Volume 1 | http://www.educacao-popular.blogspot.com 1 Criação e Edição: Brenda Barbosa, Fabrício Leonardi, Raiane Assumpção e Valéria Ribeirinho PET Educação Popular: criando e recriando a realidade social organização e uma dinâmica para se reproduzir historicamente. A ordem social estabelecida impossibilitou que um grande número de pessoas pudessem exercer essa capacidade, pois valoriza alguns saberes em detrimento de outros, institucionaliza uma capacidade nata, utiliza-e da meritocracia, etc. Sendo assim, pensar um processo educacional que possibilite exercer essa vocação humana não há de ser fácil, mas possível e necessária. Essa educação para o povo, com o povo e pelo povo que chamamos de Educação Popular. E não é “popular” simplesmente por ser com o povo. Não é qualquer ação com as massas que se configura como educação popular. É popular por ter uma concepção de educação calcada num arcabouço teórico-metodológico que por meio de processos contínuos tem por intencionalidade a consciência crítica, o protagonismo do próprio sujeito oprimido e a transformação social. É esta concepção que possibilita além dos sonhos, termos meios também de realizá-los. Certa vez, Paulo Freire disse que “ninguém pode decretar que os homens e mulheres deixem de sonhar”. Inspiradxs nessa premissa, tomamos o referencial teórico- metodológico deste mestre como legado: uma pedagogia que visa o fim das opressões, a construção coletiva e a transformação social; enfim a emancipação humana não só como sonho, mas como realidade. Figura 1“Nós podemos reinventar o mundo” (Paulo freire) Leitura do Mundo – Como o sujeito vê e compreende o mundo? É preciso entender isso para poder envolvê-lo, a partir do que ele já conhece; Círculos de Cultura – Literalmente círculo, roda de conversa. Só isso em si já é uma afronta ao modo de educação bancária, onde se imagina que o professor deposita o saber no “aluno”. Os círculos possibilitam uma horizontalidade, olhar-se, considerar a história de vida de cada um, os seus valores, etc. Sistematização – É preciso registrar, apreender os conhecimentos produzidos e partilhados, para que haja memória e também possibilidades de acesso aos que não puderam vivenciar o processo, é a história de nossas ações e a possibilidade de outras novas; Mística – Muito presente nos momentos de início e término de atividades, expressa para além da oralidade a sintonia e essência que nos une, nos conectam: “A mística tem que ver com a vida, com os caminhos da vida e com o nosso jeito de neles caminhar. E nada disto é estático, nada disto está parado, ao contrário, tudo é movimento, é dinâmico. Nada disto está pronto, é no caminho, no despertar das consciências, que nos descobrimos inacabados” (Paulo Freire). Algunss procedimentos metodológicos presentes na Educação Popular Freiriana Paulo Freire (1987) afirma que seria ingenuidade esperar que a educação proporcionada pela classe dominante pudesse fomentar a crítica e a transformação social. E esta afirmação tem feito sentido ao longo da história. Partindo desta constatação, Paulo Freire propõe a Educação Popular com o propósito de romper com o ciclo da manutenção da ordem social. constitui-se em uma concepção que a partir da realidade do sujeito, desvela-se o mundo. Que não hierarquiriza e nem prioriza o saber - não há que se falar em saber, mas sim em saberes -, reconhecendo que a educação, o conhecimento, a capacidade teleológica é uma característica própria do ser humano, ontológica. E se somos todos humanos, logo, todos possuímos saberes. Contudo, essa mesma capacidade ontológica nos tornas seres sociais; nos leva a viver em sociedade. E se falamos em sociedade... Ela tem uma O que é Educação Popular? por Brenda Barbosa
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UNIFESP BS |Boletim Informativo PET Educação Popular Janeiro 2014
Volume 1 | http://www.educacao-popular.blogspot.com 1 Criação e Edição: Brenda Barbosa, Fabrício Leonardi, Raiane Assumpção e Valéria Ribeirinho
PET Educação Popular: criando e recriando
a realidade social
organização e uma dinâmica para se reproduzir
historicamente. A ordem social estabelecida
impossibilitou que um grande número de pessoas
pudessem exercer essa capacidade, pois valoriza
alguns saberes em detrimento de outros, institucionaliza
uma capacidade nata, utiliza-e da meritocracia, etc.
