-R; 14Mackinnon et al. (1999); 15The Psychological Corporation (2001); 16Matsuoka et al. (2006); 17Rolstad et al.

(2008); 18NCS Pearson Corporation (2009); 19Schretlen et al. (2009); 20NCS Pearson Corporation (2011); 21Alves, Simões e C. Martins (2012).

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Ainda que existam estudos que demonstrem que o desempenho em testes de leitura não

é completamente insensível à lesão cerebral em estádios de demência ligeira (Stebbins,

Gilley, Wilson, Bernard, & Fox, 1990; Storandt, Stone, & LaBarge, 1995) e demência

moderada (Stebbins, Wilson, Gilley, Bernard, & Fox, 1988; Patterson, Graham, & Hodges,

1994; Johnstone, Callahan, Kapila, & Bouman, 1996; Crawford, Miller, et al., 2001; Bright et

al., 2002), esse desempenho é tipicamente menos afetado do que aquele que se observa com

as provas de QI noutras áreas da cognição (Maddrey, Cullum, Weiner, & Filley, 1996; Paolo,

Troster, Ryan, & Koller, 1997) ou com outros métodos (Stebbins, Wilson, Gilley, Bernard, &

Fox, 1990). Ainda assim, o uso de testes de leitura de palavras irregulares tem vindo a ser

censurado por sobre- ou subestimar a IPM em indivíduos nos extremos das capacidades

cognitivas pré-mórbidas (Crawford, 1992; Ball, Hart, Stutts, Turf, & Barth, 2007; Schoenberg

et al., 2011) e por ser inaplicável em pacientes com problemas articulatórios, redução

significativa da acuidade visual (Crawford, 1992) ou défices de aprendizagem (The

Psychological Corporation, 2001).

Além do NART (Nelson, 1982), National Adult Reading Test-2 (NART-2; Nelson, &

Willison, 1991), North American Adult Reading Test (NAART; Blair, & Spreen, 1989) e

American National Adult Reading Test (AMNART; Grober, & Sliwinski, 1991), vários

instrumentos foram desenvolvidos seguindo a metodologia originalmente proposta por Nelson

(1982), como se pode verificar na Tabela 1.

Informação demográfica do indivíduo

Na metodologia que utiliza informações sociodemográficas, variáveis como a

escolaridade, género ou nível socioeconómico são inseridas em fórmulas de regressão de

modo a calcular uma estimativa da IPM (Wilson, Rosenbaum, & Brown, 1979). Esta

abordagem estatística é objetiva e não é afetada por qualquer patologia cerebral adquirida,

mas explica apenas parte da variância do QI pré-mórbido (Reynolds, 1997). As primeiras

fórmulas de regressão com variáveis demográficas foram desenvolvidas por Wilson,

Rosenbaum, Brown, Rouke e Whitman (1978) para a WAIS e depois reformuladas para a

WAIS-R por Barona, Reynolds e Chastain (1984), transformando-se, esta última versão, no

índice mais conhecido desta metodologia (Índice de Barona: IB). Ainda que, devido às

sucessivas revisões das escalas WAIS, estes algoritmos tenham ficado desatualizados, o uso

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de fórmulas de regressão com recurso apenas a variáveis demográficas continua a ser

utilizado como método para estimar a IPM (Schoenberg et al., 2011), tendo levado a que

alguns instrumentos mais complexos e atuais tivessem mantido a possibilidade de estimar a

IPM com recurso exclusivo a fórmulas de regressão com variáveis demográficas (ver Tabela

1). Várias críticas foram sendo apontadas a esta metodologia, limitando a sua aplicabilidade.

O IB, por exemplo, identifica corretamente 38% do QIV, 24% do QIR e 36% do QIEC,

fazendo com que alguns autores descartem por completo esta metodologia, argumentando que

não aperfeiçoaria a estimação da IPM além do acaso (Sweet, Moberg, & Tovian, 1990). Para

além disto, a objetividade desta metodologia na predição da IPM em indivíduos saudáveis

com patologia neurológica ou psiquiátrica foi igualmente questionada (Silverstein, 1987; N.

Wrobel, & T. Wrobel, 1996; Basso, Bornstein, Roper, & McCoy, 2000; Veil, & Koopman,

2001).

Metodologias combinadas

No sentido de melhorar as estimativas do funcionamento pré-mórbido, desenvolveram-

se metodologias que combinam a capacidade atual do indivíduo com variáveis demográficas

em fórmulas de regressão (Crawford, Parker, et al., 1989; Vanderploeg, & Schinka, 1995; The

Psychological Corporation, 2001). Destes instrumentos, alguns combinam a capacidade de

leitura de palavras irregulares e variáveis demográficas prevendo, assim, o QIEC, o QIV e o

QIR das escalas de Wechsler [por exemplo, Teste de Leitura de Palavras Irregulares (TeLPI;

Alves, Simões, & C. Martins, 2012); Wechsler Test of Adult Reading (WTAR; The

Psychological Corporation, 2001)], enquanto outros aliam a performance atual em provas

específicas da Wechsler com variáveis demográficas [por exemplo, Oklahoma Premorbid

Intelligence Estimate-3 (OPIE-3; Krull, Scott, & Sherer, 1995)], havendo ainda um outro

instrumento [Hopkins Adult Reading Test (HART; Schretlen, Winicki, Meyer, Testa,

Pearlson, & Gordon, 2009)] que combina os três métodos.

Combinar a performance atual e variáveis demográficas parece aumentar o poder de

predição da IPM (Bilbao-Bilbao, & Seisdedos, 2004), originando uma maior amplitude das

estimações e uma menor sobre- ou subestimação (The Psychological Corporation, 2001;

Strauss et al., 2006). Se, por um lado, a inclusão de variáveis demográficas limita possíveis

efeitos de declínio cognitivo (The Psychological Corporation, 2001), por outro, a inclusão de

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provas que avaliam a capacidade atual do sujeito aumenta o rigor das predições da IPM

(principalmente para os indivíduos com capacidades de leitura mais baixas do que o

expectável, considerando o seu nível educacional) (Gladsjo, Heaton, Palmer, Taylor, & Jeste,

1999).

O TeLPI

A necessidade de uma medida de estimação da IPM para a população portuguesa levou

ao desenvolvimento do Teste de Leitura de Palavras Irregulares (TeLPI; Alves, Simões, & C.

Martins, 2012), o primeiro instrumento de estimação da IPM para a população portuguesa. O

TeLPI é um instrumento constituído por 46 palavras irregulares da língua portuguesa que

apresenta boas qualidades psicométricas (ver Tabela 1), considerando a variável demográfica

escolaridade (Alves, Simões, & C. Martins, 2012; Alves, Simões, C. Martins, & Freitas,

2013). Embora seja válido para indivíduos com idades superiores a 16 anos, os resultados do

TeLPI demonstraram ser particularmente precisos para idades iguais ou superiores a 25 anos

(Alves, Simões, & C. Martins, 2012).

As correlações entre as pontuações do TeLPI e o QIEC da WAIS-III revelaram-se altas

e significativas [r(122)=0.753; p<.001] e a mesma tendência foi observada ao nível da

correlação com o QIV [r(122)=0.732; p<.001]. Embora significativa, a correlação com o QIR

apresentou-se mais baixa [r(122)=0.655; p<.001]. Considerando igualmente as correlações

encontradas entre as pontuações do TeLPI e os subtestes Vocabulário [r(122)=0.787; p<.001]

e Informação [r(122)=0.716; p<.001] e na ausência de outros instrumentos que estimem a

IPM em Portugal, estes dados foram considerados como indicativos da validade concorrente

do TeLPI (Alves, Simões, & C. Martins, 2012).

O TeLPI está normalizado para a população portuguesa de acordo com a variável

escolaridade. Ao contrário de instrumentos como o TOPF-UK (NCS Corporation, 2011), a

inclusão de outras variáveis demográficas, como idade ou género, não originou equações de

regressão significativas pelo que apenas a variável escolaridade foi incluída nas fórmulas de

regressão do TeLPI (Alves, Simões, C. Martins, & Freitas, 2013).

A validade clínica das pontuações do TeLPI foi evidenciada para indivíduos com

diagnóstico de Declínio Cognitivo Ligeiro e Doença de Alzheimer, uma vez que não se

observaram diferenças significativas na pontuação do QI estimado entre amostras clínicas e a

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de indivíduos saudáveis (Alves, Simões, C. Martins, Freitas, & Santana, 2013a; Alves,

Simões, C. Martins, Freitas, & Santana, 2013b). Comprovou-se, assim, que a pontuação no

TeLPI não é influenciada pelo declínio cognitivo, o que torna este instrumento singularmente

útil para estimar a IPM neste espectro de situações clínicas.

Segundo Alves, Simões e C. Martins (2012), o TeLPI apresenta resultados de estimação

do QIEC sólidos. De facto, 85% das predições do QIEC através do TeLPI ocorreram dentro

de 1 desvio-padrão da amostra, tendo o TeLPI estimado corretamente os resultados de 71%

dos sujeitos dentro de ± 5 pontos do QIEC real. A maioria dos erros de estimação ocorre nos

níveis cognitivos superiores (QIEC ≥ 120) e inferiores (QIEC ≤ 89), observando-se que, nas

categorias superiores, o TeLPI subestima os desempenhos, sobrestimando-os nas restantes

categorias (consultar análises detalhadas, Alves, Simões, & C. Martins, 2012). Restrições

psicométricas deste género são conhecidas em instrumentos que utilizam fórmulas de

regressão, particularmente nos casos de pontuações extremas (Veil, & Koopman, 2001;

Schoenberg et al., 2011). No entanto, dados de natureza clínica parecem demonstrar que esta

sobrestimação não é impeditiva de um diagnóstico rigoroso (Alves, Simões, C. Martins,

Freitas, & Santana, 2013a) e que poderá ser compensada com um ajustamento nas pontuações

de instrumentos de rastreio cognitivo (Alves, Simões, C. Martins, Freitas, & Santana, 2013b).

Neste âmbito, convém ainda referir que os investigadores propõem que as pontuações

no Mini-Mental State Examination (MMSE; M. Folstein, S. Folstein, & McHugh, 1975;

versão portuguesa, Guerreiro, Silva, Botelho, Leitão, Castro-Caldas, & Garcia, 1994;

Morgado, Rocha, Maruta, Guerreiro, & I. Martins, 2009) e no Montreal Cognitive Assessment

(MoCA; Nasreddine et al., 2005; versão portuguesa, Simões, Freitas, Santana, Firmino, C.

Martins, Nasreddine, & Vilar, 2008) sejam ajustadas a um nível de funcionamento pré-

mórbido (na medida de 1 ponto no MMSE para cada 15 pontos de QI e 1 ponto no MoCA por

cada 8 de QI), de modo a obter uma classificação mais segura de declínio cognitivo (Alves,

Simões, C. Martins, Freitas, & Santana, 2013b). Tal como expõem Christensen e Jorm (1992),

o ajustamento das pontuações nos instrumentos de rastreio cognitivo a um nível de

funcionamento pré-mórbido poderá evitar que indivíduos com IPM acima da média possam

ser erroneamente classificados como cognitivamente saudáveis e que indivíduos com baixos

níveis de funcionamento pré-mórbido possam ser classificados como evidenciando declínio

cognitivo, validando a necessidade e a importância desta medida em avaliações

neuropsicológicas em pacientes com DCL e patologias do espectro da demência.

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Conclusão

Ainda que nas últimas décadas se tenha assistido a uma grande evolução nas

metodologias de previsão da IPM, nenhuma delas está isenta de limitações. As metodologias

qualitativas foram claramente afastadas do uso clínico e de investigação pela sua falta de

validade, potenciando o desenvolvimento das metodologias quantitativas.

A investigação atual parece demonstrar que os métodos que recorrem a informação

sobre a aptidão atual do sujeito combinada com variáveis demográficas (nomeadamente a

escolaridade) para prever os vários índices cognitivos parecem ser aqueles que fornecem uma

estimativa mais válida da IPM (por exemplo, WTAR, OPIE-3, TeLPI).

Conceptualmente, o uso de metodologias mistas é aconselhável, pois estas permitem

conciliar as vantagens dos métodos exclusivamente demográficos e as dos que utilizam

unicamente uma das metodologias de estimação. No entanto, desta associação também resulta

o efeito cumulativo das desvantagens de cada metodologia. Se, por um lado, a combinação do

desempenho na leitura de palavras irregulares e variáveis demográficas aumenta o poder de

predição da IPM, por outro, o desempenho em instrumentos de leitura de palavras irregulares

parece não ser completamente imune aos efeitos de uma lesão cerebral que afete algum dos

sistemas neurocognitivos implicados no reconhecimento de letras, na leitura ou na articulação

de palavras. É também conhecida a inaplicabilidade destas metodologias em indivíduos

afetados por perturbações da linguagem, dificuldades de aprendizagem ou analfabetos.

Tais factos limitam, mas não invalidam a utilização destas metodologias mistas que têm

demonstrado validade para a estimação da IPM. Será ainda de notar que uma estimação, por

definição, é uma aproximação à realidade e que, por essa razão, dificilmente será previsível o

desenvolvimento de uma metodologia de avaliação da IPM isenta de limitações e

absolutamente objetiva para todos os indivíduos de uma determinada população. Caberá,

portanto, ao avaliador escolher a metodologia disponível mais válida de acordo com as

características do sujeito.

A consideração integrada de dados individuais e normativos pode igualmente traduzir-

se num aumento da validade das estimativas da IPM. O desenvolvimento das várias

metodologias quantitativas das últimas décadas, na busca de uma metodologia o mais fiável

possível, evidencia o claro interesse da comunidade científica nesta temática e a importância

da estimação da IPM como parâmetro essencial na avaliação cognitiva.

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Neste sentido, a ausência de um instrumento de avaliação neuropsicológica para a

população portuguesa que estimasse a IPM foi a motivação inicial para o desenvolvimento do

TelPI. O TeLPI foi desenvolvido de uma forma rigorosa, validado clinica e

psicometricamente e a influência das suas pontuações analisada na sua relação com as

pontuações do MMSE, do MoCA e relativamente a variáveis sociodemográficas, dispondo,

ainda, de normas representativas para a população portuguesa em função da escolaridade.

Considera-se portanto, que o TeLPI é um instrumento válido para estimar a IPM.

Adicionalmente, o TeLPI é um instrumento de aplicação rápida e de fácil cotação, bem aceite

pelos indivíduos, possuindo as condições necessárias para ser utilizado na prática clínica e em

contexto de investigação (incluído estudos epidemiológicos e populacionais) em Portugal. O

TeLPI contribui, deste modo, para o incremento da validade dos protocolos de avaliação

neuropsicológica em Portugal e, mais especificamente, para uma definição e caracterização

mais rigorosas do declínio cognitivo.

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TeLPI and its Role in Determining the Presence of Cognitive Decline

Abstract

The dramatic increase in incidence and prevalence of age-related dementia is enormously

relevant for public health in developed countries, including Portugal. The assessment of

premorbid intelligence (PI) is considered not only essential, but also as one of the first steps

in neuropsychological assessment, establishing the basis to evaluate the current performance

of an individual. This baseline is essential for determining the presence of cognitive decline

as reliably as possible. However, data on premorbid functioning are rarely available and

clinicians have to infer prior levels of cognitive ability by using indirect methods.

This article provides a historical overview of some of the different methods that have been

developed for PI estimation. It sustains that the most valid methods for PI estimation are

those that combine the subject's current level of performance and demographic variables in

regression formulas. The TeLPI is one such instrument, valid for estimating PI and the only

available for the Portuguese population. Research results have showed the validity of the

TeLPI for a more rigorous definition of the diagnosis of normal and pathological cognitive

decline in Portugal and the usefulness of its inclusion in the protocols for neuropsychological

assessment.

Keywords: premorbid intelligence; cognitive decline; neuropsychological assessment.

Como citar este artigo: Alves, L., Freitas, S., Martins, C., Santana, I., & Simões, M.R. (2013). O TeLPI e o

seu papel na identificação do declínio cognitivo [Temas em Psicologia do Envelhecimento (Vol.I)]. Revista

E-Psi, 3(1), 25-47.

Received: November 15, 2013 Revision received: December 9, 2013 Accepted: December 12, 2013

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Adultos Idosos como Agentes – O Projeto W2P

MANUEL ORTEGA CABALLERO 1, MARGARIDA PEDROSO DE LIMA

2,

JOSÉ JOAQUIM COSTA3, & CESAR SOLANO GALVIS

4

Resumo

O envelhecimento populacional embora uma conquista social e, consequentemente um

privilégio, é também um desafio a que as sociedades contemporâneas têm que responder.

Inúmeras respostas têm sido adiantadas sobretudo com a mira de promover uma última fase

do ciclo de vida com qualidade. Projetos que chamam a pessoa idosa a participar de forma

ativa e comprometida têm vindo a substituir os programas que encaram a pessoa mais velha

como mero recetáculo passivo. Neste contexto, depois de tecidas algumas considerações

sobre as vantagens da utilização da fotografia ao nível da reminiscência, são apresentados

alguns dados preliminares do Projeto W2P (Walking to photo) com adultos a partir dos 50

anos. Este projeto baseia-se numa rota fotográfica feita por opções tomadas pelos

participantes da amostra: por onde ir, que fotografias tirar, que interpretação/história dar às

fotografias tiradas, que recordações são suscitadas pelas mesmas.

Os dados relativos à forma como se organizam as recordações dos sujeitos da nossa amostra

foram analisados em função de três aspetos: faixa etária em que se situa a recordação, área

de vida a que se refere e género dos sujeitos.

Apesar das inúmeras limitações deste estudo exploratório (tamanho da amostra, idade da

amostra e instrumentos utilizados para medir as variáveis em apreço) as recordações dos

adultos e dos idosos a partir da descrição dos locais mais significativos da sua área de

residência bem como das vivências a eles associados parecem trazer benefícios a vários

níveis.

Palavras-chave: envelhecimento ativo; reminiscência; fotografia; W2P.

1 Departamento de Educação, Universidade de Granada. E-mail: [email protected].

2 Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra. E-mail: [email protected].

3 Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra. E-mail: [email protected].

4 Departamento de Educação, Universidade de Granada. E-mail: [email protected].

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Introdução

“Envelhecer é um mau hábito que um homem ocupado não tem tempo para adquirir”

André Maurois

O envelhecimento da população pode ser visto como uma história de sucesso para as

políticas de saúde pública e para o desenvolvimento social. Contudo, acarreta a necessidade

de lidar com desafios vários, de potenciar a capacidade funcional e de saúde dos mais idosos,

bem como a sua participação social e segurança. Estes desafios incluem uma crescente

demanda por cuidados na doença; uma maior necessidade de preparação dos profissionais de

saúde na área da gerontologia; um aumento da procura de cuidados de saúde de longa

duração, particularmente no contacto com a demência; e o combate ao ageism que nega às

pessoas mais velhas os direitos e oportunidades disponíveis para os outros adultos (World

Health Organization, 2011). Implica ainda reinventar a sociedade contemporânea de modo a

criar oportunidades e a modificar práticas e discursos sobre os mais velhos.

Podemos, pois, afirmar que a escalada demográfica e a crescente “pressão” que a

população idosa está a exercer sobre os serviços e as políticas de saúde levam à necessidade

de antecipar, prever e acolher formas de intervenção variadas e multidisciplinares para fazer

face a um número crescente de pessoas que, como consequência da política nacional de

pensões, ganham pouco; que devido à não obrigatoriedade da educação no início do Século

XX são pouco escolarizadas; que como resultado de hábitos alimentares menos sadios e da

falta de cultura desportiva têm múltiplos problemas de saúde; e que, por terem sido de coortes

não habituadas a uma cidadania participativa, são pouco ativas e pouco comprometidas e

interventivas socialmente. Como ajudar este número crescente de pessoas a viver plenamente,

como transformar as estruturas sociais de modo a adaptarem-se às suas necessidades e

interesses de molde a contribuir para o seu bem-estar?

Cientes da diversidade de conceitos que pretendem definir/explicar/operacionalizar o

que é uma vida feliz na idade avançada, estes abarcam, na generalidade, aspetos como a

importância da autonomia, da participação e da atividade. Aliás, grande parte das propostas de

intervenção, surgidas a partir de meados do Século XX, são influenciadas pela conhecida

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teoria da atividade (activity theory). Esta propõe que as pessoas envelhecem melhor quando

participam em muitas atividades (Lemon, Bengtson, & Peterson, 1972, cit. por Lima, 2012) e

explica o aumento do ativismo sénior, iniciado nos anos 60 e 70 do Século XX nos Estados

Unidos da América, e o aparecimento dos centros de dia. Ekerdt (1986, cit. por Lima, 2012)

designou esta perspetiva de “busy ethic”, uma ética que valoriza o estar ocupado. A

investigação, por seu lado, sublinhando a idiossincrasia vivencial das pessoas idosas – em que

algumas pessoas preferem vidas muito menos estruturadas ou não têm nem a saúde nem os

meios para seguirem um calendário de atividades, – tem vindo a sublinhar a importância de

não perder de vista a ideia da enorme heterogeneidade de formas de viver e envelhecer em

função de fatores intrínsecos (genéticos, hereditários), atitudes pessoais e individuais e das

circunstâncias que cercam as nossas vidas. Por outro lado, tem-se vindo a enfatizar que os

alicerces da velhice bem-sucedida são fundados em estilos de vida construídos ao longo de

uma vida. Finalmente, a velhice, como fase do ciclo de vida, tem fugido às múltiplas

tentativas da sua caracterização pelos investigadores da área. Nesta linha, Baltes (1997) e

Baltes e Kunzmann (2003), defenderam que, como fase, a velhice tem uma arquitetura

inacabada, por outras palavras, contornos que não são ainda passíveis de se definir.

Intervenção na idade avançada

A intervenção na idade avançada incluí uma grande amplitude de processos em função

dos objetivos, áreas de intervenção, técnicas a usar, enquadramentos e agentes de mudança

implicados (Lima, 2012). Porém, os modelos de intervenção na idade avançada têm sido

regidos por princípios essencialmente assistencialistas: fazer para e por, apoiar os mais

velhos necessitados e desfavorecidos, pensar/decidir pelos mais velhos. Apesar da

importância e das vantagens deste género de intervenção, sobretudo, junto à população de

pessoas mais velhas carenciadas ao nível social, cognitivo e físico, ela tem ajudado a propagar

os estereótipos sobre os mais velhos. Confirmando que idade avançada é igual a doença,

incapacidade, passividade. Tentando contrariar esta tendência a Organização Mundial de

Saúde (OMS; World Health Organization, WHO) define o envelhecimento ativo de uma

perspetiva holística reconhecendo os direitos das pessoas idosas: «A abordagem do

envelhecimento ativo baseia-se no reconhecimento dos direitos humanos das pessoas mais

velhas e os Princípios das Nações Unidas de independência, participação, dignidade,

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assistência e satisfação dos desejos. Substitui o planeamento estratégico a partir de uma

abordagem baseada em necessidades (que vê as pessoas idosas como alvos passivos) para

uma baseada em direitos, que reconhece os direitos dos idosos à igualdade de oportunidades e

de tratamento em todos os aspetos da vida à medida que envelhecem e apoiar a sua

responsabilidade de exercer a sua participação no processo político e de outros aspetos da

vida da comunidade» (WHO, 2002, p. 79).

Neste artigo, enfatizamos a importância da mudança de um paradigma

predominantemente assistencialista para um potenciador das possibilidades dos mais velhos,

respeitando deste modo a sua vontade, os seus interesses, as suas potencialidades e

conhecimentos, e apresentamos dados do Projeto W2P (Walking to photo) – projeto esse que

coloca como agente a pessoa adulta (relembremos que a velhice está incluída na idade adulta).

