UENP – Universidade Estadual do Norte Paranaense André Cazula - Aniele Cristina - Gustavo Rebeque - Ilton Inácio - Johnny Mendonça - Rafael Fagundes - Ricardo Francisco - Villen Richard SOLDADOS DA PÁTRIA A formação do exército brasileiro na Guerra do Paraguai Jacarezinho – PR 2006.
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UENP – Universidade Estadual do Norte Paranaense
André Cazula - Aniele Cristina - Gustavo Rebeque - Ilton Inácio - Johnny Mendonça -
Rafael Fagundes - Ricardo Francisco - Villen Richard
SOLDADOS DA PÁTRIA
A formação do exército brasileiro na Guerra do Paraguai
Jacarezinho – PR
2006.
UENP – Universidade Estadual do Norte Paranaense
André Cazula - Aniele Cristina - Gustavo Rebeque - Ilton Inácio - Johnny Mendonça -
Rafael Fagundes - Ricardo Francisco - Villen Richard
SOLDADOS DA PÁTRIA
A formação do exército brasileiro na Guerra do Paraguai
Jacarezinho – PR
2006.
“Projeto apresentado para atender as exigências da disciplina de „Metodologia e Didática do Ensino de História‟. Projeto vinculado ao LEPHIS – Laboratório de Ensino e Pesquisa de História da Universidade Estadual do Norte do Paraná” Professora orientadora: Me. Taíse Ferreira da Conceição.
hoje representam um arquétipo totalmente diferente e contrastante a nossa
realidade atual. 3
Existem três correntes de pensamento referentes às causas da Guerra, ou
seja, de suas origens: a primeira, com caráter ameaçador a soberania nacional
brasileira, argentina e uruguaia utilizada como justificativa era a de que o
Paraguai, estando num estágio de desenvolvimento maior que seus vizinhos,
pretendiam assumir territórios dos mesmos, a fim de conseguir uma rota marítima
para suas importações das quais não gerasse tributos a serem desviados para
outros países 4.
A segunda, visão gerada por historiadores revisionistas na década de 60 e
70 de nosso século, refere-se a um possível investimento maciço da Inglaterra à
Tríplice Aliança, para que referida neutralize o Paraguai, fazendo com que a sua
economia freasse e não pusesse em risco os negócios da coroa britânica em solo
sul americano. Esse evento seria justificado pelos motivos citados no parágrafo
anterior 4.
A terceira visão dessa contenda refere-se a um panorama estritamente
político-social: como os países envolvidos na Guerra possuíam rixas políticas ou
concorrências econômicas, e suas hegemonias políticas ainda sendo frágeis,
estavam expostas e corria o risco de ruir por causa dessas lutas diplomáticas ou
disputas econômicas. Levando se em consideração de que os países cisplatinos
3 DORATIOTO,Francisco Fernando Monteoliva,”Maldita Guerra :Nova História da Guerra do Paraguai”São Paulo ,Companhia das Letras ,2002. 4 Essas informações foram retiradas de análises de livros didáticos de várias épocas, os quais citamos aqui:
NADAI, Elza. Neves, Joana. “História da América”. São Paulo, Saraiva, 1987 – 9ª ed.pp. 191-200. FIGUEIRA, Divalte Garcia. “História”. São Paulo, Ática, 2002. Pp. 280-282 HOLLANDA, Sérgio Buarque. QUEIROZ, Carla de. PINTO, Vírgilio Noya. FERRAZ, Sylvia Barboza. “História do Brasil: da independência aos nossos dias atuais”. São Paulo Cia. Ed. Nacional, 1973 – 2ª ed. pp. 31 – 37.
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era uma unidade única da colônia espanhola e, cada independência surgiu através
de fissões políticas provincianas, pode se dizer que a guerra deveria tornar-se um
instrumento de cristalização das Repúblicas Cisplatinas e do Império Brasileiro,
sendo que na verdade acabaram acarretando a mudança do controle político dos
novos países, e o fim do Império Brasileiro 4.
A Guerra do Paraguai fora uma contenda que fortaleceu os regimes
uruguaios e argentinos, que dizimou a nação paraguaia, mas abriu alas a
formação dos partidos no Paraguai, e que provocou insurreições, fomentou a
abolição da escravatura, passou para o exército brasileiro o valor de que seu
trabalho deveria estar além de ser uma unidade que apenas apertava pequenos
conflitos internos aumentando sua participação e responsabilidade no país, e
dimensionado o movimento republicano no Brasil.
