FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO RODRIGO DE CASTRO PINTO FREITAS O AUTOMÓVEL E O COMBUSTÍVEL DO FUTURO: CONSTRUÇÃO DE CENÁRIOS PROSPECTIVOS PARA OS MOTORES A COMBUSTÃO NO MERCADO AUTOMOTIVO BRASILEIRO SÃO PAULO 2020
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Transcript
FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO
RODRIGO DE CASTRO PINTO FREITAS
O AUTOMÓVEL E O COMBUSTÍVEL DO FUTURO:
CONSTRUÇÃO DE CENÁRIOS PROSPECTIVOS PARA OS
MOTORES A COMBUSTÃO NO MERCADO AUTOMOTIVO
BRASILEIRO
SÃO PAULO
2020
RODRIGO DE CASTRO PINTO FREITAS
O AUTOMÓVEL E O COMBUSTÍVEL DO FUTURO: CONSTRUÇÃO
DE CENÁRIOS PROSPECTIVOS PARA OS MOTORES A
COMBUSTÃO NO MERCADO AUTOMOTIVO BRASILEIRO
SÃO PAULO
2020
Trabalho aplicado apresentado à Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas como requisito para obtenção do título de Mestre em Gestão para a Competitividade.
Linha de pesquisa: Varejo
Orientador: Prof. Dr. Maurício Morgado
Freitas, Rodrigo de Castro Pinto.
O automóvel e o combustível do futuro: construção de cenários prospectivos para os motores a combustão no mercado automotivo brasileiro / Rodrigo de Castro Pinto Freitas. - 2020.
69 f. Orientador: Maurício Gerbaudo Morgado. Dissertação (mestrado profissional MPGC) – Fundação Getulio Vargas, Escola de Administração de Empresas de São Paulo.
1. Veículos a motor. 2. Motores de combustão interna. 3. Indústria automobilística - Brasil. 4. Inovações tecnológicas. I. Morgado, Maurício Gerbaudo. II. Dissertação (mestrado profissional MPGC) – Escola de Administração de Empresas de São Paulo. III. Fundação Getulio Vargas. IV. Título.
CDU 629.114.6(81)
Ficha Catalográfica elaborada por: Isabele Oliveira dos Santos Garcia CRB SP-010191/O Biblioteca Karl A. Boedecker da Fundação Getulio Vargas - SP
RODRIGO DE CASTRO PINTO FREITAS
O AUTOMÓVEL E O COMBUSTÍVEL DO FUTURO: CONSTRUÇÃO
DE CENÁRIOS PROSPECTIVOS PARA OS MOTORES A
COMBUSTÃO NO MERCADO AUTOMOTIVO BRASILEIRO
São Paulo, 10 de Julho de 2020.
Trabalho aplicado apresentado à Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas como requisito para obtenção do título de Mestre em Gestão para a Competitividade.
Linha de pesquisa: Varejo
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. Maurício Gerbaudo Morgado (Orientador)
FGV – EAESP
Edgard Elie Roger Barki
FGV – EAESP
George Bedinelli Rossi
AGRADECIMENTOS
Agradeço a minha esposa e ao meu filho, que me apoiaram de forma
incondicional e tiveram compreensão em todo este processo, principalmente nas
etapas finais em que a necessidade de dedicação foi maior. Vocês são a parte mais
importante de tudo isso.
Agradeço ao meu orientador, Maurício Morgado, que confiou na pesquisa que
estava sendo desenvolvida e me direcionou sempre com muita atenção e paciência.
Agradeço a cada um dos especialistas, grandes amigos que construí durante
a jornada profissional e que tive o prazer de contar com o apoio neste estudo. Em
especial, agradeço ao amigo Fernando Gavioli, um dos incentivadores para que eu
iniciasse esta jornada e que me acompanhou em cada uma das etapas.
Aos colegas e professores do MPGC da FGV, pelas inúmeras discussões e
parceria em cada uma das etapas do curso.
Agradeço aos meus pais, ao meu irmão e a minha irmã, pelo apoio de toda
uma vida.
Muito obrigado!
RESUMO
A movimentação das montadoras de automóveis no desenvolvimento de
motores elétricos dá sinais de que o mercado automotivo está diante de uma de suas
maiores incertezas e transformações. Alguns dos influenciadores da mudança são as
novas exigências ambientais que solicitam a redução das emissões dos gases
geradores do efeito estufa. No Brasil, essa iniciativa parte do Projeto Rota 2030, o
qual tem por objetivo realizar transformações na indústria automotiva nacional,
estabelecendo requisitos na fabricação dos automóveis quanto ao controle da
emissão de gases e segurança.
Visando a transformação que o Rota 2030 propõe, este estudo busca
identificar as incertezas apresentadas pelas montadoras e, desta forma, compreender
o futuro do mercado automotivo. Assim, questiona-se: Quais são os cenários
possíveis para o futuro dos motores a combustão no mercado automotivo para os
próximos vinte anos?
Desta forma, utilizou-se nesta pesquisa a metodologia de cenários
prospectivos (SCHWATZ, 2006), e destacou-se duas incertezas críticas: o
desenvolvimento tecnológico e a acessibilidade econômica. A partir da investigação
desses dados construiu-se quatro cenários prospectivos: i) “O céu é o limite” –
Cenário de desenvolvimento tecnológico impulsionado por incentivos políticos
socioeconômicos e ambientais; ii) “Frustração” – A tecnologia evoluiu, mas não está
ao alcance de todos; iii) “Mais do mesmo” - Passaram-se vinte anos e a realidade é
a mesma de 2020, nada mudou e iv) “A reboque” - As montadoras são empurradas
pela acessibilidade econômica, mas a tecnologia está estagnada. Embora não exista
certeza em qualquer previsão, a narrativa de cada um dos cenários conseguiu
sintetizar os futuros possíveis e identificar pontos críticos. Por fim, observou-se a
necessidade da integração de projetos de fornecedores e de montadoras, bem como
políticas que impulsionem novas tecnologias.
Palavras-chave: Veículos. Motores a combustão. Indústria automotiva. Modelos alternativos de propulsão. Desenvolvimento tecnológico.
ABSTRACT
The movement of the automakers in the development of electric engines flags
that the automotive market is facing one of its greatest uncertainties and
transformations. One of the influencers of this change are the new environmental
requirements that call for the reduction of greenhouse gases. In Brazil, this initiative
comes from the Rota 2030 Project, that aims to make changes in the national
automotive industry and thus establish conditions in the manufacture of automobiles
regarding the control of gas emissions and safety.
Striving for the transformation that Rota 2030 proposes, this study looks to
identify the uncertainties presented by the automakers and then understand the future.
So, it is questioned: What are the possible scenarios for the future of combustion
engines in the automotive market for the next twenty years?
Since there are already changes in course. Therefore, the methodology of
prospective scenarios was used in this research (SCHWATZ, 2006) and two
uncertainties were highlighted: the technological development and the economic
accessibility. Based on the investigation of these data, four prospective scenarios are
constructed: i) “The sky is the limit” – scenario of technological development driven by
socioeconomic and environmental political incentives; ii) “Frustration” – technology
has evolved, but it is not available to everyone; iii) “More of the same” – the reality of
2020 has not changed; and iv) “In tow” – automakers are pushed by economic
accessibility, but technology is stagnant. Although there is no absolute certainty in any
prediction, the story of each scenario could synthesize the possible futures and identify
critical points. Finally, there was a need to integrate projects from suppliers and
automakers, as well as policies that drive new technologies.
Keywords: Vehicles. Combustion engines. Automotive industry. Alternative templates
of propulsion. Technological development.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Emissões de Gases do efeito estufa por Setor Mundo 1996 – 2016......15
Figura 2: Instalação global de carregadores elétricos, 2013-2018.........................16
Figura 3: Evolução dos elétricos União Europeia e Brasil......................................18
Figura 4: Cone do future – Previsão x visão prospectiva.......................................21
Figura 5: Método Schwartz.....................................................................................24
Figura 6: Escala para avaliação do grau de incerteza............................................27
Figura 7: Matriz de incerteza crítica........................................................................27
Figura 8: Eixos ortogonais – combinação dos eixos das incertezas críticas..........28
Figura 9: Grupos das incertezas críticas......................................................................43
Figura 10: Definição dos eixos e lógica dos cenários.............................................44
Figura 11: Eixo da lógica dos cenários...................................................................45
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Evolução dos elétricos no mundo..........................................................17
Gráfico 2: Matriz incerteza x importância................................................................28
Gráfico 3: Matriz incerteza x importância do estudo...............................................43
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Produção de veículos 2008 – 2019......................................................19
Tabela 2: Participantes da sessão de brainstorming............................................34
Tabela 3: Fatores-chave identificados pelo grupo de trabalho.............................35
4.1 Cenários prospectivos para os motores a combustão no mercado automotivo nacional.............................................................................
31
4.1.1 Identificação da Questão Principal......................................................... 31
4.1.2 Identificação dos fatores-chave (microambiente)................................... 33
4.1.3 Identificação das forças motrizes (macroambiente).............................. 36
4.1.4 Ranking das incertezas críticas.............................................................. 37
4.1.5 Definição da lógica dos cenários............................................................ 44
4.1.6 Definição dos cenários........................................................................... 46
4.1.6.1 Narrativa 01 – O céu é o limite................................................................ 46
ANEXO I ................................................................................................ 67
11
1 INTRODUÇÃO
Considerada uma das indústrias mais influentes para a economia mundial,
desde o seu surgimento na Alemanha, com o primeiro modelo a combustão, a
indústria automobilística representa no mercado nacional 18% do PIB das indústrias
de transformação, sendo responsável pelo faturamento anual de mais de 60 bilhões
de dólares e por gerar mais de 1,3 milhões de empregos diretos e indiretos em todo
o Brasil (ANFAVEA, 2020).
Com números expressivos, no ano de 2013, a indústria automobilística viveu
seu melhor momento, ultrapassando 3.7 milhões de unidades produzidas, foi um ano
promissor que, nos anos seguintes, se consolidou em um dos momentos mais difíceis,
no que tange as quedas significativas nas vendas de automóveis. Embora 2019 tenha
sido um ano marcado por crescimento, a marca que a indústria chega hoje é menor
do que se tinha há dez anos e, mesmo com os números mostrando tendências de
crescimento, há dificuldade em prever como esse mercado vai se comportar nos
próximos anos.
Tanto as transformações em mobilidade urbana, como o desenvolvimento de
sistemas de propulsão por energia renovável têm trazido incertezas de como o
mercado vai se comportar ou quais tecnologias estarão disponíveis e acessíveis,
tornado as previsões desse mercado mais difíceis. Os dois temas ganharam espaço
nas agendas do mercado automotivo, motivados pelo crescente número de
aplicativos de compartilhamento, pelas mudanças no perfil de vendas de automóveis
e por matérias como as divulgadas em março de 20201.
De acordo com alguns acadêmicos (SHIRMOHAMMADLI, 2016;
KAPLAN,2014; KLEIN E SMART, 2017) as mudanças na estrutura de demanda da
mobilidade, como novas opções ou transportes alternativos e compartilhados, estão
associadas ao perfil das gerações.
1 Por exemplo, a BMW lançou uma rede inteligente de recarga para carros elétricos e a revista Veja publicou uma reportagem sobre alternativas de mobilidade desenvolvidas pela Volkswagen.
12
As possíveis mudanças nos modelos de propulsão e como os consumidores
podem receber as novas alternativas, são questões que também apresentam
incertezas na indústria automotiva. Alguns estudos (THOMAS, 2019; WACHS, 2010)
sugerem que fatores como a relação entre consumo energético, performance e o
impacto para questões ambientais têm colocado os veículos elétricos como principal
alternativa para o atual modelo de propulsão2. No entanto, há contraponto para as
visões mais arrojadas a respeito do veículo elétrico como principal opção política e
tecnológica para redução de emissões. Os pesquisadores a seguir levantar algumas
hipóteses sobre o assunto.
Para Long (2019), uma forma de compreender as mudanças no mercado
automobilístico é refletir a visão dos consumidores sobre as montadoras e a
eletrificação, mostrando como algumas delas são consideradas referências em
veículos elétricos. Tran (2012), por sua vez, afirma que os estudos de demanda
também devem ter como base o comportamento e preferências do consumidor. Já
Shirmohammadli (2016) e Cooper (2019) tratam da correlação entre mobilidade e a
possível mudança na plataforma de propulsão como dois temas impactando no perfil
das viagens, demandas de transporte e, por consequência, no varejo automotivo.
Giddy (2019) sintetiza a relação entre mobilidade e tecnologia com base em
aplicativos de transporte, já Pangbourne (2020) trata do impacto social promovido por
meio da relação entre o crescimento da mobilidade e o desenvolvimento tecnológico.
Desta forma, o objetivo deste estudo é construir cenários para identificar os
futuros possíveis para os automóveis respondendo à questão: Quais são os cenários
possíveis para o futuro dos motores a combustão no mercado automotivo para os
próximos vinte anos?
