Suplementação protéico-energética para bovinos criados em pastagens: Aspectos teóricos e principais resultados publicados no Brasil Pedro Malafaia, Luciano da Silva Cabral * , Ricardo Augusto Mendonça Vieira ** , Rogério Magnoli Costa *** e Carlos Augusto Brandão de Carvalho **** UFRRJ, Inst. Zootecnia, DNAP, Seropédica, RJ, 23851-970. [email protected]*UFMT, DZER, FAMEV, Av. Fernando Corrêa da Costa, s/n, Coxipó, Cuiabá, MT, 78060-900. [email protected]** UENF, CCTA, LZNA, Av. Alberto Lamego, 2000, Campos dos Goytacases, RJ, 28013- 600. ***Êxito Rural , Av. Conde Francisco Matarazzo, s/n, Araçatuba, SP, 16010-570. [email protected]****UFRRJ, PPCS, Seropédica, RJ, 23851-970. Resumo No Brasil, desde a década de 40, publicações em periódicos científicos vem descrevendo que as pastagens são a fonte de alimento mais econômica para a alimentação dos bovinos. Durante a época chuvosa, verifica-se um crescimento contínuo dos animais criados nos pastos tropicais e, na estiagem, com a acentuada redução da produção e do valor nutritivo das pastagens, os animais perdem peso. Durante a estação seca, o rebanho bovino alimenta-se das sobras de forragens oriundas das estações da primavera e verão, caracterizadas por elevados teores de fibra indigerível e quantidade de PB inferior ao nível crítico de 60 a 70 g kg -1 de MS; nessa situação, a ingestão de forragem é reduzida pela deficiência de nitrogênio (N). Quando a disponibilidade do pasto for limitante, o que pode ocorrer durante períodos de seca prolongada, ou quando se pratica um super pastejo por animais em crescimento, alguma forma de suplementação energética torna-se necessária, pois nestas condições, apenas a suplementação protéica pode não ser adequada. As vantagens do uso da uréia são a disponibilidade mercadológica, a concentração e o baixo custo unitário do N, além de ser fonte de N-NH 3 para os microrganismos fibrolíticos ruminais. Um aspecto pouco abordado, nas pesquisas sobre suplementação de bovinos no Brasil, é a sua viabilidade econômica durante o período chuvoso. Verifica-se que animais consumindo suplementos contendo elevados níveis de NaCl (150 - 300 g kg -1 ), ingerem nutrientes essenciais sob forma mais constante para atender ao crescimento microbiano ruminal, aumentam a freqüência de ida ao bebedouro e bebem mais água do que os animais não suplementados. Embora muita ênfase seja dada aos impactos benéficos da suplementação sobre o ganho de peso ou sobre os parâmetros reprodutivos do rebanho, pouca ou nenhuma atenção tem sido dada à possibilidade da redução na suplementação fosfórica e também de outros minerais. Finalmente, deve-se ter em mente que o ganho de peso de animais recebendo suplementos protéico- energéticos sempre atenderá à lei de Mitscherlich; isto é, respostas não lineares com ganhos decrescentes à medida que se aumenta o consumo de suplemento. Termos de indexação: Bovinos, pastagens tropicais, suplementação
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Suplementação protéico-energética para bovinos criados ...exitorural.com.br/artigos/suplementacao_proteico.pdf · O teor de proteína bruta do pasto (PB) é um dos fatores que
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Suplementação protéico-energética para bovinos
criados em pastagens: Aspectos teóricos e principais
resultados publicados no Brasil
Pedro Malafaia, Luciano da Silva Cabral*, Ricardo Augusto
No Brasil, desde a década de 40, publicações em periódicos científicos vem descrevendo que as pastagens são a fonte de alimento mais econômica para a alimentação dos bovinos. Durante a época chuvosa,
verifica-se um crescimento contínuo dos animais criados nos pastos tropicais e, na estiagem, com a
acentuada redução da produção e do valor nutritivo das pastagens, os animais perdem peso. Durante a
estação seca, o rebanho bovino alimenta-se das sobras de forragens oriundas das estações da primavera e
verão, caracterizadas por elevados teores de fibra indigerível e quantidade de PB inferior ao nível crítico
de 60 a 70 g kg-1 de MS; nessa situação, a ingestão de forragem é reduzida pela deficiência de nitrogênio
(N).
