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ANVARIOf
AN~ROPOLOGICO / 81
Anurio Antropolgico/81 /por/ Roberto Cardoso deOliveira /e
outros/o Fortaleza, Edies UniversidadeFederal do Cear; R,io de
Janeiro, Tempo Brasileiro,1983.368 p.1 - AntropologiaI - Oliveira,
Roberto Cardoso de - dir.
cnu 572
EdiesUniversidade Federal do Cear
Fortaleza - Rio de Janeiro1983
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Casa e trabalho: nota sobre as relaes sociais na
plan-tradicional. Contraponto II (2), 1977.Lygia. Os Clandestinos e
os direitos. So Paulo, Duas Ci-1979.l\.NN,Sydel. The
community-nation mediator in traditional,1 Italy. In: POTTER; DIAZ;
FOSTER eds. Peasant Society.1: Little, Brown, 1967.
Sistemas polticos, de comunicao e articulaosocial no
Alto-Xingu
Nota Introdutria: a Etnologia da Regio do Alto-Xingu e oParaso
Xingara. 1
Muito mbora desde von den Steinen (1940, 1942) asquestes
interdependentes da articulao inter-scio-culturale do processo de
mudana-permanncia tenham se colocadocomo de crucial importncia para
a regio do Alto-Xingu -o que, certamente, tem sido referncia
obrigatr:a na sua li-teratura -, as mesmas nunca ali mereceram
sistemtica an-lise, seno a nvel exploratrio (conforme,
basicamente,Galvo 1953; Galvo e Simes 1966). Assim, se, por um
lado,a rego chegou a constituir uma das Etnologias mais copio-sas
do Brasil Indgena no que tange s monografias elabo-
1 o presente trabalho um ensaio prvio minha dissertao
dedoutoramento, baseando-se na dissertao de mestrado 0978a)e numa
srie de trabalhos posteriores 0978b, 1979a, 1979b).
Es-pecificamente, ele um desenvolvimento da comunicao 0978c)que eu
deveria ter apresentado ao Simpsio sobre o Alto-Xinguorganizado por
Gregor (Gregor, org. 1978) no Encontro de 1978da American
Anthropological Association. Dificuldades imensaspara o meu
reingresso na rea do Parque Indgena do Xingu ealguma quase
desesperana de que isto possa realmente ocorrer,em funo da
conjuntura poltica que ameaa a pax xinguensis, que, mais
imediatamente, me foraram a antecipar este traba-lho, que, de outra
maneira, demoraria muito mais a aparecer.Como se poder notar, o
ensaio tambm uma homenagem, umtanto infiel, a Edmund Leach (1976).
Agradeo a muitas pessoaspor contribuies diversas ao presente
esforo, sem, no entanto,por nada responsabiliz-Ias; especialmente
a: Lux Boelitz Vidal,minha orientadora, Amadeu Duarte Lanna, Renate
B. Viertler,Roberto Cardoso de Oliveira, David Maybury-Lewis,
Daniel Gross,Olympio Serra e Jos Marinho dos Santos Neto. .
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~-. Casa e trabalho: nota sobre as relaes sociais na plan-tation
tradicional. Contraponto II (2), 1977.
BIUAUD, Lygia. Os Clandestinos e os direitos. So Paulo, Duas
Ci-dades, 1979.
SILVERMANN, Sydel. The community-nation mediator in
traditionalcentral Italy. In: POTTER; DIAZ; FOSTER eds. Peasant
society.Boston: Little, Brown, 1967.
Sistemas polticos, de comunicao e articulaosocial no
Alto-Xingu
Nota Introdutria: a Etnologia da Regio do Alto-Xingu e oParaso
Xingara. 1
Muito mbora desde von den Steinen (1940, 1942) asquestes
interdependentes da articulao inter-scio-culturale do processo de
mudana-permanncia tenham se colocadocomo de crucial importncia para
a regio do Alto-Xingu -o que, certamente, tem sido referncia
obrigatr:a na sua li-teratura -, as mesmas nunca ali mereceram
sistemtica an-lise, seno a nvel exploratrio (conforme,
basicamente,Galvo 1953; Galvo e Simes 1966). Assim, se, por um
lado,a rego chegou a constituir uma das Etnologias mais copio-sas
do Brasil Indgena no que tange s monografias elabo-
1 o presente trabalho um ensaio prvio minha dissertao
dedoutoramento, baseando-se na dissertao de mestra do (1978a)e numa
srie de trabalhos posteriores (1978b, 1979a, 1979b).
