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STIOS DE REPRESENTAO RUPESTRE DA BAHIA (1950-1990):levantamento
dos dados primrios dos acervos iconogrficos das colees arqueolgicas
do Museu de
Arqueologia e Etnologia da Universidade Federal da Bahia
(MAE/UFBA)*
Carlos Costa**
RESUMOA histria da arqueologia pr-colonial ligada ao estado da
Bahia cheia de obstculos
negativos, que conduziram a uma certa falta de sistematizao e
perda da documentao escrita acerca dos stios pesquisados, bem como
da cultura material coletada nos trabalhos arqueolgicos. Um
levantamento no acervo iconogrfico das colees arqueolgicas do Museu
de Arqueologia e Etnologia da Universidade Federal da Bahia
(MAE/UFBA), das colees Carlos Ott, Valentn Caldern e AAPHB
(Sobradinho e Itaparica), permitiu, ainda que de maneira
fragmentria, restabelecer informaes bsicas acerca dos stios de
representaes rupestres laborados entre 1950 e 1990 possibilitando
retornar aos dados primrios, in situ , os quais noticiamos neste
trabalho.Palavras chave: levantamento documental, representao
rupestre, arqueologia pr-colonial, Bahia.
ROCK ART SITES IN BAHIA (1950-1990):survey on primary data from
iconographic files of archeological collections at Museu de
Arqueologia
e Etnologia at Universidade Federal da Bahia (MAE/UFBA)
ABSTRACTThe history of pre-colonial archaeology in the state of
Bahia is full of negative obstacles, which
led to the lack of systematization and loss of part of the
written records about sites already researched as well as part of
the samples of the material culture colleted during archaeological
researches. A survey on primary data from iconographic files of
archaeological collections at Museu de Arqueologia e Etnologia da
Universidade Federal da Bahia (MAE/UFBA), which were assembled in
Carlos Ott, Valentn Caldern and AAPHB (Sobradinho and Itaparica)
collections. Although these collections were somehow fragmented,
they allowed us to reestablish basic information on sites of rock
art researched between 1950 and 1990 allowing us to return to the
sites which we publish in this paper.Key Words: survey on written
records, rock art, pre-colonial archaeology, Bahia.
* Parte dos dados em que se assenta este artigo foi gerado,
inicialmente, como trabalho de final de curso de graduao em
Museologia, na Universidade Federal da Bahia, originalmente com
o ttulo Elaborao de Instrumento documental para registro de stios
das colees arqueolgicas do MAE/UFBA, apresentado no segundo
semestre do ano letivo de 2001.**
Muselogo pela Universidade Federal da Bahia. Mestrando do
Programa de Ps-Graduao em Arqueologia / Conservao do Patrimnio da
Universidade Federal de Pernambuco. Membro colaborador do
Laboratrio de Arqueologia da Faculdade de Filosofia e Cincias
Humanas da Universidade Federal da Bahia (FFCH/UFBA). E -mail:
[email protected]
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1- IntroduoNa histria da arqueologia cientfica do estado da
Bahia, dos anos 60 atualidade, houve a
atuao de personagens de expresso que, indubitavelmente, marcaram
o fazer arqueolgico, a exemplo de Thales de Azevedo, Vital Rego,
Carlos Ott, Valentin Caldern, dentre outros. Todavia, apesar da
expressiva contribuio destes atores, parte dos materiais e
documentos dos trabalhos arqueolgicos que realizaram no pode ser
acessada, por absoluta falta de sistematizao ou, em alguns casos,
pela perda irreparvel dos materiais e documentos que deveria estar,
no mnimo, nas reservas e exposies de museus. No entanto, tal perda
no est atrelada aos pesquisadores que geraram as colees, muito
menos aos gestores recentes das instituies culturais que as
armazenam, mas, refere-se a um histrico de atuao de outros agentes,
que ao patrimnio conferiram descaso, relegando o cuidado e a devida
salvaguarda durante muito tempo.
Um destes fatores a ao do Instituto do Patrimnio Histrico e
Artstico Nacional / IPHAN (anteriormente Subsecretaria do Patrimnio
Histrico e Artstico Nacional / SPHAN) na proteo do patrimnio
arqueolgico. Em decorrncia das organizaes e re-organizaes internas
do rgo, de suas constantes mudanas de estruturas de fiscalizao (ora
com poder centralizado em Braslia ou Rio de Janeiro, ora com
fiscalizao por delegacias regionais, ora com superintendncias
regionais e especiais, etc), de seus constantes manejos e
re-manejos do quadro funcional de um local a outro, da carncia de
quadro tcnico capacitado para tratar da matria arqueolgica, da
falta de uma legislao especfica atualizada e gil proteo do
patrimnio arqueolgico, da falta de verbas, dentre outros fatores,
conduziram a inevitvel desorganizao e desaparecimento de dados.
No caso da documentao arqueolgica, os constantes encaminhamentos
de uma regional a outra para anlise, pareceres e/ou arquivamento
(nem sempre com o devido retorno regional de origem ou com a
informao de onde se encontra o documento) e a falta de sistematizao
interna das bibliotecas e arquivos levaram ao pouco controle de
muitos dos escritos e imagens acerca dos trabalhos arqueolgicos:
projetos, pareceres, relatrios tcnicos/cientficos, fichas de
registros, fotografias, cartas, plantas, mapas, etc. Isto relativo
ao passado da instituio. Mas, no podemos negar que ainda hoje
difcil conseguir acesso aos documentos de pesquisas antigas, pois,
o rgo carece de funcionrios preparados que possam atender nos
arquivos e bibliotecas ou, ainda mais complicado, no dispe de
alguns dos documentos primrios nos arquivos1.