Quando a disponibilidade do pasto for limitante, o que pode ocorrer durante períodos de seca prolongada,
ou quando se pratica um super pastejo por animais em crescimento, alguma forma de suplementação
energética torna-se necessária, pois nestas condições, apenas a suplementação protéica pode não ser
adequada. As vantagens do uso da uréia são a disponibilidade mercadológica, a concentração e o baixo
custo unitário do N, além de ser fonte de N-NH3 para os microrganismos fibrolíticos ruminais. Um
aspecto pouco abordado, nas pesquisas sobre suplementação de bovinos no Brasil, é a sua viabilidade
econômica durante o período chuvoso. Verifica-se que animais consumindo suplementos contendo
elevados níveis de NaCl (150 - 300 g kg-1), ingerem nutrientes essenciais sob forma mais constante para atender ao crescimento microbiano ruminal, aumentam a freqüência de ida ao bebedouro e bebem mais
água do que os animais não suplementados. Embora muita ênfase seja dada aos impactos benéficos da
suplementação sobre o ganho de peso ou sobre os parâmetros reprodutivos do rebanho, pouca ou
nenhuma atenção tem sido dada à possibilidade da redução na suplementação fosfórica e também de
outros minerais.
Finalmente, deve-se ter em mente que o ganho de peso de animais recebendo suplementos protéico-
energéticos sempre atenderá à lei de Mitscherlich; isto é, respostas não lineares com ganhos decrescentes
à medida que se aumenta o consumo de suplemento.
Termos de indexação: Bovinos, pastagens tropicais, suplementação
Protein-energy supplementation for cattle raised on
tropical pastures: Theoretical aspects and main results
published in Brazil
Abstract
Since 1940, the papers published in scientific journals reported that grazing is the most economic way to
feed cattle in Brazil. During the wet season continuous growth of animals is observed, but in the dry
season there is almost no weight gain or the weight gain obtained in the wet season is lost. During the dry season the high indigestible fibre content of tropical pastures and the very low crude protein intake are the
main factors for the weight loss. When forage availability is too low, an energetic supplement must be
given, because protein supplements alone do not overcome the energetic demands. Urea is a nitrogen
feedstuff of the lowest cost available in Brazil and is source of N-NH3 for rumen fibrolytic
microorganisms which use ammonia for growth.
The economic aspects of supplementation during the wet season have so far not been investigated in
Brazil. When cattle receive supplements containing large amounts of NaCl (150 - 300 g kg-1), the animals
exhibit a constant pattern of nutrient intake from the supplement, go frequently to the trough and consume
more water than non-supplemented animals. Although much research has been done, and positive effects
for animal growth and improvement of herd reproductive parameters were confirmed, there has been no
investigation on the reduction of phosphorus supplementation when cattle are fed with protein-energetic
supplements.
Finally, farmers and extension workers should know that the response of animals to protein-energetic
supplementation is established by Mitscherlich's law; e.g. non-linear growth and decreasing performance
Os autores investigaram os efeitos da suplementação com ou sem “creep feeding”; nas águas x nas secas; com alta proteína x com baixa.
Já em 1962, concluíram que o suplemento com alta PB era melhor para o pasto seco.
1 BD: Brachiaria decumbens; C: calcário calcítico; CC: Coast cross; CS: cloreto de sódio; FA: farelo de algodão; FAM: farelo de amendoim; FCO: farinha de carne e ossos; FS: farelo de soja; FO: farinha de ossos; GE: grama estrela; GM: glútem de milho; HPB-Z:
mestiço holandês/zebu; J: capim jaraguá; M: fubá de milho; MDPS: milho desintegrado com palha e sabugo; MEL: melaço em pó; ND: não descrito; PC: polpa de citros; PDR: proteína degradável no rúmen; PNDR: proteína não degradável no rúmen; PM: Panicum maximum; PN: pastagem nativa; %PV: porcentagem do peso vivo; RM: rolão de milho; SM: suplemento mineral comercial; TL: Torta de linhaça
Suplementação com alimentos energéticos
Quando a disponibilidade de energia da pastagem for muito baixa em relação às
exigências dos animais, alguma forma de suplementação energética torna-se necessária.
