Page 1
1
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
DEPARTAMENTO DE ANÁLISES CLÍNICAS E TOXICOLÓGICAS
CURSO DE GRADUAÇÃO EM FARMÁCIA
Tayná Braga Leite de Melo
ACIDENTES COM ESCORPIÃO NO RIO GRANDE DO NORTE: LEVANTAMENTO
TÓXICO-EPIDEMIOLÓGICO NO PERÍODO DE 2010 A 2017.
(Accidents with scorpions in Rio Grande do Norte: toxic-epidemiological survey from 2010 to
2017.)
Natal – RN
2021
Page 2
2
Tayná Braga Leite de Melo
ACIDENTES COM ESCORPIÃO NO RIO GRANDE DO NORTE: LEVANTAMENTO
TÓXICO-EPIDEMIOLÓGICO NO PERÍODO DE 2010 A 2017.
(Accidents with scorpions in Rio Grande do Norte: toxic-epidemiological survey from 2010 to
2017.)
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao
Curso de Graduação em Farmácia da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, como requisito
parcial para obtenção do título de Bacharel em
Farmácia.
Orientador: Prof. Dr. Herbert Ary Arzabe Antezama
Costa Nobrega Sisenando.
Natal – RN
2021
Page 3
3
Tayná Braga Leite de Melo
ACIDENTES COM ESCORPIÃO NO RIO GRANDE DO NORTE: LEVANTAMENTO
TÓXICO-EPIDEMIOLÓGICO NO PERÍODO DE 2010 A 2017.
(Accidents with scorpions in Rio Grande do Norte: toxic-epidemiological survey from 2010 to
2017.)
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao
Curso de Graduação em Farmácia da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, como requisito
parcial para obtenção do título de Bacharel em
Farmácia.
Orientador: Prof. Dr. Herbert Ary Arzabe Antezama
Costa Nobrega Sisenando.
Presidente: Prof. Herbert Ary Arzabe Antezama Costa Nobrega Sisenando, Dr. – Orientador,
UFRN
Membro: Profª. Aline Schwarz, Dra, UFRN
Membro: Prof. George Queiroz de Brito, Dr., UFRN
Page 4
4
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências da Saúde - CCS
Melo, Tayná Braga Leite de.
Acidentes com escorpião no Rio Grande do Norte: levantamento
tóxico-epidemiológico no período de 2010 a 2017 / Tayná Braga Leite de Melo. - 2021.
27f.: il.
Trabalho de Conclusão de Curso - TCC (Graduação em Farmácia) -
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências
da Saúde, Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas. Na-tal, RN, 2021.
Orientador: Herbert Ary Arzabe Antezama Costa Nóbrega Sise-
nando.
1. Escorpião (Tityus serrulatus) - TCC. 2. Toxicologia - TCC.
3. Intoxicação - TCC. I. Sisenando, Herbert Ary Arzabe Antezama
Costa Nóbrega. II. Título.
RN/UF/BS-CCS CDU 596.46
Elaborado por ANA CRISTINA DA SILVA LOPES - CRB-15/263
Page 5
5
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, agradeço a DEUS por sempre está ao meu lado me dando forças,
ânimo, coragem, determinação, capacitação e a certeza de que eu podia conseguir. Sem Ele
não sou nada e não posso nada. Obrigado Pai, Filho e Espírito Santo por sempre está ao meu
lado!
Agradeço ao meu esposo, Bruno, por toda paciência, compreensão, ajuda e oração por
todos esses anos em que estive cursando minha faculdade.
Aos meus filhos, Emanuel e Daniel, por toda a compreensão nos momentos em que
ficava ausente devido a faculdade e não podia brincar com eles quando sempre me
chamavam.
À minha irmã, Janaína, por toda a ajuda que ela me dava, renunciando os seus
afazeres, ficando com meus filhos ainda bebês, nos momentos em que eu precisava ir para a
faculdade durante o dia.
Aos meus pais (Rosângela e Edilson), aos meus padrastos (Cármem e Nilton) e ao
meu irmãozinho David Neto, por todo apoio, palavras de incentivo e orações. Todos eles
moram longe, mas, sempre me apoiavam e oravam por mim.
Aos meus sogros, Laudicéa e Benedito, por todos os momentos que precisávamos
pegar marmita na casa deles quando não conseguia fazer almoço por falta de tempo, pelos
momentos que também ficavam com meus filhos e por toda oração.
A todos os meus amigos que também oravam por mim, me davam palavras de
incentivos e, muitas vezes, vinham para minha casa para descontrair e relaxar.
Ao meu querido orientador, Professor Dr. Herbert, por toda gentileza, paciência e
calma, por acreditar em mim para desenvolver esse tema.
A todos os professores que compartilharam seus grandes conhecimentos através dos
seus ensinamentos em cada aula. Sem vocês não existiriam os profissionais.
Meu eterno agradecimento a todos!
Page 6
6
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ………………………………………………………………. 09
2. METODOLOGIA ……………………………………………………………. 13
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES ……………………………………………. 13
4. CONCLUSÃO ………………………………………………………………… 21
5. REFERÊNCIAS ………………………………………………………………. 22
Page 7
7
RESUMO
Introdução: Acidentes com animais peçonhentos estão em segundo lugar como causa de
intoxicação humana no país, perdendo apenas para medicamentos. No Brasil, acidentes com
escorpiões são a principal causa de envenenamento por animais peçonhentos. Sua importância
médico-sanitária não é apenas pela incidência de acidentes ocorridos, mas, também, devido à
ação do veneno (potencialidade e/ou letalidade). A atuação do veneno ocorre em sítios
específicos de canais de sódio, desencadeando despolarização das membranas das células
excitáveis e liberação de catecolaminas e acetilcolina que irão atuar no organismo. A
gravidade depende da quantidade de veneno injetada, toxicidade, tamanho e espécie, entre
outros. Objetivo: Investigar a tóxico-epidemiologia e o fluxo de informação de notificação de
acidentes por escorpião no Brasil e, mais detalhadamente, no Estado do Rio Grande do Norte.