O Projeto W2P – Justificação

O Projeto W2P é inspirado no Projeto SenseCam criado por Lyndsay Williams em

1999. No Projeto SenseCam uma câmara minúscula desenvolvida pelos laboratórios de

investigação da Microsoft em Cambridge, no Reino Unido, permite tomar registo de todas as

atividades quotidianas, criando assim uma espécie de diário digital consultável a todo o

momento. A utilização deste dispositivo de fotografia automática e os seus impactos na

melhoria da capacidade de recordar eventos tem sido objeto de extensa pesquisa que foi

sumarizada num número especial da revista Memory (Volume 19, Issue 7, 2011) e, mais

recentemente num outro do American Journal of Preventive Medicine de Março de 2013.

Entre os aspetos abordados contam-se o papel da SenseCam na estimulação e reabilitação da

memória autobiográfica (Hodges, Berry, & Wood, 2011), as diferenças na recordação de

acontecimentos do dia-a-dia associadas ao género (St Jacques, Conway, & Cabeza, 2011), a

exploração das bases e limites da recordação facilitada pela utilização da SenseCam (Barnard,

Murphy, Carthery-Goulart, Ramponi, & Clare, 2011) e uma visão geral da utilização de

câmaras nos estudos sobre a saúde (Doherty, Hodges, King, Smeaton, Berry, Moulin,

Lindley, Kelly, & Foster, 2013).

O Departamento de Pedagogia de Melilla, no ano de 2007, dentro do Programa de

Formação Aberta e mais concretamente em colaboração com a Universidade Sénior local,

dinamizou pela primeira vez um projeto piloto denominado W2P, realizando rotas

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fotográficas com os seus alunos para a sua posterior partilha. A presente investigação é uma

avaliação inicial deste projeto que foi levado a cabo em Melilla (Espanha) e em Coimbra

(Portugal) no ano de 2012.

A principal estratégia deste projeto baseia-se numa rota fotográfica pela cidade

realizada por pessoas adultas a partir dos 50 anos. Rota essa feita por opções tomadas pelas

pessoas da amostra: por onde ir, que fotografias tirar, que interpretação/história dar às

fotografias tiradas, que recordações são suscitadas pelas mesmas. A ideia não consiste em

utilizar a fotografia para substituir a memória, mas sim estimulá-la. Cada fotografia pode

servir como ajuda para recordar. A capacidade de realizar este tipo de viajem no tempo

mental é, precisamente, o que favorece o processo mnésico das pessoas na meia-idade e de

idade avançada. As fotografias e o descritivo sobre as mesmas pode, posteriormente, ser

utilizado em debates ou num processo formativo e/ou divulgativo.

O objetivo do Projeto W2P é o de contribuir para melhorar a qualidade de vida dessas

pessoas, dando-lhes a capacidade de ter um diário visual das suas memórias construído por

elas próprias. O uso da fotografia pode ser uma ferramenta útil para os adultos e para as

pessoas idosas porque lhes permite desenvolver não só a memória no dia-a-dia, mas também

criar e recriar visualmente planos de vida, ensinando, relembrando e partilhando experiências

passadas, presentes e aspirações futuras. W2P é assim uma ferramenta de desenvolvimento

educacional e de inovação que se enquadra nas intervenções promotoras de atividade e que

dão protagonismo à pessoa ao longo da sua vida e quando ela for mais velha.

Este projeto mobiliza vários recursos com implicações ao nível do bem-estar. Ao levar

as pessoas a recordarem aciona a reminiscência que é uma ferramenta terapêutica no

tratamento da depressão (Latorre, Montañés, Serrano, Hernández, Sancho, Alarcón, & Ros,

2005). A reminiscência dá sentido às memórias e experiências. É sempre um processo

dinâmico em que as pessoas vão construindo a sua realidade à medida que explicam ou

lembram. Leva, portanto, a uma cadeia de acontecimentos, histórias, imagens, referências...

uns eventos evocam outros, dadas as múltiplas conexões entre as suas memórias. A

reminiscência permite ainda ajudar a valorizar, a dar sentido e a fazer novas interpretações da

realidade.

Os estudos da reminiscência como um fenómeno mnésico natural abriram caminho para

a sua utilização no contexto de intervenção. Butler (1974) foi um dos primeiros a promover a

revisão da vida como uma intervenção com este propósito. Desde então e até aos princípios

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dos anos 90 do Século XX, as intervenções foram aplicadas em pessoas idosas

institucionalizadas (Fallot, 1980; Fry, 1983), e em pacientes com demência (Goldwasser,

Auerbach, & Harkins, 1987). Estas investigações sublinharam a importância da recordação,

não apenas a médio e a longo prazo, mas também a do dia-a-dia e, como esta, pode servir de

base para recriar o presente-futuro das pessoas idosas. Neste processo, as pessoas mais velhas

têm muitas lembranças que vão surgindo e o nosso trabalho como profissionais é o de facilitar

a ativação dessas memórias favorecendo a estimulação cognitiva geral da pessoa com mais

idade.

Por outro lado, este género de atividades também promove a independência e a

autonomia da pessoa idosa e da pessoa adulta que se pode encontrar numa vida estagnada e

não participativa. Todas as pessoas e todos os idosos têm o direito de desfrutar de um padrão

de vida que lhes permita participar em vários contextos sociais. Para isso, é necessário viver

num ambiente que promova e facilite a autonomia pessoal e social, ou seja, que capacite as

pessoas a viverem as suas vidas de acordo com suas reais potencialidades e interesses e de

acordo com as suas próprias decisões. Este contribui para a promoção da sua autoestima e,

consequentemente, do seu bem-estar (Greve, & Staudinger, 2006) e da sua capacidade para

lidar com as ameaças e a adversidade (Cicchetti, & Rogosch 1997).

Em suma, apesar deste artigo só desenvolver alguns aspetos, o referido projeto tem

como objetivos principais:

Caracterizar as memórias autobiográficas relatadas pelas pessoas a propósito das

fotografias tiradas na rota fotográfica.

Avaliar o impacto da metodologia W2P sobre as performances cognitivas, bem-estar e

qualidade de vida da nossa amostra.

Metodologia

Amostra

A amostra é constituída por 20 sujeitos, 10 espanhóis e 10 portugueses, com idades

superiores a 50 anos e com uma distribuição equitativa do género.

A subamostra espanhola apresenta uma idade média para os homens de 56.2 anos

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(DP=6.5 anos) e uma idade média para as mulheres de 56 anos (DP=8.4 anos). Esta

subamostra inclui 1 reformado e 4 ativos, para os homens, e 5 ativos para as mulheres.

A subamostra portuguesa tem uma idade média de 59.8 anos (DP=12 anos) para os

homens e 61.4 anos (DP=6.7 anos) para as mulheres. Os homens apresentam o estatuto

profissional de ativos, 3 sujeitos, e desempregado e reformado com 1 sujeito em cada

condição. As mulheres são ativas, 4 sujeitos, e reformadas, 1 sujeito.

Procedimentos

A um conjunto de 10 sujeitos portugueses e 10 sujeitos espanhóis com idade superior a

50 anos foi pedido que escolhessem 10 locais com especial significado no seu local de

residência.

Os sujeitos foram acompanhados no ato de fotografar os locais escolhidos e as

fotografias foram numeradas de 1 a 10. Para cada fotografia, num momento posterior, foi

pedida a descrição das razões da escolha. Este procedimento foi gravado em vídeo, em

Portugal, e foram anotadas as razões de escolha, em Espanha.

Resultados

As respostas foram analisadas em função de dois parâmetros: faixa etária da vida do

sujeito para o qual remete o local considerado relevante, o tipo de projetos pessoais

envolvidos nas razões da escolha (Little, & Chambers, 2004) e o género.

As respostas foram analisadas tendo em conta os seguintes parâmetros: faixa etária da

vida do sujeito para o qual remete o local considerado relevante; e o tipo de projetos pessoais

envolvidos nas razões da escolha (Little, & Chambers, 2004). Estes parâmetros foram

analisados em função do género e do país dos participantes.

Faixa etária em que se localizam as razões da escolha do local

A análise dos dados relativamente a faixa etária em que se situam as razões da escolha

do local a fotografar foi organizada em dois níveis. No primeiro comparamos as duas

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subamostras de forma global enquanto no segundo analisamos os dados em função do género

dos sujeitos e da sua proveniência de Espanha ou Portugal.

Gráfico 1 – Localização etária das recordações na subamostra portuguesa e espanhola.

O Gráfico 1 permite comparar a localização etária das recordações, em valores

percentuais, em função das etapas de vida. Os dados mostram perfis diferentes entre as duas

subamostras. Enquanto na subamostra espanhola os maiores valores se situam na meia-idade,

infância e adultez, a subamostra portuguesa menciona sobretudo a infância e a meia-idade

com valores muito elevados. Globalmente os valores da localização etária das recordações são

mais uniformes na subamostra espanhola do que na portuguesa (ver Gráfico 1).

Gráfico 1.1 – Localização etária das recordações dos homens e mulheres portuguesas.

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A análise da localização etária das razões da escolha dos locais permite identificar

numerosas semelhanças entre os homens e mulheres portuguesas. Assim, os valores mais

elevados, são para as mulheres e homens localizados na infância e meia-idade enquanto os

mais baixos se encontram na adolescência e adultez, para as mulheres, enquanto para os

homens se situam na adolescência e velhice (ver Gráfico 1.1).

Gráfico 1.2 – Localização etária das recordações dos homens e mulheres espanholas.

A comparação dos dados relativamente à faixa etária associada às recordações dos

homens e mulheres espanholas apresenta um perfil com algumas diferenças. Assim, os

valores mais elevados situam-se, para os homens, na meia-idade e na infância enquanto para

as mulheres se localizam na adultez e na meia-idade. Ambos os grupos não mencionam a

velhice. Saliente-se no entanto que os valores percentuais nas faixas etárias estão bastante

próximos (ver Gráfico 1.2).

Comparada a localização etária da razão da seleção dos locais nas duas subamostras

consideradas no seu conjunto e em função do género, passamos a comparar os dados em

função do género dos sujeitos e da sua proveniência espanhola ou portuguesa.

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Gráfico 2 – Localização etária das recordações dos homens portugueses e espanhóis.

Os homens da subamostra espanhola localizam as razões da escolha dos locais a

fotografar sobretudo na meia-idade e na infância com valores entre os 38% e os 26%. Já os

homens portugueses optaram sobretudo pela infância e a meia-idade com valores entre os

40% e os 38%. Como na análise anterior, os dados sugerem uma maior homogeneidade nos

homens espanhóis do que nos portugueses (ver Gráfico 2).

Vejamos agora como se organizam os dados quando comparamos as mulheres

portuguesas e espanholas quanto à localização etária das razões da escolha dos locais.

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Gráfico 3 – Localização etária das recordações das mulheres portuguesas e espanholas.

Os dados do Gráfico 3 permitem verificar que a localização etária mas frequente para as

mulheres espanholas se localiza na adultez, infância e meia-idade com valores entre os 30% e

os 20%. Já para as mulheres portuguesas, infância e a meia-idade apresentam são os mais

indicados com valores entre os 36% e os 28%.

Como nas análises anteriores, a homogeneidade da distribuição pelas diferentes faixas

etárias é maior nas mulheres espanholas e verifica-se ainda que só nos homens portugueses é

que existem referências localizadas na velhice.

Analisados os dados relativos à localização no percurso de vida das razões da escolha

dos locais considerados como mais relevantes pelos idosos, passamos à análise do tipo de

razões em função do tipo de projetos pessoais (Little, & Chambers, 2004; ver Quadro 1).

Estes autores consideram seis grandes dimensões na categorização/arrumação dos projetos

pessoais definidos como conjuntos de ações diferidas, pessoalmente relevantes, e

contextualizadas (Little, 2006): académica, ocupacional, saúde, interpessoal, intrapessoal

(subdividida em familiar e relativa ao casal), diversão/lazer e manutenção.

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Quadro 1 – Categorização dos projetos pessoais

Adaptado de Little e Chambers, 2004; Little, 2006.

Ocupacionais/

académicos

Saúde/corpo Interpessoais Intrapessoais Lazer Administrativos/

manutenção

Outros

Cursos relacionados

com o trabalho;

Atividades do

trabalho/profissionais;

Projetos relacionados

com escola,

universidade

(aprendizagem

escolar).

Subcategorias:

1. Projetos

académicos;

2. Projetos relativos ao

emprego/trabalho/profi

ssão;

3. Organizações

profissionais.

Nota: não inclui leitura

recreativa ou cursos de

aprendizagem de jogos

(lazer).

Inclui atividades

relativas à

aparência, saúde

ou exercício

físico (e.g.

perder ou

ganhar peso,

dormir, fazer

desporto com

preocupações de

exercício físico

e não

recreativas).

Subcategorias:

1. Aparência;

2. Saúde.

Inclui projetos de

relação com os outros

a um nível pessoal.

Subcategorias:

1. Família (projetos

envolvendo pais,

avós, esposos, filhos,

irmãos, planos de

família (e.g. visitar a

avó, ter filhos,

organização da vida

escolar dos filhos…)

2. Projetos

interpessoais íntimos

(envolvendo outros

íntimos como esposa,

namorado,

sexualidade, relações

íntimas.

3. Interpessoais

secundários…

4. Projetos

comunitários (ajuda,

comunitários,

solidariedade…

5. Meta projetos

Projetos relacionados com o

self (atitudes, apreciação),

Subcategorias:

1. Projetos espirituais e

filosóficos (clarificação de

crenças religiosas,

questionamento filosófico)

2. Projetos de

aperfeiçoamento do self

(mudanças psicológicas

como oposição a mudanças

físicas)

3. Meta-projetos (e.g. manter

algum sentido de ordem na

minha vida; aumentar o

alcance do meu

conhecimento, ideias e

expressões; pôr a minha vida

em ordem);

4. Projetos de

coping/ajustamento (ajustar-

me a minha nova situação de

vida; esquecer o abuso

sofrido na infância)

5. Lazer intrapessoais (ver

menos televisão, comprar

menos);

6. Projetos de transição

(planear reforma, subida na

carreira)

Inclui atividades/projetos

recreativos realizados

individualmente ou com

outros.

Subcategorias:

1. Divertimento (televisão,

cinema, museus, teatro,

concertos);

2. Festas/dança (atividades

sociais, entretenimento);

3. Hobbies/passatempos

(colecionar…);

4. Consumo (comprar por

prazer);

5. Beber/drogas (não é

deixar de, isso é saúde);

6. Projetos de lazer (ler,

escrever...);

7. Projetos de férias

(planear, organizar, fazer)

8. Atividades recreativas

(aprender a jogar um

jogo);

9. Desportos (com

intenção recreativa e não

de saúde exclusivamente);

10. Divertimento com o

animal de estimação

(brincar com ele e não dar-

lhe comida – manutenção);

11.Jardinagem, fotografia,

filmagem…

Projetos relacionados com a

organização ou

administração.

Subcategorias:

1. Atividades relacionadas

com encontrar uma casa para

viver, obter um emprego

(registar-se no Centro de

Emprego);

2. Projetos relacionados com

limpeza e reparações na

casa;

3. Projetos relacionados com

a manutenção do carro;

4. Projetos relativo à gestão

económica e financeira da

sua vida;

5. Atividades ligadas à

inscrição em cursos ou

programas ou à obtenção de

documentação;

6. Tarefas envolvendo o

tratamento de animais de

estimação (ir ao veterinário,

dar-lhe comida, levar a

passear);

7. Meta-projetos (gerir as

propriedades e bens,

organizar as crianças).

Inclui projetos

que não

podem ser

categorizados

nas anteriores

devido a uma

inadequada

informação.

E.G. Compras

de Natal pode

ser de Lazer

ou de

Manutenção/

Administração

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Tipo de projeto pessoal associado à escolha do local fotografado

Como nas análises anteriores, começaremos com uma comparação geral das duas

subamostras para em seguida contrastar os dados em função do género e da proveniência da

amostra espanhola ou portuguesa.

Gráfico 4: Recordações dos sujeitos portugueses e espanhóis em função do projeto de vida.

A comparação dos resultados das subamostras espanhola e portuguesa quanto às áreas

dos projetos de vida (projetos pessoais) mencionadas na justificação da escolha dos locais

fotografados permite identificar algumas diferenças. Os elementos da subamostra espanhola

indicam como aspetos mais relevantes a saúde e o tempo livre com apresentando valores entre

os 25% e 20%. Já os portugueses atribuem quase metade das suas recordações a aspetos

relacionados com o tempo livre (46%) sendo que a área mencionada com valores

imediatamente a seguir é a intrapessoal familiar (15%) (ver Gráfico 4).

Globalmente, verifica-se uma maior distribuição dos valores na subamostra espanhola

do que na portuguesa sendo que nesta a manutenção, os aspetos intrapessoais relacionados

com o casal e a saúde não são mencionados ou apresentam valores muito baixos.

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Gráfico 4.1 – Recordações dos homens e mulheres portuguesas em função do projeto de vida.

A comparação dos dados das recordações dos homens e mulheres portuguesas em

função do projeto de vida permite identificar algumas diferenças embora os valores estejam

bastante próximos. Assim enquanto o tempo livre é a categoria mais mencionada pelos dois

géneros, em segundo lugar o aspeto ocupacional é o mais importante para os homens

enquanto as mulheres mencionam o aspeto interpessoal. Em ambos os grupos os aspetos

intrapessoais relacionados com o casal e a manutenção não são mencionados (ver Gráfico

4.1).

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Gráfico 4.2 – Recordações dos homens e mulheres espanholas em função do projeto de vida.

Os homens e mulheres espanholas apresentam valores bastante semelhantes quanto à

organização das recordações em função do projeto de vida. Para ambos os valores mais

elevados são atribuídos à saúde (com 13% para os homens e 12% para as mulheres)

encontrando-se em segundo lugar o tempo livre (com 11% para os homens e 9% para as

mulheres). Os valores mais baixos situam-se, nos homens, nos aspetos intrapessoais

relacionados com a família e na manutenção e nas mulheres na vertente académica e nos

aspetos intrapessoais familiares (cf. quadro 4.2.).

Caracterizada a distribuição dos valores assumidos pelas diferentes áreas de vida

passaremos a uma análise em que contrastamos os sujeitos em função do género nas duas

subamostras.

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Gráfico 5 – Recordações das mulheres portuguesas e espanholas em função do projeto de vida.

A comparação das recordações das mulheres em função do projeto de vida mostra, de

novo, uma menor amplitude nos valores para as espanholas com valores muito mais

extremados para as portuguesas. Nota-se que nas portuguesas o valor máximo se situa nos

48% para o tempo livre com o valor imediatamente a seguir a situar-se nos 18% para os

aspetos interpessoais. Já, para as espanholas, o valor mais elevado é de 34%, para a saúde

logo seguido dos 18% para o tempo livre e muito próximo dos 16% do aspeto ocupacional

(ver Gráfico 5).

Veremos, a seguir, como se apresentam os dados quando comparamos homens

portugueses e espanhóis.

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Gráfico 6 – Recordações dos homens portugueses e espanhóis em função do projeto de vida.

Os dados do Gráfico 6 demonstram, de forma consistente com as duas últimas análises,

valores mais uniformemente distribuídos para os homens espanhóis quando comparados com

os portugueses. Os valores mais elevados dos homens espanhóis encontram-se na saúde

(26%) e no tempo livre (22%) com os aspetos menos mencionados a incluírem a manutenção

e os aspetos intrapessoais familiares (ambos com 4%). Nos portugueses o valor mais elevados

refere-se, de forma destacada, ao tempo livre (com 44%) seguido do aspeto ocupacional

(22%) enquanto os aspetos menos mencionados incluem a manutenção e os aspetos

intrapessoais relacionados com o casal (com 0%).

Discussão

Os dados relativos à forma como se organizam as recordações dos sujeitos da nossa

amostra, quando lhes é solicitado que escolham 10 locais importantes da sua zona de

residência e justifiquem essa escolha descrevendo o local e indicando a sua importância,

foram analisados em função de três aspetos: faixa etária em que se situa a recordação, área de

vida a que se refere e género dos sujeitos.

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Os dados recolhidos permitem verificar a existência de perfis diferenciados nas duas

subamostras consideradas globalmente e, quando comparamos os resultados, em função do

género. Genericamente, os resultados das duas subamostras centram-se na meia-idade e na

infância com ambas as amostras a não mencionarem a velhice. Quanto à área de vida

mencionada, a subamostra espanhola salienta a saúde e o tempo livre enquanto os sujeitos

portugueses mencionam o tempo livre (com 48% dos casos!) e os aspetos intrapessoais e

familiares.

A reduzida dimensão da amostra e alguma dificuldade em caracterizar as respostas

usando a proposta dos projetos pessoais de Little e Chambers (2004) aconselham a avaliação

com prudência dos dados recolhidos. Por outro lado, a adesão fácil à metodologia por parte

dos sujeitos bem como a grande diversidade de conteúdos evidenciada mostram quão

promissor pode ser o desenvolvimento desta abordagem das recordações dos adultos e dos

idosos a partir da descrição dos locais mais significativos da sua área de residência bem como

das vivências a eles associados.

Esta metodologia revela-se assim promissora para utilizar com adultos não só na meia-

idade mas, também, na idade avançada. Enquadrada na perspetiva do envelhecimento ativo

concebido como uma forma de participação social, física e cognitiva ao longo de todo o ciclo

de vida, esta proposta visa dar voz ao adulto de meia-idade e ao adulto idoso. Enquadra-se na

linha de outros projetos como as Lojas de Saber (https://www.facebook.com/pages/Lojas-de-

Saber/394119003940700) – concebidas como locais de transmissão de conhecimentos e

experiências entre gerações em que um conjunto de cidadãos, concluída uma vida profissional

que lhes garantiu a aquisição de um importante conjunto de conhecimentos, decidiu pôr à

disposição de quem procura melhorar as suas qualificações, o saber e experiência adquiridas,

contribuindo para o desenvolvimento global e evitando que a sociedade venha a perder total e

escusadamente estes importantes acervos.

Esta perspetiva enfatiza a devolução do poder e da responsabilidade propondo uma

narrativa sobre os adultos mais velhos como agentes ativos e não recetáculos passivos. Trata-

se de trabalhar com as pessoas numa perspetiva coextensiva ao ciclo de vida, de

aprendizagem, de desenvolvimento e construção pessoal. Estas ideias constituem a base deste

projeto exploratório.

Apesar das inúmeras limitações deste estudo exploratório (tamanho da amostra, idade

da amostra e instrumentos utilizados para medir as variáveis em apreço) consideramos que

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todas as atividades direcionadas para o envolvimento e compromisso pessoal são promotoras

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qualidade de vida da população.

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World Health Organization (2002). Active ageing: A policy framework – A contribution of the World

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Health Organization.

Elderly as Active Participants – The W2P Project

Abstract

Aging of the population although a social achievement and therefore a privilege, is also a

challenge that contemporary societies have to answer. Numerous responses have been

advanced primarily with the aim of promoting a last phase of the life cycle with quality.

Projects that call the elderly to participate in an active and committed have been replacing

programs that face the older person as a mere passive receptacle. In this context, after

pointing some considerations about the advantages of using photography to enhance

reminiscence, we present some preliminary data of the Project W2P (Walking to photo) with

adults from the age of 50. This project is based on a route made by photographic choices

made by the participants in the sample: where to go, what photographs should be taken, what

interpretation/story to give to the photos taken, which memories are raised.

The data relating to how the memories of the subjects in our sample were organized and were

analyzed in terms of three aspects: age in which happen the memory, living area referred and

gender of the subjects.

Despite the numerous limitations of this exploratory study (sample size, age of the sample and

instruments used to measure the variables in question) the memories of adults and the elderly

based on the description of the most significant places they photographed as well as the

experiences associated with them appear to have benefits on several levels.

Keywords: active aging; reminiscence; photography; W2P.

Como citar este artigo: Ortega Caballero, M., Lima, M.P., Costa, J., & Solano Galvis, C. (2013). Adultos

idosos como agentes – O projeto W2P [Temas em Psicologia do Envelhecimento (Vol.I)]. Revista E-Psi, 3(1),

48-68.