Isso geralmente ocorre durante períodos de seca prolongada ou quando se pratica um
super pastejo por animais em crescimento (Canton e Dhuyvetter 1997). O consumo de
forrageiras com elevados teores de N solúvel é outra situação que favorece a utilização
de suplementos energéticos. Nestas condições, apenas a suplementação protéica pode
não ser adequada para auxiliar o balanço energético a partir do seu efeito benéfico sobre
o consumo e a digestibilidade da forragem. Dessa forma, em situações de baixa
disponibilidade de forragem, a suplementação energética obviamente resultará em maior
resposta animal.
No caso de gramíneas tropicais, a produção da proteína microbiana é limitada também
pelo suprimento de substratos prontamente fermentescíveis. Em animais pós-
desmamados, o desempenho é melhorado com o consumo de pequenas quantidades de
alimentos energéticos, devido ao aumento da quantidade de proteína microbiana, que
flui para o intestino delgado. A suplementação energética pode não afetar ou reduzir o
consumo e a digestibilidade da forragem, dependendo da quantidade de suplemento
consumido e da oferta de pasto (Canton e Dhuyvetter 1997). Geralmente, quando a
quantidade de suplemento energético consumido é inferior a 2 g kg-1
de peso vivo, o
consumo de forragem não é afetado.
O consumo de energia e proteína deve ser adequado para otimizar a fermentação
ruminal e a produção de proteína microbiana. Um excessivo consumo de proteína, sem
adequação energética, pode proporcionar significativa perda de nitrogênio pela urina
(Russell et al 1992).
O efeito da suplementação energética sobre a digestibilidade pode ser dependente do
nível de proteína do pasto. Em situações em que a PB é limitante, a suplementação
energética apenas, pode agravar a deficiência de PB e resultar na redução do consumo e
da digestibilidade do pasto e, conseqüentemente, na do desempenho dos animais.
Em pastagens de baixo valor nutritivo, a proteína torna-se o "primeiro" fator limitante e
deve ser inicialmente suplementada. Sendo assim, a prática de fornecer suplementos
protéicos ou energéticos para animais em pastejo dependerá da disponibilidade e da
qualidade do pasto. Quando o valor nutritivo da forragem é baixo, a suplementação
protéica tende a aumentar o consumo e a digestibilidade da forragem e incrementar a
produção animal. Ao contrário, quando a disponibilidade de forragem é limitada, a
suplementação energética tende a ser benéfica.
Após o atendimento da exigência em proteína, a adição deste nutriente torna-se menos
eficiente do que a adição da energia (Haddad e Castro 1998). Na Tabela 2, são
disponibilizadas as informações relativas aos experimentos realizados com
suplementação energética, durante as épocas de seca e de chuvas.
Tabela 2. Principais informações extraídas de pesquisas com suplementação energética no Brasil
Pasto e Data do
expto.
PB (g
kg-1)
e MS
(kg ha-
1)
Animais
Peso
inicial
Tratamentos
experimentais1
Consumo
Ganho
de Peso (kg d
-1)
Ganho / Consumo
(g g-1)
Autor (es)
Comentários adicionais
Estação seca – suplementação energética
PM 14/7 à
3/11/60
50 – 60
ND
72 novilhos Nelore c/ 365 kg
Controle (pasto + SM )
1,296MEL
ND 1,296 kg
- 0,067 0,171
-- 0,13
Mott et al 1967
A suplementação aumentou o ganho de peso durante a época da seca.
PM 17/7 à
9/10/73
71,6
ND
10 novilhas
Gir e 10 Sindi
Controle (pasto + SM)
Suplemento a base de espiga de milho
moída integralmente
ND
1,5 kg
0,127b
0,268a
--
0,18
Benitendi et al 1974
A suplementação praticamente dobrou o
ganho de peso das novilhas.