Metodologia: Foi realizado um levantamento epidemiológico entre os anos de 2010 a 2017,
através dos dados das plataformas do Sistema de Informação de Agravos e Notificações
(SINAN) e Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX), no que se
refere à zona geográfica, faixa etária, sexo e evolução dos casos, em níveis de Brasil,
Nordeste e Rio Grande do Norte. Resultados: No presente estudo, os casos notificados na
zona urbana são muito maiores do que os da zona rural, o que pode ser justificado pelo fato
dos escorpiões facilmente encontrar abrigo e alimento nas residências. A faixa etária de maior
risco foi entre 20 e 49 anos. O sexo feminino é o mais atingido, podendo ser explicado pela
maior presença das mulheres em trabalhos domésticos. A maioria dos casos tiveram evolução
para cura e pouquíssimos casos de óbito. Por se tratar de análise de banco de dados, este
estudo está sujeito a erros durante a entrada das informações e à subnotificação, por isso a
importância de alimentar corretamente as plataformas de dados. Conclusão: Esse
levantamento tóxico-epidemiológico serve de alerta tanto para a população quanto para o
serviço público de saúde no que se refere aos cuidados que se deve ter para evitar os acidentes
com escorpiões como também em relação à gravidade do envenenamento. Erradicar esses
animais não é a melhor solução, mas sim, fazer um controle da população dos escorpiões,
delimitando espaços na natureza, já que o animal é importante dentro do ciclo biológico.
Palavras-chave: Toxicologia. Intoxicação. Escorpião. Tityus serrulatus.
Page 8
8
ABSTRACT
Introduction: Accidents with poisonous animals rank second as the cause of human
intoxication in the country, second only to medicines. In Brazil, accidents with scorpions are
the main cause of poisoning by venomous animals. Its medical and health importance is not
only due to the incidence of accidents that have occurred, but also due to the action of the
poison (potentiality and/or lethality). The action of the venom occurs in specific sites of
sodium channels, triggering depolarization of excitable cell membranes and release of
catecholamines and acetylcholine that will act in the body. Gravity depends on the amount of
poison injected, toxicity, size and species, among others. Objective: To investigate the toxic
epidemiology and scorpion accident reporting information flow in Brazil and in more detail in
the state of Rio Grande do Norte. Methodology: An epidemiological survey was conducted
between 2010 and 2017, through annual reports from Diseases and Notifications Information
System (SINAN) and National Toxic-Pharmacological Information System (SINITOX),
regarding the geographic zone, age group, gender and evolution of cases, in levels of Brazil,
Northeast and Rio Grande do Norte. Results: In the present study, the cases reported in urban
areas are much larger than those in rural areas, which can be explained by the fact that
scorpions easily find shelter and food in homes. The age group at greatest risk was between
20 and 49 years. The female sex is the most affected, which can be explained by the greater
presence of women in housework. Most cases evolved to cure and very few cases of death. As
it is a database analysis, this study is subject to errors during the entry of information and
underreporting, hence the importance of correctly feeding the data platforms. Conclusion:
This toxic-epidemiological survey serves as a warning for both the population and the public
health service regarding the care that must be taken to avoid accidents with scorpions, as well
as the severity of the poisoning. Eradicating these animals is not the best solution, but
controlling the scorpion population, delimiting spaces in nature, since the animal is important
within the biological cycle.
Keywords: Intoxication. Toxinology. Scorpion. Tityus serrulatus.
Page 9
9
1. INTRODUÇÃO
São considerados animais peçonhentos aqueles que produzem ou modificam (através
de glândulas especializadas) uma substância tóxica (ou veneno) a qual é injetada através de
um aparelho externo, podendo ser dentes ocos, picadas, ferrões ou aguilhões, que são usados
para necessidades essenciais, como autodefesa ou captura de presas1-3. Todos os escorpiões
são considerados animais peçonhentos, mas, nem todos são considerados de importância
médica4.
Acidentes com animais peçonhentos estão em segundo lugar como causa de
intoxicação humana no país, perdendo apenas para medicamentos, que se encontra em
primeiro lugar5,6. No Brasil, acidentes com escorpiões são a principal causa de
envenenamento por animais peçonhentos7.
Os escorpiões, conhecidos como lacrau em algumas regiões do Brasil, são artrópodes
terrestres quelicerados da classe Arachnida. Antigamente, eram considerados insetos do
gênero Scorpiones. A partir do século XIX, até os dias atuais, foram considerados dessa
Classe8. Estão entre os artrópodes mais antigos e entre aracnídeos mais primitivos. Com
exceção da Antártida, possuem distribuição geográfica bastante ampla9,10. São estruturados da
seguinte forma: cefalotórax, tronco e cauda, respiração aérea, pulmões foliáceos, quatro pares
de pernas locomotoras, apêndice ventral (pente), glândula de veneno e aguilhão inoculador. O
comprimento varia entre 0,9 cm até 21cm, dependendo da espécie. São cobertos por pêlos
(cerdas) cuticulares quimiorreceptores e mecanorreceptores, principalmente nas pernas, que
são suas principais estruturas sensoriais8,11.
Dependendo da espécie, a gestação dura 2 meses ou 22 meses. A ninhada varia de 1 a
105 filhotes. Num período de 5 a 30 dias, os filhotes ficam no dorso da mãe até a primeira ou
segunda muda. Algumas espécies vivem entre 2 a 10 anos, mas, outras chegam até 25 anos.
Os escorpiões são vivíparos, pois depositam larvas e não ovos8,12.
Possuem hábitos noturnos, se alimentam de baratas, insetos e aranhas. Gostam de
ambientes úmidos e climas quentes. Apresentam ampla distribuição geográfica e estão em
quase todos os ecossistemas terrestres, com exceção da Antártida. No ambiente urbano,
apresenta uma boa capacidade de adaptação por encontrar abrigo e alimentação dentro e/ou
próximo das residências, o que aumenta o risco de acidentes. Devido à alta capacidade de
adaptação, os escorpiões podem ficar meses sem alimento e água, o que aumenta a sua
resistência no ambiente13,14.
Page 10
10
Nas regiões urbanas, se abrigam em acúmulo de lixo doméstico, tijolos, telhas,
entulhos, galerias de esgotos, rodapés e assoalhos quebrados e, geralmente, saem por meio
dos ralos e caixas de gorduras. Já na natureza, são encontrados em frestas de rochas, debaixo
de cascas de árvores e madeiras em decomposição, sob pedras, no interior de tocas, sob
folhas, em cavernas e até mesmo sob a neve5,15.
No Brasil, os principais escorpiões de importância médica são da família Buthidae -
Tityus serrulatus (responsável por acidentes de maior gravidade e óbito, principalmente, em
crianças), Tityus bahiensis e Tityus stigmurus. Os membros superiores (principalmente mão,
antebraço, pés e dedos) são os locais mais atingidos pelas picadas5,16,17.