Se, por um lado, temos a histrica atuao precria do IPHAN na
proteo do patrimnio arqueolgico, por outro, o histrico das
pesquisas arqueolgicas no estado da Bahia demonstra os outros
fatores que tambm favoreceram a perda de documentos e
artefatos.
Durante os anos 60 e 70 Valentin Caldern, que na ocasio era
professor do departamento de Cincias Sociais e nico arquelogo da
UFBA, deparou-se com constantes reformulaes internas da
Universidade, na maioria das vezes polticas. Tal conjuntura
poltico/estrutural da Universidade levou Caldern a submeter os
acervos arqueolgicos (materiais e seus respectivos documentos de
registro e estudo) as constantes mudanas de espaos fsicos, de
maneira geral inadequados organizao dos acervos; as primrias
condies de acondicionamento, em locais abafados propcios a mofo,
fungos e traas, conduziram a pouca organizao e, s vezes, ao
desaparecimento de materiais e documentos. Contudo, frente ao rigor
imposto aos trabalhos que realizou, estas mudanas nunca foram
intenes de Caldern, de maneira que sempre buscou alternativas ao
melhor acondicionamento dos materiais. Para se ter uma idia, em
1966 criou o Laboratrio de Arqueologia, prevendo institucionalizar
um espao guarda dos materiais arqueolgicos; mas, infelizmente, esta
instncia no foi frente. Posteriormente,
1 A esta ltima situao referimo-nos, especificamente, ao caso da
7 Superintendncia Regional do IPHAN (Salvador-
BA). Num panorama mais abrangente, sugerimos leitura do artigo
Repensando uma relao: os arquelogos e o IPHAN de Tnia Andrade Lima
(1997), onde faz um histrico do descaso da Unio ao patrimnio
arqueolgico, quando analisa pormenorizadamente a estrutura
administrativa e funcional do IPHAN.
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em 1975, realizou escavaes no subsolo da antiga Faculdade de
Medicina da Bahia, onde antes existiu o Colgio dos Jesutas, com o
intuito de preparar um espao adequado salvaguarda dos acervos
gerados em, naquela ocasio, quinze anos de pesquisas. O espao que
viria a ser, em 1983, o Museu de Arqueologia e Etnologia2.
Todavia, aquilo que seria a soluo na organizao dos dados
arqueolgicos baianos, contrariamente, foi o ponto de maior
dissoluo, de maior desorganizao de parte destas informaes. Brigas
polticas ocorridas na primeira dcada de existncia do MAE
(especificamente no final da dcada de 80), conduzidas por
interesses particulares de uns poucos, nada justificados por razes
cientficas ou sociais, igualmente levaram a perda de informaes
arqueolgicas. Neste momento histrico da instituio, profissionais
com larga e slida formao em arqueologia e em etnologia indgena a
exemplo dos professores Pedro Agostinho, Maria Rosrio Gonalves
Carvalho e Carlos Etchevarne foram substitudos por prticos, com
pouca, ou nenhuma, formao tcnica/acadmica. Acerca disto,
eloqentemente preconiza Gabriela Martn:
(...) apesar do esforo do antroplogo Pedro Agostinho responsvel
pela organizao do Museu de Arqueologia e Etnologia da UFBA, pelas
rivalidades internas e dissenses polticas a instituio pouco tem
produzido. Porm, a partir de 1995, o trabalho conjunto de Ana
Gantois, nova diretora do MAE e do arquelogo Carlos Etchevarne, tem
significado uma nova e promissora etapa no desenvolvimento da
pesquisa pr-histrica da Bahia. (Martn, 1999: 41-42)3
Se, por um lado, tem-se o enfraquecimento institucional da
arqueologia baiana, por outro, de maneira paralela, abre-se o
cenrio a atuao de arquelogos sem preparo tcnico/acadmico, que
aproveitaram o momento (dcada de 80) para fazer carreira
arqueolgica a custa do bem comum da nao. Neste momento ocorreram
salvamentos arqueolgicos que, indubitavelmente, traduziram-se em
notcias fortuitas da existncia de stios e materiais arqueolgicos,
ao invs da construo de conhecimento, seja pela pouca percia no
levantamento, reconhecimento e registro de dados arqueolgicos ou
mesmo no mau acondicionamento e falta de estudo dos materiais. Aos
profissionais que executaram estes salvamentos, valia mais o extico
status de arquelogo e dos proventos que isto poderia trazer, do que
a responsabilidade social da atividade. Destes trabalhos nenhuma
publicao slida, nenhum relatrio tcnico e/ou cientfico e nenhum dos
materiais podem ser encontrados (ou, quando so encontrados, esto
mal feitos, descontextualizados e/ou mal acondicionados), muito
menos esto disponibilizados.
Com este cenrio traado, fica marcado a existncia de um problema
grave de carter tcnico a boa parte das pesquisas arqueolgicas
realizadas na Bahia, entre 1950 e 1990: a falta de registro dos
dados. Desta maneira, na atualidade, dispomos de poucas informaes
que nos permitam retornar ao documento arqueolgico in situ. com
este panorama flagrado que apresentamos nosso trabalho. Trata-se
dos resultados de um levantamento de dados ao acervo iconogrfico
das colees arqueolgicas do Museu de Arqueologia e Etnologia da
Universidade Federal da Bahia (MAE/UFBA): Carlos Ott, Valentn
Caldern e AAPHB (Sobradinho e Itaparica). Nosso objetivo
disponibilizar a comunidade cientfica as informaes sistematizadas
sobre representao rupestre no estado da Bahia, a fim de oferecer
dados daquilo que j foi pesquisado e que no se encontra
publicado.