Sendo assim, pensar um processo educacional
que possibilite exercer essa vocação humana não há
de ser fácil, mas possível e necessária. Essa educação
para o povo, com o povo e pelo povo que chamamos
de Educação Popular. E não é “popular” simplesmente
por ser com o povo. Não é qualquer ação com as
massas que se configura como educação popular. É
popular por ter uma concepção de educação
calcada num arcabouço teórico-metodológico que
por meio de processos contínuos tem por
intencionalidade a consciência crítica, o protagonismo
do próprio sujeito oprimido e a transformação social. É
esta concepção que possibilita além dos sonhos,
termos meios também de realizá-los.
Certa vez, Paulo Freire disse que “ninguém pode
decretar que os homens e mulheres deixem de sonhar”.
Inspiradxs nessa premissa, tomamos o referencial teórico-
metodológico deste mestre como legado: uma pedagogia
que visa o fim das opressões, a construção coletiva e a
transformação social; enfim a emancipação humana não
só como sonho, mas como realidade.
Figura 1“Nós podemos reinventar o mundo” (Paulo freire)
Leitura do Mundo – Como o sujeito vê e compreende o mundo? É preciso entender isso para poder envolvê-lo, a partir do que ele já
conhece;
Círculos de Cultura – Literalmente círculo, roda de conversa. Só isso em si já é uma afronta ao modo de educação bancária, onde se
imagina que o professor deposita o saber no “aluno”. Os círculos possibilitam uma horizontalidade, olhar-se, considerar a história de vida
de cada um, os seus valores, etc.
Sistematização – É preciso registrar, apreender os conhecimentos produzidos e partilhados, para que haja memória e também
possibilidades de acesso aos que não puderam vivenciar o processo, é a história de nossas ações e a possibilidade de outras novas;
Mística – Muito presente nos momentos de início e término de atividades, expressa para além da oralidade a sintonia e essência que nos
une, nos conectam: “A mística tem que ver com a vida, com os caminhos da vida e com o nosso jeito de neles caminhar. E nada disto é
estático, nada disto está parado, ao contrário, tudo é movimento, é dinâmico. Nada disto está pronto, é no caminho, no despertar das
consciências, que nos descobrimos inacabados” (Paulo Freire).
Algunss procedimentos metodológicos presentes na Educação Popular Freiriana
Paulo Freire (1987) afirma que seria
ingenuidade esperar que a educação proporcionada
pela classe dominante pudesse fomentar a crítica e a
transformação social. E esta afirmação tem feito
sentido ao longo da história.
Partindo desta constatação, Paulo Freire
propõe a Educação Popular com o propósito de
romper com o ciclo da manutenção da ordem social.
constitui-se em uma concepção que a partir da
realidade do sujeito, desvela-se o mundo. Que não
hierarquiriza e nem prioriza o saber - não há que se
falar em saber, mas sim em saberes -, reconhecendo
que a educação, o conhecimento, a capacidade
teleológica é uma característica própria do ser
humano, ontológica. E se somos todos humanos, logo,
todos possuímos saberes.
Contudo, essa mesma capacidade ontológica
nos tornas seres sociais; nos leva a viver em sociedade.
