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Acheron, Caador Escuro
Sherrilyn Kenyon DDiissppoonniibbiilliizzaaoo:: SSaarraahh
GGoommeess RReevviissoo:: LLaarriiaannee
FFoorrmmaattaaoo//RReevviissoo FFiinnaall:: MMeellii
DDuummbblleeddoorree AArrttee//LLooggoo:: MMaarree
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GGrrcciiaa,, 77338822 AACC
Acheron sentiu uma presena em suas costas. Virou-se,
preparado para atacar, esperando encontrar outro Daimon em busca
de combate, mas no havia nenhum. Em seu lugar, encontrou a Simi
pendurada de cabea para baixo em uma rvore, com suas asas de
morcego cor vinho pregadas ao redor do pequeno corpo. Vestia uma
tnica solta e um manto que a brisa noturna agitava brandamente.
Seus olhos de cor vermelho sangue lanavam brilhos espectrais na
escurido, enquanto a larga e escura trana se balanava desde sua
cabea at o cho.
Acheron relaxou e colocou de novo sua espada sobre a grama mida,
observando-o com ateno.
Onde estiveste, Simi? perguntou com brutalidade. Levava mais de
meia hora chamando o demnio Caronte.
OH, me balanando por a, akri! Respondeu-lhe, sorrindo enquanto
se balanava na rvore Akri sentiu minha falta?
Lanou um suspiro. Gostava muito de Simi, mas desejava ter a um
demnio muito mais amadurecido como companhia. Ningum, nem mesmo
tendo ainda trs mil anos de idade, entendia o funcionamento de um
pequeno demnio de cinco anos.
Entregaste minha mensagem? perguntou-lhe. Sim, akri - respondeu
ela, referindo-se a ele com o trmino
usado na lngua dos Atlantes para designar ao amo e senhor O
entreguei tal e como me ordenou, akri.
Acheron sentiu que a pele da nuca lhe arrepiava. Algo no tom do
Simi no lhe agradava.
O que tem feito Simi? Simi no fez nada, akri. Mas Esperou
enquanto o pequeno demnio olhava nervoso, a seu
redor. Mas? interrompeu-o. Simi sentiu fome enquanto voltava. O
terror o deixou gelado. Comeu algum desta vez? No foi um humano,
akri. Era algo com chifres na cabea
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como meus. Realmente havia um monto deles. Todos com chifres e
fazendo um som estranho, algo assim como: muuu, muuu.
Refere s vacas? Alimentou-se do gado? Isso, akri. Alimentei-me
do gado. No mal ento No, de fato muito bom, akri. Por que no me
disse nada
sobre as vacas? Assadas esto muito saborosas. Gostei muito. E do
que se preocupa ento? Porque esse homem to alto que tem um s olho,
saiu de
uma caverna gritando. Disse que Simi era muito malvado por ter
comido as vacas e que teria que pagar por isso. O que significa
isso, akri? O que pagar? Simi no sabe o que pagar.
Acheron desejou poder dizer o mesmo. Esse homem to alto, era um
ciclope? O que um ciclope? Um filho do Poseidon. Ah, j entendo!
Isso foi o que disse. Mas no tinha chifres,
s uma enorme e calva cabea. Acheron no estava interessado em
discutir sobre a enorme
cabea do ciclope com seu demnio. O que precisava era saber a
forma de consertar o desastre que sempre causava a voracidade do
pequeno.
O que foi o que te disse o ciclope? Que estava muito zangado
comigo por ter comido o gado.
Disse que as vacas com chifres pertenciam ao Poseidon. Quem
Posseidon, akri?
Um Deus grego. OH, j entendo! Simi no est com problemas. S
tenho
que matar ao Deus grego e acabar bem. No pode matar a um Deus
grego, Simi. No permitido. L vai outra vez, akri, sempre me dizendo
no. No coma
isso, Simi. No mate aquilo, Simi. V ao Katoteros, Simi e espera
que te chame - cruzando os braos sobre o peito lhe olhou com o
cenho franzido. Eu no gosto que me digam que no, akri.
Acheron fez uma careta diante a dor que comeava a sentir na
parte inferior da cabea. Desejava que lhe dessem um louro
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(papagaio) em seu 20 aniversrio. Este demnio Caronte ia lhe
custa vida, novamente
E para que chamava Simi, akri? Quero que me ajude com os
Daimons. Ela relaxou-se e voltou a balanar-se no ramo. No parece
necessitar nenhum tipo de ajuda, akri. Simi
acredita que j o faz bastante bem sozinho. Eu gostei em especial
aquela vez que fez um Daimon dar uma volta no ar antes de acabar
com ele. Foi muito bonito. No sabia que quando explodissem causavam
tantas cores.
Desceu dando uma cambalhota, e colocou-se ao lado de Acheron
Aonde vamos agora, akri? Me levar outra vez a um lugar gelado?
Eu gostei do ltimo lugar onde estivemos. A montanha era muito
formosa.
Acheron deteve-se ao escutar o chamado da Artemisa e exasperado,
deixou escapar outro enorme suspiro. Estava a ignorando por dois
mil anos. E ainda assim, persistia em suas chamadas. Houve um tempo
em que ela o procurava utilizando sua forma carnal, mas Acheron
tinha a impedido de seguir utilizando aquela habilidade. Mas, no
pde fazer o mesmo com o vnculo teleptico.
