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Tcnicas construtivas do perodo colonial IPublicado em 06/09/2010
| 8 Comentrios
Slvio Colin
Foto Pedro Martinelli
A alvenaria uma tcnica de confeco de muros utilizando tijolos,
lajotas ou pedras de mo,
aglutinados entre si por meio de uma argamassa. No perodo do
Brasil colonial as argamassas mais
utilizadas eram de cal e areia ou de barro.
O adobe uma lajota feita de barro com dimenses aproximadas de 20
x 20 x 40 cm, compactados
manualmente em formas de madeira, postos a secar sombra durante
certo numero de dias e depois
ao sol. O barro deve conter dosagem correta de argila e areia,
para no ficar nem muito quebradia,
nem demasiadamente plstica. Para melhorar sua resistncia,
pode-se acrescentar fibras vegetais ou
estrume de boi. As lajotas assim confeccionadas so assentadas
com barro, e revestidas com reboco
de argamassa de cal e areia. Embora encontremos importantes
construes feitas inteiramente de
adobe, como a matriz de Santa Rita Duro, MG[1], o material era
usualmente reservado a div isrias
interiores.
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Fig. 1 Adobe. Confeco e assentamento
Usando a mesma matria prima a argila, o tijolo cermico difere do
adobe pelas suas dimenses
menores e pelo fato de ser cozido em fornos, a altas
temperaturas. Sua durabilidade o rivaliza com a
pedra. Foi talvez o primeiro material de construo durvel
utilizado pelo homem. Alis, mesmo o
homem fora feito de argila, de acordo com a Bblia, que ensinava
a utiliz-lo [2],e sua presena
assinalava para a possibilidade de v ida sedentria, junto aos
aluv ies dos rios. O Porto de Ishtar, na
Babilnia, do sculo IV a.C. e a Muralha da China, do sculo III
a.C., constituem-se em exemplos no
somente da durabilidade como tambm do grau de evoluo a que
chegou esta tcnica no perodo
proto-histrico. Desde o sculo XVII, o tijolo era comumente
empregado na Bahia e em 17 11 j
existe registro de uma olaria em Ouro Preto. A precariedade de
condies, entretanto, reservava a
maior parte da produo das olarias para telhas. As alvenarias de
tijolos somente vo se tornar
comuns no sculo XIX. Nos sculos precedentes perde, em importncia
para a taipa de pilo, a pedra
e cal, e mesmo o adobe. Encontramos, entretanto, fiadas de
tijolos associadas pedra em muros de
pedra e cal.
Fig. 2 Alvenaria de tijolos. Aparelhos.
Era o material que conferia maior resistncia aos muros, razo
porque era utilizada nas fortificaes,
igrejas monumentais e nas construes oficiais. No incio da
colonizao, ainda no sculo XVI, j
encontramos construes assim realizadas. o caso da torre que
Duarte Coelho ergueu em Olinda
em 1535. Foi a tcnica preferida das igrejas de Ouro Preto
[3].
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Fig. 3 Alvenaria de pedra
As pedras utilizadas eram calcrios, arenitos ou pedra de rio e
granitos , no Rio de Janeiro, e mesmo
a pedra-sabo e a canga [4], em Minas. As argamassas eram cal e
areia, mais resistente, ou o barro,
onde no existia a disponibilidade de cal. As pedras eram de
tamanho varivel, at 40 cm na maior
dimenso ou mais, e acabamento irregular, sem qualquer trabalho
de aparelhagem. Pedras menores
eram colocadas para calar as maiores.
Na alvenaria de pedra seca, dispensada a argamassa. As paredes
tm grande espessura (0,60 a 1 ,00
m) e so assentadas com a ajuda de formas de madeira. Esta tcnica
mais utilizada para muros
exteriores. As pedras de mo, maiores, contornadas por pedras
menores recebe o nome de
cangicado.
Fig. 4 Canjicado.
Por cantaria entendemos o serv io utilizando a pedra lavrada de
maneira precisa, de modo que as
peas se ajustam perfeitamente umas sobre as outras sem o auxlio
de argamassa aglutinante. Para o
assentamento rigoroso utilizam-se grampos metlicos e, s vezes,
leo de baleia como adesivo, para
auxiliar na vedao. Apesar de ser um serv io sofisticado, que
exige profissional bastante habilitado
o canteiro, tambm milenar. Os templos gregos e romanos, as
grandes catedrais medievais
foram, em sua maioria, executados em cantaria.