Para construção das perspectivas foi desenvolvido um estudo descritivo que
integrou resultados de pesquisa em materiais acadêmicos, entrevista com
profissionais do setor, dados históricos do varejo automotivo e pesquisas
aprofundadas de materiais e relatórios divulgados por montadoras, associações e
órgãos com possível impacto no mercado automotivo.
2 O tema foi amplamente abordado no congresso NADA de 2019 e o Museu Toyota Kaikan trata essa como a maior transformação no mercado automotivo e expõe modelos alternativos de propulsão e baterias inteligentes para aumento da autonomia.
13
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Mobilidade e as gerações
Existe um elo entre as gerações e a mobilidade que foi pesquisado por diversos
estudiosos, como Klein e Smart (2017), Delbosc (2013) e Kaplan (2014), essas
pesquisas destacam as novas gerações como menos interessadas pela propriedade
do automóvel, geralmente atribuem essa questão a mais de um fator, como: a
acessibilidade gerada pela tecnologia, características das gerações e fatores
econômicos.
Para Delbosc (2013) a acessibilidade é um dos principais fatores responsáveis
por motivar a transformação da mobilidade e chama a atenção para que a nova
geração, os Millennials, sejam mais conectados e tenham maior tendência a optar por
meios transportes alternativos ou serviços de transporte por aplicativo.
Para Ho (2019) a conveniência proporcionada pelos aplicativos atrai os
consumidores para mobilidade como serviço, isto é, a Mobility as a Service (MAAS),
no entanto, o consumidor, independentemente da idade, não está disposto a pagar
mais caro por essa conveniência, sendo o fator custo determinante na tomada de
decisão do consumidor entre usar ou não a plataforma de serviço.
Shirmohammadli (2016) reflete sobre a mudança de comportamento quanto a
propriedade do carro, ou seja, há relação direta com o perfil da geração alinhada para
determinada faixa etária. O autor destaca que a análise é mais eficiente quando esse
ponto é observado em conjunto com outras características.
Desta forma, pode-se compreender que as novas gerações preferem
transportes compartilhados motivados por fatores econômicos e por preocupações
com questões ambientais, fatos que registram algumas das razões que influenciam
essas mudanças no perfil de consumo e na demanda de mobilidade.
14
2.2 Desenvolvimento tecnológico e mobilidade
Para Jenn (2018) o número crescente de aplicativos para transporte é o ponto
de partida para o desenvolvimento da Mobility as a Service (MAAS). Como explica
Wong (2020), um dos principais desafios para a transformação da mobilidade está
em desenvolver inovações que favoreçam a mobilidade individual. Dentro do conceito
de MAAS, os aplicativos surgem como o elo que permite ao consumidor ter acesso a
diversos serviços de transporte. Da mesma forma, Pangbourne (2020) mostra que a
mobilidade como serviço é uma oportunidade de negócio que entra nos serviços de
transporte para cobrir lacunas deixadas pelos modelos atuais, assim, o autor utiliza
como base para esse serviço a aproximação do consumidor com os prestadores por
meio dos aplicativos.
A facilidade de acesso a transportes gerada pelos aplicativos pode ter impactos
no comportamento do consumidor e no varejo automotivo, além de influenciar a opção
de compra ou a emissão de habilitações que podem refletir uma diminuição do
interesse na aquisição do automóvel (DELBOSC, 2013; GUO, 2019).
Jenn (2018), assim como Pangbourne (2020) e Wright (2020), destaca que, em
um mercado dominado pelo conceito de propriedade do automóvel, a mobilidade
como serviço ganhou espaço e atualmente é relacionada como principal alternativa
para o veículo nos moldes atuais. Porém, há um contraponto para a utilização do
MAAS3 em ampla escala, como as dificuldades apresentadas em regiões com menor
densidade demográfica ou para usuários que estão em áreas mais isoladas
(WRIGHT, 2020).
No estudo realizado por Gnann (2015) os veículos elétricos ganham destaque
quando utilizado em MAAS, pois nesse perfil de utilização, com mais quilômetros
percorridos, a relação custo e eficiência são maiores para o condutor, o que entregaria
um custo mais acessível na prestação de serviço, mas, mesmo com o contraponto, a
MAAS ainda é considerada uma alternativa para as questões ambientais, econômicas
e tecnológicas apresentadas nos estudos de Shirmohammadli (2016) e de Ho (2019).
3 Mobility as a Service – Transportes por aplicativos.
15
2.3 Eletrificação e o meio ambiente
Criado com o objetivo de promover o consumo e uma geração de energia mais
sustentável, o Acordo de Paris, assinado em dezembro de 2015, estabeleceu políticas
de controle para as emissões de gases do efeito estufa (GEE). O acordo reúne 187
países, que juntos são responsáveis por 97% das emissões globais e deve impactar
os mais diversos setores. Como exemplo, o setor de energia, que engloba setores
chave como geração de eletricidade, transporte e construção, no ano de 2016 foi
responsável por gerar 36 gigatoneladas de dióxido de carbono equivalente (GtCO2e)
a 71% do total gerado nesse mesmo ano (CAIT, 2019).
Como apresentado na Figura 1, dentro do setor de energia, os Transportes são
os que mais emitem gases de efeito estufa (GEE), após o setor de Eletricidade.
Situação que, somada as exigências estabelecidas pelo acordo de Paris, fez com que
a redução da emissão dos gases geradores do efeito estufa ocupasse parte da
agenda das montadoras e de órgãos envolvidos com transporte (HILL, 2019).
Figura 1: Emissões de Gases do efeito estufa por Setor Mundo 1996 – 2016
Fonte: World Resources Institute, CAIT Climate Data Explorer, 2019, adaptado pelo autor.
16
De acordo com dados da European Environment Agency (EEA, 2018), em
2016 só a União Europeia - UE-28, foi responsável por 27% dessas emissões, sendo
72% provenientes do transporte rodoviário. Atualmente, 95% da energia consumida
pelos transportes é proveniente de combustíveis fósseis, essa matriz energética é
predominante desde os primórdios dos veículos (ROMM, 2006).
A mudança do modelo de propulsão, saindo dos combustíveis fósseis e
migrando para motores elétricos, é tratada como a principal alternativa para reduzir
as emissões dos GEE e assim mitigar os impactos causados pela urbanização
mundial (DELUCCHI, 2014; KANNAN, 2016; YU & STUART 2017; MEISEL, 2018).
Glerum (2014) afirma que por muitos anos a eletrificação no mercado
automotivo foi deixada de lado, hoje as metas estabelecidas pelo acordo de Paris
fizeram com que a corrida pelos veículos elétricos ficasse acirrada e as montadoras
investissem em projetos de propulsão alternativa, com isso surgiram os projetos de
veículos Híbridos e os 100% elétricos, além dos investimentos em infraestrutura,
como o crescente número de carregadores, que em 2018 foi 44% maior quando
comparado ao ano anterior (IEA, 2018).
Figura 2: Instalação global de carregadores elétricos, 2013-2018
Fonte: IEA 2018.
17
Ainda sobre infraestrutura, Novais (2016), baseado em estudos realizados pela
Itaipu Binacional, comenta sobre os mitos envolvendo o efeito blackout, o autor reflete
que, mesmo se o Brasil empenhasse toda a sua capacidade produtiva de veículos,
precisaria de aproximadamente dez anos para substituir a frota, migrando 100% para
os veículos elétricos (doravante VEs), o que traria um acréscimo de aproximadamente
33% no consumo atual, percentual que poderia ser absorvido com eventuais
ampliações sem riscos dos temidos blackouts.
Mesmo ocupando posição de destaque, os veículos elétricos têm objetivos
desafiadores para os próximos anos e, em sinergia com as montadoras, os governos
têm trabalhado em políticas de incentivo visando benefícios econômicos aos
proprietários dos VEs, o que alavancaria de forma considerável a substituição dos
veículos atuais (MEISEL, 2018).
2.4 Eletrificação e a transformação do varejo automotivo
Para Thomas (2019) e Wachs (2010) o crescimento no número dos veículos
elétricos sinaliza que eles chegam ao mercado como a principal alternativa para a
transição da matriz energética e para o futuro dos motores a combustão, mitigando
os efeitos das questões ambientais, mas também com potencial de influenciar fatores
tecnológicos, mobilidade, consumo de matriz enérgica e performance.
Gráfico 1: Evolução dos elétricos no mundo
Fonte: IEA, 2020, adaptado pelo autor.
18
Jenn (2018) traça um paralelo entre serviços de mobilidade e o comportamento
das gerações definindo um perfil de consumidores que é mais propício às novas
tecnologias e transportes alternativos. Hawkins (2013) e Novais (2016) comentam
sobre a evolução nos números dos elétricos e reforçam a eletrificação como principal
alternativa para o futuro dos veículos no modelo que temos hoje, destacando o
conjunto de benefícios entregue pelos VEs, em que são relacionadas as percepções
que eles causam nos consumidores pela ideia de tecnologia verde, além de serem
capazes de entregar desempenho sem emissão dos GEE.
No mercado nacional, com data prevista para o ano de 2022, o Programa Rota
2030 será um dos principais influenciadores, pois trará políticas e metas desafiadoras
para a indústria automobilística. O programa parte de um projeto de organização
industrial que possibilitou um realinhamento para a cadeia automotiva e as metas
estão divididas em três blocos: redução de emissões de gases geradores do efeito
estufa, eficiência energética e segurança (MDIC, 2019).
Toda a movimentação no setor pede ainda mais atenção para essa indústria
que sempre foi marcada por sua representatividade econômica, porque além dos
desafios impostos pelo Rota 2030, há o desafio de sustentar o modesto crescimento
dos últimos anos. A última década não foi um período fácil para as montadoras no
mercado nacional que viram os números de vendas de carros despencarem, esse
Figura 3: Evolução dos elétricos União Europeia e Brasil
Fonte: ACEA, 2019 - 2020; ANFAVEA, 2020; IEA, 2018, adaptado pelo autor.
19
cenário começou a mudar apenas nos últimos três anos, ficando aquém do potencial
desse mercado, como mostra a Tabela 1 (ANFAVEA, 2020).
Kannan (2016) e Gnann (2015) também destacam a necessidade de decisões
políticas nos setores elétrico e petrolífero. A substituição da matriz energética tem o
potencial de reduzir as receitas provenientes da tributação de combustíveis e de
sobrecarregar redes de energia, além dos incentivos para VEs impulsionar para tal
demanda.
Tabela 1: Produção de veículos 2008 – 2019
Fonte: ANFAVEA, 2020.
20
3 METODOLOGIA DE PESQUISA
Dentro das organizações é comum a construção das estratégias partindo
apenas da avaliação de dados estatísticos com o objetivo de buscar nas informações
do passado as possíveis tendências para o futuro. Em um mercado cada vez mais
desafiador, essa prática é revista e surge o desafio de montar estratégias com bases
mais concretas e uma visão mais ampla do futuro. Para isto, há a necessidade de
informações e metodologias que permitam a visão ampla dos possíveis futuros da
organização (BORGES, 2005; PRESCOTT, 2002).
O futuro pode ser descrito como incerto, com diversos caminhos possíveis a
serem trilhados, esses são influenciados por questões ambientais e, algumas vezes,
pode ser projetado com elementos da imaginação. A soma de todas essas questões
confere ao futuro a característica mais desafiadora: a impossibilidade de ser prevista
e, neste sentido, a construção de cenários ocupa uma lacuna servindo de ferramenta,
não para prever, mas para identificar futuros possíveis (MARCIAL, 2001).
Dentro das organizações, a construção de cenários possibilita mitigar os
impactos das variações e as incertezas do mercado, assim, a partir de fontes de
dados confiáveis pode-se estruturar projeções de cenários com bases conhecidas e
sólidas. A necessidade é ter um objetivo claro e comum a toda equipe, independente
dos setores de atividade ou funções de atuação, desta forma, a construção de
cenários possibilita o compartilhamento de ideias e construção de estratégias
multidisciplinares, além de oferecer a oportunidade de aplicar uma nova ferramenta
para o desenvolvimento organizacional e a gestão corporativa (RINGLAND, 2007;
MARCIAL, 2001).
3.1 Cenários Prospectivos
Cornelius (2005) trata a construção dos cenários como uma forma de sintetizar
determinada ideia para que se consiga narrar histórias que ilustram quais as
alternativas aplicáveis. O autor ainda destaca que os possíveis cenários devem estar
embasados em informações confiáveis, desta forma, a ideia é mais profunda do que
o simples conceito de tentar prever o futuro. De forma geral, as bases de informações
servem como estruturas para criar alternativas de futuro que têm todo o embasamento
e possibilidade de acontecer.
