Top Banner
SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES Introdução ao estudo da Sociologia das Organizações Considerações iniciais Considerações iniciais Organização, empresa, trabalho e pessoas Organização, empresa, trabalho e pessoas Perspectivas sociológicas da empresa Perspectivas sociológicas da empresa Sociologia do trabalho, da empresa, da gestão e Sociologia do trabalho, da empresa, da gestão e das organizações: semelhanças, diferenças e das organizações: semelhanças, diferenças e tendências integrativas tendências integrativas Sociologia das Organizações – Enquadramento Sociologia das Organizações – Enquadramento epistemológico epistemológico
56

SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Dec 18, 2014

Download

Technology

 
Welcome message from author
This document is posted to help you gain knowledge. Please leave a comment to let me know what you think about it! Share it to your friends and learn new things together.
Transcript
Page 1: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕESSOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES

Introdução ao estudo da Sociologia das Organizações– Considerações iniciaisConsiderações iniciais

– Organização, empresa, trabalho e pessoasOrganização, empresa, trabalho e pessoas

– Perspectivas sociológicas da empresaPerspectivas sociológicas da empresa

– Sociologia do trabalho, da empresa, da gestão e das Sociologia do trabalho, da empresa, da gestão e das

organizações: semelhanças, diferenças e tendências integrativasorganizações: semelhanças, diferenças e tendências integrativas

– Sociologia das Organizações – Enquadramento epistemológicoSociologia das Organizações – Enquadramento epistemológico

– Sociologia das Organizações – Enquadramento organizacionalSociologia das Organizações – Enquadramento organizacional

Page 2: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 2

Considerações iniciaisConsiderações iniciais

• São ainda escassos os estudos desenvolvidos pelas ciências sociais sobre as organizações.

• A complexidade do mundo organizacional não deve ser comprometida por estudos e abordagens teóricas demasiado restritas.

• O Homem das sociedades complexas dos nossos dias vive e actua no âmbito das organizações formais. Todos nós – estudantes, professores, gestores, investigadores e consultores – temos de lidar e de negociar diariamente com as organizações, ainda que estas nos pareçam demasiado mecanicistas, organicistas ou irracionais.

Page 3: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 3

Organização, empresa, trabalho e Organização, empresa, trabalho e pessoaspessoas

• As análises clássicas das organizações privilegiam a sua racionalidade interna.

• Nesta perspectiva, são criadas e existem para facilitar a prossecução dos objectivos a que se propõem.

Page 4: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 4

• Segundo as mesmas, as componentes essenciais que a

regem são:

– «o processo de organizar;

– a identificação do fins;

– a gestão dos recursos atinente ao alcance desses fins;

– e a orientação dos valores internos no sentido de que os fins

propostos são bons e interessando a todos os intervenientes.

Page 5: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 5

• (...) A observação de muitas organizações está de acordo com o

que se acaba de expor. Há papéis e regulações. Há fins e

objectivos. Há organigramas que definem quem fala com quem,

sendo as linhas de comando claramente descritas. As pessoas

desempenham diferentes funções coordenadas e integradas. Ser

organizado é ser dirigido.»[1]

[1] Mitchell, Terence R., People in Organizations / An Introduction to Organizational Behavior, Auckland: McGraw-Hill

Internatinal Book Company, Second Edition, 182, p. 10

Page 6: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 6

• Esta racionalidade organizativa tem vindo, no entanto a ser

questionada tendo em conta a não-consideração da envolvente

externa – que a perspectiva sistémica releva - o não contemplar os

processos de mudança organizacional e, em síntese, a insuficiência

dos critérios de racionalidade económica.

Page 7: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 7

• É que, para além da contingencialidade organizacional, na

organização real “participam seres humanos, cada um com as suas

características específicas, e que tendem a pressionar e a desviar

de forma mais ou menos marcada as estruturas formais, idealmente

definidas de acordo com a lógica dos custos e benefícios, levando-

as a funcionar efectivamente como um sistema social.”[1]

• É tendo em conta estas realidades que o estudo sociológico das

organizações ganha relevância crescente, como se verá.