Vem Simi - disse ao pequeno demnio, comeando assim, viagem que
lhe levaria de volta ao Therakos. Os Daimons se estabeleceram ali
de forma permanente e estavam devorando aos pobres gregos de um
povoado prximo.
Acheron. Preciso de sua ajuda. Meus novos Caadores Escuros
necessitam um instrutor.
As palavras da Artemisa lhe paralisaram. Caadores Escuros? Que
demnios significava isso?
O que tem feito Artemisa? seu murmrio viajou no vento at seu
templo no Olimpo, onde ela estava.
Vm e falarei de tudo. Sua voz soou aliviada para ouvidos do
Acheron. Comeava a me perguntar se voltaria a escutar sua voz.
Acheron franziu os lbios. No tinha tempo para isto. Acheron?
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Ignorou-a. Mas ela no captou a indireta. No pode te ocupar
sozinho dos Daimons, sua ameaa cresce
muito rpido. Precisa de ajuda e eu lhe proporcionei isso. Achou
engraado imaginar Artemisa ajudando a algum.
Desde o comeo dos tempos a deusa grega jamais tinha feito nada
por ningum que no fosse ela mesma.
Me deixe em paz, Artemisa. Voc e eu terminamos. Tenho trabalho a
fazer, no disponho de tempo para isto.
Muito bem, os enviarei a lutar com os Daimons sem a preparao. Se
morrerem no importa, depois de tudo quem se preocupa com um humano?
Posso criar mais para que sigam lutando.
Um engano. E em seu interior, Acheron sabia assim. Provavelmente
a deusa criaria mais Caadores Escuros; se j os tinha criado,
definitivamente nada lhe impediria de fazer isso. Especialmente se
com isso o faria sentir culpado. Maldita Artemisa! Teria que ir de
novo ao seu templo. Embora, se lhe deixassem escolher, preferiria
que o matassem. Jogou um olhar a seu demnio.
Simi, preciso fazer uma visita a Artemisa. Retorne a Katoteros e
no se meta em confuses at que volte a lhe chamar o demnio fez uma
careta.
A Simi no gosta de Artemisa, akri. Eu gostaria que deixasse a
Simi mat-la. Simi quer lhe arrancar aquele comprido cabelo
vermelho.
Acheron entendia muito bem a seu demnio. Simi s tinha visto a
Artemisa em uma ocasio, quando ela era ainda mortal. E o encontro
tinha sido desastroso.
Sei Simi. Por isso quero que fique em Katoteros - lhe disse
enquanto se afastava. Voltou cabea para lhe dizer uma ltima coisa.
E pelo Acheron, faz o favor de no comer nada at que eu retorne. E
menos ainda se tratar de um humano.
Mas No, Simi. Nada de comida. No, Simi. Nada de comida - se
burlou ela. A Simi no
gosta disto, akri. Katoteros muito aborrecido. No h modo de
divertir-se. S gente velha que quer voltar para c. Ora!
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Simi - comeou com uma implcita advertncia na voz. Sou todo
ouvidos, akri. Escuto e obedeo. Mas, Simi no
disse que v obedecer tranqilamente Acheron moveu a cabea com
impotncia ante o incorrigvel demnio e se tele transportou da terra
at o templo da Artemisa no Olimpo.
Parou sobre a ponte de ouro que atravessava o rio. O som da gua
soava sobre ngreme montanha a seu redor. Tudo seguia igual depois
de dois mil anos. A rea da cpula estava cheia de resplandecentes
pontes e passeios. Uma nvoa cobria os caminhos que levavam para os
templos dos distintos deuses. As estadias do Olimpo eram opulentas
e excessivas. Moradas perfeitas para o ego dos deuses que as
habitavam.
O templo da Artemisa era feito de ouro, coroado por uma cpula e
com colunas de mrmore branco. Da sala do trono podia contemplar uma
arrebatadora vista do cu e do mundo que se estendia a seus ps. Ou
ao menos, assim lhe tinha parecido em sua juventude. Mas isso tudo
foi muito antes que o tempo e a experincia tivessem azedado sua
viso das coisas. J no existia nada espetacular nem formoso para
ele. Ao seu redor s via a vaidade, o egosmo e a frieza dos
habitantes do Olimpo.
Estes deuses novos eram muito diferentes daqueles com os que
Acheron tinha crescido. Todos os deuses de Atlantes, exceto um,
tinham sido sensveis. Neles havia amor, bondade e perdo. Em uma s
ocasio permitiram que o medo lhes guiasse; e o engano havia acabado
com suas vidas imortais e permitiu aos deuses Olmpicos
substitu-los. Um dia desgraado para os humanos, em mais de um
sentido.
Acheron se obrigou a cruzar a ponte que levava at o templo da
Artemisa. Dois mil anos atrs tinha abandonado este lugar jurando
que jamais retornaria. Deveria ter suposto que, cedo ou tarde, ela
faria com que voltasse. Interiormente se contraia pela ira. Usou
sua habilidade telecintica para abrir as gigantescas portas
douradas. Imediatamente, foi recebido por um algazarra de gritos
que ameaavam perfurar seus tmpanos. As donzelas de Artemisa no eram
acostumadas a homens nos domnios privados de sua deusa. A deusa
gritou ante o estridente som e fez desaparecer
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a todas. Mataste as oito? perguntou Acheron. Artemisa esfregou
os ouvidos. Isso deveria ter feito; mas no. Simplesmente as joguei
ao
rio. Muito surpreso Acheron a olhou fixamente. Isso era
imprprio da deusa que ele recordava. Possivelmente os ltimos
dois mil anos lhe tivessem ensinado a mostrar-se compassiva e
piedosa. Entretanto, a conhecia e isso era bastante improvvel.