21
A metodologia de construção de cenários traz como base a visão prospectiva,
é ela quem difere o método de uma previsão ou projeção de futuro. Enquanto as
previsões analisam o passado, de forma a criar uma tendência para projetar um futuro
possível, a prospectiva busca elementos que possibilitem uma visão mais ampla e
apresenta futuros possíveis. Na prática, os cenários possibilitam idealizar como
podem ser os possíveis desdobramentos do futuro (MARCIAL, 2001). O cone do
futuro de Voros (2003), representado na Figura 4, representa como a visão
prospectiva se difere das previsões.
Os cenários podem ser usados contrariamente à questão inicial, ou seja, tentar
definir futuros possíveis ou criar situações. Toda a cenarização pode servir como fator
chave para a organização de manter a ideia central na projeção dos ambientes
futuros, situação que mantém as ideias organizadas para o desenvolvimento dos
trabalhos.
A partir da metodologia aplicada pelos autores é possível olhar para a
construção de cenários e ter a segurança de trabalhar com uma ferramenta que
possibilite identificar alternativas para o futuro, isso permite que um gestor ou
companhia se prepare para possíveis mudanças possam estar preparados com o
processo de adaptação, assim, o processo acontece de forma orgânica, pois as
situações começam a dar sinais e desenhar ainda no presente (SCHOEMAKER,
1995).
Fonte: VOROS, 2003, adaptado pelo autor.
Figura 4: Cone do future – Previsão x visão prospectiva
22
Quanto à tipologia, Marcial (2001) explica que os cenários podem ser
normativos, qualificados pela natureza dos fatos e que têm como base futuros
desejados, ou exploratórios, que têm por característica definir um sistema e com base
nele determinar futuros possíveis. O pesquisador ressalta ser necessário estabelecer
o horizonte de tempo de ocorrência dos fatos, assim, pode-se garantir a segurança
nas projeções e possibilitar que o período de transformação esteja coberto pelo tempo
de análise. Por tratar de visões de longo prazo, a sugestão é que os cenários sejam
construídos em um horizonte mínimo de dez anos (SCHWARTZ, 2006)
Marcial (2001) destaca que a análise ambiental seja constituída de duas
etapas: macroambiente e microambiente. Como definição, o macroambiente está
associado às variáveis capazes de influenciar todos os mercados, isto é, o ambiente
sociocultural, político e legal, ambiente econômico, tecnológico e competitivo. A
análise do microambiente está associada à verificação mais próxima da organização
e envolve estudos sobre os fornecedores, estratégias da organização e mercado
(Kotler, 2006; Westwood, 1997).
Os cenários possibilitam que as organizações testem os seus planos e
consigam medir a efetividade das estratégias projetando os futuros plausíveis. Isso
permite que a organização passe a agir sobre um cenário projetado e não mais reagir
as surpresas (RINGLAND, 2008 & CORNELIUS, 2005, WELLER, 2007). Desta forma,
nos últimos trinta anos mais empresas estão aplicando a construção de cenários
como ferramenta de gestão. No cenário corporativo, a Royal Dutch Shell foi a pioneira
em utilizar os cenários para elaboração de planejamento estratégico (CORNELIUS &
VAN DER HEIJDEN 2005).
Diversos são os métodos que auxiliam na construção de cenários prospectivos,
sendo possível destacar quatro autores: Godet (1996); Porter (2004); Schwartz (2006)
e Grumbach (2002). Embora os autores utilizem etapas distintas para a elaboração
dos cenários, em geral, as metodologias são estruturadas por: i) Definição dos
objetivos e questão principal; ii) Levantamento e análise das variáveis; iii) Avaliação
dos impactos das variáveis e sua consistência; iv) Definição enredo de cada cenário
baseado nas variáveis mais críticas, v) Construção das narrativas para cada um dos
cenários e vi) Analise dos cenários (MARCIAL, 2002 & BALIERO FISCHER, 2016).
23
A principal diferença entre os métodos está na fase de análise das variáveis,
pois cada um utiliza sua respectiva técnica com etapas e processos bem definidos.
Nesse sentido, observa-se, a semelhança nas metodologias proposta por Godet e
Grumbach que baseiam seus métodos em procedimentos estatísticos, lançando mão
de análises quantitativas, enquanto Porter e Schwartz trabalham com métodos
intuitivos, pois consideram análises qualitativas e a visão de especialistas para a
construção dos cenários (MARCIAL, 2001).
Godet & Roubelat (1996), assim como Bethlem (2002) explicam a necessidade
de excluir ou mitigar relações causais com o presente, sugerindo uma análise
aprofundada das variáveis que constituem os futuros possíveis. Com a mesma
consideração, Schwartz (2006) reforça essa ideia e ainda destaca essas variáveis,
classificando-as como incertezas críticas e as utiliza como elemento principal para
construção dos cenários em sua metodologia.
Neste estudo, a construção de cenários prospectivos foi realizada por meio da
aplicação do método proposto por Peter Schwartz (2006), apresentado em detalhes
a seguir.
3.2 Métodos para cenários prospectivos - Método Schwartz
O método descrito por Schwartz tem por objetivo a criação de cenários
múltiplos e globais com abordagem qualitativa baseada em análises intuitivas das
incertezas e dos seus possíveis desdobramentos. O modelo segue etapas pré-
determinadas que permitem avaliar as incertezas e garantir que estas são variáveis
críticas para o estudo, isso é feito por meio da verificação da influência que elas
possam exercer sobre o problema em análise (MARCIAL, 2002).
Esse método tem como característica ser realizado de dentro para fora,
partindo da avaliação realidade da organização (microambiente) considerando a
situação e fatores que estão ligados diretamente as estratégias da organização, ao
invés de partir de fora para dentro, iniciando com análise do ambiente
(macroambiente) e depois avaliando quais os possíveis impactos na estratégia da
companhia (MARCIAL & GRUMBACH, 2002).
24
Schwartz (2006) orienta que os cenários sejam elaborados com base no estudo
das incertezas críticas, para isso indica pesquisas aprofundadas, além de reuniões
de brainstorming e entrevistas em profundidade com especialistas. O objetivo das
entrevistas é buscar a percepção de especialistas quanto a suas preocupações e
incertezas sobre o futuro, e construir uma visão aprofundada dos caminhos possíveis
para a organização e para o mercado em que ela está inserida.
Em sua metodologia, o autor orienta a criação de um número limitado de
cenários (no mínimo três e no máximo cinco) e explica que poucos cenários podem
gerar uma análise direta, do tipo certo e errado, ou simplesmente provável e
improvável. Por outro lado, muitos cenários podem dificultar as análises por trazerem
um número elevado de elementos a serem observados. O autor ainda destaca que a
avaliação dos cenários não deve considerar qual o cenário com maior probabilidade
de ocorrência, mas sim que sejam avaliados quão plausíveis são os cenários
construídos e os possíveis impactos frente ao planejamento estratégico da
organização (SCHWARTZ, 2006).
O estudo proposto por Schwartz (2006) constitui-se de oito etapas, descritas
após a Figura 5:
Fonte: Schwartz, 2006.
Figura 5: Método Schwartz
25
3.2.1 Identificação da questão principal
Nesta etapa, deve ser determinada a questão a ser analisada no estudo.
Schwartz (2006) define a questão principal como a situação ou problema que pode
influenciar o futuro da organização, sendo utilizada como norte em cada uma das
etapas do método, bem como o foco do estudo. Em paralelo com a questão principal,
devem ser definidos também os limites de espaço e de tempo.
O autor sugere que seja identificada a situação atual da organização através
de pesquisas e, com base nesse material, seja elaborada uma lista com aspectos
capazes de influenciar o futuro (Lista de Aspectos Fundamentais). A avaliação dos
dados identificados nas pesquisas e da lista de aspectos fundamentais deve servir de
referência para a definição da questão principal e esta deve contemplar os limites
geográfico e temporal.
3.2.2 Identificação dos fatores-chave (microambiente)
Com a questão principal definida, deixando claro qual o problema ou as
decisões que serão objeto do estudo, Schwartz (2006) explica que devem ser listados
os fatores-chave. Esses fatores são as principais forças capazes de impactar
diretamente as decisões relacionadas ao ambiente interno (microambiente), como o
comportamento da demanda, as concorrentes e o fornecimento de insumos
estratégicos. Para a definição da lista de fatores-chave, o autor indica reuniões de
brainstorming com executivos da organização ou profissionais que possuam ligação
com a organização.
3.2.3 Identificação das forças motrizes (macroambiente)
Com os fatores-chave definidos, as forças motrizes (forças do macroambiente)
devem ser exploradas, já que são capazes de impactar diretamente a questão
principal e os fatores-chave, essas forças são definidas como impulsionadoras dos
cenários.
26
Nesta etapa, as discussões devem ser aprofundadas para identificar
elementos sobre o ambiente externo, como exemplo o ambiente político, ambiental,
sociocultural, econômico e tecnológico. O objetivo é buscar possíveis relações entre
o macroambiente e o microambiente. Como orientação para definição da lista de
forças motrizes, o autor indica reuniões de brainstorming com executivos da
organização ou profissionais que possuam ligação com a organização ou com
executivos que tenham ligação com o mercado.
3.2.4 Ranking das incertezas críticas
Definidas as forças motrizes, elas devem ser analisadas e classificadas quanto
ao grau de incerteza de ocorrência e a sua importância para os eventos futuros. A
partir da classificação, são separadas como em a) incertezas críticas, que são
variáveis de ocorrência incerta ou que podem se desdobrar em hipóteses variadas,
além de impactarem significativamente à questão principal e, b) fatores
predeterminados, que são variáveis de ocorrência certa ou previsível, que não
dependem de outros eventos.
Para a definição das incertezas críticas, Schwartz (2006) orienta que as forças
motrizes (variáveis) sejam classificadas utilizando a Matriz de incerteza crítica, Figura
6, para tanto, deve-se utilizar pontuações de um a cinco, sendo 1 a pontuação
atribuída às variáveis com baixo grau de incerteza ou importância, e 5 para maior
grau de incerteza ou importância. A entrevista com os especialistas pode ser usada
nesse momento como referência para as pontuações. Desta forma, Marcial (2002)
sugere a utilização da escala para avaliação do grau de incerteza como referência da
pontuação. A escala é estruturada considerando um percentual para a certeza da
ocorrência e esse percentual associado a pontuação de 1 a 5.
Na sequência, apresenta-se as figuras 6 e 7.
27
Como auxílio na identificação das variáveis críticas (incertezas críticas) o autor
indica a elaboração do Gráfico de incerteza x importância na Figura 6. As incertezas
críticas serão as variáveis com alto grau de impacto e alta incerteza (como exemplo
as variáveis 1 e 3 da Figura 7). Essas serão exploradas na próxima etapa e devem
dar origem aos eixos que diferenciarão os cenários.
Schwartz (2006) chama a atenção para o número de variáveis classificadas
como críticas, sugerindo que muitas variáveis podem dar origem a uma quantidade
de cenários não administrável. O ideal é limitar as variáveis, ou mesmo agrupá-las
em torno de um, dois ou, no máximo, três eixos que são os elementos que
determinarão a lógica dos cenários, como apresentado no Gráfico 1:
Figura 6: Escala para avaliação do grau de incerteza
Fonte: Marcial, 2002, adaptado pelo autor
Figura 7: Matriz de incerteza crítica
Fonte: Marcial, 2002, adaptado pelo autor.
28
Gráfico 2: Incerteza x importância
Fonte: Marcial, 2002, adaptado pelo autor
3.2.5 Definição da lógica dos cenários
Esta etapa é utilizada para escolha das lógicas dos cenários, após identificar
os eixos fundamentais (representados pelas incertezas críticas definidas na etapa
anterior), orienta-se apresentá-los como uma matriz, composta por dois eixos
ortogonais, ou seja, completamente independentes como ilustrados na Figura 8:
Figura 8: Eixos ortogonais – combinação dos eixos das incertezas críticas
Fonte: Marcial, 2002. Adaptado pelo autor.
29
Schwartz (2006) define esse momento como tentativa e erro, sugerindo que
diversos nomes devam ser testados para os eixos até que se tenha dois eixos
totalmente independentes. Define-se a lógica de um cenário pelo quadrante em que
a questão está localizada. Por exemplo, o Cenário 1 (Figura 8) é definido pelas
representações mais altas das forças motrizes representadas no Eixo 1 e Eixo 2.
Para as definições dos nomes dos eixos o autor sugere a tentativa e erro com
base em todo estudo realizado até o momento. Ele sugere ainda que reuniões de
brainstorming possam ser utilizadas, o que permite avaliar com visões distintas a
construção dos eixos e a formação dos quadrantes.
3.2.6 Definição dos cenários
As histórias devem ser descritas de forma narrativa seguindo as lógicas
determinadas na sessão anterior e, embora os eixos já estejam representando as
forças mais importantes para os cenários, os fatores-chave e elementos
predeterminados também devem ser considerados como elementos para enriquecer
as narrativas.