E se falamos em sociedade... Ela tem uma
O que é
Educação Popular? por Brenda Barbosa
UNIFESP BS |Boletim Informativo PET Educação Popular Janeiro 2014
Volume 1 | http://www.educacao-popular.blogspot.com 2 Criação e Edição: Brenda Barbosa, Fabrício Leonardi, Raiane Assumpção e Valéria Ribeirinho
Eu fiquei pensando o que exatamente levou o povo às ruas no
Brasil em junho 2013. Certamente não era apenas os R$0,20 (na
verdade R$0,40; afinal, na maioria das vezes a gente vai e também
volta de transporte público); tampouco o aumento abusivo, visto
que não era o primeiro (praticamente todo início de ano os
gestores municipais decretam o aumento da tarifa, em São Paulo
isso já era quase tão comum quanto aguardar a chegada do
carnaval...); não creio que tenha sido a comoção gerada pela
truculência da polícia militar, braço armado do Estado, pois
estiveram nos últimos grandes fatos violentos (massacre do
Carandiru, chacina da Candelária, chacina de Vigário Real,
massacre do Eldorado dos Carajás, massacre de Corumbiara,
massacre no Complexo do Alemão, massacre do Pinheirinho,
#CadêAmarildo, etc.) e não houve a mesma comoção. A única
coisa diferente, que poderia justificar a tomada das ruas, seria o
apoio das grandes mídias, até porque, historicamente, não seria a
primeira vez que isto ocorreria (Eleição do presidente Collor,
impeachment do mesmo...). Ainda assim, recuso-me em crer que
todos aqueles milhões de pessoas reuniram-se por conta de um
apelo midiático; logo, vale ainda algumas considerações.
Minha geração, anos 90, sempre foi apontada como despolitizada,
a que teve tudo de “mão beijada”, que “bons” jovens eram os das
só gerações anteriores, e que nosso universo cibernético não
dialogava com a realidade objetiva. Depois da abertura
democrática brasileira, grande parte das organizações que, ao
longo da história, organizam e dão direcionamento político ao
povo (movimentos sociais, partidos políticos, sindicatos,
associações de bairro, eclesiais de bases, etc.), por vezes, não tem
realizado o trabalho de base , ou adotaram linhas conflitantes com
relação aos interesses do povo, frustraram seus integrantes ou
mesmo enfraqueceram e não dispensaram energias para a
formação política. Com isso, uma geração inteira deixou de ter
acesso a historização política ou a teve de forma mínima. Mas
nosso povo sempre foi um povo de luta; a história oficial até tenta
ofuscar, mas não se pode apagar as lutas do povo! Junte isso com
insatisfações políticas e as péssimas condições de vida dessa
geração e pronto: têm-se uma bomba prestes a explodir, só
aguardando ser acionada. E o aumento da tarifa acionou esta
bomba! A violência policial, também. O apoio midiático, o frenesi
que contagiou o povo, a juventude em especial. Por ora, a
situação foi controlada, o povo parecia ressonar, mas creio que
este sono é leve, apenas suficiente para alçar novos sonhos, novos
voos, pois ainda há muito com que sonhar e para quem já viu
O gigante acordou... Mas ainda há muito com que sonhar! Por Brenda Barbosa
sonhos de mudanças materializarem-se o sono pesado é um
pesadelo! Torço (e luto) para que este ressonar seja a
preparação para um período intenso de transformações
sociais. Reconheço que o contexto foi favorável, mas
precisamos criar condições para que a transformação social
seja realizida. Vimos durante as manifestações de junho/2013,
por exemplo, setores sociais conservadores e de direita
comprometendo a intencionalidade dos atos e querendo se
apropriar da luta (e não me venham com “somos todos
brasileiros”; sim, geograficamente somos, mas, de fato, entre
nós existem extremas diferenças, inclusive quanto à “leitura de
mundo” e a luta por tarifa zero – a redução da tarifa é
historicamente uma bandeira de luta da esquerda, crendo
você que ela existe ou não). Assim, para uma geração que foi
distanciada da política é fácil confundir e/ ou unificar a
intencionalidade da luta, ainda mais quando as bandeiras das
lutas passam a assumir valores nacionalistas. No contexto
vivido discursos de ojeriza aos partidos políticos, criou uma
imagem de hostilização das instituições políticas –
oportunidade para a ideologia do opressor vender gato por
lebre. Inclusive reproduziu muito bem a crença e que só a
partir de seu despertar a primavera floresceria, ainda que em
pleno outono.
