SUSPENSE: A LEITURA DE CONTOS DE TERROR
Ivonete Mendes de Carvalho1
Luizete Guimarães Barros2
RESUMO
A leitura tem papel primordial na formação intelectual e crítica do aluno, desenvolvendo suaspotencialidades tanto no âmbito escolar, quanto nos fatores básicos para a construção de suapersonalidade. Num período em que há tantos recursos tecnológicos, a leitura fica cada vez maisrestrita à pesquisas, informações, jogos e a comunicação on-line. Desse modo a leitura de livros estásendo relegada a um lugar cada vez menos importante no cotidiano do aluno, por essa razão novosencaminhamentos de incentivo à leitura se fazem necessários. Assim, através do Projeto deIntervenção Pedagógica buscamos desenvolver diferentes estratégias para incentivar o hábito deleitura em alunos do 9º ano no Colégio Estadual Paiçandu- Ensino Fundamental, Médio, Normal eProfissional. Com este raciocínio, propomos a realização da leitura do livro de contos “Descanse emPaz, Meu Amor...” de Pedro Bandeira. Na etapa seguinte, o aluno realizou a análise dos elementosque compõe a narrativa: o enredo, o narrador, as personagens, o tempo e o espaço. Desta forma, oobjeto de nosso estudo se centra no gênero textual “conto”, por ser uma narrativa curta, com poucospersonagens e um só conflito. A escolha do conto de terror de deve ao fato de que se trata de leituraenvolvente, que convida jovens leitores a iniciar o contato com um material rico em aventuras. O livroestudado traz contos de mistério e terror, com tema ligado ao sobrenatural, isto é, conta sobrefenômenos inexplicáveis que desperta o fascínio e o imaginário do leitor adolescente, da idade dosalunos em questão.
Palavras- chave: Leitura; Suspense; Conto de Terror; Narrativa breve.
1. INTRODUÇÃO
A leitura tem papel primordial na formação intelectual e crítica do aluno, pois
desenvolve suas potencialidades tanto no âmbito escolar, no que se refere aos seus
rendimentos, quanto nos fatores básicos para a construção de sua personalidade.
Porém, vivemos um período em que há tantos recursos tecnológicos, com
acesso rápido e fácil, que a leitura de material impresso se vê fadada a segundo
1 Professora de Língua Portuguesa e Literatura da SEED, grupo PDE 2012.
2 Orientadora Professora- Pos Doutorada em Línguística Hispânica pela University of Texas at Austin - UT – Austin – Estado Unidos, 2003 – e-mail: [email protected]
plano, resumindo-se a informações, pesquisas, jogos e a comunicação on-line, etc..
Com isso a leitura de obras literárias tem sido relegada a um lugar cada vez menos
importante no cotidiano do aluno.
Diante desse cenário pouco promissor da prática de leitura nas escolas, faz-
se necessário, através do resgate da leitura, um novo leitor criador, crítico e
contestador, e isso exige do professor novos encaminhamentos de leitura. Portanto,
o professor se depara com o desafio: como despertar no discente o interesse pela
leitura? A leitura de contos de mistério e terror é uma boa escolha para desenvolver
no aluno de 9º ano o gosto pela leitura?
A partir dessa reflexão, podemos dizer que ler é compreender melhor o
mundo, é o caminho para ampliação da percepção do mundo a nossa volta. Assim,
a prática constante da leitura na sala de aula é essencial para que os alunos
vislumbrem em sua atividade diária a capacidade de transformar a sociedade na
qual está inserido.
Vale lembrar que a leitura é um dos itens primordiais para a formação
cognitiva do aluno, visto que ele passa grande parte de sua vida na escola. Assim,
Bamberger (2004, p. 23) afirma que “a leitura é um dos meios mais eficazes de
desenvolvimento sistemático da linguagem e da personalidade.”
No entanto, o maior desafio ao professor-incentivador da leitura é encontrar
material atraente para o público com o qual trabalha. Por essa razão, julgamos que
a escolha do gênero discursivo é primordial para fazer nascer no leitor o gosto pela
leitura. Como o conto é considerado um gênero que apresenta leitura de fácil
compreensão, porque, na maioria dos casos, gira em torno de um único núcleo
narrativo e um único conflito, em que se eliminam os excessos, as divagações, as
digressões, e, desta forma, seus elementos estão harmonizados ao redor de um só
drama, escolhemos este como foco de nossa atenção para esta atividade didática.