Es-pecificamente, ele um desenvolvimento da comunicao (1978c)que eu
deveria ter apresentado ao Simpsio sobre o Alto-Xinguorganizado por
Gregor (Gregor, org. 1978) no Encontro de 1978da American
Anthropological Association. Dificuldades imensaspara o meu
reingresso na rea do Parque Indgena do Xingu ealguma quase
desesperana de que isto possa realmente ocorrer,em funo da
conjuntura poltica que ameaa a pax xinguensis, que, mais
imediatamente, me foraram a antecipar este traba-lho, que, de outra
maneira, demoraria muito mais a aparecer.Como se poder notar, o
ensaio tambm uma homenagem, umtanto infiel, a Edmund Leach (1976).
Agradeo a muitas pessoaspor contribuies diversas ao presente
esforo, sem, no entanto,por nada responsabiliz-Ias; especialmente
a: Lux Boelitz Vidal,minha orienta dora, Amadeu Duarte Lanna,
Renate B. Viertler,Roberto Cardoso de Oliveira, David
MaYbury-Lewis, DanielGross,Olympio Serra e Jos Marinho dos Santos
Neto.
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radas sobre os seus grupos tribais tomados individualmente,por
outro lado, seu estudo, enquanto "rea de contato", nuncapassou de
intcno.2
As razes dessa tendncia devem ser muitas e vrias, oque, por si
s, constri um interessante objeto de estudo, que
C\,\ no ser, no entanto, aqui ;ffifocado da maneira que
mere-ceria. Com relao a ele, contento-me, por ora, a apenas
le-vantar duas sugestes crticas, a primeira de ordem
terico-metodolgica, a segunda, poltico-ideolgica.3
A moderna Antropologia Scio-cultural- tomado o fun-cionalismo
como marco divisrio -, tentando exorcizar osfanta~mas da "histria
conjetural", acabou privilegiando, demaneIra quase exclusiva, a
abordagem a que se poderia cha-mar de sintpico-sincrnica. Tal
prtica antropolgica, tendoelaborado as noes de locus e presente
etnogrfcos, reifi-oou-as, o que tl'Ouxe grande nvel de
arbitrariedade defini-o do que venha a ser uma sociedade num dado
tempo e mi-nimizou ao extremo - chegando s vezes at a abandonar-a
problemtica das inter-relaes desses loca's e momentoscom os
per~!neI?-tesa outras sociedades e tempos. Assim, essaAntropologia
dIspensou-se de buscar entender as coisas s-cio-culturais de acordo
com sua natureza e essncia, que soP?r
e:cc.elncia,articulatrio-processuais, ou seja,
diatpico~dzacronr.,cas.4
No caso da regio do Alto-Xingu e exceo, no funda-mental, da obra
exploratrla de Galvo, do ensaio de Scha-
den (1969:61-101) e da tentativa recente coordenada porGregor
(1978), as abordagens acima citadas comportam-secomo tendncia
8bsolutamente exclusiva. Assim, no levan-do em conta, inclusive, a
vocao que seguramente propicioua mais forte contribuio brasileira
Antropologia - os es-tudos de contato -, a Etnologia da reg:o do
Alto-Xinguerigiu-se descurando sistematicamente as questes
articula-tria (intertribal e tnica) e processual. Sintomtico disto
a quase antinomizao que faz dos xinganos com relaoaos no xinganos,
dos xinganos e no-x'nganos com re-lao, respectivamente, a si mesmos
e, finalmente, dos xin-gilenses - ou seja, dos ndios da rea como um
todo - norelativo ao. mundo dos brancos. Enfim, tal Etnologia
desco-nheceu o contato e o processo enquanto objetos sistemticosde
estudo, como se o Alto-Xingu fosse, mesmo, uma espciede Paraso,
onde espao e tempo estivessem, portanto, entreparnteses! Cabe agora
a segunda sugesto crtica prometi-da, a de ordem poltico~ideolgica,
que, como se ver, corro-bora profundamente a primeira e
vice-versa.
Na cena poItico-ideolg;ca nacional brasileira relativaao ndio,
em princpio francamente articulada com a sua cor-respondente
internacional, o Alto-Xingu, ou, simplesmente,o Xingu -
especificamente, o Parque Nacional do Xingu,ou, como se qUEira,
ainda, o Parque Indgena do Xingu -desempenha um papel sui generis e
de altssima relevncia.Aqui, enquanto que a totalidade dos ndios
bras~leir's,fun-didos numa nica, remota e indivisa massa - que
exclui,exatamnte, os ndios do Xingu - se caracterizaria por sera
encarna0 do mal sauvage ou, residualmente, do "des-conhecido", os
do Parque Nacional do Xingu representariamos prottipos por
excelncia do bon sauvage. De um lado,portanto, estariam os ndios
feios, de outro, os bonitos, parausar uma agudssima representao
indgena da questo. Asevidncias da existnc1a deste sistema de
representaes -com as estruturas e organizaes polticas que lhes so
con-tnua - so muitas e de diversas ordens. Elas se espraiam,desde o
discurso>da inteLUgentzia - na msica, na literatu-
2 No sentido do reconhecimento da Etnologia da regio do
Alto--Xingu, a bibliografia aqui usada a que consta dos meus
tra-balhos referidos acima (nota 1). As intenes de que falo notexto
esto, via de regra, nas introdues, ou notas dos traba-lhos que
compem a dita literatura. '
3 A anlise desta tendncia da Etnologia em estudo ser
desen-volvida convenientemente na dissertao de doutoramento
refe-rida acima.