[1] Barata, Óscar Soares, “O Factor Humano nas Organizações”, in Separata da Revista Estudos Políticos e Sociais,

Lisboa: ISCSP, Nºs. 3-4, 1988, p. 36

Page 8: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 8

Perspectivas sociológicas da empresaPerspectivas sociológicas da empresa

• Ver a empresa apenas como uma organização na

perspectiva da racionalidade das forças produtivas

conduz a uma leitura incompleta.

– Organizar vs. “caos” estruturar, dirigir

– Daí que uma organização tenha objectivos e regulações

Page 9: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 9

Como refere um dos mais conhecidos “sociólogos da empresa” – Renaud Sainsaulieu

«Para se desenvolver, aumentar as suas capacidades produtivas, os seus

recursos de competências, as suas forças de reacção à concorrência económica e

técnica do mercado, a empresa teve sempre de contar com a vitalidade do conjunto

humano dos seus trabalhadores. Mas um agregado de indivíduos é sempre mais

complexo do que a simples adição dos seus recursos. Com o tempo, surgem estruturas

de grupo, nascem relações entre essas forças e as regulações colectivas tornam-se

indispensáveis à gestão desses conjuntos humanos de produção. Uma estrutura social

articula assim os factores de produção e condiciona os esforços de desenvolvimento

que a empresa deve fazer para sobreviver num ambiente movediço.»[1]

[1] Sainsaulieu, Renaud, Sociologia da Empresa: Organização, Cultura e Desenvolvimento, Lisboa: Instituto Piaget,

2001, p. 15

Page 10: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 10

• A recente preocupação do estudo sociológico da empresa deriva da

necessidade de estudar o lado humano da gestão das

organizações.

• Deve-se hoje falar também na emergência de um novo tipo de

organização/empresa:

– Mais pequena, mais conectada com outras até agora concorrentes,

mais transnacional e mais adaptada e adaptável a diferentes

finalidades, diferentes tipos de trabalho, diferentes pessoas e diferentes

culturas.

Page 11: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 11

Da organização tradicional para a flexívelDa organização tradicional para a flexível

De• Competição limitada, com ciclos longos de vida dos

produtos

• Risco baixo

• Controlo centralizado

• Sistemas determinados pelos produtos

• Existência de pessoal para o “caso de ser necessário”

• Empregados como factor de produção

• Alta repartição das tarefas

• Tarefas fixas

• Minuciosas capacidades “para a vida”

• Trabalho no mesmo nível

• Repetições de trabalho para a procura da qualidade

• Resolução de problemas

• Recursos organizacionais rígidos

• Medida de resultados

• Remuneração do serviço e da lealdade

• Horários fixos

Para• Competição intensa, com ciclos curtos de vida dos

produtos

• Inovação de alto-risco

• Envolvimento descentralizado

• Sistemas determinados pelos clientes

• Produção just in time com o pessoal certo

• Empregados como recurso valioso

• Ampla responsabilidade funcional

• Melhorias contínuas

• Múltiplas e amplas capacidades “para o presente”

• Trabalho em qualquer nível

• Fazer certo à primeira

• Prevenção dos problemas

• Flexibilidade dos recursos internos e externos

• Medida da contribuição

• Remuneração das realizações e da focalização nos

objectivos

• Sistemas flexíveis de trabalho

Page 12: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 12

• A preocupação com o estudo sociológico da empresa é recente. As sociologias,

por exemplo, da família, da educação e da religião, prenderam muito antes a

atenção das sociologias. É que, até há pouco, o objecto sociológico era o

trabalho, «encastrado na economia, sendo a empresa apenas o local onde este

se realiza. No entanto (...) vários acontecimentos irão colocar a empresa na

ribalta e permitir o seu posicionamento de maneira diferente nas análises dos

sociólogos. O primeiro é o regresso da empresa (...) o facto de a crise económica

se ter manifestado (...) através do aumento do desemprego veio colocar em

primeiro plano a empresa como actor capaz de salvaguardar o emprego e,

através dele, um valor essencial de socialização da nossa sociedade. O que

atribui à empresa um papel muito mais do que económico, não só o de

providenciador de emprego, mas também o de estabilizador social.»[1]

[1] Bernoux, Philippe, A Sociologia das Empresas, Porto: RÉS-Editora, Lda., s.d., pp. 8-9

Page 13: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 13

• Peter DRUCKERDRUCKER frisa estas mudanças nas organizações que normalmente chamamos empresas, sustentando que:

«As organizações serão ainda mais necessárias que antes. Precisamente porque

haverá tanta ambiguidade, tanta flexibilidade, tantas variações, é que será

necessário muito mais clareza quanto à missão, aos valores e à estratégia; no

pesar os objectivos de longo e curto-prazo; na definição dos resultados.