Received: October 15, 2013 Revision received: December 2, 2013 Accepted: December 6, 2013

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Influência da Frequência de uma Universidade Sénior no Nível de Solidão,

Autoestima e Redes de Suporte Social

JOANA GONÇALVES1, & FÉLIX NETO

2

Resumo

O objetivo deste trabalho de investigação é estudar o impacto de uma Universidade Sénior no

grau de solidão, na autoestima e nas redes de suporte social dos alunos que frequentam essa

instituição. Para tal efeito, foi realizado um estudo empírico, de natureza longitudinal, o qual

pretendeu analisar o papel que a Universidade Sénior de Gondomar (USG) desempenha na

perceção da solidão, da autoestima e das redes de suporte social, tendo sido usados quatro

instrumentos de medida: o questionário sociodemográfico, a escala de solidão da UCLA, a

escala da autoestima de Rosenberg e a escala do suporte social (SSQ6). A amostra é

constituída por 70 idosos, 35 que frequentam a USG e 35 que não frequentam a mesma. Para

a obtenção dos resultados utilizaram-se os instrumentos de recolha dos dados administrados

em dois diferentes momentos. Os resultados obtidos evidenciaram, após 6 meses de

frequência da USG, diferenças estatisticamente significativas entre os dois grupos, no que

respeita aos níveis de solidão, níveis da autoestima, tamanho e grau de satisfação das redes

de suporte social. Assim pode-se confirmar o papel importante que a USG desempenha para

os idosos que a frequentam diminuindo o grau de solidão e aumentando a autoestima, o

número de elementos e grau de satisfação das redes de suporte social.

Palavras-chave: solidão; universidades seniores; autoestima; redes de suporte social.

1 Mestre em Psicologia do Idoso, Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto. 2 Professor Catedrático, Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto.

E-mail: [email protected].

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Introdução

O envelhecimento constitui hoje um fenómeno estruturante das nossas sociedades

(Moura, 2006). À semelhança de Portugal, na União Europeia o número de idosos continua a

aumentar. De fato, a esperança de vida cresceu bastante nos últimos 50 anos, e continuará a

aumentar nas próximas décadas, sendo resultado de uma conquista das sociedades e dos seus

sistemas de saúde. Contudo, a evolução demográfica coloca também novos desafios às

sociedades pós-modernas, onde o trabalhador é considerado inativo cedo demais, sendo o

idoso conotado como alguém inútil, privilegiando a juventude, tornando-se num problema

social. Porém, estes pressupostos têm de ser desmistificados, de modo a que o idoso não se

isole, mantendo-se a conviver, pois estas pessoas não se reconhecem como velhos

trabalhadores, mas como pessoas com vitalidade e saúde iguais a muitos outros cidadãos mais

novos. São idosos que pretendem desfrutar de um conjunto de atividades que lhes permitem

valorizar os seus saberes, mantendo-os ativos, e preenchendo os seus dias livres de uma forma

aprazível e agradável. Deste modo é imprescindível implementar medidas sociais que

permitam o desenvolvimento de estratégias de promoção de um envelhecimento saudável.

«Envelhecer com saúde, autonomia e independência, afigura-se presentemente, um desafio

para todos, sendo que a promoção do envelhecimento saudável diz respeito a diferentes

setores, designadamente á saúde, segurança social e educação» (Moura, 2006, p.45).

Com o objetivo de melhorar o bem-estar dos idosos, valorizar socialmente os mesmos,

recuperando a sua autoestima, tornando-os mais ativos e mais participativos, foram criadas as

Universidades Seniores. As Universidades Seniores são vistas como uma resposta social, que

combatem o isolamento e a exclusão social dos mais velhos, principalmente a seguir à

reforma; incentivam a participação dos seniores na sociedade; divulgam os direitos e

oportunidades que existem para esta população; reduzem o risco de dependência e são um

polo de convívio (RUTIS, 2013). «O movimento das Universidades da Terceira Idade

permitiu que os idosos se possam observar como cidadãos ativos e participantes, recuperando

a sua autoestima e mostrar à sociedade e aos seus familiares a sua capacidade de agirem sós e

lutarem pelos seus direitos de cidadania, tornando-se elementos interventores» (Monteiro, &

Neto, 2008, p.51).

Assim por Universidade Sénior entende-se qualquer instituição que procure dar resposta

social e cultural, desenvolvida em equipamentos, que visa criar, dinamizar e organizar

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regularmente atividades culturais, de aprendizagem, recreativas e de convívio, por e para

maiores de 50 anos, e que não exige nenhum grau de habilitações em especial (Jacob, 2008).

As Universidades da Terceira Idade como movimento específico de ensino para os

adultos ou seniores surgiram em França em 1973 na Universidade de Toulouse através do Dr.

Pierre Vellas. Passados sete anos já existiam 52 UTIs em toda a França. O universo das UTIs

hoje em dia é tão vasto e variado quer de país para país como de cidade para cidade. Em

Portugal maior parte das Universidades da Terceira Idade surgiram na década de 90, devido

ao aumento do interesse pelas questões da população idosa por parte do Estado e da

sociedade, existindo atualmente cerca de 15000 alunos a frequentarem as Universidades

Seniores em que 102 estão associadas à Rede de Universidades da Terceira Idade (RUTIS)

que é uma entidade certificadora das Universidades da Terceira Idade, através do Instituto

Português da Propriedade Industrial, e a representação nacional junto da associação

Internacional de Universidades da Terceira Idade e da UNESCO (RUTIS, 2013).

A denominação de “Universidade de Terceira Idade” deveu-se à analogia com o início

histórico das Universidades, no tempo medieval, em que as aulas eram conferências,

procuradas pelos indivíduos interessados. Relativamente à utilização do termo

”Universidade”, para designar estas instituições não permanece pacífica, o que levou a

algumas optaram por se auto designarem como “Clubes”, “Academias”, “Institutos Culturais”

ou “Associações”. A Universidade da Terceira Idade de Abrantes é a única que tem

autorização do Ministério da Educação para utilizar esse nome (Portaria nº990/2000 de 14 de

Outubro, cit. por Jacob, 2013). Não obstante toda esta preocupação, no início dos anos oitenta

a utilização do termo Universidade já tinha sido alvo de atenção por parte do Ministério da

Educação, o qual permitiu através do Decreto-lei nº 252/82 de 28 de Junho, o uso da

denominação de Universidade, desde que as Universidades Seniores se comprometessem a

não atribuir nenhum título ou grau académico relativo aos cursos ministrados pelas mesmas

(Jacob, 2013). A maioria são associações sem fins lucrativos. São por volta de 115 as

Universidades Seniores implantadas em Portugal.

Relativamente às atividades letivas, as Universidades Seniores dispõem de um vasto

leque de ofertas, onde as disciplinas podem adotar um caráter teórico, prático ou teórico-

prático. Embora cada Universidade Sénior tenha total liberdade para introduzir uma panóplia

de disciplinas variando entre 10 a 64 disciplinas, as mais comuns de carácter teórico

englobam, o Inglês, o Português, a História, a Filosofia, entre outras. Nas disciplinas de

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caráter prático destacam-se a Pintura, o Desenho, a Cerâmica, a Ginástica. Estas são as

disciplinas mais comuns que podemos encontrar nestas instituições. Para além destas, têm

vindo a ser introduzidas outras, tais como: História de Portugal e do Mundo, Cidadania,

Direito e Comunidade, Espanhol, Saúde e Comunidade, Yoga, Atelier de Artes, Teatro, Canto

e Música, a História da Arte, Biografias, Ciclo de Cinema, Pintura em Tela, História e Cultura

das Civilizações Clássicas, entre outras. Para além destas existem outras de carácter

extracurricular que englobam visitas de estudo, palestras, conferências e seminários com uma

periocidade mensal em alguns casos.

Solidão

A solidão é um fenómeno espalhado e um tema central na literatura, na filosofia e na

psicologia. A solidão é um constructo complexo e subjetivo, difícil de definir, existindo

diversas abordagens teóricas e metodológicas que se têm debruçado sobre este tema (Neto,

2000). Para Perlman e Peplau (1981), a solidão é «uma experiência desagradável, que ocorre

quando a rede de relações sociais de uma pessoa é deficiente nalgum aspeto importante, quer

quantitativa quer qualitativamente» (cit. por Neto, 1992, p.17). Assim, «a experiência de

solidão pode incluir, ou dor emocional da perda de um ser amado, ou um sentimento de

exclusão ou de marginalidade de laços sociais» (Monteiro, & Neto, 2008, p.85). Para Pais

(2006, p.18) «A solidão não é um pouso inevitável de quem está só. Resulta de um sentimento

de quem não possui autonomia, e de quem não tem ninguém para preencher esses desígnios.

De fato qualquer pessoa pode estar só sem estar em solidão, e pode viver um sentimento de

solidão quando está com outras pessoas. Por isso a solidão refere-se a um estado (interior) de

subjectividade enquanto o «estar só» se refere mais a uma situação (exterior) visível e

objetiva (…)» (2006, p.18).

Para além das diversas definições existentes acerca deste constructo, também têm sido

utilizadas diversas formas de solidão. Moustakas foi o primeiro autor a apresentar o primeiro

fator de classificação da solidão, distinguindo ansiedade solidão e ansiedade existencial. «A

ansiedade solidão é aversiva e resulta de uma alienação básica entre o homem e homem,

enquanto a ansiedade existencial faz parte integrante da existência humana, implicando

momentos de auto confrontação e proporcionando o autocrescimento» (1961, cit. Neto, 2000,

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p.324). Pais também apresenta diferentes formas de classificar a solidão, pois para este autor,

esta «pode ser vivida quando se está com outros irrelevantes: num centro comercial, num lar

de idosos, numa taberna ou até mesmo em família. Pode-se sentir maior desamparo no meio

da multidão do que em estado solitário. O estar só – mesmo acompanhado – não implica

necessariamente que se viva em solidão. Esta não se encontra dependente da presença ou

ausência física de outros mas do tipo de relacionamento que se tem ou não com esses outros e,

sobretudo, com um estado de ânimo interior, subjectivo emocional. Por outro lado, a solidão

pode ser escolhida como uma opção de vida (…) pode fazer parte do desenvolvimento

emocional de cada um (…) a solidão pode ser essencial para o desenvolvimento da

personalidade e da criatividade» (Pais, 2006, p.353).

De fato, a solidão afeta quase todas as pessoas em qualquer idade e em algum momento

da sua vida, o que não traduz que a pessoa esteja sozinha, pois para isso acontecer é

necessário que a pessoa não se sinta preenchida, sinta-se só ainda que esteja com outros, e não

tendo ninguém para partilhar os seus sentimentos, afetos, experiências, bem como fazer

amizades. Smith e Baltes (1993, cit. por Monteiro, & Neto, 2008, p.107) referem que para «os

adultos mais idosos, a solidão é mais comum: cerca de 50% de adultos com oitenta ou mais

anos de idade se sentiram sós muitas vezes». Emídio, Firmino e Vaz Serra (1989, cit. por

Monteiro, & Neto, 2008, p.107) relatam resultados obtidos no seu estudo sobre a solidão da

população portuguesa em geral, referindo que «a terceira idade foi o período etário mais

vulnerável, sendo que é nesta faixa da população que mais perdas ocorrem, desde a entrada na

reforma, privações económicas, dificuldade em estabelecer contatos sociais devido a doenças

físicas, a morte de familiares, nomeadamente do seu/sua companheiro/a, que muitas vezes

obriga inevitavelmente a ir viver para outros locais». Assim, torna-se pertinente saber quais

serão os preditores da solidão nas pessoas idosas.

Relativamente à idade Russell (1982, cit. por Monteiro, & Neto, 2008, p.95) «verificou

que os sujeitos mais velhos se sentiam menos sós». Mas, isto não significa que os idosos não

sintam solidão, mas talvez porque os idosos à medida que a idade avança as suas vidas

tornam-se mais estáveis, podendo possuir expectativas da vida mais realistas (Neto, 2000).

No que toca ao género Borys e Perlman (1985, cit. por Monteiro, 2008), constataram

que havia pouca diferença relativamente ao género e à idade, mas que os homens pareciam

sentir-se mais sós do que as mulheres.

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O tipo de relação conjugal também pode condicionar o nível de solidão percecionado

pelo idoso. Peplau, Miceli e Morash (1982) concluíram que as pessoas solteiras queixam-se

menos de solidão do que as viúvas, separadas ou divorciadas, lamentando-se mais da sua vida

no presente comparativamente com a sua vida no passado. Izal e Montorio (1999) referem que

a morte do cônjuge constitui um acontecimento da vida, que obriga a alterações e mudanças a

vários níveis no funcionamento do quotidiano, nomeadamente, a uma adaptação e

aprendizagem de viver só.

Outro fator, não menos interessante, aponta para a relação entre a solidão e problemas

de saúde. Hawkley e Cacioppo (2007, cit. por Monteiro, & Neto, 2008, p. 93) «com dois

grupos, um de jovens universitários, e outro de adultos mais velhos com idades

compreendidas entre os 50 e 68 anos, apontam que as pessoas sós relatam acontecimentos

mais stressantes, têm tensão arterial mais elevada e níveis de stress mais elevados do que as

não sós». É importante que o indivíduo encare de modo positivo as mudanças que vão

ocorrendo durante o seu processo de envelhecimento, para se manterem ativos e com elevados

níveis de autoestima.

Autoestima

Para diversos ramos da ciência a autoestima tem sido objeto de estudo pelo fato de ter

uma influência determinante e decisiva no comportamento psicológico dos indivíduos. A

autoestima pode ser definida como a avaliação que fazemos de nós próprios, tendo em conta o

modo como percebemos a avaliação que os outros fazem sobre nós.

Na opinião de Coopersmith (1967), a autoestima consiste num juízo pessoal de mérito,

que se expressa por atitudes que o indivíduo mantém com ele próprio. Estas, podem ser de

aprovação ou de reprovação, sendo expressas através de comportamentos verbais ou não

verbais, e indicam a forma como o indivíduo se avalia como capaz, com sucesso e com valor

ou vice-versa. De acordo com Vaz Serra (1986), a autoestima representa o modo de avaliação

que cada indivíduo faz das suas qualidades, ou seja, é o juízo que o sujeito faz acerca de si

mesmo, podendo ser positivo ou negativo, perante desempenhos e acontecimentos

considerados importantes. Independente da idade, possuir uma boa autoestima favorece a

saúde e a auto realização, enquanto uma baixa autoestima pode causar receios, medos,

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dificuldades interpessoais, aflição, insegurança, desmotivação, depressão, falta de realização

das próprias capacidades, discriminação entre outros.

Em 1979, Rosenberg definiu a autoestima como a avaliação que o indivíduo faz acerca

do seu próprio valor. Esta avaliação, é feita com base em informações de pessoas que o

indivíduo considera importantes, sejam eles familiares, amigos, professores, colegas entre

outros significativos. Para ele, a autoestima divide-se em três componentes: “O eu existente",

que se refere á maneira como cada individuo se observa a si próprio; "O eu desejado", que é o

modo como cada um desejaria ser e por fim "O eu revelado" que corresponde à maneira como

o indivíduo se tenta apresentar ou fazer-se conhecer aos outros. Simmons e Rosenberg (1975),

referem, que a autoestima, constitui-se como um constructo multidimensional, pois reflete

todos os sentimentos de autovalor. Também Spirduso (1995) considera a autoestima como um

constructo multidimensional, porque inclui a visão que cada indivíduo faz de si em todas as

dimensões da sua vida, quer sejam de carater social, psicológico, fisiológico ou físico. O

conceito de autoestima diz respeito, à forma como o individuo elege os seus objetivos; se

aceita a si e à sua imagem; valoriza o outro e planeia as suas expectativas. Assim, a

autoestima, é vista como uma medida avaliativa do seu autoconceito, através do qual o

indivíduo se avalia de forma positiva ou negativa, resultante das suas experiências e vivências

(Hewitt, 2002).

É de extrema importância reconhecer os papéis que os idosos podem e querem

desempenhar, permitindo que se sintam socialmente ativos e úteis, participando de forma

autónoma e independente em atividades que contribuam para o seu bem-estar físico, psíquico,

emocional e social, e que estimule a sua autoestima. Um idoso, com uma boa autoestima

consegue ultrapassar melhor as dificuldades que se lhe avizinham, próprias do processo de

envelhecimento, garantindo a sua inserção na sociedade, possibilitando o incentivo da

mobilidade e da promoção dos seus tempos livres (Moura, 2006). Neste âmbito, destacam-se

os trabalhos realizados nas Universidades da Terceira Idade, que têm como objetivo principal

emendar os estereótipos e preconceitos associados ao envelhecimento, promover a

autoestima, recuperar a cidadania, incentivar a autonomia, a independência, a reinserção

social em busca de um envelhecimento bem-sucedido (Palma, 2000). «A criação de um

espaço de convívio educacional e social representou (…) uma nova perspectiva de viver e de

participar. (…) permitiu que os idosos se pudessem observar como cidadãos ativos e

participantes, recuperando a sua autoestima e mostrar à sociedade e aos seus familiares a sua

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capacidade de agirem sós e lutarem, pelos seus direitos de cidadania, tornando-se elementos

socialmente interventores» (Monteiro, & Neto, 2008, pp.50-51).

Redes de Suporte Social

«Um sistema de apoio é uma rede social, isto é, um conjunto de pessoas ligadas por um

conjunto de laços, por exemplo, relações de apoio emocional ou apoio instrumental»

(Monteiro, & Neto, 2008, p.99). Singer e Lord (1984, cit. por Ribeiro, 1999, p.548) «referem

que o suporte social pode ser informacional, emocional ou material e, em termos de quem o

fornece, pode ser pessoal ou interpessoal, fornecido por amigos, familiares, conhecidos: pode

ser relativamente formal, fornecido por organizações e associações tais como grupos

religiosos, ou organizações não-governamentais de base comunitária: ou pode ser do tipo

profissional em termos de consulta ou terapia». Elas podem ser categorizadas quanto às suas

propriedades estruturais, quanto ao tamanho, à sua estabilidade, homogeneidade, simetria,

complexidade e grau de ligação entre os seus membros.

Dunst e Trivette (1990, cit. por Ribeiro, 1999) apresentam as seguintes dimensões de

suporte social que consideram as que se têm mostrado importantes para o bem-estar: tamanho

da rede social; existência de relações sociais; frequência de contatos; necessidade de suporte;

tipo e quantidade de suporte; a coerência entre a extensão em que o suporte social disponível

equipara com a que o indivíduo necessita; o número de vezes que utiliza; dependência;

reciprocidade; a proximidade e a satisfação com a mesma. Na opinião de Stokes (1985) uma

rede social apresenta quatro dimensões: 1) o tamanho da rede, inclui as pessoas significativas

na vida e com quem contacta regularmente; 2) o número de pessoas íntimas da rede,

corresponde ao número de pessoas a quem pode recorrer em qualquer situação; 3) a

percentagem de familiares da rede, e por fim 4) a densidade da rede, que se relaciona com a

intensidade das relações estabelecidas com os membros da rede.

À semelhança do que acontece com indivíduos noutras faixas etárias, a existência de

redes de suporte social constituem um elemento crucial para bem-estar e saúde física e mental

dos idosos. Para alguns autores (Lang, & Carstensen, 2002, cit. por Lang, 2001), a interação

social concorre de duas formas na acomodação à fase designada de terceira idade. Por um

lado, a frequência de relacionamentos no âmbito social estabelece um meio relevante na

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qualidade de vida, e por outro, possibilita que as pessoas controlem a qualidade, a estrutura e

a utilidade das redes sociais de modo a aumentar os próprios recursos sociais. Embora muitos

pensem que envelhecer significa desmedrar, definhar, adoecer e afastar-se de tudo,

contrariamente, a velhice é o momento certo para que cada pessoa continue ativa e tenha uma

boa qualidade de vida (Vitta, 2000). Com base num rastreio efetuado no Reino Unido sobre a

qualidade de vida da população idosa, os resultados de Bowling (1995) mostram que os

aspetos mais valorizados pelos idosos a residir na comunidade são: possuir boas relações com

a família e amigos, ter papéis sociais, ocupar os seus tempos livres, usufruir de boa saúde e

funcionalidade, ter boa vizinhança e manter o controlo de independência. A participação dos

idosos em grupos enquanto um movimento social que busca a transformação da velhice,

permite ao idoso, reinventar a realidade do envelhecer e recriar relacionamentos saudáveis.

Assim, as atividades grupais com pessoas da mesma idade parecem favorecer um

envelhecimento bem-sucedido e com qualidade, porque possibilitam a convivência, a

conquista de novas amizades e a obtenção de suporte social, ajudando-os em qualquer

situação ou circunstância.

É necessário, quer para o idoso, quer para a sociedade envolvente, ajudá-los a

envelhecer criativamente, promovendo as suas capacidades, e potencialidades, tornando-os

mais felizes (Oliveira, 2010). São necessárias, cada vez mais, atividades que valorizem o

idoso e os seus saberes, permitindo-lhes encarar a reforma como mais um estádio da sua vida

e não como o fim. Deste modo, o projeto das Universidades representa uma resposta social,

que visa criar e dinamizar regularmente atividades sociais, culturais, educacionais e de

convívio, proporcionando a retirada dos idosos do isolamento e da solidão.

Metodologia

Objetivos e Hipóteses

Após a introdução teórica, o presente estudo pretende analisar de que forma a

participação na Universidade Sénior de Gondomar influencia os níveis de solidão, da

autoestima e tamanho das redes sociais dos idosos que a frequentam, comparando com um

grupo de idosos que não frequentam qualquer Universidade Sénior. Só assim podemos

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percecionar se a USG é uma ferramenta muito útil na luta contra a solidão, influência os

níveis de autoestima, o tamanho e o grau de satisfação das redes de apoio social. Como

objetivos específicos o que se pretende é perceber em que medida a frequência da USG (ao

longo de 6 meses) diminuem os níveis de solidão, aumenta os níveis da autoestima, o

tamanho e o grau de satisfação das redes de apoio social, em comparação com um grupo de

idosos com caraterísticas semelhantes mas que não frequentam qualquer Universidade Sénior.

Face ao exposto, consideram-se hipóteses para este trabalho de investigação as

seguintes:

H1- Espera-se que frequentar a Universidade Sénior de Gondomar influencie o grau de

solidão dos idosos, comparativamente com idosos que não a frequentam.

H2 – Espera-se que os idosos que frequentam a USG apresentem níveis de autoestima

mais elevados, comparativamente com o grupo de idosos que não frequentam.

H3 - Espera-se que os idosos que frequentam a USG beneficiem de mais suporte

social, comparativamente com o grupo dos idosos que não a frequentam.

Amostra

A nossa amostra é constituída por 70 elementos, 35 pertencentes ao grupo de

controlo – elementos que não frequentam nem frequentaram a Universidade Sénior de

Gondomar – e 35 pertencentes ao grupo experimental (alunos da Universidade Sénior). Em

função dos grupos em estudo, verifica-se que não existe independência entre os grupos

uma vez que p>0.05 (neste caso não se apresenta o valor do χ2 pois, em tabelas de 2x2, o

SPSS apenas apresenta o valor de p, uma vez que é calculado em tabelas desta natureza o

teste exato de Fisher): idade, estado civil, escolaridade, situação profissional e

rendimentos.