4 Sintopia (do Grego, syn, 'junto'; e topos, 'espao') e
diatopia(idem, dia, 'separado', 'atravs') so conceitos que crio
empare-lhadamente com os de sincronia e diacronia, respectivamente
opriJ?eiro .d~ndo a idia no-articulatria dos espaos, o
segundo,artlCulatona, naturalmente que do ponto de vista das
socie-dades humanas suas habitantes. Acredito que Leach (1976) -
doqual me dispenso de adotar as ilaes tericas sobre modelosconforme
as crticas de Pouillon (1972) - mostrou sUficiente~mente como a
abordagem sintpica frustrante, na tentativade reduo localidade do
conceito de sociedade, o que remontaa Radcliffe-Brown (1942), sua
proposta diatpica para o casoda Alta-Birmnia, sendo frtil na medida
em que relaes depoder que vo definir as unidades a se abordar, o
que encontrabase em NadeI (951) . Ao que parece, o critrio de
localidade como
distintivo de sociedade estaria ligado a uma postura
lingsticaestrita, enquanto que o enfoque semiolgico (conforme
Saussure,1967: 59-62) que subsidiaria a abordagem de ordem
poltica.Agradeo especialmente aos Profs. Daniel Gross e David
Maybury-Lewis por sugestes na direo do estudo
articulatrio-processualdo Alto-Xingu, ao ltimo, pelas idias sobre
as semelhanas entreos casos da Alta-Birmnia e Alto-Xingu,
naturalmente que ne-nnum dos dois tendo responsabilidade pelas
minhas prpriaselaboraes.
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ra, no cinema, etc. - at o do indigenismo, oficial ou
no,passando por representaes populares. 5
Acredito que a constituio da rea em estudo naquiloa que se
poderia chamar, ento, de Paraso Xingara, pol-tico-Ideologicamente
consistente com a postura terico-me-todolgica geral de sua
Etnologia, que via o Alto-Xingu comoo Paraso dos Irmos Villas-Boas
e dos "ndios Metforas deSi Mesmos" (Viveiros de Castro, 1979): o
Paraso Xingara,uma das mais importantes representaes idlicas com
queo aliengena, llrasileiro ou estrangeiro, vem longamente
senutrindo no sentido de reduzir sua culpa ante o esmagamen-to dos
ndios no Brasil, em particular, e das sociedades tribaisem todo o
mundo, de maneira geral; o Paraso Xingara,uma amostra do Brasil
pr-Cabralino, prstino (Serra, 1979),em plena poca da Barragem de
Tucuru! Isso tudo como seo machado de I:1etal no tivesse sua
presena ali marcadadesde fins do seulo pass.ado; como se a este no
se tivessemseguido violentssimas epidemias; como se aquilo a que se
po-deria chamar de pax xingensis no fosse exatamente oexerccio
discricionrio do poder governamental no interiorde um territrio
indgena; como se os xingenses nunca ti-vessem mantido relaes de
trabalho duradouras nos estabe-lecimentos agropecurios
circunvizinhos; como se, finalmen"te, no se tivessem tornado eles,
por excelncia, nos fornece-dores de matrja-prima ideolgica "Cultura
Brasileira". 6
O presente ensaio - como se disse, uma explorao pr-via a
trabalho de campo ainda a se realizar - muito embora
no deixe de reconhecer o alto valor da contribuio da Etno-logia
disponvel, assume uma direo de pesquisa de sentidooposto, sem
desconhecer os riscos de toda ordem aqui impli-cados, consciente da
advertncia de Althusser (1974: 159) deque no se obtem uma cincia
atravs da mera inverso deuma ideolog;a. Basicamente, proponho
recolocar a regio doAlto-Xingu na sua efetiva dimenso articulatria,
isto nosplanos intertribal e intertnico (regional e
nacional-inter-nacional), resultando o trabalho num exame diatpico
comcentro naquela rea, que, ento, representar um corte
sin-tpicO.Optando por esta posio no plano do espao,
desen-volver-se- a investigao, no mbito temporal, de
maneiraccnsistente, tomado o processo de mudana-permanncia darea
como o objeto de anlise; evidencia-se, desta forma, adiacronia da
perspectiva adotada atravs de diversos cortessincrnicos do
objeto.