O escorpionismo é definido como o quadro de envenenamento em humanos causado
pelo veneno do escorpião através da sua picada18,19. As regiões Norte e Nordeste concentram
a maior variedade de espécies no Brasil, onde apenas o Nordeste apresenta 34 dessas,
representando 26% do total brasileiro. O Tityus serrulatus e o Tityus stigmurus são os
principais responsáveis por acidentes fatais. A Bahia se destaca por apresentar 27 espécies8.
O Tityus serrulatus (escorpião amarelo) possui o tronco marrom escuro, pedipalpos,
patas e cauda amarelados e uma serrilha dorsal (o que caracteriza essa espécie) nos dois
últimos segmentos da causa. Pode medir até 7cm de comprimento. Se reproduz sem o macho
(partenogênese)4,20.
O Tityus stigmurus (escorpião amarelo do Nordeste), muito semelhante ao Tityus
serrulatus em sua morfologia, possui o tronco amarelo escuro, triângulo negro no cefalotórax,
faixa escura longitudinal mediana e manchas laterais escuras. Pode medir até 7cm de
comprimento4.
O veneno é uma mistura complexa de proteínas, aminoácidos e sais, sendo sintetizado
nas glândulas do télson. Sua atuação é no sistema nervoso, em sítios específicos de canais de
sódio, desencadeando despolarização das membranas das células excitáveis e liberação de
catecolaminas e acetilcolina que irão atuar em diversos sítios do organismo, sendo
responsáveis pela maior parte dos sinais e sintomas associados ao quadro toxicológico8,21-23.
Durante a ferroada, os escorpiões podem injetar entre 0,1 e 0,9 mL de peçonha nas vítimas24.
Estudos realizados com componentes da peçonha do escorpião buscavam encontrar
antídotos para casos de picadas, já outros, novas utilidades para essas substâncias,
principalmente, em relação à interação da bioquímica estrutural com as ferramentas da
biologia molecular8.
Page 11
11
LUCENA, em sua publicação “Conhecendo os Escorpiões: um guia para entender
como prevenir os acidentes com escorpiões”, realizada em Campo Grande (MS) em 2021,
relata que muitos estudos têm demonstrado o potencial de componentes encontrados nas
peçonhas de escorpiões para a produção de medicamentos. Exemplo disto são atividade
antiviral do peptídeo (Smp76) isolado do Scorpio maurus palmatus (escorpião africano), a
atividade antimicrobiana de um componente (estigmurina) isolada da peçonha do Tityus
stigmurus (escorpião amarelo do Nordeste), a atividade antifúngica de componentes (ToAP2 e
Ts1) isolados do Tityus obscurus (escorpião preto) e Tityus serrulatus (escorpião amarelo), e
de componentes de baixo peso molecular isolados da peçonha de Heterometrus laoticus
(escorpião preto do Vietnã), que evitam a formação de coágulos.
A gravidade depende da quantidade de veneno injetada, toxicidade, tamanho e espécie
do escorpião, local da picada, idade, massa corporal, sensibilidade da pessoa ao veneno e
tempo de atendimento. Fatores relacionados ao tratamento também podem influenciar na
gravidade do acidente, já que o diagnóstico precoce e o tratamento com soroterapia são
ferramentas capazes de diminuir a gravidade8,25.
O objetivo do tratamento é neutralizar, o mais rápido possível, a toxina circulante
(ainda na circulação sanguínea), combater os sintomas (alguns melhoram imediatamente após
o uso do soro) do envenenamento, melhorando as condições vitais do paciente. Independente
do quadro, o paciente deve ficar em observação hospitalar nas primeiras horas (4 a 6h) após o
acidente, principalmente crianças. Nos casos moderados, pelo menos 24 a 48h. Já nos casos
graves, o ideal é internação hospitalar com monitoramento constante dos sinais vitais21.
A identificação ou suspeita de intoxicação causada pela picada de um escorpião e a
identificação do gênero do mesmo é de suma importância para um tratamento correto
(indicação mais precisa do antiveneno a ser administrado), tendo por objetivo a conduta
terapêutica acerca desse tipo de acidente toxicológico5,26.
Os casos de escorpiões podem ser considerados leves, moderados ou graves. As causas
mais frequentes de óbitos são quando os casos evoluem para choque cardiocirculatório e
edema agudo do pulmão (devido à insuficiência cardíaca ou a liberação de substâncias
vasoativas por meio de reações inflamatórias e alérgicas responsáveis pelo aumento da
permeabilidade do endotélio vascular26,27), que já aparecem nas 24h primeiras horas21. Os
sinais e sintomas se apresentam de maneira igual, independentemente da etnia21.
Alguns autores relaram que é mais comum apresentar vômitos, distúrbios
neurológicos, cardiovasculares, respiratórios e até mesmo a morte em crianças. O risco de
Page 12
12
óbito predomina na faixa etária de 5 a 14 anos e em idosos. Nesses casos, as primeiras 24h
são consideradas críticas, pois podem surgir as complicações cardiocirculatórias e
pulmonares, levando os pacientes ao óbito19,28-30.
Os acidentes com animais peçonhentos vêm aumentando significativamente, nos
últimos anos, no mundo todo e, com isso, esses acidentes são considerados como um grande
problema de saúde pública negligenciado31, principalmente em regiões tropicais e subtropicais
do planeta, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a incorporá-los na lista de
Doenças Tropicais Negligenciadas (DTN) em 200920,32-34.
Sua importância médico-sanitária não é apenas pela incidência de acidentes ocorridos,
mas, também, devido à ação do veneno (potencialidade e/ou letalidade). Todos são
venenosos, mas, apenas 2% de todas as espécies no Brasil causam acidentes grave. Dos casos
registrados de óbitos causados por animais peçonhentos no Brasil, cerca de 30% são por
escorpiões8,13.
Os acidentes com escorpiões estão associados com a desorganização urbana
(crescimento desordenado dos centros urbanos), precárias condições socioeconômicas
(inadequação de infraestrutura), desequilíbrio ecológico/ambiental e atividades humanas
ligadas à natureza (destruindo os habitats naturais desses animais), permitindo com que esses
animais venham para áreas urbanas (residências, construções, terrenos baldios, etc.),
tornando-os animais sinantrópicos19,35-38.
De acordo com o SINAN, em agosto de 2010, houve uma modificação onde o agravo
por esse tipo de acidente passou a fazer parte da Lista de Notificação Compulsória (LNC) do
Brasil, publicada na Portaria N° 2.472 de 31 de agosto de 2010 (ratificada na Portaria N° 104,
de 25 de janeiro de 2011).