2 O Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade Federal da
Bahia foi fundado em 1983. Inicialmente idealizado por
Valentin Caldern (que no pode ver seu ideal concretizado, haja
vista seu falecimento em 1980), o museu foi, de fato, fundado pelos
Professores Antnio Rios, Maria Clia Teixeira e Pedro Agostinho.3 Na
atualidade o MAE/UFBA est sob a direo de Carlos Caroso, professor
do departamento de Antropologia da UFBA.
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2- As representaes rupestres nos anos 50: as pesquisas de Carlos
OttO mdico alemo Carlos Ott4 teve atuao na arqueologia baiana entre
os anos 40 e 60 do
sculo XX. Efetivamente, no se trata de pessoa com formao estrita
voltada a arqueologia, mas, de um arquelogo amador, que utilizava
seu tempo livre para realizar pesquisas. Apesar deste vis pouco
cientfico, seus trabalhos redundaram em dois livros: Vestgios de
cultura indgena no serto da Bahia, de 1945, e Pr-histria da Bahia,
de 1958.
Nestes trabalhos, Ott apenas apresenta informaes referentes a
trs stios de representaes rupestres que, de to fortuito e vago,
quase no auxiliam a pesquisa, como pode se ver:
- John Casper Branner teria descoberto pinturas na Serra do
Mulato a 60km ao sudoeste de Juazeiro (1910). Contudo, Carlos Ott
no visitou o stio;
- Em Campo Formoso, Bahia, Ott visitou o stio Buraco d'gua, onde
realizou reprodues de painis do stio;
- Em Serrinha Carlos Ott ouviu falar de pinturas; neste municpio
passou alguns dias juntamente com Menandro Negreiros Falco. Neste
momento, visitou a Toca do Cachimbo em companhia de Leobino Ribeiro
em busca das pinturas. A caverna consistia de uma entrada baixa,
pela qual se rastejava cerca de 4m at uma bifurcao, de onde surgiam
dois sales altos (6-8m de altura) com cerca de 5m de comprimento.
Mas, apesar de todo esforo empenhado, Ott no achou pinturas no
stio, embora tivesse encontrado material cermico, inclusive
cachimbos.Na segunda publicao citada (1958), Carlos Ott re-enfatiza
o stio de Buraco dgua, dando
uma quantidade maior de dados, bem como de reprodues no
contextualizadas do stio e dos painis. Ademais, apenas informaes no
comprovadas de stios rupestres em Juazeiro e Serrinha.
FIGURA 1: Imagens do stio Buraco dgua, registradas por Carlos
Ott (1945), em Campo Formoso BA.
4 Embora tenha adotado o nome de Carlos Ott nas publicaes, seu
verdadeiro nome era Karl B. Ott.
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3- As representaes rupestres nos anos 60: as pesquisas de
Valentn CaldernA atuao do espanhol Valentin Rafael Simon Joaquim
Caldern de La Vara na arqueologia
baiana esteve concentrada nos anos 60; ligado a UFBA e associado
ao PRONAPA5, durante este perodo realizou inmeros levantamentos,
prospeces e escavaes em stios pr-coloniais do interior. Nos anos
70, farto da precariedade em que se encontrava a arqueologia no
estado e das condies de trabalho na Universidade, voltou-se aos
estudos de arte sacra, quando dirigiu o Museu de Arte Sacra da
UFBA. Nestes ltimos dez anos de sua atividade, at o seu falecimento
em 1980, sua contribuio arqueologia foi, em maior parte, de carter
burocrtico, resumindo-se a escavao do subsolo do antigo Colgio dos
Jesutas em Salvador (hoje, parte da rea do MAE), a coordenao
distante do Projeto Sobradinho de Salvamento Arqueolgico em 1976-7
(no qual, pouco atuou), ao cargo de delegado regional do IPHAN para
assuntos arqueolgicos e a idealizao e negociao para a fundao do
MAE/UFBA, alm de algumas poucas publicaes6.
A contribuio de Valentin Caldern a arqueologia baiana no
pequena. Podemos dizer que foi ele quem efetivamente assentou as
bases para o desenvolvimento da arqueologia cientfica no estado; at
hoje, quarenta anos depois, seus trabalhos so referncias aos
estudos das populaes pr-coloniais do Nordeste. Muitas das
classificaes de Tradies Arqueolgicas de cermica, de representao
rupestre e de ltico devem-se aos estudos de Caldern; algumas, por
exemplo, ainda so muito utilizadas, como a tradio ltica Itaparica e
a tradio cermica Aratu. Na reserva tcnica e arquivo do MAE a
quantidade de documentos e materiais arqueolgicos de seus trabalhos
imensa. Por este motivo e frente ao que conhecemos das publicaes de
Caldern, aderimos observao de Gabriela Martn:
A obra publicada por Caldern pequena, se levarmos em conta suas
atividades de campo e hoje a perda da identidade e da fil iao de
muitos dos materiais arqueolgicos, produto de suas numerosas
prospeces e escavaes, representam um prejuzo irreparvel para a
arqueologia do Nordeste. (Martn, 1999: 41)
No que se refere s representaes rupestres, apesar de sua
classificao inicial dos stios atravs daquilo que chamou de tradio
realista7 (posteriormente tradio naturalista8) e de tradio
simbolista9 para as reas da Chapada Diamantina e do Planalto, suas
publicaes pouco
5 Programa Nacional de Pesquisas Arqueolgicas, idealizado e
financiado pelo Smithsonian Institution, sob a coordenao
de Betty Meggers e Clifford Evans.6 Alm disto, de acordo com
informaes de Antnio Matias, restaurador do MAE que atuou com
Caldern de 1966 a
1980, mesmo estando na direo do Museu de Arte Sacra da UFBA
Valentin Caldern disps duas salas desta instituio para
armazenamento dos materiais arqueolgicos resultantes das pesquisas
ocorridas na dcada de 60, quando igualmente destinava dois dias da
semana (segundas e quartas) para trabalhos com os materiais
arqueolgicos. Tais atividades laboratoriais eram realizadas com a
coordenao de Caldern.7 O exame de uma srie de pictografias nas
quais bem visvel a inteno de reproduzir homens, animais e plantas,
com
o mximo rigor permitido pela habilidade tcnica de seus autores,
levou a identificao de uma forma de expresso artstica que por sua
difuso espacial e, provavelmente, temporal, suas caractersticas de
fidelidade aos modelos que se tentaram copiar, denominamos de
Tradio Realista, cuja extenso geogrfica parece ultrapassar os
limites do Estado (Caldern, 1983 [1967]: 14). Acreditamos que esta
tradio refira-se a atual Tradio Nordeste. Aqui, valer uma ressalva:
de acordo com Gabriela Martn, Caldern o primeiro a aplicar o termo
tradio para as representaes rupestres (1999: 240). Assim sendo,
tradio para Caldern significava o (...) conjunto de caractersticas
que se refletem em diferentes stios ou regies, associados de
maneira similar, atribuindo cada uma delas ao complexo cultural de
grupos tnicos diferentes que as transmitiram e difundiram,
gradualmente modificados, atravs do tempo e do espao (Caldern, 1983
[1967]: 13).8 Esta tradio, estudada pela primeira vez no norte da
Chapada Diamantina (...) se caracteriza pelos esforos
realizados em todas as suas fases para reproduzir figuras
antropomorfas ou zoomorfas com a maior fidelidade, permitindo
identificar, facilmente, as aes que esto realizando (Caldern, 1983
[1971]: 30).9 Esta a mais abundante e espalhada por todo o Pas.