Assim que ficaram sozinhos, Artemisa levantou-se do trono de
marfim rodeado de almofadas e se aproximou dele. Vestia um difano
peplo branco que se aderia a cada uma das curvas de seu voluptuoso
corpo. Seus cachos, de um vermelho profundo, lanavam brilhos sob a
luz. Os brilhantes olhos verdes davam uma clida bem-vinda. Seu
olhar o penetrou como uma lana ardente. Aguda. Dolorosa. Sabia de
antemo que voltar a v-la ia ser difcil. Isso tinha sido uma das
razes para ignorar suas chamadas. Mas saber e experimentar eram
duas coisas muito diferentes. No estava preparado absolutamente
para as emoes que lhe embargavam agora que voltava a v-la. O dio. A
traio. E o pior de tudo: o desejo. A fome. Uma parte dele ainda a
amava; desejava perdo-la. Tudo, inclusive sua morte.
Que bom aspecto tem Acheron. Possivelmente est ainda mais bonito
do que da ltima vez que nos vimos - disse estendendo um brao para
lhe tocar. Ele retrocedeu um passo.
No vim conversar, Artemisa. Eu Estava acostumado a me chamar
Artie. Estava acostumado a fazer muitas coisas que j no fao -
respondeu lhe dirigindo um duro olhar destinado a trazer para
sua memria tudo o que lhe tinha arrebatado.
Ainda est zangado comigo. nisso acredita? os olhos da deusa
ardiam com um fogo
esmeralda que lhe fez recordar o demnio que habitava no interior
do corpo divino.
Sabe perfeitamente que poderia ter obrigado voc vir. Fui muito
tolerante com sua atitude desafiante, mas do que devia.
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Acheron abriu o olhar, consciente de que dizia a verdade.
Artemisa controlava a fonte de alimentao que ele necessitava para
sobreviver. Se permanecia muito tempo sem comer, convertia-se em um
assassino incontrolvel. Um perigo para todo aquele que lhe
aproximasse. S Artemisa tinha a chave que o fazia manter-se cordato
e inteiro. Que o fazia ser misericordioso.
Por que no me obrigou a vir? perguntou-lhe. Porque te conheo. Se
o tivesse feito, faria com que ns
dois pagssemos as conseqncias. De novo estava no certa. Seus
dias de submisso ficavam
muito longe. Tinha tido suficiente durante sua infncia e sua
juventude. Uma vez provando o que eram a liberdade e o poder, havia
gostava muito para retornar ao que tinha sido sua existncia
anterior.
Me fale destes novos Caadores Escuros lhe disse Por que criaste
mais seres como eu?
J lhe disse isso. Precisa de ajuda. No preciso disso. Tanto eu
como o resto dos deuses creditamos que precisa. Artemisa -
pronunciou seu nome com um grunhido,
sabendo que ela mentia. Ele era muito capaz de controlar e matar
aos Daimons que se comiam os humanos Te juro que
Apertou os dentes ante a lembrana dos dias seguintes a sua
converso. No havia tido a ningum que mostrasse o caminho. Ningum
que explicasse o que precisava fazer. Como sobreviver. As regras
que ligavam a noite. Os novos Caadores estariam perdidos.
Confundidos. E o pior de tudo, seriam tremendamente vulnerveis at
que aprendessem a usar seus poderes. Maldita Artemisa!
Onde esto? Esperando no Falossos. Escondem-se em uma caverna
que
os protege do sol. Mas no esto seguros do que devem fazer nem de
como achar aos Daimons. Necessitam de um lder.
Acheron no queria faz-lo. No precisava guiar a ningum, do mesmo
modo que no queria estar sob as ordens de ningum. No queria
relacionamentos com outras pessoas. To nico tinha querido durante
toda sua vida era que lhe deixassem sozinho.
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Quando pensava em ensinar outros Gelava seu sangue. Era
tentadora a idia de seguir seu prprio caminho, mas sabia que no
podia faz-lo. Se no treinava os homens na arte da luta contra os
Daimons, acabariam mortos. E morrer sem alma era uma existncia
pouco agradvel. Ele, mais que qualquer outro mortal, podia
assegurar.
De acordo - disse. Os treinarei. Artemisa sorriu. Acheron saiu
disparado do templo,
retornando ao lugar onde esperava Simi para lhe dizer que
aguardasse um pouco mais. O demnio seria uma complicao extra a j
dificultosa misso. Quando se convence da obedincia de Simi, se tele
transportou ao Falossos. Encontrou trs homens juntos na escurido,
tal e como Artemisa havia dito. Falavam em voz baixa entre eles,
agrupados ao redor de uma pequena fogueira em busca de calor; o
resplendor das chamas irritava os olhos, que estavam lacrimejando.
J no eram olhos humanos e no suportavam o brilho procedente de
nenhuma fonte de luz. Tinha muito que ensinar. Aproximou-se deles,
surgindo das sombras.
Quem ? perguntou o mais alto dos trs logo que o viu. Sem dvida
era um Dorio. De cabelo comprido e negro, alto, de constituio
musculosa e ainda vestido com sua armadura de guerra, que
necessitava claramente ser recuperada.
