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1 INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RIO GRANDE DO SUL - CAMPUS BENTO GONÇALVES Giovanni Carraro O USO DO SITEMA LAZO TPC EM VIDEIRAS VINÍFERAS Bento Gonçalves 2010
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TCC Giovanni Carraro

Jan 07, 2017

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LêHạnh
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Page 1: TCC Giovanni Carraro

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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RIO GRANDE DO SUL - CAMPUS BENTO GONÇALVES

Giovanni Carraro

O USO DO SITEMA LAZO TPC EM VIDEIRAS VINÍFERAS

Bento Gonçalves

2010

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Giovanni Carraro

O USO DO SITEMA LAZO TPC EM VIDEIRAS VINÍFERAS

Artigo apresentado para graduação do curso

superior de Enologia e Viticultura do Instituto

Federal de Educação, Ciência e Tecnologia

do Rio Grande do Sul / Campus Bento

Gonçalves.

Orientador: Eduardo Giovannini

Bento Gonçalves

2010

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Reações da videira com a aplicação do sistema Lazo TPC1

Giovanni Carraro2 Eduardo Giovannini3

RESUMO: Investigou-se a aplicação do sistema Lazo TPC nos vinhedos da Vinícola Lidio Carraro no município de Encruzilhada do Sul. A aplicação de um jato de ar quente a alta velocidade que proporciona um estresse na planta e o aumento de fitoalexinas que conseqüentemente geram uma reação de defesa natura. Com isso podemos combater principalmente fungos e bactérias de maneira natural e evitando-se a aplicação de defensivos químicos, causadores de muito prejuízo ambiental.

Palavras-chaves: Preservação, Qualidade, Proteção, Resultado.

1 Trabalho de conclusão do curso superior de Enologia e Viticultura.

2 Estudante do curso superior de Enologia e Viticultura. 3 Professor e orientador.

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INTRODUÇÃO

O tema deste artigo é a aplicação do sistema Lazo TPC, “Termal Pest

Control” que consiste na aplicação de um jato de ar quente a alta velocidade

conduzido por dutos que levam o calor até a superfície do dossel vegetativo da

planta. A diferença de temperatura durante a aplicação em contraponto a

temperatura ambiente causa um choque térmico na planta e um estresse que

causa o maior desenvolvimento de fitoalexinas evitando a proliferação de

fungos, bactérias e há uma espécie de esterilização do ambiente aplicado.

Outro ponto a ressaltar é a importância para âmbito mundial, que é a

preservação do meio ambiente; esse por sua vez faz com que o próprio micro

clima sofra um processo de não agressão e de preservação de suas

características naturais. A facilidade do manejo das plantas é outro ponto de

suma importância, onde os ramos, as folhas e os cachos não possuem

agrotóxicos na sua superfície fazendo assim que os funcionários dispensem

itens de segurança como máscaras e luvas para praticar as atividades

corriqueiras no vinhedo.

Através de testes e experiências praticadas na vindima de 2010 nos

vinhedos da Vinícola Lidio Carraro no município de Encruzilhada do Sul,

demonstrou-se a aplicabilidade dessa nova tecnologia que pretende

revolucionar a maneira de trabalhar nos vinhedos, em conjunto com o grande

ganho de qualidade no produto e na vida das pessoas.

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REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O equipamento utiliza um queimador de gás liquefeito de petróleo (GLP)

para aquecer o ar, que imediatamente é pressurizado numa turbina

movimentada pelo trator. Este ar quente é aplicado de forma laminar sobre as

plantas a uma velocidade média de 200km/h. A ação é unicamente de forma

física nas plantas, ao mesmo tempo em que provoca reações fisiológicas com

reflexos positivos na produtividade. FICHA TÉCNICA DO PRODUTO (2009)

MATERIAL E MÉTODOS

Para aplicação desse equipamento em primeiro momento foi necessário

observar as dimensões do vinhedo, levando em conta largura das fileiras,

inclinação e espaço para manobras do trator sem a pausa da aplicação.

Nesses moldes tem-se o vinhedo com fileiras de 2,7 metros de largura,

podendo ser aplicado também com fileiras mais estreitas, e com inclinações

que não ultrapassam os 15°.