Geomtrica ou grosseiramente figurativa, deve corresponder a
povos marginais, com cultura muito primitiva. Encontramo-la na
Caverna do Bode, na Serra Solta, no Rio So Francisco
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expressam da quantidade de stios rupestres que registrou, pois,
apenas trabalham com snteses. Nos arquivos do MAE, pudemos levantar
informaes de 55 stios dentre os quais 50 na Bahia, 2 em Pernambuco,
1 em Minas Gerais, 1 em Gois e um sem estado definido , que
passamos a apresentar os dados preliminares:
Stios rupestres levantados por Valentin Caldern10
Stio Municpio UF Vestgio Data Observaes01 Serrote (BA-FN-02 e
BA-11) Cura BA Pinturas --- ---02 Gruta do Bode (BA-CS-07 e BA-22)
Ituau BA Pinturas 22/05/1967 ---03 Lagoa (BA-CS-[08 ou 04?] e
BA-23) Ituau BA Pinturas 23/05/1967 ---04 Cachoeira (BA-CS-09 e
BA-24) Ituau BA Pinturas 23/05/1967 ---05 Gruta de Mandiau
(BA-RS-02 e BA-33) Serra Solta BA Pinturas, ltico
e cermica 26/05/1967 ---
06 Gruta do Morro das Porteiras (BA-RC-07 e BA-36)
Santana dos Brejos BA Pinturas 26/05/1967 ---
07 Morro Pintado n 1 (BA-RC-11 e BA-40) Coribe BA Pinturas
26/05/1967 ---08 Morro Pintado n 2 (BA-RC-12 e BA-41) Coribe BA
Pinturas 26/05/1967 ---09 Abrigo da Pedreira das Lajes
(BA-CN-06
e BA-42) Morro do Chapu BA Pinturas 26/05/1967 ---10 Boqueiro do
Brejo (BA-CN-07 e BA-43) Morro do Chapu BA Pinturas 26/05/1967
---11 Serra das Lajes n 1 (BA-CN-08 e BA-44) Morro do Chapu BA
Pinturas 26/05/1967 ---12 Serra das Lajes n 2 (BA-CN-09 e BA-45)
Morro do Chapu BA Pinturas 26/05/1967 ---13 Serra das Lajes n 3
(BA-CN-10 e BA-46) Morro do Chapu BA Pinturas 26/05/1967 ---14
Serra da Lagoa da Velha (BA-CN-11 e BA-47) Morro do Chapu BA
Pinturas 26/05/1967 ---15 Toca do Pintado (BA-CN-12 e BA-48) Morro
do Chapu BA Pinturas 25/05/1967 ---16 Abrigo da Estrada (BA-CN-13 e
BA-49) Morro do Chapu BA Pinturas 26/05/1967 ---17 Abrigo da
Cachoeira do Regato (BA-CN-14 e BA-50) Morro do Chapu BA Pinturas
26/05/1967 ---18 Fazenda Jaboticaba (BA-CN-15 e BA-51) Morro do
Chapu BA Pinturas 26/05/1967 ---19 Abrigo do Manelo (BA-CN-21 e
BA-57) Morro do Chapu BA Pinturas 28/05/1967 ---20 Encontro dos
Rios (BA-CN-28 e BA-64) Morro do Chapu BA Pinturas 28/05/1967 ---21
Poo da Quarana (BA-CN-29 e BA-65) Morro do Chapu BA Pinturas
28/05/1967 ---22 Itacoatiara (BA-FC-01 e BA-68) Xique-Xique BA
Pinturas 28/05/1967 ---23 Beira da Serra de Guin (BA-CS-13) Mucug
BA Pinturas --- ---24 Cidade Abandonada Sincra BA Pinturas --- Sem
sigla
25 2 Zona So Francisco Cura BAPinturas, cermica, sseo e
miangas
--- Sem sigla
26 Gruta dos Vcios Ibiquera BA Pinturas 1964 Sem sigla27 Gruta
de Lagedinho --- BA Pinturas 1964 Sem sigla28 Gruta de Joo Corra
Mucug BA Pinturas 1964 Sem sigla29 Gruta do Luizinho Ituau BA
Pinturas 1964 Sem sigla30 Gruta da Ricarda Ituau BA Pinturas 1964
Sem sigla31 Gruta do Morcego Ituau BA Pinturas 1964 Sem sigla32
Gruta da Mesquita Ituau BA Pinturas 1964 Sem sigla33 Gruta do Urubu
Ituau BA --- 1964 Sem sigla
(Cura e Petrolina) e em diversos pontos da Chapada,
especialmente nos sops desta, perto da estrada que vai de Irec ao
Morro do Chapu. So sempre motivos isolados sem correlao aparente.