Portanto, para uma melhor compreensão desse tipo de texto por parte do
alunado, foi desenvolvido no Colégio Estadual Paiçandu- Ensino Fundamental,
Médio, Normal e Profissional, no município de Paiçandu, Estado do Paraná, com
uma turma do 9º ano do Ensino Fundamental, o projeto de intervenção pedagógica
com narrativa de contos de mistério e terror desenvolvidos em cinco oficinas.
Desse modo, o professor possibilitou ao aluno acesso à leitura de contos
ligados ao sobrenatural, e a narrativas que temas que dão ideia de fenômeno
inexplicáveis do ponto de vista da razão – assuntos que chamam a atenção do
público desta idade escolar.
1.1 SOBRE A LEITURA
Na atualidade, a prática de leitura como capacidade de compreensão,
interpretação e apreciação, é ainda uma atividade pouco cultivada entre os alunos e
que representa, portanto, um grande desafio para eles. Neste trabalho,
compreendemos a leitura como uma experiência totalmente pessoal que resulta
sempre na confrontação entre a narrativa do autor e as histórias de vida do leitor,
sendo assim o leitor atua como um co-autor da obra lida. Assim, Silva (2002)
acredita que:
A qualificação e a capacitação contínua dos leitores ao longo das sériesescolares colocam-se como uma garantia de acesso ao sabersistematizado, aos conteúdos do conhecimento que a escola tem de tornardisponíveis aos estudantes (SILVA, 2002, p. 7).
Segundo Bamberger (2004, p.23), a leitura é um processo complexo que
compreende várias fases de desenvolvimento. Começa com um processo de
percepção, período que se reconhecem símbolos, seguido pela transferência para
conceitos intelectuais. O processo mental não consiste apenas na compreensão das
ideias expressas, mas também na sua interpretação e avaliação. Estas etapas não
acontecem de maneira estanque, já que se fundem no ato da leitura.
Quando referimos a ler e compreender, estamos referindo em conhecer. O
melhor autor é aquele que faz seu público avançar na medida em que propõe novas
leituras da realidade. O melhor mediador-professor – é aquele que, gostando da
leitura, sabe explorar um texto propondo atividades de promoção da leitura por meio
de estratégias que atendam aos interesses dos jovens.
Antonio Candido define a leitura como sendo uma transposição do real para o
ilusório por meio de modelo formal que propõe um tipo arbitrário de ordem para as
coisas, os seres, os sentimentos, em que veicula a realidade natural ou social numa
atitude de gratuidade (CÂNDIDO, 1967, p. 53). Essa gratuidade vem tanto do
criador, no momento de conceber e executar, quanto do receptor no momento de
sentir e apreciar.
De acordo com as Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa de Educação
Básica do Paraná (2008, p. 71), a leitura é vista como um ato dialógico dado a
função interlocutora do leitor, que desempenha papel ativo neste processo de
procura de formas e de estratégias para suas vivências culturais. Na fala de Antunes
(2003, p. 70):
A atividade da leitura favorece a ampliação dos repertórios de informação doleitor. Por ela, o leitor pode incorporar novas ideias, novos conceitos, novosdados, novas e diferentes informações acerca das coisas, das pessoas, dosacontecimentos do mundo em geral.
Assim, para se obter uma boa leitura é necessário que se tenha um objetivo,
ou seja, temos que ler com alguma finalidade, pois existe um sentido para a leitura,
pois é a partir desse tipo de leitura que o leitor dará um significado ao que lê
(SOLER, 1998, p. 22).
É papel da escola, segundo Marcuschi (2005, p.46), fornecer aos estudantes,
através da leitura, instrumentos necessários para que eles consigam buscar,
analisar, selecionar, organizar as informações complexas do mundo contemporâneo
e exercer a cidadania.
Portanto, qualquer tipo de atividade de leitura constitui também um desafio
para o aluno e também para o professor. Assim, o professor, ao sugerir essa
atividade, deve trabalhar não somente a primeira etapa do processo de leitura que
consiste na decodificação do código de escrita em língua portuguesa, mas também
desenvolver as outras etapas, como a compreensão e a interpretação coerente dos
textos, na busca de um leitor aprimorado.