T + A 20 40 vacas SR 0 %PV 1,48ª -- Restle et al A suplementação
18/6 à 19/8/97
1276
de descarte c/ 335 kg
SR SR SR
0,3 %PV 0,6 %PV 0,9 %PV
1,44ª 1,47ª 1,51a
1,22 0,64 0,43
2000 energética não proporcionou aumentos significativos no ganho
de peso; porém, melhorou o escore da condição corporal.
PN 11/8 à
15/11/00
ND 1000 - 2000
42 bezerros mestiços c/ 160 kg
Controle (pasto + SM) SR SR
ND 0,75%PV 1,5%PV
0,467b 0,595ª 0,559ª
-- 0,35 0,17
Patiño et al 2001
Não houve diferenças entre os níveis de sorgo ingerido. Entretanto, os animais suplementados
ganharam mais peso. Estação chuvosa – suplementação energética
CG
8/11 à
27/5/75
50 – 60
ND
36 novilhos
HPB-Z c/ 265 kg
Controle (pasto + SM )
M
ND
2,5 kg
0,562ª
0,636ª
--
0,25
Villaça et al 1976
A diferença de 74 g não compensou os custos da
suplementação durante a estação chuvosa.
PN
11/2 à 06/5/97
54
2454
90 novilhos Charolês x Nelore c/ 268 kg
Controle (pasto + SM )
M SR
FARR Ração comercial
ND 0,5
%PV 0,5
%PV 0,5
%PV 0,5
%PV
0,146c 0,335b 0,292b 0,417ab 0,505a
-- 0,22 0,19 0,28 0,34
Filho et al 2000
A suplementação energética aumentou o ganho de peso dos animais. O farelo de arroz foi o que resultou no maior ganho.
1 CG: capim gordura; FARR: farelo de arroz; HPB-Z: mestiço Holandês/Zebu; M: fubá de milho; MEL: melaço em pó; ND: não descrito; PM: Panicum maximum; PN: pastagem nativa; %PV: porcentagem do peso vivo; SM: suplemento mineral comercial; SR: sorgo grão moído; T+A: triticale e azevém
Utilização da uréia em suplementos
No Brasil, a uréia tem sido uma importante alternativa de se elevar a porcentagem de
nitrogênio em dietas com baixas concentrações deste nutriente. Ela possui vantagens
tais como a sua disponibilidade mercadológica, a elevada concentração em N e o baixo
custo unitário deste. Adicionalmente, a uréia é fonte de N-NH3 para os microrganismos
fibrolíticos e, devido à sua baixa palatabilidade, tem potencial para ser utilizada como
um agente controlador do consumo do suplemento pelo animal. Para maior eficiência, a
uréia deve ser oferecida juntamente com alimentos energéticos ricos em carboidratos
não fibrosos (amido ou melaço), proteína verdadeira e enxofre.
Quando suplementos que não possuem uréia, mas que contêm os demais alimentos
(milho, farelo de soja, farelo de algodão) são comparados com aqueles que possuem
maiores níveis de uréia, observa-se que os primeiros promovem maiores ganhos de
peso, possivelmente devido ao maior consumo de alimento mais palatável e digestível.
Porém, constata-se que, mesmo consumindo pouca quantidade de suplemento, os
animais que receberam tratamentos contendo apenas uréia como fonte de N,
apresentaram ganho de peso pouco inferior na época seca do ano. A resposta em ganho
de peso se deve à maior atividade dos microrganismos fibrolíticos do rúmen e do
provável aumento no consumo e aproveitamento do pasto (Paulino et al 1983).
A intoxicação pelo consumo de uréia pode ser evitada quando se faz uma correta
mistura dela com os outros ingredientes protéico-energéticos, quando se utiliza um
agente eficaz para controlar a ingestão voluntária do suplemento ou quando se ajusta o
consumo dela para 0,1 - 0,2 g kgPV-1
(na fase de "adaptação") e para 0,3 - 0,4 g kgPV-1
(na fase de "pós-adaptação").
Na Tabela 3, são disponibilizadas as informações sobre experimentos realizados com
suplementos contendo uréia, durante as distintas estações do ano.
Tabela 3. Principais informações extraídas de pesquisas com suplementos contendo uréia no Brasil
Pasto e
data do
expto.