O Estado do Rio Grande do Norte estar localizado na Região Nordeste do Brasil, com
latitude 5°47’42”S e longitude 35°12’32”, área de 52.796,79 Km², representando 3,42% da
Região Nordeste e 0,62% de todo o território brasileiro, possui 167 municípios e com uma
população estimada em 3.168.027 habitantes em 201039. Segundo a EMPARN (2014), o
Estado possui 3 tipos climáticos diferentes (tropical úmido, tropical semiúmido e semiárido
quente), com temperatura média variando entre 26ºC e 30°C e período chuvoso nos meses de
abril a junho (outono) com pluviosidade anual abaixo dos 600mm/ano.
Devido à escassez de estudos sobre o tema, as subnotificações ou falta de informações
importantes ao preencher as fichas de acidentados, abrangência dos escorpiões no Brasil,
importante capacidade adaptativa e alta letalidade, o presente estudo teve como objetivo
Page 13
13
investigar a tóxico-epidemiologia e o fluxo de notificação desses acidentes no Brasil e, mais
detalhadamente, no Estado do Rio Grande do Norte.
2. METODOLOGIA
Realizou-se um levantamento bibliográfico por meio de uma revisão na literatura,
como também, um levantamento epidemiológico, entre os anos de 2010 a 2017, por meio da
análise dos relatórios anuais do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas
(SINITOX) e Sistema de Informação de Agravos e Notificação (SINAN), disponíveis ao livre
acesso por meio da internet. Esses dados foram analisados no que se refere ao local do
acidente (rural e urbana), faixa etária do paciente (< 1 até 80+ anos), sexo (feminino e
masculino) e evolução do acidente (cura e óbito), comparando em nível de Brasil, Nordeste e
Rio Grande do Norte.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Segundo o Ministério da Saúde (MS), no Brasil, foram registrados, em 2018, 141,4
mil acidentes/ano. Os dados são preliminares e estão sujeitos a mudanças5. A incidência de
casos na Região Nordeste é a mais alta se comparada com as demais regiões, apresentando
94/100.000 habitantes10,34,43.
Durante o levantamento bibliográfico, pôde-se perceber o baixo índice de registros
para a população indígena. OLIVEIRA (em sua publicação “Epidemiologia dos acidentes
escorpiônicos ocorridos na Paraíba – Nordeste do Brasil”, 2012) e MENDES e seus
colaboradores (na publicação “O desafio da atenção primária na saúde indígena no Brasil”,
2018) relatam que pode estar associado aos desafios enfrentados na busca pela atenção
primária à saúde indígena, bastante negligenciado no país, onde as características desses
acidentes não são bastante esclarecidas nessa população, porém, é um grupo que não pode ser
negligenciado e também merece total atenção.
Acidentes com gestantes no segundo trimestre de gravidez é considerado de risco
devido às ações do veneno circulante, podendo prejudicar o bebê e, consequentemente, óbito
materno e fetal4.
A Tabela 1 mostra as notificações e comparações em relação à zona. Em nível de
Brasil, no período de 2010 a 2012, foi observado um aumento de 53,55% nos casos
notificados na zona rural. Já no período de 2013 a 2016, teve uma redução considerável de
89,86% nos casos notificados frente ao número de 2012. Essa redução pode ser justificada
Page 14
14
devido ao grande aumento de subnotificações nesse período devido à falta de alimentação de
dados na plataforma do SINITOX. Na zona urbana houve uma redução de 26,53% no período
total.
Em nível de Nordeste, segundo o levantamento, ainda na Tabela 1, percebe-se
claramente que a zona urbana possui muito mais casos do que na zona rural, apenas com
pequenas diferenças ao longo dos anos estudos. Dos 100% dos casos notificados no Brasil,
em média, 56,26% dos casos ocorreram na região Nordeste, o que pode ser justificado por ser
uma região que apresenta condições climáticas (temperatura e umidade) e sociais (pobreza)
que potencializam o contato do homem com o animal, como relatado por DE ANDRADE
FILHO & CAMPOLINA no trabalho “Toxicologia na prática clínica”, publicado em 2013.
O Rio Grande do Norte concentra 2,76% dos casos notificados no Brasil. Dentre os
casos notificados verifica-se que segue o padrão de predominância em zona urbana, porém, a
principal observação a se fazer é que no RN existe uma grande subnotificação de casos em
ambas as zonas, devido à falta de alimentação da plataforma do SINITOX, que teve uma série
de 3 anos consecutivos (2011 a 2013) sem nenhum registro.
É notável, na Tabela 1, que os casos notificados na zona urbana são muito maiores do
que os da zona rural, o que pode ser justificado pelo fato dos escorpiões facilmente encontrar
abrigo e alimento nas residências e, também, pela rápida proliferação do escorpião13.
Tabela 1: Notificações de acidentes por escorpiões nas zonas rural e urbana em
nível de Brasil, Nordeste e Rio Grande do Norte.
RURAL URBANO IGNORADO TOTAL %
2010
BR 1843 9934 200 11977 100
NE 109 6624 11 6744 56,31
RN 12 1919 0 1931 16,12
2011
BR 2694 8249 599 11542 100
NE 194 5216 5 5415 46,92
RN 0 0 0 0 0
2012
BR 2830 9488 311 12629 100
NE 305 5530 3 5838 46,23
RN 0 0 0 0 0
2013 BR 1201 6075 1672 8948 100
Page 15
15
NE 178 4210 16 4404 49,2
RN 0 0 0 0 0
2014
BR 835 8728 218 9781 100
NE 159 6438 21 6618 67,7
RN 3 29 4 36 0,37
2015
BR 430 7243 2862 10535 100
NE 174 6091 68 6333 60,11
RN 6 41 2 49 0,47
2016
BR 287 7327 2869 10483 100
NE 219 6749 96 7064 67,39
RN 2 48 6 56 0,53
2017
BR 3922 7299 458 11679 100
NE 105 5094 29 5228 44,76
RN 7 20 2 29 0,25
%: percentual em relação ao Brasil. Ignorado: casos que não foram
notificados. Fonte: SINITOX. Atualizado em 06/10/2020.
A tabela 2 mostra as notificações e comparações em relação à faixa etária. Observa-se,
em níveis de Brasil, Nordeste e Rio Grande do Norte, que as faixas mais atingidas estão entre
os 20 - 49 anos de idade, concordando com RIBEIRO & JORGE no trabalho “Aspectos
clínicos e epidemiológicos do envenenamento por escorpiões em São Paulo e municípios
próximos”, em 2001, o qual este grupo se encontra em plena atividade, portanto mais exposto.
