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Sobre a ordem VS em sentenças imperativas no PB Rerisson Cavalcante – USP/FAPESP Leonor Simioni – USP/FAPESP Orientador: Prof. Dr. Jairo Nunes
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Sobre a ordem Verbo-Sujeito em construções imperativas do português brasileiro.

Mar 14, 2023

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Luciana Tosta
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Page 1: Sobre a ordem Verbo-Sujeito em construções imperativas do português brasileiro.

Sobre a ordem VS em sentenças imperativas no PB

Rerisson Cavalcante – USP/FAPESP

Leonor Simioni – USP/FAPESP

Orientador: Prof. Dr. Jairo Nunes

Page 2: Sobre a ordem Verbo-Sujeito em construções imperativas do português brasileiro.

Objetivo

Tratar das propriedades das construções imperativas do PB com a ordem Verbo-Sujeito (VS).

Justificativa Baixa produtividade de VS em não-

imperativos. (cf. Kato & Tarallo, 1988; Kato, 2000; entre outros).

Imperativos, muitas vezes, manifestam opções paramétricas distintas das que ocorrem em outras estruturas da mesma língua.

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Alternativas paramétricas distintas IQuanto à realização do sujeito, imperativos costumam apresentar:

Sujeito nulo (mesmo em línguas de sujeito obrigatório, como o inglês).Inversão Verbo-Sujeito (mesmo em línguas em que VS é rara).

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Alternativas paramétricas distintas II Sujeitos nulos(1) a. Compre batom!

b. Se beber, não dirija!c. Faz um 21!

Inversão VS(2) a. Faça você mesmo!

b. Vem pra Caixa você também!

c. — Desliga o telefone, meu bem...

— Ah, não... Desliga você...

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Movimento I-para-C

Rivero (1994), Han (1999; 2001), Zeijlstra (2006) entre outros:

VS em imperativos: resultado de movimento do verbo para Cº, cruzando o sujeito em Spec,TP.

Em línguas com formas verbais morfológicas exclusivas para a expressão do imperativo, o verbo checa traço [+imperativo] em Cº.

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Movimento I-para-C

(3)

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Movimento I-para-C: problemas no PB Faltam evidências de movimento do verbo

para C. Em declarativas e interrogativas: perda do

movimento I-para-C (cf. Torres Morais, 1993; Lopes Rossi, 1993; Kato & Mioto, 2005; Lucchesi & Lobo, 1996).

Redução da morfologia verbal: PB perdeu formas exclusivas de imperativo, propriedade responsável por desencadear o movimento para Cº.

Imperativos apresentam VSX e VXS, inesperada em uma análise de movimento de V por sobre o sujeito em Spec,TP.

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Hipótese

Posição do sujeito na sentença não é resultado do movimento do verbo imperativo, mas de processos de focalização do sujeito.

Verbo estaria sempre na mesma posição estrutural (núcleo de TP).

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Realização lexical do sujeito I

Contexto contrastivo:

(4) — Eu mandei você abrir a porta. a. — Eu não. Abra/abre a porta VOCÊ!

(VXS)

b. — Eu não. Abra/abre VOCÊ a porta! (VSX)

c. — Eu não. VOCÊ (que) abra/*abre a porta! (SqueVX)

(5) — Eu mandei você abrir a porta. a. — # Você abra/abre a porta! (# SV)

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Realização lexical do sujeito II

Contexto inclusivo:(6) — A gente tá no ENAPOL...

a. ... Venha/vem pra cá você também!(VXS)b. ? ... Venha/vem você também pra cá! (VSX)c. # ... Você também (que) venha/vem pra cá!

(SVX)

(7) — Vou deixar pra terminar o handout amanhã... a. ... Vê se desencana (disso) você também (VXS)

b. ? ... Vê você também se desencana (disso)! (VSX) c. # ... Você também (que) vê/veja se desencana!