PB (g
kg-1
) e
MS (kg
ha-1
)
Animais
e peso
inicial
Tratamentos experimentais1
Consumo
Ganho
de
peso
(kg)
Ganho / Consumo
(g/g)
Autor (es)
Comentários adicionais
Estação seca – suplementos contendo uréia PM
14/7 à 3/11/60
50 – 60
ND
72 novilhos
Nelore c/ 365 kg
Controle (pasto + SM ) 1,296MEL+0,081U 0,945EMM+0,069U
ND 1,377 kg 1,014 kg
- 0,067 0,205
0,241
-- 0,15 0,24
Mott et al 1967
A suplementação aumentou o ganho de peso durante a época
da seca. A inclusão da uréia foi benéfica para melhorar o desempenho.
PM
27/6 à 7/10/61
40 – 50
ND
64 novilhos Nelore c/
290 kg
Controle (pasto + SM ) 26FA+26FAM+20M+10MEL+5U+5FO+7,9 CS (supl. A) 20FA+54RM+10MEL+3U+5FO+7,9CS (supl B)
ND 0,5 kg 0,5 kg
-0,058 0,116
0,172
-- 0,23
0,34
Bisschoff et
al 1967
A suplementação aumentou bastante o ganho de peso no inverno. Nos meses de verão,
nenhum tipo de suplementação aumentou o ritmo de ganho de peso. Já em 1961, os autores descrevem a possibilidade de efeito substitutivo.
PM
7/7 à 7/10/61 (exp.4)
40 – 50
ND
40
novilhos Nelore c/ 290 kg
Supl. A + SM ad libitum 95Supl A + 5CS 90 Supl. A + 10 CS 80 Supl. A + 20CS 60 Supl. A + 40CS
0,50 kg 0,499 kg 0,496 kg 0,492 kg 0,484 kg
-0,028 0,121
0,152 0,150 0,051
-- 0,24
0,31 0,30 0,11
Bisschoff et
al 1967
Provavelmente o primeiro experimento que objetivou a
incorporação de NaCl no suplemento para promover uma auto regulação no consumo dos alimentos energéticos e protéicos (Quadro 7, pg 432).
PM Jul. 75 (112 d)
60,8
ND
60 novilhos
azebuados c/ 410 kg
Controle (pasto + SM 90MEL + 10U
ND 2,3 kg
-0,038b
0,217a
-- 0,09
Vilela et al 1976
A suplementação resultou em acréscimo considerável no
Níveis crescentes de uréia no suplemento resultaram em maior eficiência de ganho por unidade de suplemento ingerido.
PM 5/7 à 25/9/84
ND
ND
Novilhas azebuadas c/ 240 kg
Controle (pasto + SM ) 7SM+0,15S+4U+15FA+73,85MDPS 7SM+0,15S+4U+30FARR+58,85MDPS
0,013kg 1,57 kg 1,46 kg
-0,014b
0,172a
0,099a
-- 0,11 0,07
Paulino et al 1985
A suplementação resultou em acréscimo no ganho de peso durante a seca. Entretanto, o suplemento contendo farelo de arroz não surtiu efeito em comparação ao suplemento contendo farelo de algodão.
J 19/6 à 10/11/84
ND
ND
Novilhas mestiças c/ 197 kg
Controle (pasto + SM ) 10SM+15FA+2,5U+0,1S+72,4MDPS 10SM+15FA+5U+0,2S+69,8MDPS 10SM+15FA+7,5U+0,3S+67,2MDPS
0,09 kg 2,62 kg 1,73kg 1,07 kg
-0,022d
0,362a
0,249b
0,132c
-- 0,14 0,14 0,12
Paulino et al 1985
A suplementação resultou em acréscimo no ganho de peso durante a seca. Entretanto, não houve melhoria na conversão alimentar.
A suplementação energética melhorou o desempenho dos animais. Entretanto, os consumos foram bastante díspares, criando um
confundimento.
BB +BR ND 260 bezerros
Controle (pasto + SM ) 0,079kg 0,168
0,599ª -- 3,74
Tomich et al 2002
A suplementação não foi eficiente para aumentar o ganho
Nov. 97 Mai./98
(168 d)
> 3000
Nelore (15 m)
50M+5U+45SM
kg 0,628ª
de peso durante a época das águas.