Deve-se, pois, atentar-se para o desenvolvimento das narrativas, que devem
apresentar detalhes da trajetória, desde a situação atual até o horizonte temporal
definido pelo estudo. Ao final de cada narrativa, sugere-se presentar as sugestões de
indicadores e uma breve explicação sobre o cenário.
3.2.7 Análise das implicações e opções
A análise dos cenários e a retomada da questão principal possibilitam visualizar
quais as implicações geradas, as vulnerabilidades e as oportunidades existentes.
Schwartz (2006) explica que este é o momento para confrontar o posicionamento
estratégico frente as decisões que devem ser tomadas. Cada um dos futuros
possíveis devem ser considerados, monitorando os impactos que possam existir, ou
se há possibilidade de adaptação da estratégia caso o cenário não se confirme.
30
3.2.8 Seleção de indicadores e sinalizadores principais
Devem ser definidos os indicadores que possibilitarão o monitoramento do
ambiente. Nesta etapa, a questão de inteligência competitiva se relaciona com os
futuros possíveis que foram projetados, Schwartz (2006) conclui explicando que os
cenários possibilitam que as organizações definam os indicadores, possibilitando,
pois, manter o monitoramento contínuo das variáveis capazes de influenciar a
companhia ou a questão principal.
31
4 METODOLOGIA APLICADA
Nesta sessão, apresenta-se o detalhamento da aplicação das oitos etapas da
metodologia Schwartz, desta forma, organizou-se os subtítulos com base na Figura
5, considerando as nomenclaturas de Schwartz (2006). Além dos detalhes da
aplicação, são apresentados os resultados alcançados.
4.1 Cenários prospectivos para os motores a combustão no mercado
automotivo nacional
A proposta deste estudo é identificar quais os futuros possíveis para os
motores a combustão no mercado automotivo nacional, utilizando cenários
prospectivos através da aplicação do método descrito por Schwartz.
O método em questão trata as incertezas possibilitando a identificação de
futuros possíveis e sua aplicação para criação de planos estratégicos dentro das
organizações, através da relação dos cenários com a inteligência competitiva
(SCHWARTZ, 2006).
Marcial (2002) explica que projetar futuros possíveis exige domínio da situação
atual e conhecimento dos fatores-chave capazes de influenciar seus
desdobramentos, desta forma, para o levantamento da situação atual e a maior
interação com o tema, foi realizada a revisão bibliográfica em artigos de jornais e
revistas, publicações globais das montadoras, publicações da academia, relatórios de
órgãos, participação de eventos realizados por montadoras e associações vinculadas
ao mercado em questão,
4.1.1 Identificação da Questão Principal
Para definição da questão principal foram realizadas pesquisas em base de
dados de associações do mercado automotivo, de publicações em revistas e mídias
digitais, assim como participação em eventos promovidos pelas montadoras, além de
participação em fóruns sobre mobilidade e transformações do varejo automotivo.
Como ponto de partida foi definida a lista de Aspectos Fundamentais e, com essa lista
estruturada, foi definida a questão principal.
32
Para tanto, o estudo começa com um levantamento de material e pesquisa
aprofundada que permitiu identificar que questões e temas estratégicos ligados a
indústria automobilística com destaque às novas exigências ambientais, no que tange
a redução de emissões dos gases do efeito estufa, fato que ganhou força nos últimos
anos e influenciou as montadoras no desenvolvimento de motores elétricos, como
sendo a principal alternativa para o atendimento das metas e prazos estabelecidos
para a redução dos GEE.
O desenvolvimento dos projetos de motores elétricos sugere a tendência para
uma possível troca no modelo de propulsão dos automóveis. Partindo disso, foram
relacionados os aspectos fundamentais capazes de influenciar nesse
desenvolvimento, são eles:
Exigências ambientais para redução das emissões de gases;
Estratégia das montadoras em buscar alternativas para atender às
exigências de redução dos GEE dentro dos prazos estipulados;
Políticas econômicas como fator motivacional para o desenvolvimento
e aquisição de veículos com modelos alternativos de propulsão;
Crescente número de veículos elétricos e híbridos;
Investimento de montadoras em infraestrutura de carregamento de
baterias;
Rede de fornecedores e as transformações nos modelos de propulsão;
Preferência do consumidor e as transformações na mobilidade.
Considerou-se para a elaboração dos cenários deste estudo o destaque do
desenvolvimento de motores elétricos e o compromisso de alguns países em encerrar
a produção de veículos a combustão nos próximos vinte anos, fato pode acelerar a
transição da matriz energética utilizada nos veículos.
Deste modo, com a identificação dos Aspectos fundamentais e sua análise
frente aos dados pesquisados, definiu-se a questão principal, assim como os limites
temporal e geográfico. Para a elaboração dos cenários prospectivos, questiona-se:
Quais são os cenários possíveis para o futuro dos motores a combustão no mercado
automotivo para os próximos vinte anos?
33
4.1.2 Identificação dos fatores-chave (microambiente)
Para a definição da lista dos fatores-chave, foi conduzida uma reunião de
brainstorming, direcionada pela questão principal. O objetivo foi que, com foco na
questão principal e considerando o microambiente, nesse caso a Indústria Química
fornecedora de aditivos para o mercado automotivo, fossem apresentados fatos e
situações que pudessem impactar no futuro dos motores a combustão. A reunião foi
presencial, realizada no escritório da Indústria Química, com duração de quatro horas
e participação de profissionais que atuam como fornecedores de lubrificantes e
aditivos de combustível para o mercado automotivo, atendendo concessionárias,
postos de gasolina, centros automotivos e autopeças.
Desta forma, para realização da reunião os profissionais, conforme perfil
descrito na Tabela 2, foram reunidos no escritório da Indústria Química, todos já se
conheciam, dispensando apresentações prévias. Com o grupo ambientado, o método
e a regra da reunião foi explicada, de modo a deixar claro que todos poderiam
expressar suas opiniões livremente, sem que sofressem qualquer tipo de censura ou
críticas. O objetivo foi deixá-los à vontade para expressarem livremente a suas visões
sobre o tema, além de estabelecer sinais para comunicação, como erguer a mão para
dar continuidade a ideia que estava em curso ou ficar em pé para citar uma ideia
nova. Um integrante foi designado para registrar cada uma das ideias que surgissem,
a intensão de deixar as ideias registradas foi que não se perdesse nenhuma
informação e que, a todo momento, o grupo estivesse ligado às ideias que já haviam
sido apresentadas.
A Tabela 2 a seguir mostra a construção do grupo de trabalho desta fase.
34
Tabela 2: Participantes da sessão de brainstorming
Perfil do entrevistado Segmento Tempo de atuação no mercado automotivo
Gerente comercial Nacional Industria química 8 anos
Gerente comercial Nacional Industria química 12 anos
Gerente Distribuidor Atende mercado de concessionarias 17 anos
Gerente Distribuidor Atende mercado de postos de combustível 15 anos
Supervisor Distribuidor Atende mercado de concessionarias 6 anos
Supervisor Distribuidor Atende mercado de postos de combustível
10 anos
Supervisor Distribuidor Atende mercado de centros automotivos 5 anos
Vendedor Distribuidor Atende mercado de concessionarias 10 anos
Vendedor Distribuidor Atende mercado de postos de combustível 10 anos
Vendedor Distribuidor Atende mercado de centros automotivos 7 anos
Fonte: Elaborado pelo autor.
Designado o integrante que anotaria as ideias, a questão principal foi
apresentada e solicitado aos integrantes que avaliassem, com base em sua
experiência e com fatos vivenciados no dia a dia no atendimento ao mercado
automotivo, quais fatores, considerando o microambiente, poderiam impactar à
questão principal e o futuro dos motores a combustão, esses fatores foram citados
aleatoriamente e relacionados em uma tabela, de forma a filtrar os que tivessem o
mesmo sentido ou fizessem referência ao mesmo tema.
Ao final da discussão a lista foi revisada com o grupo na busca do consenso
sobre os fatores relacionados na tabela de fatores-chave, certificando que a visão de
todos os participantes estavam contempladas nos fatores identificados. No total, 23
fatores foram relacionados, estes foram utilizados nas próximas etapas para
elaboração do questionário da entrevista com os especialistas, para auxiliar a
definição da lógica dos cenários e como base para a narrativa.
A aplicação dos fatores será discutida em cada etapa e a relação dos 23 fatores
apresentada na Tabela 3 a seguir:
35
Tabela 3: Fatores-chave identificados pelo grupo de trabalho
Fatores-chave Explicação
· Investimento das montadoras para desenvolvimento dos veículos elétricos e outras matrizes energéticas;
A massificação dos veículos elétricos tem relação direta com o desenvolvimento tecnológicos desses modelos, a autonomia deles ainda e baixa e a vida útil e curta frente ao valor investido
· Investimento para desenvolvimento de baterias mais eficientes;
A autonomia e um dos principais limitantes no desenvolvimento dos elétricos, tanto pela vida útil, como pela autonomia e, principalmente, o custo.
· Veículos a combustão com tecnologia embarcada similar aos veículos elétricos;
Excluindo o motor elétrico, o veículo a combustão pode ter as mesmas tecnologias que os elétricos
· Industria química investindo em aditivos e combustíveis mais eficientes;
Industria de combustíveis e de aditivos que tem desenvolvido combustíveis mais eficientes e menos poluentes.
· Motores a combustão mais eficientes gerando menos emissões de GEE;
Hoje há montadoras com motores a combustão muito eficientes, menor consumo e maior rendimento.
· Rede de distribuição de energia deve ter capacidade para suprir as demandas energéticas;
Ha muitas dúvidas sobre o quão preparada a rede de distribuição energética está preparada para suprir as demandas de consumo das residências, industrias e automóveis.
· Se faz necessário p desenvolvimento de fontes de energia renovável;
A redução dos níveis de poluição não estão associados apenas ao consumo dos veículos, há um percentual que está associado a geração de energia.
· Para o desenvolvimento dos veículos elétricos é necessário: Infraestrutura de abastecimento, velocidade de carregamento e número de pontos de abastecimento;
Duas das principais perguntas quando se pensa em ter um elétrico: onde vou carregar e quanto tempo demora?
· Veículos autônomos ou transição para meios de transporte aéreos;
Além de novas matrizes, há também estudos e lançamentos de meios alternativos de transporte, a transformação da mobilidade está diretamente relacionada a esse desenvolvimento.
· Empresas de tecnologia entrando no mercado de veículos;
Transporte e carros não são mais só assunto de montadoras, empresas como Google passaram a olhar para o mercado automotivo.
· Eletrificação de transporte em massa e novas alternativas em mobilidade;
As transformações em mobilidade tem acontecido nos grandes centros.
· Dúvidas sobre o desejo de consumo sobre o automóvel - O carro como propriedade vai acabar?
Ha diversos estudos que trazem a questão de como as novas gerações vão se locomover e qual o nível de interesse em ter um carro.
· Aumento do número de carros compartilhado e carros alugados;
Plataformas de compartilhamento crescem a cada dia, na mesma velocidade o número de veículos locados também cresce. A maior parte desse aumento está associados ao transporte via aplicativo, mas há também uma parcela considerável de consumidores que tem contrato de aluguel e não tem o carro próprio.
· Novas gerações optando por formas alternativas de transporte;
Transporte por aplicativo, transporte público com mais alternativas, patinetes e bicicletas são alguns exemplos do que se vê nas grandes cidades.
· Redução do custo de aquisição dos elétricos;
Custo de aquisição ainda e muito alto quando comparado a um veículo a combustão.
· Baixo custo de operação, manutenção e rodagem;
A manutenção dos elétricos e praticamente nula, em média 20 a 30% do custo de um veículo a combustão.
· Exigências ambientais para redução de emissões;
Acordos ambientais têm forcados os governos a estabelecerem políticas de redução de emissões e um dos mais impactados são os veículos.
· Governo aumentar incentivos a tecnologia dentro da indústria;
Ha frentes de investimento do governo para incentivo ao desenvolvimento tecnológico.
36
· Possibilidade de credito diferenciado para compra de veículos elétricos;
Ha alguns anos linhas de crédito especiais foram criadas para alavancar o mercado automotivo, essa seria uma opção para alavancar os elétricos.
· Impostos diferenciados para veículos híbridos e elétricos;
Ha a diferenciação de alíquota em alguns estados mas o projeto precisa ser nacional e funcionar de forma automática, sem que o proprietário precise fazer solicitação anual.
· O desenvolvimento do mercado de revenda pode impulsionar os veículos elétricos;
Esse mercado hoje e praticamente inexistente e o consumidor se preocupa em qual a dificuldade de revender o auto.
· Aumento da quantidade de modelos de veículos elétricos disponíveis;
Ainda há poucas opções no Brasil o que limita o consumidor.
· Desenvolvimento do mercado de reposição para os veículos elétricos;
Onde encontrar peças de reposição e mão de obra especializada. Esses são alguns dos medos dos consumidores.