Entre 20 e 29 anos supera o índice de maior notificação de casos, onde houve discordância do
levantamento de dados de BARBOSA (2015), que relatou maior número de casos entre 15 e
24 anos. Foi possível observar que não houve uma boa notificação no Estado do Rio Grande
do Norte onde, entre 2011 a 2013, não houve nenhuma notificação.
Tabela 2: Notificações de acidentes por escorpiões na faixa etária entre <1 e 80+ anos em
nível de Brasil, Nordeste e Rio Grande do Norte. BR: Brasil. NE: Nordeste. RN: Rio
Grande do Norte.
Page 16
16
Fonte: SINITOX. Atualizado em 06/10/2020.
A Tabela 3 mostra as notificações, durante o período estudado, usando como
parâmetro o gênero informado no preenchimento da ficha de notificação de casos. É notado
que o sexo feminino é o mais atingido, o que é confirmado por BARBOSA (2015). Essa
situação pode ser explicada pela maior presença das mulheres em trabalhos domésticos.
A notificação dos casos ignorados, entre alguns anos, pode estar relacionada com a
ausência ou subnotificação dos acidentes como também a negligência sobre o tema em
questão. Daí a importância de um preenchimento correto das fichas de notificação e ações
educativas, sobre os acidentes, para a população e, em relação aos profissionais de saúde,
receberem capacitação adequada para alimentar os sistemas de notificações, no caso, o
SINAN e, consequentemente, o SINITOX.
< 1 01 a 04 05 a 09 10 a 14 15 a 19 20 a 29 30 a 39 40 a 49 50 a 59 60 a 69 70 a 79 80 e + IGN TOTAL %
BR 34 792 826 874 925 2275 1962 1685 1233 741 414 164 52 11977 100
NE 15 515 475 498 522 1222 1002 931 692 480 267 109 16 6744 56,3
RN 4 79 80 89 165 386 316 323 225 160 61 38 5 1931 16,1
BR 40 667 715 824 834 2326 1924 1591 1171 771 393 159 127 11542 100
NE 19 375 389 415 388 1075 808 734 532 362 217 92 9 5415 46,9
RN 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
BR 67 738 887 894 912 2353 2051 1798 1433 857 443 143 53 12629 100
NE 41 382 461 417 405 1111 851 800 644 407 215 88 16 5838 46,2
RN 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
BR 83 628 702 662 672 1480 1406 1260 951 615 361 101 27 8948 100
NE 39 373 408 336 297 709 650 604 454 283 188 58 5 4404 49,2
RN 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
BR 57 712 704 692 747 1717 1468 1326 1120 660 395 151 32 9781 100
NE 35 426 454 464 513 1178 968 898 792 465 289 113 23 6618 67,7
RN 0 7 6 2 3 2 3 5 5 1 1 0 1 36 0,37
BR 72 662 696 671 797 1759 1558 1488 1303 862 433 196 38 10535 100
NE 26 448 459 431 467 1060 902 824 750 544 278 124 20 6333 60,1
RN 2 7 3 4 0 10 8 3 3 4 2 0 3 49 0,47
BR 62 672 695 728 708 1628 1557 1448 1353 897 464 178 93 10483 100
NE 34 475 483 513 482 1127 1043 945 884 594 333 131 20 7064 67,4
RN 1 2 1 4 2 14 9 9 8 4 1 1 0 56 0,53
BR 58 473 591 613 857 1948 1843 1899 1641 1049 500 181 26 11679 100
NE 6 243 285 281 396 930 824 801 702 444 216 98 2 5228 44,8
RN 1 4 2 3 0 5 7 3 2 1 1 0 0 29 0,25
2016
2017
2010
2011
2012
2013
2014
2015
Page 17
17
Tabela 3: Notificações de acidentes por escorpiões nos sexos masculino e feminino em
nível de Brasil, Nordeste e Rio Grande do Norte.
FEMININO MASCULINO IGNORADO TOTAL %
2010
BR 25.952 25.511 6 51.569 100
NE 14.058 10.852 1 24.911 48,31
RN 1.455 865 - 2.320 4,5
2011
BR 29.769 29.260 7 59.036 100
NE 17.015 13.083 5 30.103 51
RN 1.765 1.055 - 2.820 4,78
2012
BR 32.218 31.507 7 63.732 100
NE 17.102 12.719 4 29.825 46,8
RN 1.820 1.183 - 3.003 4,71
2013
BR 39.365 38.536 19 77.920 100
NE 21.972 16.386 13 38.371 49,24
RN 2.008 1.275 - 3.283 4,21
2014
BR 44.430 42.135 19 86.584 100
NE 24.431 18.814 9 43.254 49,95
RN 2.287 1.413 1 3.701 4,27
2015
BR 43.776 42.117 15 85.908 100
NE 22.096 16.002 6 38.104 44,35
RN 2.372 1.476 - 3.848 4,48
2016
BR 46.709 44.276 24 91.009 100
NE 22.982 16.279 6 39.267 43,14
RN 2.292 1.429 - 3.721 4,1
2017
BR 62.775 61.340 27 124.142 100
NE 31.845 24.241 7 56.093 45,18
RN 2.659 1.641 - 4.300 3,46
%: percentual em relação ao Brasil. Ignorado: casos que não foram notificados. Fonte: SINAN.
Atualizado em 18/08/2021.
Page 18
18
A Tabela 4 nos mostra a evolução dos casos que, na maioria deles (os que foram
notificados), tiveram boa resposta para cura. Pouquíssimos foram os casos de óbito. Boa parte
dos casos de óbitos são em crianças e idosos, devido a quantidade de veneno circulante no
corpo da pessoa48. Esses acidentes são predominantemente classificados como leves e
progridem para cura. Os casos ignorados são aqueles que não foram notificados quanto a
evolução e, como foi falado anteriormente, daí vem a importância do preenchimento correto
das fichas de notificações.
Tabela 4: Notificações de acidentes por escorpiões em relação a evolução dos casos em
nível de Brasil, Nordeste e Rio Grande do Norte.
CASOS CURA ÓBITO IGNORADO
2010
BR 51.569 48.130 63 3.272
NE 24.911 23.332 30 1.548
RN 2.320 2.250 1 73
2011
BR 59.036 54.670 76 4.283
NE 30.103 27.340 32 2.728
RN 2.820 2.560 - 265
2012
BR 63.732 58.936 87 4.701
NE 29.825 27.074 45 2.700
RN 3.003 2.487 4 516
2013
BR 77.920 72.613 68 5.235
NE 38.371 35.047 40 3.282
RN 3.283 3.167 - 130
2014
BR 86.584 81.359 69 5.140
NE 43.254 39.432 39 3.144
RN 3.701 3.620 1 87
2015
BR 85.908 80.838 93 4.970
NE 38.104 35.328 39 2.735
RN 3.848 3.723 2 133
2016
BR 91.009 84.097 115 6.790
NE 39.267 34.903 57 4.305
RN 3.721 3.403 2 327
Page 19
19
2017
BR 124.142 115.339 81 8.712
NE 56.093 51.272 28 4.790
RN 4.300 3.708 5 604
Ignorado: casos que não foram notificados. Fonte: SINAN. Atualizado em
19/08/2021.