A média de idades da amostra é de 63.14 anos de idade para o grupo de controlo e

63.25 anos de idade para o grupo Universidade Sénior. Quanto ao estado civil, de modo

geral, a amostra é composta por 65.7% de casados/união de fato, 17.9% de viúvos, 9.0% de

divorciados/separados e 7.5% de solteiros. Relativamente à escolaridade dos inquiridos, de

modo geral, 29.9% indicam ter o ensino superior, 25.4% o terceiro ciclo do ensino básico,

23.9% o primeiro ciclo do ensino básico, 14.9% o ensino secundário e 6.0% o segundo

ciclo do ensino básico. De modo geral, 89.4% da amostra indica estar reformada, sendo

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que relativamente ao grupo de controlo 82.9% indica estar reformado e relativamente ao

grupo Universidade Sénior 96.8% indica encontrar-se reformada. No que concerne aos

rendimentos, 66.7% indica ter rendimentos superiores a 1000€, 21.2% indica ter

rendimentos situados entre os 500€ e os 1000€ e 12.1% da amostra indica ter rendimentos

inferiores a 500€.

Instrumentos

Neste estudo, serão adotadas três medidas de recolha de dados, a Escala da Solidão, a

Escala da Autoestima, o Questionário de Suporte Social (SSQ6), e um Questionário

Sociodemográfico, com o objetivo de identificar um conjunto de caraterísticas dos idosos,

como a idade, género, estado civil, o nível socioeconómico/rendimento mensal, e estado atual

de saúde.

Escala da Solidão da UCLA É constituída por 18 itens de avaliação do nível de

solidão sentida, apresentando 4 possibilidades de resposta, em que 1 corresponde a

“nunca”, 2 “raramente”, 3 “algumas vezes” e 4 a“ muitas vezes” (Neto, 1989).

Escala de Autoestima de Rosenberg Esta escala compreende 5 itens considerados como

indicadores de atitudes positivas (por exemplo ”Globalmente estou satisfeita comigo própria”)

e 5 itens representando atitudes negativas acerca do self (por exemplo: ”Por vezes penso que

nada valho”). Trata-se de uma escala de seis pontos do tipo Likert (6 – “Concordo

Totalmente”; 5 – “Concordo”; 4 – “Concordo Parcialmente”; 3 - “Discordo”; 2 – “Discordo

Parcialmente”; e 1 – “Discordo Totalmente”.

Questionário de Suporte social (SSQ6) O SSQ6 é composto por 6 itens. O número

(N) de cada item do SSQ é o número das pessoas da lista que dão apoio e é avaliado numa

escala ordinal de “muito satisfeito” a “muito insatisfeito” (muito descontente). A segunda

parte avalia o grau de satisfação social (S) utilizando uma escala de tipo Likert com 6

pontos que vão desde insatisfeito (1) a muito satisfeito (2) (Pinheiro e Ferreira, 2002).

Procedimentos

A recolha dos dados foi efetuada em dois momentos. Assim num primeiro momento, os

dados foram recolhidos entre Setembro e Outubro de 2011. E, num segundo momento, os

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dados foram recolhidos entre Março e Abril de 2012. Numa primeira fase foi feito um pedido

formal de autorização através de carta ao Presidente da Universidade Sénior de Gondomar

para administração dos instrumentos e recolha de dados, explicando a natureza do estudo e

garantindo o respeito de todas as normas éticas e deontológicas no que se refere ao sigilo e

confidencialidade dos dados recolhidos. Foi elaborada uma carta de consentimento informado

onde constava o pedido de participação de cada idoso, que foi preenchida pelo próprio idoso.

A intervenção para a recolha dos dados teve início com uma breve apresentação da

investigadora, sobre o objetivo do estudo, bem como a explicação acerca do propósito das

escalas e do questionário sociodemográfico, e a recolha dos dados ocorreu nas salas da

própria instituição que estavam disponíveis para o efeito.

Resultados

No sentido de se verificar se a frequência da Universidade Sénior influencia os níveis de

solidão, da autoestima, o tamanho e o grau de satisfação das redes de apoio social da nossa

amostra recorreu-se ao teste t para amostras emparelhadas para comparar se, nos dois

momentos de medição, as pontuações médias obtidas pelos inquiridos diferem. Quanto às

caraterísticas psicométricas das escalas, verifica-se que, quanto à Escala de Solidão o valor de

Alfa de Cronbach é de 0.90, sendo este valor verificado por Neto (1992) aquando da aferição

da escala à população portuguesa que foi de (α=0.87). Relativamente à Escala de Autoestima

o valor de Alfa de Cronbach é de 0.70. Estes valores indicam que as escalas apresentam

valores de consistência interna satisfatórios. Quanto à Escala de Suporte Social por ser

composta por duas subescalas, o valor de Alfa de Cronbach relativamente ao número de

elementos da sua rede (SSQ6 N) é de 0.91, e o valor correspondente à satisfação com essa

rede (SSQ6 S) é de 0.93. Estes valores não se afastam demasiado dos verificados por

Saranson, Saranson, Shearin e Pierce (1987) que foram de (α= 0.97) e (α= 0.98).

De seguida apresentam-se os resultados obtidos. Relativamente à Escala da Solidão no

grupo de controlo – grupo que não frequenta a Universidade Sénior – o que se verificou foi

que, nos dois momentos de medição, as diferenças encontradas nas pontuações médias obtidas

na Escala de Solidão não são estatisticamente significativas (t=1.78; p> 0.05). No entanto,

relativamente ao grupo que frequenta a Universidade Sénior observou-se que entre os dois

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momentos de medição, as diferenças encontradas nas pontuações médias da Escala de Solidão

foram estatisticamente significativas (t=3.42; p<0.05).

Figura 1 – Valores médios de solidão em função da frequência [grupo de controlo versus grupo

experimental (Universidade Sénior)] e do tempo.

Concretamente, o que se verificou foi que, no segundo momento de medição, após 6

meses de ingressarem na Universidade Sénior, as pontuações médias obtidas foram mais

baixas (M= 46.83; DP=2.62) que no primeiro momento de medição (M= 49.77; DP=5.95),

altura do ingresso na Universidade Sénior.

No que diz respeito à análise específica de cada momento de medição, o que se

verificou foi a inexistência de diferenças estatisticamente significativas entre as pontuações

médias obtidas por ambos os grupos (controlo e experimental) no primeiro momento de

medição (t=0.66; p> 0.05), ainda que o grupo de controlo tenha pontuações médias mais

elevadas que o grupo Universidade Sénior. Relativamente ao segundo momento de medição –

6 meses depois – o que se observou foi a existência de diferenças estatisticamente

significativas entre o grupo de controlo e o grupo experimental (t=4.95; p<0.05), sendo que o

grupo experimental apresenta pontuações médias mais baixas que o grupo de controlo.

Relativamente à Escala de Autoestima, o que se observou foi a não existência de

diferenças estatisticamente significativas entre as pontuações médias obtidas na Escala de

50,54 50,46

49,77

46,83

44

45

46

47

48

49

50

51

1 Momento 2 Momento

Escala da Solidão

Grupo Controlo

Grupo Universidade Sénior

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Autoestima (t=-1.44; p>0.05) nos diferentes momentos de medição no grupo de controlo,

ainda que no segundo momento se tenha verificado um aumento das pontuações médias da

Escala de Autoestima. No que diz respeito ao grupo experimental, o que se observou foi a

existência de diferenças estatisticamente significativas entre os dois momentos de medição

(t=-72.74; p<0.05), sendo que no segundo momento se verifica uma diferença das pontuações

médias obtidas mais acentuada (M=56.71; DP=2.77) que no primeiro momento (M=46.91;

DP=2.77).

Figura 2 – Valores médios da autoestima em função da frequência [grupo de controlo versus grupo

experimental (Universidade Sénior)] e do tempo.

No que concerne à análise específica de cada momento de medição, o que se verificou

foi a não existência de diferenças estatisticamente significativas entre as pontuações médias

obtidas na Escala de Autoestima em função dos dois grupos em análise – controlo e

experimental – no primeiro momento de medição (t=1.36; p>0.05), ainda que o grupo

experimental tenha obtido pontuações médias mais elevadas que o grupo controlo.

Relativamente ao segundo momento de medição – 6 meses depois – o que se observou foi a

existência de diferenças estatisticamente significativas entre o grupo de controlo e o grupo

experimental (t=-7.89; p<0.05), sendo que o grupo que frequenta a Universidade Sénior

apresenta pontuações médias mais elevadas que o grupo de controlo. Confirma-se assim os

dados obtidos no gráfico anterior.

48,37

48,42 46,91

56,71

0

10

20

30

40

50

60

1 Momento 2 Momento

Autoestima

Grupo de controlo

Grupo Universidade Sénior

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Por último no que diz respeito à análise específica de cada momento de medição

relativamente à influência da Universidade Sénior no aumento do Suporte Social dos

inquiridos (SSQ6 N), o que se verificou foi a não existência de diferenças estatisticamente

significativas entre as médias dos elementos pertencentes a ambos os grupos relativamente ao

Suporte Social (controlo e experimental) no primeiro momento de medição (t=0.20; p>0.05),

ainda que o grupo de controlo tenha em média um maior suporte social que o grupo

experimental. Relativamente ao segundo momento de medição – 6 meses depois – o que se

observou foi a existência de diferenças estatisticamente significativas entre o grupo de

controlo e o grupo experimental (t=-3.41; p<0.05), sendo que o grupo experimental apresenta

relativamente ao grupo de controlo, em média, um maior e mais acentuado Suporte Social do

primeiro momento (M=2.4; DP=1.82) para o segundo momento (M=4.00; DP=1.82).

Figura 3 – Valores médios do suporte social N (tamanho da rede) em função da frequência [grupo

de controlo versus grupo experimental (Universidade Sénior)] e do tempo.

No que diz respeito ao grau de satisfação (SSQ6 S), no primeiro momento de medição

não se verificaram diferenças estatisticamente significativas entre o grupo de controlo e o

grupo que frequenta a Universidade Sénior (t=0.05; p>0.05). Já no segundo momento de

medição – 6 meses depois – o que se observou foi que o grupo Universidade Sénior

apresentou pontuações médias mais elevadas que o grupo de controlo revelando um maior

grau de satisfação com o suporte social dos inquiridos, sendo essa diferença estatisticamente

2,4 2,43

2,31

4

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

4,5

1 Momento 2 Momento

Suporte Social N

Grupo Controlo

Grupo Universidade Sénior

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significativa (t=0.81; p<0.05). O que também se verificou – recorrendo à mesma estratégia

estatística usada para o caso da Escala de Solidão – foi que no grupo de controlo não existem

diferenças estatisticamente significativas entre os dois momentos de medição (t=-1.00;

p>0.05), ainda que se verifique um aumento relativamente ao suporte social dos inquiridos

(SSQ6 N). No entanto, no grupo experimental, o que se verificou foi um aumento médio mais

acentuado do número de elementos pertencentes ao suporte social dos inquiridos no segundo

momento de medição, sendo essa diferença estatisticamente significativa (t=-8.18; p <0.05).

O mesmo se verifica quando foram comparados, nos dois momentos de medição, o grau de

satisfação do suporte social (SSQ6 S). Assim, no grupo de controlo não se verificaram

diferenças estatisticamente significativas entre os dois momentos de medição (t=0.20;

p>0.05), ou seja, não se verificou um aumento significativo no grau de satisfação dos

inquiridos. Já relativamente ao grupo Universidade Sénior foi possível verificar, no segundo

momento de medição, uma diferença estatisticamente significativa no grau de satisfação dos

inquiridos (t=-1.50; p<0.05), sendo que do primeiro momento (M=5.33; DP=0.50) se

verificou para o segundo momento de medição um aumento nesse mesmo grau de satisfação

(M=5.45; DP=0.47).

Figura 4 – Valores médios do suporte social S (grau de satisfação dos elementos da rede) em função da

frequência [grupo de controlo versus grupo experimental (Universidade Sénior)] e do tempo.

5,34 5,34

5,33

5,45

5,26

5,28

5,3

5,32

5,34

5,36

5,38

5,4

5,42

5,44

5,46

1 Momento 2 Momento

Suporte Social S

Grupo Controlo

Grupo Universidade Sénior

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Discussão

Neste estudo foram alcançadas três leituras. Relativamente à primeira hipótese que se

refere à variável solidão, pode-se observar que os idosos que frequentam a USG (grupo

experimental), após seis meses da sua frequência, possuem menor nível de solidão

comparativamente com os idosos que não a frequentam (grupo de controlo), sendo estas

diferenças significativas. Estes resultados confirmam a primeira hipótese. Estes resultados

corroboram com Russell, Cutrona, Rose e Yurko (1984) os quais verificaram que a solidão

social e emocional estavam inversamente associadas com as redes sociais e satisfação com as

medidas de relacionamento românticas e com os amigos. O grupo de idosos que frequenta a

USG revela que, de fato, a escolha de amigos, a integração numa rede de apoio social, é

benéfico porque pode contribuir para o evitamento ou combate da solidão. Os idosos que

mantêm mais contato com os amigos apresentam menos sentimentos de solidão (Giles,

Glonek, Luszcz, & Andrews, 2005). Aprofundar relações de amizade, sociais e comunitárias,

são uma estratégia para lidar, confrontar a solidão. No mesmo sentido, Pedrozo e Portela

(2003) referem que para encarar a solidão é primordial que o idoso participe em grupos de

idosos, pois só assim consegue dar um novo sentido a esta nova etapa da sua vida, que deve

ser vivida de forma mais positiva, recriando relacionamentos saudáveis, fato com o qual estes

idosos parecem estar de acordo. A participação destes idosos em atividades que lhes dão

prazer, fazem-nos sentir saudáveis uteis e em liberdade, satisfaz a sua vida diária contribuindo

para suprir a solidão. De fato «nas Universidades da Terceira Idade as pessoas que as

frequentam têm a possibilidade de se interrelacionarem umas com as outras de uma forma

satisfatória aliviando a solidão» (Monteiro, & Neto, 2008, p.147).

A segunda hipótese que se refere á autoestima revelou que os idosos que frequentam a

USG apresentam níveis de autoestima mais elevados que o grupo de idosos que não a

frequentam. As diferenças apresentaram-se significativas após 6 meses da sua frequência, pois

é possível que as atividades e o convívio com os amigos proporcionam a melhoria da

autoestima do idoso, a construção de novos laços, a partilha de significados sobre a velhice,

garantindo a sua autonomia e independência (Moura, 2006). Pode-se inferir que os idosos

quando integrados e envolvidos em atividades seniores ajuda-os a distanciarem-se das

imagens negativas e possíveis problemas, atribuindo a si próprios valorização pessoal, uma

atitude positiva, mente ocupada assegurando uma auto imagem e auto estima positivas. Assim

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um idoso capaz de se dedicar a fazer coisas de que gosta, estimula a sua autoestima passando

o processo de envelhecimento de modo saudável.

A última hipótese, a qual refere que frequentar a USG influencia o nível de suporte

social dos idosos que a frequentam em relação aos idosos que não a frequentam, constatou-se

que as diferenças são significativas após os 6 meses da sua frequência, quer em relação aos

elementos que constituem a sua rede, bem como ao grau de satisfação face a essa mesma rede,

ou seja, os idosos que frequentam a USG há 6 meses apresentam níveis de suporte social mais

elevado quanto ao número e grau de satisfação em relação ao grupo de idosos que não a

frequentam. Este fato foi referido por Peplau e Perlman (1982), que referem que as pessoas

idosas privilegiam o estabelecimento de contatos com amigos da mesma idade em detrimento

de contatos com pessoas da família, pois a perceção recebida desses contatos são importantes

para ultrapassar diferentes provisões sociais. Considerando a USG como uma rede de apoio

social, verificou-se neste estudo que a sua perceção em termos de quantidade e qualidade

constitui um vasto grupo de benefícios que proporciona o aumento da autoestima, promove o

humor positivo, o optimismo, permite a diminuição do stress, sentimentos de solidão e de

fracasso (Pinheiro, & Ferreira, 2002). Os estudos realizados têm vindo a legitimar a ideia de

que o suporte social constitui-se como promotor do bem-estar e da saúde do indivíduo.

Segundo Vaux (1988), o apoio social promove e contribui para que os idosos sejam

capazes de se ajustar a situações impostas pela sociedade, e de enfrentar problemas,

permitindo o aumento da autoconfiança e da autoestima assim como proporciona o seu bem-

estar físico e psicológico, satisfação com a vida e vontade de viver. Os contatos sociais, a

escolha dos amigos, a integração num grupo são meios válidos para manter um bom estado de

saúde, valorização permitindo lidar com a solidão (Berger, 1995). Deps (1993) defende a

ideia de que o convívio grupal entre idosos possibilita a ocorrência de significados comuns e a

aproximação interpessoal, facilitando a obtenção de suporte social.

Através deste estudo pode inferir-se que estas instituições representam um enorme e

duplo significado. A nível pessoal, representam uma oportunidade para cada idoso melhorar

como individuo, acreditando nos seus potenciais e capacidades, reconquistando uma imagem

positiva de si, muitas vezes esquecida, permitindo a concretização de projetos de vida e

sonhos até então inatingíveis pelos desígnios da vida. No plano coletivo representam um

espaço de participação e integração, de troca e partilha de experiências, de motivações,

criando e desenvolvendo laços de amizades e, em alguns casos, para quem já não tem

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ninguém, encontram uma nova família, atenuando momentos de isolamento social e solidão.

Os idosos ao participarem em diversas atividades passam a sentir-se mais ativos e com mais

entusiasmo para a vida. Também um estudo, realizado na Universidade Aberta à Terceira

Idade da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, demonstrou ter contribuído

efetivamente para bem-estar na velhice, melhorando na globalidade a saúde dos idosos, visto

que, ocorreu uma mudança no estilo de vida dos idosos, em diversas dimensões, envolvendo

aumento de autoestima, interação social, estímulo à aprendizagem, alcançando autonomia e

independência, diminuição dos estereótipos atribuídos à velhice e um sentimento de satisfação

tanto pessoal como grupal, o que se pode traduzir numa busca do pleno exercício de cidadania

(Jacob, 2005). Deste modo procurar ocupações e incentivos de vida fomenta pensamentos e

modos de estar na vida positivos, eliminando momentos de sofrimento e sentimentos

negativos para alguns dos idosos participantes, permitindo viver o processo de

envelhecimento de forma plena, e prolongar a vida atribuindo-lhe significado. Estas

instituições ajudam as pessoas a (re)socializarem-se, formar novos grupos, e aumentar o seu

interesse pela vida (Formosa, 2000).

Embora a amostra tenha sido pequena, não se podendo generalizar os resultados obtidos

neste estudo empírico, conclui-se que frequentar a USG permite beneficiar de menos solidão,

mais autoestima e mais suporte social. Estes indicadores são, sem dúvida, alguns que a

Universidade Sénior de Gondomar pretendeu implementar através das atividades que dispõe

para os seus alunos disfrutarem e que se puderam aqui constatar. Alguns idosos apresentam-se

inicialmente nos programas desenvolvidos pela USG com baixa autoestima e isolados, por

vezes queixosos da forma como são tratados não só pela família como também pela sociedade

que, em geral, ainda cultiva uma representação bastante negativa e estereotipada sobre a

velhice, como uma etapa de vida repleta de sucessivas perdas ou aquisição de doenças,

considerando um tempo de desinvestimento e desinteresse. No entanto, o que se consegue

observar é que, após um tempo a frequentar a USG, estes idosos demonstram interesse em

desenvolver novas habilidades e novos conhecimentos, ao mesmo tempo que ampliam a sua

rede de relações, dando novo significado à velhice.

Neste sentido, este estudo revela a importância desta instituição para a população idosa,

pois, frequentar as atividades que a mesma dispõe, promovem uma mudança no seu estilo de

vida, envolvendo mudanças nos níveis de autoestima, na interação social, no estímulo de

aprendizagem, proporcionando a recuperação de autonomia e independência, preocupando-se

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não apenas com a sua sobrevivência mas fundamentalmente em envelhecer bem. O que se

pode constatar, através dos alunos que participaram neste estudo, que após 6 meses o grupo

de idosos que frequenta a USG apresenta níveis de solidão menores, níveis de autoestima

mais elevados e níveis mais elevados de suporte social quanto ao tamanho e grau de

satisfação comparativamente com o outro grupo. É que se torna possível substituir o

envelhecimento como um processo negativo caracterizado por um período de perdas, por um

estádio de vida perspetivado de modo positivo, associado a momentos de prazer, realização,

satisfação pessoal e otimismo (Débert, 1999). Estas instituições «surgiram voltadas para a

promoção da sociabilidade através do lazer» (Lima, 2001, p.97), propõem-se a alçar a

autoestima, e melhorar as relações sociais e familiares dos seus participantes contribuindo

para o seu bem-estar, fazendo reflorescer a energia que move a vida e o prazer de cada idoso.

Fortalecem vínculos grupais positivos, transformam a sua realidade diária, descobrem novos

papéis, estimula as suas capacidades intelectuais e físicas, preenchendo em alguns casos o

total vazio que assombrava as suas vidas. Estas instituições apresentam-se como uma

excelente alternativa à indesejável e perigosa inatividade, abrindo portas a uma nova vida, que

alia o saber à satisfação de viver, através dos novos contactos e trocas de experiências,

«ajudam as pessoas sós a (res)ponsabilizarem-se, permitindo-lhes formar novos grupos e

aumentar o seu interesse pela vida» (Formosa, 2000, p.325). Parece que, manter atividades de

lazer na terceira idade, permite suscitar nos idosos sentimentos de satisfação e prazer com a

vida em geral, pois estas atividades pressupõem que o idoso envelheça num ambiente ativo e

saudável, promovendo um constante investimento na realidade de envelhecer (Simões, 1982).

Pode-se assim concluir que a existência destas instituições, contribuem para que os

idosos vivenciem o envelhecimento como um processo contínuo, desenvolvendo uma nova

postura crítica e reflexiva perante os problemas com que se deparam nesta fase do processo

vital, estimulando as potencialidades e a criatividade dos seus alunos. Também permitem uma

constante estimulação a nível físico e cognitivo, a promoção da participação social dos idosos,

ajuda a elevar a autoestima, a partilhar interesses e conhecimentos, e oferece ao idoso um

sentimento renovado na atribuição de importância pessoal, apresentando-se como uma

condição para uma velhice bem-sucedida (RUTIS, 2013). Um estudo realizado por Monteiro

e Neto (2008) faz referência à importância e aos benefícios da participação dos idosos nas

Universidades da Terceira Idade. Os alunos procuram nestas instituições encontros,

atividades, festas, piqueniques, jogos, que proporcionam o convívio, a ocupação do tempo

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livre, conduzindo ao bem-estar e satisfação com a vida, afastando-os do isolamento social e

da solidão. A visibilidade dada à população sénior torna-se cada vez mais prioritária, é

importante investir em programas e estruturas socioeducativas que procurem promover

condições para que os idosos se mantenham ativos e autónomos, contribuindo para uma

sociedade mais justa para todas as gerações.

Por fim, e apesar de se ter ficado com a sensação de se terem alcançado os objetivos

propostos, ainda muito ficou por fazer, dado os constrangimentos encontrados, quer temporais

como até espaciais, sugerindo que no futuro, seria importante realizar um estudo que

abrangesse diferentes áreas geográficas, sendo necessário o acompanhamento com entrevistas

em que se torne possível obter em profundidade, através das amostras, a influência das

variáveis sociodemográficas e comportamentais, e em que medida os idosos seriam capazes

de nos explicitar a circunstância e a frequência das suas vivências na sua vida diária. Por outro

lado, seria necessário introduzir outras variáveis que, possivelmente, pudessem interferir nos

resultados.

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The impact of the Frequency of a Senior University on the Level of Loneliness, Self-

esteem, and Social Support Networks

Abstract

The purpose of this investigation is the study of a Senior University impact on the level of

loneliness, self-esteem, and social support networks of students from that institution. For that

purpose a longitudinal study was conducted to analyze the role that Senior University of

Gondomar has in the perception of loneliness, self-esteem and social support networks. Four

instruments were used: the social-demographic questionnaire, the UCLA Loneliness Scale,

the Rosenberg Self-Esteem Scale and the Social Support Scale (SSQ6). The sample is

composed by 70 elderly persons, 35 students of Senior University of Gondomar and 35 that

are not students of any senior university. The data were collected in two different moments.