Sobretudo, será necessário clareza absoluta quanto a quem toma as decisões

finais e está no comando numa crise. (...) A organização é sobretudo social. É

pessoas. A sua finalidade tem de ser, portanto, tornar efectivas as forças das

pessoas e irrelevantes as suas fraquezas. De facto, essa é a única coisa que a

organização pode fazer – a única razão pela qual a temos e precisamos de a ter.

(...) Estamos a deslocar-nos rapidamente rumo a novas organizações.»[1]

[1] Drucker, Peter, in Fundação Drucker, A Organização do Futuro, Mem Martins: Publicações Europa-América, Lda., 1998, pp. 20-21

Page 14: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 14

Sociologia do trabalho, da empresa, da gestão Sociologia do trabalho, da empresa, da gestão e das organizações: e das organizações: semelhanças, diferenças e semelhanças, diferenças e tendências integrativastendências integrativas

• A sociologiasociologia nasce e desenvolve-se com a

industrializaçãoindustrialização

– Provocou a ruptura com o antigo regime e o crescimento do

trabalho assalariado

Page 15: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 15

• Estas novas realidades de produção levaram à formação e

crescimento de um proletariado urbano, o que teve efeitos

devastadores:

– «desqualificação brutal dos modos de fazer artesanais, divisão do

trabalho, exploração dos trabalhadores e salários de miséria que

obrigaram as famílias operárias a fazer trabalhar os filhos desde muito

cedo para assegurar a sobrevivência do grupo.» [1]

[1] Durand, Jean-Pierre / Weil, Robert, Sociologie Contemporaine, Paris: Vigot, 1993, p. 18

Page 16: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 16

• Sendo a industrialização o elemento mais novo, é natural que se

afirme que a sociologia nasce como sociologia industrial

– Saint-SimonSaint-Simon (análises sobre a nova sociedade industrial dirigida pelos

mais competentes)

– Herbert SpencerHerbert Spencer (caracterização da sociedade industrial)

– Karl MarxKarl Marx (modos de produção)

– Émile DurkheimÉmile Durkheim (divisão do trabalho social)

– Max WeberMax Weber (economia e sociedade)

Page 17: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 17

• Porém, estes autores tenderam a colocar em cena o trabalhador,

exaltando-o e atribuindo-lhe qualidade, mas não fazendo dele objecto de

estudo.

• Outros o fizeram:

• Le PlayLe Play (1806-1882)

• VillerméVillermé (1782-1863)

• Observaram as condições de trabalho e de existência dos operários,

recolheram indicações sobre o modo como vivem, sobre a ideia que fazem

de si próprios e da sociedade, tendo proposto medidas para tirar os

operários da sua situação pobre e marginal.

Page 18: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 18

• Segundo TRIPIERTRIPIER[1], esta procura de articular na mesma

explicação...

– condições de trabalho,

– modos de vida e

– visões do mundo

• ...leva a que a Sociologia do Trabalho se possa desenvolver

nesta direcção

[1] Tripier, Pierre, in Durand, Jean-Pierre / Weil, Robert, Sociologie Contemporaine, Paris: Vigot, 1993, pgs. 353-374

Page 19: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 19

• Ainda segundo TRIPIERTRIPIER, a pesquisa dirigida por Elton MAYO, na

Western Electric Company (1924-1932) é um momento importante

para o futuro aparecimento da sociologia do trabalho

– Os métodos utilizados são quantitativos e qualitativos

– têm como objecto principal o homem na sua situação de trabalho,

sendo a pesquisa focalizada nas tarefas, no sentimento que cada um

inspira o trabalho e na rapidez de execução deste

Page 20: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 20

– É entendido que o trabalho resulta da cooperação, voluntária ou não.

Cabe à sociologia entender como é que essa cooperação se efectua e

como as diferenças decorrentes da divisão do trabalho conduzem a um

resultado colectivo.