E como o bom leitor se forma a partir de várias horas de dedicação à leitura, e
como concebemos também que uma das funções primordiais da escola é a criação
do hábito de leitura, a escolha do material a ser lido é de capital importância para
atrair o leitor. Por essa razão, nossa atenção recai, primeiramente, na seleção do
material bibliográfico a ser lido.
1.2 SOBRE O CONTO
A escolha temática deste trabalho recai sobre o conto, porque acreditamos
que no conto, os fatos ocorrem de forma semelhante à vida real, isto é, baseado em
Moisés (1978, p. 33), pensamos que “a cronologia do conto segue a do relógio, de
modo que o leitor “vê” os fatos se sucederem numa continuidade semelhante àquela
da vida real”. Quanto às personagens, além de apresentarem em número restrito,
tendem a serem esquecidos, no caso de contos de ação, como os analisados aqui.
Por isso dizemos que são relatadas no conto mais as ações concernentes à trama
que as características secundárias dos elementos envolvidos no enredo.
O conto faz parte das narrativas populares, pois originalmente era marcado
pela oralidade, o contador prendia a atenção dos ouvintes, contagiava-os para uma
participação apreciativa, durante a enunciação (fala), através dos gestos, da
modulação da voz e das expressões faciais. Na escrita, o narrador/escritor, para
cumprir a mesma função, pode utilizar de vários recursos como a descrição, o
suspense, as onomatopéias e hipérboles, afirmando seu caráter literário.
Ressaltamos também uma diferença entre o conto tradicional e o conto moderno
que Segundo Guimarães:
[...] o conto moderno se diferencia do tradicional pela estrutura e técnica nomodo de narrar: no tradicional, a ação e o conflito passam, de forma geral,pelo desenvolvimento até o desfecho, com crise e resolução no final; nomoderno, a narrativa não segue necessariamente este esquemaconvencional, fragmentando-se e evoluindo de um enredo linear para umdiluído, às vezes, sem ação principal, com estados interiores tomando lugarprincipal (2000, p. 89).
Em oposição ao romance ou à novela, narrativas de longa extensão, o conto
se caracteriza por ser uma narrativa, cuja leitura pode atrair jovens leitores, como
afirma Linhares (1973):
O conto é um caleidoscópio e, como tal, deve comunicar uma impressão devida ou então de simples emoção a ser instalada na alma do leitor, sempreapressado em chegar ao fim, como supõe a época da velocidade em quevive, o que não quer dizer não se empenhe ele em conhecer asvirtualidades do contista, as suas tendências voltadas para o folclore, orapara o anedótico, ou então para a utilização do absurdo, para a mortalangústia de uma cosmovisão apocalíptica que o mundo de hoje tantasvezes comporta (LINHARES,1973, p. 6).
Sobre o conto como narrativa breve, Alfredo Bosi (1975, p.7) comenta que o conto
“se comparado à novela e ao romance, a narrativa curta condensa e potencia no seu
espaço todas as possibilidades da ficção”. Segundo ainda este mesmo autor,
professor emérito de literatura brasileira da Universidade de São Paulo, Bosi (1975,
p. 8) ressalta o lugar proeminente do conto na escrita literária, dizendo que “o conto
tem exercido, ainda, e sempre o papel de lugar privilegiado em que se dizem
situações vividas pelo homem contemporâneo.”
O conteúdo do conto é constituído, segundo Aguiar e Silva (1973 p.346), por
“um curto episódio, um caso humano interessante, uma recordação, etc.” Para o
autor, o conto é a “arte da sugestão”, além de transformar-se “com muita freqüência
numa forma literária fantástica”, como ocorreu no romantismo e também na literatura
latino-americana no século XX que tem em Cortázar e Garcia Márquez
representantes singulares de um tipo de escritura que traz o real confundido com o
maravilhoso, e em que o fantástico ganha dimensões do humano, no chamado
“boom-latino-americano” dos anos de 1960 a 1980. Este nome “boom” designa o
sucesso tamanho de vendagem com que se consumiu literatura na sociedade da
época, e entre as obras literárias da época, o conto figurou como um dos gêneros
mais procurados para consumo do público leitor.