Fonte: Elaborado pelo autor.
4.1.3 Identificação das forças motrizes (macroambiente)
A reunião de brainstorming da sessão anterior foi dividida em duas etapas,
sendo a primeira para definição dos fatores-chave e a segunda parte reservada para
discussão das forças motrizes. Para essa segunda etapa, as mesmas regras e
orientações foram seguidas. Foi orientado ao grupo que, com foco na questão
principal e considerando o macroambiente, nesse caso o mercado automotivo,
fossem apresentados fatos e situações que pudessem impactar no futuro dos motores
a combustão. As forças foram citadas aleatoriamente e relacionadas em uma tabela,
de forma a filtrar as que tivessem o mesmo sentido ou fizessem referência ao mesmo
tema.
Ao final da discussão, a lista foi revisada com o grupo na busca do consenso
sobre construção da tabela de forças motrizes, certificando que a visão de todos os
participantes estava contemplada nas forças selecionadas. No total, oito forças
motrizes foram identificadas, estas foram utilizadas nas próximas etapas para
elaboração do questionário da entrevista com os especialistas, para definição das
incertezas críticas e como base para a narrativa.
A aplicação das forças será discutida em cada etapa e as oito forças
apresentadas na Tabela 4 a seguir:
37
Tabela 4: Força Motriz
Forças motrizes Desenvolvimento tecnológico - criação de tipos alternativos de propulsão e componentes mais eficientes.
Desenvolvimento tecnológico - criação de motores a combustão e combustíveis fósseis mais eficientes.
Desenvolvimento da infraestrutura e distribuição energética.
Relação entre o custo do veículo elétrico x custo do veículo a combustão
Criação de políticas para incentivos fiscais ou políticas ambientais que possam impactar na utilização dos motores a combustão.
Transformações em mobilidade.
Mudanças no perfil de consumo, possibilidade do fim da propriedade do veículo.
Desenvolvimento dos mercados de suporte para veículos elétricos, pós-venda e revenda.
Fonte: Elaborado pelo autor.
4.1.4 Ranking das incertezas críticas
Com os fatores-chave e forças motrizes definidas partiu-se para a definição do
ranking das incertezas críticas. Como coleta de dados foi utilizada a entrevista com
os especialistas conforme roteiro apresentado no ANEXO I. As informações
levantadas nas entrevistas serviram de referência para definição do ranking das
incertezas críticas. As entrevistas foram pré-agendadas e realizadas por vídeo
conferência, utilizando a ferramenta Microsoft Teams, seguiu-se um roteiro
preestabelecido que teve como direcionamento o questionário qualitativo, Tabela 5.
As questões foram elaboradas a partir dos fatores-chave e forças motrizes.
Para isto, foi avaliada a relação existente entre cada fator e as forças através da
elaboração do constructo do questionário qualitativo. Após identificadas as relações,
os fatores-chave foram agrupados em cada força motriz e, para cada força, foi
definida uma questão, estas definiram o roteiro das entrevistas.
38
O objetivo de aplicar as entrevistas nessa etapa, foi de aprofundar o tema a
partir da visão de especialistas do setor, para que eles fornecessem informações que
permitissem avaliar o microambiente e o macroambiente, possibilitando a definição
do ranking das incertezas críticas.
Tabela 5: Constructo do questionário qualitativo
Forças motrizes Fatores-chave Questionário
Desenvolvimento tecnológico - criação de tipos alternativos de propulsão e componentes mais eficientes.
· Investimento das montadoras para desenvolvimento dos veículos elétricos e outras matrizes energéticas; 1- Como a indústria tem
se preparado para as novas opções de tecnologia dos motores?
· Investimento para desenvolvimento de baterias mais eficientes;
Desenvolvimento tecnológico - criação de motores a combustão e combustíveis fósseis mais eficientes.
· Veículos a combustão com tecnologia embarcada similar aos veículos elétricos;
2-Os motores a combustão vão durar até quando? Quais seriam as alternativas para a substituição destes motores? Elas são viáveis na sua opinião?
· Industria química investindo em aditivos e combustíveis mais eficientes;
· Motores a combustão mais eficientes gerando menos emissões de GEE;
Desenvolvimento da infraestrutura e distribuição energética.
· Rede de distribuição de energia deve ter capacidade para suprir as demandas energéticas; 3-Pensando na matriz
energética, dá para pensar num futuro com carros movidos a eletricidade?
· Se faz necessário p desenvolvimento de fontes de energia renovável;
· Para o desenvolvimento dos veículos elétricos é necessário: Infraestrutura de abastecimento, velocidade de carregamento e número de pontos de abastecimento;
Transformações em mobilidade.
· Veículos autônomos ou transição para meios de transporte aéreos; 4-No futuro a massificação de motores movidos a energia alternativa pode impactar a mobilidade? Como?
· Empresas de tecnologia entrando no mercado de veículos;
· Eletrificação de transporte em massa e novas alternativas em mobilidade;
Mudanças no perfil de consumo, possibilidade do fim da propriedade do veículo.
· Dúvidas sobre o desejo de consumo sobre o automóvel - O carro como propriedade vai acabar? 5-Como o comportamento
das novas gerações pode influenciar o mercado de automóveis nos próximos vinte anos?
· Aumento do número de carros compartilhado e carros alugados;
· Novas gerações optando por formas alternativas de transporte;
Relação entre o custo do veículo elétrico x custo do veículo a combustão
· Redução do custo de aquisição dos elétricos;
6- Como podem ser classificados hoje os custos de manutenção e aquisição dos veículos movidos a eletricidade? De que forma isso pode ser reduzido?
· Baixo custo de operação, manutenção e rodagem;
Criação de políticas para incentivos fiscais ou políticas ambientais que possam impactar na utilização dos motores a combustão.
· Exigências ambientais para redução de emissões;
7-Quais políticas econômicas e ambientais influenciariam a adoção de motores elétricos?
· Governo aumentar incentivos a tecnologia dentro da indústria;
· Possibilidade de credito diferenciado para compra de veículos elétricos;
· Impostos diferenciados para veículos híbridos e elétricos;
Desenvolvimento dos mercados de suporte para veículos elétricos, pós-venda e revenda.
· O desenvolvimento do mercado de revenda pode impulsionar os veículos elétricos; 8-Na sua opinião, já é hora
de ter um carro elétrico? Por quê?
· Aumento da quantidade de modelos de veículos elétricos disponíveis;
· Desenvolvimento do mercado de reposição para os veículos elétricos;
Fonte: Elaborado pelo autor.
39
A seleção dos entrevistados considerou as seguintes questões: i) o ramo de
atuação - todos atuam de forma direta ou indireta no mercado automotivo; ii)
experiência - selecionados executivos com mais de quinze anos de atuação no
mercado; iii) cargo e a relevância para o mercado automotivo – executivos que
possuíssem envolvimento com planejamento estratégico das organizações e que
tivessem relação com o tema.
Nove especialistas foram entrevistados e o perfil de cada um descrito na
Tabela 06.
Especialista Perfil do entrevistado Segmento
E01 CEO de empresa de carregador automotivo Fornecedor de carregador automotivo
E02 Diretor Montadora A
E03 Diretor Montadora B
E04 Diretor comercial Indústria química
E05 Diretor Comercial de distribuidor de produtos para mercado automotivo
Fornecedores do mercado automotivo
E06 Diretor de associação de concessionários Associação Montadora C
E07 Diretor de empresa de tecnologia Desenvolvimento de aplicativos
E08 Gerente de engenharia de produtos Montadoras B
E09 Gerente de Pós-vendas montadoras Montadoras B
As entrevistas tiveram duração média de uma hora, iniciavam com a
apresentação do entrevistado, na sequência uma breve apresentação do tema e
apresentação da questão principal, em seguida, a entrevista foi conduzida pelo
questionário, com atenção para deixar o especialista à vontade para apresentar as
suas percepções e experiências sobre cada uma das questões.
Em resposta à questão principal, todos compartilham da visão de que o veículo
elétrico deve ganhar mais espaço, mas não deve ser a matriz dominante dentro dos
próximos vinte anos, os participantes definiram, assim, uma possível projeção do
futuro como a coexistência de algumas matrizes energéticas, incluindo eletricidade e
combustíveis fósseis.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Tabela 6: Relação de especialistas
40
Outro ponto em destaque foi o custo de aquisição como um limitante para a
massificação dos veículos elétricos. A maioria dos especialistas associaram a
questão ao custo dos componentes, mais especificamente a bateria. Ainda nas
questões econômicas, ressaltada a importância dos incentivos governamentais e a
continuidade do desenvolvimento.
Com base nos argumentos e opiniões apresentadas pelos entrevistados, foi
elaborada a Tabela 7. Nela estão representadas as relações entre as variáveis (forças
motrizes), o questionário qualitativo e a pontuação atribuída para cada variável a partir
de cada entrevista. Com a pontuação dos nove entrevistados foi calculada a média
da pontuação de cada variável, essas médias serão utilizadas para dar continuidade
V1 Desenvolvimento tecnológico - criação de tipos alternativos de propulsão e componentes mais eficientes.
5 5 1- Como a indústria tem se preparado para as novas opções de tecnologia dos motores?
5 5 5 5 4 5 5 4 4 4 5 5 5 5 4 5 5 5
V2 Desenvolvimento tecnológico - criação de motores a combustão e combustíveis fósseis mais eficientes.
4 4 2-Os motores a combustão vão durar até quando? Quais seriam as alternativas para a substituição destes motores? Elas são viáveis na sua opinião?
3 3 4 5 4 4 5 4 4 5 4 5 4 4 4 5 4 5
V3 Desenvolvimento da infraestrutura e distribuição energética.
4 2 3-Pensando na matriz energética, dá para pensar num futuro com carros movidos a eletricidade?
5 4 3 2 3 2 3 2 4 2 3 2 4 2 4 2 5 3
V4 Transformações em mobilidade. 1 3 4-No futuro a massificação de motores movidos a energia alternativa pode impactar a mobilidade? Como?
1 3 2 4 2 2 1 1 1 2 1 3 1 3 2 2 1 3
V5 Mudanças no perfil de consumo, possibilidade do fim da propriedade do veículo.
2 2 5-Como o comportamento das novas gerações pode influenciar o mercado de automóveis nos próximos vinte anos?
1 2 2 2 2 2 1 1 1 2 2 2 2 2 1 2 2 2
V6 Relação entre o custo do veículo elétrico x custo do veículo a combustão
5 5 6- Como podem ser classificados hoje os custos de manutenção e aquisição dos veículos movidos a eletricidade? De que forma isso pode ser reduzido?
5 5 4 5 5 5 5 5 5 5 4 5 5 5 5 5 5 5
V7
Criação de políticas para incentivos fiscais ou políticas ambientais que possam impactar na utilização dos motores a combustão.
4 4 7-Quais políticas econômicas e ambientais influenciariam a adoção de motores elétricos?
4 5 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 5 4 4
V8 Desenvolvimento dos mercados de suporte para veículos elétricos, pós-venda e revenda.
2 4 8-Na sua opinião, já é hora de ter um carro elétrico? Por quê? 3 2 2 4 2 4 3 3 2 4 2 4 2 4 2 4 2 4
Tabela 7: Média das pontuações dos especialistas
42
A partir da classificação das forças (Tabela 7), foram extraídas as médias de
cada força motriz, para elaboração da Matriz de incerteza crítica, como apresentada
a seguir:
Tabela 8: Matriz de incerteza crítica do estudo
Variável Forças motrizes Incerteza Importância
V1 Desenvolvimento tecnológico - criação de tipos alternativos de propulsão e componentes mais eficientes.
5 5
V2 Desenvolvimento tecnológico - criação de motores a combustão e combustíveis fósseis mais eficientes.
4 4
V3 Desenvolvimento da infraestrutura e distribuição energética. 4 2
V4 Transformações em mobilidade. 1 3
V5 Mudanças no perfil de consumo, possibilidade do fim da propriedade do veículo.
2 2
V6 Relação entre o custo do veículo elétrico x custo do veículo a combustão
5 5
V7 Criação de políticas para incentivos fiscais ou políticas ambientais que possam impactar na utilização dos motores a combustão.
4 4
V8 Desenvolvimento dos mercados de suporte para veículos elétricos, pós-venda e revenda.
2 4
Fonte: Elaborado pelo autor.
Conforme definido por Schwartz (2006), as incertezas críticas são
caracterizadas pelas forças motrizes posicionadas no quadrante que representam as
maiores pontuações para incerteza e importância. Dessa forma, a partir da matriz de
incerteza crítica (Figura 8), que define os valores para incerteza e importância em
cada força motriz, a matriz incerteza x importância foi elaborada (Gráfico 2):
43
Através da matriz incerteza x importância foi possível identificar quatro forças
como incertezas críticas, sendo o restante classificadas como fatores pré-
determinados. Para a próxima etapa do método, definição da lógica dos cenários,
apenas as incertezas críticas serão utilizadas, os fatores pré-determinados serão
utilizados na elaboração das narrativas dos cenários como elementos para enriquecer
as histórias.