Como cada classe, seja ela dominante ou dominadora, usa de instrumentos
culturais para a transmissão de valores, um acompanhamento minucioso através
de charges de grande transmissão de idéias de uma camada social mais baixa, e
de telas encomendadas por outra classe, esta sendo dominante, tentando passar
uma outra imagem de um mesmo conflito, ainda sendo pessoas pertencentes ao
mesmo país, ainda que suas visões sejam antagônicas.
No início do conflito, o entusiasmo da população em se alistar gerou o
decreto número 3.371, do dia sete de Janeiro de 1865, criando o corpo dos
Voluntários da Pátria. Entretanto, a desorganização e a falta de estrutura
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contribuíram para os resultados da guerra, inclusive as epidemias que assolavam
o campo de batalha, como tifo e o sarampo, por exemplo.5
A própria infra-estrutura do exército pecava e colaborava para a situação
precária dos soldados. Por exemplo, as barracas compradas pelo exército
brasileiro foram compradas na França e foram preparadas para a Guerra da
Criméia; o equipamento dos soldados era composto de apenas de duas camisas,
uma marmita, um cantil um cinturão, um mosquetão e um sabre-baioneta.
Segundo o historiador Victor Izeckson, as deserções do exército imperial
chegavam a trinta por cento6.
O exército imperial foi formado, basicamente, por pessoas recrutadas à
força, principalmente pelo fato de que, com o tempo, o corpo de voluntários da
pátria fora diminuindo, graças à insatisfação da população com o governo imperial.
As pessoas recrutadas a força eram presos, mendigos e negros. Certos
destacamentos tinham destaque, como a Cavalaria Gaúcha, que, nas memórias
de Antonio Garibaldi, era considerada “a melhor do mundo”.7
Longe de nós impormos uma verdade, pois o nosso papel não é o de
guardiões, e sim o de trazer as reflexões do passado com uma aplicação pratica
para o presente, trabalhemos as imagens veiculadas e produzidas nesse período,
trazemos à luz este trabalho com o intuito de trazer novas reflexões, escolhas
axiológicas e dinamismo no ensino de história.
5 NARLOCH, Leandro. ”Guerra do Paraguai” In: Grandes Guerra ,Edição 10,São Paulo,Abril,2006.
6NARLOCH, Leandro. Op. Cit.
7NARLOCH, Leandro. Op. Cit.
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Embora os historiadores utilizem vários tipos de material como fonte, seu
treinamento geral levam-nos a ficar mais à vontade com documentos escritos8. O
uso de imagens nos conteúdos do ensino de história tem sido visto pelos
professores como um dos pontos de fuga ao ensino tradicional e positivista,
apesar desses “inimigos” serem empiricamente inexistentes9.
Existem diferenças entre charges e fotografia, mas o cuidado no trabalho de
documentos em sala de aula, como se fossem visões imparciais da verdade,
porém, não visualizado que sua reduzida visão dimensional, aliada ao fato da foto
estar sempre focada e de que há um homem atrás da máquina, que oculta itens
com uma interpretação iconográfica própria para a posteridade desmentem a
afirmação acima10.
A forma da qual esse conhecimento é transmitido peca não por falta de
material, mas sim por falta de uma visão mais ampla sobre o mesmo tema. Tendo
em vista de que os parâmetros curriculares e suas exigências, no quesito tempo,
acabam por atar o papel do professor a conteúdos programáticos e não
problematizados, ou problematizados de forma parcial através de técnicas que
tentam fugir de um inimigo “positivista”, mas que acaba por abandonar o aluno à
sua própria sorte 9.
O professor, ao utilizar-se dessas novas linguagens, incorpora noções,
representações e linguagens do mundo exterior à escola. A formação do aluno
8 GASKELL, Ivan “História das imagens”. In: BURKE, Peter “A escrita da história: novas perspectivas”. São
Paulo, UNESP, 1992. Pp. 237 9 CARDOSO, Oldimar Pontes “Representação dos professores sobre o saber histórico escolar”. In: “História e
Ensino: Revista do laboratório do ensino de História/UEL” Volume X. Londrina-PR, EDUEL, 2004. Pp. 55 10
NISHIKAWA, Reinaldo “História e fotografia: Uma discussão acerca do método pictográfico para a historiografia” In: “Boletim do laboratório do ensino de história”, Londrina-Pr. Uel (Setembro de 2002/Abril de 2003).