Num segundo momento, foram realizadas pesquisas no site do SINAN (Sistema de
Informação de Agravos de Notificação), pesquisa essa direcionada às notificações de casos
apenas no Estado do Rio Grande do Norte (RN), no período de 2010 a 2017, de janeiro a
dezembro. Ver Tabela 5. Segundo o levantamento, percebe-se uma oscilação nos casos
notificados em cada mês, mostrando os meses em que mais ocorreram os acidentes com
escorpiões.
Tabela 5: Notificações mensais de acidentes por escorpiões no Estado do Rio Grande do
Norte.
Mês|Ano 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
JANEIRO 183 210 229 324 311 274 327 328
FEVEREIRO 161 201 225 269 302 247 278 309
MARÇO 235 221 277 262 362 325 310 377
ABRIL 198 186 243 291 318 357 287 340
MAIO 188 258 301 272 344 341 328 328
JUNHO 162 247 263 228 295 324 271 289
JULHO 190 254 224 249 283 293 242 361
AGOSTO 206 274 247 262 334 350 306 439
SETEMBRO 196 263 227 281 347 329 345 427
OUTUBRO 256 245 219 284 288 351 359 395
NOVEMBRO 148 240 263 266 270 334 308 372
DEZEMBRO 197 223 287 296 250 325 262 338
Fonte: SINAN/MINISTÉRIO DA SAÚDE
DINIZ e PEREIRA (2015) relatam, no trabalho “Climatologia do Estado do Rio
Grande do Norte, Brasil: sistemas atmosféricos atuantes e mapeamento de tipos de clima”,
dois fenômenos que ocorrem entre os meses de fevereiro e agosto, no Estado do Rio Grande
Page 20
20
do Norte, que são a ZCIT (Zona de Convergência Intertropical) e as POA (Perturbações
Ondulatórias no Campo dos Alísios), onde há picos de chuvas entre esses meses. A região
leste do RN, a intensidade das chuvas ocorre entre os meses de abril e julho. Já entre a costa e
o interior do território potiguar, abrangendo áreas serranas e partes do litoral leste, apresentam
chuvas entre os meses de março e junho50.
Baseado nessas informações pôde-se concluir que o aumento de casos notificados
observado na Tabela 5, entre os meses de março a agosto, está relacionado com a alta
umidade e período chuvoso entre esses meses, pois, os escorpiões são atraídos, também, por
locais úmidos.
Segundo BARBOSA (2015), as maiores incidências de casos ocorrem entre os meses
de abril a outubro, pois, nesse meio termo encontra-se a estação chuvosa de Região Nordeste.
LEMOS e cols. (2009) e LIRA-DA-SILVA e cols. (2009) também relataram em seus estudos
que as maiores incidências de casos foram correspondentes aos meses de abril a julho, que é a
estação chuvosa na Região Nordeste do Brasil.
Um elevado aumento de casos também pode estar associado ao crescimento
desordenado nas áreas urbanas, a elevada presença de famílias de baixa renda, como também
a precariedade de moradias e saneamento básicos, já que essas duas últimas situações são
relevantes para aparecimento de escorpiões. Ligados a esses fatores estão a inadequação dos
serviços de esgotamento sanitário e a coleta de resíduos sólidos. Quanto mais vulnerável o
setor, maior é o risco de acidentes para a população residente48,53.
Já que estudos sobre o tema é bastante escasso (não só no Estado do Rio Grande do
Norte, mas, em outros estados também), corroborando com alguns autores13,47,53,54, faz-se
necessário um incentivo para pesquisas sobre esse tema, orientando a população e os próprios
profissionais de saúde sobre os acidentes escorpiônicos, fazendo campanhas de
conscientização sobre o risco e a gravidade desses acidentes, contribuindo com a diminuição
da morbidade e mortalidade, pois, as características desses acidentes ainda são pouco
esclarecidas para a população.
Por se tratar de análise de banco de dados, este estudo está sujeito a erros durante a
entrada das informações e à subnotificação, principalmente, devido à falta de sintonia
(encontrando dados que não foram divergentes) entre as plataformas de dados aqui utilizadas
e, com isso, há falhas na resolução desse problema público de saúde, corroborando com RITA
e cols. em seu trabalho “Análise epidemiológica dos acidentes ofídicos no município de
Page 21
21
Teresópolis – RJ no período de 2007 a 2010”, no ano de 2016. Porém, devido a elevadas
incidências de acidentes por escorpiões, se faz necessário e importante esse tipo de pesquisa.
4. CONCLUSÃO
Conclui-se que os casos notificados na zona urbana são muito maiores do que os da
zona rural, o que pode ser justificado pelo fato dos escorpiões facilmente encontrar abrigo e
alimento nas residências e sua fácil proliferação. A faixa etária de maior risco foi entre 20 e
49 anos por estarem em plena atividade. O sexo feminino é o mais atingido, podendo ser
explicado pela maior presença das mulheres em trabalhos domésticos. A maioria dos casos
tiveram evolução para cura e pouquíssimos casos de óbito. Os casos de óbitos ocorrem mais
em crianças e idosos devido a quantidade de veneno injetado. O aumento de casos ocorre
mais entre março e agosto por estar relacionado a alta umidade e período chuvoso entre esses
meses, já que os escorpiões também são atraídos por locais úmidos.
Esse levantamento tóxico-epidemiológico serve de alerta tanto para a população
quanto para o serviço público de saúde. A atenção do serviço público em relação às
notificações dos casos ocorridos também é de grande valia, pois, pode-se perceber a falta de
notificações desses acidentes, principalmente, no Estado do Rio Grande do Norte, em alguns
anos do levantamento do presente estudo.
O fato de simplesmente erradicar esses animais não é interessante, mas sim, fazer um
controle da população dos escorpiões, delimitando espaços na natureza, já que o animal é
importante dentro do ciclo biológico, sendo predadores de outros seres. A erradicação não é
possível (devido sua importância ecológica, sendo como presa ou predador), mas, o controle
pode diminuir o número desses acidentes.
