TECNOLOGIAS COMPUTACIONAIS: aplicativos multimídia para registro e difusão do patrimônio histórico arquitetônico Fábio de Almeida* e Regina A. Tirello ** * Drdo. Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da UNICAMP. É docente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Paulista (UNIP), São José dos Campos e da Faculdade de Engenharia, Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP), São José dos Campos. [email protected]** Docente da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp (Arquitetura- UNICAMP) e especialista doutora em conservação e restauro do Centro de Preservação Cultural da Universidade de São Paulo (CPC-USP). [email protected], [email protected]SEÇÃO TEMÁTICA: Novas Tecnologias de informações aplicadas ao estudo da cidade. RESUMO Este trabalho apresenta à discussão avaliações, métodos e técnicas de documentação e difusão do patrimônio arquitetônico realizados por meio de tecnologias computacionais. Tomando- se como base os sistemas de inventariação de edifícios e conjuntos tradicionalmente adotadas por órgãos preservacionistas, neste texto busca-se apresentar outras vertentes de abordagem e propor reflexões sobre as potencialidades e limitações das tecnologias digitais como técnica de levantamento e registro documental fidedigno de objetos arquitetônicos que integram nossa herança cultural. Discute-se uma possível e positiva interface entre a gráfica digital e a representação da arquitetura histórica por meio de estudos de caso de levantamentos e inventários digitais de edifícios de duas cidades do Vale do Paraíba Paulista, São José dos Campos e Jacareí. Reunindo desenhos, registros fotográficos dinâmicos, animações tridimensionais e outras informações pertinentes aos bens em foco, as experiências realizadas nestas duas cidades resultaram na criação de aplicativos multimídia disponível em CD-ROM e via internet constituindo site específico em desenvolvimento. Além da documentação e difusão pública de características diversas de edifícios antigos e modernos de interesse cultural com a apresentação destes trabalhos busca-se associar levantamentos arquitetônicos às novas formas de percepção e representação da cidade visando a valorização e preservação do patrimônio cultural construído. Palavras-Chave: Inventário Digital do Patrimônio, Patrimônio Arquitetônico, Representação Gráfica Digital.
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TECNOLOGIAS COMPUTACIONAIS: aplicativos multimídia para registro e difusão do patrimônio histórico arquitetônico
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TECNOLOGIAS COMPUTACIONAIS: aplicativos multimídia para registro e difusão
do patrimônio histórico arquitetônico
Fábio de Almeida* e Regina A. Tirello **
* Drdo. Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da UNICAMP. É docente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Paulista (UNIP), São José
dos Campos e da Faculdade de Engenharia, Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP), São José dos Campos.
** Docente da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp (Arquitetura-UNICAMP) e especialista doutora em conservação e restauro do Centro de Preservação Cultural da
(planta, fachada, cortes, etc.) e o modelo digital, que permite a visualização de todo o edifício
(Figura 1).
Figura 1 - Tela do aplicativo que permite a consulta das informações sobre os edifícios. Imagem: Fabio de
Almeida, 2009.
A partir de 1999 o projeto foi ampliado. Mais prédios foram incluìdos na pesquisa,
ocasião em que agregamos novos recursos de levantamento e registro digital tais como fotos
panorâmicas de 360º, o uso da fotogrametria[4] e da prototipagem rápida[5]. O CD-ROM
ganhou uma nova edição, porém agora em formato html, que permitiu veiculação na na
internet.
Em 2004 a mesma metodologia foi aplicada para constituição de um acervo de
informações digitais sobre o patrimônio arquitetônico do município de Jacareí, desta vez
contemplando edifícios também protegidos pelo CONDEPHAAT (Conselho de Defesa do
Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo) e pelo
conselho municipal da cidade.
Esse dois levantamentos continuam sendo atualizados , pois o caráter replicável da
metodologia de composição das páginas aberta do aplicativo multimídia (em formato html)
permite constante evolução e revisão dos dados, além de inserção de outras edificações e
inclusão de mais informações e produtos nos aplicativos multimídia.
Figura 2-Telas do aplicativo que mostra a fotografia da Estação Ferroviária Martins Guimarães em
avançado estado de degradação e ao lado a imagem do “restauro digital” da mesma estação. Imagem: Fabio de Almeida, 2009.
Esses trabalhos podem ser vistos pela internet no endereço eletrônico
www.fabioalmeida.xpg.com.br.