O modelo do Alto-Xingu assim construdo est analiti-camente
definido mais adiante; para tanto, foram importan-tes .as noes de
cultura e sociedade, conforme Goodenough(1957:36) ~e Werner e
Fenton (1970, citado por Spradley,1972: 8). Desta maneira,
admite-se cultura (e, da, conheci-mento cultumn como coisa mental,
o conjunto de idias,crenas, sentimentos, etc., bsico para a ao
social (leia-secomportamento social) de uma sociedade.A partir
dessesdois conceitos complementares, a questo
articulatrio-pro-cessual a estudar se coloca no em termos de
congruncia -como parece ser o principal equvoco dos modelos
acultura-tivo, amerCano e de mudana social, ingls - mas, ao
con-trrio, de partilhamento e abrangncia scio-culturais, oque
significa um dimensionamento relacional da questo,agora sob a gide
da gradao. 7
Alm do mais, o uso dos dois conceitos assim adminis-trados no
modelo expresso pelo diagrama abaixo ter tam-bm a virtude de, sem
me obrigar a malabarismos de recons-tituio conjetural de identidade
tnica, propiciar a perfe1tasuperao de um das pontos crticos da
Etnologia da regio,qual seja, o de descartar, como j se d'sse, o
xingano dono-xingano e todos do "civilizado". Como se sabe, h
dois
5 A partir de 1978 (conforme Decrpto n.o 82.263. de 13 de
setem-bro: veja Brasil, lpis, decrptos, 1978), o Parque Nacional do
Xingupassa a ser denominado Indgena, como todos os outros, isto
parase caracterizar perfeitamente dentro da legislao
indigenistabrasileira. Observe-se que Parques Nacionais so
entidades ju-rdicas relativas legislao florestal. Popularmente, no
entanto.tal Parque conhecido simplesmente pela expresso Xingu.
EmBastos (1980) trato mais detalhadamente deste tema
poltico--ideolgico nacional referente ao Parque. Sobre este mesmo
tema,vide, tambm: Vidal (1978), Serra (1979) e Castro (1979).
Ascategorias de ndios feio e bonito fazem parte do sistema de
re-presentao sobre o assunto dos ndios Patax, do Estado da
Bahia(Pedro Agostinho, comunicao pessoal).
60 sufixo -ara, aqui usado, d a idia gentlica de lugar;
sendo,muito embora, de origem Tupi-Guarani, largamente usado
nalingua brasileira (conforme, por exemplo, marajoara,
potiguara,parauara etc.). Agradeo a Olympio Serra por esta sua
lpmbrana.Com pax xingensis refiro-me ao modo de articulao
inter-tribal imposto pelos Villas-Boas na rea. Quanto "Cultura
Bra-sileira", vide a elaborao de Mota (1977).
7 Sobre o modelo aculturativo americano (Redfipld et aI.
1936;Siegel et aI. 1954) e de mudana social ingls (Malinowski,
1938,1949; Wilson e Wilson, 1945), vie as crticas de Oliveira
(1972,1976), Barth (1968, 1970) e Balandier (1970). Com refernciaao
caso especfico do Alto-Xingu, veja-se a crtica de Dole (1978)sobre
a problemtica da homogeneidade e diversidade dos
gruposxinganos.
-
prlncipais modelos de abordagem da "sit~a~o xing~na":para usar
uma expresso de Cardoso de OlIveira (1976:31).um prime'ro, atravs
daquilo a qu~ cha:mode ,"~al~?arlSmOsde reconst~tuio conjectural de
Identidade etmc~ , pro:,u-rando estabelecer os grupos locais da
rea. do ulun (~alvao,1949, 1953, 1960) como as ,efetivas
categ?rla:~ de u~ sIstem~scio-cultural denominado sociedade
xmguana, VIsta aqUIcomo entidade apenas envolvente; e um
.se~?-ndo,que traba-lha s avessas do primeiro: sociedade xmguana_
como. cate-goria "realmente" operante, em que .as tribos 1sa?
e:r:tldadesmeramente virtuais, abstratas, atualIzadas
pr_orltarl~1?ent~enquanto fulcro de identidades tribais e,
portanto, sUJeitas amanipulao. Note-se que para esses dois mod~los
ta:r:to c:sno-xinganos como os "civilizados" so categonas
resldua~se remotas, inoperantes n~ sistema. Basso (1973) parece
segu.!Ta primeira das orientaoes, Menget (1977) a segu~da, naotendo
se colocado at agora um. modelo que efetIvame~teopere todo sistema
em sua ple~lltude. A presente pro?,?",t.asegue uma via alternativa,
incluSIve~e amplo res~aldo ~ml-co",8 ao menos xingano: h na
r~g~ao.do Alto-X'p-gu_CI?COtipos de categorias tn:cas ou
quasI-etmc~s e~ 0:r:'.eraao,J~to, conf'guradas em grupos:. ~r~pos
~?CalS,xmgu~nos, nao-xinganos, x'ngenses e "cIvIlJzados , q';le se
art_culam deacordo com uma escala de gEaus ~e :r:'artI~hamentoe
abran-gncia SC?o-cultura\S;~o sao, pOIS,IgUalS ou congruentes,ou,
ainda, meramente dIferentes.
