Sobre Michel Foley e ERA DA LOUCURA 1/17 Sobre Michel Foley e ERA DA LOUCURA LIVRO: A ERA DA LOUCURA, de Michael Foley - por blog napauta http://napautato.blogspot.com.br/2012/06/livroeradaloucurademichaelfoley.html Livro> A Era da Loucura Autora> Michael Foley Editora> Alaúde 232 p. Opinião> Seria difícil, neste áureo século XXI, encontrar uma única pessoa que não esteja à busca daquele sentimento mais profundo, que traz satisfação e conforto, chamado felicidade. No entanto, com países colocando-a em sua constituição como um direito do cidadão – e que logo o Brasil deve fazer parte -, você não precisará procurar mais por essa, até então, abstrata condição; a Felicidade (isso mesmo, agora com letras maiúsculas), com forma e espaço a serem preenchidos, é exigível tal qual uma indenização por perdas e danos. E que seja paga com juros!
O livro A Era da loucura de Michel Foley discute o pensamento humano atual, o egoísmo , as tristezas, a individualidade que prevalece nesta era. No texto há resenhas, análises e citações do livro, e uma pequena entrevista com o autor
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Sobre Michel Foley e ERA DA LOUCURA 1/17
Sobre Michel Foley e ERA DA LOUCURA
LIVRO: A ERA DA LOUCURA, de Michael Foley - por blog napauta
Me dei de presente de aniversário ler este fantástico livro Na era da Loucura do Michael
Foley (Alaúde), que devorei feliz cada uma de suas páginas e capítulos. Difícil escolher qual
mais me impressionou...
Foi tanta alegria e felicidade, que tenho a certeza que no dia em que fôr revisar e ampliar meu
livro Mente e Cérebro Poderosos (PensamentoCultrix), certamente este livro será citado,
referenciado e indicado. Na verdade, penso que os 2 se complementam, já que toda a
proposta dos exercícios e da alimentação apresentadas no meu livro, irão acelerar a
compreensão e valorização sobre as informações sobre como não se contaminar pela Era da
Loucura...
Decidi que nada melhor que as palavras do autor para instigar a sua leitura deste livro que,
além de muito bem traduzido, mostra que o autor é um estudioso voraz do assunto,
conferindo ao livro momentos de muito humor (principalmente de si mesmo), filosofia,
história, poesia, música, ciência; porém costurados de maneira fluida, brilhante...
Mas quem no mundo ocidental não ficaria enlouquecido com um coquetel tóxico de
insatisfação, desassossego, desejo e ressentimento? Quem não ansiou ser mais jovem, mais
rico, mais talentoso, mais respeitado, mais celebrado e, acima de tudo mais amado? Quem
não se sentiu merecedor de mais, e ressentido quando esse mais não chegou? É possível que
um africano faminto se sinta menos injustiçado que um ocidental de meiaidade que não tem
uma casa na praia ou de campo.
Naturalmente, muita gente tem consciência de que querer tudo é absurdo. E então vem a
pergunta. Como é que surgiu essa expectativa desmedida? Existe alternativa? Se existe,
como se pode alcançála? Será que as melhores cabeças do passado e do presente podem
oferecer algum conselho útil? Existe um consenso no que elas dizem? Se existe, qual é e
como se aplica à vida do século XXI? São questões como essas que este livro levanta mas
não há respostas simples.
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Até mesmo definir um objetivo é difícil. A alternativa à loucura da insatisfação é a sanidade
do contentamento a felicidade.
[...] Na prática, é tão difícil encontrar um testemunho útil de felicidade quanto uma teoria
convincente. Diferentemente de seu oposto, a depressão, a felicidade é avessa a definições. A
lembrança do sofrimento é um gênero estabelecido, mas não existe equivalente para a
felicidade (na verdade, uma infância feliz é uma condição paralisante para um escritor).
Parece que só as experiências dolorosas são fonte de inspiração.