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enquanto cidadão desenvolve-se nos diversos espaços de vivência, e não
somente no ambiente escolar. Logo, todos os veículos e materiais, frutos de
múltiplas experiências culturais contribuem para a difusão do saber histórico. Na
prática, há também o fator de reconstrução do saber e integração a uma aplicação
prática das ciências sociais no cotidiano, findando numa nova construção da
memória social e coletiva11.
As escolhas de valores a serem transmitidos para os alunos e a
transformação que ocorre nas mentalidades dos alunos e do professor, sejam elas
afetadas pelos seus níveis de acesso culturais ou acadêmicos, sejam por suas
vivencias, acabam por desconstruir um objeto histórico, em busca não de retomá-
lo, mas sim de descobrir em cada fragmento, compreender-se o todo, seja no
âmbito social, político ou econômico da questão12.
11
FONSECA, Selva Guimarães. “Didática e prática do ensino de história”. Campinas-SP, Papirus. 12
FONSECA, Selva Guimarães. Op. Cit.
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METODOLOGIA
No decorrer das duas últimas décadas, a utilização de diferentes fontes e
linguagens no ensino de história tem sido tema de destaque na área de
metodologia de ensino de história, graças aos avanços da indústria cultural
brasileira e os espaços vagos do currículo, os espaços os quais não conseguem
serem preenchidos plenamente pelos livros didáticos. Metodologicamente, trata-se
de fontes que ampliam a visão do historiador, flexibilizando o processo de
ensino.13
Porém, o trabalho historiográfico envolvendo o uso de imagens faz uso de
alguns conceitos envolvendo as imagens, dentro de um contexto técnico, artístico
e cultural. São necessárias algumas explanações em torno desses conceitos para
uma melhor compreensão metodológica do trabalho em questão.
Entende-se por “arte” todos os objetos construídos pelas pessoas e que
expressam algum valor, seja decorativo ou social, incluindo-se aí também os
conceitos associados a esses objetos e sua respectiva sociedade14. Por “cultura”,
os valores morais e conhecimentos de uma sociedade, que são transmitidos de
geração a geração, tendo esses valores e conhecimentos algum valor comercial
ou não.15Trata-se por “fonte” ou “imagem” nesse texto aos documentos impressos
13 FONSECA, Selva Guimarães. “Didática e prática do ensino de história”. Campinas-SP. Papirus 14 GASKELL, Ivan “História das imagens”. In: BURKE, Peter “A escrita da história: novas perspectivas”. São Paulo, UNESP, 1992 - pp. 238. 15 Faço uso da explicação obtida em: TOMAZI, Nelson Dácio “Cultura, ideologia e educação”. In: TOMAZI, Nelson Dácio. “Sociologia da Educação”. São Paulo, Atual,
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por métodos diversificados e com valores visuais e/ou mentais, mantidos dentro
de uma representação de uma realidade.16
Leva-se em conta que esse trabalho divide-se em duas direções distintas:
uma referente ao ensino e ao campo de investigação, com suas limitações e
possibilidades e outra referente às respostas alcançadas, suas contribuições e
efeitos, as suas conseqüências. Admitamos aqui, que a escolha do objeto de
estudo e aos resultados atingidos pelo mesmo só podem ser atingidos, escolhidos
e alterados por nós, pelos agentes desse conhecimento. Admite-se também, com
essa afirmação, que, ao construirmos esse conhecimento, ao nos expormos a
essa fonte, já estamos inspirados por uma interpretação prévia e por um interesse
próprio, de âmbito pessoal.17
A primeira instância de alcance dessas direções retro citadas aborda
diretamente na maneira a qual o conhecimento é produzido, seja no círculo
acadêmico, seja em sala de aula. Ele se inicia na escolha do tema e nas
investigações acerca da época em que o tema ocorreu, analisando se a
possibilidade de, num primeiro passo, obter o maior número de fontes possíveis,
pois assim o leque de explanações e o máximo de interpretações possíveis podem
ser alcançados, tendo precaução em seriar, organizar e separar as imagens
conforme seus contextos e possíveis utilizações.
Aqui podemos utilizar a classificação conforme Maria Auxiliadora Schimdt
nos indica:
16 ROSA, Ubiratan “Minidicionário Rideel de Língua Portuguesa”. São Paulo, Rideel 2000, pp.
17 STAROBINSKI, Jean “A literatura: o texto e seu intérprete”. In: LE GOFF, Jacques. NORA, Pierre ““ História: Novas abordagens “Tradução de Henrique Mesquita. Rio de Janeiro; Francisco Alves - 1988”.