MÉTODOS E ETAPAS DE TRABALHO
A representação digital dos objetos desenvolvida teve como ponto de partida o
levantamento arquitetônico, que realiza ou averigua, quando já existem, as medidas dos
edifícios. O trabalho de mensuração e representação inicial foi complementado por registros
fotográficos, que possibilitaram por sua vez a visualização em detalhes de todas as faces das
construções. As fotos antigas foram utilizadas para referenciar “simulações digitais“ de
elementos originais desaparecidos ou destruídos de cada prédio, propiciando “restauros digitais”
alicerçados em documentos fidedignos (Figura 2). A fotogrametria foi empregada em casos nos
quais os métodos tradicionais de medição não eram possíveis: quando haviam muitos elementos
faltantes nas edificações ( conhecidos apenas em fotografias) e mesmo em caso de inviabilidade
de contato físico com parte dos objetos, seja pelo avançado estado de degradação ou por suas
características de implantação.
A partir da obtenção dos conjuntos de dados , criaram-se as primieras peças gráficas
fundamentais com o auxilio do software AutoCAD, como plantas, cortes e fachadas. Em
seguida, usando-se o software 3D Studio, criaram-se modelos geométricos digitais com os quais
pode-se recompor virtualmente, além dos elementos originais desaparecidos ou destruídos,
outras características distintivas dos prédios, tais como a combinação de cores primitiva, sempre
tomando como base para a reconstituição as medidas de campo, a pesquisa fotográfica e os
estudos de prospecção realizados.
Figura 3 - Produtos digitais resultantes do levantamento arquitetônico e da modelagem geométrica da Capela Nossa Senhora Aparecida em São José dos Campos. Imagem: Fabio de Almeida, 2005.
Com o programa Panorama Factory[6] foram criadas visualizações panorâmicas (360
graus) que permitem o registro visual dos ambientes com um grau de interatividade
surpreendente. Além de se constituírem em recurso de grande apelo lúdico - como alternativa
complementar de visitação virtual dos edifícios e conjuntos arquitetônicos –, essas panorâmicas
são importantes ferramentas de projetos preservacionistas. Na medida em que compõem
visualizações completas do entorno das edificações permitirem melhores avaliações do impacto
de futuras intervenções sobre o patrimônio edificado. Se feitas periodicamente, as panorâmicas
podem ajudar na gestão desses bens ao registrarem alterações na área envolvente dos edifícios.
Figura 4 - Tela do programa Panorama Factory em processo de criação da imagem panorâmica da Estação
Ferroviária Central de São José dos Campos. Imagem: Fabio Almeida, 2004.
Nestas pesquisas a prototipagem rápida (plotter 3D) foi adotada para a criação de
modelos físicos de edifícios que apresentavam severa descaracterização ou estavam em estado
avançado de deterioração.Este recurso computacional oferece, além da representação física do
modelo tridimensional que apóia a análise formal e estudo das características arquitetônicas,
outras aplicações educativas. No âmbito das ações educativas destacamos as oficinas de
educação patrimonial, realizadas com estudantes do ensino fundamental e de graduação em
arquitetura e urbanismo em São José dos Campos, nas quais os participantes puderam montar
maquetes físicas (de papel), produzidas por meio da impressão da representação gráfica
planificada dos modelos digitais.
Figura 5 – Acima, tela do aplicativo AutoCAD com o modelo geométrico planificado da residência do H19. Abaixo à esquerda, a maquete física da residência do H19 e à direita a maquete física da Capela de São Miguel, ambas realizadas
por meio da impressão em papel da planificação de seus modelos digitais. Imagens: Fabio de Almeida, 2009.
Para a realização da pesquisa histórica e documental foram consultados os arquivos
públicos municipais, estaduais e também acervos particulares. Os dados históricos delas
decorrentes tiveram papel fundamental na concepção do banco de dados por
proporem/associarem-se às informações técnicas dos edifícios.
RESULTADOS: os aplicativos multimídia e a preservação arquitetônica.
Com a constituição de um considerável acervo de informações gráficas geradas nos
levantamentos do patrimônio arquitetônico de São José dos Campos e Jacareí criaram-se aplicativos
multimídia disponíveis em CD-ROM e via Internet, que sintetizam de forma simples e clara um
grande numero de informações sobre os edifícios estudados. Entre outros resultados mais evidentes,
como “restauro digital” de edifícios degradados, tais aplicativos oferecem-se à estudos técnicos e à
diversas aplicações educativas.
A utilização de aplicativos multimídia, ao propiciarem a reunião virtual de conjunto de
informações muito específicas em um mesmo arquivo de consulta podem vir a propiciar
encadeamentos mais lógicos do fluxo histórico que estes objetos e estruturas testemunham. A
criação, por exemplo, de um arquivo de dados históricos, tridimensional, por meio do qual os
consulentes possam conhecer melhor o agenciamento de espaços, ainda que virtualmente,
enriquecerão seu repertório sobre os modos de vida e organização da sociedade que os produziu e
utilizou.