Talvez o estado de felicidade surja da recusa de analisar a situação, porque qualquer
tentativa de definição a mataria. Talvez nem seja possível ser feliz conscientemente. Talvez
esse estado só seja percebido retrospectivamente, depois que o perdemos. JeanJacques
Rousseau foi o primeiro a elaborar essa ideia: "A vida feliz da idade de ouro foi sempre uma
condição estranha à raça humana, seja por não têla reconhecido quando poderia têla
desfrutado, seja por têla perdido quando poderia conhecêla". Em outras palavras, se você a
tem, não pode ter consciência dela; e, se você está consciente dela, não pode têla.
[...] Quando examinada com mais atenção, a condição de felicidade se revela não um ponto,
mas uma faixa, na qual o contentamento é o ponto mais baixo e a exaltação, o mais alto.
Outra hipótese é de que a felicidade não seja um estado, mas um processo, um desafio
contínuo (palavras minhas)... Ou talvez ela seja ao mesmo tempo um estado e um processo. O
termo grego "eudaimonia" capta algo das duas interpretações e a traduz grosso modo como
"florescimento". Essa é uma ideia interessante: ser feliz é florescer.
Mais uma vez, presumese que só uma versão de felicidade é alcançada por uns poucos
afortunados. Mas, dada nossa bizarra singularidade, é improvável que duas pessoas felizes
estejam experimentando exatamente o mesmo fenômeno. E provável que existam tantas
formas de felicidade quantas de depressão.
Como alcançar esse estado indefinível? A Declaração de Independência dos Estados Unidos
tem uma expressão famosa: "a busca da felicidade". Mas muitos acreditam que a felicidade
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não pode ser buscada, porque é uma consequência acidental de algo que se faz uma ideia
manifestada pela primeira vez por John Stuarr Mill no século XIX: "Só são felizes [...]
aqueles que têm a mente voltada para outro objetivo que não sua própria felicidade.
[...]E existe ainda a ideia de que a busca da felicidade é a principal causa de infelicidade, de
que essa busca é intrinsecamente autodestrutiva. Immanuel Kant traduziu isso da seguinte
forma:"Descobrimos que, quanto mais uma razão esclarecida se dedica ao objetivo de
desfrutar a vida e a felicidade, mais o homem se afasta do verdadeiro contentamento".
[...] O psicólogo americano Mihaly Csikszentmihalyi usa a palavra "fluir" para descrever o
estado mental profundamente satisfatório alcançado mediante uma imensa e prolongada
concentração em atividades difíceis, que exijam um alto nível de habilidade. A experiência é
semelhante num grande número de atividades aparentemente desconexas, entre elas o
esporte competitivo, o alpinismo, o trabalho profissional, a execução de um instrumento
musical, a criatividade artística, a dança, as artes marciais e o sexo.
Como em outros métodos de transcendência*, essa satisfação tem que ser conquistada. A
habilidade precisa primeiro ser adquirida, lentamente e mediante frustrações. Não há
gratificação imediata. De fato, não poderia haver. O aprendiz pode não ter aptidão ou
disciplina, mas, quando a habilidade se torna automática, o milagre pode ocorrer: uma
absorção tão completa que exclui o ser, o tempo e o lugar. Horas ou até mesmo dias podem
passar despercebidos. O self se dissolve e desaparece. E algo estranho ocorre. A atividade
parece tornarse não apenas fácil, mas autônoma assumir o controle, ser dona de si. Então
o instrumento toca sozinho, a espada se empunha, o poema se escreve, o bailarino não
dança, mas permite que a música tome conta de seu corpo, e os amantes não fazem amor,
mas se entregam ao vertiginoso movimento da Terra.
Existem muitos paradoxos nisso. Um intenso esforço é necessário para produzir a sensação
de falta de esforço; intensa consciência para chegar à inconsciência; total controle para
experimentar a total falta de controle. E só aqueles que estiverem em plena posse do self
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poderão se entregar plenamente. Na verdade, quanto mais forte a sensação do self, maior o
arrebatamento por escapar à sua tirania.