(SVX)

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Realização lexical do sujeito III

Contexto neutro:(8) — Enquanto eu faço o almoço...

a. # ... Arrume/arruma a casa você!b. # ... Arrume/arruma você a casa!c. # ... Você arrume/arruma a casa!

(9) — A gente está no ENAPOL...

a. # ... Venha/vem pra cá você!b. # ... Venha/vem você pra cá!c. # ... Você venha/vem pra cá!

Page 12: Sobre a ordem Verbo-Sujeito em construções imperativas do português brasileiro.

Realização lexical do sujeito III

SV em contexto neutro:(10) a. Vocês guardem esse material sobre imperativo que eu passei, porque é muito difícil de achar!

b. Você não me provoque/provoca!

c. Você não me faça passar vergonha lá na festa!

Dispensa “que”, mas não há ênfase no sujeito.

Sujeito em Spec,TP (tópico não marcado).

Page 13: Sobre a ordem Verbo-Sujeito em construções imperativas do português brasileiro.

Posição do sujeito em função do tipo de imperativo

Quadro 1: Possibilidades de realização do sujeito

Ordem Contexto neutro

Contexto inclusivo

Contexto contrastivo

Sujeito nulo Ok - - - - - -

Sujeito-Verbo Ok com restrições

# #

Sujeito-que-Verbo - - - # Ok

VXS # Ok Ok

VSX # ? Ok

Page 14: Sobre a ordem Verbo-Sujeito em construções imperativas do português brasileiro.

Análise: sujeito pré-verbal vs. sujeito pós-verbal Análises possíveis:(i) posição do sujeito é fixa (em Spec,TP, por ex.) e

posição do verbo se altera.(ii) ou posição do verbo fixa (núcleo de TP, por ex.), e

posição do sujeito se altera.Argumentos para (ii) : 1) falta evidência independente para postular

movimentos do verbo para além de TP. 2) é o sujeito que apresenta leituras distintas em

cada ordem e contexto de imperativo. 3) SV (contexto neutro) e S-que-V (contexto

contrastivo): evidências contra verbo em C (ao invés de T).

Page 15: Sobre a ordem Verbo-Sujeito em construções imperativas do português brasileiro.

S-que-V

(11)

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VSX versus VXS: ordem entre S e X Objeto in situ e sujeito deslocado? Análise

rejeitada!

(12) VSX (13) VXS

Page 17: Sobre a ordem Verbo-Sujeito em construções imperativas do português brasileiro.

VSX: deslocamento à direita do objeto VSX = VS,X. Teste: pausa entre S e X:

(14) — Abra/abre a porta! a. — Eu não. Abra/abre VOCÊ! A porta.

— Vou deixar pra terminar o handout amanhã...b. ... Desencana você também! Disso.

Pausa entre S e X torna VSX mais aceitáveis mesmo no contexto inclusivo.

Page 18: Sobre a ordem Verbo-Sujeito em construções imperativas do português brasileiro.

VSX: deslocamento à direita do objeto

VSX = VS,X

(15)

Page 19: Sobre a ordem Verbo-Sujeito em construções imperativas do português brasileiro.

VXS: S não é deslocado à direitaVXS ≠ VX,S

Pausa semelhante entre X e S na ordem VXS prejudica bastante a aceitabilidade das sentenças:

(16) — Abra/abre a porta!a. — # Abra/abre a porta! VOCÊ!

— A gente está no ENAPOL...b. ... Venha/vem pra cá! Você também!

Page 20: Sobre a ordem Verbo-Sujeito em construções imperativas do português brasileiro.

VXS: posição do objeto?

Movimento independente de V e do objeto? Ou do VP?(17) (18)

Page 21: Sobre a ordem Verbo-Sujeito em construções imperativas do português brasileiro.

VXS: posição do sujeito?

Em Spec,VP ou em Spec,FocP?(19)

Page 22: Sobre a ordem Verbo-Sujeito em construções imperativas do português brasileiro.

Referências CAVALCANTE, Rerisson. (2008). Negação de imperativo verdadeiro no português brasileiro.