O conceito aristotélico de unidade é respeitado, costumeiramente, no conto,
isto é, os três tipos de unidade – de espaço, de tempo e de ação – se conservam
para que a narrativa se consolide. Sendo assim, o espaço físico é restrito aos locais
em que se desenvolvem os fatos narrados e o tempo apresenta deslocamentos
típicos ao desenrolar dos acontecimentos protagonizados pelos personagens da
trama. Geralmente, o clímax ocorre no final da narrativa, podendo ou não ser
resolvido, porque a ação dramática é acentuada de emoção à medida que se
aproxima do desfecho.
E para não afugentar o leitor, escolhemos o conto de terror como a proposta
de leitura aos adolescentes de nossa escola. O conto de mistério, terror ou de
acontecimentos sobrenaturais, isto é, temas que escapam à explicação racional, ao
mundo real, presentes na cultura popular, despertam o fascínio dos adolescentes e
das crianças, e por isso constituem um campo fértil para o imaginário do leitor.
Geralmente, o conteúdo dramático desse material bibliográfico se resume ao relato
de uma única situação de conflito, e pode favorecer um trabalho diferenciado em
sala de aula. A leitura de contos demanda menos tempo que a leitura de um
romance, devido à extensão dessas narrativas. Por essa razão, escolhemos
trabalhar com a leitura de contos para que essa atividade se torne algo prazeroso e
que possa despertar o interesse do aluno para esse e, por extensão, para outros
textos literários.
Segundo Edgar Allan Poe, escritor norte-americano famoso por seus contos
sobre o mistério e o macabro, uma das características essenciais do conto é sua
brevidade, razão pela qual ele deve ser lido sem interrupções, porque ele acredita
que o efeito esperado pelo autor só se alcança diante da leitura integral da obra.
(POE, apud GOTLIB, 2006, p. 32). Cabe ao contista, portanto, manipular o material
verbal de forma que o efeito escolhido, por exemplo: medo, suspense, revolta,
humor, dentre outros, possa causar efeito sobre o leitor, de maneira que este não
abandone a leitura antes de sua conclusão.
Para garantir o efeito de brevidade, o conto geralmente se caracteriza pela
condensação dos elementos que o constituem, como: tempo, espaço, número de
personagens, bem como dos demais elementos da narrativa. (POE, apud GOTLIB,
2006, p. 41).
Na análise feita por Moisés (1967) o autor entende que:
O conto é, pois uma narrativa unívoca, univalente: Constitui uma unidadedramática, uma célula dramática, visto gravitar ao redor de um só conflito,um só drama, uma só ação. Caracteriza-se, assim, por conter uma unidadede ação, tomada esta como conseqüência de atos praticados pelosprotagonistas, ou de acontecimentos de que participam. A ação pode serexterna, quando as personagens se deslocam no espaço e no tempo, einterna, quando o conflito se localiza em sua mente (MOISÉS, 1967, p. 40).
Conforme se apontou anteriormente pode-se dizer que o conto se assemelha
à fotografia, pois em ambos os casos o que se procura é um recorte da realidade.
Tanto o conto quanto a fotografia não se preocupam com uma progressão temporal
longa, extensa, mas sim, com o instante, sendo este decisivo, de impacto, um
instante único.
1.3 NARRATIVA
A narrativa é uma manifestação que segue o homem desde sua origem . Os
mitos das histórias das origens (de um povo, de um objeto, de lugares), transmitidos
pelos povos pelas descendências, são narrativas. Toda a narrativa se estrutura por
cinco elementos básicos, sem os quais ela não existe. Sem os acontecimentos não
há história, e quem vive os acontecimentos são as personagens, num determinado
tempo e lugar. As estórias ou histórias sempre reúnem aqueles que as narram e
aqueles que as ouvem, leem ou assistem (GANCHO, 2004). Uma narrativa é
estruturada em cinco elementos principais que são: enredo, personagens, tempo,
espaço e foco narrativo. A seguir vamos ver cada uma delas.
O enredo
Há a existência do enredo também conhecido como trama, intriga ou ação.