Bem, são 232 páginas saborosas, motivadoras e que podem nos proporcionar felicidade, fé,
esperança: no simples, no silêncio, na desaceleração. Parece árduo ler tantas páginas? Mas a
diversão acontece durante e principalmente após. Um livro pessoal, que deverá ser marcado,
copiado, relido e principalmente: posto em prática!
Estarei postando ao longo de agosto, algumas partes deste livro, como por exemplo o tema do
capítulo 10, sobre as Dinâmicas do Cérebro humano, que como uma semente (aliás
fisiologicamente o cérebro lembra uma noz), contém toda a matériaprima para a Cultura da
Vida que nos leva à transcendência ou Cultura da Morte, que nos leva à perda da
transcendência...
E o capítulo 12, absolutamente risível (bem humorada), porque um retrato perfeito da
realidade, que fala das coisasabsurdas do amor nos relacionamentos de parceiros... Perfeito
quanto explana, cientificamente, da diferença que existe entre paixão (amor romântico) e
amor (afeto), pois envolvem circuitos e neurotransmissores cerebrais totalmente diferentes...
(*) Como as práticas meditativas, que inicialmente exigem absoluto esforço, mas uma vez alcançada surge um sentimento de superação, validação e sutilização. Leia também: Somos como as sementes Leia: Na era da Loucura Michael Foley (Alaúde).
* Conceição Trucom é química, cientista, palestrante e escritora sobre temas voltados para alimentação natural, bemestar e qualidade de vida. Reprodução permitida desde que mantida a integridade das informações e citadas a autora e a fonte: www.docelimao.com.br A Era da Loucura: a felicidade como meta quase
Michael Foley, de origem irlandesa, é professor de Tecnologia da Informação em Londres e autor de quatro romances. Publicou também quatro coletâneas de poesias, além de traduzir poemas franceses. A Era da Loucura, lançado no Brasil pela Editora Alaúde no ano passado (2011), é seu primeiro título de não ficção. Em curta entrevista à Filosofia Ciência & Vida ele comenta pontos altos da publicação.
Gostaríamos que você explicasse o significado do título de seu livro A Era da Loucura, ou, em uma tradução mais literal do original em inglês The Age of Absurdity, A Era do Absurdo. O título tem dois significados: o absurdo do comportamento contemporâneo e, ainda, a filosófica tradição do absurdo no século XX, tal como fora desenvolvida por pensadores como Albert Camus. Como ele, acredito que a condição humana é fundamentalmente absurda, porque estamos programados para buscar significados para nossa existência e ter consciência de que não há nenhum. Mas podemos saborear este absurdo em vez de nos tornarmos assustados ou deprimidos por ele. Podemos perceber que ambas as formas de absurdo, o comportamental e o filosófico, são, na verdade, hilários. No livro, você afirma que a sociedade se tornou infantil, menos consciente de si e de suas obrigações, mais orientada por méritos individuais. Poderia nos dar um exemplo desse típico comportamento moderno? Um dos sintomas de infantilidade é a rejeição da dificuldade. Um dos melhores exemplos disto é que, no Reino Unido (e, possivelmente, em outros países bem desenvolvidos) as vendas de laranjas estão caindo porque ninguém pode se incomodar em descascálas. Como isso afeta o ideal de felicidade e os valores tradicionais? As sociedades tradicionais tinham obrigações demais e não tinham direitos suficientes. A sociedade moderna tem muito direito e obrigação insuficiente. É preciso haver equilíbrio entre os dois – mas esse equilíbrio é difícil de atingir.