Estação seca e chuvosa – suplementos contendo uréia PM
14/7/60à 18/5/61
50 – 110
ND
72 novilhos
Nelore c/ 365 kg
Controle (pasto + SM ) 1,296MEL
1,296MEL+0,081U 0,945EMM+0,069U
ND 1,29 kg 1,38 kg 1,01 kg
0,405 0,523
0,523 0,497
-- 0,40
0,38 0,49
Mott et al 1967
Houve um aumento médio de 29 % no ganho de peso dos
animais suplementados em pastagens, durante 300 dias (secas+águas).
BD Seca/00 Água/01
ND
ND
28 bezerras
St. Gertrudis
c/ 195 kg
Controle (pasto + SM ) – secas Controle (pasto + SM ) - águas
47,8M+16,2FB+15,6U+2S+15CS (supl.Seca)
57M+16FB+0,5U+1,35S+24,3CS (supl. Águas)
0,066 kg 0,087 kg 0,203 kg 0,298 kg
0,299 0,560 0,365 0,623
-- --
1,79 2,09
Filho et al 2001
Devido as pequenas diferenças nos ganhos de peso, não foi economicamente vantajosa a suplementação durante a seca e
as águas.
1BB: Brachiaria brizantha; BD: Brachiaria decumbens; BR: Braquiaria ruziziensis; CA: caroço de algodão; C: calcário calcítico; CF: cama de frango; CS: cloreto de sódio; EMM: espiga de milho moída; FA: farelo de algodão; FAM: farelo de amendoim; FARR: farelo de arroz; FB: fosfato bicálcico; FCO: farinha de carne e ossos; FO: farinha de ossos; FP: farinha de penas; FS: farelo de soja; FT: farelo de trigo; GE: grama estrela; GM: glútem de milho; HPB-Z: mestiço holandês/zebu; J: capim jaraguá; M: fubá de milho; MDPS: milho desintegrado com
palha e sabugo; MEL: melaço em pó; ND: não descrito; PC: polpa de citros; PM: Panicum maximum; %PV: porcentagem do peso vivo; RM: rolão de milho; S: fonte de enxofre; SFT: super fosfato triplo; SM: suplemento mineral comercial; SO: soja grão; SR: sorgo grão moído; U: uréia
Suplementação na estação seca
O objetivo básico da suplementação é estimular o consumo e a digestão da forragem,
permitindo que os animais possam melhorar o seu desempenho. Para que o programa de
suplementação seja eficaz, a disponibilidade de forragem é fundamental, e deverá estar
entre 2500 a 3000 kgMS ha-1
ou mínimo de 30 gMS kg-1
de peso vivo (Andrade e
Alcade 1995) no início do período seco. Se a disponibilidade de forragem for pequena, a
suplementação pode se tornar ineficiente. Portanto, é necessário o diferimento ou a
vedação das pastagens para que a técnica efetivamente funcione.
Com a adoção do sistema de pastejo diferido durante o período seco, haverá grande
quantidade de forragem de menor valor nutritivo, suficiente para sobrevivência do
animal, que provavelmente se manterá ou perderá peso (Reis et al 1997). Nesta
situação, suplementos protéicos de baixo custo, que maximizem o consumo da forragem
disponível, são os mais recomendáveis.
Euclides et al (1990) desenvolveram um estudo com várias forrageiras manejadas na
forma de "feno em pé" e observaram que a Braquiaria decumbens, a Braquiaria
humidicola e o Cynodon dactylon (capim-estrela) destacaram-se como os mais
promissores para utilização neste sistema de manejo. Janeiro foi a melhor época de
vedação das pastagens de braquiárias, enquanto que as de capim estrela podem ser
vedadas em janeiro ou fevereiro. Um esquema de manejo recomendado seria o
diferimento em fevereiro para uso em junho e julho; e em março, para pastejo em agosto
e setembro. Tal manejo pode garantir quantidade de matéria seca de folhas superior a
2000 kg ha-1
e com teores de PB satisfatórios para manutenção, e até mesmo pequenos
ganhos de peso nos animais durante a estação seca.