Para se entender a organização dos fatos no enredo não basta perceber que toda
história tem inicio, meio e fim; é preciso cada leitor compreender o elemento
estruturador: o conflito. O conflito é qualquer componente da história (personagens,
fatos, ambiente, ideias, emoções) que se contraria ao outro, criando uma tensão que
organiza os fatos da história e cativa a atenção do leitor. O enredo em uma obra
envolve a partir da fluência dos acontecimentos.
Personagens
A personagem ou o personagem é quem pratica a ação. O personagem é um ser
que pertence à história e que, portanto, só existe como tal se participa realmente do
enredo, isto é, se age ou fala, não deve ser confundido com o autor. Se um
determinado ser é mencionado na história por outros personagens, mas nada faz
direta ou indiretamente, ou não interfere de modo algum no enredo, pode-se não o
considerar personagem. O protagonista é o personagem principal e o antagonista é
o que se contraria ao protagonista, é o vilão da história. Já os personagens
secundários, são menos importantes na história, isto é, que têm pouca participação
no enredo; podem desempenhar papel de ajudantes do protagonista ou do
antagonista.
Tempo
É o nome que se dá ao tempo que transcorre na ordem natural dos fatos no
enredo, isto é do início para o fim. Está, portanto, ligado ao enredo linear (que não
altera a ordem que os fatos aconteceram); denomina-se cronológico porque é
contado em horas, dias, meses, anos, séculos, numa forma sequencial. O nome que
se dá ao tempo que transcorre numa ordem determinada pelo desejo ou pela
imaginação do narrador ou dos personagens. Denomina-se tempo psicológico, está,
portanto, ligado ao enredo não-linear (no qual os acontecimentos estão fora da
ordem natural). Para Cardoso, “no texto narrativo, os eventos passam de um estado
a outro. Esse tipo de texto caracteriza-se por apresentar acontecimentos que se
sucedem no tempo” (Cardoso, 2001, p. 38).
Espaço
Espaço é, por definição, o lugar onde acontece a ação numa narrativa. O
espaço tem como função principal situar as ações dos personagens e determinar
com eles uma relação, querem influenciando suas atitudes, pensamentos ou
emoções, quer sofrendo eventuais modificações provocadas pelos personagens.
Como os personagens, o espaço pode ser caracterizado mais detalhadamente em
trechos descritivos, ou as referências espaciais podem estar dissolvidas na
narração. Gancho afirma que “O termo espaço, de um modo geral só dá conta do
lugar físico onde ocorrem os fatos da história; para designar um “lugar” psicológico
social, econômico etc., empregamos o termo ambiente” (GANCHO, 2004, p. 24).
Narrador e foco narrativo
Não existe narrativa sem narrador, porque ele é o elemento estruturador da
história. Dois são os termos mais usados para determinar a função do narrador na
história: foco narrativo e ponto de vista da narração. Tanto um quanto outro se refere
à atitude ou perspectiva do narrador frente aos fatos narrados. Segundo Cardoso há
narrativas em primeira pessoa e narrativas em terceira pessoa. Tal característica da
narrativa é consequência das funções de seu narrador dentro da mesma. Nas
palavras de Barthes na obra “A aventura semiológica” (2001, p. 137). O narrador
observador é o tipo mais corriqueiro identificado nas narrativas dos mais diversos
meios. É especialmente comum nas narrativas visuais.
O Projeto de Intervenção Pedagógica propôs momentos de leitura, com
narrativas de contos de mistério e terror. Foi desenvolvido no Colégio Estadual
Paiçandu- Ensino Fundamental, Médio, Normal e Profissional, no município de
Paiçandu, Estado do Paraná, com uma turma do 9º ano do Ensino Fundamental.
Vale salientar que a implementação do projeto PDE/2012 correspondeu no
terceiro período do programa e ocorreu no primeiro semestre de 2013, data esta que
se iniciaram as atividades da produção didático- pedagógica.
Inicialmente, houve a exposição oral sobre a realização projeto, bem como a
apresentação do tema a ser desenvolvido em sala de aula, ”o conto de mistério e
terror”. A primeira atividade foi realizada por intermédio de uma pesquisa, com o
propósito de averiguar o conhecimento prévio dos aprendizes sobre conto, se já
ouviram de seus familiares alguma história de terror, sobrenatural. Estas questões
foram respondidas por 35 alunos matriculados na série trabalhada, como se pode
observar os itens pesquisados na tabela abaixo.