Superpem-se e misturam-se sem conservar nenhuma harmonia, variando
bastante quanto forma. Podem ser simples crculos ou espirais, assim
como complicados desenhos lineares altamente elaborados como os que
se podem ver na Serra Solta. (Caldern, 1983 [1967]: 15-16).10
Nos arquivos do MAE no existem coordenadas geogrficas para os
stios de Caldern, ao mesmo passo que muitos registros carecem de
informaes bsicas que permitam retornar seguramente ao stio.
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34 Gruta do Tup Ituau BA Pinturas 1964 Sem sigla35 Gruta da
Mangabeira Ituau BA --- 1964 Sem sigla36 Gruta do Morro do Urubu
Ituau BA --- 1964 Sem sigla37 Gruta de Arrasta Saco Ituau BA ---
1964 Sem sigla38 Gruta do Morro da Cal Ituau BA Pinturas 1964 Sem
sigla39 Gruta do Candeias Ituau BA Pinturas 1964 Sem sigla40 Gruta
da Cabocla Ituau (Paiol) BA Pinturas 1964 Sem sigla41 Incries das
Cunhambebas Ituau BA --- 1964 Sem sigla42 Inscries do buraco Ituau
BA --- 1964 Sem sigla43 Inscrio da gua preta Ituau BA --- 1964 Sem
sigla44 Inscries das Moendas Ituau BA --- 1964 Sem sigla45 Inscries
das Cidades Abandonadas Serra do Sincor BA --- 1964 Sem sigla46
Inscries da Bucaina Ituau (Bicudo) BA --- 1964 Sem sigla47 Inscries
de Passagem Grande Ituau BA --- 1964 Sem sigla48 Inscrio do Morro
do Ouro Barra da Estiva BA --- 1964 Sem sigla49 Inscrio da
Cachoeirinha Ituau BA --- 1964 Sem sigla50 Riacho de gua Preta
Ituau BA Pinturas 1964 Sem sigla51 Gruta do Camoca Paiol --- ---
--- Sem sigla52 Pedra Escrivida (PE-1) Petrolina PE Pinturas e
ltico --- ---53 Pedra dos Letreiros (PE-6) Ilha da Assuno PE
Pinturas --- Cabrobr54 Inscries Gualujhas (?) MG Pinturas --- Sem
sigla55 Gruta da Pedra (GO-1) Formosa GO Pinturas, carvo
e ltico 9/8/1966 ---
Fonte: MAE/UFBA
FIGURA 2: Aspecto geral da Serra da Lagoa da Velha, em Morro do
Chapu - BA, rea que d nome ao complexo de abrigos registrados por
Valentin Caldern em 1967. Foto: Fabiana Comerlato, 2005.
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FIGURA 3: Viso lateral de um dos abrigos da Serra da Lagoa da
Velha, Morro do Chapu - BA. Foto: Fabiana Comerlato, 2005.
FIGURA 4: Exemplo de suporte rochoso aproveitado com friso de
veados enfileirados, na Serra da Lagoa da Velha, Morro do Chapu -
BA. Foto: Fabiana Comerlato, 2005.
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FIGURA 5: Vista de um painel com sobreposies, da Serra da Lagoa
da Velha, Morro do Chapu - BA. Foto: Fabiana Comerlato, 2005.
FIGURA 6: Detalhe de um painel com sobreposies, na Serra da
Lagoa da Velha, Morro do Chapu - BA. Foto: Fabiana Comerlato,
2005.
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FIGURA 7: Detalhe de um painel com motivos em amarelo, na Serra
da Lagoa da Velha, Morro do Chapu - BA. Foto: Fabiana Comerlato,
2005.
FIGURA 8: Detalhe de um painel com sobreposies, na Serra da
Lagoa da Velha, Morro do Chapu - BA. Foto: Fabiana Comerlato,
2005.
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4- As representaes rupestres nos anos 70: as pesquisas na
barragem de Sobradinho
Trata-se do Projeto Sobradinho de Salvamento Arqueolgico,
financiado pela Companhia Hidreltrica do So Francisco (CHESF),
realizado na rea da cota de inundao do lago da barragem de
Sobradinho, quando de sua construo no Vale do So Francisco, na
Bahia 11. Embora este salvamento seja integralmente atribudo a
Caldern, cujo relatrio publicado leva o seu nome (Caldern et alli,
1977), de fato, as atividades de campo pouco tiveram a sua
participao. Neste salvamento coube a Caldern a coordenao distante
do projeto12, viabilizado em funo da sua notoriedade como
cientista13. Desta maneira, a execuo e responsabilidade direta das
atividades ficaram a cabo de Yara Atade e Ivan Drea, discpulos de
Caldern (Martn, 1999: 42).
A rea do lago da barragem de Sobradinho tem, em linha reta,
cerca de 300km de extenso, onde apenas se identificaram 28 stios,
nos quais foram feitas prospeces, pequenas sondagens e coletas de
materiais. Do universo artefatual resgatado, sobressaem-se piles,
mos-de-pilo e cermicas. No relatrio publicado, no existe nenhuma
datao ou estudo dos materiais, apenas listagens preliminares.