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Fig. 5 Aparelho de cantaria e aparelho misto de cantaria e
alvenaria de pedra.
No Brasil, entretanto, como tambm em Portugal, dev ido
dificuldade de mo de obra qualificada e
tambm devido ao custo, a cantaria no era utilizada na totalidade
do edifcio, mas apenas em suas
partes mais importantes: nos frontispcios, nas soleiras, nas
pilastras, nas cornijas, nos portais, nas
janelas e nos cunhais, sendo, no restante das vedaes, utilizada
outra tcnica mural. O aparelho das
pedras no era muito elaborado, exceto no Rio de Janeiro, a
partir da segunda metade do
sculo XVIII.
Fig 6. Portal de cantaria. Imagem RODRIGUES, 197 9.
A taipa de pilo foi o material mais empregado nas construes
coloniais no Brasil, dev ido
sobretudo abundncia de matria prima o barro vermelho, relativa
facilidade de execuo,
satisfatria durabilidade [5] e s excelentes condies de proteo
que oferece quando recebem
manuteno adequada. uma tcnica de origem mourisca praticada pelos
portugueses e espanhis
desde tempos imemoriais, conhecida tambm pelos negros africanos.
Era de uso comum na Europa,
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at meados do sculo XIX. Na Frana recebia o nome de pis.
Fig. 7 Taipal e pilo. Imagem BARDOU, 1981, p. 19
A tcnica consiste em amassar com um pilo o barro colocado em
formas de madeira, os taipais,
semelhantes s formas de concreto utilizadas hoje. Os taipais tm
somente os elementos laterais, e
so estruturados por tbuas e montantes de madeira, fixados por
meio de cunhas, em baixo, e um
torniquete em cima. Suas dimenses so de aproximadamente 1 ,0 m
de altura por 3,0 a 4,0 m
lateralmente, e tm a espessura final da parede, 0,6 m a 1 m. Aps
a secagem, o taipal desmontado
e deslocado para a posio v izinha. E assim sucessivamente.
Fig. 8 Execuo da taipa de pilo. Imagem BARDOU, 1981, p. 20.
Os critrios de escolha do barro no se conservaram plenamente, de
vez que dependia de tradio
oral e ficou perdida no tempo. Sabe-se que, semelhante ao adobe,
deve ser uma mistura bem dosada
de argila e areia e alguma fibra vegetal, crina de animal ou
mesmo estrume. Podia-se tambm
misturar leo de baleia, que conferia uma resistncia
extraordinria [6]. O barro colocado em
pequenas quantidades, em camadas sucessivas de aproximadamente
20 cm, que se reduzem a 10 ou
15 cm depois de comprimidas.
A secagem durava de 4 a 6 meses, findos os quais as paredes
poderiam receber revestimento,
geralmente argamassa de cal e areia, que lhe aumentava a
resistncia. A esta argamassa era, s vezes
acrescentada bosta de vaca. O resultado era uma argamassa capaz
de resistir mais forte e
duradoura chuva [7 ]. Como a parede no podia receber gua de
chuva, alguma prov idncias eram
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tomadas, entre elas o uso de grandes beirais e a elevao acima do
terreno com alvenaria de pedra.
Paulo Santos nos fala de uma construo existente em Cabo Frio,
datando de pelo menos trs
sculos, de taipa de pilo, cuja resistncia to grande, a ponto de
se assemelhar ao nosso
concreto [8] Uma variante do sistema, chamado formigo [9],
consiste em misturar massa de
barro pedras midas e pedras maiores (pedras de mo).
A taipa de pilo foi mais utilizada nas regies de So Paulo e
Gois. Em Minas, a encontramos em
igrejas mais antigas e em residncias. Nas cadeias, quando no era
possvel sua execuo com pedra
e cal, a taipa era reforada com engradamento de madeira, nas
paredes e nos pisos.
Fig. 9 Taipa de pilo reforada com madeira, utilizada nas
cadeias. Fonte BARRETO, P. T. Casas de
cmara e cadeia In: Arquitetura Oficial I,
Pau-a-pique, taipa de sebe, taipa de mo, barro armado ou taipa
de sopapo, so diversos nomes
para um dos sistemas mais utilizados tanto nos tempos da colnia
como ainda hoje em construes
rurais, dev ido a suas qualidades baixssimo custo (todos os
materiais so naturais), resistncia e
durabilidade. Conhecido dos indgenas e dos negros africanos,
utilizado no Nordeste, nos Massaps
e em Minas.