Page 21: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 21

• Para Mayo e seus discípulos, a empresa era um sistema social

fechado com:

– uma função técnico-económicafunção técnico-económica

• Determinada à fabricação de um produto segundo exigências de custo,

lucro e eficácia técnica

– e com uma função sócio-organizacionalfunção sócio-organizacional

• Com cooperação fundada sobre as interacções no grupo e entre os grupos

• Foi o estudo desta última vertente que, originariamente, se relevou

para o desenvolvimento da sociologia do trabalho

Page 22: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 22

• A necessidade da sociologia do trabalho cria-se e desenvolve-se a

partir da existência e contestação a três correntes de pensamento e

de análise:

– Taylorismo / organização científica do trabalhoTaylorismo / organização científica do trabalho

– Teoria das burocraciaTeoria das burocracia

– Teoria das relações humanasTeoria das relações humanas

Page 23: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 23

• Taylorismo / organização científica do trabalhoTaylorismo / organização científica do trabalho

– O conceito de “homem económico”, com a perspectiva de que o

trabalho era apenas uma obrigação, pressupondo que o homem

apenas trabalhava se fosse incentivado através da remuneração

variável (salário à peça).

– Consequente “perspectiva behaviorista”, pelo aproveitamento dos

estímulos do comportamento; o estímulo era o dinheiro, o

comportamento seria o trabalho.

– Ausência de uma “teoria do conflito”, por este ser contrário ao quadro

de relacionamento existente entre associações patronais e sindicais.

Partia-se da existência de uma confluência de interesses, pelo que o

conflito não tinha cabimento.

Page 24: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 24

• Teoria da burocraciaTeoria da burocracia

– É, tal como o taylorismo, uma procura de racionalização do trabalho.

Enquanto o primeiro é relativo às pessoas – que é suposto apenas

reagirem por dinheiro - a teoria da burocracia aponta para uma

“organização sem pessoas”, já que não as concebe como tendo

iniciativa. Eram meras aplicadoras de normas, anulando-se cada um na

sua capacidade própria.

Page 25: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 25

• Teoria das relações humanasTeoria das relações humanas

– Desenvolve a perspectiva do “primado do homem social”. Segundo

esta, o principio behaviorista de Taylor não tinha o resultado desejado,

porque o factor social de coesão de grupo e de aceitação se

sobrepunha à vontade de ganhar dinheiro. O sentimento de pertença ao

grupo assumia uma importância primordial.

Page 26: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 26

• É neste quadro, e no contexto das teorias da motivação

emergentes, que aparecem Georges FRIEDMANN e Pierre

NAVILLE

– A figura intelectual de Friedmann Friedmann desenhou-se a partir de 1936, em

obras onde:

• denuncia os desenvolvimentos do maquinismo industrial;

• critica, a partir das ciências humanas e, nomeadamente, da sociologia, os

métodos de racionalização do trabalho;

• e preocupa-se com as formas de trabalho em cadeia, com a obsolescência

das qualificações e com a perda da significação do trabalho

Page 27: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 27

• O momento mais relevante para esta área da sociologia foi, no

entanto, a publicação da hoje obra clássica que marcou os

primórdios da sociologia do trabalho:

– Traité de Sociologie du TravailTraité de Sociologie du Travail (1963), da autoria de FRIEDMANN e

NAVILLE

• Para eles, a sociologia do trabalho define-se como o estudo, nos

seus diversos aspectos, de todas as colectividades humanas que

se constituem por causa do trabalho

Page 28: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 28

• Esta concepção marcou fortemente a “escola francesa da escola francesa da

sociologia do trabalhosociologia do trabalho”

– Alain TOURAINE

– Serge MALLET

– André GORZ

– Marcada pelo “determinismo tecnológico”

Page 29: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 29

• A “escola francesa” esteve sempre em contraponto com a “escola escola

anglo-saxónica da sociologia do trabalhoanglo-saxónica da sociologia do trabalho”

– Privilegiou as atitudes e motivações e o entendimento de que o trabalho

era apenas uma parcela da vida do homem, em detrimento do conflito

interclassista e da eventual degradação das condições em que se

realiza o trabalho

Page 30: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 30

• Detecta-se, no entanto, no percurso deste ramo da sociologia,

alguma discordância sobre a sua denominação:

– Sociologia do trabalho, sociologia industrial ou sociologia da empresa

• Com efeito, não é pacífica a aceitação de uma ou de outra destas

designações, como o comprova Roland GUILLON (sociologia

industrial)