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Quadro síntese da identificação do documento
Determinar a origem do documento
Identificar e registrar as referências de onde e quando o documento foi encontrado: a data de
produção e a forma de reprodução e divulgação
Natureza do documento
Classificação como documento oficial, documento que exprime o ponto de vista ou gosto,
documento que procura descrever a realidade, documento religioso ou outras classificações.
Autor do documento
Classificação da autoria do documento: conhecido ou não, individual ou coletivo
Datação do documento
Enumeração das datas provenientes do próprio documento, da difusão do documento e do
conhecimento do documento.
Pontos-chave do documento
Enumeração dos elementos que identificam a forma e o conteúdo do documento, como principais
idéias, fórmulas e expressões.
Após essa etapa, faz-se necessário uma nova seleção, dessa vez para
buscar dentre todas as fontes as que se adequam melhor ao conhecimento a ser
transmitido. Esse procedimento faz-se necessário em prol de uma objetividade do
conteúdo a ser transmitido, bem como uma melhor problematização das imagens
já selecionadas18. Nessa primeira instância, podem ser observados claramente o
quanto do ponto de vista pessoal pode ser influenciável no projeto. É esse ponto
de vista que vai se expressar em cada escolha, definindo assim uma direção e
uma objetividade, que pode ser diferencial e até mesmo antagônica a do início do
projeto.
18 SCHNAPP, Alain. “A arqueologia”. In: LE GOFF, Jacques. NORA, Pierre ““ História: Novas abordagens “Tradução de Henrique Mesquita. Rio de Janeiro; Francisco Alves – 1988. É interessante notar que, guardada as devidas proporções, os trabalhos envolvendo essa primeira fase de coleta de material são similares ao Croqui de Moberg e as explanações do autor”.
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Referente às escolhas das imagens, são necessários alguns cuidados que
serão relevantes às interpretações que serão feitas adiante no projeto. Esses
cuidados referem-se à autoria da imagem, ao cânone e a interpretação visual e
primária que possam estar embutidas as referidas imagens escolhidas.19
A autoria não se resume somente no reconhecimento do valor comercial e
artístico de uma imagem, mas vai além. Ela também denuncia a relação do artista
com arte20. Mas, dentro das possibilidades de interpretação, conhecer o autor de
uma fonte pode lhe dar as possibilidades de uma interpretação, como, por
exemplo, o uso de uma determinada fotografia dentro de um movimento político
e/ou social. A autoria, em si, já pode dar uma idéia de interpretação, visto que
existe um homem por detrás da obra de arte, ou da fotografia, ou da gravura, etc.,
que transmite através de sua obra valores morais e sociais, que condicionam o
observador a visualizar aquilo que ele pretende; sem ignorar, é claro, o fator de
que o observador não é meramente passional, tendo em vista que ele trabalha
sobre uma rede de significações que podem levá-lo a uma interpretação mais livre
da obra.21
Quanto aos cânones, às normas transmitidas por esses documentos e
imagens, no tocante ao conhecimento e a opinião criam circunstâncias de um
redescobrimento ou supervalorização aos quais podem ofuscar ou retirar o mérito
da pesquisa, visto que sua popularização leva a massificação e a criação de uma
19 GASKELL, Ivan Op. Cet. O autor, nesse texto, debate essas três instâncias e suas importâncias separadamente. 20 Idem, Pp 244. 21 NISHIKAWA, Reinaldo “História e fotografia: Uma discussão acerca do método pictográfico para a historiografia” In: “Boletim do laboratório do ensino de história”, Londrina-Pr. Uel (Setembro de 2002/Abril de 2003). Apesar de o autor referir-se apenas a fotografia, é interessante notar que alguns conceitos têm aplicação múltipla sobre o uso da arte no ensino de história.