Os outros dois homens eram gregos, ambos loiros e com armaduras
em estado similar a do primeiro. O mais jovem, tinha um buraco no
centro do peitilho ocasionado pela fmea de javali que tinha
acertado o corao. Estes homens no podiam sair e misturar-se com os
humanos vestidos assim. Precisavam cuidados e descanso. E instruo.
Acheron abaixou o capuz, deixando descansar sobre o manto negro e
olhou para cada um dos trs homens. Quando perceberam o brilho
prateado de seus olhos, todos eles empalideceram.
um deus? Perguntou o mais alto Nos falaram que os deuses nos
castigariam com a morte se nos apresentssemos diante deles.
-Sou Acheron Parthenopaeus - respondeu tranqilamente. Artemisa
me envia para lhes instruir.
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Sou Callabrax do Likonos - disse o mais alto. Assinalou ao homem
que se encontrava a sua direita; Kyros do Seklos - e por ltimo ao
mais jovem do grupo e Is da Groesia.
Is permaneceu um pouco mais atrs do que os outros dois, tinha os
olhos escuros e muito fundos. Acheron podia escutar os pensamentos
do homem com a mesma claridade que os seus prprios. A dor daquele
homem o assaltava e fazia que seu estmago se contrasse.
Quanto tempo faz que foram criados? perguntou-lhes. Umas quantas
semanas em meu caso - respondeu Kyros.
Callabrax assentiu com a cabea. No meu tambm. Acheron olhou a
Is. Faz dois dias - respondeu o interpelado com voz
inexpressiva. Ainda sofre os estragos da converso - comentou
Kyros.
Eu demorei quase uma semana antes de poder acostumar-me. Acheron
reprimiu a vontade de lanar uma risada amarga.
"Acostumar-se" era uma boa palavra para definir Matastes j algum
Daimon? perguntou de novo. Tentamos - respondeu Callabrax, mas
muito diferente
de matar soldados. So mais fortes, mais rpidos. No fcil acabar
com eles. Perdemos dois dos nossos lutando contra esses seres.
Acheron estremeceu diante da idia de dois homens sem preparao
enfrentando os Daimons e da espantosa existncia que lhes aguardava
depois de mortos. Ento apareceu em sua mente a lembrana de sua
primeira luta. A afastou.
Comestes j esta noite? Os trs homens assentiram com a cabea como
modo de resposta Ento me sigam e lhes ensinarei o necessrio para
que aprendam a mat-los.
Trabalhou com eles at que o amanhecer esteve perto. Compartilhou
tudo o que foi possvel ensinar em uma s noite: novas tticas, os
lugares mais vulnerveis de um Daimon, e a forma de alcanar esses
pontos dbeis. Quando a noite se afastava, os acompanhou de volta
caverna.
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Encontrarei um lugar mais apropriado para que se ocultem da luz
do dia prometeu.
Sou Dorio - lhe respondeu Callabrax com orgulho. No preciso de
mais que o que agora possuo.
Mas ns no - replicou Kyros. Uma cama nos viria muito bem a Is e
a mim. E um banho ainda mais.
Acheron inclinou a cabea e fez um gesto a Is para que sasse da
cova. Esperou que o homem passasse junto a ele e o seguiu,
mostrando suas intenes de manter uma conversa longe do alcance de
seus companheiros.
Quer ver de novo sua esposa - disse Acheron sem nenhum prembulo.
Is lhe olhou perplexo.
Como sabe? No lhe respondeu. Ainda quando era humano tinha
odiado as
perguntas muito pessoais, posto que a maioria delas acabavam em
conversas nas que no estava interessado. Traziam para a mente
lembranas que preferia manter enterrados. Fechou os olhos e deixou
que sua mente vagasse, cruzando o cosmos at encontrar mulher que
atormentava a mente do grego. Liora. Uma mulher formosa de cabelo
negro e olhos de um azul to claro como o mar. No era por pouco que
Is sentia saudades. Nesse momento, Liora se encontrava chorando,
prostrada de joelhos.
-Por favor rogava aos deuses Por favor, me devolvam a meu amor.
Por favor, deixem que meus filhos voltem a ter a seu pai em
casa.
Acheron gostou da mulher ao ser testemunha de seus temores.
Ningum tinha contado o acontecido. Ela rogava pela segurana de um
homem que j no se encontrava nas filas dos vivos. O assunto obcecou
Acheron.
Compreendo sua tristeza - confessou a Is. Mas no pode deixar que
o vejam em seu atual estado. Se voltar para casa despertar seu
medo. Tentaro te matar.
Os olhos do homem se encheram de lgrimas e quando falou, as
presas se afundaram levemente em seus lbios.
Liora no tem a ningum que a cuide. Era rf e meu irmo morreu um
dia antes que eu. No h ningum que vele por meus
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filhos. No pode retornar. Por que no? Perguntou Is com zango.
Artemisa disse
que podia me vingar do homem que me matou e uma vez cumprida
minha vingana poderia seguir vivendo para servi-la. No disse nada
de que no pudesse retornar a casa.
Acheron apertou com mais fora sua espada. Is, pensa um instante.
J no s humano. Como cr que
reagiria a gente do povo se retornasse com umas presas enormes e
os olhos negros? No pode sair luz do dia. Deve lealdade a toda a
humanidade, no s a sua famlia. Ningum pode assumir essas duas
responsabilidades de uma vez. Jamais poder retornar.