Dos 35 entrevistados, no item nº 1 , quando questionados se possuem o
habito de ler, 34,3% disseram que realmente gostam de ler. Isso quer dizer que a
leitura para esses alunos não significa uma obrigação, mas sim o prazer da leitura.
Já disseram que faz uso da leitura eventualmente 22,9%, e com 42,9% infelizmente
disseram fazer uso da leitura apenas para cumprir atividades escolares. Isso
DESCRIÇÃO Distribuiçãodos sujeitos
( N= 35) %1- Você tem o hábito de ler? Ou suas leituras são apenas para cumpriratividades escolares?
Gosta de ler 15 42,9%
Lê eventualmente 8 22,9%
Atividades escolares 12 34,3%
2- Você conhece alguma história sobrenatural que tenha ouvido de seusfamiliares, lido ou assistido na TV ou cinema?
Ouviu dos familiares 20 57,1%
Lido 12 34,3%
Viu na TV. ou no cinema 35 100,0%
3-Em qual período aconteceu a narrativa da história que ouviu?
A narrativa de terror acontece à noite. 35 100,0%
A narrativa de terror acontece durante o dia. 0 0,0%
4- Descreva como era o ambiente.
Escuro, isolado, numa casa próxima a uma pequena mata 14 40,0%
Numa rua próxima a um cemitério 10 28,6%
Num casarão velho e abandonado 8 22,9%
Numa casa, à noite, sozinho 3 8,6%
5- Quanto às personagens, havia muitas pessoas envolvidas nesta história?
Poucas pessoas envolvidas 35 100,0%
Muitas pessoas envolvidas 0 0,0%
6-Qual foi a parte de maior tensão na história?
No momento em que a personagem vai ser pega pelo fantasma 9 25,7%
Pelo monstro 6 17,1%
Por um ser perigoso 20 57,1%
7- O que você sentiu ao ouvir, ler ou ver esse tipo de história?
Medo 10 28,6%
Arrepios 25 71,4%
8- Você gosta de narrativas com esse assunto?
Sim 33 94,3%
Não ( acham os filmes sempre iguais) 2 5,7%
9-Você gostaria de conhecer outras narrativas de mistério e terror?
Sim 33 94,3%
Talvez 2 5,7%
Fonte:Dados adaptados do Projeto de Intervenção Pedagógica PDE 2012/ 2013
significa que, o professor precisa fazer uso de novas ferramentas para estimular no
aluno o prazer da leitura, para que este não a faça como mera obrigação, no
entanto, o aluno necessita demonstrar interesse.
Em se tratando da pergunta sobre se conhece alguma história sobrenatural e
de que maneira, no item 2, todos os entrevistados disseram ter visto na TV ou no
cinema, ou seja, 100,0% de aproveitamento. Além disso, 57,1% responderam que
ouviu dos familiares, porém, 34,3% disseram também conhecer através da leitura
feita por ele mesmo.
No item 3, quando os entrevistados foram questionados sobre o período do
dia em que ocorreu a narrativa lida ou ouvida, 100,0% responderam que a narrativa
de terror geralmente acontece à noite. Isso nos mostra que realmente, as historias
de suspense nos contos de terror deixa sempre evidente traços de que através do
escuro o perigo surge.
Outro dado importante está no item 4, em que os entrevistados concordam
que o ambiente na história ocorre sempre num local isolado, numa casa velha,
abandonada, ou até mesmo próximo a um cemitério. No quesito 5, quando se fala
em quantidade de personagens, com 100,0% dos entrevistados responderam que
eram duas a cinco pessoas presentes na história. Isso significa que as histórias em
contos são curtas e com poucas personagens.
No que diz respeito, a parte que provoca maior tensão na história, 25,7%
alegaram ser no momento que a personagem está frente a frente com o perigo, o
sobrenatural. Responderam também que sentem medo, principalmente, quando
assistem ou ouvem uma história de terror.
Conforme observado no item 8, somente 5,7% dos entrevistados disseram
não gostar de narrativas sobre esse assunto, pois acham os filmes e histórias
sempre iguais. Por outro lado, com uma margem grande, 94,3% dos pesquisados
responderam que sim. Esse resultado vem confirmar o resultado apresentado no
item anterior.