PARAUMATEORIA DE MDIO ALCANCEDO ALTO-XINGU
As tribos indgenas habitantes da regio d?
Alto-Xin.C1.'l},articuladamente com relao sociedade naCIOnal
b!asl1eI-ra, .constituem, portanto, diversos sistemas de rela90es
so-ciais, diversas sociedades, no congrue~te~ en,tr.e SI e
co.mvrios graus de articulao e. ~b~angenc'a.
SAOCI?-cultu,raI,s.Isto se evidenc'a, entre outro~ crIterI?S, p~la
VIge!lC\a,naarea,de tipos dist'ntivos de relaoes de Identidade ~tn
coa.9.
No comeo da escala, esto todas as q:umze umdadesloca,js da
regio. 10Estas subsociedades se defmem, em todos
8 o respaldo "mico" de que falo no texto est f'xpresso j nomito
de origens (Agostinho, 1970; Basto~, 1978a,.58, nota 6).
9 Quanto noo de relaes de identzdade, vlde Goodenough(1969). . l
l .
10 Uso aqui intercambiadamente os .terrpos trzbo,. grupo oca,
um-ade local sem maiores generahzaoes, isto e, atento somenteao
caso do Alto-Xingu.
os domnios, pele grau de partilhamento mximo e de abran-gncia
mnimo. Elas se efetivam no plano das relaes deidentidade tnIca pelo
par de oposio: membro de tribo daregio do Alto-Xingu/membro de uma
mesma tribo da re-.rJio do Alto-Xingu. Para indicar toda e qualquer
das uni-dades referidas e per se, uso aqui o termo xingita.
O segundo grau da escala localiza a sociedade xinga-na, a
subsocierlade da rea do uluri, e se evidencia pelo parde oposio:
mClnbro de tribo da rea do uluri/membro detribo difcrente da rea do
uluri. Diminui, agora, o nvel de par-tilhamento, aumentando o de
abrangncia; os domnios lin-gstico e cerimonial, respectivamente,
explicitam tal fato demaneira especial.
Neste mesmo segundo grau da escala, estabelece-se asubsociedade
dos ndios no-xinganos, que chamo de x;~n-geses, mas que so chamados
na literatura corrente de"marginais" ou "intrusivos". O par de
oJ)Dsiocorrespondenteagora : membro de tribo do norte do
Parque/membro detribos diferentes do norte do Parque. Note-se como
esta sub-sociedade se ope - estando, portanto, no mesmo grau da
es-cala - xingana, e como as duas juntas conformam o quej chamei de
sociedade xingense, esta, por sua vez, oposta _mas do mesmo grau -
ao segmento nacional brasileiro da~rea. Observe-se como, aqui
tambm, diminui o grau de par-tIlhamento, aumentando o de
abrangncia, isto com relaoaos grupos locais de per se.Os principais
explicitadores do par.tilhamento e abrangncia so, respectivamente,
os domnioslingstico A geopoltico.
Em seguida, no terceiro grau da escala, coloca-se a so-ciedade
total, no plano indgena, da regio; aquela compreen-dida por todos
os habitanteF: indgenas do Alto-Xingu, a quechamo de xingense. A
relao tpica agora membro de triboda rea do uluri/membro de tribo do
norte do Parque. Comnyel de partlhamento mnimo e mximo de
abrangncia emtodos os domnios, este o grau final da escala em
termosIndgenas. Not.e-se que, exacerbada a abrangncia e
quaseanulado o partilhamento - mais uma vez todos os domniossendo
levados em conta -, que se coloca 00 confronto domundo indgena com
o dos brancos, uma sociedade intert-nica, tribal-nacional, que
chamo de xingara. Tal sociedadese caracteriza como um sistema de
articulao intertnicaassimtrica, cor.dorme Cardoso de Oliveira
(1976: 53-78).