Quatro incertezas críticas foram identificas (Gráfico 2). Com isso quatro eixos
deveriam ser criados, número superior ao que orienta o autor, que determina como
ideal dois no máximo três eixos (SCHWARTZ, 2006). Buscou-se, então, reduzir o
número de variáveis através do agrupamento das incertezas identificas. Para isto,
identificou-se a relação entre as quatro incertezas críticas que deu origem a dois
grupos: Grupo 1 – direcionado a tecnologia e Grupo 2 – direcionado aos fatores
político e socioeconômico. Sendo assim, as quatro incertezas críticas foram
agrupadas considerando a sua correspondência com os grupos, conforme Figura 9.
Figura 9: Grupos das incertezas críticas
Fonte: Elaborado pelo autor.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Gráfico 3: Matriz incerteza x importância do estudo
44
4.1.5 Definição da lógica dos cenários
Após identificar a relação e agrupar as incertezas como apresentado na Figura
9, foi realizada uma nova sessão de brainstorming com o mesmo grupo que definiu
os fatores-chave e as forças motrizes, assim, foi organizada seguindo as mesmas
regras da primeira reunião. A sessão foi presencial, teve duração de quatro horas e
foi dividida em duas etapas: a primeira parte para definição dos eixos e lógica dos
cenários e a segunda para definição dos quadrantes e enredos.
Ao definir quem anotaria as ideias do grupo de trabalho durante a reunião, os
grupos das incertezas críticas foram apresentados os integrantes da reunião, Figura
9, e explicada a dinâmica, a saber: diversos nomes foram testados aleatoriamente
para cada um dos eixos, sendo que não poderia existir relação entre os Eixos 1 e 2
seguindo critérios como utilidade, consistência e plausibilidade. Após sugerir diversos
nomes, o grupo definiu como os nomes dos eixos que melhor representam o estudo:
i) Desenvolvimento tecnológico e ii) Acessibilidade econômica, como apresentado na
Figura 10.
Figura 10: Definição dos eixos
Fonte: Elaborado pelo autor.
45
Com a definição dos nomes, os eixos ortogonais foram construídos e deram
origem a quatro quadrantes (Figura 11), cada quadrante representa a lógica de um
cenário. O grupo seguiu com a reunião de brainstorming e sugeriu aleatoriamente os
nomes para os quadrantes considerando critérios como a utilidade, consistência e
plausibilidade frente a questão principal.
Após diversas tentativas, o grupo determinou, os seguintes nomes para cada
uma das lógicas dos cenários:
“O céu é o limite”: tem como lógica o desenvolvimento tecnológico “inovador” e
acessibilidade econômica “alta”. Não há limites para o futuro dos motores a
combustão.
“Frustração”: tem como lógica o desenvolvimento tecnológico “inovador” e
acessibilidade econômica “baixa”, os consumidores se veem limitados a alta
tecnologia por questões econômicas.
“Mais do mesmo”: tem como lógica o desenvolvimento tecnológico
“convencional” e acessibilidade econômica “baixa” não há grandes mudanças e
a rotina do consumidor e do mercado seguem inalteradas.
“A reboque”: tem como lógica o desenvolvimento tecnológico “convencional” e
acessibilidade econômica “alta” o mercado e consumidores são puxados pelos
incentivos fiscais e políticas de incentivo a indústria.
Ademais, ilustra-se a lógica dos cenários na Figura 12, a seguir:
Figura 11: Eixo ortogonais - lógica dos cenários
Fonte: Elaborado pelo autor.
46
4.1.6 Definição dos cenários
Os cenários foram estruturados considerando os eixos ortogonais da Figura
11, para cada um deles foi elaborado um conto ficcional, contada em formato de
narrativa que mostrou ao longo do período quais foram os impactos e transformações
das incertezas críticas. Dessa forma, cada narrativa apresenta a relação das forças
motrizes com os fatores-chave capazes de influenciar o futuro dos motores a
combustão no mercado automotivo nacional nos próximos vinte anos.
Ao final de cada narrativa foram apresentados indicadores e uma explicação
do cenário. Os indicadores possibilitam que os cenários sejam monitorados a cada
movimentação do mercado em questão.
4.1.6.1 Narrativa 01 - O céu é o limite
Esta semana meu filho completa 22 anos, conforme ele crescia assistimos
também o Brasil se desenvolver de forma vertiginosa, o estouro da tecnologia no
início dos anos 2000 não foi nada, se comparado aos últimos vinte anos, quero dizer
que a tecnologia que antes dava saltos, hoje está voando. Lembro que em 2014,
quando mudei para São Paulo e comecei a trabalhar com as montadoras; vi que
começava uma movimentação acanhada no sentido de novas tecnologias. Ano após
ano, esses projetos se arrastavam, mas 2020 foi um marco para essa indústria.
Naquele ano a expectativa de crescimento era alta, os carros híbridos já eram
realidade e a nova tendência eram os elétricos, falava muito que esses motores
roubariam a cena e os motores a combustão em pouco tempo deixariam de existir.
De fato, os elétricos vieram, impulsionados por políticas econômicas,
rapidamente começaram a circular, mas ainda muito distante de se tornar um
transporte de massa. Alguns anos se passaram e as metas estipuladas para redução
de emissões estavam razoavelmente distante, foi nesse momento a grande virada. O
governo criou políticas que permitiam as indústrias do mercado energético investir em
P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) dentro da indústria automotiva, fator crucial para
que o desenvolvimento de bateria menores e mais eficientes surgissem, novas
tecnologias para veículos mais eficientes foram desenvolvidas e o sistema de
restauração de energia da frenagem, muito popular nos híbridos daquela época,
foram aperfeiçoados.
47
Ao contrário do que se imaginava há vinte anos, os elétricos não são a única
matriz energética disponível, a indústria química, junto com as montadoras chegaram
a motores extremamente eficientes, ainda não chegam a eficiência de 90% dos
elétricos, mas ultrapassaram a barreira dos 50% e com emissões de GEE cada vez
menores. Os híbridos e os veículos a hidrogênio ocupam o seu espaço nesse
mercado. Quando perceberam que dificilmente o elétrico seria a única forma de
propulsão, por volta de 2030, as montadoras mudaram os projetos que inicialmente
tinham o nome de eletrificação para projetos de motores eficientes e carros
inteligentes.
Em 2032 saíram os primeiros testes dos veículos autônomos que se tornaram
populares em 2035. A coexistência de diversos tipos de propulsão impulsionava
outros projetos e, ainda representando as duas maiores partes, os elétricos e os
motores a combustão ficaram de lado quando o modelo de regeneração de carga
chegou aos altos níveis de eficiência, juntamente com a evolução das baterias.
O custo dos veículos elétricos e híbridos já era equiparado aos veículos a
combustão, a infraestrutura de postos de abastecimento e carregadores rápidos
estavam por toda a parte, a aditivação dos combustíveis e os sistemas de purificação
dos gases do escape praticamente não dispensavam GEE na atmosfera. Enquanto
todos discutiam para saber qual seria a matriz enérgica que usaríamos hoje, a
indústria de baterias, em parceria com as montadoras, transformou completamente
esse mercado. Não há um combustível dominante e os veículos autônomos já são
realidade, assim me perguntava: o que mais essa indústria poderia trazer de
inovação?
A resposta veio em janeiro de 2040, com o veículo lançado independe da
matriz enérgica, esse modelo pode ser comprado com qualquer tipo de motor. O
grande trunfo está no seu sistema de regeneração, na bateria de capacidade
expandida e no plug que permite o abastecimento na rede elétrica residencial. Isso
mesmo, você roda durante o dia, ao chegar em casa você pluga o carro na rede e a
bateria alimenta toda a rede elétrica residencial. Isso me faz lembrar uma viagem
que fiz a Tokio, em Fevereiro de 2019, lá tive a oportunidade de visitar o museu da
Toyota e tive a oportunidade de ver o primeiro esboço do que seria esse projeto. Claro
que naquela época achei que seria mais um modelo conceito devido a sua
complexidade. Mas com o desenvolvimento tecnológico acelerado dos últimos dez
anos, pode tornar essa complexidade um fato real.
48
Principais indicadores deste cenário: vendas de novos veículos e o porcentual
de veículos elétricos ou híbridos, preço dos veículos elétricos, custo de manutenção,
custo da gasolina, projetos de políticas econômicas para incentivo a modelos de
propulsão alternativa, investimento das montadoras em novos modelos de propulsão,
produção de veículos autônomos.
Explicação
A forma que o mercado automotivo é visto hoje pode ser transformado
completamente, levando o carro a patamares desconhecidos. Muito se fala em
eletrificação e o fim dos combustíveis fosseis, há também uma discussão menos
latente, mas não menos curiosa, sobre os veículos autônomos.
Especula-se que tudo isso deva acontecer nos próximos anos e com maior
direcionamento a mudança da matriz energética. O acordo de Paris é uma alavanca
para que isso aconteça, pois, o acordo se desdobra em metas de emissões de GEE
que poderão ser tratadas como incentivos ao consumidor final de poluir menos. Do
outro lado, apresenta-se as montadoras investindo em projetos de motores cada vez
mais eficientes, sejam elétricos, híbridos ou combustão.
Sem a coexistência das foças motrizes impulsionando esse cenário, ele
certamente não existiria ou não conseguiria atingir os patamares mais elevados.
Apesar das forças carregarem grande incerteza, são também fatores de grande
importância para esse mercado que devem ser monitorados. A ideia de trazer o
veículo servindo de fonte de energia e não mais como um consumidor, tem o intuito
de mostrar o quão forte pode ser a relação das duas forças e assim ter claro que, com
os incentivos ficais, redução de custos e desenvolvimento tecnológico das
montadoras, o consumidor terá um período de adaptação e transição, sendo esses
atrativos um dos maiores influenciadores para a efetivação dessa ideia.
49
4.1.6.2 Narrativa 02 – Frustração
Há alguns anos era impossível falar de automóveis sem falar de motores
elétricos, sistemas de injeção direta, surgimento de baterias mais eficientes e até de
uma infraestrutura de abastecimento pulverizada. De acordo com o que a mídia
divulgava, os elétricos viriam para assumir o mercado dos motores a combustão. Essa
aposta sempre teve bases confiáveis, afinal, praticamente todas as montadoras
estavam lançando modelos e falando da transformação das plantas para fabricar
exclusivamente o elétrico, além de toda a questão ambiental que tanto se falava. No
entanto, aquelas matérias, publicações e até fóruns olharam para o consumidor tarde
demais, na falta de escutá-lo, perderam o momento de destravar questões como
incentivos para proprietários de veículos verdes.
Hoje, 2040, vinte anos depois de todo esse movimento ter iniciado, o
sentimento latente é a frustação. Nunca se teve tanta tecnologia disponível e tão
longe do consumidor. A tecnologia ainda está chegando a preços impraticáveis ao
consumidor final, por mais que sejam lançadas políticas que viabilizem incentivos
fiscais aos proprietários, a indústria de base não evoluiu ao mesmo passo que as
montadoras. A falta de investimentos em P&D não permitiu que os fornecedores
dessa indústria, como o fornecedor de baterias ou componentes eletrônicos, andasse
na mesma velocidade. Ter o elétrico ainda é muito caro e os veículos a combustão
estão cada vez mais eficientes.
Principais indicadores deste cenário: vendas de novos veículos e o porcentual
de veículos elétricos ou híbridos, preço dos veículos elétricos, custo de manutenção,
custo da gasolina, projetos de políticas econômicas para incentivo a modelos de
propulsão alternativa, investimento das montadoras em novos modelos de propulsão,
desenvolvimento de fornecedores chave.
Explicação
O carro verde, seja hibrido ou elétrico não tem preço acessível e, claramente,
são classificados como um artigo de luxo. Apesar das montadoras terem anunciado
ao menos um modelo de veículo verde, em geral, esses modelos estão direcionados
a segmento high-end. As políticas econômicas malsucedidas dos últimos governos
50
pouco contribuíram no sentido de promover incentivos ao desenvolvimento
tecnológico, o que impulsionaria os fornecedores dessas montadoras.
O fato é que para massificar esses modelos, a vantagem econômica precisa
estar evidente ao consumidor. Seja ele como usuário de um transporte de massa,
compartilhado ou como proprietário. Para números elevados de KM percorrido, a
relação custo elétrico frente ao custo do veículo a combustão é menos sensível, os
custos de manutenção que são consideravelmente mais baixos. Um exemplo foi a
Cervejaria AMBEV que, em parceria com a MAN (Caminhões), está migrando uma
parte de sua frota para caminhões elétricos.