Page 22
22
5. REFERÊNCIAS
1 - CARDOSO, J.J.C. et. al. Animais peçonhentos no Brasil. Biologia Clínica e Terapêutica
dos acidentes. São Paulo (sarvier – FAPESP). 2003.
2 - JUNGHANSS T.; BODIO M. Medically Important Venomous Animals: Biology,
Prevention, First Aid and Clinical Management. Oxford. Clin Infect Dis 2006; 43 (10):
1309-1317.
3 - GONÇALVES C.W.B.; PINTO. Acidentes com animais peçonhentos em um Estado do
Norte do Brasil. SciGen. 2020; 1 (3):37-43.
4 - FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE – FUNASA. Manual de diagnóstico e
tratamento de acidentes por animais peçonhentos. 2ª ed. - Brasília. 2001.
5 - MINISTÉRIO DA SAÚDE. Manual de diagnóstico e tratamento de acidentes por
animais peçonhentos. Brasília: Fundação Nacional de Saúde, 2001.
5 - MINISTÉRIO DA SAÚDE. Manual de controle de escorpiões. Brasília. 2009.
5 - MINISTÉRIO DA SAÚDE. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-
br/assuntos/noticias/picada-de-escorpiao-saiba-os-cuidados-e-o-que-fazer-em-caso-de-
acidente. Acesso em: 17/06/2021.
6 - MACHADO C. Um panorama dos acidentes por animais peçonhentos no Brasil. J
Health NPEPS. 2016; 1 (1):1-3.
7 - BUCARETCHÍ F. et al. Clinical consequences of Tityus bahienses and Tityus
serrulatus scorpion stings in the region of Campinas, southeastern Brazil. Toxicon. 2014:
89:17-25.
8 - BRAZIL, Tania Klober; PORTO, Tiago Jordão. Os Escorpiões. Salvador. 2010.
Page 23
23
9 - POLIS G.A. The Biology os Scorpions. Stanford University Press, Stanford. 1990.
10 - LUCENA, Malson N. Conhecendo os escorpiões: um guia para entender como
prevenir os acidentes com escorpiões. Campo Grande, MS: Ed. UFMS, 2021.
11 - DA SILVA, Josieli Dashi. Escorpionismo no Brasil. Porto Alegre. 2012.
12 - MARTINS, Karolina Pires; GARCIA, Danitieli Almas. Escorpionismo – Revisão de
Literatura. 2016.
13 - ALMEIDA, Carlos Adriano de Oliveira; NETO, Orlando Pedreschi. A produção
científica relacionada aos escorpiões do Nordeste Brasileiro: revisão integrativa de
literatura no período entre 208 a 2014. Scire Salutis, Aquidabã, v.4, n.2, Abr, Mai, Jun, Jul,
Ago, Set 2014.
14 - GOMEZ, Marcella; DE LUCENA, Emerson A. R. M.; LIMA, Artur Gomes Dias.
Escorpionismo em Indígenas da Região Nordeste do Brasil: estudo retrospectivo das
notificações ao SINAN de 2007 a 2014. Revista Ouricuri, Paulo Afonso, Bahia, v.7, n.1,
p.012-024.jan./abr., 2017.
15 - CARNEIRO,D.A. et al. Guia de bolso animais peçonhentos. 2015.
16 - GUERRA, C.M.; CARVALHO, L.F.; COLOSIMO, E.A.; FREIRE, H.B. Analysis of
variables related to fatal outcomes of scorpion envenomation in children and adolescents
in the state of Minas gerais, from 2001 to 2005. J. Pediatr. v. 84, n. 6, p. 509-515, 2008.
17 - BRAZIL, Tania Klober; PORTO, Tiago Jordão. Os Escorpiões. Salvador. 2010.
18 - FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. FIOCRUZ. 2003. Ministério da Saúde. Manual de
Primeiros Socorros. Rio de Janeiro. 170p
19 - BRAZIL, T.K. et al. Escorpiões de importância médica do Estado da Bahia, Brasil.
Gaz Med Bahia, v. 79, p. 38-42, 2009.
Page 24
24
20 - SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE. Acidentes de trabalho por animais
peçonhentos entre trabalhadores do campo, floresta e águas. Brasil 2007 a 2017. Boletim
epidemiológico, 2019.
21 - CUPO, P.; AZEVEDO-MARQUES, M.M.; HENRING, S.E. Acidentes por animais
peçonhentos: escorpiões e aranhas. Simpósio: URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS
DERMATOLÓGICAS E TOXICOLÓGICAS, Ribeirão Preto, v. 36, p. 490-497, 2003.
21 - CUPO, P.; AZEVEDO-MARQUES, M.M.; HENRING, S.E. Escorpiões de
importância médica. In: CARDOSO, J.L.C.; FRANÇA, F.O.S.; FAN, H.W. Animais
peçonhentos no Brasil: biologia clínica e terapêutica dos acidentes. São Paulo: Salvier, p.
198-208, 2003.
22 - CAMPOLINA D. Georreferenciamento e estudo clínicoepidemiológico dos acidentes
escorpiônicos atendidos em Belo Horizonte, no serviço de toxicologia de Minas Gerais.
2006. 154 f (Mestrado Infectologia e Medicina Tropical) – Universidade Federal de Minas
Gerais, Faculdade de Medicina, Belo Horizonte.
23 - COCCHI, Fernando K. Síntese e caracterização de pequenos peptídeos lineares de
veneno de Tityus serrulatus (Buthidae). 2016.
24 - VAN DER MEIJDEN, A.; COELHO, P.; RASKO, M. Variability in venom volume,
flow rate and duration in defensive stings of five scrpion species. Toxicon, v. 100, p. 60-
66, 2015.
25 - DE ANDRADE FILHO, Adebal; CAMPOLINA, Délio; DIAS, Mariana Borges.
Toxicologia na prática clínica. Folium, 2013.
26 - CANINÉO, C.C.P. Scorpiotoxonomia em um cão: revisão de literatura. 2012.
27 - CORDEIRO, F.F. Alterações clínicas cardiopulmonares produzidas pelo
envenenamento escorpiônico em cães. 2003.
Page 25
25
28 - RIBEIRO, L.A.; RODRIGUES L.; JORGE M.T. Aspectos clínicos e epidemiológicos
do envenenamento por escorpiões em São Paulo e municípios próximos. Rev Patol Trop.
2001; 30:83-92.
29 - ABROUGHT F. et al. Meta-analysis of controlled studies on immunotherapy in
severe scorpion envenomation. Emerg Med J 2011; 28:963-9.