The obtained results showed that after 6 months of USG frequency, there were significant

differences between the two groups, in respect of loneliness levels, self-esteem levels, and size

and satisfaction of social networks. This study supports the important role that USG has to

the elderly that are there students increasing their self-esteem, the number of social support

networks and decreasing the level of loneliness.

Keywords: loneliness; self-esteem; senior universities; social support networks.

Como citar este artigo: Gonçalves, J., & Neto, F. (2013). Influência da frequência de uma Universidade

Sénior no nível de solidão, autoestima e redes de suporte social [Temas em Psicologia do Envelhecimento

(Vol.I)], Revista E-Psi, 3(1), 69-92.

Received: September 2, 2013 Revision received: October 29, 2013 Accepted: November 8, 2013

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Perceções de Envelhecimento e Regulação do Self

ANTÓNIO M. FONSECA1, DIOGO DUARTE

2, & SANDRA MOREIRA

3

Resumo

O envelhecimento bem-sucedido requer do indivíduo uma postura ativa perante o modo como

envelhece. À medida que envelhece, o indivíduo utiliza mecanismos de seleção, otimização e

compensação, que lhe permitem controlar a sua vida num processo individual de regulação

do self. Um aspeto relevante para a criação de self possíveis é a forma como os indivíduos

concebem o processo de envelhecimento e o que estão dispostos a fazer para moldar o seu

desenvolvimento. O presente estudo procura conhecer as expectativas, relativamente ao seu

próprio envelhecimento, de um grupo de portugueses de ambos os sexos, com idades

compreendidas entre os 60 e 65 anos. Os resultados indicam que, apesar de os indivíduos

julgarem poder ser exemplos de envelhecimento bem-sucedido no futuro, existem

preocupações associadas à condição de idoso, nomeadamente, no que diz respeito à perda de

funcionalidade e situação económica.

Palavras-chave: perceções de envelhecimento; regulação do self; envelhecimento bem-

sucedido.

Introdução

Podemos distinguir três modos de envelhecer: envelhecimento patológico;

envelhecimento normal; envelhecimento bem-sucedido (Fonseca, 2005a). No primeiro caso,

1 Professor Associado na Faculdade de Educação e Psicologia, Universidade Católica Portuguesa, Porto.

Investigador no Centro de Estudos em Desenvolvimento Humano (CEDH).

E-mail: [email protected]. 2 Universidade Católica Portuguesa, Porto. 3 Universidade Católica Portuguesa, Porto.

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trata-se de um processo de envelhecimento marcado por doença mental ou física debilitante e

a que frequentemente se associa um estado de dependência face a outrem. O segundo refere-

se a um envelhecimento sem condições patológicas, seja de ordem física ou mental, embora

se reconheça a existência de riscos de ameaça à saúde. Por último, podemo-nos referir ao

envelhecimento bem-sucedido, ótimo ou ativo, como sendo um envelhecimento caracterizado

por um bom funcionamento físico e cognitivo, participação social, qualidade de vida e bem-

estar psicológico, aspetos que diminuem o risco de aparecimento de patologias (Ribeiro, &

Paúl, 2011).

Ao contrário do padrão de envelhecimento normal, atingido desde que as condições

ambientais e o património genético assim o permitam, o envelhecimento bem-sucedido requer

do indivíduo que envelhece uma postura ativa perante o modo como se envelhece. O estilo de

vida adotado assume uma enorme preponderância na forma como tal processo se desenrola,

constituindo aspetos-chave desse mesmo estilo de vida o exercício físico, uma alimentação

saudável, atividades que estimulem a mente, ações que visem a manutenção e o

desenvolvimento de competências e redes sociais, e iniciativas que promovam a segurança

individual e previnam situações passíveis de ameaçar o bem-estar (Ribeiro, & Paúl, 2011).

Lazarus e Lazarus (2006) mencionam uma lista de princípios em que definem o que é

necessário a um envelhecimento bem-sucedido: estar consciente das realidades da sua

situação; aceitar essas realidades e procurar encará-las de forma positiva; ser capaz de lidar de

forma eficaz com as suas realidades e conseguir compensar as perdas e défices decorrentes da

sua situação; empenhar-se e esforçar-se de forma intencional em atividades sociais e de

ocupação do tempo; selecionar de forma sábia as atividades em que se envolve; manter laços

próximos com os outros; manter uma autoestima positiva, independentemente das perdas e

défices que possam ocorrer.

Quando se fala em envelhecimento bem-sucedido ou ativo, pode parecer que se está a

negar o envelhecimento, ignorando o facto de ser inevitável que a balança entre ganhos e

perdas desenvolvimentais tenda, à medida que se envelhece, a pender mais para estas últimas

em vários aspetos. Contudo, apesar das perdas inevitáveis que vão acontecendo, é cada vez

mais possível envelhecer com qualidade, quer retardando o momento ou a velocidade em que

as perdas ocorrem, quer adotando comportamentos que permitam uma adaptação satisfatória

face a essas perdas. Entende-se aqui por adaptação satisfatória um processo simultâneo de

otimização dos ganhos que ainda se registarem na velhice e de compensação dos

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constrangimentos que acompanham essas perdas, muito embora, por vezes, «a adaptação e

aquilo que dela resulta (bem-estar psicológico, autoeficácia, etc.) não dependem do controlo

que a pessoa exerce sobre a sua vida e sobre o seu desenvolvimento, mas também da sua

capacidade para aceitar o que é inalterável e para se ajustar às circunstâncias que já não terá

oportunidade de alterar» (Fonseca, 2011, p.57).

O meio envolvente, não só do ponto de vista físico, como também social, desempenha

um papel importante na concretização de um envelhecimento com sucesso. Um contexto que

providencie condições materiais de conforto e segurança, onde o indivíduo receba

estimulação apropriada, que fomente autonomia e independência, e em que é percecionada

uma visão positiva do processo de envelhecimento, tenderá certamente a contribuir para um

envelhecimento tão bem sucedido quanto possível (Fonseca, 2005b).

O Ajustamento do Self ao Processo de Envelhecimento

Na perspetiva de Baltes e Baltes (1993), em todas as fases do desenvolvimento humano,

e particularmente à medida que envelhecem, os indivíduos procuram controlar a sua vida

através da aplicação de três componentes: seleção, otimização e compensação. A seleção

refere-se ao desenvolvimento e escolha de objetivos, ou seja, atendendo às perdas decorrentes

do envelhecimento as pessoas focam o seu interesse em experiências que lhes proporcionem

maior satisfação pessoal, a otimização diz respeito à aplicação de meios para atingir níveis

elevados de funcionamento e objetivos desenvolvimentais desejáveis e a compensação refere-

se ao uso de recursos (internos e externos) que possam auxiliar o indivíduo a atingir os seus

objetivos, bem como a substituição dos recursos, se os utilizados anteriormente não foram

eficazes.

O modelo SOC (Seleção-Otimização-Compensação) postula que um «processo

adaptativo bem-sucedido e com efeitos desenvolvimentais positivos consiste na obtenção de

um resultado desenvolvimental, onde se conjuguem uma maximização de ganhos e uma

minimização de perdas» (Fonseca, 2005a, p.102). Ao falarmos neste processo de

autorregulação do self, através do qual se verifica um considerável cunho pessoal no modo

como a trajetória de vida individual se desenvolve, torna-se pertinente abordar a questão dos

self possíveis (desejáveis ou temidos), os quais consistem em representações do self no futuro

(Markus, & Nurius, 1986).

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Com efeito, relativamente a diferentes papéis que a pessoa desempenha e/ou a

diferentes dimensões da sua vida (saúde, família, vida profissional), existe a tendência para

criar representações do self não só relativas à situação presente como também relativas ao

futuro. Assim, formam-se imagens desejáveis do self que os indivíduos gostariam que se

tornassem realidade (por exemplo, self saudável) e imagens temidas do self que os sujeitos

não desejam que se venham a concretizar (por exemplo, self com saúde debilitada) (Frazier,

Hooker, Johnson, & Kaus, 2000; Murru, & Ginis, 2010). Desta forma, o indivíduo procura ao

longo da sua vida aproximar-se dos self desejáveis e afastar-se dos self temidos; tais

representações são importantes para o processo de autorregulação do self, agindo como

motores de mudança e desenvolvimento (VanDellen, & Hoyle, 2008).

Um aspeto relevante para a criação de self possíveis é a forma como os indivíduos

percebem o processo de envelhecimento (Furstenberg, 2002). As perceções do

envelhecimento referem-se ao modo como os indivíduos concebem o seu processo de

envelhecimento e a sua experiência pessoal de transição para a velhice. As perceções que os

indivíduos têm acerca do envelhecimento implicam uma apreciação individual, refletindo as

suas formas de pensar face às suas experiências (Furstenberg, 2002) e ao modo como

estabelecem metas e objetivos futuros (Röcke, & Lachman, 2008).

As perceções de envelhecimento representam um constructo multidimensional que

contemplam a satisfação com o envelhecimento e a idade subjetiva (Kotter-Gruhn,

Kleinspehn, Gerstorf, & Smith, 2009). Planear o futuro pode ser considerado um processo de

autorregulação na medida em que é uma forma de moldar o desenvolvimento do indivíduo.

Os autores referem ainda, no que diz respeito às perceções associadas ao envelhecimento, que

os homens apresentam perceções mais positivas que as mulheres, as quais diminuem à medida

que o funcionamento cognitivo e a saúde também diminuem. Os indivíduos que percecionam

a sua saúde como pobre poderão, contudo, não querer fazer planos para o futuro (Kotter-

Gruhn, & Smith, 2011).

De acordo com o English Longitudinal Study of Ageing (ELSA), em comparação com

os homens, as mulheres tendem a sentir-se mais jovens do que cronologicamente o são na

verdade (Demakakos, Hacker, & Gjonça, 2006). A partir de uma amostra de 8781 sujeitos,

dividida por três grupos etários (50-59; 60-74; 75 e mais anos), foi no grupo de sujeitos entre

os 60 e os 74 que mais sobressaiu esta diferença de género (Demakakos et al., 2006).

Paralelamente, o mesmo estudo revelou também que as mulheres consideram que o início da

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terceira idade surge mais tarde do que os homens, sendo que essa diferença de avaliação é

atenuada à medida que aumenta a idade dos respondentes.

Uma explicação para as diferenças de género no que se refere às perceções associadas

ao envelhecimento, nomeadamente, uma perceção de envelhecimento tendencialmente mais

positiva por parte dos homens, uma maior tendência das mulheres para se considerarem mais

jovens do que a sua idade cronológica, e uma perceção de início da terceira idade percebida

pelas mulheres como mais tardia, poderá estar relacionada com o facto de a desvalorização

social do idoso afetar mais a mulher do que o homem ou, pelo menos, o seu efeito fazer

sentir-se mais cedo. De fato, a busca de uma juventude eterna e a procura de um aspeto

sempre jovem parecem ser já considerados normativos ou mesmo “prescritivos” na

atualidade, sobretudo entre as mulheres (Marques, & Lima, 2010). Envelhecer comporta uma

perda de estatuto social no género feminino pelo simples fato de o envelhecimento tornar a

sua imagem menos atrativa numa sociedade onde a “atratividade da imagem” é um dos

aspetos que seguramente mais influência produz na valorização social da mulher (Fonseca,

2010).

O modo como os indivíduos concebem o processo de envelhecimento e a velhice tende,

com efeito, a ser influenciado pelo conjunto de representações sociais vigentes acerca do

envelhecimento e da velhice (Marques, 2011). Atualmente, apesar dos progressos

tecnológicos e médicos ocorridos nas sociedades permitirem que mais pessoas durem cada

vez mais tempo e experimentem até idades mais tardias uma boa qualidade de vida, marcada

por considerável funcionalidade física e mental (Baltes, & Smith, 2003; Fonseca, 2010),

continua a verificar-se uma tendência geral para a desvalorização das pessoas idosas. Esta

desvalorização traduz-se em ideias correntes – as pessoas idosas são incapazes de se

desenvolverem, a velhice corresponde a uma “segunda infância”, os idosos são inflexíveis,

resistentes à mudança, possuem um poder de iniciativa limitado e dificuldade em abraçar

novos projetos – e em imagens que associam o envelhecimento a doença, inatividade,

depressão, aborrecimento e incapacidades várias. Poderíamos ainda acrescentar outras

representações de cariz negativo: na velhice é demasiado tarde para se adotar estilos de vida

saudáveis, os idosos apresentam um desinteresse pela vida e não têm qualquer possibilidade

de manter uma vida afetivamente compensadora ou sexualmente ativa (Fonseca, 2010).

Wurtele (2009), num artigo que aborda o modo como estudantes veem a velhice

(definida como tendo início aos 65 anos de idade), demonstra através de dados provenientes

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de uma amostra composta por 1340 estudantes norte-americanos de psicologia recolhida ao

longo de dez anos, que a imagem comum associada à velhice é uma imagem negativa,

caracterizada pela passividade. A estes estudantes foi pedido para listarem individualmente

um conjunto de cinco atividades ligadas à vida na velhice, tendo as cinco atividades mais

frequentemente mencionadas sido as seguintes: socializar (que passava por falar com

familiares por telefone, mas que excluía sair para jantar fora, ir ao cinema ou socializar com

pessoas fora da família); fazer exercício (que consistiria apenas em caminhar ou jogar golf);

ver televisão; dormir; ler. Quando confrontados com este conjunto de atividades mais

mencionadas, os estudantes consideraram tal vida como solitária e aborrecida.

Tais representações, socialmente disseminadas e partilhadas, tornam propício o

surgimento de afetos negativos, cognições e comportamentos discriminatórios face às pessoas

idosas, discriminação que, por ter como base a idade cronológica, pode ser designada por

idadismo, um fenómeno que marca presença em várias sociedades (Marques, & Lima, 2010;

Marques, 2011). Como refere Marques (2011), o nosso processo de categorização tende a ser

influenciado pelas representações socialmente aceites relativas a cada categoria, sendo que, se

à categoria “idoso” a sociedade em geral associa conceitos negativos como inatividade,

incompetência, doença, etc., haverá tendência, à partida, para a ativação destes conceitos

quando lidamos com uma pessoa que consideramos idosa, colocando todas as pessoas idosas

num mesmo saco virtual de inutilidade. Fonseca (2005a) salienta a preocupação expressa por

diferentes investigadores quanto à possibilidade de as próprias pessoas idosas internalizarem

as crenças de idadismo e de isso se refletir na postura que assumem perante a sua vida,

fazendo por comportar-se não de acordo com o que a sua idade funcional lhes permite, mas

sim em função do que estas crenças negativistas estabelecem como sendo normativo para a

sua idade cronológica, numa lógica de profecia autocumprida (Marques, 2011).

Com efeito, quanto mais o idoso estiver exposto a comentários ou conceções negativas

a seu respeito, mais terá tendência a desenvolver uma visão negativista do seu próprio

envelhecimento. De acordo com Levy, Slade, Kasl e Kunkel (2002), a integração de tal tipo

de crenças, às quais se refere como autoestereótipos de envelhecimento, inicia-se desde cedo.

Enquanto jovens, os indivíduos cresceram numa sociedade caracterizada por crenças idadistas

e acabaram por integrar essas crenças, pelo que, quando idosos, muitas vezes nem chegam a

questioná-las (Marques, & Lima, 2010). A internalização de autoestereótipos de

envelhecimento não tem efeitos apenas nas escolhas e comportamentos dos indivíduos,

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podendo também ter influência no seu próprio rendimento cognitivo (Levy, 1996). Num

estudo em que se procurou ativar subliminarmente estereótipos sobre o envelhecimento junto

de uma amostra de 90 sujeitos com idade igual ou superior a 60 anos, o autor descobriu que

ativar estereótipos positivos tende a melhorar não só as visões sobre o envelhecimento, mas

também o desempenho e a autoeficácia, enquanto a ativação de estereótipos negativos tende a

ter um efeito diametralmente inverso (Levy, 1996).

Metodologia

Esta investigação, de cariz qualitativo, tem como objetivo principal explorar as

expectativas em relação ao próprio envelhecimento de um grupo de portugueses de ambos os

sexos que, dada a sua idade cronológica (60-65 anos), se encontram em vias de serem

rotulados como “idosos”. Especificamente, procuramos conhecer as perceções individuais

face às trajetórias de envelhecimento esperadas e qual o projeto de vida que os indivíduos

constroem para lidar com essas mesmas perceções.

Com o intuito de orientar a procura e análise de informação para satisfazer os objetivos

desta investigação, formularam-se as seguintes questões:

1. Há preocupação com o avanço da idade?

2. Como é que os indivíduos se sentem em relação à sua idade?

3. Que fatores são importantes para a classificação de alguém como idoso(a)?

4. Que vantagens e desvantagens estão associadas ao avanço da idade e à velhice?

5. O que significa “envelhecer bem”?

6. Que objetivos de futuro são enunciados?

7. Após os 65 anos de idade, “amar” e “aprender coisas novas” continuam a ser

possibilidades?

Amostra

Neste estudo participaram 16 homens e 15 mulheres, com idades compreendidas entre

os 60 e 65 anos, casados ou mantendo uma relação estável, vivendo na sua residência e com

níveis de escolaridade diferenciados (ver Quadro 1).

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Quadro 1 – Características dos participantes.

Nível de escolaridade médio/alto: maior ou igual a 9 anos de escolaridade. Nível de escolaridade

médio/baixo: menor que 9 anos de escolaridade.

Tratou-se de uma amostra de conveniência, formada através do contacto pessoal com

sujeitos que reuniam as características pretendidas e que foram recrutados na comunidade em

locais como cafés, serviços paroquiais, universidades sénior e centros sociais. Para que a

investigação respeitasse os indispensáveis princípios éticos, foram explicados aos

participantes a natureza e o propósito do estudo, assegurando a confidencialidade e o

anonimato dos dados recolhidos.

Instrumentos

Para a recolha de dados recorremos aos focus groups (grupos de focagem) (Morgan,

1997), designação atribuída a um tipo específico de entrevista em grupo que é estruturada a

fim de obter opiniões detalhadas dos participantes sobre assuntos específicos. Enquanto

técnica de investigação qualitativa, os focus groups consistem na realização de discussões em

grupo, baseadas em tópicos fornecidos pelo investigador, que deverá essencialmente assumir

um papel de moderador e privilegiar a interação entre os participantes. De acordo com

Morgan (1997), o que faz com que a discussão sobre um dado assunto em focus group seja

mais do que a simples soma de várias entrevistas individuais, é o facto de os participantes se

questionarem uns aos outros e de explicarem em grande grupo a razão de um determinado

posicionamento, o que permite, a quem investiga, ficar com uma ideia mais clara da medida

de consenso e diversidade de opiniões entre os participantes. Para orientar o decorrer do focus

groups foi criado um guião composto por questões de resposta aberta (equivalentes às

questões de investigação atrás indicadas), as quais permitiram explorar as perceções dos

indivíduos relativamente a dimensões, conceitos, ideias e sentimentos face ao processo de

envelhecimento, bem como destacar as expectativas pessoais relativamente à vivência da

etapa da vida que se aproxima.

Participantes Estado civil Idade Nível de

escolaridade

Local de

residência

Homens (16) 6 Casados 60-65 médio/baixo

Grande Porto 10 Casados 60-65 médio/alto

Mulheres (15) 8 Casadas 60-65 médio/baixo

7 Casadas 60-65 médio/alto

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Procedimentos

Foram realizados seis focus groups (ver Quadro 2), com duração entre 60 a 75 minutos

cada, em espaços que garantiam a privacidade desejada, cedidos por universidades seniores e

centros sociais. As entrevistas foram gravadas em áudio e posteriormente transcritas. O

processo de recolha de dados decorreu entre Novembro de 2011 e Abril de 2012. Antes de

cada focus group, os objetivos da entrevista eram novamente explicados aos participantes e

asseguradas as questões éticas.

Os critérios de inclusão nos focus groups foram os seguintes: (i) idade compreendida

entre os 60 e os 65 anos, segmento etário em que os indivíduos estão em vias de ser rotulados

como “idosos” pela sociedade; (ii) casados ou mantendo uma relação estável, tendo em conta

o impacto negativo que a viuvez pode ter na adaptação do sujeito ao seu envelhecimento

(Fonseca, 2011); (iii) viverem na sua residência, o que confere uma sensação de

independência e autonomia que influencia o modo como os indivíduos percecionam o seu

futuro, pois autonomia e domínio do meio são dimensões relevantes para o bem-estar

psicológico à medida que se envelhece (Fonseca, 2006); (iv) nível de escolaridade médio

(menor ou igual a nove anos de escolaridade) ou superior (maior ou igual a 12 anos de

escolaridade), dado que, segundo Fonseca (2011), as pessoas que possuem habilitações mais

elevadas atribuem maior importância aos fatores de bem-estar, o que por sua vez poderá

influenciar a tomada de decisão face a diferentes perspetivas de envelhecimento.

Quadro 2 – Constituição dos focus-groups.

Número de

elementos

Nível de

escolaridade

Local de

realização Género

Focus Group 1 4 Médio/alto Universidade

Sénior Masculino

Focus Group 2 6 Médio/alto Universidade

Sénior Masculino

Focus Group 3 6 Médio/baixo Universidade

sénior Masculino

Focus Group 4 5 Médio/alto Universidade

Sénior Feminino

Focus Group 5 4 Médio/baixo Centro Social Feminino

Focus Group 6 6

Médio/baixo e

Médio/alto Centro Social Feminino

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Uma vez transcritas as entrevistas, procedeu-se à leitura flutuante do material recolhido

de forma a obter uma visão global das respostas dos participantes, sendo possível, desta

forma, produzir notas facilitadoras para posterior codificação e interpretação dos conteúdos

obtidos. Posteriormente, procedemos ao processo de categorização, em que os dados foram

decompostos em unidades de análise. Para codificação dos dados, as entrevistas foram

inseridas no programa informático de análise qualitativa de dados NVivo8, programa que

facilita a análise da informação recolhida e permite a comparação dos dados dos diferentes

focus groups. Com o auxílio deste programa o discurso dos participantes foi codificado,

analisando-se as transcrições e agrupando-se unidades de texto (frases ou expressões) com

base na analogia existente entre elas, em categorias temáticas mutuamente exclusivas

(Fernandes, & Maia, 2001).

Resultados

Os resultados permitem constatar que, globalmente, tanto homens como mulheres na

faixa etária considerada tendem a encarar o avanço da idade como algo que não constitui

motivo de preocupação. Mesmo aqueles participantes que revelam alguma preocupação

associada ao fato de que envelhecer implica deixar de ser novo e, consequentemente, que o

fim se aproxima, não atribuem grande relevo a esse fato.

Todos os homens e a maior parte das mulheres da amostra referem sentir-se bem com a

idade que têm, alegando experimentarem elevada vitalidade e funcionalidade. Embora alguns

homens tenham reconhecido que algumas limitações físicas, ligeiras, se vão fazendo sentir

[«Também me sinto bem, embora reconheça que há algumas limitações. Estas trocas dos

óculos, põe óculos, tira óculos, às vezes irrita-me um bocadinho, limitações que não havia

antes, e pronto, em termos de esforço também é preciso dosear um bocadinho.»], isso não

invalida um sentimento geral de satisfação com a idade atual, baseado sobretudo nos

indicadores: saúde, energia e autonomia.

Outros aspetos pontualmente referidos pelos participantes, homens e mulheres, para

justificar o facto de se sentirem bem com a sua idade foram os seguintes: estar saudável,

acompanhar a juventude, boa transição da vida ativa para a reforma, aceitar e adaptar-se às

mudanças que o avanço da idade vai trazendo. Estas evidências suportam Fonseca (2011,

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p.57) quando defende que a «capacidade para aceitar o que é inalterável e para se ajustar às

circunstâncias que já não terá oportunidade de alterar» promove cenários de adaptação

satisfatória ao envelhecimento. Para além disso, a aceitação e adaptação às mudanças que o

avanço da idade vai trazendo salienta a importância das expectativas para o bem-estar do

indivíduo quanto ao que se considera normativo para uma determinada idade (Furstenberg,

2002).