Os lbios do grego tremeram, mas assentiu ao compreender.
Salvarei aos humanos enquanto minha famlia, que
inocente, morre de fome porque no tem a ningum que lhes proteja.
Ento, esse o trato?
Acheron apartou o olhar ante a dor que sentiu no corao pelo
sofrimento de Is e sua famlia.
Volta para dentro com os outros - lhe disse. Observando como o
grego entrava na caverna, repassava a converso em sua cabea. No
podia deixar isto assim. Ele podia cuidar-se sozinho, mas os outros
Fechou os olhos e se transportou frente Artemisa.
Esta vez, a deusa paralisou as cordas vocais de suas donzelas
antes que as mulheres pudessem chiar.
Nos deixem ordenou. As mulheres se apressaram para a sada to
rpido como
permitiam suas pernas, e deixaram que a porta se fechasse atrs
delas com um sonoro som. Logo que ficaram a ss, Artemisa lhe
dedicou um sorriso.
Retornaste. No esperava v-lo to logo. No comece Artemisa -
advertiu refreando os gracejos da
deusa antes que continuasse a falar mais Basicamente retornei
para brigar com voc.
Para que? Como ousa mentir para os homens de quem toma o seu
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servio? Eu jamais minto. Acheron arqueou uma sobrancelha.
Repentinamente
incmoda Artemisa limpou a garganta e sentou em seu trono. Voc
diferente e no te menti. Simplesmente esqueci-me
de mencionar um par de coisas. Deixa de recursos semnticos,
Artemisa, no se trata de
mim. Estamos falando do que tem feito com estes homens. No pode
abandonar a esses pobres bastardos como tem feito.
E por que no? No te custou trabalho continuar adiante com seus
prprios meios.
Eu no sou igual a eles, e voc sabe muito bem. No havia nada em
minha vida que me fizesse desejar retornar para ela. Nem famlia nem
amigos.
Com uma exceo. Acaso eu no era nada? Um engano que estive
lamentando durante os ltimos dois
mil anos. O comentrio fez que o rosto da Artemisa
avermelhasse;
desceu do trono e mais dois degraus at chegar altura do
Acheron.
Como te atreve a me falar assim! Acheron tirou o manto de com um
puxo e o jogou em um
lugar da sala junto com a espada, estava zangado. Me mate por
minha insolncia, Artemisa. Vamos, nos faa
um favor aos dois, livra-me do infortuno de continuar vivo. A
deusa tentou lhe esbofetear, mas Acheron capturou sua
mo e a olhou fixamente nos olhos. Artemisa contemplou o dio
naquele olhar, a dura condenao. Seus colricos flegos se misturavam
e o ar que lhes rodeava explodiu com fria ante o choque de seus
respectivos poderes. Mas no era sua fria o que ela procurava. No, a
sua fria jamais. Deslizou o olhar por seu corpo, pelos perfeitos
ngulos de seu rosto, suas aguadas mas do rosto, seu nariz aquilino.
Seus olhos se detiveram no negror de seus cabelos, no espectral
brilho prateado de seus olhos. Jamais houve mortal que pudesse
equiparar a perfeio fsica de Acheron. E no s sua beleza conseguia
atrair s pessoas. No foi sua beleza
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que a cativou. Foi aquele estranho carisma, seu poder, sua fora,
seu encanto, sua inteligncia, sua determinao. Contempl-lo era
quer-lo. Observ-lo era desejar suas carcias. Tinha sido criado para
agradar e treinado para proporcionar prazer. Absolutamente tudo em
sua pessoa - dos definidos msculos at a profunda e ertico tom de
sua voz seduzia a qualquer uma que se encontrasse com ele. Movia-se
como um animal selvagem e letal, seus movimentos transmitiam perigo
e poder. Virilidade. Prometiam um gozo sexual supremo. E cumpria
perfeio. Era o nico homem que tinha conseguido debilit-la. O nico
homem que tinha amado. E tinha o poder de acabar com ela. Ambos
eram conscientes dessa realidade. E o fato de que no utilizasse
esse poder sempre tinha resultado intrigante e provocador. Ertico e
sedutor. Tragou a saliva e recordou a primeira imagem que teve
dele. Sua fora. A paixo. Colocou-se de p, em seu templo, rindo-se
desafiante enquanto ela o ameaava de morte. E ali, diante de sua
esttua, atreveu-se a fazer o que nenhum outro homem tinha feito
antes nem depois ainda podia saborear aquele beijo. Ao contrrio que
o resto dos homens, ele jamais a tinha temido. Agora, o calor da mo
do Acheron sobre sua carne a incendiava, mas sempre tinha sido
assim. No desejava nada mais alm do sabor de seus lbios e o fogo de
sua paixo.
E com um simples engano o havia perdido. Queria chorar de
desiluso. Em uma ocasio, muitos anos atrs, tinha tentado fazer
retroceder o tempo para desfazer o sucesso daquela manh. Para
voltar a ganhar a confiana e o amor do Acheron. As Parcas a
castigaram com severidade por sua audcia. Durante os ltimos dois
mil anos tinha tentado de tudo para atra-lo de novo a seu lado.