30 - QUADROS, R. M. DE et al. Acidentes Escorpiônicos Notificados pelo SINAN na
Região Serrana de Santa Catarina, Brasil, 2000-2010. Revista Brasileira de Epidemiologia,
v. 7, n. 1, p. 96-108, 2014.
31 - OLIVEIRA, Silvania S.; CRUZ, José V.F.; SILVA, Meykson A. Perfil epidemiológico
de escorpionismo no Nordeste Brasileiro. Brazilian Journal of Development, Curitiba, v. 7,
n. 2, p. 11984-11996, feb. 2021.
32 - GUTIÉRREZ J.M. et al. Confronting the neglected problem of snake bite
envenoming: the need for a global partnersship. PloS Med 3:412, 2006.
33 - WHO. Rabies and envenomings: a neglected public health issue. Geneva: World
Health Organization; 2007. Report of a Consultative Meeting.
34 - CHIPPAUX J.P. Epidemiology of envenomations by terrestial venomous animals in
Brazil based on case reporting: from obvious facts to contingencies. J. Venom. Anim.
Toxins incl. Trop. 2015; 21:1-17.
35 - ALBUQUERQUE I.C.S. et al. Escorpionismo em Campina Grande – PB. Rev Biol
Ciênc Terra. 2004, 4 (1):1.
36 - CARDOSO, D.C. et al. Epidemiology and injuries (1994-2005) resulting from
poisonous animals in southern Santa catarina State, Brazil. J Public Health, n. 15, v. 6, p.
467-472, 2007.
Page 26
26
37 - CANTER H.M. et al. Escorpiões, aranhas e lacrais. Infobios. São Paulo 2009.
Disponível em: http://www.infobibos.com/Artigos/2008_1/MD4/Index.htm.
38 - SILVA, E.X.S. et al. Cuidados de enfermagem no atendimento às vítimas de picadas
escorpiônicas na atenção primária a saúde. Cogitare anferm, v. 25, ed. 67322, 2020.
Disponível em: <https://revistas.ufpr.br/cogitare/article/view/67322>.
39 - IBGE. Censo Demográfico, v. 23, 2010. Disponível em: <http://www. censo2010. ibge.
gov. br/>. Acesso em: 21/06/2021.
40 - EMPARN – Empresa Agropecuária do Rio Grande do Norte. Meteorologia. Disponível
em: www.emparn.rn.br. 2014.
41 - SINAN (Sistema de Informação de Agravos de Notificação). Disponível em:
<http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sinannet/cnv/animaisrn.def>. Acesso em:
19/08/2021.
42 - SINITOX (Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas). Disponível em:
<https://sinitox.icict.fiocruz.br/dados-de-agentes-toxicos>. Acesso em: 20/06/2021.
43 - AGUIAR, Carolline X. et al. Perfil epidemiologia de acidentes envolvendo animais
peçonhentos no Sertão do Estado de Pernambuco (2009 – 2019). Revista de Ensino,
Ciência e Inovação em Saúde, v. 2, n. 1 (2021), p. 27-36.
44 - OLIVEIRA, H.F.A. et al. Epidemiologia dos acidentes escorpiônicos ocorridos na
Paraíba – Nordeste do Brasil. Revista Biologia e Farmácia. Paraíba, v. 8, n. 2, p. 86-96,
2012.
45 - MENDES, A.M.; LEITE,M.S.; LANGDON, E.J.; & GRISOTTI M. O desafio da
atenção primária na saúde indígena no Brasil. Revista Panamericana de Salud Pública, 42,
e184. 2018.
Page 27
27
46 - RIBEIRO, L.A.; RODRIGUES L.; JORGE M.T. Aspectos clínicos e epidemiológicos
do envenenamento por escorpiões em São Paulo e municípios próximos. Rev Patol Trop.
2001; 30:83-92.
47 - BARBOSA, Isabelle Ribeiro. Aspectos clínicos e epidemiológicos dos acidentes
provocados por animais peçonhentos no Rio Grande do Norte. Natal. 2015.
48 - MESQUITA, F.N.B.; NUNES, M.A.P.; DE SANTANA, V.R; NETO, J.M.; DE
ALMEIDA, K.B.S.; & LIMA, S.O. Acidentes escorpiônicos no estado de Sergipe – Brasil.
Revista da Faculdade de Ciências Médicas de Sorocaba, 17 (1), 15-20. 2015.
49 - DINIZ, Marco Túlio Mendonça; PEREIRA, Vítor Hugo Campelo. Climatologia do
Estado do Rio Grande do Norte, Brasil: sistemas atmosféricos atuantes e mapeamento
de tipos de clima. ISSN: 1984-8501 Bol. Goia. Geogr. (Online). Goiânia, v.35, n.3, p. 488-
506, set./dez. 2015.
50 – INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Disponível em:
<http://clima1.cptec.inpe.br/estacaochuvosa/pt>. Acesso em: 20/08/2021.
51 - LEMOS J.C; ALMEIDA T.D.; FOOK S.M.L.; PAIVA A.A.; SIMÕES M.O.S.
Epidemiologia dos acidentes ofídicos pelo Centro de Assistência e Informação de
Campina Grande (Ceatox-Cg). Paraíba. Rev bras epidemiol 2009; 12 (1): 50-59.
52 - LIRA-DA-SILVA R.M.; AMORIM A.M.; CARVALHO F.M.; BRAZIL T.K. Acidentes
por escorpiões na cidade de Salvador, Bahia, Brasil (1982-2000). Gazeta Médica da Bahia,
2009; 79 (Supl.1): 43-49.
53 - LISBOA, Nereide S.; SOUZA, Vanner B.; NEVES, Frederico M. Índice de
vulnerabilidade socioambiental à acidentes escorpiônicos: análise a partir do caso do
município de Teixeira de Freitas, Bahia, Brasil. 2020. Revista Saúde e Desenvolvimento
Humano – ISSN 2317-8582, Canoas, v. 9, n. 1, 2021.
Page 28
28
54 - OLIVEIRA, Ana Thereza A.L.; SOUSA, Angélica F.P.B.; ALCANTRA, Isadora C.L.;
MIRANDA, Isadora T.N.; MARQUES, Rosemeire B. Acidentes com animais peçonhentos
no Brasil: revisão de literatura. Revinter, v. 11, n. 03, p. 119-136, out. 2018.
55 - RITA, Ticiana S.; SISENANDO, Herbert A.; MACHADO, Claudio. Análise
epidemiológica dos acidentes ofídicos no município de Teresópolis – RJ no período de
2007 a 2010. Revista Ciência Plural. 2016; 2(2): 28-41.