Estar ativo ou ter uma ocupação foram os aspetos que mais sobressaíram nos focus

groups masculinos como fatores associados ao bem-estar com a vida atual. Por outro lado,

“sinto-me bem” e “sinto-me jovem” foram expressões usadas pelos participantes (femininos e

masculinos) como sinónimos, podendo daqui inferir-se a interiorização de uma cultura da

juventude e crenças idadistas, com consequente favoritismo exo-grupal (Kite, Stockdale,

Whitley, & Johnson, 2005; Marques, & Lima, 2010). De facto, todos os sujeitos referiram ora

de modo mais implícito, ora de modo mais explícito, não se sentirem idosos. Montepare e

Lachman (1989) afirmam, a este propósito, que a maior parte dos indivíduos com idades

acima dos 60 anos relatam sentir-se mais novos do que a sua idade cronológica evidencia,

sendo que esta perceção associada à idade parece ser um melhor preditor do funcionamento

físico e psicológico do que a sua idade cronológica. Esta idade subjetiva poderá estar

associada a um conjunto de receios face ao seu próprio envelhecimento, funcionando a

desvalorização da idade cronológica como um processo adaptativo.

Nesta investigação sobressaiu uma visão eminentemente negativa da expressão “idoso”.

No entanto, enquanto a esmagadora maioria dos homens considerava a idade cronológica e

certas características físicas (rugas, cabelos brancos) como irrelevantes para a atribuição dessa

designação, as mulheres não desprezavam estes aspetos, considerando-os relevantes. Homens

e mulheres estão de acordo, porém, com o facto de que a forma como a pessoa se sente, vive e

pensa sobre as coisas são aspetos determinantes para a atribuição do rótulo de “idoso” a

alguém. Neste estudo, “idoso” foi associado a alguém com mentalidade “fechada” e

“retrógrada”, sem interesse pela vida, com menor capacidade de adaptação, com perda

simultânea de capacidades físicas e mentais, dependente, desanimado.

Posto isto, não admira que nenhum dos participantes se considere idoso nem queira ser

visto como tal. Com efeito, notou-se uma tentativa constante de argumentação contra esse

rótulo, negando que aspetos que a eles se começam a aplicar, ou já se aplicam (como a

reforma, a idade cronológica e certas características físicas), sejam distintivas do idoso. Para

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eles, ser idoso está essencialmente ligado a critérios de perda de funcionalidade e a questões

mais subjetivas (como perder o “gosto pela vida”) nas quais estes participantes não se

reconhecem.

Num estudo realizado por Minichiello, Browne e Kendig (2000), os autores concluíram

que a imagem que os participantes do seu estudo tinham do que é ser velho baseava-se numa

lista de termos negativos, como por exemplo, desligado, isolado, irritante, desinteressante,

frágil, senil, só, vulnerável, não produtivo e um fardo. Para estes autores, o facto de as pessoas

afirmarem que não se sentem velhas e que mantêm uma atitude positiva face ao

envelhecimento é uma forma de se dissociarem do grupo dos “velhos”, ao qual não

pertencem. Na mesma linha, Bradley e Longino (2003) defendem que, a não ser que estejam

doentes ou deprimidas, as pessoas de idade não se sentem velhas, sendo que tendem a

associar a imagem de “velho” a pessoas residentes em lares de idosos, imagem da qual se

procuram distanciar.

Apesar da aparente ausência de preocupação com o avanço da idade, ou pouca

relevância dada à mesma, quando levados a refletir sobre o futuro em termos de trajetórias de

envelhecimento, homens e mulheres apresentam outras preocupações relativas a aspetos que,

não estando apenas associados ao avanço da idade, o podem acompanhar (como a solidão ou

a falta de saúde). O que se percebe pela análise dos resultados é que o envelhecimento, em si

mesmo, não é para já uma preocupação ou, pelo menos, não é uma preocupação importante

para estes indivíduos. O que verdadeiramente os preocupa é a qualidade de vida que

acompanhará o seu envelhecimento no futuro, sendo que essa “qualidade de vida” implicará a

manutenção da máxima funcionalidade possível, com ausência de doença e de dependência.

A este nível podemos então apreciar a grande preponderância do tópico saúde. Segundo

Paúl, a saúde continua a ser vista pelos idosos como um elemento essencial da qualidade de

vida, «sendo talvez o indicador mais valioso do bem-estar do sujeito» (Paúl, 2005b, p.38).

Independentemente do focus group em questão, foi expressa preocupação com a possível

deterioração da saúde com o avanço da idade, nomeadamente, com situações de dependência

decorrentes de um envelhecimento patológico. Com efeito, Fonseca (2006) refere que a saúde

é uma preocupação prioritária para os idosos e esta preocupação tem certamente por base a

consciência de que a maior vulnerabilidade a patologias de ordem diversa tende a aumentar

com o avanço da idade e espelha a tendência já referida de que, com o envelhecimento, os

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possíveis self associados à condição da saúde começam a assumir uma cada vez maior

importância na vida dos sujeitos (Frazier et al., 2000).

Outra fonte de preocupação com bastante representatividade nos sujeitos do sexo

masculino é a conjuntura socioeconómica e política do país, nomeadamente, as consequências

desta conjuntura para a população mais envelhecida. Salientam-se preocupações com

consequências económicas [«Isto tem a ver com as nossas preocupações em termos do que é

que nos vai acontecer. Eu não sei se a minha reforma atual se vai manter no futuro. Tal como

cortaram o décimo terceiro e o décimo quarto, não sei se amanhã não cortam 50%!»] e com

consequências ao nível da própria postura da sociedade face aos mais velhos [«(…) por acaso

no outro dia estava a pensar nisso, com estas coisas todas de dizer que há muitos velhos, que

a sociedade envelhece, a pirâmide está virada ao contrário, a malta nova não tem filhos, os

“velhos” que seremos nós a começar a ser uma chatice, que incomodam e ocupam espaço.»;

«Eu acho, eu por acaso penso um bocado nisso, que é esta malta nova está a começar a

dizer, “Isto agora é uma porra que o dinheiro não dá, não estica e que, por isso, se nós

conseguirmos que aquela velhada toda desapareça.”»]. Esta última preocupação parece

assaltar os indivíduos desde cedo, coincidindo com a antecipação ou concretização da entrada

na reforma e consequente transformação em mais um encargo para a Segurança Social. De

acordo com Marques (2011), a inatividade das pessoas idosas e a perceção de gastos com o

envelhecimento por parte da sociedade é uma das fontes de idadismo.

A crença na falta de preparação do Estado português para responder às necessidades da

população mais velha surge como fonte de preocupação para muitos sujeitos desta amostra,

sendo apontada ao Estado falta de preparação para responder a necessidades de saúde e

mesmo necessidades de subsistência por vezes apresentadas pela população envelhecida.

Embora desejando que tal panorama se modifique, as expectativas a esse nível não são, regra

geral, favoráveis. Importa referir que, no que toca a este aspeto da preocupação com os apoios

para os mais velhos no futuro, surgiram poucas mas importantes referências em que sujeitos

relativizam essa questão em relação a si próprios, referindo não pensar nisso ou, então, que os

verdadeiros problemas a este nível já não serão sentidos pela sua geração.

Finalmente, apenas no focus group constituído por sujeitos do sexo masculino com

menos escolaridade foi manifestado o receio, ainda que de modo muito modesto, de a família

não prestar apoio em situações de dependência, diferença intergrupos que foi notada também

em Furstenberg (2002).

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Nesta investigação, a normatividade associada ao facto de que, à medida que se

envelhece, a balança entre ganhos e perdas desenvolvimentais pender essencialmente para as

perdas em várias dimensões (Fonseca, 2005), não foi negada pelos participantes. Estes

salientaram mais aspetos negativos associados ao envelhecimento e à velhice do que aspetos

positivos, tendo até o grupo de homens com menos escolaridade sido incapaz de encontrar um

único aspeto positivo. Em linha com o já anteriormente exposto, a deterioração da saúde com

o aparecimento de doenças, limitações, incapacidades e situações de dependência, com tudo o

que isso implica em termos do impacto no autoconceito e nas relações interpessoais, dominou

o espectro de aspetos negativos associados ao envelhecimento, tendo surgido com relevância

em todos os focus groups realizados.

Nos dois grupos masculinos de escolaridade mais elevada foi particularmente salientado

o facto de as pessoas mais velhas passarem a ser vistas como um estorvo para a sociedade,

confrontando-se com estereótipos relativos à sua funcionalidade [por exemplo: «E fazem-se

logo debates! E fazem-se logo debates porque não sei quê! Que eu já vi pessoas a insurgirem-

se as pessoas, os velhinhos conduzir. Velhinhos de 60 anos! Os velhinhos não são de 90, são

de 60! Já não (…) cuidado com eles a conduzir, senão (…) Às vezes irrita-me.»] e com a

rotulagem pejorativa de “idoso” baseada exclusivamente na idade cronológica, sem ter em

conta o estado do indivíduo em termos funcionais e psicológicos [por exemplo: «Há aqui

outra referência para o termo idoso, que é a esperança média de vida. Se nos homens a

esperança média de vida está nos 79 ou 80, bom, um indivíduo com 65 (…) claro que,

independentemente do que se passa, está-se velho, não é? Agora o problema é o velho no

sentido depreciativo e é isso que nós genericamente rejeitamos.»].

Nos focus groups masculinos, a potencial solidão e a menor capacidade de adaptação

foram outras desvantagens mencionadas, embora de forma mais modesta. Quanto às

vantagens do avanço da idade, a maior tolerância para com o outro aparece como uma

vantagem [«(…) há uma capacidade de aceitação de cada um em relação a todos os outros

(…) eu acho, para mim isso é amor, quer dizer, não vejo (…) Por exemplo, numa aula,

alguém com algumas limitações, faz perguntas que num contexto mais jovem, davam uma

risada geral e não, as pessoas aceitam. Têm a capacidade de reconhecer que há ali uma

limitação e, portanto, não há risota. Isto é amor.»], a par da maior experiência de vida e

liberdade de expressão [«Não (…) muitas vezes não se tomam posições porque o tomar de

determinadas posições pode pôr em causa determinados cordões umbilicais que nos ligam à

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sobrevivência no dia-a-dia (…) e as pessoas, por muito corajosas que sejam, e muitas são e

arriscam tudo e mais alguma coisa (…) outras pesam as consequências das suas atitudes (…)

a nível de jornalistas, a nível de políticos e portanto temos o tal discurso politicamente

correto e o artigo de jornal que não vai ferir os interesses instalados porque (…) isso já se

sabe, é disso que estamos libertos, não é? Não temos ninguém que nos vá (…)»], e de se

assistir ao crescimento dos netos, com a sensação de continuidade que isso implica. Este

último ponto destaca a importância da dimensão “imortalidade através da família” que,

segundo Paúl (2005), está implícita em ser-se avô/avó.

Também as mulheres da amostra enalteceram este último aspeto – ser avó – como algo

de positivo que o avanço da idade pode trazer, dando-lhe mesmo um destaque superior ao que

foi dado na amostra masculina. De acordo com Lazarus e Lazarus (2006), a família adquire

grande relevância para o idoso, desempenhando um importante papel na qualidade de vida e

no bem-estar. Os autores destacam a oportunidade para tomar conta ou passar mais tempo

com os netos, sendo de facto este o aspeto positivo mais elencado pelas participantes deste

estudo.

A American Association for Retired Persons (AARP) publicou em 2012 o resultado de

um estudo efetuado junto de pessoas com mais de 50 anos, o qual consistia em avaliar como

estes se sentiam no seu papel de avós. Os resultados mostram que os avós sentem pelos netos

um amor incondicional e que estão conscientes de que desempenham um papel importante

nas suas vidas. Quer seja no desenvolvimento de valores morais, ao tornarem-se seus

conselheiros, ou mesmo através dos momentos de diversão que passam em conjunto, a

presença dos avós é extremamente importante para o desenvolvimento da criança e do jovem

(AARP, 2012). Outros autores (por exemplo, Lopes, Neri, & Park, 2005) acrescentam ainda

que ser avô ou avó produz nos indivíduos um sentimento de realização pessoal e dever

cumprido, permitindo aos mais ou menos idosos terem companhia e afastarem o sentimento

de solidão.

Contrariando o que sucedeu no estudo de Nuttman-Shwartz (2007) com uma amostra de

indivíduos israelitas do sexo masculino com idades coincidentes com a amostra desta

investigação, em que tentando analisar o modo como os reformados percebem a reforma e a

possibilidade de trabalhar após a reforma, se verificou que a maioria não conseguia conceber

a vida sem trabalho, neste estudo a maioria dos sujeitos, independentemente do sexo, olha

para a reforma como um momento de gozo e liberdade, à semelhança do que se verificou nos

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resultados do ELSA, com população britânica (Demakakos et al., 2006), e nos resultados de

Furstenberg (2002) com população americana, sugerindo diferenças em termos culturais na

forma de encarar esta transição.

Segundo Fonseca (2011), a reforma pode ser vista de duas formas, ou como um

momento de libertação – e aqui o indivíduo vê a reforma como a oportunidade pela qual

esperou para poder fazer tudo o que até então não lhe foi possível devido aos seus

compromissos profissionais, ou como um momento de sofrimento e perda – em que, devido à

sua condição de reformado, o indivíduo perde a sua identidade profissional, as relações de

trabalho, o prestígio e a capacidade financeira. No entanto, os mecanismos de coping

utilizados pelo indivíduo para fazer face às mudanças decorrentes deste acontecimento de

vida é que vão determinar o aparecimento, ou não, de alterações no seu funcionamento. No

caso das mulheres que integraram a amostra, a maior disponibilidade de tempo foi associada

não apenas à reforma mas também ao facto de os seus filhos já serem adultos independentes e

exigirem menos delas enquanto mães.

No que se refere à opinião dos sujeitos quanto ao significado de se envelhecer bem, era

de adivinhar, face ao que já foi exposto, que a saúde fosse um tópico tido em conta pelos

participantes deste estudo. Envelhecer bem significa, acima de tudo, envelhecer com saúde.

Neste âmbito, os homens referiram a importância da carga genética dos indivíduos para

se envelhecer com saúde, mas em ambos os grupos (masculino e feminino) o indivíduo foi

visto como tendo um papel de relevo na promoção de um envelhecimento com saúde, não

cometendo excessos, nomeadamente alimentares, praticando exercício físico e esforçando-se

por estimular a mente, indo na prática ao encontro de algumas das sugestões feitas na obra

Manual de Envelhecimento Ativo (Ribeiro & Paúl, 2011).

Se a questão da hereditariedade já traz alguma diversidade às trajetórias de

envelhecimento por si só, esta noção de papel ativo no desenvolvimento individual levou os

participantes a reconhecerem que o envelhecimento é um processo pessoal, variando de

pessoa para pessoa os critérios de um envelhecimento bem-sucedido (Fonseca, 2005b) [por

exemplo: «para mim envelhecer bem é manter a minha sensibilidade àquilo que me rodeia,

envelhecer bem é eu sentir-me bem permanentemente comigo mesmo, quer eu tenha 70 ou 90,

se lá chegar.»].

Os homens consideraram ainda que, para além da saúde, envelhecer bem implica estar

atualizado e ocupar o tempo com atividades, sobretudo atividades de que se gosta. Para além

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de tudo o resto, a ocupação promove uma sensação de utilidade e dignidade, aspetos

associados a um envelhecimento com sucesso. Já nos grupos femininos, amor, sensação de

dever cumprido e uma vida serena foram aspetos enfatizados.

Ter recursos económicos capazes de proporcionar uma vida confortável, do ponto de

vista da satisfação de necessidades de primeira ordem, foi algo que tanto homens como

mulheres salientaram como necessário para um envelhecimento bem-sucedido, a par da

importância das relações interpessoais, tendo as mulheres dado nesta matéria importância

particular às relações de âmbito familiar. Os homens defenderam a expansão e fortalecimento

das relações sociais e consideraram, à semelhança das mulheres, que o isolamento está

associado a um mau envelhecimento.

Um rastreio sobre qualidade de vida na população idosa no Reino Unido, conduzido por

Bowling, Banister e Sutton (2003), permitiu concluir que o bom relacionamento familiar e

social, o desempenho de papéis sociais, a saúde e a funcionalidade, o local de residência e as

condições de alojamento, ter uma visão positiva da vida e manter controlo e independência,

são os aspetos mais valorizados pelos idosos. Paúl (2005a) refere que ao longo de toda a vida

e, por isso, também na velhice, a rede de suporte social que cada um possui é um recurso de

grande importância para o bem-estar físico e psicológico, destacando-se a este nível a medida

de apoio percebido, isto é, o apoio que o sujeito percebe como disponível caso precise. Dada a

maior vulnerabilidade individual que pode acompanhar o envelhecimento, tais redes de

suporte informal podem tornar-se ainda mais determinantes para os sujeitos, tendo em conta a

sua função enquanto protetora da saúde mental ao poder diminuir o impacto de fatores de

stresse (Paúl, 2005b) ou mesmo prevenir que fatores de stresse como a solidão e o isolamento

surjam, contribuindo para um envelhecimento satisfatório.

Apesar de alguns homens (uma minoria) terem considerado não ser fácil envelhecer

bem, todos os participantes acreditam que envelhecerão bem no futuro no que deles depender

para isso, isto é, acreditam que o seu estilo de vida é compatível com um envelhecimento de

sucesso, mas têm em conta que há fatores que não dependem apenas deles. O facto de todos

os participantes conhecerem pessoas que envelheceram e envelhecem bem, sejam elas figuras

públicas ou alguém das suas relações sociais, serve de suporte para crenças mais otimistas. De

acordo com o que já foi referido no enquadramento teórico, as perceções de envelhecimento

refletem a maneira de pensar e os julgamentos dos indivíduos face às suas experiências,

podendo influenciar o modo como o indivíduo estabelece metas e objetivos para o futuro.

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Assim, acreditar que se vai conseguir, ou não, envelhecer bem, dependerá da forma como se

encara o futuro baseado nas suas próprias experiências e na observação de outros

(Furstenberg, 2002).

Desta análise dos resultados deduz-se, sobretudo, que nesta faixa etária vive-se

essencialmente no presente, sem pensar muito no futuro. Essencialmente, os sujeitos da

amostra não pretendem alterar nada no seu estilo de vida, nem têm objetivos já pensados para

o futuro para além da manutenção do estilo de vida atual, com o qual estão satisfeitos e

acreditam ser o ideal para envelhecer satisfatoriamente.

Nos focus groups femininos algumas participantes apresentaram como justificação para

não traçarem objetivos para o futuro a situação económica que o país atravessa, o fator idade

[«estabelecer objetivos a longo prazo nesta idade é uma coisa complicada»] e ainda a

ansiedade face à não concretização desses objetivos [«Muitas vezes as pessoas definem

objetivos, depois não os conseguem alcançar e depois ficam frustradas. Não, não vou viver

nessa ansiedade.»]. Nestes grupos, apenas duas pessoas relataram ter objetivos definidos para

o futuro: inscrever-se numa universidade sénior e fazer voluntariado. Nos grupos masculinos,

ninguém apresentou objetivos de curto prazo, mas a longo prazo alguns sujeitos perspetivam a

institucionalização como uma possibilidade ou mesmo como uma certeza.

Para terminar este momento de análise e discussão de resultados, resta tentar responder

à última questão de investigação: “Após os 65 anos de idade amar e aprender coisas novas

continuam a ser possibilidades?”.

Todos os participantes mostraram acreditar que o amor ou a capacidade de amar é

intemporal, obviamente persistindo após os 65 anos de idade. No que diz respeito à relação

íntima entre homem e mulher, em todos os focus groups foi referido que o amor em idades

mais avançadas apresenta diferenças em relação ao que é vivido em períodos anteriores da

vida. Homens e mulheres consideraram que o amor deixa de ter a sua componente física tão

ativa, caracterizando-se essencialmente por carinho, companheirismo e maior profundidade

(na opinião dos homens), e por entendimento, amizade e cumplicidade (na opinião das

mulheres). Nos focus groups masculinos, o amor não só foi visto como uma possibilidade

como foi mesmo apelidado de “uma necessidade” por um dos participantes.

Na velhice, a relação entre o casal deixa de estar focada na atração física para se focar

em aspetos que visem o cuidado de um parceiro para com o outro, estabelecendo uma relação

assente no carinho e companheirismo (Arcoverde, 2006), o que vem suportar a opinião

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manifestada pelas participantes deste estudo quando referiram o entendimento, a amizade e a

cumplicidade como substitutos do amor erótico e da paixão que caracterizam o tipo de amor

associado às pessoas mais novas.

No que toca à aprendizagem depois dos 65 anos, todos os participantes concordam que

é ainda tempo de aprender, sendo que os limites que podem surgir à aprendizagem estarão

mais ligados aos limites das próprias pessoas e não tanto ao avanço da idade. Tal vai de

encontro à ideia defendida por Azevedo e Teles (2011) para quem, ao longo da vida, existe

um grande potencial de aprendizagem, ideia que se baseia na evidência empírica de que até

idades muito avançadas podem ser apreciadas boas reservas cognitivas (Baltes & Smith,

2003).

Withnall (2010) afirma que a aprendizagem desempenha uma função protetora

relativamente ao declínio cognitivo, bem como em relação a outras perturbações mentais, tais

como a depressão e ansiedade. A aprendizagem pode ainda proporcionar ao indivíduo um

aumento de autoestima e promover as redes sociais, através de intervenções em grupo, sendo

este em parte o objetivo das universidades sénior, de onde provem a maioria dos participantes.

Ao longo dos focus groups, os participantes foram apoiando as suas opiniões e

sustentando as suas expectativas recorrendo, por vezes, a exemplos de pessoas que

conheciam. Verifica-se aqui a importância do ambiente social (Kim, 2009), mais

especificamente, da observação e comparação social na construção de perceções relativas ao

envelhecimento e à velhice, logo, também na construção de expectativas quanto à trajetória

individual de desenvolvimento (Heckhausen & Krueger, 1993).

Porém, analisando os segmentos de discurso incluídos em algumas das categorias

criadas, verifica-se alguma incongruência em exemplos dados no sentido de desmistificar o

facto de o aumento da idade cronológica trazer falta de vitalidade e dinamismo, isto é, de esse

fator poder converter o indivíduo num “idoso” (com todas as características negativas que

atribuem a essa designação). Com efeito, estes exemplos constavam de referências a pessoas

que, apesar da sua idade avançada, conseguiam fazer isto ou aquilo, possuíam esta ou aquela

característica antagónica à conceção de “idoso”, sendo estas pessoas consideradas casos

excepcionais. Este é um aspeto curioso que também foi notado no estudo de Furstenberg

(2002) e parece ter implícita a interiorização de expectativas negativas quanto ao potencial da

pessoa de idade mais avançada (Fonseca, 2006), que embora explicitamente negadas por

muitos participantes acabam por tornar-se aqui visíveis. Por outro lado, receando vir a ser

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portadores das características negativas que atribuem aos “idosos”, também pode estar aqui

implícita a necessidade destes participantes em fundamentar as expectativas quanto à sua

trajetória de envelhecimento tomando estes “exemplos excecionais” como bitola possível de

se alcançar.

Discussão

Este estudo permitiu aceder às perceções que um grupo de homens e mulheres

portugueses que se encontram em vias de serem rotulados como “idosos” pela sociedade

possuem em relação ao seu envelhecimento, bem como relativamente à sua trajetória

individual de envelhecimento.