Acordar no meio da tarde e desconsiderar que tem gente
trabalhando desde antes das 4 da manhã é, no mínimo,
prepotente. Tem gente que acordou agora, e tem gente que
se quer dormiu. Achar que o sol só brilhou a partir da hora que
você acordou é assumir uma visão umbilical. O gigante pode
ter acordado agora, mas o Davi nem dormiu!
As ações e reflexões possibilitadas pela Educação Popular, que
tem em seu horizonte a emancipação humana, a partir da
transformação social, da libertação do oprimido, e
consequentemente do opressor, adquirem maior relevância
neste momento histórico. Neste sentido, ao propiciar a “leitura
da própria realidade, com vistas ao fortalecimento do poder
popular, faz-se importante mencionar que a Educação Popular
tem o potencial de envolver e fortalecer a organização das
classe trabalhadora s para intervirem na realidade conforme
seus interesses e necessidades de classe”. É hora de nos
prepararmos para a luta e um de nosss maiores instrumento,
felizmente, é uma concepção de educação que promove a
amorosidade, a vocação ontológica do ser, a emancipação
humana e uma sociedade onde não haverá opressões.
Manifestações de junho: o que a Educação
Popular tem a ver com isso?
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Fotonarrativas
Em 2012, o PET Educação Popular desenvolveu um
trabalho na UME Padre Leonardo Nunes, zona
noroeste de Santos. O grupo de extensionistas que
lá atuavam,participavam da frente “Juventude e
Ideologia” do próprio PET. Por volta do mês de
outubro, o grupo recebeu o gás de uma dupla de
estudantes da psicologia, o Cesinha e o
Thiago. Além de se integrarem ao grupo, os
meninos tinham de fomentar o processo de
sistematização, parte intrínseca da educação
popular, na qual organizamos a produção do
conhecimento que vivenciamos. Eles optaram por
fotorrativas, técnica que apreenderam em uma
UC da graduação da Psicologia. Nós adoramos os
resultados, até elencamos que precisamos nos
apropriar dessa tecnologia e pedimos uma
formação sobre o assunto. Viva a
interdisciplinaridade! Deliciem-se com uma das
fotonarrativas!
Por Cesar Inoue e Thiago Polli
“Troca de Papéis”
Leonardo Nunes , 18:40h, arroz, feijão, almôndegas e alface.
Impressão dos poemas, biblioteca, trânsito de pessoas,
enciclopédia conhecimento. “Vocês sabiam que o mimetismo
passou a ser pouco utilizado pelo cameleão?”. “Deve ser
porque ele tem poucos predadores”. Minutos passavam,
ninguém parava. “E aí, o que vamos fazer?”. “Vamos marcar
para Terça?”. “Vamos marcar para sexta?”. “Vai ter gente
semana que vem?”. “É semana de prova, não vai ter
ninguém.”. “Vamos discutir lá fora.”. Picolé de leite
condensado, 1 real. Na frente da escola para discutir, 45
minutos do segundo tempo, uma voz não familiar rompe a
discussão: “Não vai ter a palestra hoje?”. “Vai. Ou ia, não
apareceu ninguém.”. “Vocês não foram chamar.” De novo
dentro da escola, procura por sala. “Vamos fazer lá fora? Tem
pouca gente.” “Não tem sala vazia.”. Uma sala vazia,
ventilador ligado, que calor! “Vamos sentar em roda?”. Meia
lua formada. “Tá todo mundo confortável?”. Desculpas pela
ausência na semana anterior, Rio de janeiro - ENUDS - fórum
de psicologia. Proposta para o encontro. “Posso fazer uma
proposta antes? Vamos afastar as carteiras e sentar no
chão?”. “NÃOOO”. “SIMMM”. “To de saia gente”. “Vamos
afastar as carteiras e sentar nas cadeiras?”