Dentre os stios observados, 8 so de representao rupestre, como
aparecem nos dados sumarizados no relatrio publicado. Todavia,
pode-se encontrar maiores informaes nos arquivos do MAE. So os
stios:
Stios rupestres levantados no salvamento arqueolgico da barragem
de Sobradinho14
Stio Municpio UF Vestgio Data Observaes
01 Pimenta (BA-SF-105) Casa Nova BA Pinturas e pilo de pedra
17/04/1976 ---
02 Lagoas Novas (BA-SF-106) Casa Nova BA Cermico, ltico e
pinturas 24/04/1976 ---
03 Encaibro ou Incaibro (BA-SF-107) Sento S BA Pinturas
12/04/1976 ---04 Pedra Branca (BA-SF-116) Casa Nova BA Pinturas
19/07/1976 ---
05 Calumbi (BA-SF-119) Sento S BALtico, cermico, piles e
pinturas
26/07/1976 ---
06 Serra do Tabuleiro Alto (BA-SF-121) Caju BA Pinturas e
gravuras 05/08/1976 ---07 Serra do So Gonalo (BA-SF-122) So Gonalo
BA Pinturas 02/08/1976 ---08 Brejo de Dentro (BA-SF-128) Sento S BA
Pinturas 19/01/1977 ---
Fonte: MAE/UFBA
11 Os trabalhos abrangeram os municpios de Casa Nova, Caju, Pilo
Arcado, Remanso, Sento S e Sobradinho.
12 Isto porque, como foi dito, Caldern estava envolvido com as
atividades do Museu de Arte Sacra da UFBA, de onde era
Diretor e pesquisador ativo.13
Neste ponto torna-se indispensvel ressaltar que em 1976 Caldern
recebeu o grau de Comendador da Ordem do Mrito da Bahia, conferido
pelo Gro Mestre o Governador do estado da Bahia (Decreto de 01 de
julho de 1976), e no ano seguinte o grau de Oficial da Ordem de Rio
Branco, outorgado pelo Gro Mestre o Presidente da Repblica
Federativa do Brasil (Decreto de 06 de abril de 1977).14
Nos arquivos do MAE, no existem coordenadas geogrficas para os
stios de Sobradinho.
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FIGURA 9: Detalhe de um painel do Stio do Incaibro, Sento S BA.
Fonte: Caldern et alli, 1977: 53.
FIGURA 10: Detalhe de um painel do Stio do Taboleiro Alto, Caju
BA. Fonte: Caldern et alli, 1977: 60.
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FIGURA 11: Detalhe de um painel do Stio de So Gonalo, Sento S
BA. Fonte: Caldern et alli, 1977: 64.
FIGURA 12: Detalhe de um painel com sobreposies, na Serra da
Lagoa da Velha, Morro do Chapu - BA. Foto: Fabiana Comerlato,
2005.
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5- As representaes rupestres nos anos 80: as pesquisas na
barragem de ItaparicaRefere-se ao Projeto Itaparica de Salvamento
Arqueolgico realizado entre 1984 e 1987, que
cobriu a rea da cota de inundao do lago da barragem de
Itaparica, cerca de 100km em linha reta entre a Bahia e Pernambuco,
financiado pela CHESF. Tendo em vista o carter interestadual do
trabalho, sua execuo foi dividida entre duas equipes: os estudos na
margem pernambucana ficaram sob a responsabilidade da Universidade
Federal de Pernambuco, que tiveram a coordenao de Gabriela Martn; e
os estudos da margem baiana pela Universidade Federal da Bahia, sob
a coordenao de Pedro Agostinho.
Os trabalhos na margem baiana abrangeram os municpios de
Chorrcho, Glria e Rodelas, quando foram localizados pouco mais de
200 stios, dentre os quais 15 de representao rupestre, que foram
divididos em: 1) abrigo aberto; 2) afloramento rochoso a cu aberto,
na beira de um curso dgua; 3) afloramento rochoso a cu aberto,
isolado sobre vrzea. Alm dos abrigos, dentre o acervo resgatado
constam materiais lticos lascados, cermicos e alguns poucos
sepultamentos (Etchevarne 1992, 1995, 2002b). Embora atualmente
estejam submersos no lago da barragem, nos arquivos do MAE podem se
ver informaes sobre os seguintes stios rupestres15:
Stios rupestres levantados no salvamento arqueolgico da barragem
de ItaparicaStio Municpio UF Vestgio Data Observaes
01 Pedra do letreiro (BA-FN-5 e PSAI-1) Glria (Serra dos Negros)
BA Pinturas 17/04/1984 ---
02 Serra do Maroto (BA-FN-9 e PSAI-5) Glria (Salgado dos
Bencios) BA Pinturas 23/04/1984 ---
03 Ponta da Serra (BA-FN-10 e PSAI-6) Glria (Bode Assado) BA
Pinturas 24/04/1984 ---
04 Itacoatiara I (BA-FN-11 e PSAI-7)Rodelas (Riacho Itacoatiara,
Serra do Curral)
BA Cermico, ltico e gravuras --- ---
05 Itacoatiara III (BA-FN-13 e PSAI-9)Glria (Riacho Itacoatiara,
Serra do Curral)
BA Gravuras --- ---
06 Itacoatiara V (BA-FN-14 e PSAI-10) Rodelas (Itacoatiara)
BACermico e gravuras --- ---
07 Bebedouro das Pedras (BA-FN-17 e PSAI-13) Rodelas (Tapera) BA
Gravuras 21/01/1985 ---
08 Pedra da Moeda do Sr. Clarindo (BA-FN-18 e PSAI-14) Glria
(Penedo) BA Gravuras 21/01/1985 ---
09 Itacoatiara VII (BA-FN-24 e PSAI-20)Rodelas (Riacho
Itacoatiara) BA
Habitao com Gravuras --- ---
10 Go (BA-FN-37 e PSAI-33) Rodelas (Penedo) BA Gravuras ---
---11 Nossa Senhora de Ftima Santana BA Pinturas 14/07/1987 Sem
sigla
12 Pedra Escrita Santana BA Pinturas e cermica 27/07/1987 Sem
sigla
13 Pedra Escrevida Santana BA Pinturas 11/07/1987 Sem sigla14
Pedras do Chapu Lenis BA Pinturas --- Sem sigla15 Bella Vista ---
--- Pinturas 27/04/1990 ---
Fonte: MAE/UFBA
15 Aqui, indicamos veementemente a consulta tese de doutorado de
Carlos Etchevarne (1995), onde faz um minucioso e
sistemtico estudo dos padres de ocupao dos stios da margem
baiana da barragem de Itaparica.