Nada tinha dado resultado. Nada tinha feito com que ele a perdoasse
nem que voltasse para seu templo. At que lhe ocorreu algo ao que
Acheron jamais poderia negar-se: salvar a alma de um humano. Ele
faria algo por salv-los. Seu plano de faz-lo responsvel pelos
Caadores Escuros tinha funcionado, e agora estava ali. Se to
somente pudesse lhe reter
Quer que os libere? perguntou-lhe. Faria tudo por ti. Sim.
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Mas voc no faria nada por ela. No, ao menos se o obrigasse.
O que faria por mim, Acheron? J conhece as normas. Um favor
requer outro em troca.
Ele a liberou com uma furiosa maldio, afastando-se. Aprendi
muitas coisas mais importantes do que este
joguinhos. Artemisa encolheu os ombros com uma indiferena
que
realmente no sentia. Nesse momento estava em jogo o que mais lhe
importava. Se Acheron dizia que no, destruiria-a.
De acordo. Seguiro sendo Caadores Escuros ento. Sem ningum que
lhes ensine o que precisam saber. Sem ningum que se preocupe com o
que possa acontecer.
Acheron deixou escapar um comprido e cansado suspiro. Queria
consol-lo, mas sabia que ele repeliria o mais leve toque de sua mo.
Sempre repelia o consolo. Ningum tinha direito a possuir essa fora
Quando seus olhos se encontraram, o olhar prateado provocou um
eloqente e sensual calafrio.
Se devem servir a ti e ao resto dos deuses, eles precisam de
certas coisas, Artemisa.
Como o qu? Armaduras, por exemplo. No pode envi-los a lutar
sem
isso. Precisam de dinheiro para comprar comida, roupa, cavalos e
inclusive serventes que os vigiem durante o dia enquanto
descansam.
Pede muito. S o necessrio para assegurar sua sobrevivncia.
Jamais pediu nada disso para ti mesmo - e isso a feria. Mas
ele nunca pedia nada. No preciso de comida e meus poderes me
permitem
conseguir. E tenho ao Simi para me proteger. No sobrevivero
sozinhos.
- Ningum sobrevive sozinho, Acheron. Ningum. Nem sequer voc. Nem
eu.
Artemisa elevou o queixo, decidida a mant-lo a seu lado sem
pensar nas conseqncias.
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De novo te pergunto o que me dar em troca de todo isso? Acheron
afastou o olhar, suas vsceras se contraram. Sabia
o que ela procurava, e no tinha nenhuma inteno de entregar-lhe
Tudo para eles, no para mim. A deusa encolheu os ombros. De acordo,
podem seguir adiante sem nada, posto que no
possuem nada com o que negociar. A fria estalou no mais profundo
de seu ser diante da
indiferena da Artemisa pelas vidas e o bem-estar daqueles
homens. No tinha mudado.
Maldita seja, Artemisa. Ela se aproximou lentamente. Quero-te,
Acheron. Quero que volte a ser o mesmo de
antes. Estremeceu em seu interior ao sentir a mo da Artemisa
sobre sua face. Jamais voltariam a compartilhar o que tinham
antigamente. Tinha aprendido muito. Sua traio tinha sido muito
grande. Poderia dizer que aprendia devagar, mas no era de tudo
certo. Tinha estado to desesperado por encontrar a algum que se
preocupasse com ele, que tinha ignorado a faceta escura do carter
da deusa. At que lhe deu as costas e o deixou morrer. Algumas
atitudes eram difceis de perdoar. Seus pensamentos retomaram o rumo
de novo, voltando para os homens da caverna. Homens que no sabiam
nada a respeito de sua nova existncia nem de seus inimigos. No
podia os abandonar assim. J era o culpado da morte de muitas
pessoas. No podia, no, permitir que perdessem suas vidas nem suas
almas.
Est bem, Artemisa - continuou; minhas condies so as seguintes:
pagar uma quantidade todos os meses que permita a eles comprarem o
que necessitarem. Como j te disse antes, precisaro de Escudeiros
que os cuidem de modo que no tenham que preocupar-se com a comida,
pelas roupas nem pelas armas. No quero que nada disso os distraia
de seu trabalho.
De acordo, procurarei alguns humanos que sirvam de
Escudeiros.
Vivos Artemisa. Quero serventes que ajudem livremente;
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nada de mais Caadores. S quatro no suficiente. Necessitamos de
mais para
ter aos Daimons em xeque. Acheron fechou os olhos ao compreender
que com isto, sua
relao no teria fim jamais. Via o futuro com total claridade e at
onde chegavam s conseqncias das decises que estavam tomando nesse
momento. Com um maior nmero de Caadores, mais poder teria Artemisa
sobre ele. No havia forma de impedir que o mantivesse ligado a ela
eternamente. Ou havia?
Muito bem respondeu. Cederei neste ponto se estiver de acordo em
encontrar o modo de liberar os servio deles.
O que quer dizer? Quero que encontre o modo de que os Caadores
Escuros
recuperem suas almas, de forma que no estejam submetidos a sua
vontade se algum dia escolhem ser livres.
A deusa retrocedeu uns passos. Isto no tinha previsto. Se
concedia, ele tambm poderia liberar-se.
Poder me abandonar. Tinha esquecido To vil Acheron podia chegar
a ser; To
bem conhecia as regras do jogo e To capaz era das manipular para
obter sua colaborao. Era igual em tudo. E de todos os modos, se no
lhe concedia este ltimo desejo, deix-la-ia. No tinha outra opo, e
ele sabia. No obstante, ainda havia coisas que o manteriam a seu
lado. Ela conhecia a maneira de assegurar-se sua companhia para
toda a eternidade.