Para inicio das atividades deve-se acoplar o equipamento em um trator

com no mínimo 50cv, fazendo a conexão no engate do reboque e um cabo

alimentador de energia na bateria. Com a conexão estabelecida o equipamento

começará a enviar informações tais como posição por GPS, velocidade e

temperatura a qualquer computador conectado à internet, podendo fazer o

controle e o monitoramento das aplicações. Ao ligar o equipamento

necessariamente se faz a abertura do gás e automaticamente ocorre o

acionamento do início da combustão que esquenta o ar em sua turbina. Antes

de começar a aplicação verifica-se o alcance da temperatura de 130°C ou mais

(até 180°C), de acordo com a necessidade que é obse rvada pelo clima e

incidência de pressão de doenças, inicia-se então o deslocamento do trator a

uma velocidade de 4,5 a 6 Km/h de maneira constante, ressaltando o perigo de

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uma parada repentina, na qual implicará na queima da videira em sua direita e

em sua esquerda.

A regulagem da temperatura e da velocidade de aplicação consiste nos

maiores fatores de diferença no resultado da aplicação que proporcionarão

maior ou menor eficácia de proteção a planta. Ainda não se tem regras exatas

que determinam qual velocidade e qual temperatura para cada momento do

estágio da planta. Porém foram testados em várias diferenças para

posteriormente estabelecer um procedimento padrão.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Como sabe-se as uvas Vitis vinifera possuem grande quantidade de

compostos como: antioxidantes, fitoalexinas, pigmentos, etc. Esses por sua vez

sofrem grande variação de acordo com o clima e atividade metabólica da

planta. Com o uso do TPC, pode-se analizar o aumento desses compostos, tais

que com o estresse da planta acabam tendo uma reação positiva combatendo

os fungos e bactérias e beneficiando a saúde dos consumidores dos futuros

vinhos.

Como exemplo prático disso pode-se citar o aumento significativo das

fitoalexinas que proporcionam uma proteção natural para a planta, impedindo a

proliferação de fungos e bactérias atraves da parede celular das folhas e

cachos.

Fitoalexina é um tipo de proteína enzimática (endoglicanase)

presente na parede celular vegetal, que têm a capacidade de

manter a parede livre de microorganismos (bactérias, fungos).

As fitoalexinas acumulam-se no local e no tempo apropriados

para causar a inibição do patógeno nos tecidos. MANUAL DE

FITOPATOLOGIA (1995),

Para melhor entender o papel das fitoalexinas nas interações planta-

patógeno, alguns aspectos devem ser destacados. As fitoalexinas são

sintetizadas nas células vivas afetadas pelo ingresso do patógeno, e, à medida

que a moléstia progride esses metabólicos acumulam-se nas células mortas ou

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nas que estão morrendo. Na maior parte das interações, as fitoalexinas são

encontradas nos tecidos que circundam o sítio original de infecção, mas não

necessariamente nas células que foram as primeiras a entrar em contato com o

patógeno. Como a maioria das fitoalexinas são invisíveis, a localização celular

das mesmas mostra-se difícil. MANUAL DE FITOPATOLOGIA (1995)

Já os pigmentos sofrem uma grande variação com a amplitude térmica

entre o dia e a noite. Tendo também um papel muito importante, o TPC faz com

que a película da baga se torne mais firme e espessa fazendo com que a

permanência da cor se de até o momento ideal da colheita, que por sua vez se

deu mais tarde que o normal. GIOVANNINI e MANFROI (2009), Os compostos

fenólicos desempenham diversas funções na uva e nos vinhos, tendo

importância capital, pois é fator determinante da cor e da qualidade dos vinhos.

A película e a semente são as principais áreas de acumulação de

compostos fenólicos. As antocianas e as flavonas estão localizadas nos

vacúolos das células da película. Os taninos são mais abundantes nas

sementes do que nas películas. GIOVANNINI e MANFROI (2009), Com relação

à evolução dos principais compostos fenólicos da uva, as antocianinas

começam a se acumular na baga alguns dias antes da mudança de cor,

enquanto os taninos acumulam-se regularmente na película da baga, o que

influencia, sobremaneira, a tomada de decisão quanto ao ponto de colheita. A

velocidade e intensidade de acumulação dependem muito do clima, do solo e

das práticas culturais, originando as diferenças entre a qualidade dos vinhos

em cada safra.