Nos resultados aqui apresentados, sem desconsiderar os dados historiográficos que estas
reconstituições devem engendrar e expressar, buscou-se dar aos aplicativos elaborados um formato
atrativo que ao mesmo tempo propicia consultas dinâmicas, fáceis e acessíveis a um número maior
de pessoas contribuído para afirmação de mentalidade preservacionista.
Também no campo específico de estudos técnicos, para a conservação e restauro
arquitetônico, cada vez mais a reconstituição gráfica computacional tem se caracterizado como
ferramenta importante para a realização de sínteses gráficas, úteis para estudo e entendimento da
história construtiva de edifícios antigos.
Existem no Brasil diversos profissionais que trabalham com recursos da computação para
explicitar melhor os resultados de complexos estudos interdisciplinares pertinentes à arqueologia da
arquitetura, que apóiam-se, entre outras bases, em estratigrafias verticais e exames micro analíticos
dos materiais constitutivos dos edifícios (TIRELLO, 2008).
O testemunho representado pelos materiais constituintes das construções antigas, as
transformações ambientais, estruturais, morfológicas e programáticas que ocorreram ao longo de
sua existência normalmente apresentam lacunas informativas e constantemente não são evidentes
ou lógicas para aqueles que desejam estuda-las. Neste sentido, a computação a serviço da
demonstração de cronologias arquitetônicas tem se prestado à evidenciar para um numero maior de
profissionais questões pertinentes às transformações do espaço, do histórico conservativo dos
prédios orientando positivamente tomadas de decisões em projetos de restauração.
Frisa-se ainda que as intervenções de restauro, mesmo quando são documentadas, muitas
vezes acabam comportando certa destruição, ocultando, ou até mesmo cancelando, evidências de
materiais que interessariam à estudos de arqueologia da arquitetura.
A interface da computação gráfica com a arqueologia da arquitetura se dá fundamentalmente
a partir das possibilidades que a primeira oferece para a otimização, organização, coleta e difusão
de dados coligidos em trabalhos de campo, bem como na possibilidade de simulação - não como
meio de reprodução formal - virtual de “um ou mais estados de originalidade” das construções
antigas, contribuindo efetivamente para o aprofundamento de pesquisas a respeito da cultura
material das sociedades, que muito interessam a outras disciplinas como a antropologia, a etnologia,
história da arte dentre outras.
Figura 6 - Imagem dos desenhos da residência do H19 (Acervo do CTA, 1950) e tela do
aplicativo multimídia que apresenta o desenho digital. Imagem: Fabio de Almeida, 2009.
CONCLUSÃO
Analisando o processo de representação gráfica digital 2D e 3D e suas aplicações para
estudo histórico retrospectivo da arquitetura e contrapondo-se a análise simplista de sua utilização
corrente - geralmente relacionada à reprodução de casas antigas ou apresentação de projetos
contemporâneos - afirma-se a importância da reconstituição virtual para estudo da concepção
espacial, da planimetria e das ambientações configuradas no passado.
Todavia é impossível chegar a resultados científicos satisfatórios se a representação gráfica
computacional não for embasada em estudos multidisciplinares que produzam subsídios suficientes
para sua constituição.
A categoria de representação gráfica digital adequada para representação do patrimônio
histórico construído estrutura-se a partir de seqüências específicas de estudo: avaliações empíricas
de campo, levantamentos fotográficos precisos, sondagens superficiais, prospecções arqueológicas,
levantamentos métrico e arquitetônico, registro de materiais e técnicas construtivas além das
ZANCHETI, Silvio Mendes. O ciberespaço e o patrimônio cultural. Gestão do patrimônio
cultural integrado - Gestión del patrimonio cultural integrado. Pernambuco: CECI - Editora da
Universidade de 2002.
Sobre os autores
1)Fábio de Almeida Drdo. Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da UNICAMP; É docente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Paulista (UNIP), São José dos Campos e da Faculdade de Engenharia, Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP), São José dos Campos.
2) Regina A.Tirello
É doutora em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (1999), É docente da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp (Arquitetura-UNICAMP) dedicando-se a disciplinas de preservação da arquitetura, e especialista doutor em conservação e restauro de bens arquitetônicos e integrados do Centro de Preservação Cultural da Universidade de São Paulo (CPC-USP). Tem diversas publicações na área.