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FIGURA 13: Stio Itacoatiara I, Rodelas (Serra do Curral) - BA.
Gravuras em bloco, encontradas em escavao arqueolgica. Fonte:
Etchevarne, 1995: 292.
FIGURA 14: Stio Pedra da Moeda. Gravuras em parede rochosa,
encontradas em Glria (Penedo) - BA. Fonte: Etchevarne, 1995:
293.
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FIGURA 15: Stio Bebedouro das Pedras. Gravuras em laje,
encontrados em Rodelas (Tapera) BA. Fonte: Etchevarne, 1995:
293.
6- O panorama atual dos estudos com representao rupestre na
BahiaTendo em vista as dimenses do estado da Bahia, poucos so os
estudos realizados com
representaes rupestres, de maneira a permitir construir perfis
grficos16 acerca dos grupos que ocuparam o estado.
Dentre os principais trabalhos realizados, no municpio de
Central e regies circunvizinhas no oeste baiano, uma equipe
coordenada por Maria Beltro, professora da Universidade Federal do
Rio de Janeiro e arqueloga do Museu Nacional, tem atuado desde 1984
de maneira quase contnua, realizando levantamentos e escavaes em
stios arqueolgicos. Seus estudos nos stios rupestres tm associado
os grafismos a eventos celestes (cometas, lua, sol e estrelas,
identificando calendrios lunares, etc.), vinculando-os
tematicamente quilo que chamou de Tradio astronmica, bem como
associando a confeco de algumas pinturas ao uso de substncias
alucingenas, mais especificamente quelas que chamou de Tradio
geomtrica (Beltro, 2000).
No sudoeste baiano e leste de Gois, Pedro Igncio Schmitz,
Diretor do Instituto Anchietano de Pesquisas da Universidade do
Vale dos Sinos, coordenou o Projeto Serra Geral, quando localizou,
prximo ao Rio So Francisco, 10 stios com pinturas rupestres que
filiou a Tradio So Francisco. Nestes stios, Schmitz realizou um
minucioso estudo dos painis, com desenhos sistemticos dos stios,
quando buscou associar as pinturas aos contextos arqueolgicos
escavados, relacionando-as aos suportes utilizados e s formas de
apropriao dos paredes rochosos (Schmitz et alli, 1997).
16 Segundo Anne Marie Pessis, o perfil grfico de cada stio
constitui os aspectos tecnolgicos, temticos e cenogrficos
(1993: 12). Aliado ao conceito de perfil grfico, Pessis prope o
de identidades grficas, que so (...) constitudas por um conjunto de
caractersticas que permitem atribuir um conjunto de grafismos a uma
determinada autoria social (Ib.: 12); Pessis complementa a idia ao
afirmar que as (...) identidades grficas (...) podero ser
estabelecidas a partir de um conjunto de stios nos que se dispe de
perfis grficos (...) (Ib.: 11). Por sua vez, de acordo com Raoni
Valle O perfil grfico expressa juntamente com as caractersticas das
formas (morfologias) as disposies espaciais destas formas
(caractersticas cenogrficas), as propriedades visveis das tcnicas
de execuo do gravado, a reconstituio das cadeias operacionais de
confeco, matria prima do suporte e reconstituies hipotticas
gestuais e instrumentais. O conjunto de padres grficos assinalados
no perfil de uma determinada rea arqueolgica caracteriza a
identidade grfica do acervo rupestre respectivo (2003: 7).
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Mais recentemente, no norte do estado, Celito Kestering,
professor do curso de arqueologia da Universidade Federal do Vale
do So Francisco e pesquisador da Fundao Museu do Homem Americano,
estudou 31 stios existentes no Boqueiro do Riacho de So Gonalo, no
municpio de Sento S, situado em parte do territrio que definiu como
rea arqueolgica de Sobradinho17 (2001, 2002, 2003a e 2003b). Seus
estudos tm buscado reconhecer os perfis grficos das representaes
rupestres da rea citada, a fim de possibilitar um ponto inicial a
comparao com perfis grficos reconhecidos em outras reas e, assim,
junto com evidncias arqueolgicas e geolgicas, tentar estabelecer
rotas de influncia grfica dos grupos pr-coloniais, bem como criar
condies identificao de provveis stios pleistocnicos.
Trabalhos de levantamento de stios rupestres no estado tm sido
realizados por Cludia Cunha Kachimareck, com os prprios recursos,
mas, com o apoio institucional do Laboratrio de Arqueologia e do
Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade Federal da Bahia,
oportunizando registrar inmeros stios em Morro de Chapu e Oliveira
dos Brejinhos, dentre outros municpios, alm de estudos pontuais
relativos as tradies rupestres recorrentes nos abrigos
(Kachimareck, 2002; Morales Jr e Kachimareck, 2004).