Como pode-se ver no anexo a qualidade das uvas, mesmo em um ano

atípico como 2010, mostram-se excepcional, tanto na questão visual como

também em sua composição química. Pode-se notar pela análise da (quadro 1)

o aumento de alguns índices que proporcionam um grande potencial para

termos frutos e vinhos com maior qualidade visual e química.

Aqui tem-se a comparação de duas parcelas da uva Merlot plantada em

um mesmo vinhedo, onde a única diferença foi à aplicação do sistema TPC e

na outra o tratamento com fungicidas normais. Na parcela que foi aplicado o

TPC pode-se notar a ausência de resíduos de agrotóxicos, aumento de NPA(

nitrogênio prontamente assimilável), aumento de polifenóis totais, aumento de

antocianos, entre outras mudanças.

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Análises feitas duas semanas antes da colheita.

Comparativo de uvas com e sem aplicação do sistema TPC

Quadro 1

Merlot

(convencional)

Merlot

(TPC)

RELAÇÃO SOLIDO/LIQUIDO 263,9 275,1 g/L

DENSIDADE RELATIVA 20/20°C 1,0893 1,0901

ACIDEZ TOTAL, EM ÁC TARTÁRICO 0,425 0,481 %(p/v)

pH 3,70 3,64

ÁLCOOL PROVÁVEL 12,2 12,4 %(v/v)

TEOR AÇÚCAR 18,05 18,24 °BABO

ÁCIDO MÁLICO 1,84 1,96 g/L

NPA 70 125 mg/L

ÁCIDO TARTÁRICO 0,738 0,832 g/L

POTÁSSIO 1335,8 1590,6 mg/L

TANINOS, EM ÁCIDO TÂNICO 17,66 13,76 mg/100mL

ÍNDICE DE POLIFENÓIS TOTAIS 61,1 71,9 DO280nm

RELAÇÃO AÇÚCAR/ACIDEZ 48,0 42,9

CÁLCIO 55,4 56,2 mg/L

DITIOCARBAMATOS <0,01 <0,01 mg/L

BENALAXYL <0,01 ND mg/L

CHLOROTHALONIL <0,01 ND mg/L

COMPOSTOS DE COBRE, EM COBRE 8.89 13,1 mg/L

CYMOXANIL <0,01 ND mg/L

DIFENOCONAZOLE 1,2 <0,01 ND mg/L

DITHIANON <0,01 ND mg/L

LAMBDA CYALOTHRIN <0,05 ND mg/L

PYRIMETHANIL <0,01 ND mg/L

COMPOSTOS DE ENXOFRE 37,4 34,5 mg/L

ANTOCIANOS EXTRAÍVEIS 822,5 856,5 mg/L

ANTOCIANOS TOTAIS 1370,3 1446,5 mg/L

ÍNDICE DE MATURAÇÃO CELULAR 40,0 44,8 %

ÍNDICE DE MATURAÇÃO SEMENTE 46,2 46,9 %

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse sistema de aplicação com certeza ainda é muito recente para tirar

conclusões em um único ano ou safra, mas sem dúvida mostrou grande

aplicabilidade mesmo em um ano totalmente desfavorável como foi o caso da

vindima de 2010. Visto essas considerações pode-se afirmar que os resultados

obtidos foram totalmente satisfatórios para a qualidade e sanidade dos frutos,

ao mesmo tempo em que a redução de defensivos químicos foi muito

significativa, reduzindo assim o impacto ambiental que os mesmos

proporcionam.

Desse modo, analisando que a planta recebe um dosagem muito menor

de produto químico para controle fitossanitário, mas sim praticamente apenas

um sopro de ar, e ainda se torna mais resistente a infecções de fungos e

bactérias, pode-se ao menos concordar que esse equipamento beneficia de

modo significativo a prática de cultivo de uvas de qualidade.

REFERÊNCIAS

FILHO, Armando Bergamin; KIMATI, Hiroshi; AMORIM, Lilian. Manual de

fitopatologia ; 3. ed. São Paulo: Agronômica Ceres, v.1, 1995

GIOVANNINI, Eduardo; MANFROI, Vitor, Elaboração de grandes vinhos nos terroirs brasileiros ; 1 ed. Bento Gonçalves: 2009

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Figura 1- Videira da variedade Merlot com plena sanidade dos frutos

Figura 2 - Cacho de uva Merlot após a colheita

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Figura 3 - Cachos de uva Merlot no momento do desengace

Figura 4 - Trator equipado com TPC aplicando jato de ar quente