Comunicação apresentada no XI Encontro de Estudantes de Pós-Graduação em Lingüística da São Paulo: USP. 18-20 de junho de 2008.

CAVALCANTE, Rerisson. (a sair). Interação entre imperativo e negação. HAN, Chung-Hye. (1999). Cross-linguistic variation in the compatibility of negation and imperatives.

Proceedings of the 17th West Coast Conference on Formal Linguistics. CSLI, Stanford, 265-279. HAN, Chung-Hye. (2001). Force, negation and imperatives. The Linguistic Review 18, p. 289-325. KATO, Mary A. (2000). A restrição de monoargumentalidade da ordem VS no Português do Brasil.

Fórum Lingüístico, Florianópolis. KATO, Mary A.; MIOTO, Carlos. (2005). As interrogativas-Q do Português Brasileiro. Revista da

ABRALIN, Belo Horizonte, MG, v. 4, n. 1 e 2, p. 171-196. KATO, Mary A.; TARALLO, Fernando. (1988). Restrictive VS syntax in Brazilian Portuguese. Trabalho

apresentado no GURT 1988, Washington. LOPES ROSSI, Maria Aparecida Garcia. (1993). Estudo diacrônico sobre as interrogativas do

português do Brasil. In: ROBERTS, Ian; KATO, Mary A. (1993). 307-342. LUCCHESI, Dante; LOBO, Tania. (1996). Aspectos da sintaxe do português brasileiro. In: In: FARIA,

Isabel Hub; PADRO, Emília Ribeiro; DUARTE, Inês; GOUVEIA, Carlos A. M. (Org.). Introdução à Lingüística Geral e Portuguesa. Lisboa: Caminho, p. 303-312. RIVERO, Maria-Luisa. (1994). Negation, imperatives and wackernagel effects. Rivista di Linguistica 6. 39–66.

TORRES MORAIS, Maria Aparecida C.R. (1993). Aspectos Diacrônicos do Movimento do Verbo, Estrutura da Frase e Caso Nominativo no Português do Brasil. In: ROBERTS, Ian; KATO, Mary A. (1993). 263-303.

ZEIJLSTRA, Hedde H. (2006). The Ban on True Negative Imperatives. In: Empirical Issues in Syntax and Semantics 6: 405-424.

Page 23: Sobre a ordem Verbo-Sujeito em construções imperativas do português brasileiro.

Agradecimentos

— Diga “obrigado” ao pessoal!

— Diga VOCÊ!

— Então, tá bom. Obrigado, pessoal!

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Page 25: Sobre a ordem Verbo-Sujeito em construções imperativas do português brasileiro.

VSX: deslocamento à direita do objeto VSX = VS,X(20) — Tome/toma cuidado comigo!

a. Tome/toma cuidado (comigo) VOCÊ!b. ?? Tome/toma VOCÊ cuidado (comigo)... [s/ pausa]

c. Tome/toma VOCÊ! Cuidado (comigo)... [c/ pausa]

(21) — Tome nota de tudo o que acontecer na reunião!

a. Tome/toma nota VOCÊ!b. ?? Tome/toma VOCÊ nota! [s/ pausa]c. Tome VOCÊ! Nota do que aconteceu... [c/ pausa]

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VSX: deslocamento à direita do objeto VSX = VS,X

(22) — Mande seu jogador para o chuveiro!a. Mande (ele) pro chuveiro VOCÊ!

b. ?? Mande VOCÊ ele pro chuveiro! [s/ pausa]

c. Mande VOCÊ! Ele pro chuveiro... [c/ pausa]

Pausa entre S e X torna exemplos mais aceitáveis.

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VSX: deslocamento à direita do objeto VSX = VS,X

(23) — Mande seu jogador para o chuveiro!a. Mande (ele) pro chuveiro VOCÊ!

b. ?? Mande VOCÊ ele pro chuveiro! [s/ pausa]

c. Mande VOCÊ! Ele pro chuveiro... [c/ pausa]

Pausa entre S e X torna exemplos mais aceitáveis.