Estupendo. Fixemos as regras para control-los - ao dizer isso,
os pensamentos do Acheron voltaram para Is e ela percebeu
claramente. Compadecia do pobre soldado grego que ainda amava a sua
esposa. A piedade, a misericrdia e a compaixo seriam sempre seu
ponto dbil.
Em primeiro lugar: devem morrer para poder reclamar suas
almas.
Por qu? inquiriu ele. Uma alma s pode abandonar seu corpo no
momento da
morte. Do mesmo modo, s pode voltar para um corpo que no tenha
vida. Enquanto estes homens sigam "vivendo" como
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Caadores, no podero recuperar suas almas. No sou eu a que
estabeleceu estes princpios, Acheron, simplesmente a natureza das
almas que faz que o processo seja assim.
Acheron franziu o cenho. E como pode morrer um Caador Escuro
imortal? Bem, podemos lhe cortar a cabea ou exp-lo luz do sol;
mas esses mtodos deixam o corpo ferido alm de qualquer padre, no
serviria.
No tem nenhuma graa. E o que lhe pedia tampouco. No queria
liberar esses
homens, queria s mant-los em seu servio. No queria liber-los
para ele.
Tero que despojar os de seus poderes informou. Fazer que seus
corpos imortais sejam vulnerveis aos ataques fsicos e depois
conseguir que seus coraes deixem de pulsar. S ento morrero da forma
adequada para que suas almas possam voltar a habitar seus
corpos.
Muito bem, posso consegui-lo. Em realidade, voc no pode. E isso
o que significa? Artemisa se obrigou a ocultar o sorriso que
produzia a
satisfao de o ter onde queria. H umas quantas premissas sobre as
almas que deve
conhecer Acheron. Algum que dono deve abandon-la
voluntariamente; posto que sou eu quem possui suas almas
Acheron soltou um palavro. Terei que negociar contigo cada vez
que queira liberar uma
alma. Ela assentiu. No parecia muito contente com a
confisso.
Mas o aceitaria com seu devido tempo. Definitivamente teria que
aceit-lo
Que mais? voltou a perguntar. E agora a premissa que o uniria a
ela para toda a eternidade. S um corao puro e nobre pode devolver a
alma a seu
corpo. Essa pessoa deve querer ao interessado por cima de tudo;
e o Caador deve confiar nela.
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Por qu? Porque a alma precisa de uma motivao para mover-se
ou
ficar onde est. Eu utilizei a vingana para ficar com elas. S uma
emoo igualmente forte far com que a alma volte para seu corpo. E
como e escolho a emoo que deve ser, escolhi o amor: a mais nobre e
formosa das emoes. To nica merece ser correspondida.
Acheron observava com ateno o cho de mrmore enquanto as palavras
da deusa flutuavam a seu redor. Amor. Confiana. Muito fcil de
dizer. Dois conceitos poderosos. Invejava aqueles que conheciam seu
verdadeiro significado. Ele no tinha experincia alguma. Em seu
lugar, conhecia a traio, a dor, a degradao, a suspeita e o dio.
Essa era sua existncia. Isso era o que tinham lhe ensinado. Uma
parte dele queria sair dali e no voltar a ver a Artemisa
jamais.
me devolva a meu amado. Por favor, farei qualquer coisa para
voltar t-lo em casa
As palavras da Liora ressonavam em sua cabea; ainda podia
escutar seu pranto e sentir seu sofrimento. E o de Is cada vez que
pensava em sua esposa e em seus filhos, preocupado por seu
bem-estar. Ele nunca tinha conhecido essa classe de amor
desinteressado. Nem antes de sua morte, nem depois.
Me d a alma de Is. Artemisa lhe olhou, arqueando as
sobrancelhas. Est disposto a pagar o preo que peo por ela e
cumprir
os trminos que dispus para que todas as demais sejam liberadas?
Sentiu que seu corao se afundava diante daquelas palavras.
Recordava o inexperincia que tinha anteriormente. Tudo tem um
preo, moo. Nada grtis. Seu tio se encarregou de ensinar o quanto
que custava
sobreviver. E tinha pagado com acrscimo por tudo desde comida,
at a roupa, ou um lugar onde viver. Tinha pagado com sangue e suor.
Havia coisas que no mudavam jamais.
Sim - respondeu. Estou de acordo. Nota promissria. A deusa
sorriu. No esteja to triste, Acheron. Prometo-te que vais
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passar o bem. De novo, retorciam as tripas. J tinha escutado
essas
palavras antes. Estava entardecendo quando retornou caverna. No
ia
sozinho; junto a ele caminhavam dois homens e quatro cavalos. O
que tudo isto? perguntou Callabrax. Seu escudeiro e o do Kyros.
Vieram os escoltar at as vilas
onde iro viver. Se ocuparo todas suas necessidades. Eu voltarei
mais tarde para finalizar o treinamento.
E eu o que? perguntou Is. Voc vem comigo. Acheron esperou at que
os outros dois estiveram em seus
cavalos e partiram antes de voltar para falar com Is. Est
preparado para voltar para casa? O homem parecia genuinamente
surpreso. Mas disse que Estava equivocado. Pode retornar. E o
juramento que fiz a Artemisa? J me encarreguei disso. Is o abraou
como a um irmo. Acheron se encolheu ante o
contato, ainda mais porque tinha as costas coberta de
machucados. Mas, doeram ainda mais os da alma. Muito amavelmente,
afastou a Is.