Page 31: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 31

• Com efeito, não é pacífica a aceitação de uma ou de outra destas

designações. Comprova-o Roland GuillonRoland Guillon, ao afirmar que a «sociologia

industrial, como o seu nome indica, é um dos ramos da sociologia que se

desenvolve ao mesmo tempo que a sociedade industrial. É uma reflexão

sociológica sobre o trabalho e sobre o homem em pleno trabalho, na sua

relação com as outras tarefas e outros homens que trabalham num dado

tipo de sociedade».[1] Segundo o autor, esta definição abarca não só a

organização industrial do sector de produção, mas também os outros

sectores (serviços, administração, etc.).

[1] Guillon, Rolland, in Dicionário de Sociologia, (direcção de Jean Cazeneuve e David Victoroff), Lisboa / São Paulo: Verbo, 1982, p. 550

Page 32: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 32

• Também Bernard MOTTEZMOTTEZ utiliza a expressão sociologia industrial

como a aplicação à indústria do objecto, métodos e técnicas da

sociologia.

• Georges GURVITCHGURVITCH prefere também chamar de industrial a este

ramo da sociologia.

Page 33: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 33

• No entanto, FriedmanFriedman e NavilleNaville, defendem que a sociologia do

trabalho não é apenas a sociologia industrial no sentido restrito do

termo,

– mas também o estudo das colectividades de trabalho não industrial no

comércio, na administração e na agricultura

– Reconhecem, porém, que o seu Tratado de Sociologia do Trabalho

(1963) se centraliza sobretudo no trabalho industrial

Page 34: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 34

• As últimas décadas, no entanto, viram crescer, nomeadamente em

França, a tendência para a compartimentação do campo de análise

sociológica do trabalho

– A empresaempresa revelou-se o campo privilegiado de realização do trabalho

Page 35: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 35

• Denis SEGRESTINSEGRESTIN e Renaud SAINSAULIEUSAINSAULIEU têm procurado as

bases do que chamam “teoria sociológica da empresa”

– Esta tendência vem na linha dos teóricos “culturalistas” e da

“excelência”, para quem a empresa aparece como um meio humano

específico, cujas regulações sociais e culturais intervêm fortemente

sobre os resultados económicos

Page 36: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 36

• É neste quadro evolutivo que entra em cena a sociologia das sociologia das

organizaçõesorganizações

• Alain TOURAINETOURAINE – um sociólogo do trabalho – afirma que se

constituíram quatro domínios de estudo separados uns dos outros:

– Sociologia das organizaçõesSociologia das organizações

– Sociologia das relações industriaisSociologia das relações industriais

– Sociologia das profissõesSociologia das profissões

– Estudos antropológicosEstudos antropológicos

Page 37: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 37

• Sociologia das organizaçõesSociologia das organizações

– O primeiro foi a sociologia das organizações, que procurou

abalar a ideia de racionalização que dominou o pensamento de

Weber e Parsons, substituindo-a pela da estratégia, no quadro

da passagem da ideia de sociedade de produção ou industrial

para a da economia de mercado. O acento tónico passou a ser

colocado na adaptação da organização a uma envolvente

técnica, económica e política mutável.[1]

[1] Para alguns autores, caso de Michel de Coster, a sociologia do trabalho situa-se mais ao nível societal (perspectiva macro), enquanto a sociologia das organizações é a instância mediadora entre o nível societal e o nível individual. A primeira propõe análises do trabalho em termos de valores, de tempo, de classes sociais, de instituições sindicais, etc. .

Page 38: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 38

• Sociologia das relações industriaisSociologia das relações industriais

– O segundo domínio de estudo preocupou-se com a regulação

das relações sociais, pela via das negociações, da

contratualização, das arbitragens e das intervenções legais;

estamos em face da chamada sociologia das relações

industriais.

Page 39: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 39

• Sociologia das profissõesSociologia das profissões

– O terceiro tem a ver com o estudo das profissões; aborda os

controlos exercidos por cada grupo profissional sobre o

exercício da sua actividade, ligações entre as estratégias de

defesa profissional e a intervenção do estado. Estamos em face

da sociologia das profissões.