Embora o envelhecimento traga consigo ideias incómodas, como a consciência de que

se está a deixar de ser novo e de que a finitude se aproxima, o avanço da idade não é olhado

como uma preocupação de relevo pela grande maioria dos participantes. Refletindo no modo

como será vivida a velhice, a principal preocupação que surge é que ela seja acompanhada de

perda de qualidade de vida. Com efeito, os indivíduos temem que a sua saúde se deteriore no

futuro, abalando a sua funcionalidade e colocando-os em situações de dependência.

Paralelamente a esta preocupação, a conjuntura socioeconómica e política do país foi

persistentemente referida em todos os focus groups masculinos como podendo colocar em

causa a qualidade de vida num prazo mais curto de tempo do que o envelhecimento biológico,

já que, presentemente, os homens dizem sentir-se bem com a idade que têm, desvalorizando

as leves limitações eventualmente presentes. Receiam que a crise económica traga

consequências negativas para as suas vidas, tanto em termos da postura que a sociedade

poderá começar a assumir face à população mais envelhecida, como em termos de

consequências económicas que ponham em risco a respetiva sobrevivência com o conforto

desejado.

Em todos os focus groups os participantes demonstraram uma visão negativa da palavra

“idoso”; no entanto, enquanto a esmagadora maioria dos participantes masculinos considerava

a idade cronológica e as características físicas como irrelevantes para a atribuição dessa

designação a alguém, as mulheres atribuíam-lhes importância. Verificou-se consenso entre

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sexos no que se refere ao facto de a forma como a pessoa sente, vive e pensa sobre as coisas,

serem aspetos determinantes para a atribuição do rótulo de “idoso”.

Nenhum dos participantes se considera, portanto, idoso, e nos focus groups masculinos

pôde-se apreciar um esforço permanente de argumentação no sentido do afastamento de tal

rótulo, negando que aspetos como a idade cronológica e determinadas características físicas,

ou a reforma, sejam distintivos do idoso. Esta postura surge, claramente, como uma resposta

adaptativa para combater os estereótipos associados à velhice, “forçando” a sociedade a tratá-

los como sempre o fez desde que atingiram a maioridade.

Apesar dos aspetos negativos associados ao avanço da idade, os participantes acreditam

que não só estão a envelhecer bem, como serão, à partida, no futuro, exemplos de

envelhecimento bem-sucedido no que deles depender para que tal suceda. A par de questões

ambientais e até genéticas, foi destacada a importância do papel ativo do indivíduo no modo

como se envelhece. Neste sentido, cuidar da saúde surge como um aspeto a ter em conta para

os dois sexos; para as mulheres, o amor, a sensação de dever cumprido e levar uma vida

serena são importantes, enquanto os homens valorizam a ocupação do tempo com atividades

gratificantes, manter-se atualizado e investir nas relações sociais. Todos os participantes

avaliam os seus estilos de vida como adequados a um envelhecimento bem-sucedido e por

isso desejam mantê-los. As únicas alterações apontadas passam unicamente pela

consideração, a longo prazo e apenas caso a funcionalidade diminua consideravelmente, de

recorrerem à institucionalização.

No estudo de Furstenberg (2002), os resultados foram semelhantes, isto é, os sujeitos

referiram a manutenção dos estilos de vida atuais, com cuidado com a saúde e manutenção de

atividades. Apenas a antecipação de alguma deterioração futura os levava a considerar a

procura de apoios sociais, nomeadamente, a institucionalização. Porém, no estudo

Furstenberg houve quem referisse planos relativamente à sua morte, o que não aconteceu

nesta investigação, o que poderá estar relacionado com a maior amplitude de idades

considerada na sua amostra (58-92 anos de idade). Em ambas as investigações é notória uma

especial preocupação com a deterioração da saúde no futuro, apoiando a noção de que os self

possíveis relacionados com este aspeto assumem progressiva importância com o avanço da

idade (Frazier et al., 2000). Aliás, provavelmente devido à diferença entre as amostras em

termos etários, no estudo americano registaram-se já sentimentos de tristeza em alguns

sujeitos, atendendo à experiência de alguma deterioração do respetivo estado de saúde.

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No que se refere a aspetos positivos associados ao avanço da idade, comparando este

estudo com o de Furstenberg (2002), a alteração nas atividades decorrente da reforma e a

oportunidade de crescimento em termos culturais foram salientados em ambos, tendo esta

investigação registado maior diversidade de aspetos positivos do que o estudo norte-

americano, designadamente, quanto à possibilidade de acompanhar o desenvolvimento dos

netos. Em ambos os estudos, o conhecimento de exemplos de outros indivíduos surgiu como

importante fonte de dados para a construção das expectativas dos sujeitos, salientando a

importância da observação social neste processo (Heckhausen & Krueger, 1993); todavia, a

influência dos media foi menos preponderante neste estudo do que na investigação de

Furstenberg (2002).

Terminando o paralelismo com o estudo de Furstenberg (2002), ambos apontam para o

facto de a trajetória imaginada de um indivíduo poder apresentar similitudes com trajetórias

imaginadas por outros sujeitos, dada a influência que sobre elas recai do que de normativo se

estipula para determinadas idades. Para além disso, ambos apontam, igualmente, para o facto

de as expectativas influenciarem a procura de objetivos de desenvolvimento. Nenhum dos

estudos responde, porém, ao modo como se equaciona a relação entre a visão que os

indivíduos têm do seu futuro e o seu comportamento, tema pertinente para ser abordado em

estudos futuros. Com efeito, fica em aberto perceber: (i) que variáveis poderão ser

preponderantes para que alterações no comportamento dos indivíduos sejam efetivamente

implementadas, em função do modo como estes perspetivam o seu futuro; (ii) que variáveis

gravitam em torno das expectativas, conferindo-lhes maior ou menor probabilidade de

afetarem o comportamento dos indivíduos.

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Perceptions of Ageing and Self-Regulation

Abstract

Successful aging requires an active attitude, by the individual, as he grows older. As that

happens, the individual uses mechanisms of selection, optimization and compensation that

allow him to control his own life through a self-regulation process. A relevant aspect of the

creation of possible selves is how individuals perceive ageing process and what are they

willing to do to shape their own development. The aim of this study is to understand the

expectations of a group of Portuguese people, from 60 to 65 years old, concerning their own

ageing process. Results show that although individuals consider they will be an example of

successful ageing in the future, they are concerned with their future condition, particularly

with the loss of autonomy and economic situation.

Keywords: perceptions of ageing; self-regulation; successful ageing.

Como citar este artigo: Fonseca, A., Duarte, D., & Moreira, S. (2013). Perceções de envelhecimento e

regulação do self [Temas em Psicologia do Envelhecimento (Vol.I)], Revista E-Psi, 3(1), 93-117.

Received: June 20, 2013 Revision received: October 28, 2013 Accepted: November 4, 2013

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Perspetivas da Morte e Personalidade em Idosos

CATARINA MARQUES-COSTA1, & JOSÉ H. BARROS DE OLIVEIRA

2

Resumo

O presente trabalho privilegiou como objeto de análise as perspetivas da morte em alunos

seniores e a sua possível relação com a personalidade. A amostra é constituída por 114

seniores. Os instrumentos utilizados foram o Questionário de Personalidade de Eysenck

(EPQ) e as Escalas Breves de Perspectivas da Morte. Os questionários foram aplicados em

diversas Universidades Seniores da Região Centro de Portugal.

Os resultados mostram que o Neuroticismo se relaciona de modo positivo com a Morte como

Vida de Além de Recompensa, a Extroversão de modo negativo com a Morte como Natural, e

o Psicoticismo de modo negativo com a Morte como Desconhecido. Apesar de se verificar a

existência de correlações significativas entre as variáveis em estudo, estas assumem uma

intensidade moderada. Estes resultados realçam a necessidade de mais estudos neste âmbito,

assim como a necessidade de adaptação e construção de instrumentos que sejam adequados

a esta população, isto é, que sejam claros, que tenham boas qualidades psicométricas e que

sejam de rápida aplicação.

Palavras-chave: idoso; envelhecimento bem-sucedido; perspetivas da morte; personalidade.

Introdução

No Século XX, as alterações demográficas traduziram-se, por vezes, numa inversão das

pirâmides etárias, refletindo o envelhecimento populacional. Estas modificações vieram

1 Mestre em Psicologia do Idoso, Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto

(FPCE-UP). E-mail: [email protected]. 2 Professor Jubilado, Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCE-UP).

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colocar aos governos, às famílias e à sociedade em geral, desafios para os quais não estavam

preparados. Assim, envelhecer com saúde, autonomia e independência, o mais tempo

possível, constitui hoje um desafio para a responsabilidade individual e coletiva, com

tradução significativa no desenvolvimento económico dos países.

A promoção de um envelhecimento saudável diz respeito a diversos sectores, que

envolvem nomeadamente a saúde, a educação, a segurança social, os aspetos económicos, a

justiça, o desenvolvimento rural e urbano, os transportes, a habitação, o turismo, as novas

tecnologias, a cultura e os valores que cada sociedade defende e que cada cidadão tem como

seus. Se por um lado, os determinantes individuais, biológicos, genéticos e psicológicos

contribuem para a forma como se envelhece e para a ocorrência de doenças ao longo da vida,

por outro, em muitas situações, o declínio das funções que se associa ao envelhecimento está

relacionado com fatores de ordem externa (ambientais e sociais).

Assim, a importância educativa da faixa etária dos idosos é imensa, na medida em que

poderá promover uma maior interação indivíduo-meio, o que por sua vez trará uma maior

adaptação e um maior bem-estar ao idoso. Foi no sentido de dar resposta a esta necessidade

que surgiram as Universidades Seniores (Monteiro, & Neto, 2008). Os alunos que as

frequentam constituem exemplos de um envelhecimento bem-sucedido, pois estão inseridos

num meio dinamizante, tanto em termos de atividades (novas aprendizagens) como em termos

sociais (rede social).

Personalidade no Idoso

Para Wilson (1986), quase todos os adjetivos que se possam utilizar para resumir o

comportamento de uma pessoa – ansioso, falador, agressivo, deprimido, entre outros – se

referem às características comportamentais e emocionais que diferenciam as pessoas (traços

de personalidade) ou às flutuações de ordem temporária nas disposições do mesmo indivíduo

(estados). Com efeito, a personalidade diz fundamentalmente respeito às características

permanentes do indivíduo, isto é, remete mais para os traços do que para os estados.

No modelo psicobiológico de Hans Eysenck (Modelo P-E-N; cf. H. Eysenck, & M.

Eysenck, 1985), que se insere nas denominadas Perspetivas dos Traços (cf. Mathews, &

Deary, 1998), a personalidade é considerada como uma organização mais ou menos estável e

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perdurável do carácter, do temperamento e dos aspetos intelectuais e físicos, que determina o

ajustamento único de cada indivíduo ao meio ambiente (H. Eysenck, 1970). Estas dimensões

são assim responsáveis pela consistência e estabilidade das ações, pelas reações emocionais e

pelos estilos cognitivos dos sujeitos.

A dimensão de Extroversão (E) organiza-se num continuum que abrange num polo a

personalidade extrovertida, caracterizada pela sociabilidade, atividade, assertividade,

vivacidade, procura de sensações, entre outros traços, e no outro polo, a personalidade

introvertida, cujo indivíduo tende a ser calmo, passivo, cuidadoso, pensativo, mentalmente

ativo e pessimista.

A dimensão de Neuroticismo (N) organiza-se também ela num continuum abrangendo a

personalidade neurótica, que se caracteriza pela ansiedade, tensão, irritabilidade fácil,

hiperpreocupação, depressão, sentimentos de culpa, baixa autoestima, tristeza, emotividade,

irracionalidade, entre outros traços, e a personalidade estável, que remete para características

como a serenidade, o controlo, a boa disposição, entre outras.

A dimensão de Psicoticismo (P) descreve a personalidade fria, impessoal, egocêntrica,

impulsiva e agressiva, ou seja, a personalidade que caracteriza os indivíduos pouco

empáticos, pouco sociáveis, desconfiados, rudes e que gostam de coisas pouco habituais (H.

Eysenck, & M. Eysenck, 1985; Wilson, 1986; Castro Fonseca, 1989).

Dimensões E e N

As dimensões E e N encontram-se fortemente relacionadas com o bem-estar subjetivo: a

dimensão E está relacionada com os afetos positivos e a dimensão N com os afetos negativos

(cf. Diener, & Lucas, 1999).

Em Espanha, Chico Librán (2006) estudou o bem-estar subjetivo e os fatores de

personalidade que lhe estão associados. Os resultados indicaram que a dimensão E é um bom

indicador do nível de bem-estar subjetivo, uma vez que se associa aos constructos de

satisfação com a vida e de otimismo. O mesmo se verificou em relação à dimensão N, na

medida que as correlações encontradas são elevadas e significativas com a insatisfação com a

vida e com o negativismo. Neste estudo, verificou-se ainda que a satisfação com a vida é mais

fortemente determinada pela dimensão N do que pela dimensão E. Ou seja, o afeto negativo é

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mais determinado pela dimensão N, enquanto que o afeto positivo é determinado tanto pela

dimensão N como pela dimensão E.

No estudo de Krause, Liang e Keith (1990), os autores constataram que os idosos mais

extrovertidos tendiam a procurar mais contactos sociais do que os introvertidos. De acordo

com Brennan, Schutte e Moos (2006), a rede social tem efeitos positivos na prevenção ou

diminuição do distress que é causado pelos acontecimentos de vida – os idosos com um maior

apoio social possuem melhores capacidades para resolver os seus problemas.

Segundo Vitterso e Nilsen (2002), as dimensões E e N são frequentemente consideradas

como as duas dimensões de personalidade mais relevantes para o estudo da felicidade. No

entanto, segundo alguns autores (cf. Costa, & McCrae, 1980; Diener, & Larsen, 1993;

Rusting, & Larsen, 1997; entre outros), a extroversão tende a ser vista como a dimensão mais

importante neste âmbito.

Estes dados parecem ir ao encontro da hipótese levantada por Baltes, Lindenberger e

Staudinger (1999), mediante a qual as dimensões de personalidade teriam uma importante

função no processo de adaptação do sujeito ao envelhecimento, influenciando a saúde e a

longevidade na velhice.

Personalidade e Morte

No que concerne à relação com a morte de outrem e a personalidade, Meuser e Marwit

(2000) verificaram que determinadas dimensões e traços de personalidade predispõem os

sujeitos a usar de modo mais ou menos efetivo as estratégias de coping3 para melhorar a

intensidade do luto. Assim, os resultados destes investigadores demonstraram que N e as

características do distress se associam a uma maior tristeza e sofrimento nas viúvas.

Middleton, Franzp, Raphael, Burnett e Martinek (1997) constataram também a existência da

relação desta dimensão com os sintomas de distress oriundos do luto sentido por pais,

esposas, e filhos adultos.

3 Segundo White (1985, cit. por Vaz Serra, 1988, p.303) «(...) tendemos a falar de coping quando temos em

mente uma modificação relativamente drástica ou um problema que desafia as formas familiares de pessoa se

comportar e requer a produção de um comportamento novo. Dá origem, com frequência, a afetos desconfortáveis

como a ansiedade, o desespero, a culpa, a vergonha, ou o pesar, o alívio dos quais faz parte da necessidade de

adaptação. O coping refere-se a esta adaptação em condições relativamente difíceis».

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Feifel (1969) evidenciou que os humores depressivos, o medo das perdas, e os diversos

sintomas psicossomáticos possuem afinidades com o constructo de ansiedade face à morte.

Por seu turno, o medo da morte tende a relacionar-se com o distress, através de ruminações ou

da antecipação ansiosa de um futuro incerto, reforçando as apreensões do sujeito relativas à

morte (Neimeyer, & Werth, 2005). Para o autor, as perspetivas da morte refletem mudanças

desenvolvimentais, condicionamentos culturais, orientações religiosas, e remetem para o grau

de ameaça sentido pelo indivíduo e para as características da sua personalidade.

De acordo com Neimeyer, Wittkowski e Moser (2004), cuja perspetiva corrobora com a

de Feifel (1969), as experiências de vida são cumulativas e contribuem para a evolução das

perspetivas da morte; por seu turno, estas experiências são influenciadas pela personalidade

do indivíduo.

Perspetivas da Morte e o Modelo Compreensivo da Ansiedade face à Morte

A reflexão sobre o fim da vida é um elemento essencial para se poder viver, existindo

ganhos e perdas na revisão do significado pessoal atribuído à morte. Esta revisão é

influenciada em todas as idades pelo nível de maturação cognitiva, pelas relações

interpessoais, e pelo stress. Para Damásio (2003, p. 301), «a perspetiva de sofrimento e morte

compromete o processo homeostático de quem os confronta».

No ponto de vista de Espinosa (cit. por Damásio 2003, p.311), o medo da morte é o

resultado de um «conflito entre a ideia de que o sofrimento e a morte são fenómenos

biológicos naturais que devemos aceitar com equanimidade (…) e a inclinação, não menos

natural, da mente humana de se sentir insatisfeita com essa sageza». Este medo da morte, ou

tanatofobia, pode incluir diversos aspetos como o medo da morte em si, o medo do que

poderá acontecer depois da morte, e o medo de “deixar de ser” (Barros, 2005). Com efeito, o

medo da morte encontra-se ligado ao tempo e/ou às circunstâncias, à fé ou descrença (Barros,

2005), e parece ser universal (Cox, 2006).

Na tentativa de integração dos conhecimentos filosóficos, psicológicos e empíricos que

se foram somando ao longo de décadas, Tomer e Eliason (2000a) conceberam o Modelo

Compreensivo da Ansiedade face à Morte (ver Figura 1). Este modelo identifica possíveis

determinantes da ansiedade face à morte e as relações entre eles.

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IMPORTÂNCIA DA

MORTE

Processos de Coping Crenças acerca do Self

Arrependimento com o

futuro Arrependimento com o

passado

ANSIEDADE FACE À

MORTE

Crenças acerca do

Mundo

Amplitude/Plenitude

da Palavra Morte

Figura 1 – Modelo Compreensivo da Ansiedade face à Morte [adaptado de Tomer e Eliason (2000a)].

Como se pode ver na Figura 1, existem três antecedentes diretos da Ansiedade Face à

Morte: a Amplitude/Plenitude da palavra Morte, o Arrependimento com o Passado e o

Arrependimento com o Futuro. Neste sentido, um elevado nível de Ansiedade face à Morte

será experienciado pelos sujeitos que veem a morte como algo sem sentido, pelos sujeitos que

se arrependem de não terem cumprido os objetivos definidos no passado, e pelos sujeitos que

não podem realizar os seus objetivos no futuro (Tomer, & Eliason, 2000a).

A Importância da Morte (que advém do pensamento do indivíduo sobre a sua própria

mortalidade) afeta diretamente estas variáveis, ligando-se a elas de três modos diferentes

(Tomer, & Eliason, 2000a): (i) pela ativação de sentimentos de arrependimento e

pensamentos que remetem para a Amplitude/Plenitude da palavra Morte; (ii) pela

modificação das crenças do indivíduo sobre ele próprio – Crenças acerca do Self – e/ou sobre

o mundo – Crenças acerca do Mundo; e (iii) pela ativação de uma variedade de mecanismos

de coping – Processos de Coping –, designadamente a revisão do significado pessoal da vida,

o planeamento da vida, a identificação com uma cultura, a autotranscendência, entre outros.

Conforme mencionado, neste modelo compreensivo, existem três fatores que

influenciam a Ansiedade face à Morte: a Amplitude/Plenitude da palavra Morte (na qual se

incluem as Perspetivas da Morte), o Arrependimento com o Passado e o Arrependimento com

o Futuro. Por conseguinte, as Perspetivas da Morte são diretamente influenciadas pela

Importância da Morte, pelas Crenças acerca do Self, e pelas Crenças acerca do Mundo.

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Por seu turno, os Processos de Coping moderam os efeitos nas Crenças acerca do Self e

nas Crenças acerca do Mundo. A Amplitude/Plenitude da palavra Morte refere-se ao facto da

morte fazer ou não sentido emocionalmente para um determinado sujeito (Tomer, & Eliason,

2000b). A morte ligada à possibilidade do fim da existência dos outros poderá aumentar a

Importância da Morte, mas não a Ansiedade face à Morte de modo direto (Tomer, & Eliason,

2000a).

Tomer e Eliason (2000b) constataram, num estudo realizado com idosos, que existe

uma relação positiva entre as Crenças positivas relativas ao Self, as Crenças positivas

relativas ao Mundo, e a Perspetiva de Morte como Natural. Este modelo providencia assim

algum suporte para a compreensão das relações entre a Importância da Morte, as Crenças

acerca do Self e as Crenças acerca do Mundo, as Perspetivas da Morte, e a Ansiedade face à

Morte.

De acordo com N. Tubesing e D. Tubesing (1994, cit. por Vaz Serra, 2002, p.583), uma

das grandes fontes de stress remete para as «ocorrências que surgem devido aos traços da

personalidade de dado indivíduo que o levam a reagir com o meio ambiente de determinada

maneira (…)». Os resultados obtidos em alguns estudos apontam nesse mesmo sentido,

sugerindo que os elevados níveis de ansiedade face à morte são habitualmente acompanhados

por elevados níveis de N (numa relação direta), a par da elevada preocupação, da tendência

para autoculpabilização, entre outras características (Howells, & Field, 1982; Loo, 1984;

Vargo, & Black, 1984; Westman, & Brackney, 1990, cit. por Neimeyer et al., 2004).

No estudo de Maltby (1999), a orientação religiosa intrínseca (quando a religião é algo

de pessoal e central ao indivíduo) relacionou-se com um elevado N do Eysenck Personality

Questionnaire – Revised (EPQ-R; S. Eysenck, H. Eysenck, & Barrett, 1985) e com a morte

como Além (relação moderada e positiva) (Spilka, Stout, Minton, & Sizemore, 1977). Por sua

vez, neste mesmo estudo, a orientação extrínseca relacionou-se com o N e com os sintomas

obsessivos (Maltby, 1999); a orientação extrínseca diz respeito à valorização da participação

religiosa do individuo por ser membro de um grupo poderoso que lhe proporciona proteção,

consolidação e estatuto social (Allport, & Ross, 1967). Spilka e colaboradores (1977)

encontraram correlações moderadas e significativas com a morte como sofrimento e solidão, a

morte como indiferença, a morte como desconhecido, a morte como abandono, a morte como

fracasso, e a morte como fim natural.

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Estes resultados sugerem que N se irá correlacionar positivamente com a morte nas

seguintes perspetivas: como sofrimento e solidão, como vida de Além e de recompensa, como

fracasso, como indiferença, como desconhecido, e como abandono dos que dependem de nós.

Se por um lado, as perspetivas da morte são influenciadas de modo direto pela

importância da morte, pelas crenças acerca do self, e pelas crenças acerca do mundo, por

outro, a personalidade medeia os efeitos nas crenças acerca do self e acerca do mundo

(Tomer, & Eliason, 2000b).

No que respeita às relações entre a personalidade e o modo como cada um é

influenciado por ela, é de relembrar que na importância dada à morte pelo Modelo

Compreensivo de Ansiedade face à Morte entram processos que por si só se relacionam com a

personalidade, tais como os processos de coping e a avaliação das crenças acerca do self e do

mundo, da plenitude da palavra morte, do arrependimento com o passado e com o futuro

(Tomer, & Eliason, 2000a).

Assim, sendo a personalidade um conjunto de traços que tendencialmente se mantêm

estáveis ao longo do tempo, e tendo em conta que a personalidade molda muitas das relações

do indivíduo com o meio, supõe-se que determinadas dimensões da personalidade poderão

estar relacionadas com certas perspetivas da morte.

Metodologia

Amostra

Neste estudo, participaram alunos idosos de Universidades Seniores provenientes da

Região Centro de Portugal. Os dados foram recolhidos nos Distritos de Aveiro, Coimbra,

Guarda e Viseu. Para obter uma amostra mais diversificada, optou-se por uma amostragem

polietápica (cf. Almeida, & Freire, 2003).