Pode-se observar no item 9 que as narrativas de mistério e terror ainda
continuam fascinando o leitor, pois até mesmo os que disseram nessa pesquisa que
narrativas com esse assunto parecem serem sempre a mesma coisa, quando
questionados se gostariam de conhecer outras narrativas desse jeito, acabaram
dizendo que talvez sim. Fica evidente que essas narrativas ainda continuam
despertando curiosidades sobre algo que o individuo não tem conhecimento.
Após a aplicação do questionário, foi organizado um círculo para que os
alunos pudessem compartilhar as histórias descritas por eles na sondagem.
A fim de preparar a turma para temática proposta, na segunda atividade foram
realizados trabalhos que identificaram a estrutura desse gênero literário. Assim,
através de um texto impresso, iniciamos uma breve explanação aos alunos sobre as
narrativas em estudo.
Foi colocado que as narrativas chegam até nós por diferentes linguagens: a
linguagem verbal (livros, revista, jornais, etc.), pela linguagem visual (cinema, televi -
são, revista em quadrinhos, etc.), pela representação (linguagem teatral), pelos ges-
tos (linguagem gestual). As narrativas também são constituídas por variados assun-
tos, e podem ser vistas e ouvidas através de vários suportes: contação de histórias,
livros, jornais, revistas, gibis, televisão, cinema, internet, teatro, circo, etc.. Em segui-
da pesquisaram no dicionário o significado das palavras narrar e conto, e assim res-
ponder se conto é um tipo de narrativa.
Para melhor entender a narrativa, foi entregue uma cópia do texto “Tentação”,
de Clarice Lispector para realizar a leitura e questionamentos, que foram respondi-
dos no caderno.
Na próxima etapa do trabalho, com apoio de um texto informativo a cerca do
gênero conto de mistério e terror e os recursos utilizados para criar o suspense na
narrativa. Os alunos foram instigados a exemplificar, a partir dos contos tradicionais,
os mais conhecidos, algumas características do conto de mistério e terror, como o
suspense, o espaço em Chapeuzinho vermelho, João e Maria..., o tempo no conto:
Branca de Neve, A Bela e a Fera..., mostrando aos educando que mesmo nas histó-
rias infantis temos características dos contos de mistério, assim procurando desper-
tar nos alunos o interesse pela leitura de contos.
Em seguida, foi feita a leitura de: O Conto dos três irmãos – Cena Harry Pot-
ter e as Relíquias da Morte..., texto retirado do capítulo 21 da obra de J. K. Rowling,
inicialmente foi feita a leitura silenciosa, depois a leitura compartilhada. Para finalizar
esta etapa foi exibido na TV pendrive, o clipe deste conto, para uma melhor visuali -
zação dos elementos que compõem a narrativa de mistério e terror. Após o clipe, a
discussão girou em torno das questões: Considerando o assunto do conto apresen-
tado, pode- se dizer que é um conto de mistério? Quais os elementos que compro-
vam sua afirmativa? Quem conta a história? O narrador participa da narrativa? Onde
começa o conflito? E o clímax? Pelo desfecho, pode- se afirmar que a Morte foi ven-
cedora?
A oficina 3 propiciou aos alunos a leitura dos contos do livro “Descanse em
Paz, Meu Amor..., de Pedro Bandeira. Antes de iniciar a leitura, os alunos fizeram
uma pesquisa para conhecimento, sobre a vida; estilo de linguagem e obras deste
escritor .Num segundo momento, apresentou-se o primeiro conto do livro Descanse
em paz, meu amor..., de Pedro Bandeira. O primeiro passo foi a leitura silenciosa
do texto em questão. Logo após, foi feita a leitura inicialmente pela professora, em
seguida pelos alunos que iam assumindo as falas das personagens.
A partir dessa leitura, foi proporcionado aos discentes um diálogo sobre o
texto lido sobre o que entenderam em relação aos recursos utilizados pelo autor
para criar tensões, como o suspense, o medo e o mistério; como o narrador adapta
a história para prender a atenção dos leitores. Neste momento, também foi
apresentado o segundo conto do livro, “Histórias de terror”, para que os alunos após
a leitura opinassem por que as personagens do conto, em meio ao tempo ruim, sem
luz elétrica resolvem contar histórias sobrenaturais. Por que queriam convencer
Alexandre que existem coisas sobrenaturais?