O consumo de suplemento deve sempre estimular o consumo da forragem seca e evitar
um possível efeito substitutivo. Dessa forma, os animais podem satisfazer parcialmente
suas exigências por meio do consumo de nutrientes limitantes contidos em alimentos,
ou em fontes de nitrogênio não protéico. Com os resultados médios obtidos, pode-se
concluir que, além de não perder peso na época desfavorável, obtém-se um ganho diário
de 0,10 a 0,35 kg para um consumo de suplemento variando de 1 a 3 g kg-1
de peso
vivo, podendo-se obter um retorno sobre a despesa da ordem de 100 % (Tabelas 1, 2 e
3).
Suplementação na estação chuvosa
Durante a estação das chuvas, as forrageiras tropicais possuem um adequado teor de
proteína bruta. Nessa época, este nutriente possui alta degradabilidade no rúmen,
fazendo com que a maior parte da proteína metabolizável seja proveniente da
microbiota ruminal. Animais em crescimento necessitam absorver, em maior
quantidade, uma mistura de aminoácidos denominada de co-limitantes (Metionina +
Lisina + Treonina). Apesar de a proteína microbiana possuir alto valor biológico, a
quantidade sintetizada diariamente não é suficiente para atender à demanda dos
aminoácidos co-limitantes. Dessa forma, os animais criados em pastagens tropicais, na
época chuvosa, não conseguem ter sua taxa de crescimento otimizada (Poppi e
McLennan 1995).
Na época das chuvas, seria conveniente suplementar com fontes protéicas de menor
degradabilidade ruminal, mesmo para animais pastejando forragens com altos níveis de
proteína. Nesse tipo de suplementação, os animais podem ganhar ao redor de 0,9 kg d-1
(Zervoudakis et al 1999, Marin et al 2002, Prohmann et al 2002). Uma discussão
importante relacionada à suplementação, durante a estação chuvosa, diz respeito à
suplementação energética, a qual poderia melhorar a utilização da proteína do pasto,
especialmente, quando esta apresentasse elevada degradação ruminal, aumentando,
dessa forma, o crescimento microbiano e o suprimento de proteína microbiana para o
intestino delgado.
Um aspecto pouco abordado é a viabilidade econômica da suplementação durante o
período chuvoso. Em um estudo onde bezerras mestiças leiteiras receberam 600 g d-1
de
suplementos contendo farelo de soja ou farinha de peixe, o ganho de peso dos animais
não suplementados foi de 412 g d-1
, enquanto que os suplementados ganharam,
respectivamente, 538 e 544 g d-1
(Teixeira et. al 2003). Neste estudo, onde as bezerras
foram manejadas em pastagem de capim tanzânia, por 105 dias do período chuvoso, o
acréscimo no ganho de peso não foi economicamente justificável quando foram
descontados os gastos com o suplemento ingerido. Entretanto, durante a época das
chuvas, com o ganho de peso adicional pode-se antecipar a idade ao primeiro parto das
novilhas.
A efetividade da suplementação no período das chuvas depende da oferta e da qualidade
da pastagem. Geralmente, não tem sido observado efeito positivo da suplementação nas
águas em condições de elevada oferta de pastagem e quando esta apresenta bom valor
nutritivo.
Deve-se ter em mente que o ganho de peso de animais suplementados sempre atenderá à
lei de Mitscherlich; isto é, respostas não lineares com ganhos decrescentes, à medida
que o consumo de matéria seca ou proteína dos suplementos aumentar (Tabela 4 e
Figura 1).