Page 40: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 40

• Estudos antropológicosEstudos antropológicos

– O quarto é o mais longínquo face às anteriores “sociologias”,

respeitando aos estudos antropológicos sobre a classe operária

e sobre a vida dos migrantes e das pessoas e famílias que

fizeram a transição do meio rural para o urbano e da agricultura

para a indústria e para os serviços.[1]

[1] Touraine, Alain, Prefácio a Coster, Michel de / Pichault, François (Eds.), Traité de Sociologie du Travail, Paris,

Bruxelles: Departement de Boeck Université, (2e. édition), 1998, pp. 5-6

Page 41: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 41

• Recentemente, emerge um campo de análise novo, que é o da

sociologia da gestão

• Mike REEDREED toma como âmbito as perspectivas sociológicas sobre a

gestão

– Assume que cada vez mais a gestão se depara com discursos múltiplos

e conflituais, não resolúveis no quadro do seu paradigma científico

racional, o que obriga ao desenvolvimento da análise sociológica,

porque...

Page 42: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 42

«Socializados na retórica de teorias e técnicas que supostamente garantem um grau

aceitável de previsão da ordem e do controlo, os gestores enfrentam uma realidade

social prenhe de relações de natureza moral e política que constantemente abalam a

lógica da racionalidade instrumental. (...) Na medida em que aumentou a nossa

compreensão da realidade social, da qual os gestores são parte essencial, a

sociologia proporcionou uma contribuição não só útil como fundamental,

esclarecedora de ambiguidades e situações difíceis que todos, sem excepção,

experimentamos. Pode também constituir precioso auxilio no desenvolvimento de

formas de análise e de conduta que enformem com maior clarividência e

sensibilidade as práticas sociais com que tentamos gerir o mundo que todos

partilhamos.» [1]

[1] Reed, Mike, Sociologia da Gestão, Oeiras: Celta Editora, 1997, p. 167

Page 43: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 43

•A visão pós-modernista do mundo tem levantado alguma

perturbação sobre paradigmas, teorias, conceitos e metodologias, nas

ciências sociais em geral.

•O pós-modernismo (Braudellard, Lyotard, Jameson) revela uma

tendência para as abordagens de tipo multidisciplinar e uma inclinação

para “subverter” e “rebentar” fronteiras disciplinares e criar

perspectivas transdisciplinares que façam convergir ideias de um vasto

conjunto de campos científicos, tais como filosofia, economia política,

teoria cultural, história, antropologia e sociologia.

SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES – SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES – Enquadramento epistemológicoEnquadramento epistemológico

Page 44: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 44

•Se analisarmos o processo histórico de constituição destas áreas

de investigação, ou se quisermos classificá-las em tipologias,

rapidamente chegaremos à conclusão de que dificilmente se consegue

perceber, por essa via, a verdadeira articulação entre todas as suas

diferentes abordagens, particularmente no ramo da sociologia das

organizações.

Relembrar:

Cap 3 – Teoria Organizacional – Estruturas e Pessoas

Grupos TeóricosGrupos Teóricos – Perspectivas teóricas na abordagem da

realidade social (dimensão objectiva e dimensão subjectiva)

Page 45: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 45

• PUGHPUGH, por exemplo, identifica seis abordagens:

1. «management theory»

2. «structural theory»

3. «group theory»

4. «individual theory»

5. «technology theory»

6. «economic theory»

Page 46: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 46

• WHITEWHITE identifica sete escolas:

1. «process analysts»

2. «structuralists»

3. «organizational surveyors»

4. «group dynamicists»

5. «decision making theorists»

6. «psychiatric analysts»

7. «technological structuralists»

Page 47: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 47

• ELDRIEG ELDRIEG e CROMBIECROMBIE, numa revisão das tipologias que

têm sido usadas por diversos teóricos organizacionais,

estabelecem a diferença entre:

1.1. Tipologias baseadas em funçõesTipologias baseadas em funções – Katz e Kahn, Tavistock,

Blau e Scott

2.2. TecnologiaTecnologia – Woodward, Blauner, Thompson

3.3. RegulaçãoRegulação – Etzioni

4.4. EstruturaEstrutura – Ackoff e Vickers

Page 48: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 48

• A construção destas tipologias está longe de ser pacífica e aceite

por consenso, na medida em que os seus autores acabam por

salientar uns aspectos em detrimento de outros e não raramente

acontece que uma teoria pode ser legitimamente subsumida a mais

do que uma das tipologias apresentadas.