Por fim, no Laboratrio de Arqueologia da Faculdade de Filosofia
e Cincias Humanas daUniversidade Federal da Bahia, Carlos
Etchevarne tem buscado os meios para iniciar uma linha de pesquisa
com representaes rupestres. Neste panorama, tem realizado
levantamentos, pareceres e estudos nos municpios de Itaparica
(1995, 2002b), Juazeiro (1997), Morro do Chapu (2000a) e, em
especial, Iraquara (1998, 2002b), onde tem negociado com o poder
executivo municipal para criar um ncleo de pesquisa, ensino e
aproveitamento turstico na regio. No obstante os estudos
especficos, Etchevarne tm organizado seminrios acerca do tema18, a
fim de divulgar e agregar interessados na conservao e estudo dos
inmeros stios de pinturas e gravuras do estado. Alm disto, em 2001,
conseguiu expandir a linha de concentrao em antropologia do
Programa de Ps-Graduao em Cincias Sociais (de onde professor), que
passou a ser concentrao em antropologia/arqueologia, alm de
estreitar os vnculos com o Programa de Ps-Graduao em Arqueologia /
Conservao do Patrimnio da Universidade Federal de Pernambuco. Por
sua vez, num esforo conjunto e paralelo ao de Etchevarne,
particular interesse nos estudos com representaes rupestres tem
demonstrado a nova direo no MAE/UFBA, especificamente o Diretor
Carlos Caroso, que vem buscado viabilizar os recursos necessrios
para projetos que visem a produo de conhecimento acerca das
populaes pr-coloniais do estado, atravs de atividades de pesquisa,
ensino e extenso.
7- Consideraes finaisNosso intuito, ao apresentar os dados
obtidos na documentao primria do MAE/UFBA, de
animar um novo cenrio pesquisa com representao rupestre na
Bahia, seja em arqueologia, histria da arte, antropologia, etc.
Temos as fichas acerca dos stios noticiados19, com as devidas
referncias documentao primria; aliado a isto, todo interesse em
disponibilizar os dados obtidos. Num
17 A rea arqueolgica de Sobradinho abrange os municpios baianos
de Casa Nova, Caju, Pilo Arcado, Remanso, Sento
S e Sobradinho, no permetro que corresponde ao lago da barragem
de Sobradinho.18
I Seminrio de Arqueologia, ocorrido em 2001, no mbito da
FFCH/UFBA, tendo como palestrantes principais Denis Vialou e gueda
Vilhena Vialou, e o II Seminrio de Arqueologia, ocorrido em 2004,
no Museu Geolgico da Bahia, tendo como palestrantes principais Nide
Guidon, Anne Marie Pessis e Gabriela Martn. 19
At ento dispomos de dados de 78 (setenta e oito) stios, sendo:
55 (cinqenta e cinco) na coleo Valentin Caldern; 08 (oito) na coleo
AAPHB Sobradinho; e 15 (quinze) na coleo AAPHB Itaparica.
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panorama em que publicaes so poucas ou inexistentes, estas
informaes parecem ser as nicas vias ao retorno de parte daquilo que
foi pesquisado no estado20.
No pode se perder de vista que o Nordeste brasileiro tem
despontado com reas referenciais no estudo das representaes
rupestres (reas de enclaves arqueolgicos21), pelo longo tempo de
permanncia de grupos de pesquisa nas reas estudadas e conseqentes
acmulos de resultados sistemticos notadamente a rea do Parque
Nacional da Serra da Capivara no sudoeste do Piau (Pessis, 2003) e
do Serid nordestino, no Rio Grande do Norte e na Paraba (Martn,
2003: 11-32). Por sua vez, a Bahia, com mais de 70% de seu
territrio inserido no polgono das secas, divide o mais importante
recurso hdrico do Nordeste o rio So Francisco com seus respectivos
rios tributrios com os estados de Pernambuco, de Sergipe e de
Alagoas, estando, ainda, a menos de 50km da divisa com o Piau
(portanto, na depresso sanfranciscana), sendo, possivelmente, rea
de influncia mtua de grupos humanos que viveram nos diferentes
espaos destes territrios. Desta maneira, de sada, impe-se uma
sugestiva perspectiva pesquisa do Nordeste brasileiro, na qual
chamamos a ateno ao territrio baiano.
FIGURA 16: Municpios baianos em que foram localizados stios
rupestres entre 1950 e 1990.
20 Como comum em levantamentos documentais, os registros de
stios antigos apresentaram poucas informaes, se
comparados com os mais recente, nos quais o nmero de informaes
maior.21
A idia de enclave arqueolgico refere-se a (...) uma unidade
territorial com densa concentrao de vestgios arqueolgicos
indicadores da presena humana em diacronia contnua. Nestas reas,
escolhidas como unidades de estudos, considera-se a interao
homem-meio desde a pr-histria at os dias atuais. Uma rea de
pesquisa arqueolgica constitui tambm uma unidade territorial, com
importante quantidade de vestgios arqueolgicos, mas, para a qual,
no se dispe de dados suficientes que indiquem uma ocupao humana
contnua. As reas arqueolgicas representam o ponto de partida para
identificar enclaves nos quais se poder determinar a presena humana
contnua durante longos perodos de tempo (Guidon et alli, 1990:
125).
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8- AgradecimentosAgradeo a Aurea Tavares, a Cludia Cunha, a
Fabiana Comerlato e a Leandro Silva pelas
leituras, crticas e sugestes a este trabalho. Agradeo a Antnio
Matias pelos esclarecimentos concedidos acerca da atuao de Caldern.
A responsabilidade pelo contedo expresso restringe-se ao autor.
9- Referncias bibliogrficasBELTRO, Maria. Ensaio de arqueologia:
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