O acima exposto pode ser representado pelo
seguintE'diagrama:
-
1>_nZtolC1Z>lllItI:I> ++ o ~ Z tol 2:_ > == t""' - ~
lllIt-J>." I
f\::a.~$ Yawmpit~ 1i tl
~ li) 8- ~2--~ Kalaplo g- ~ _ l!. ~~ ---- =.. ~_.~ ::~~~~~::
];i'
MatiP)/' //
qIAwit...=li) "C!::s K #,,::;~ amayura3'; ITroma 1~'llO 2 ~:
~I ;;;.~
~ [Txiko ~'~. ~
;[Yurun~ ~ g~=" Kayab ~~ "" __ Cil"",. ~ ~ .;8-
::s ~~ ~!\SUY~ !;'?5 Txukahame/
~ Krenakarore
Este diagrama, que representa um modelo articulatrioe, portanto,
necessariamente processual, tem seu ponto zero,como se v, nas
tribos xingitas, caracterizadas pela agluti-nao em grupos ou
unidades locais. Quanto a este pontozero, note-se duas questes
importantes: via de regra, todogrupo local da rea comporta, alm dos
membros do grupotnico que lhe d nome, indivduos de outras tribos,
extin-tas enquanto grupos locais ou em processo de extino,
ou,simplesmente, indivduos ali residentes por casamento ouasilo
poltico, neste ltimo caso, em funo de acusaO'defeitiaria na aldeia
de origem. Tal composiomista no pre-judica, no entanto, o critrio
da localidade como distintivode identidade tnica, mesmo nos casos
extremos, que seriam:os Nahukw-Matiphy, dois grupos Karib, por
questes, aoque parece, demogrficas, aglutinados numa s aldeia;
osYawalapit, antes dispersos por diversas outras aldeias,
masreagrupados pelos Villas-Boas em somente uma, com forts-sima
presena Kuikro; os Truma, reagrupados por Olym-pio Serra,
anteriormente residindo como trabalhadores nosPostos Ind-genas do
Parque. Os Txukahame, dentro aindadeste primeiro ponto,
representariam uma tendncia inversa,a da ciso. Atualmente, tm eles
duas aldeias - Kretire e Ja-rina -, que parece terem sido criadas
como resultado de dis-putas faccionais em funo da construo da
estrada BR-OSO.O fato de se ter aqui considerado os Txukahame como
com-pondo somente um grupo local meramente esquemtico,mesmo porque
tal opo no invalida o modelo.
Tudo isto se refere primeira questo do ponto zero dodiagrama. A
segunda diz respeito seqncia temporal dechegada das tribos indgenas
naquela rea. Ao que tudo indi-ca, isto comea com os xinganos Aruak,
seguidos dos Karib,somente depois ingressando os Tl~pi-Guarani e
Truma. Asevidncias quanto a esta seqncia so tanto
etno-histricasquanto arqueolgicas (Agostinho, 1970:466-469;
Galvo,1953:7-10; Galvo e Simes, 1965:14-19; e 8imes, 1967).
A.partir desses dois tipos de evidncias que considero sadiaa idia
de um ncleo proto-xingano, formado pelos xinga-nos Aruak e
Karib.
Quanto ao grau um da escala - onde se localizam os xin-ganos e
os noxinganos, estes ltimos aqui batizados, porcomodidade de
sntese, de xingeses -, observe-seque ambosos seus componentes so
categorias de identidade e perti-nncia genrica. Para cobrir tal
nvel de pertinncia (gen-rica) que aqui usei a expresso identidade
quase-tnica.Observe-se,no final, que a categoria xings,
eminentemente
-
aberta, o que no significa dizer no-vi~~nte. Seus ,c~it-rios
distintivos so, basicamente, geograflcos e polltIC?s.Note-se a este
respeito, que os xingeses se referem aos xm-ganos'como "os de
rios-acima", "os do sul", o que claramen-te configura Ema
distintividade geogrfica. Quanto ao planoda diferenciao poltica,
ela evidenciada fundamentalme:n-te pelas relaes com o mundo
dos~brancos, onde mecams-mos pantrIbRis so postos em aao para fazer
.fr~nte aomundo "externo". Tais mecanismos, "conselhos",
dlstmguemclaramente xinganos de xing~eses. 11. ..
O grau dois da escala localIza os xmguer:ses e sua cate-goria
oposta, os brasileiros. Quanto a estes, nao es~uda,do~noesquema,
obsp.rve-seque no somente as categonas etmcasso importantes como
tambm as de class~. .
O terceiro e ltimo ponto da escala eVIdenciao que cha-mei de
sociedade xingara, que globaliza todos os outros,sendo, assim, o
ndulo de articulao d~ modelo com a so-ciedade nacional brasileira
em termos, nao dos seus segmen-tos regionais, mas nacionais.
A parte do modelo acima exposta - que te~ o
estatutoclassificatrio de uma rvore - aborda especIfICamente
aquesto articulatria. Trato agora d? aspecto p~o~es~ua~.