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cultura vendável22 acerca da figura.23 Como “cânones”, entendem-se por imagens
padrão ligadas a conceitos-chave de nossa vida social e intelectual. Tais imagens
constituem pontos de referência inconscientes, sendo, portanto, decisivos em seus
efeitos sobre a identificação coletiva. São imagens de tal forma colocadas em
nosso imaginário coletivo que as identificamos rapidamente, pois a todo o
momento lidamos com essas imagens canônicas.24
Aliando-se os cânones definidos por autoria e pela coleção, a interpretação
e o terceiro tópico a ser relevado na seleção de imagens para um trabalho
historiográfico. Essa interpretação é necessária para que se evite o
ilustracionismo, que seria o uso dessas imagens apenas como um detalhe, e não
como uma fonte que pode revelar algo a mais ao conhecimento histórico, seja ele
escolar ou acadêmico. Outra preocupação no campo de interpretação é a questão
do historicismo. Segundo Caroline Elam, no editorial da Burlington Magazine, “...
se o historicismo prevalecer, a obra de arte individual ficará trancada em seu
período e não sairá para encontrar a sua visão contemporânea”. 25
O significado embutido em cada imagem pode ou não ter uma conotação
ideológica, sendo essa clara ou não. Alias como visto até aqui, a interpretação não
se baseia unicamente nessas concepções ideológicas a significação vai além de
uma conformidade, muitas vezes inconsciente com as ideologias sócio-políticas do
autor e do possível consumidor. Discute-se que a significação cultural pode ser
codificada em material visual e posteriormente decodificada, gerando um
22 Massificação essa aplicada à explicação sobre cultura vendável e cultura de massa de TOMAZI, Nelson Dácio. Op. Cit. 23 GASKELL, Ivan Op. Cit pp 253-258 24
Ver com a Taíse a referência (ou no e-mail da Ani) 25 GASKELL, Ivan Op. Cit pp 258-261
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“significado” adequado. Porém, a indicação é indistinguível da conotação, ou seja,
a representação da idéia arquetípica de um objeto, como um cachimbo, pode
diferir da representação visual do referido objeto, gerando novas possibilidades de
interpretações.26
Por último, ainda lidando no campo das interpretações, é importante
salientar o papel das legendas de uma imagem, pois é a mesma que dá uma
orientação no sentido da imagem e sua interpretação, trazendo inteligibilidade à
figura e servindo de justificativa para o uso da imagem para a maior parte do
público, integrando uma linguagem não verbal com uma verbal.27
Já essa segunda instância implica nos debates referentes aos resultados
desse projeto. Tendo em vista toda a transposição didática implícita nesse
processo, que vai desde as escolhas axiológicas impostas ao saber acadêmico, e
das práticas sociais responsáveis pela didatização e assimilação do conhecimento
ensinado, transpondo até mesmo os limites entre os objetivos do projeto e o
alcance a que ele atinge no público alvo, pode-se, através desses debates,
concluir se dentro das metas inicialmente propostas ele fora satisfatório, e se suas
reflexões abriram novas fendas as quais deverão ser exploradas mais adiante
sobre o mesmo tema, conforme abordado na justificativa desse projeto.
26 GASKELL, Ivan Op. Cit pp 261-262
27 NISHIKAWA, Reinaldo Op. Cit.
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FONTES
Esta fonte é uma fonte primária, que na época que ocorreu o fato, e é uma
fonte visual, se trata de uma caricatura.
Esta imagem ilustra Solano Lopes e Duque de Caxias, sendo reprimidos
pela doença do Cólera que está representada sob forma de um “anjo das morte”.
O Cólera foi uma das doenças que mais matou durante a guerra, é transmitida por
água contaminada e se agrava pela falta de higiene.
O documento exprime uma opinião do autor, ataca a atitude dos líderes dos
dois exércitos em guerra de não decidirem a guerra em definitivo e continuarem
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mantendo seus soldados em péssimas condições. Na charge o próprio Cólera se
mostra indignado e ameaça acabar ele próprio com a guerra.
O autor é desconhecido, e na charge está pedindo fim para a guerra e para
a situação em que os combatentes eram submetidos, o Cólera diz aos dois
líderes: “... e estão há tanto tempo amolando meio mundo...”.
O documento é de provavelmente entre os anos de 1866/1867 que foram
os anos em que o Cólera mais castigou os exércitos, mesmo período (outubro de
1866 a julho de 1867) em que não foram tomadas, quer pelos aliados quer pelos
paraguaios, iniciativas capazes de decidir a guerra, ocorreram apenas
emboscadas entre as vanguardas28.
As condições nas quais os soldados viviam nos front eram muito precárias.
A água para beber era retirada de buracos rasos escavados no areal, era poluída
e amarela, em decorrência dos cadáveres sepultados nas proximidades, uma das
principais causas da presença da doença nos acampamentos.