Page 49: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 49

• Pode dizer-se que, quer a descrição lineardescrição linear, cronológica, do processo

histórico que conduziu ao aparecimento, por exemplo, das teorias

organizacionais, quer a tentativa de enquadrar em tipologiastipologias as

diferentes abordagens, revelam limitações de perspectiva.

– Como dizem BURREL e MORGAN, só quando se procura explorar as

presunções teóricas básicas que se encontram subjacentes aos

trabalhos, é possível encontrar afinidades e estabelecer as linhas

divisórias das diversas abordagens.

Page 50: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 50

• Por este caminho, seguindo a abordagem de BURREL e MORGAN,

há que conceber as ciências sociais em termos de 4 conjuntos de

pressuposições (sets of assumptions):

– OntologiaOntologia

– EpistemologiaEpistemologia

– Natureza humanaNatureza humana

– MetodologiaMetodologia

num contínuo entre:

• Dimensão objectivaDimensão objectiva

• Dimensão subjectivaDimensão subjectiva

Page 51: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 51

SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕESSOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕESEnquadramento organizacionalEnquadramento organizacional

• A sociologia das organizações integra-se no domínio dos estudos organizacionais, os quais representam uma parte já significativa da investigação desenvolvida em ciências sociais.

• 3 linhas de pesquisa:– Teoria organizacional (organization theory):

• Estudo das organizações formais

• Investigação empírica, orientada para a concepção de gestão das organizações

– Theory of Social and Economic Organization (Max Weber, 1947):• Carácter sociológico, predominantemente, de gestão

– Perspectiva psicossociológica:• Estudo do comportamento humano no interior das organizações

Page 52: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 52

• Estas três linhas de pesquisa desenham uma grande variedade de

perspectivas e, ao longo do seu processo de desenvolvimento, tem-

se registado uma forte influência de umas disciplinas sobre as

outras, encontrando-se reunidas numa abordagem multi-disciplinar

no âmbito do “comportamento organizacionalcomportamento organizacional” (organizational

behaviour).

Page 53: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 53

• A Teoria Organizacional é a disciplina de gestão e administração

que se preocupa com a “análise organizacional”, compreensão,

explicação e previsão do desenho e da estrutura organizacional.

– O seu objecto de análise é o organizacional em si mesmoo organizacional em si mesmo

– Perspectiva macromacro

– A TO apresenta três aspectos:

• DescritivoDescritivo: descreve e informa como as organizações estão organizadas;

• ExplicativoExplicativo: explica a razão porque os indivíduos, grupos e sistemas

organizacionais revelam um determinado comportamento;

• PrescritivoPrescritivo: dá orientações sobre como podem as mesmas ser mudadas

para se tornarem mais eficazes

– Em suma, a TO ajuda a conceber uma estrutura organizacional

(organograma, descrição de funções, manuais de procedimentos, etc.).

Page 54: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 54

• A Sociologia das Organizações, olhando para a organização

como uma estrutura social composta de relações sociais

(autoridade, burocracia, conformidade, poder, etc.), tem vindo a

assumir, fundamentalmente, uma orientação teórica diferente da

Sociologia do Trabalho (assumiu um carácter mais comprometido

politicamente com os mais fracos / trabalhadores, em oposição ao

patronato e à sociedade capitalista que estes representavam),

menos dicotómica.

Page 55: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Ana Maria Santos 55

– Passou a estudar os fenómenos sociais e culturais das fenómenos sociais e culturais das

organizaçõesorganizações (públicas ou privadas), desde que estas

apresentem estabilidade, formalidade e dimensão suficiente

(i.e., diferente de um grupo).

– O seu objecto de análise é o comportamento do Homem na o comportamento do Homem na

organizaçãoorganização

• Dá mais atenção aos pequenos grupospequenos grupos (estatuto social, poder,

conflito, liderança e comunicação) e ao indivíduoindivíduo (temas:

percepção, decisão individual, valores, atitudes, satisfação no

trabalho, motivação, absentismo, etc.)

– Perspectiva micro

Page 56: SO Introdução ao Estudo da Sociologia Das Organizações

Advertência!Advertência!

O estudo destes apontamentos NÃO dispensa a leitura das obras referenciadas na

Bibliografia, constante do Programa da cadeira de Sociologia das Organizações.