Tomado o Alto-Xingu como area de refugw mdIgenaante o avanco da
fronteira nacional, rea est~ que com.ocorrer do tempo passou a
abrigar cada vez.maIS .grupos trl-bais, a direo que a situao d~
con~ato_mt~~nbal tomouem muitos domnios foi a da umforml~aao
.soclO-cultu~l, afim de que no ocorressem processos ~ISruptlVOS.Tal
umfor-mizao que configura a compreensao cu!tu:al de que falaGalvao
(1953: 10). Note-se que ~ssa tende:r:cIa - que naoest somente no
passado, mas atmge, tambem,. o presente eaponta para o futuro -
representa um .!oco crUCIaI.dopro~es-so de mudana-permanncia da
r~gla:o: o da ~l.n!luamza-o Tal foco que estabelece a tendencIa da
aqmsIao, pelosxingeses, de estruturas e ?rg~nizaes xinganas.
Note-seque aqui se admite que os xmgu~nos repres~nt8:~ a adapta-o
maximizadora na rea, o nucleo protoxmguano de 9-uefalei
anteriormente, desempenhando papel de extrema Im-
portancia. No plano intertribal, assim, o motor do processl a
sociedade xingana.
Em termos intertnicos, o processo vai se explicitar pel:tendncia
inversa, a da desxinganizao, que vai evidenciaa aquisio de
estruturas e organizaes brasileiras pelondios da rea como um todo.
Note-se que aqui se colocantanto as expresses regionais desta
sociedade - a FUNAlas agropecurias, a Fora Area Brasileira, os
turistas _quanto sua conexo nacional como um todo, inclusive
articulada ao plano internacional.
Note-se que a primeira tendncia, a da xinganizaono se coloca
aqui, em termos culturalistas, como respons'\Telpor uma igualizao
dos grupos tribais, como bem critic,'Dole (1978), mas, sim,
alternativamente, em termos de unitormizao. Isto significa que os
xingitas no se esto tornando iguais, mas, sim, ao permanecerem eles
mesmos, interagem entre si atravs de sistemas de comunicao
crucialmente adequados. Sobre isto, voltarei mais adiante.
Acreditoassim, que o processo, nesta sua tendncia intertribal
indgena, francamente adaptativo (Brady e Laughlin, 1978Laughlin e
Brady, 1978), inclusive ao ordenar politicamentEas mudanas em
termos de uma identidade quase-tnica in-dgena genrica, a xingense.
Mecanismos polticos pantri.bais atuam hoje no Alto'-Xingu como
esforo de eficcia ll(confronto com o mundo dos brancos. Quanto
xinganiza.o, note-se ainda que tais mecanismos tm provocado,
re.sidualmente, ameaas pax xinguensis, pelas disputas qUEtm
ocasionado. 12
Enquanto que a xinganizao seria, basicamente, urr.movimento
adaptativo, a desxinganizao traria no seu bojoessencialmente, a
disrupo, resultando em mudanas alta.mente desestrutur.adoras das
ordens poltica e econmicacom grandes impactos, inclusive, no plano
ideolgico. Ques.
11 A experincia dos "conselhos" de chefes e lide~es no
Alto-~iI1:~u,relativamente recente, formula claramente dOISblocos
(xmgua-nos e xingeses) que, reunidos, formam um conse~ho ~eral
darea. Acredito que a experincia do norte do Parque e maIS ?ensaa
este respeito, os xingano~ se c.ompo~tando um tanto dIfusa-mente na
perspectiva pantnbal, mCI?SlVe, ao ~';1e parece, comuma hegemonia
da aliana Kamayura-Yawalapltl.
12 A existncia de duas seqncias principais de mudanca no
Alto--Xingu (xinganizao e desxinganizao) no implica qUEoutras no
existam e que, assim, por exemplo, os xinganos nepossam adquirir
dos xingeses algumas estruturas e organiza-es. Reconhea-se, no
entanto, que essas outras seqncias, se-cundrias etc., so muito
menos comuns que as principais. DentrEas principais ameaas pax
xinguensis, as seguintes so bem vi-s1veis: oposio entre xinganos. e
xingeses com relao acmundo. dos brancos, sobretudo no que diz
respeito aquisio d~manufaturados; choques entre determinadas
alianas matrimo-niais (por exemplo, a Kamayur- Yawalapit com as de
outro~grupos xinganos); contradies entre lderes e chefes mono
blculturais no que respeita sociedade brasileira.
-
tes como a do abastecimento de bens manufaturados aosndios so
aqui de extrema relevncia, em vista da central~-zao poltica que os
Postos Indgenas exercem a este respeI-to e da resposta dos ndios,
em termos de sua produo debens para troca. Junqueira (1967, 1975)
trabalha este pontocom os Kamayur, esperando-se que seu estudo
poss~ con-tribuir para o conhecimento do problema em toda a
area.