4.1.6.3 Narrativa 03 - Mais do mesmo
Ainda recordo o início de 2020, naquele Janeiro, quando buscava informações
sobre o mercado automotivo, as mídias veiculavam matérias anunciando que os
veículos elétricos seriam o futuro dos automóveis. Apesar de, aparentemente ser um
início de década comum, o mercado automotivo estava em grande apreensão, a
indústria havia passado por dez anos difíceis e a iniciava a nova década acreditava
que voltaria a ter crescimento a partir de 2020, apostavam que teriam uma grande
retomada.
As expectativas e promessas de investimentos eram firmes, falava-se em
investimentos em tecnologia, o que se escutava nos corredores das montadoras era
um discurso eufórico de que novas tecnologias estavam a caminho, exportadas das
matrizes fora do pais, o governo, preocupado com questões ambientais sinalizava
que mudanças urgentes precisavam acontecer no setor de transporte e apostavam
nos veículos elétricos como solução, para isto, estariam dispostos a subsidiar projetos
de P&D através de recursos fiscais abonados das indústrias de energia. As agendas
nos fóruns que discutiam redução de impostos para a importação desses veículos ou
componentes e até mesmo de benefícios ao consumidor, eram fortes influenciadores
na época.
Algumas montadoras colocavam no mercado modelos híbridos enquanto
outras faziam pré-lançamentos dos veículos elétricos. Ao mesmo passo, os motores
a combustão tornavam-se mais eficientes e a indústria química produzia combustíveis
aditivados capazes de reduzir os desgastes dos motores para reduzir os custos de
manutenção e melhorar a performance. O fato é que os últimos anos estavam
51
sinalizando uma retomada, o mercado estava reagindo, somado a todas as
promessas de inovações tecnológicas e ao governo aquecendo discussões de
benefícios fiscais para veículos verdes com base nas exigências do acordo de Paris,
assinado alguns anos antes, e que estabelecia limites para as emissões dos GEE,
faziam das projeções daquele início de década, as mais otimistas possível.
Ou seja, o que se desdobrou nos meses e anos seguintes foi muito além do
que se falava naquele início de ano dourado. Tudo começou no final do primeiro
trimestre, uma crise se instalou na China por causa de um vírus e fez aquele país
parar, o vírus se espalhou pelo mundo todo, gerando assim um isolamento mundial,
deixando o planeta todo paralisado. Os impactos naquele ano foram terríveis, as
economias mundiais viveram e junto a ela o seu pior momento, a indústria automotiva
também sofreu muito com a crise, assim como o comércio em geral. As montadoras
amargaram uma queda de mais de 60% do resultado projetado e já não se falava
mais em inovação, a ordem era firmar bases sólidas para se manter no mercado.
Nos próximos anos, o que vimos foram as exigências ambientais sendo
flexibilizadas, com isso os governos recuaram nas estratégias de incentivos fiscais.
Os investimentos em P&D acabaram e os que haviam sido implementados e foram
mantidos não duraram nem meia década. Empresas que estavam nascendo com o
objetivo de popularizar os veículos elétricos através de conectividade e pulverização
de postos de abastecimento, viram-se em um mercado sem produto para as suas
aspirações. Com a crise as fábricas que anunciavam a transformação de suas plantas
para 100% elétricos, simplesmente arquivaram os projetos.
Sem novas tecnologias e sem incentivos governamentais, os preços dos
veículos verdes continuavam impraticáveis. Passada uma década, não se falava mais
nessas inovações e o mercado ainda continuava trabalhando para se recuperar dos
impactos da crise de 2020. Tinha-se medo de investir em veículos verdes, pois as
manutenções eram difíceis por não ter estrutura e o custo era alto. Alguns
consumidores ainda cruzavam custos de rodagem do elétrico com o veículo a
combustão, mas a infraestrutura de carregamento não favorecia a troca.
O que vimos acontecer nesses últimos dez anos foi mais do mesmo, como os
incentivos foram cortados e a tecnologia ficou estagnada, nada mudou, as
montadoras seguiram as estratégias já conhecidas, lançando novos modelos ano
após ano, mas sempre baseado na mesma plataforma e seguindo no mercado com
o mesmo modelo mental de varejo de vinte anos atrás, os carros rodando com
52
combustíveis fosseis e as revisões sendo feitas a cada dez mil quilômetros, nada
mudou.
Principais indicadores deste cenário: vendas de novos veículos e o porcentual
de veículos elétricos ou híbridos, preço dos veículos elétricos, custo de manutenção,
custo da gasolina, projetos de políticas econômicas para incentivo a modelos de
propulsão alternativa, investimento das montadoras em novos modelos de propulsão.
Explicação
O surgimento de novas matrizes energéticas é extremamente sensível aos
investimentos das montadoras em projetos mais viáveis, assim como as As políticas
econômicas são fundamentais para reduzir os custos de aquisição e estabelecer uma
melhor relação bem definida entre os custos da tecnologia dos motores elétricos
frente aos motores a combustão. Um exemplo clássico é a diferença no custo de
manutenção, os elétricos representam em média 25% do custo de um veículo a
combustão. O percentual é agressivo, mas quando considerado o custo elevado do
elétrico, tal investimento só se justifica para consumidores que rodam quilometragens
maiores, acima de 15.000 quilômetros ano.
Nesse cenário de estagnação, o mercado se mantém sem mudanças
significativas. Os consumidores seguem a opção de compra por modelos
convencionais e continuam a comprar veículos com base na confiança e identificação
de determinadas marcas e em características como conforto, consumo de
combustível, segurança e tecnologia embarcada. O fator meio ambiente perde força
frente ao fator custo.
4.1.6.4 Narrativa 04 - A reboque
Pedro é engenheiro em uma construtora de renome na cidade de São Paulo,
ele se formou em Dezembro de 2020 e, naquele ano, antes mesmo de formar, Pedro
já havia sido contratado pela empresa de engenharia que fazia estágio. Toda a
animação e felicidade se tornaram duvidas e preocupação quando ele foi informado
que seria efetivado, mas que a partir de então ele passaria a cuidar das obras nas
cidades vizinhas de São Paulo. Nessa empresa os engenheiros trabalhavam com
meios de condução próprio e Pedro não tinha carro.
53
Durante toda a adolescência ele nunca teve problema com isso, naquela época
os aplicativos de transporte estavam em alta, e algumas regiões de São Paulo
estavam repletas de patinetes e bicicletas elétricas e o transporte público era
suficiente para o que Pedro precisava. Além do mais, o carro do Sr. Olavo, pai de
Pedro, aos finais de semana estava sempre disponível para o jovem. Mas agora era
diferente, ele precisaria rodar bastante e todos os dias da semana, seriam
praticamente 5.000km/mês, não tinha outra saída, ele teria que comprar um carro.
Sempre conectado e adepto das novidades da época, o jovem foi se inteirar dos
modelos novos que as montadoras estavam falando, isto é, os veículos híbridos,
chegou até a pensar em um elétrico. Na concessionária a realidade assustou um
pouco o rapaz, sim, a tecnologia estava avançando e esses modelos estavam
disponíveis, mas quando comparado a um veículo a combustão, os custos não eram
acessíveis.
Acostumado com integrais e derivadas das aulas de cálculo, o engenheiro
partiu para as contas, afinal havia escutado que os custos de manutenção do tal
elétrico estariam na casa de 25% dos veículos tradicionais e ainda teria um percentual
de redução no IPVA, o que mais animou o rapaz. Os veículos com propulsão
alternativa estavam liberados do rodizio, contas e estimativas de quilômetros que
seriam rodados e ele chegou ao veredito, rodando 5.000km/mês na linha do tempo o
híbrido não teria muita vantagem, os custos eram muito parecidos com os do veículo
a combustão e esse modelo era 30% mais caro. O elétrico ficava perfeito para ele, o
custo de manutenção era menor e mesmo o carro sendo mais caro, na linha do tempo
o custo se pagaria.
Decidido, o jovem retornou a concessionária e o discurso do vendedor era
encantador: “essa é a mais nova tecnologia, as montadoras estão trazendo o que há
de melhor e ano após ano eles serão atualizados, daqui vinte anos os carros a
combustão não existirão mais, acredite! O desenvolvimento tecnológico está
acelerado na indústria automotiva”. O jovem já estava decidido quando perguntou
quais as linhas de crédito especial estariam disponíveis para aquele modelo, afinal o
valor era alto e a infeliz surpresa é que não tinha, entraria em uma linha de crédito
normal, mas tudo bem, o Sr. Olavo o ajudaria. Mas foi aí que o Pedro lembrou da
questão autonomia e questionou o vendedor se ele conheceria um mapa com os
carregadores, animado o vendedor mostrou o mapa da capital, Pedro pediu do
estado, afinal ele trabalharia no interior e naquele ano eram poucos ainda.
54
O jovem engenheiro partiu para um veículo a combustão, mas não esqueceu
aquela primeira experiência. Foi em 2025, quando ele teve a sua primeira promoção,
que ele lembrou da conversa com aquele vendedor e pensou: ”já deve ser o momento,
os carregadores já devem estar por toda parte”. Naquela semana passou a prestar
atenção e sim, já haviam postos de carregamento, mas ainda estavam nas principais
estradas. Mais uma vez ele teria que adiar a compra do elétrico e trocou seu carro
por um modelo recém-lançado, uma motorização nova, um motor pequeno, mas
potente e com baixo consumo e emissões, eram os famosos motores turbo com
injeção direta.
Em 2030 Pedro recebeu o convite para ser responsável por uma série de
empreendimento que uma grande construtora do Estado de São Paulo estava
lançando. Com o novo salário e agora viajando menos, o elétrico seria acessível.
Animado com toda a inovação que aquele vendedor havia falado que teria e com as
políticas de incentivo que o governo havia lançado nos últimos anos na tentativa de
popularizar os veículos com motores verde, como também eram chamados os
elétricos. Na concessionária, Pedro partiu para os novos cálculos, o problema com os
carregadores e autonomia estavam resolvidos, ele não sairia mais de São Paulo.
O desafio agora estava em zerar a conta considerando o custo de manutenção,
o valor do veículo e a quantidade de quilômetros que ele rodaria. Nesse momento,
Pedro descobriu que as políticas de incentivo estavam maiores, agora tinham até
abrangência nacional, o número de carregadores havia aumentado. Porém, o
desenvolvimento tecnológico das baterias e veículos elétricos, devido a demanda não
ter atingido os patamares esperados, continuavam o mesmo de alguns anos, ainda
era uma tecnologia cara e as baterias tinham que melhorar a autonomia. O
engenheiro rodaria menos e o custo do elétrico seria consideravelmente maior.
Ele chegou a pensar em comprar um usado e então soube que o mercado de
revenda para esses modelos praticamente não existia, a mão de obra para
manutenção era restrita. As políticas aceleraram e novos incentivos surgiram na
intenção de rebocar essa indústria que havia ficado estagnada, mas o engenheiro
constatava que não estava dando certo, a promessa de ter carrões elétricos andando
por toda a parte até 2040 dificilmente seria cumprida. Mais uma vez trocou de carro
e se manteve com o veículo a combustão.
Os projetos decolaram, o engenheiro estava muito bem, a família crescia e em
2035 uma nova tentativa. Ele havia retornado da Califórnia, havia ficado encantado
55
com o SUV elétrico, lançamento da Tesla. Ele sabia que não teria aquele modelo
disponível, mas foi buscar alternativas no mercado nacional e mais uma vez a
frustração de um mercado empurrado por políticas de incentivo e parado por questões
tecnológicas, Pedro trocou e, novamente, estava com um veículo a combustão.
A história se repetiu nos próximos cinco anos, era 2040 e o número de veículos
elétricos representava naquele ano pouco mais de 1% da frota circulante, híbridos,
elétricos e veículos a combustão continuavam coexistindo em um mercado que está
sempre aberto para inovações. O engenheiro acompanhou a saga do
desenvolvimento desse mercado por vinte anos, e por limitações tecnologias e
econômicas por diversas vezes viu o seu projeto sendo adiado. A nova meta era
completar cinquenta anos e realizar esse sonho, são mais oito anos que Pedro vai
acompanhar esse mercado e espera poder ter um modelo acessível no futuro.
Principais indicadores deste cenário: vendas de novos veículos e o porcentual
de veículos elétricos ou híbridos, preço dos veículos elétricos, custo de manutenção,
custo da gasolina, projetos de políticas econômicas para incentivo a modelos de
propulsão alternativa, investimento das montadoras em novos modelos de propulsão,
quantidade postos de abastecimento instalados, mercado de revenda e manutenção
para os modelos elétricos e híbridos.
Explicação
Considerado o meio de transporte mais popular e importante do século, o carro
e o seu mercado vêm passando por grandes transformações, os consumidores estão
mais informados, mais exigentes. Nos grandes centros, o número de transportes
alternativos deixa o consumidor cada vez mais confortável para escolher de que forma
quer se locomover e não dá para negar o quanto toda essa transformação está
associada à tecnologia. Fica difícil pensar em um futuro para esse mercado sem um
desenvolvimento tecnológico arrojado. A narrativa deste cenário propõe a saga de um
consumidor que se apaixonou pela ideia que vem sendo veicula nos dias de hoje,
mas que não se cumpriu exclusivamente porque o desenvolvimento tecnológico foi
deixado de lado.