A amostra deste estudo foi inicialmente constituída por 151 sujeitos, dos quais 23

(15.23%) não responderam às Escalas Breves de Perspectivas da Morte, e 14 (9.27%)

obtiveram pontuações superiores às que eram esperadas (para a sua faixa etária) na escala L

do EPQ. Por conseguinte, a amostra definitiva é constituída por 114 sujeitos, 29 homens

(25.44%) e 85 mulheres (74.56%), com idades compreendidas entre os 55 e os 84 anos.

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No que diz respeito à escolaridade, 22 sujeitos (19.30%) completaram o 1º ciclo do

Ensino Básico (até à 4ª classe), 21 sujeitos (18.40%) completaram os 2º e 3º ciclos do Ensino

Básico (até ao 9º ano), 28 sujeitos (24.60%) completaram o Ensino Secundário (ou

Profissional), 41 sujeitos (36.00%) possuem Bacharelato ou Licenciatura, e 2 sujeitos (1.80%)

possuem Mestrado ou Doutoramento. Esta amostra apresenta alguma diversidade em termos

de escolaridade.

No que concerne ao estado civil, são 67 sujeitos (58.80%) casados, 27 sujeitos (23.70%)

viúvos, 13 sujeitos (11.40%) solteiros, e 7 sujeitos (6.10%) divorciados. Quanto à religião,

104 sujeitos (91.20%) são católicos e 10 (8.80%) são ateus ou agnósticos, ou possuem outra

religião (o que não inclui o Protestantismo, o Judaísmo, ou o Islamismo).

Instrumentos

A presente investigação procura estudar em alunos de Universidades Seniores as

relações entre as diversas perspetivas da morte, caracterizadas através das Escalas Breves de

Perspectivas da Morte, e as dimensões de personalidade, avaliadas por meio do Questionário

de Personalidade de Eysenck (EPQ).

As Escalas Breves de Perspectivas da Morte (Spilka, Stout, Minton, e Sizemore, 1977;

versão portuguesa, Barros, & Neto, 2004) têm 43 itens distribuídos por 8 subescalas que

avaliam os diferentes aspetos das reações emotivas face à ideia da (própria) morte. Cada

subescala tem entre 4 e 6 itens, num formato de Likert [de “totalmente em desacordo” (1

ponto) a “totalmente de acordo” (6 pontos)]. As 8 subescalas são: Morte como Sofrimento e

Solidão; Morte como Vida do Além de Recompensa; Indiferença Frente à Morte; Morte como

Desconhecido; Morte como Abandono dos que Dependem de Nós com Culpabilidade; Morte

como Coragem; Morte como Fracasso; Morte como Fim Natural.

O Questionário de Personalidade de Eysenck (EPQ; H. Eysenck, & S. Eysenck, 1975;

versão portuguesa, Castro Fonseca, Simões, & S. Eysenck, 1991) é um questionário de

personalidade com 73 itens, que avalia, através de respostas dicotómicas – “sim” ou “não” –,

as três dimensões fundamentais da personalidade: o Psicoticismo, a Extroversão e o

Neuroticismo. Este questionário contém ainda uma escala de Mentira/Desejabilidade Social, a

escala L. Os quatro fatores demonstraram ser ortogonais.

A administração dos instrumentos de avaliação foi realizada de modo individual e em

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grupo. Os dados recolhidos foram analisados com o programa estatístico SPSS versão 17.0.

Procedimentos

Na seleção da amostra, utilizou-se como critério de exclusão a pontuação na escala L

(Mentira/Desejabilidade Social) do EPQ, por esta ser uma escala de validade. Por

conseguinte, foram eliminados todos os sujeitos cuja pontuação nesta escala (L) excedeu o

limite superior do desvio-padrão [homens com idades entre 51 e 60 anos: M=11.72, DP=4.31;

mulheres com idades entre 51 e 60 anos: M=13.66, DP=3.64; homens com idades entre 61 e

70 anos: M=14.00, DP=4.93; mulheres com idades entre 61 e 70 anos: M=13.27, DP=2.20].

Devido à heterogeneidade do processo de envelhecimento, alguns aspetos foram tidos

em consideração na seleção da amostra. De acordo com as duas correntes mais importantes

sobre o envelhecimento bem-sucedido – os modelos de Rowe e Kahn (1987, 1997) e de P.

Baltes (1987; P. Baltes, Staudinger, & Lindenberger, 1999) –, uma velhice bem-sucedida

pode ser promovida através da frequência das Universidades Seniores, uma vez que o seu

principal objetivo incide na manutenção da saúde (psicológica e física), assim como da

qualidade de vida, do aumento dos conhecimentos e do desenvolvimento de modos de vida

sãos (Osorio, 2005; Monteiro, & Neto, 2008). Como refere Osorio (2005, p.280), o propósito

da gerontologia educativa é «prevenir o declínio prematuro, facilitar o desenvolvimento de

papéis significativos para as pessoas seniores, fomentar o desenvolvimento psicológico de

modo a prolongar a saúde e anos produtivos e aumentar a qualidade de vida das pessoas

seniores». Ou seja, a frequência nas Universidades Seniores vai ao encontro das condições

essenciais para um envelhecimento bem-sucedido (cf. Fontaine, 2000; Cavanaugh, &

Blanchard-Fields, 2006; Monteiro, & Neto, 2008). Por esta razão, recorreu-se a uma amostra

de alunos de Universidades Seniores para examinar as perspetivas da morte e a sua relação

com as dimensões de personalidade.

Nesta investigação, todos os alunos foram instruídos sobre os objetivos do presente

estudo, sobre a voluntariedade da sua participação, sobre a não existência de respostas certas

ou erradas, e sobre a confidencialidade dos dados recolhidos.

Na análise dos dados, consideraram-se as sugestões evocadas por Cicirelli (2002, 2006)

em relação ao medo da morte, cuja tendência pode ser mais eficientemente determinada se o

investigador distinguir os jovens idosos (com idades entre os 65 e 74 anos), os idosos (com

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idades entre os 75 e 84 anos) e os muito idosos (com idades superiores a 85 anos). Por

conseguinte, foram constituídos três grupos para examinar pormenorizadamente as relações

entre as variáveis: Grupo 1 [55-64 anos]; Grupo 2 [65-74 anos]; Grupo 3 [75-84 anos].

Resultados

Na Tabela 1, encontram-se expostas as pontuações obtidas nas Escalas Breves de

Perspectivas da Morte e no EPQ para esta amostra (N=114), em termos de médias e desvios-

padrão.

Tabela 1 – Valores médios e desvios-padrão obtidos nas Escalas de Perspectivas da

Morte e no EPQ, no total e em função dos grupos etários.

Total Grupo 1

[55-64]

Grupo 2

[65-74]

Grupo 3

[75-84]

N 114 43 47 24

M_Sof. M 17.31 15.42 18.74 17.87

DP 8.38 8.74 8.11 7.94

M_Al. M 23.01 18.56 26.38 24.38

DP 10.34 10.22 9.37 9.85

M_Indi. M 15.78 15.77 16.60 14.21

DP 6.93 6.73 7.04 7.10

M_Des. M 26.96 25.63 27.94 27.46

DP 8.47 9.56 7.46 8.30

M_Aban. M 15.60 15.35 16.45 14.38

DP 6.87 6.69 7.40 6.11

M_Cora. M 20.61 17.09 23.96 20.33

DP 9.87 9.03 9.47 10.21

M_Frac. M 14.32 13.26 15.00 14.88

DP 7.39 6.32 7.73 8.52

M_Nat. M 21.18 21.19 21.19 21.17

DP 4.26 3.91 4.65 4.24

P M 1.10 1.26 1.11 0.79

DP 1.23 1.51 1.11 0.78

E M 10.23 10.12 10.26 10.38

DP 4.19 4.67 3.83 4.13

N M 9.05 8.67 10.23 7.42

DP 4.10 4.07 4.05 3.67

Nota: M_Sof. = Morte como Sofrimento e Solidão; M_Al.= Morte como Vida do

Além de Recompensa; M_Indi.= Indiferença Frente à Morte; M_Des. = Morte

como Desconhecido; M_Aban. = Morte como Abandono dos que Dependem de Nós

com Culpabilidade; M_Cora.= Morte como Coragem; M_Frac. = Morte como

Fracasso; M_Nat. = Morte como Fim Natural; P = Psicoticismo; E = Extroversão;

N = Neuroticismo; N = participantes; M = Média; DP = Desvio-Padrão.

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Na análise das correlações, recorreu-se ao critério de Cohen (1988) para interpretar os

dados. Segundo o autor, a correlação de Pearson (r) é fraca quando o valor absoluto do

coeficiente (positivo ou negativo) se situa entre 0.10 e 0.30; é moderada quando se situa entre

0.30 e 0.50; e é elevada quando alcança valores entre 0.50 e 1.

Na Tabela 2 encontram-se as correlações obtidas entre as Escalas Breves de

Perspectivas da Morte e o EPQ, na amostra total (N=114). Deste modo, observam-se

correlações fracas (significativas) entre: a Morte como Abandono e P (r=-0.19; p<0.05); a

Morte como Além e E (r=0.20; p<0.05); a Morte como Sofrimento e N (r=0.21; p<0.05); e a

Morte como Fracasso e N (r=0.20; p<0.05).

A par disso, verifica-se uma correlação negativa e moderada (significativa) entre P e a

Morte como Desconhecido (r=-0.33; p<0.01). É de relembrar que para Tomer e Eliason

(2000b), as perspetivas da morte referem-se ao facto da morte fazer ou não sentido

emocionalmente.

Tabela 2 – Correlações das Escalas Breves de Perspectivas da Morte com EPQ na amostra global.

Escalas de Perspectivas da Morte

M_Sof. M_Al. M_Indi. M_Des. M_Aban. M_Cora. M_Frac. M_Nat.

EPQ

P a) -0.33** -0.19*

E 0.20*

N 0.21* 0.20*

* p<0.05; ** p<0.01; a) as correlações não significativas foram suprimidas.

[M_Sof. = Morte como Sofrimento e Solidão; M_Al.= Morte como Vida do Além de Recompensa;

M_Indi.= Indiferença Frente à Morte; M_Des. = Morte como Desconhecido; M_Aban. = Morte

como Abandono dos que Dependem de Nós com Culpabilidade; M_Cora.= Morte como Coragem;

M_Frac. = Morte como Fracasso; M_Nat. = Morte como Fim Natural; P = Psicoticismo;

E = Extroversão; N = Neuroticismo].

Na Tabela 3, observam-se os resultados obtidos no Grupo 1 (N=43), com os sujeitos

com idades entre os 55 e os 64 anos, que estão num período de pré-reforma. Nesta faixa

etária, apenas se verifica uma correlação negativa e moderada (significativa) entre P e a Morte

como Desconhecido (r=-0.36; p<0.05).

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Tabela 3 – Correlações das Escalas Breves de Perspectivas da Morte com o EPQ [55-64].

Escalas de Perspectivas da Morte

M_Sof. M_Al. M_Indi. M_Des. M_Aban. M_Cora. M_Frac. M_Nat.

EPQ

P a) -0.36*

E

N

* p<0.05; ** p<0.01; a) as correlações não significativas foram suprimidas.

[M_Sof. = Morte como Sofrimento e Solidão; M_Al.= Morte como Vida do Além de Recompensa;

M_Indi.= Indiferença Frente à Morte; M_Des. = Morte como Desconhecido; M_Aban. = Morte

como Abandono dos que Dependem de Nós com Culpabilidade; M_Cora.= Morte como Coragem;

M_Frac. = Morte como Fracasso; M_Nat. = Morte como Fim Natural; P = Psicoticismo;

E = Extroversão; N = Neuroticismo].

Na Tabela 4, encontram-se expostas as correlações obtidas no Grupo 2 (N=47) para a

faixa etária dos 65-74 anos. Neste grupo, as correlações são negativas e moderadas

(significativas) entre P e a Morte como Desconhecido (r=-0.43; p<0.01), e entre E e a Morte

como Natural (r=-0.32; p<0.05).

Tabela 4 – Correlações das Escalas Breves de Perspectivas da Morte com o EPQ [65-74].

Escalas de Perspectivas da Morte

M_Sof. M_Al. M_Indi. M_Des. M_Aban. M_Cora. M_Frac. M_Nat.

EPQ

P a) -0.43**

E -0.32*

N

* p<0.05; ** p<0.01; a) as correlações não significativas foram suprimidas.

[M_Sof. = Morte como Sofrimento e Solidão; M_Al.= Morte como Vida do Além de Recompensa;

M_Indi.= Indiferença Frente à Morte; M_Des. = Morte como Desconhecido; M_Aban. = Morte

como Abandono dos que Dependem de Nós com Culpabilidade; M_Cora.= Morte como Coragem;

M_Frac. = Morte como Fracasso; M_Nat. = Morte como Fim Natural; P = Psicoticismo;

E = Extroversão; N = Neuroticismo].

As correlações no Grupo 3 (N=24), com sujeitos com idades compreendidas entre os 75

e os 84 anos, são apresentadas na Tabela 5. Neste grupo, existe uma correlação positiva e

moderada (significativa) entre N e a Morte como Além (r=0.42; p<0.01).

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Tabela 5 – Correlações das Escalas Breves de Perspectivas da Morte com o EPQ [75-84].

Escalas de Perspectivas da Morte

M_Sof. M_Al. M_Indi. M_Des. M_Aban. M_Cora. M_Frac. M_Nat.

EPQ

P a)

E

N 0.42**

* p<0.05; ** p<0.01; a) as correlações não significativas foram suprimidas.

[M_Sof. = Morte como Sofrimento e Solidão; M_Al.= Morte como Vida do Além de Recompensa;

M_Indi.= Indiferença Frente à Morte; M_Des. = Morte como Desconhecido; M_Aban. = Morte

como Abandono dos que Dependem de Nós com Culpabilidade; M_Cora.= Morte como Coragem;

M_Frac. = Morte como Fracasso; M_Nat. = Morte como Fim Natural; P = Psicoticismo;

E = Extroversão; N = Neuroticismo].

Para verificar se existem diferenças estatísticas significativas entre os grupos – Grupo 1

[55-64] (N=43), Grupo 2 [65-74] (N=47), Grupo 3 [75-84] (N=24) –, em relação às diversas

variáveis em análise, aplicou-se o método do Teste t (t-student test) e o método do Teste U de

Mann Whitney.

No que respeita às perspetivas da morte, os resultados obtidos confirmam a existência

de algumas diferenças significativas entre o Grupo 1 [55-64] e o Grupo 2 [65-74]: na Morte

como Além [t(88)=-3.584; p<0.001] (Grupo 1: M=18.56; DP=10.22; Grupo 2: M=26.38;

DP=9.37) e na Morte como Coragem [t(88)=-3.538; p<0.001] (Grupo 1: M=17.09; DP=9.03;

Grupo 2: M=23.96; DP=9.47). Por conseguinte, neste estudo, os sujeitos com idades

compreendidas entre 65 e 74 anos acreditam mais na Morte como Além e perspetivam mais a

Morte como Coragem.

Para equilibrar o tamanho das amostras nas comparações com o Grupo 3 [75-84]

(N=24), optou-se por aleatorizar os sujeitos das amostras (Grupo 1 e Grupo 2) através do

SPSS. Seguidamente, aplicou-se o teste U. As amostras comparadas (Grupo 1, Grupo 2,

Grupo 3) são constituídas por 24 sujeitos cada.

Deste modo, verificou-se uma diferença estatística significativa na Morte como Além

entre o Grupo 1 [55-64] (M=16.17; DP=9.39) e o Grupo 3 [75-84] (M=24.38; DP=9.85).

Neste estudo, o nível de significância do teste U de Mann-Whitney [U=160.00; p<0.01]

revelou que os sujeitos do Grupo 3 [75-84] acreditam mais na Morte como Além do que os

sujeitos do Grupo 1 [55-64].

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Com estes resultados, pode-se concluir que o grupo que menos acredita na Morte como

Além é o Grupo 1 [55-64]. No que respeita às restantes análises, os resultados obtidos na

comparação das perspetivas da morte em função dos grupos etários não foram significativos.

Discussão

De um modo geral, os resultados desta pesquisa sugerem a existência de relações entre

determinadas perspetivas da morte e as dimensões de personalidade avaliadas, ainda que as

correlações encontradas sejam de intensidade moderada: o Neuroticismo relaciona-se de

modo positivo com a Morte como Vida de Além de Recompensa, a Extroversão relaciona-se

de modo negativo com a Morte como Fim Natural, e o Psicoticismo relaciona-se de modo

negativo com a Morte como Desconhecido.

No grupo de sujeitos com idades entre os 55 e os 64 anos apenas se verifica uma

correlação negativa entre o Psicoticismo e a Morte como Desconhecido. Na faixa etária dos

65-74 anos, verificam-se correlações negativas entre o Psicoticismo e a Morte como

Desconhecido, e entre a Extroversão e a Morte como Fim Natural. No grupo dos sujeitos mais

idosos, com idades entre os 75 e os 84 anos, verificou-se uma correlação positiva entre o

Neuroticismo e a Morte como Vida de Além de Recompensa.

Os sujeitos que mais acreditam na Morte como Vida de Além de Recompensa e que

encaram a Morte como Coragem pertencem ao Grupo 2 [65-74]. Em relação à Morte como

Vida de Além de Recompensa, não existem diferenças entre o Grupo 2 [65-74] e o Grupo 3

[75-84], sendo que os sujeitos deste último grupo também acreditam mais na Morte como

Vida de Além de Recompensa do que os sujeitos do Grupo 1 [55-64].

No que concerne à personalidade, a correlação positiva obtida no presente estudo entre

o Neuroticismo e a Morte como Vida de Além de Recompensa para o Grupo 3 [75-84] vai ao

encontro dos dados do estudo de Thorson e Powell (1994). Estes autores verificaram que os

idosos (66-88 anos), quando comparados com os sujeitos de outras faixas etárias, tendem a

identificar-se mais com as perspetivas relativas à perda de controlo e à existência de uma vida

no Além. No entanto, como estes autores não tiveram em conta a consideração de Cicirelli

(2006), não se pode dizer que os resultados, independentemente dos testes utilizados, foram

iguais nas faixas etárias destes dois estudos, pois a amplitude da faixa etária dos idosos

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considerados por Thorson e Powell (1994) foi maior e os dados do Grupo 2 [65-74] não

confirmam esta tendência.

O elevado Neuroticismo predispõe o indivíduo para apresentar com facilidade estados

afetivos desagradáveis e para lidar de modo inadequado com os problemas, sentindo um

grande mal-estar em situações de stress (Vaz Serra, 2000). Ora, ao possuir um elevado

Neuroticismo, a crença de uma vida eterna fomentada pela religião poderá ser reconfortante

para o sujeito lidar com a sua própria morte (Malinowski, 1948, cit. por Cox, 2006). A relação

encontrada entre o Neuroticismo e a Morte como Vida de Além de Recompensa parece ir ao

encontro de outros estudos (por exemplo, Maltby, 1999; Spilka, Stout, Minton, & Sizemore,

1977).

A correlação negativa entre o Psicoticismo e a Morte como Desconhecido poderá ser

explicada através da visão/conceção da morte como misteriosa e ambígua (cf. Spilka et al.,

1977). Os resultados da presente pesquisa indicam que quanto maior o nível de Psicoticismo,

menor será a tendência do sujeito para ver a morte como desconhecida, misteriosa e ambígua.

Estes dados poderão estar relacionados com a natureza da dimensão de Psicoticismo, a qual

caracteriza os indivíduos que são frios, distantes e que gostam de coisas pouco habituais

(entre outros traços); esta questão também poderá ser explicada pela reduzida emotividade

(inibição emocional) dos sujeitos com um elevado Psicoticismo (H. Eysenck, & M. Eysenck,

1985).

Apenas no Grupo 2 [65-74] se verifica uma correlação negativa entre a Extroversão e a

Morte como Fim Natural. Ver a morte deste modo significa vê-la como uma conclusão

natural da vida, como um ponto terminal (Spilka et al., 1977). Ora, se o indivíduo extrovertido

se caracteriza por ser sociável, animado, ativo e aventureiro (H. Eysenck, & M. Eysenck,

1985), ver a morte como uma conclusão natural ou como um ponto terminal para quem é

ativo parece, segundo mostram os resultados deste estudo, pouco viável. Neste sentido,

quanto mais extrovertido for o indivíduo, menor a sua tendência para conceber a Morte como

Fim Natural. Em consequência, os indivíduos introvertidos (baixo nível de Extroversão), por

serem calmos, passivos, cuidadosos, pensativos, mentalmente ativos e introspetivos (Wilson,

1986), terão mais tendência para perspetivar a Morte como Fim Natural. É de relembrar que

ver a morte como um fim natural, ou seja aceitar a morte, é considerado como um marco de

verdadeira maturidade (Cox, 2006).

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A presente investigação possui algumas limitações. Neste âmbito, pretendia-se realizar

análises referentes ao género, mas os sujeitos avaliados do sexo masculino estão

representados em menor número nas Universidades Seniores (ou seja, existem mais mulheres

a frequentá-las). Por outro lado, procurou-se obter uma amostra diversificada em termos de

habilitações literárias e de estado civil, recolhendo dados em diversos pontos da Zona Centro

de Portugal. No entanto, a amostra não foi suficientemente grande e diversificada para efetuar

as análises respeitantes a estas variáveis.

No que concerne à aplicação dos instrumentos sentiu-se alguma dificuldade na

compreensão das Escalas Breves de Perspectivas da Morte e registaram-se algumas queixas

dos idosos quanto à duração do protocolo. O que vem realçar a necessidade de se adaptarem

mais instrumentos adequados às características desta franja da população, que sejam

relativamente breves, com um português claro e com boas propriedades psicométricas.

Futuramente será interessante colmatar as limitações deste trabalho e estudar outros

constructos no domínio das perspetivas da morte nos idosos, como a ansiedade, a depressão, o

locus de controlo, a ansiedade face à morte, e as estratégias de coping.

De um ponto de vista prático, a importância do estudo da morte reside no facto desta

constituir um dos alicerces para o acompanhamento do doente terminal, para a educação

tanatológica, para a possibilidade de uma redução do medo face à morte no indivíduo através,

por exemplo, do aumento da revisão do significado pessoal da vida ou autotranscendência.

Deste modo, o estudo da morte permite obter uma educação tanatológica mais personalizada e

orientada para as necessidades individuais da pessoa. O seu estudo permite também uma

formação mais adequada dos agentes que trabalham na área de geriatria para que estejam

sensibilizados em relação a esta temática, proporcionando um maior bem-estar e tranquilidade

aos idosos.

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Death Perspectives and Personality in the Elderly

Abstract

The present investigation was primary focused on the analysis of the senior student’s death

perspectives and its possible relationship with the personality. A sample of 114 senior

subjects participated in this study. The instruments of psychological assessment used were the

Eysenck Personality Questionnaire (EPQ), and the Death Perspectives Scale. These

instruments were applied to the subjects on Senior Universities in the Central Region of

Portugal.

The obtained results show that Neuroticism has a positive relation with the death as an

alterlife-of-reward scale, Extraversion has a negative relation with death as a natural end

scale, and Psychoticism has a negative relation with the death as unknown scale. In spite of

these correlations were statistically significant, they had a moderated intensity. The results

have shown the importance of producing more studies about these issues and the necessity on

the adaptation of some psychological instruments to assess them or the necessity on the

construction of new ones. They must be more adequate to this kind of population, clearer,

with quick application, and they must have good psychometric properties.

Keywords: elderly; successful aging; death perspectives; personality.

Como citar este artigo: Marques-Costa, C., & Barros, J. (2013). Perspetivas da morte e personalidade em

idosos [Temas em Psicologia do Envelhecimento (Vol.I)]. Revista E-Psi, 3(1), 118-138.

Received: January 2, 2013 Revision received: March 15, 2013 Accepted: September 23, 2013

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