28
DORATIOTO, Francisco. Op. Cit. Pp. 285.
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Esta fonte é uma fonte primária, que na época que ocorreu o fato, e é uma
fonte visual, uma caricatura.
É uma ilustração paraguaia que traz Duque de Caxias à frente se uma
banda de macacos a recepcionar Bartolomé Mitre.
A charge é uma crítica paraguaia ao exército brasileiro que era chamado
por eles de “exército de macacos”, devido à presença de negros.
A ilustração foi publicada no jornal paraguaio Cabichuí, por volta de 1865-
1866.
A dificuldade em preencher vazios nas tropas dos jornais paraguaios e de
Solano Lopes. A presença de escravos nas tropas também se deu pelo envio de
substitutos para cumprir o serviço militar que era prática comum, não só no Brasil.
As sociedades patrióticas, os conventos e o próprio governo nacional também se
encarregou de comprar escravos a fim de enviá-los para o Paraguai. Roberto
Salles diz que o número de escravos combatentes libertos não tenha passado de
10% do conjunto das tropas. As afirmações de que o Exército Imperial era um
exército de escravos resulta de se confundir branco com livre e negro com
escravo. Em 1872, data do primeiro censo oficial, no Brasil havia oito milhões de
homens livres, sendo 3,8 milhões brancos e 4,2 milhões de negros ou mulatos e o
número de escravos era de 1,5 milhão. Soldados negros, ex-escravos ou não
lutaram em pelo menos três quartos dos exércitos envolvidos nos combates: o
brasileiro, o paraguaio e o uruguaio29.
29
DORATIOTO, Francisco. Op. Cit. Pp. 273.
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RECURSOS
Para a apresentação da oficina aqui apresentada, fora utilizado um
Datashow, para uma apresentação de slides confeccionada no Micfrosoft Power
Point. Embora não fosse essencial, tal recurso fora utilizado por estar a disposição
e por dar mais agilidade na comunicação. Para a edição das imagens fora
utilizado o Macromedia Fireworks MX e o HP Image Zone.
É claro que, conforme a situação, outros recursos podem ser utilizados de
forma satisfatória, como a confecção de cartazes pelos alunos, por exemplo, tendo
em vista os traços próprios da caricatura.
Também ressaltamos que os programas citados aqui não são a única
saída, podendo ser utilizados outros softwares para a mesma execução com a
mesma qualidade, independente da plataforma utilizada (Windows, Linux ou Mac).
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REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Francisco Doratioto, autor do livro “Maldita Guerra – Nova história da
Guerra do Paraguai” é mestre e doutor em História das Relações Internacionais
pela UnB, e, numa linguagem objetiva e didática, explicando o início do conflito
através da história regional, negando a interpretação do imperialismo como
principal causa da Guerra do Paraguai. Através de relatos orais, documentos
escritos e museus dos países envolvidos, numa pesquisa de mais de três anos, o
autor desenvolve várias possibilidades, principalmente no tocante as relações do
alto comando do exército brasileiro e paraguaio para o resultado da guerra tal
como conhecemos, visualizando a simpatia da opinião pública pelo lado paraguaio
e o caráter de neutralidade das potências imperialistas, revelando bem mais do
que uma guerra de interesses financeiros, e indo até as relações diplomáticas e de
formação de fronteiras dos paises cisplatinos e do império brasileiro.
Já Eduardo Galeano, escritor uruguaio, autor do livro “As Veias Abertas da
América Latina”, mostra a história de um modo econômico e crítico, sempre
demonstrando sua opinião fortemente influenciada pelo marxismo, com reflexões
pessoais e sem neutralidade. Galeano narra a história da América Latina, sem
usar roupagens acadêmicas, desde seu descobrimento, passando pela Guerra do
Paraguai e além, utilizando documentos históricos, mostra o lado sombrio e a
manipulação imperialista da Inglaterra na Guerra e o massacre que aconteceu no
Paraguai.
Sendo assim, a espinha dorsal desse projeto acabou calcada se em dois
extremos totalmente opostos quanto ao pensamento acerca da história da Guerra
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do Paraguai, porém, é importante salientar a necessidade de dar-se a voz as
várias versões e pensamentos sobre o conflito, de maneira mais imparcial
possível, tentando mostrar além de um lado “certo” e outro “errado”, mostrar
aonde cada possibilidade é maior, a fim de uma desconstrução do fato histórico e
compreensão plena de todas as movimentações sobre o teatro da guerra.