56
Hoje o perfil de consumo não é diferente de alguns anos atrás, o consumidor
ainda quer ter o seu carro e as projeções para o futuro mostram que essa tendência
não acabe, o consumidor vai continuar desejando o carro como uma propriedade,
situação que foi vivida pelo Pedro nesta narrativa.
Com a identificação das forças motrizes e a construção dos eixos ortogonais,
ficou claro que no futuro essas forças precisam caminhar lado a lado se
desenvolvendo na mesma intensidade, do contrário será difícil viver um futuro de
disrupção e de transformação de matriz energética. Fica claro que as forças se
complementam e devem acontecer em sinergia, essa situação vai impulsionar o
mercado de uma forma global que a transformação vai ser desde as fábricas
mudando plantas para atender as novas especificações, passando pelos
revendedores que precisarão construir novos modelos mentais de venda e chegando
ao consumidor sedento por inovação e acessibilidade.
O mercado dos veículos a combustão vai seguir nesse passo, há um
movimento intenso da otimização de motores e de combustíveis na busca de emitir
menos GEE e ter uma melhor performance. Isso já é realidade e deve evoluir com
todo o pacote tecnológico das montadoras.
4.1.7 Análise das implicações e opções
A análise dos cenários e a retomada da questão principal possibilita visualizar
quais as implicações geradas, as vulnerabilidades e as oportunidades existentes.
Este é o momento para confrontar o posicionamento estratégico frente as decisões
que devem ser tomadas. Cada um dos futuros possíveis devem ser considerados,
monitorando os impactos que possam existir, ou se há possibilidade de adaptação da
estratégia caso o cenário não se confirme (SCHWARTZ, 2006). Após elaboração dos
cenários a questão principal (Qual o futuro dos motores a combustão no mercado
automotivo para os próximos vinte anos?) foi reavaliada.
57
As Narrativas mostraram quanto o mercado dos elétricos é sensível as forças
motrizes e o quão complexo poderá ser a transição de matriz energética. Há também
a questão dos fornecedores dessa indústria, essa pode ser uma das limitações e ficou
clara a necessidade de ter fornecedores evoluindo na mesma intensidade que as
montadoras. Talvez eles não tenham subsídios para tal, destaca-se, portanto, a
importância do suporte governamental, bem como as parcerias entre montadoras e
fornecedores, como fez a Volkswagen que firmou parceria com uma fábrica de
baterias. Essa sinergia precisa acontecer no Brasil, do contrário é possível que
tenhamos montadoras em estágios avançados tendo os seus processos
desacelerados, pois o fornecedor tem uma limitação tecnológica.
De posse desses cenários, o mercado pode entender os possíveis impactos e
os fatores-chave que precisam ser trabalhados caso queira sair de um cenário para
outro. Um exemplo é o que algumas montadoras, junto a uma empresa do mercado
de carregadores, fizeram na cidade de São Paulo, eles conquistaram a isenção do
rodizio para veículos elétricos e híbridos, sendo esta uma questão política que foi
identificada como oportunidade e trabalhada junto aos órgãos competentes. Nos
cenários há elementos que mostram oportunidades que podem ser desenvolvidas,
além de ser a chance de transformar o mercado.
4.1.8 Seleção de indicadores
Devem ser definidos os indicadores que possibilitarão o monitoramento do
ambiente. Nessa etapa que a questão de inteligência competitiva se relaciona com os
futuros possíveis que foram projetados. Os cenários possibilitam que as organizações
definam os indicadores, possibilitando, pois, manter o monitoramento contínuo das
variáveis capazes de influenciar a companhia ou a questão principal (SCHWARTZ,
2006). Durante as narrativas pontos chave foram identificados, estes foram avaliados
e sugeridos indicadores de controle. Os indicadores foram citados ao final de cada
uma das narrativas e o seu monitoramento possibilita que o mercado possa ser
acompanhado de forma dinâmica, alimentando informações sem que novos cenários
precisem ser desenvolvidos.
58
Alguns indicadores são comuns para todos os cenários, a frequência de
verificação, por sua vez, pode ser alterada, mas todos compõem um conjunto robusto
de informações entregando uma visão global do mercado, que vai dar suporte a
estratégia definida pelas organizações. Desta forma, apresenta-se abaixo a relação
global de indicadores:
Vendas de novos veículos e o % de veículos elétricos ou híbridos;
Preço dos veículos elétricos;
Custo de manutenção;
Custo da gasolina;
Projetos de políticas econômicas para incentivo a modelos de propulsão
alternativa e de P&D;
Investimento das montadoras em novos modelos de propulsão;
Produção de veículos autônomos;
Desenvolvimento de fornecedores chave;
Quantidade de postos de abastecimento instalados;
Mercado de revenda e manutenção para os modelos elétricos e
híbridos.
59
5 CONCLUSÃO
Este estudo teve como objetivo a análise do mercado automotivo nacional e
buscou identificar como essa indústria pode se comportar quanto ao tema:
combustíveis nos próximos vinte anos. A metodologia empregada trouxe um conceito
que considera, além de dados estatísticos, o levantamento da situação atual e as
projeções de futuro. Frente a isso, a elaboração de cenários prospectivos foi o roteiro
metodológico definido para projetar futuros possíveis, com base na questão: Qual o
futuro dos motores a combustão no mercado automotivo para os próximos vinte anos?
A base deste estudo partiu da revisão bibliográfica e das entrevistas com nove
especialistas que atuam no mercado automotivo. A aplicação da metodologia deu
origem a dois grupos de incertezas críticas: i) desenvolvimento tecnológico e ii)
acessibilidade econômica. Ao analisar o desenvolvimento tecnológico, foi possível
identificar um comportamento inovador, onde a indústria disponibiliza recursos para
desenvolvimento de P&D, parcerias com fornecedores são criadas considerando uma
integração rápida das novas tecnologias ao modelo de negócio. Em contrapartida,
observou-se uma indústria mais conservadora, presa a paradigmas e limitada ao que
já existe, gerando uma inconsistência para um mercado que sempre se posicionou
de acordo com as novas oportunidades.
Sobre a acessibilidade econômica, considerou-se que pode ser módica ou
desmedida. A ótica módica se apresentou com poucas oportunidades e limitações
que tem o poder de travar um processo robusto como o das montadoras. O futuro
desmedido trouxe oportunidades de novos negócios e se caracterizou fortemente por
possibilitar uma implementação acelerada de novas tecnologias. Essas duas forças,
quando combinadas, possibilitam um olhar sobre o futuro, dando clareza e base
teórica para visualização de quatro futuros possíveis.
No primeiro cenário “O céu é o limite”, o desenvolvimento da tecnologia
acontece de forma rápida e com aplicação imediata, questões políticas
socioeconômicas e ambientais estão alinhadas com esse desenvolvimento. Nesse
cenário, a tecnologia não para de evoluir e deu origem a um futuro disruptivo, tudo o
que há de mais tecnológico está ao alcance de todos. Os motores a combustão
coexistem com outros modelos de propulsão e a indústria precisará se adaptar aos
novos modelos mentais desse mercado.
60
No segundo cenário, “Frustração”, a tecnologia está evoluindo com velocidade,
mas não está ao alcance de todos. A falta de acesso a essas tecnologias gera a
frustração dos consumidores que buscam por tudo o que há de mais novo, mas não
conseguem adquirir. O impacto no modelo de negócio é forte, pois pode acabar
direcionando os consumidores a modelos alternativos forçando com que as
montadoras busquem alternativas políticas para dar suporte aos consumidores.
O terceiro cenário, “Mais do mesmo”, mostra-se nada inovador e caracteriza-
se por um mercado estagnado que não tem perspectivas de crescer. O surgimento
de novas matrizes energéticas é extremamente sensível a investimentos das
montadoras e em políticas econômicas. Nesse cenário de estagnação, o mercado se
mantém sem mudanças significativas e os consumidores seguem a opção de compra
por modelos convencionais (híbridos, elétricos ou combustão).
No último cenário, as montadoras praticamente são empurradas pela
acessibilidade econômica. A narrativa busca mostrar como os consumidores devem
buscar novas tecnologias impulsionados por todos os tipos de incentivos, e pelo
acesso ao crédito facilitado, mas a tecnologia está estagnada e os consumidores
continuam comprando veículos como antigamente, sendo a coexistência de diversos
modelos de propulsão ainda liderada pelos motores a combustão. Os futuros
possíveis foram elaborados partindo do conceito base de que as informações possam
ser utilizadas para a tomada de decisões estratégicas, destacando sempre que o
método direciona os futuros possíveis e não os futuros mais prováveis.
Foi possível observar em todos os cenários que dificilmente teremos um único
modelo de propulsão, as entrevistas e pesquisas mostraram que o horizonte de tempo
determinado pelo estudo provavelmente estará pautado na coexistência de diversos
modelos de propulsão, incluindo o combustível fóssil. Outra questão fundamental é a
necessidade da integração de projetos de fornecedores e montadoras, esse ponto foi
identificado como muito sensível, pois vai favorecer os dois grupos formados pelas
incertezas críticas. Essa integração vai retornar custos mais acessíveis através da
redução do preço de componentes que hoje tornam os elétricos caros.
61
Uma limitação identificada no estudo foi a homogeneidade na visão dos
especialistas. Esses especialistas foram selecionados por conveniência pela
proximidade profissional, pelos níveis de influência estratégica distintas e, mesmo
tendo o cuidado na seleção, onde buscou-se profissionais que atuassem em
empresas diferentes, sendo organizações que possuem estratégias de mercado
distintas, o que se observou na interpretação das entrevistas e das opiniões desses
profissionais foi uma proximidade quando a visão dos futuros da indústria automotiva.
A partir dessa limitação surgem duas oportunidades, ampliar o número de
especialistas e seleciona-los aleatoriamente, além da possibilidade de integrar a visão
de consumidores finais de forma sistêmica na elaboração dos cenários. Apesar do
perfil de compra desse público estar definido pela visão estatística dos históricos de
compras, ter a visão deles sobre as preferências e expectativas do futuro deixariam
os fatores críticos ainda mais ricos e auxiliariam a delimitar os cenários com essas
expectativas.
62
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67
ANEXO I - Roteiro das entrevistas com os especialistas
Os especialistas foram selecionados por conveniência e proximidade profissional com o entrevistador, sendo que se tomou cuidado para selecionar especialistas com nível de influência estratégico e de organizações distintas.
As entrevistas foram online, utilizando a ferramenta Microssoft Teams, os áudios foram gravados, cada uma teve duração aproximada de uma hora e todas tiveram como tema central a questão de pesquisa e seguiram o roteiro apresentado a seguir que tem como base principal o questionário qualitativo desenvolvido a partir dos fatores-chave e das forças motrizes.
Com as respostas dos especialistas as pontuações de criticidade e importância foram atribuídas a cada uma das variáveis e, dessa forma, determinadas as incertezas críticas e fatores pré-determinados como orienta o método.
ROTEIRO:
1. Indicação dos entrevistados (executivos de montadoras ou empresas ligadas ao mercado automotivo);
2. Convite para participar do estudo, convites realizados por ligação ou mensagens de texto (whatsapp) com marcação de data e horário para as entrevistas;
3. Abertura da entrevista apresentando o entrevistador, a instituição e o estudo em foco pela explanação da questão principal;
4. Solicitada a apresentação do entrevistado, nome; organização que representa; nível hierárquico; tempo de atuação no mercado automotivo;
5. Aplicação das oito perguntas do questionário qualitativo:
5.1. Como a indústria tem se preparado para as novas opções de tecnologia dos motores? 5.2. Os motores a combustão vão durar até quando? Quais seriam as alternativas para a
substituição destes motores? Elas são viáveis na sua opinião? 5.3. Pensando na matriz energética, dá para pensar num futuro com carros movidos a
eletricidade? 5.4. No futuro a massificação de motores movidos a energia alternativa pode impactar a
mobilidade? Como? 5.5. Como o comportamento das novas gerações pode influenciar o mercado de automóveis
nos próximos vinte anos? 5.6. Como podem ser classificados hoje os custos de manutenção e aquisição dos veículos
movidos a eletricidade? De que forma isso pode ser reduzido? 5.7. Quais políticas econômicas e ambientais influenciariam a adoção de motores elétricos? 5.8. Na sua opinião, já é hora de ter um carro elétrico? Por quê?
6. As repostas foram avaliadas e atribuídas as pontuações para cada uma das forças
motrizes e, com as pontuações elaborada a matriz de incertezas críticas dos especialistas que deu origem as medias utilizadas nas próximas etapas do método.