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Você descreve, em seu livro, o “absurdo de trabalho”, no qual a menor liberdade no ambiente corporativo é compensada pelo paternalismo dos empresários: um local de trabalho com ricos intercâmbios sociais, ambientes autossuficientes, com lojas, cafés, etc. Com base nisso, e no fato de que, em todo o livro, a impressão é de que a revolução necessária é individual e íntima, eu gostaria que você comentasse sobre o papel das instituições na mudança de paradigmas e valores que permeiam, sobretudo, a nossa busca por felicidade. Concordo que a revolução individual é provavelmente a única forma de avançar. Forçar instituições à mudança é provavelmente inútil. Mas se um número suficiente de indivíduos mudar, instituições e governos os seguirão. No entanto, trabalhar por uma vida, como a maioria de nós tem de fazer, provavelmente será sempre complicado. Empregadores nos pagam para fazer o que querem, não o que queremos, e temos cada vez mais engenhosas e sutis formas de convencernos a querer o que eles querem. Temos de estar conscientes destas manobras. Você escreveu sobre a atrofia da experiência e como isso afeta nossas vidas, como desde então a tecnologia e a vida em um “nível meta” fomentam a ilusão. Você não acha que ela destrói a noção de responsabilidade? Que também é algo inevitável na vida virtual, cheia de esperança, gerando ansiedade (algo que Schopenhauer já havia percebido)? A maioria dos pensadores, dos filósofos estoicos até Marcel Proust (inclusive Schopenhauer, é claro), tem entendido que temos uma tendência inevitável para viver na expectativa e que isso torna difícil apreciar o presente. Mas compreender a tendência torna possível resistir a tudo isso. Que caminhos você imagina para uma sociedade menos ansiosa e mais resiliente? Na realidade, você acredita na resiliência como uma coisa positiva hoje em dia? (Especialmente nos relacionamentos, ou no “absurdo do amor”...) Eu acredito que a ansiedade é uma consequência inevitável da riqueza. Quanto mais confortáveis nos tornamos, mais medo temos de perder esse conforto. O mundo desenvolvido não tem sido mais saudável e seguro e nunca se sentiu menos saudável e menos seguro. E quanto mais a gente se acostuma ao conforto, menos resilientes nós nos tornamos. Tal como acontece com o problema da expectativa, a única maneira de resistir a estes eventos é compreendêlos. Uma das minhas frases favoritas é de Buda: “O entendimento é transformação”.
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Nas relações, tolerância e esforço são tão cruciais como resiliência. Não há a tal coisa da “pessoa certa” e nem um estado definitivo e passivo de “apaixonamento”. Ninguém é fácil de se conviver. Todo relacionamento exige trabalho constante. Como a sociedade moderna lida com a espiritualidade e com as experiências de transcendência? Transcendência é uma perda de si mesmo, uma imersão de si em uma unidade maior – e a sociedade moderna prefere tomar o atalho à transcendência por meio de álcool e drogas. Quanto à espiritualidade, nãocrentes não devem permitir que isto seja reivindicado pela religião. Também pode ser uma espiritualidade ateia: essencialmente, um sentimento de admirar o milagre da existência consciente na galeria das maravilhas que é o universo. Parece que cada nova teoria ou descoberta científica nos traz a sensação de que apenas uma medida justa de todas as coisas, um comportamento moderado, pode trazer um pouco de bemestar... O que você acha sobre a nossa incapacidade ou impossibilidade de encontrar esse equilíbrio? O problema é que o equilíbrio é difícil de conseguir, em primeiro lugar, e nunca é permanente, porque tudo está mudando constantemente o indivíduo, suas circunstâncias e as da sociedade em que ele opera. Assim, o esforço, a aprendizagem e a adaptação são infinitos. Não há uma realização definitiva. O que você poderia extrair de Kafka e Sartre – suas referências – para “descrever” ou “para nos fazer refletir sobre” a atual “Era do Absurdo”? Eu gosto da insistência de Sartre sobre a importância da responsabilidade pessoal: “o homem é totalmente responsável por sua natureza e suas escolhas.” Infelizmente, esta não é uma ideia moderna. O mundo moderno encontra na responsabilidade muita exigência e prefere acreditar em várias formas de determinismo genética, neurológica e evolutiva. O que eu amo em Kafka é a sua variação moderna sobre as sagas ancestrais, comuns a todas as culturas. Nas sagas de Kafka (por exemplo, o romance O castelo e a parábola Diante da Lei), nunca o herói localiza o objeto de sua missão, mas é obrigado a continuar buscando mesmo assim. Esta é uma maneira maravilhosamente engraçada de ilustrar o absurdo da condição humana. Poucas pessoas parecem entender que Kafka é engraçado…