Novas pessoas no encontro, proposta do próximo encontro
para terça–feira, “Ok, tudo bem.”. Poema, Bertold Brecht,
“alemão, velho ancião, lutou pelos trabalhadores, a gente:
Precisamos de você (Bertold Brecht)
Aprende - lê nos olhos, lê nos olhos - aprende a ler jornais, aprende:
a verdade pensa com tua cabeça.
Faça perguntas sem medo não te convenças sozinho mas veja com teus olhos. Se não descobriu por si
na verdade não descobriu. Confere tudo ponto por ponto - afinal
você faz parte de tudo,
também vai no barco, "aí pagar o pato, vai
pegar no leme um dia". que é isso? Como foi parar aí?Por
quê? Você faz parte de tudo.
Aprende, não perde nada das discussões, do silêncio. Esteja sempre aprendendo
por nós e por você. Você não será ouvinte diante da discussão, não será cogumelo
de sombras e bastidores, não será cenário para nossa ação!
UNIFESP BS |Boletim Informativo PET Educação Popular Janeiro 2014
O Brasil hoje é considerado o quarto país que mais encarcera no mundo, estipula-se 515 mil detentos, ficando atrás somente dos Estados
Unidos, da China e da Rússia. Segundo o autor Wacquant (1999), que estudou a situação na Europa e nos Estados Unidos, o crescimento da
população carcerária está associado ao desenvolvimento do Estado “liberal paternalista” – liberal porque se utiliza de mecanismos econômicos
geradores de desigualdades sociais, e paternalista porque realiza ações paliativas frente à precarização do trabalho e da proteção social. Com a
grande população carcerária e a expansão que se encontra, a política pública de educação de jovens e adultos tem grandes dificuldades em sua
concretização no interior das prisões – embora seja um direito a educação e esteja previsto em lei, possibilitando a redução da pena por estudo -,
levando em conta o clamor público que prega a imposição da violência e da punição deixando em segundo plano a educação dos indivíduos
encarcerados.
No Brasil, segundo dados do Depen (2012), a população carcerária, em sua maioria, é composta por jovens, pobres e negros. É fundamental
compreendermos que os problemas existentes no sistema carcerário, estão em alguma medida relacionados à sociedade desigual em que vivemos.
No geral, cerca de 60% não chegaram a concluir o ensino fundamental. As condições de vida desse grupo são marcadas por violações de direitos,
sejam individuais ou coletivos, e agravadas pela desigualdade de gênero que caracteriza a sociedade brasileira. Olhando para dentro desses
espaços nos deparamos com uma especifica população, coincidência ou não, são pessoas que normalmente ocupam uma mesma posição na
sociedade, ou seja, pertencem a uma mesma classe.
A superlotação, a falta de assistência médica e jurídica e a extrema pobreza que caracteriza a maioria dessa população fazem com que este seja um
grupo totalmente excluído da garantia de direitos. Ao processo de criminalização da pobreza é incorporada uma Política de Tolerância Zero, tendo seu
início nos Estados Unidos, com o endurecimento das penas e a ausência de políticas públicas aumentando a cada ano.
No estado de São Paulo, recentemente, fruto de quase dez anos de lutas dos movimentos sociais e organizações civis, foi instituído, por meio
do Decreto 57.238, de 17 de agosto de 2011, o Programa de Educação nas Prisões, a ser implantado e executado pela Secretaria da Educação e de
Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia, em parceria com a Secretaria da Administração Penitenciária, para prover aos sujeitos privados
de liberdade o direito ao acesso à educação.
Parágrafo único – A educação básica, de que trata o capitulo deste artigo, será implementada mediante projeto pedagógico próprio, na
modalidade Educação de Jovens e Adultos – EJA, de modo a atender a multiplicidade de perfis, interesses e itinerários escolares da clientela
(Resolução Conjunta SE/SAP 1, de 16-1-2013).