Em termos processuais, portanto, a presente propostaevidencia
duas seqncias principais e de sentidos opostosvigentes na rea: a
xinganizao e a desxinganizao. 1':primeira , primordialmente,
adaptativa; a segunda tende aruptura, embora movimentos inversos
possam acontecer re-sidualmente.
Entendido o modelo proposto como se referindo ao modode
articulao e ao processo que organiza e estrutura a redede relaes
vigente na regio do Alto-Xingu, coloca-se agora,para finalizar, a
questo da pertinncia, nica ou mltipla,aos graus da escala
subentendidos pelo modelo dos indiv-duos e subsociedades da rea.
Acredito que tal questo, sebem encaminhada, poder efetivamente
apont.ar na direode uma teoria do Alto-Xingu, de mdio alcance, que
propi-cie sua compara(;o com outras reas. 13
O critrio scio-semiolgico,14 articulado com o polti-co,
absolutamente definitivo para essa questo. Isto na me-dida em que
as relaes sociais subentendidas tm vignciaexatamente atravs de
sistemas de comunicao, numa di-versidade de meios e canais.
Brevemente, o que j se podedizer quanto a isso, no que se refere ao
ponto zero da escala, que o critrio distintivo aqui o lingstico
local-tribal.Quanto ao ponto um, relativamente aos xinganos, o
funda-mental o sisterra cel'imonial intertribal. Como se sabe,
osxinganos falam lnguas basicamente ininteligveis entre sie o
polingismo incipiente, no havendo, por outro lado,no plano xingano
- lngua franca, indgena ou no. oritual, aqui, que trabalha como
linguagem franca. Ainda noponto um da escala, mas no que se refere
aos xingeses, ocritrio distintivo em termos scio-semiolgicos o
lings-tico; mas onde o portugus usado como lngua de contato. 15
13 Teoria de mdio alcance - em oposio de amplo - conformeMerton
(1964). Os conceitos em referncia correspondem, res-pectivamente, s
teorias especial e geral de Firth (1976).
14 Semiolgico de acordo com Saussure (1967:59-62),portanto,
semprivilegiamento lingstico.
15 Em outro trabalho (1978a:185-190),acredito que mostrei de
ma-neira suficiente que o ritual intertribal uma linguaj!em
franca
Os dois graus superiores da escala - 2 e 3 -, em termosde
sist~mas de comunicao, apresentam tambm a figu-ra da lmgua de
contato como fato relevante.. ~i~almente, cabe apontar que a
correlao do nvel se-
n:uol~glCo~ es~ecialmente no caso do ritual - com o pol-tico e
aqm cruclal. ~es,se sentido, os estudos de Dole (1964,1~66) quanto
aos Kmkuro - no que se refere, pois, aos xin-guanps - podem ser
generalizados para toda a rea do uluri.Com referncia aos xingeses,
os trabalhos de Seeger (1974,1~78) e Lea (1978, 1979) colocam
pontos de extrema relevn-CIa :r:ara ,a questo, a
-
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Estrutura social do Uaups
o objetivo deste trabalho apresentar um modelo coe,rente da
estrutura social dos povos Tukano orientais quevivem na: bacia do
Rio Uaups na Amaznia brasileira e co-lombiana.
Como ocorre com outms sistemas sociais da Amrica doSul no
andina, no Uaups no existem genealogias profun-das (Murphy 1979).
Entretanto, o sistema do Uaups diferede muitos sistemas
sul-americanos por ser altamente estru-turado, sendo a
unilinearidade um dos vrios princpios es-truturais integradores.
Embora os sistemas sociais dessa re-gio tenham sido chamados de
segmentrtos (vide, por exem-plo, Jackson ]974), o presente trabalho
pretende mostrar queesse termo no consegue caracterizar o sistema
de maneiraacurada, e que, alm do mais, ignora outros princpios
or-ganizatrios essenciais que fazem dele um sistema sui
generis.
A pesquisa de campo na qual se baseia o trabalho foi le-vada a
efeito entre 1978 e 1981 entre os Uanano do mdioUaups, em territrio
brasileiro. Entretanto, o foco no simplesmente a estrutura social
Uanano - embora ela for-hea exemplos que so bastante utilizados
como ilustra-es -, mas a estrutura social mais abrangente do
Uaups,da qual o".sUanano fazem parte.
Na primetra parte descreverei a estrutura social doUaups como um
sistema de grupos de descendncia verti-cais, exogmieos e ordenados
hierarquicamente e que soentrecrtados por classes matrimoniais, de
status horizontal,aqui chamadas "Classes de Gerao" (por razes que
ficaroclaras no decorrer do trabalho).