Fig. 10 Construo em pau-a-pique rustica. Imagem BARDOU, 198, p.
49.
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Na sua verso mais depurada, consiste em uma estrutura mestra de
peas de madeira, cuja seo
pode variar 50 x 50 cm, 40 x 40 cm at 20 x 20 cm composta de
esteios peas verticais enterradas
no solo, baldrames peas horizontais inferiores, e frechais peas
horizontais superiores. Os
esteios tem comprimento de at 15 m, dos quais 2 a 4 m so
enterrados.
Fig. 11 Construo em pau-a-pique apurada. Detalhe. Imagem SANTOS,
1951
A parte extrema dos esteios, que ficava enterrada no era
afeioada em seo quadrada, mantendo a
forma rolia das rvores. Era popularmente denominada nabo. As
madeiras preferidas era a Aroeira
ou Brana. Os baldrames era ligados aos esteios por sambladuras
tipo rabo-de-andorinha. Entre os
esteios e os frechais eram ento colocados paus rolios verticais
(paus-a-pique), de
aproximadamente 10 cm de dimetro. A este eram ligados
horizontalmente outros mais finos,
compondo uma malha quadrangular, em apenas um dos lados ou nos
dois lados. Esta trama era
amarrada com cordes de seda, linho, cnhamo ou buriti. Feita a
trama, o barro era jogado e
apertado com as mos, da o nome de sopapo.
Fig. 12 Elementos de estrutura em pau-a-pique apurada. Imagem
SANTOS, 1951
No caso de paredes muito altas, utilizam-se peas intermedirias
entre o baldrame e o frechal,
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denominadas madres [10]. Sob os baldrames esto os socos, o espao
preenchido com alvenaria,
funcionando apenas para vedao. Para reforo do baldrame, entre
este e o solo, pode-se colocar
peas de madeira, denominadas burros.
Paulo Santos nos informa de diversas igrejas de Minas construdas
por esta tcnica: Santa Rita e
Nossa Senhora do , em Sabar, Matriz de Nossa Senhora da Conceio,
em Catas Altas, Nossa
Senhora das Mercs, em Mariana, Nossa Senhora das Mercs e Perdes
em Ouro Preto [11].
Era a tcnica muito utilizada tambm para div isrias internas,
sobretudo nos pav imentos elevados,
em construes cujas paredes externas eram de taipa de pilo.
Em tudo semelhante ao sistema anterior no que se refere
estrutura principal, dele difere quanto
vedao. Neste caso o vo entre os esteios, estes tambm denominados
enxaimis, e as madres,
baldrames e frechais, reforado com peas inclinadas nos cantos ou
na diagonal dos quadros. Estas
peas tm o nome de cruz de Santo Andr ou aspas francesas. O vo
preenchido com adobe ou
mesmo tijolos. Esta tcnica tambm milenar, utilizada na Europa
medieval, e muito popular no sul
do pas. Mas tanto Paulo Santos como Sy lv io de Vasconcelos
registram a utilizao em outras
regies.
Fig. 13 Muro de enxaimel. Imagem BARDOU, 1981
Tabique uma div isria feita com estrutura de v igas de madeira e
revestimento de tbuas. um
serv io e grande simplicidade e facilidade de execuo, utilizado
no Brasil colonial sobretudo para
div isrias internas. As madeira utilizadas so as mesmas das
estruturas de maior responsabilidade,
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isto , aroeira, ip, peroba, maaranduba, jatob, e tambm aquelas
de menor densidade como o
cedro, a canela, o v inhtico, a cav ina, entre outras. Esta
grande simplicidade entretanto no quer
dizer que lhe foi reservado papel de menor responsabilidade. O
exemplo mais marcante , sem
dvida, o da Matriz de Nossa Senhora do Pilar, de Ouro Preto,
cujas paredes externas so de
alvenaria de pedra e a parede da nave, de madeira,
conferindo-lhe a forma poligonal.
Fig. 14 Tabique. Imagem www.masisa.com
Fig. 15 Planta da matriz de Nossa Senhora do Pilar, em Ouro
Preto com as div isrias da nave
construdas em tabique. Imagem SANTOS, 1951
Notas
[1] BAZIN, 1956, Vol. 1 , p. 58.