O direito à educação é assegurado a sujeitos em situação de privação de liberdade em algumas regiões do Brasil. Um exemplo significativo,
considerando o processo de mudanças dos sujeitos, é o programa da Unidade Prisional de Campos Belos (Goiás), que desenvolve os trabalhos na
perspectiva da Educação Popular. A garantia do direito à educação nas unidades prisionais do estado de São Paulo, conforme decreto citado,
ganha institucionalidade a partir de uma pressão social – movimentos e organizações de direitos humanos, defensoria pública e pastoral social – e
legal; a aprovação da lei nº 12.433, de 29 de junho de 2011, que altera a lei no 7.210, de 11 de julho de 1984 (Lei de Execução Penal), para dispor sobre
a remição de parte do tempo de execução da pena por estudo ou por trabalho.
Art. 1o Os arts. 126, 127, 128 e 129 da Lei no 7.210, de 11 de julho de 1984 (Lei de Execução Penal), passam a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá remir, por trabalho ou por estudo, parte do tempo de
execução da pena.
§ 1o A contagem de tempo referida no caput será feita à razão de:
I - 1 (um) dia de pena a cada 12 (doze) horas de frequência escolar - atividade de ensino fundamental, médio, inclusive profissionalizante, ou superior,
ou ainda de requalificação profissional - divididas, no mínimo, em 3 (três) dias;
II - 1 (um) dia de pena a cada 3 (três) dias de trabalho. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12433.htm
No entanto, há grandes contradições nesta lei, pois há um incentivo maior ao trabalho em detrimento da educação; nesse sentido, a lei serve aos
interesses do capital, que obtém uma grande quantidade de mão de obra barata, tendo como justificativa para esta exploração a redução da pena e
a qualificação dos presos para o mercado. Em Minas Gerais, presidiários produzem bolas em troca da sua liberdade. Eles integram o universo de 43.104
presos, entre condenados e provisórios, que formam a população carcerária no estado. Por ocupar postos de trabalho, recebem três quartos do salário
mínimo vigente por mês, o que corresponde atualmente a R$ 466,50, e são beneficiados com a remissão de um dia de pena a cada três de trabalho,
seguindo a Lei de Execução Penal. http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2012/09/25/interna_gerais,319418/trabalho-garante-liberdade-a-
detentos-dos-presidios-mineiros.shtml
Já a lei de remição pelo estudo, pouco posta em prática, requer investimento do Estado, e, dependendo da forma como a educação é
desenvolvida, poderia formar pensamento crítico que confrontaria o sistema. O receio dos desdobramentos da educação praticada na prisão é o
que inviabiliza a entrada de projetos referenciados na concepção de Educação Popular. Fato que justifica a facilidade l da entrada da pastoral
carcerária que prega a religião e a crença em Deus em forma de alienação, do que o conhecimento crítico produzido por uma Educação Popular.
Tendo em vista a aprovação da lei e a necessidade de garantir mecanismos e ações para implementá-la, surge o questionamento sobre a
concepção de educação a ser adotada. Considerando a dificuldade extrema encontrada para adentrar a educação popular nas unidades e
serviços do sistema prisional em Santos, desejamos, lutamos e persistimos com ações que possibilitem às pessoas encarceradas a oportunidade de
acessar e produzir conhecimento de forma crítica.
Uma realidade muito dinâmica: quando a Educação Popular não é bem vinda...
“Se quiseres conhecer a situação socioeconômica do país, visite os porões de seus presídios” (Nelson Mandela).
Desde o seu surgimento, o PET Educação Popular, por meio da frente “Educação Prisional e Gênero” almejou realizar um
processo de educação popular dentro de unidades prisionais. Durante mais de dois anos tentou de diversas formas adentrarem
este espaço, com pedidos oficiais, protocolos, incidências, etc. O mais próximo que chegamos do objetivo foi o de dar início a
uma biblioteca que seria utilizada por mulheres encarceradas. Mas, o impedimento de adentrarmos as cadeias permite-nos
algumas reflexões, porque será que a educação popular não pode e outros projetos, inclusive de educação, sim? Confira o
texto preparado por Helena Kuabara, Maria Clara Pereira e Wildney Moreira, o trio de extensionistas que acompanhou a