Tabela 4. Consumo de matéria seca (MS) e proteína bruta (PB) do suplemento e ganho médio diário
(GMD) de animais recebendo diferentes tipos de suplementos
Autor
Suplemento1
Volumos
o Consum
o MS Consum
o PB GMD Carvalho filho (2001) 67M+30FS+2CS+1SM CE 1,47 0,213 0,605 Carvalho filho (2001) -- CE 0 0,000 0,234 Carvalho filho (2001) 21CS+11SM+3U+3MEL+32M+30FCO CE 0,202 0,034 0,299 Carvalho filho (2001) 21CS+11SM+3U+3MEL+32M+20FCO+10
FS CE
0,295 0,057 0,386 Carvalho filho (2001) 21CS+11SM+3U+3MEL+32M+10FCO+20
FS CE
0,375 0,067 0,414 Carvalho filho (2001) 21CS+11SM+3U+3MEL+32M+30FS CE 0,57 0,087 0,461 Carvalho filho (2001) 67M+30FS+2CS+1SM CA 1,47 0,213 0,447 Carvalho filho (2001) -- CA 0 0,000 0,106 Carvalho filho (2001) 21CS+11SM+3U+3MEL+32M+30FCO CA 0,174 0,029 0,160 Carvalho filho (2001) 21CS+11SM+3U+3MEL+32M+20FCO+10
FS CA
0,188 0,036 0,185 Carvalho filho (2001) 21CS+11SM+3U+3MEL+32M+10FCO+20
FS CA
0,189 0,033 0,184 Carvalho filho (2001) 21CS+11SM+3U+3MEL+32M+30FS CA 0,586 0,089 0,307 Ronchi et al (2002) 80RC+20CS PM 0,742 0,163 0,495 Ronchi et al (2002) 100RC PM 1,18 0,260 0,542 Chambela Neto (2003) (DNP)
Exigências de um animal c/ 230 kg ganhando 450 g d-1
P (g d-1) Cu (mg d-
1)
Co (mg d-
1)
Zn (mg d-1)
10,06 50,60 0,530 158,0
% da exigência atendida pela ingestão do suplemento
20,8 9,5 20,0 10,6
39,8 11,6 23,2 23,0
44,7 13,5 11,5 25,9
81,2 9,1 35,6 33,6
CS: cloreto de sódio; FA: farelo de algodão; FP: farinha de peixe; FS: farelo de soja; FT: farelo de trigo; M: fubá de
milho; MEL: melaço em pó; SM: suplemento mineral comercial; U: uréia
Considerações finais
A suplementação em pastagens deve ser utilizada como forma de suprir
as deficiências qualitativas e quantitativas da forragem disponível, e
deve sempre evitar ou minimizar a substituição do consumo da forragem
pelo consumo do suplemento.
A suplementação permite que os animais ganhem peso durante todo
ciclo de crescimento, possibilitando retornos econômicos ao produtor
em menor espaço de tempo.
É importante ajustar o nível de NaCl, para atingir o consumo desejado
de suplemento, considerando a qualidade e a disponibilidade de
forragem, os ingredientes, o espaço em cocho e a oferta de suplemento
para os animais.
É essencial que se tenha adequada disponibilidade de biomassa de pasto
para se obter os resultados esperados com a suplementação. Em casos de
oferta limitada de forragem, o fornecimento de suplementos energéticos
é mais indicado.
A suplementação, durante a estação das chuvas, também pode trazer
resultados positivos em ganho de peso e uma melhora dos outros índices
zootécnicos, especialmente os relacionados com a reprodução. Atenção
especial deve ser dada à viabilidade econômica da suplementação nesta
época do ano.
Na formulação de suplementos para a época seca devem-se usar fontes
de proteína de alta degradabilidade ruminal ou uréia. Os alimentos
disponíveis na região e aqueles de menor custo unitário por quilo de N,
devem sempre ser priorizados para formulação destes suplementos.
Com a adoção da técnica de suplementação, as maiores mudanças no
manejo da fazenda são aquelas relativas ao manejo das pastagens quanto
à reserva de pasto para a época seca. O diferimento torna-se a opção
mais viável. Para tal, devem ser utilizadas espécies de plantas, que
apresentem maior relação folha/caule, garantindo maior disponibilidade
de MS durante o período seco.
O consumo de minerais contidos nos ingredientes protéico-energéticos
permite reduzir os custos com a suplementação mineral do rebanho,
especialmente a fosfórica, que é a mais cara, além de ser um recurso
mineral não renovável.
No Brasil, a pesquisa direcionada para esta estratégia deveria quantificar
o consumo de forragem e as possíveis alterações comportamentais e
ruminais, como forma de explicar os desempenhos e mecanismos de
interações nutricionais, que ocorrem com animais consumindo
suplementos contendo elevados níveis de NaCl.
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