Me acompanhe, vou levar voc para casa. Acheron tele
transportou-se e a Is at a pequena granja.
Sua esposa acabava de deitar os meninos. Seu formoso rosto
perdeu a cor ao v-los junto na chamin.
Is? Perguntou enquanto piscava. Me disseram esta manh que tinha
morrido.
O homem negou com a cabea. Seus olhos brilhavam. No, meu amor.
Estou aqui. Voltei para casa, a seu lado. Acheron respirou fundo ao
ver Is aproximar-se rapidamente
de sua esposa para abra-la com fora. Passou muito tempo antes
que se acalmasse a dor de suas costas.
Ainda h um par de detalhes, Is - murmurou Acheron. Is se separou
de sua esposa franzindo o cenho.
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Sua esposa deve devolver sua alma a seu corpo. Liora o olhou
carrancuda. O que? Jurei servir a Artemisa - explicou seu marido,
mas vai
liberar me para poder retornar junto a ti. A mulher parecia
confusa ante aquelas palavras. O que temos que fazer? perguntou Is.
Ter que passar de novo o transe da morte. O homem perdeu a cor do
rosto. Est seguro? Acheron assentiu e estendeu sua adaga a Liora.
Ter que atravessar seu corao. Liora estava horrorizada e,
certamente plida ante a idia. O que? a nica forma. Isso um
assassinato. Me enforcaro. No, prometo-lhe isso. Faz Liora insistiu
Is. Quero retornar a seu lado. Com uma expresso ctica no rosto, a
mulher tomou a adaga
e tentou cravar-lhe a seu marido no peito. No funcionou. A folha
unicamente arranhou a pele.
Acheron sorriu ao recordar as palavras da Artemisa sobre os
poderes dos Caadores Escuros. Nem um humano extraordinariamente
forte poderia ferir um deles com uma adaga. Mas ele sim. Agarrando
a adaga da mo da Liora, atravessou limpamente o corao de Is.
O homem cambaleou para trs, ofegando. No se assuste disse
Acheron enquanto o ajudava a
estender-se no cho junto ao fogo. J tenho. Acheron alargou o
brao e arrastou a Liora junto a seu
marido. Tirou de sua bolsa o medalho ptreo que continha a alma
de Is.
Tem que agarrar isto quando morre, para que sua alma seja
liberada e retorne a seu corpo.
Como? perguntou ela. Segura o medalho sobre a tatuagem em forma
de arco e
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flecha. Esperou at que o homem estava a um passo da morte e
estendeu o medalho a Liora. Ao receb-lo, a mulher gritou e o
jogou no cho.
Est ardendo! gritou dolorida. Is ofegava lutando por manter-se
com vida. Recolhe-o - ordenou Acheron a Liora enquanto ela
soprava
sobre sua mo e agitava a cabea expressando sua negativa. O que
passa contigo mulher? Perguntou Acheron. Vai
morrer se no o salva. Recolhe sua alma. No. No? Como que no?
Escutei seus rogos pedindo que
voltasse junto a ti. Disse que daria algo em troca de que seu
amado retornasse.
Liora deixou cair mo e lhe lanou um frio olhar. Is no meu amado.
Lycantes. Por ele rezava e agora
est morto. Disseram-me que o fantasma de Is o matou em vingana,
posto que foi Lycantes o matou na metade da batalha. Dessa forma
poderamos estar juntos e criar a nossos filhos.
As palavras da Liora deixaram ao Acheron estupefato, incapaz de
falar. Observou Is e viu refletido a dor em seus olhos antes que a
morte os deixasse inexpressivos. Com o corao martelando, recolheu o
medalho e tentou liberar ele mesmo a alma. No funcionou. Furioso,
paralisou a Liora e a matou por suas ms aes.
Artemisa! gritou olhando ao teto. A deusa apareceu na cabana.
Salva-o. No posso modificar as regras, Acheron. Expus-te as
condies e esteve de acordo. Ele se aproximou at a mulher que
agora parecia uma esttua
humana. Por que no me disse que ela no o amava? Ao igual a voc,
no tinha modo de saber - seus olhos
perderam o brilho e continuou falando, inclusive os deuses
cometem enganos.
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Por que no me disse ao menos que o medalho lhe queimaria a
mo?
Porque no sabia. No me queimou, e a ti tampouco. Jamais o havia
dado a um humano.
Acheron sentia um forte zumbido na cabea, provocado pela culpa e
a dor. Pelo dio que sentia para si mesmo e Artemisa.
O que acontecer a Is agora? uma Sombra. Sem corpo nem alma, sua
essncia est
apanhada no Katoteros. Acheron rugiu de dor diante suas
palavras. Acabava de
matar a um homem e de sentenci-lo a um destino muito pior que a
morte. E por qu? Por amor? Por piedade?
Pelos deuses! Era to estpido devia ter formulado as perguntas
adequadas; ele, melhor que ningum, sabia que no devia confiar no
amor de outra pessoa. Maldito seja! Nunca iria aprender? Artemisa
se aproximou e tomou o queixo, elevando a cabea para olh-lo
diretamente aos olhos.
Me diga Acheron, confia o suficiente em algum para que libere
sua alma?
Y| RR