Na quarta etapa, os alunos organizados em grupos, fizeram à leitura das
histórias de terror contadas por Geraldo, Ludmila, Débora e Silvio. Neste momento,
cada equipe escolheu um conto para reler e assim, fizeram a compreensão do
mesmo, destacando os elementos que compõem a narrativa, como as personagens,
o tempo e o espaço, bem como os elementos utilizados pelo autor para criar
suspense e medo.
Os alunos, ainda em grupo, dividiram o conto em pequenas partes,
destacando alguns de seus elementos, como situação inicial; personagens, tempo,
espaço; início do conflito, clímax e desfecho. Fizeram a ilustração e o resumo sobre
cada parte, que depois de pronta, eles uniram todas as páginas, formando um
pequeno livro ilustrado sobre o conto.
Para finalizar esta etapa da oficina, cada grupo fez a apresentação do conto
trabalhado. Estas apresentações foram realizadas através de dramatizações e
mostra dos livros confeccionados.
A quinta etapa do projeto contemplou a história de Márcia, o último conto do
livro, onde há o clímax e o desfecho. Este capítulo foi reservado para ser trabalhado
com todos os alunos e assim assegurar um maior suspense na obra de Pedro
Bandeira.
Antes de iniciar a leitura foram escolhidos alguns alunos para ler em voz alta
para a turma, com a finalidade de provocar tensão, emoção à medida que ia sendo
revelado o desenlace da narrativa.
Realizada a leitura do último conto, foi aberta uma discussão a respeito do
livro de Pedro Bandeira “Descanse em Paz, meu amor...”, e os alunos foram
estimulados a responder os seguintes questionamentos: as expectativas criadas em
relação ao último conto foram confirmadas? O final foi surpreendente ou vocês já o
imaginavam? Os contos do livro apresentam a estrutura de contos de terror? O título
do livro é condizente com a história?
Então, para finalizar esta etapa e análise dos resultados, os alunos montaram
e apresentaram um teatro com o conto inicial do livro de Pedro Bandeira “Noite
gelada de medo” e o conto final “A história de Márcia”, pois neles encontra- se a
síntese do livro do qual foi trabalhado nesta unidade didática. A apresentação foi
sem grandes recursos, mas houve muito empenho da maioria dos alunos.
Os alunos, quando questionados sobre o Projeto PDE, disseram ter gostado
de participar, que foi uma leitura prazerosa. Foi estimulante saber que alguns iriam
reler o livro e outros pediram sugestão de outras narrativas do mesmo gênero para
que fizessem a leitura.
2. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A leitura está presente em nossas vidas, em nosso cotidiano, de maneira
muito intensa, mas é algo tão natural que às se torna imperceptível. Está presente
no trabalho, no lazer, num bilhetinho que recebemos de um amigo, nos outdoors,
nas embalagens dos produtos, nas marcas da roupa.
Considerando a proposta de trabalho com o gênero literário conto, em
especial os contos de terror do livro “Descanse em Paz, Meu Amor...”, de Pedro
Bandeira, este objetivou criar condições de o educando, através da oralidade, leitura
e compreensão, ampliar sua capacidade comunicativa, tornando-o um aluno mais
motivado. Foi gratificante o trabalho com alunos do 9º ano.
Os alunos gostaram muito do conto inicial, principalmente porque envolvia
personagens jovens, e com isso surpreendentemente começaram a ler, querendo
fazer a leitura dos outros contos.
Ficou evidente que o trabalho com contos foi bastante propício para os
estudantes iniciarem o contato coma leitura e que os temas ligados ao sobrenatural
chamam a atenção do público desta idade escolar.
Percebemos que as atividades com textos curtos, os contos, foram lidos e
desenvolvidos por todos os alunos.
Assim concluir este estudo, pontua-se que devemos privilegiar os espaços de
leitura na escola, vindo oportunizar os contos e outros textos literários enquanto
fruição, como um meio de desenvolver nos nossos alunos o gosto e o hábito pela
leitura.
2.1 REFERÊNCIAS
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